7 minute read

7.3 Potencial de produção de microalgas no litoral do Piauí

Next Article
LITORAL PIAUÍ

LITORAL PIAUÍ

desenvolvimento e inovação, com a finalidade de melhorar o pacote tecnológico do produto oriundo da ostreicultura piauiense, garantindo a segurança do produto para os consumidores, agregando valor e favorecendo a competitividade e a sustentabilidade dessa atividade na região.

4. Curso de capacitação e ações educativas

Advertisement

Por fim, é necessário ressaltar a importância da capacitação continua dos produtores sobre novas tecnologias de produção, quanto a relação da produtividade com o ambiente e sobre as boas práticas de manipulação e conservação de ostras, favorecendo a implantação de um cultivo sustentável do ponto de vista econômico e ambiental. As capacitações também podem tornar, se necessário, os produtores independentes dos atravessadores para comercialização e levar à independência tecnológica dos técnicos e extensionistas.

7.3 Potencial de produção de microalgas no litoral do Piauí

Michelle P. Vetorelli, Laurindo A. Rodrigues e Thiago Fernandes

A produção de microalgas é uma atividade agropecuária consolidada no mundo para uso nos mais diversos setores. Estes microrganismos são fontes de vasta gama de compostos químicos, nutrientes e substancias com alto valor comercial que são utilizadas na indústria química, cosmética, alimentícia, como biofertilizantes e até mesmo para a produção de energia. Além disso, o cultivo comercial de microalgas pode ter como principal objetivo a obtenção de compostos bioativos de interesse para a indústria farmacêutica com efeito imunoestimulantes, antioxidantes, hepatoprotetores, antitumorais, entre outros. Apesar de alguns destes compostos bioativos serem encontrados também em vegetais terrestres, as microalgas mostram várias vantagens sobre estas culturas. Segundo Derner et al., (2006), as microalgas são mais eficientes do que as plantas terrestres na utilização da energia solar para a produção de biomassa; a natureza unicelular das microalgas assegura uma biomassa com mesma composição bioquímica, o que não ocorre com as plantas terrestres; ao fazer a manipulação das condições ambientais de cultivo muitas espécies de algas podem ser induzidas a sintetizar e acumular altas concentrações de proteínas, carboidratos, lipídios etc. Por fim, estes autores relatam que o ciclo de vida da maioria das microalgas se completa em poucas horas, o que favorece a seleção de cepas e o melhoramento genético das espécies.

A importância e as vantagens do cultivo de microalgas para os setores industriais já justifi cam o aprofundamento dos estudos sobre sua produção comercial no litoral piauiense e a prospecção das espécies para extração dos compostos de interesse por parte do investidor. Entretanto, estes microrganismos apresentam também benefícios no cultivo de animais aquáticos. No Brasil, especialmente na região Nordeste, a produção de microalgas é realizada em todos os estados visando a alimentação de larvas e pós-larvas de camarões marinhos, Litopenaeus vannamei. Na larvicultura desta espécie, a produção de microalgas marinhas, especialmente das diatomáceas do gênero Chaethoceros e Talassiosira, é realizada nos laboratórios no interior das fazendas para garantir o suprimento de alimento vivo para as larvas e pós-larvas de camarão. Estas microalgas são cultivadas, inicialmente, em pequenos recipientes (tubos de ensaio, Erlenmeyer e balão volumétrico), no laboratório indoor (Figura 22). A fase massal da produção de microalgas é realizada tanto nos sistemas fechados com bolsas plásticas (Figura 23), como em carboys e tanques em sistemas abertos outdoor (Figura 24).

Figura 22 Cepário (sala de cepas) indoor com sistema fechado em um laboratório de produção de póslarvas de camarões marinhos no litoral do Piauí.

Fonte: o autor

Figura 23 Produção de diatomáceas em sistema fechado indoor em um laboratório de produção de póslarvas de camarões marinhos no litoral do Piauí.

Fonte: o autor

Figura 24 Carboys e tanques outdoor em sistema aberto para o cultivo massal de Chaethoceros em um laboratório de produção de pós-larvas de camarões marinhos no litoral do Piauí.

Fonte: o autor

Além diatomáceas citadas, outras espécies de microalgas, como as do gênero Nannocloropsis, por exemplo, também podem ser comercializadas em forma de pastas para a alimentação de peixes marinhos e outros organismos aquáticos. Este tipo de empreendimento

já vem sendo realizado com sucesso na região sul do Brasil (Empresa Algabloom). Apesar da essencialidade do cultivo de microalgas para a larvicultura dos camarões e peixes, ainda não há empreendimentos no Piauí voltados à produção e distribuição de microalgas marinhas ou pastas algais para os laboratórios de produção de pós-larvas na região Nordeste. Este é, portanto, um mercado a ser explorado pelos empreendedores. A pasta de microalgas pode ser usada tanto pelo mercado do aquarismo (venda aos aquaristas marinhos) quanto para produtores de organismos marinhos que fazem a produção comercial. No Nordeste, existe um mercado que vem crescendo em relação ao aquarismo de espécies marinhas e, portanto, o uso de pastas de microalgas pode auxiliar na cadeia deste mercado. As pastas comerciais também são importantes para as Instituições de Pesquisa que mantém espécies marinhas em laboratórios, como corais, peixes e ostras, tendo, inclusive, sido adquiridas para a realização de pesquisas com o cavalo marinho na UFDPar. Sendo assim, a produção e comercialização de pastas algais são mais uma possibilidade de empreendimento com o uso de microalgas marinhas. As microalgas são excelentes meios para bioenriquecer ou bioencapsular organismos fitoplanctófagos como rotíferos, copépodos e artêmias que servirão de alimentos para larvas de peixes e camarões marinhos e de água doce. Para a Artemia, microcrustáceo amplamente utilizado na alimentação de larvas de organismos aquáticos, sua forma recém eclodida possui composição nutricional adequada para alimentação de animais jovens. Contudo, à medida que a Artemia se desenvolve, sua reserva de nutrientes (vitelo) é consumida e sua composição nutricional torna-se menos adequada à alimentação dos organismos aquáticos. Neste momento, a bioencapsulação ou enriquecimento da artêmia com as algas e seus nutrientes se tornam necessários. Devido à capacidade de acumulo de nutrientes provenientes das algas, os organismos enriquecidos servem de alternativa aos produtos comerciais inertes que já estão no mercado mundial e geralmente são de difícil importação e alto custo. Um grupo de pesquisadores do laboratório de microalgas do setor de Aquicultura da UFDPar vem trabalhando com o desenvolvimento de pesquisas em produção de microalgas e formação de profissionais capacitados tanto para a identificação de organismos planctônicos de água doce, estuarinos e marinhos quanto na produção de microalgas para os mais diversos usos. A primeira pesquisa foi realizada com a espécie marinha Tetraselmis gracilis cultivada em meio alternativo elaborado com extrato de algas marinhas arribadas do litoral do Piauí. Este extrato foi testado em comparação ao meio comercial conhecido como Walne. O meio alternativo proporcional um bom crescimento em biomassa (Couto, 2017; Couto et al., 2018a,2018b). Com a mesma espécie foi realizada uma pesquisa com o extrato de aguapé como fonte de nutrientes de baixo custo. Esta pesquisa também teve como objetivo dar utilização ao aguapé que cresce facilmente em ambientes, naturais ou artificiais, com grande

quantidade de nutrientes (como nitrogênio e fósforo). Nesta pesquisa, o meio proporcionou bom crescimento (biomassa) da microalga comparando com o meio Walne (Ferreira, et al., 2018). Nas duas pesquisas não foram realizadas as análises químicas da biomassa, sendo então necessária mais pesquisas para validar este tipo de meio de cultura. Dentre todas as espécies de microalgas produzidas no mundo a cianobactéria conhecida como spirulina, Arthrospira platensis, é uma das mais pesquisadas para produção comercial e vem ganhando muita popularidade nos últimos anos. A A. platensis possui altas concentrações de proteína (60-70%), minerais, vitaminas, carotenoides e é fonte natural de betacaroteno. Por isto, ela é vista como um dos melhores alimentos para o futuro. Pesquisadores da UFDPar vem trabalhando no desenvolvimento de um pacote tecnológico da espécie para a região. Foram realizadas pesquisas com diferentes meios de cultivo incluindo o alternativo feito à base de aguapé (Araujo, 2019; Vetorelli e Souza, 2020) e definido a concentração ótima de bicarbonato de sódio incorporado no meio como fonte de carbono inorgânico (Ferreira, 2022). O intuído destas pesquisas é desenvolver um pacote técnico e econômico para a produção da biomassa úmida e seca de spirulina com qualidade nutricional para a utilização tanto na alimentação humana quanto para o uso como alimento vivo para enriquecimento de fitoplantófagos que serão utilizados na aquicultura e aquarismo. Outros potenciais usos da Spirulina são relacionados ao enriquecimento de alimentos, como, massas, pães, iogurtes e bebidas, como suplemento alimentar na alimentação humana e como fertilizantes na agricultura. No entanto, para que seu uso se torne consolidado, é necessário realizar a avaliação econômica do cultivo e a análise da composição química da biomassa da microalga. Assim, será possível destinar a biomassa ao setor de produção mais adequado. Outro potencial para a produção de microalgas no litoral piauiense é em relação ao desenvolvimento de um banco de cepas das espécies nativas do Delta do Parnaíba tanto para preservação de material genético quanto para o desenvolvimento de pesquisas de produção de microalgas nativas (para o desenvolvimento tecnológico de espécies nativas como Crassostrea (ostras) e Holotúria (pepino-do-mar) quanto para a bioprospecção de ativos realizados pela pesquisa em biotecnologia. A UFDPar possui um curso de pósgraduação em Biotecnologia com potencial de pesquisas na área necessitando de material (biomassa) para tal.

This article is from: