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DESENVOLVIMENTO DE OUTRAS MODALIDADES DA AQUICULTURA NO

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REFERENCIAS

REFERENCIAS

6.4 Perfil dos consumidores 6.5 Setor de Insumos 6.6 Análise sistêmica da cadeia produtiva 6.7 Demandas e sugestões para auxiliar o desenvolvimento do setor

7 DESENVOLVIMENTO DE OUTRAS MODALIDADES DA AQUICULTURA NO LITORAL PIAUÍ

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7.1 O potencial local para a piscicultura ornamental 7.2 Desenvolvimento da ostreicultura piauiense 7.3 Potencial de produção de microalgas no litoral do Piauí

REFERENCIAS

ANEXOS 65 67 68 72

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1 APRESENTAÇÃO

A aquicultura é o setor da produção animal que mais cresce no mundo. Nas últimas décadas, a atividade teve uma expansão média de 3,2% ao ano, superando o crescimento populacional e a produção de todos os outros alimentos de origem animal como: carnes, laticínios e leite (FOOD AND AQUICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - FAO, 2018). Atualmente, o setor fornece 53% de todos os pescados utilizados para a alimentação humana, estima-se que até 2030 este índice chegará a 60% (FAO, 2018; FAO, 2020), evidenciando o potencial de crescimento da atividade e a ótima perspectiva do setor para os próximos anos. Entre os principais fatores que impulsionaram o crescimento da aquicultura, destacam-se os avanços nas técnicas de criação, o aumento da tecnologia de produção, do número de espécies cultivadas, a estabilização na oferta de pescado oriunda da pesca extrativa e o crescimento populacional e sua demanda por proteína de alta qualidade (WORLD BANK, 2013; BUSH; OOSTERVEER, 2019; BROOKS; CONKLE, 2019). Atualmente, a produção aquícola mundial gira em torno de 179 milhões de toneladas e gera uma receita de 263,6 bilhões de dólares (FAO, 2018; FAO, 2020). Todo esse volume de produção é obtido pela criação de 600 espécies mantidas em diferentes ambientes aquáticos e sistemas de produção, sejam peixes (63%), crustáceos e moluscos (28%), algas (6,5%), anfíbios e répteis (2,5%) (NAYLOR, 2016). Entre as espécies mais produzidas pela aquicultura estão as carpas capim (Ctenopharyngodon idella), prateada (Hypophthalmichthys molitrix) e comum (Cyprinus carpio). Em seguida, a tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) se destaca como a quarta espécie de peixe mais produzida no mundo. Já entre os crustáceos e moluscos, destacamse o camarão branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei) e o bivalve amêijoa chinesa (Sinonovacula constricta). No Brasil, o crescimento da aquicultura acompanha o cenário mundial. A atividade dobrou a sua produção em menos de 10 anos, passando de 400 mil toneladas em 2009 para cerca de 800 mil toneladas em 2018 (FAO, 2020). A piscicultura continental lidera a produção aquícola com 758 mil toneladas de peixes cultivados, gerando cerca de 1,1 bilhão de dólares em receita bruta (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA PISCICULTURA- PEIXE BR, 2020; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2020; VALENTI et al., 2021). A principal espécie produzida no Brasil é a tilápia-do-Nilo com 432,1 mil toneladas, correspondendo a 57% do volume de produção da piscicultura nacional, seguida pelas

espécies nativas com 287,9 mil toneladas, com destaque para o tambaqui (Colossoma macropomum), o pacu (Piaractus mesopotamicus), a pirapitinga (Piaractus brachypomus), e os híbridos tambacu (tambaqui x pacu) e tambatinga (tambaqui x pirapitinga). No estado do Piauí, a produção aquícola está presente em todos os municípios (IBGE, 2021) e é representada principalmente pela piscicultura e pela carcinicultura. Segundo a Peixe BR (2020), o Piauí chegou a produzir 19.890 toneladas de peixes em 2019, ocupando a 15ª colocação no ranking dos estados brasileiros. Entre as espécies mais produzidas no estado, se destacaram as nativas, como o tambaqui com a maior produção, seguida pelas espécies exóticas, tilápia-do-Nilo e o panga (Pangasius bocourti). A carcinicultura no Piauí, por sua vez, se concentra na região litorânea onde conta com 980 hectares de área cultivável e uma produção média de 2.000 toneladas de camarão marinho por ano, tendo um impacto importante para a geração de empregos e renda das localidades vizinhas aos empreendimentos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO - ABCC, 2019). Apesar da importância da aquicultura como fonte de alimento, renda e lazer para a população mundial, no Piauí, particularmente na planície litorânea piauiense, a atividade ainda é subexplorada, pouco desenvolvida em termos tecnológicos e carente de informações sobre a organização da sua cadeia produtiva local. Isto impede a percepção das oportunidades de investimento na área e anula, consequentemente, uma importante ferramenta para o desenvolvimento territorial. Neste contexto, a Zona de Processamento de Exportações (ZPE), localizada em Parnaíba, apresenta-se como um importante meio para alavancar o desenvolvimento dos setores agroindustriais como a aquicultura e pesca, por exemplo, e solucionar os problemas regionais no âmbito econômico e social (CRUZ; HESPANHOL, 2021) através da atração de investimentos para a modernização e difusão tecnológica em busca de exportações (OLIVEIRA, 2015). A atração de investimentos para setor de produção aquícola industrial exige uma cadeia produtiva bem estruturada, quanto à oferta de insumos básicos, difusão de tecnologia, capacitação de recursos humanos, assistência técnica, incentivos governamentais, processamento da produção, marketing e comercialização dos produtos cultivados, além da possibilidade de integração ou associação dos produtores familiares aos empreendimentos industriais (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2007). Dito isso, é perceptível que a criação de diferentes estratégias empresariais para a aquicultura só se torna possível se houver gestão organizacional dos quatro elos que compõem cadeia produtiva: sistema produtivo, processamento, distribuição e consumo (PEREIRA, 2009; IZEL et al., 2013). Mesmo que cada segmento da cadeia produtiva da aquicultura seja constituído por empresas privadas, cabe ao governo a função de organizar sua estrutura, capacitar

recursos humanos e fomentar o desenvolvimento de tecnologia e inovação para aumentar a atração de investimentos, aperfeiçoar sua capacidade produtiva local e atender a demanda do mercado (SILVA, 2005; PEREIRA et al., 2010). Por sua vez, para que a gestão da cadeia produtiva se torne eficaz, é necessário que haja informações sobre o modo de atuação e os problemas e anseios de todos os elos que compõem a cadeia. Estas informações precisam ser compartilhadas entre os atores e os gestores para que haja domínio dos fatores relacionados à produção e à comercialização do pescado (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2007). Neste sentido, os diagnósticos de cadeia produtiva visam identificar a maneira como atuam cada um dos setores e os gargalos que os afetam para que a administração proponha soluções para o reordenamento da atividade.

2 JUSTIFICATIVA

O último diagnóstico da cadeia produtiva da aquicultura piauiense foi feito em 2016 (ROTTA et al., 2016) e tratou apenas da piscicultura. Este levantamento revelou que, diferente do cenário mundial em que há um constante aumento da tecnologia de produção, no Piauí, a maior parte das pisciculturas eram pequenas unidades rurais que foram construídas sem o devido estudo e planejamento e, até o ano de 2016, ainda operavam com baixo nível tecnológico (ROTTA et al., 2016; MATIAS, 2018). Na época, este levantamento também revelou importantes problemas na aquisição dos principais insumos, equipamentos e serviços para a piscicultura. Apesar da relevância deste documento para a piscicultura piauiense, até o momento, ainda são desconhecidas informações pertinentes aos diversos setores da aquicultura no estado, como o potencial local para a produção das diferentes culturas, o modelo de organização dos produtores, quais os sistemas de criação, o volume e o destino do pescado, os problemas enfrentados pelo setor e a perspectiva da atividade na visão da própria cadeia produtiva. Estas informações são questões-chave para permitir o gerenciamento da cadeia produtiva da aquicultura de forma efetiva, identificar as potencialidades regionais, solucionar os problemas do setor e fomentar planos e programas de desenvolvimento regional. Além disso, através do diagnóstico participativo, se torna possível aproximar do setor produtivo, os órgãos ambientais, gestores públicos e instituições de ensino, pesquisa e extensão, fortalecendo a relação entre as instituições para ampliar a produção e atender ao mercado, assegurando seu desenvolvimento tecnológico, social, econômico e da conservação ambiental. Por isto, se torna imprescindível realizar e manter atualizado o diagnóstico da cadeia produtiva da aquicultura nas diversas macro e microrregiões piauienses.

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3 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste projeto é caracterizar a cadeia produtiva da aquicultura na região em torno da ZPE piauiense e descrever as soluções para o desenvolvimento do setor aquícola, segundo a visão dos agentes atuantes na cadeia produtiva e especialistas do setor.

3.1 Objetivos Específicos

Caracterizar o setor aquícola piauiense quanto: _ O perfil, a infraestrutura utilizada e a capacitação tecnológica dos produtores para exercer a aquicultura; _ Subsidiar informações sobre o potencial regional para a produção de camarões, peixes, ostras e microalgas; _ Descrever quais as espécies produzidas na região, centros de escoamento e formas de comercialização do produto; _ Identificar os entraves encontrados na cadeia produtiva da aquicultura e as possíveis soluções na visão dos especialistas do setor e representantes de cada elo da cadeia produtiva.

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Caracterização da área de estudo

O presente projeto foi realizado nos municípios de Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia, localizados no litoral do Piauí (Figura 1). A escolha dos municípios teve como base prioritária a proximidade da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), em Parnaíba, a abordagem da carcinicultura estadual, que é realizada essencialmente nos municípios litorâneos e o potencial de cultivo de outras espécies, como microalgas, peixes ornamentais e ostras. Toda a região de estudo é contida na Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba e tem como principais biomas: a Caatinga e o Cerrado, com vegetação de tabuleiros, restingas, mata ciliar de várzeas, vegetação sobre dunas e uma zona costeira constituída por um sistema contínuo de manguezais (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA, 1999; INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE - ICMBIO, 2020). Os recursos hídricos superficiais utilizados pelos aquicultores na região são obtidos principalmente pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba que abrange o estado do Piauí, parte do Maranhão e do Ceará (AGUIAR; GOMES, 2004), e da desembocadura dos seus extensos rios e igarapés no mar que, com altas variações de amplitudes de maré, formam as áreas de estuários (IBAMA, 2020).

Figura 1 Localização dos municípios piauienses de Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia.

Fonte: elaborado pelo autor.

_ Município de Parnaíba

O município de Parnaíba, (2°54’14’’ S, 41°46’35’’ O), se estende por 436,9 km² e tem como limites: o município de Ilha Grande e o oceano Atlântico ao Norte, Buriti dos Lopes e Bom Princípio ao Sul, Luís Correia a Leste e o estado do Maranhão a Oeste. Segundo o último censo demográfi co realizado pelo IBGE em 2010, Parnaíba contava com 145.705 habitantes, uma densidade demográfi ca de 334,51 habitantes por km², a taxa de escolarização entre 6

e 14 anos de idade era de 97,5% e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) foi de 0,687.

Parnaíba está localizada no polígono formado pela capital piauiense, Teresina, distante 337km ao Sul, Fortaleza-CE distante 472 km a Leste, e São Luís-MA distante 436,7 km a Oeste. Em relação aos centros urbanos nesta região, Parnaíba se destaca como o município mais desenvolvido e, por isto, acolhe cidadãos de outras regiões do Norte do Piauí, Oeste do Ceará e Leste do Maranhão, pois, é uma referência regional em infraestrutura para saúde, educação, turismo, transporte aéreo e rodoviário. A economia parnaibana gira em torno do setor terciário, representado pelo comércio e serviços (BRAGA; GUZZI, 2021). Em 2019, o salário médio mensal dos trabalhadores parnaibanos girava em torno de 1,7 salários mínimo e o município apresentava o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do Piauí e um PIB per capita de R$ 17.163,13 (IBGE, 2021).

_ Município de Ilha Grande

Ilha Grande (2°51’28” S, 41°49’15” O) é um município piauiense com 129,696 km² de área e se constitui a principal porta de entrada para o Delta do Parnaíba (BRAGA; GUZZI, 2021). No censo de 2010, a população de Ilha Grande foi estimada em 8.914 pessoas, com densidade demográfica de 66,36 habitantes por km² e uma taxa de escolarização de pessoas de 6 a 14 anos de idade de 98,1% (IBGE, 2021). Em 2019 o PIB per capita de Ilha Grande foi de R$ 8.092,28 e o salário médio mensal era de 1,8 salários mínimos (IBGE, 2021). De acordo com Silva, Silva e Filho (2020), em Ilha Grande há predomínio de comunidades ribeirinhas que sobrevivem de atividades primárias como artesanato, agricultura familiar, turismo, da pesca e da cata do caranguejo, usufruindo da abundância de recursos hídricos superficiais e da expressiva biodiversidade de fauna aquática, de valor econômico e ecológico. Entretanto, segundo estes autores, Ilha Grande é carente de infraestrutura básica para atender às necessidades da própria população como saneamento e abastecimento de água potável, sendo esse um grave obstáculo enfrentado pela população local que se agrava com o decorrer do tempo.

_ Município de Luís Correia

Luís Correia (2°53’47” S, 41°39’33” O) é o maior município em área do litoral piauiense com 1.074,132 km² e 46 km de costa litorânea. Sua economia é baseada no turismo, na pecuária leiteira e na pesca (BRAGA; GUZZI, 2021). Entretanto, o município tem

pouca influência e força econômica o que gera dependência da infraestrutura de Parnaíba, principalmente para serviços de saúde, educação superior, comércio e abastecimento (SILVA, 2013; BRAGA; GUZZI, 2021). A população de Luis Correia obtida no censo de 2010 foi de 28.406 pessoas, a densidade demográfica era de 26,52 habitantes por km², a taxa de escolarização de pessoas entre 6 e 14 anos de idade era de 95,4% e o IDHM era de 0,541 (IBGE, 2021). Em 2019, o salário médio mensal dos trabalhadores formais era de 1.8 salários mínimos e o PIB per capita foi de R$ 10.335,88 (IBGE, 2021).

_ Município de Cajueiro da praia

Cajueiro da Praia (2° 55’ 40” S, 41° 20’ 09” O) se estende por 271,165 km² de área territorial e em 2010 contava com 7.163 habitantes e 26,36 habitantes por km², um IDHM de 0,546 e a taxa de escolarização dos habitantes de 6 a 14 anos de idade foi 95% (IBGE, 2021). No ano de 2019 o salário médio mensal dos trabalhadores formais de Cajueiro da Praia foi de 1,6 salários mínimos e o PIB per capita era R$ 12.114,50 (IBGE, 2021). De acordo com Silva (2013), as principais atividades econômicas do município de Cajueiro da Praia são o turismo, a carcinicultura e a pesca artesanal. No município, a pesca é exercida pela maior parte dos moradores dos povoados da orla marítima, até mesmo pela população empregada em outras atividades, mas que atuam na pesca para complementação da renda familiar (SILVA, 2013).

4.2 Natureza e modelo teórico das análises dos dados

A estrutura deste projeto é de natureza descritiva e exploratória, baseada no modelo teórico de análise de governança de cadeia global de valor (global value chain), a partir de método de estudo de casos múltiplos, conforme proposto por Gereffi et al. (2001) e Gereffi (1994). Os dados utilizados neste projeto foram qualitativos e quantitativos, coletados nos meses de novembro e dezembro de 2021 através de entrevistas semiestruturadas junto aos agentes-chave da cadeia produtiva e especialistas na área de aquicultura que atuam na região piauiense. Foi considerado agentes-chave da cadeia produtiva, os participantes que atuam de forma direta ou indireta na produção, compra e venda do pescado ou subprodutos gerados na atividade aquícola, como aquicultores, consultores, elaboradores de produtos, fabricantes e fornecedores de insumos, equipamentos, matéria-prima, atravessadores, atacadistas, varejistas e consumidores de pescado. Por sua vez, foi considerado especialista,

os profissionais de instituições públicas ou privadas que trabalham com ensino, pesquisa ou extensão e representantes de classe com reconhecida competência em áreas relacionadas à aquicultura.

4.3 Levantamento prévio de informações

Para execução do projeto, inicialmente foi realizado um levantamento prévio qualitativo que permitiu ter um panorama geral do setor aquícola piauiense e identificar os principais modos de produção, especialistas e agentes-chave da cadeia produtiva. Estes dados foram obtidos através de pesquisa documental com relatórios, artigos técnicos e consulta aos agentes do setor público como extensionistas e técnicos de instituições envolvidas na cadeia produtiva. Em seguida, foi feita a identificação e seleção destes agentes.

4.4 Padronização das guias de entrevista

A construção das guias de entrevista foi baseada na abordagem da Teoria de Cadeia Global de Valor. Os modelos de guias para representantes comerciais e para produtores são mostrados nos anexos deste relatório. As entrevistas para especialistas do setor foram abertas e abordaram os problemas e possíveis soluções já encontrados nesta pesquisa. As respostas foram utilizadas como base para a construção da Análise Sistêmica da Cadeia Produtiva.

Os especialistas entrevistados foram Sr. Itamar Rocha Paiva, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Sr. Antônio Luiz Vasconcelos de Santana Junior, presidente da Associação de Criadores de Camarão do Piauí (ACCP). Dra. Alitiene Moura Lemos Pereira, Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa - Tabuleiros Costeiros).

4.5 Aplicação das guias de entrevista

Foram realizadas entrevistas nos municípios piauienses de Parnaíba, Ilha Grande, Luís Correia e Cajueiro da Praia (Figura 2). Os participantes foram selecionados após levantamento prévio e/ou indicados por agentes de instituições relacionadas ao setor que atuam em polos da aquicultura regional. Os produtores foram entrevistados de forma remota ou durante visitas presenciais, participação em reuniões, visitas técnicas e feiras. As entrevistas aplicadas aos gestores, especialistas do setor produtivo e demais agentes-chave da cadeia produtiva, com exceção dos produtores, foram feitas de forma digital através de

aplicativos de mídia social. Posteriormente, com o início das entrevistas, foi possível realizar um processo de amostragem sequencial e orientada (snowball), por meio da indicação, pelos agentes já contatados, de novos nomes a serem entrevistados. Para os consumidores de pescado, foram aplicados 416 questionários para a população residente na região do presente estudo. Entre eles, 10,8% moravam no município de Ilha Grande, 71,1% em Parnaíba, 11,05% em Luís Correia e 6,9% no município de Cajueiro da Praia. Os participantes foram selecionados por uma amostragem aleatória feita em supermercados, mercados públicos, peixarias e por meio de questionários digitais distribuídos em mídias sociais.

Figura 2 Aplicação dos questionários e entrevistas feitas em campo, junto aos atores da cadeia produtiva da aquicultura.

Fonte: Josefran Santos do Vale.

4.6 Tratamento dos dados e Resultados

Após a coleta de dados, foi realizado o tratamento dos resultados por meio de processo manual de codificação e classificação dos extratos a partir de grade de análise. Esta etapa reduziu o volume de dados a tratar com a eliminação das informações desnecessárias. Este tratamento foi seguido pelos trabalhos de análise dos dados. Os resultados do projeto foram validados junto aos agentes da cadeia produtiva por meio de apresentação dos dados e verificação destes.

5 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

5.1 Caracterização das fazendas

A carcinicultura piauiense é voltada ao cultivo do camarão marinho, Litopenaeus vannamei, e a produção é majoritariamente concentrada em 11 fazendas operantes nos municípios de Luís Correia e Cajueiro da Praia, no litoral do estado. Nessa região, há fazendas com estruturas antigas, construídas nos anos 80, como há instalações modernas, recentemente reformadas e readequadas para atendimento às exigências atuais do mercado. As informações sobre a produtividade da carcinicultura estadual são divulgadas periodicamente pelos dois principais órgão de representação dos produtores, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) e a Associação de Criadores de Camarão do Piauí (ACCP). Entretanto, os dados de produção são pouco convergentes. Segundo os levantamentos feitos pela ABCC (2020), o Piauí produziu 1.600 toneladas de camarão consecutivamente nos anos de 2018 e 2019. Contudo, para a ACCP, o estado produziu respectivamente 2.200 e 2.700 toneladas nestes anos. Para o ano de 2021, a ACCP registrou uma produção de 3.994 toneladas, um crescimento de 14% em relação ao ano de 2020, quando alcançou 3.500 toneladas.

Neste diagnóstico, a partir das entrevistas com os carcinicultores da região, pode-se estimar uma produção piauiense em 3.300 toneladas no ano de 2021. Apesar da divergência entre os dados de produtividade levantados pelas diferentes instituições, o crescimento da carcinicultura piauiense ao longo dos anos e sua ótima perspectiva para o futuro é algo inquestionável. Contudo, segundo 87,5% dos produtores entrevistados, a atividade ainda se mostra em uma baixa taxa de crescimento, se for levado em consideração o potencial de produção dos empreendimentos. As fazendas dedicadas à fase de crescimento final do camarão são instaladas nos estuários e recebem águas dos rios São Miguel, Cardoso, Camurupim, Carpina e Ubatuba. Estes empreendimentos utilizam densidades de estocagem de 8 a 25 animais/m² em áreas de cultivo, que variam entre 25 e 240 hectares de lâmina d’água sendo, portanto, empreendimentos de médio (entre 11 a 60 ha) e de grande porte (> 60 ha). Todas as fazendas possuem energia elétrica com subsídio para redução da tarifa de uso, contam, atualmente, com o capital próprio para o desenvolvimento das atividades da empresa e utilizam probióticos nos cultivos com a finalidade de melhorar a sobrevivência dos animais, a qualidade de água e a produtividade de forma geral.

Os produtores que atuam com a fase de crescimento final, engorda do camarão, destinam a maior parte da produção para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Parte da produção estadual também é destinada para o Pará, Maranhão, Ceará e Santa Catarina e uma pequena parcela é exportada para outros países. De todo o camarão produzido pela carcinicultura no Piauí, entre 27 a 40 toneladas, correspondente a cerca de 1% da produção estadual, é destinada ao mercado piauiense (Figura 3).

Figura 3 Distribuição relativa do camarão produzido no litoral do Piauí nos principais centros de escoamento.

Fonte: elaborada pelo autor.

Para os atravessadores que distribuem o camarão no Piauí, o produto é vendido à vista e o preço de venda é sugerido por uma tabela divulgada pela ABCC. Porém, o valor final do camarão é negociável com o cliente, que na maior parte dos casos é o atravessador, e sofre influência de diversos fatores, sobretudo, a oferta e demanda, custo de produção, sazonalidade, a taxa de câmbio e, consequentemente, a desvalorização da moeda brasileira. Estes fatores fazem com que a tabela de venda do camarão seja dinâmica, com o valor instável ao longo de um intervalo curto de tempo. Por isto, há uma flutuação constante no valor do camarão de um dia para o outro. De maneira geral, o preço do camarão é divulgado com base no camarão de 10g. A cada grama (g) de acréscimo em seu peso, o valor aumenta R$ 1,00. Assim, por exemplo, se a tabela sugerir a venda do camarão de 10g por R$ 18,00, para o camarão de 11g o valor será R$ 19,00, o camarão de 12g custará R$ 20,00, o camarão de 13g custará R$ 21,00 e assim por diante (Tabela 1).

Tabela 1 Valores hipotéticos da precificação do camarão vendido na comporta da fazenda em uma tabela de R$18,00.

Fonte: elaborada pelo autor.

A entrega do camarão ao cliente é agendada com antecedência e feita no momento da despesca na fazenda. Os camarões são avaliados e pesados neste momento, dispostos em caixas plásticas com gelo e, a partir daí, a logística de transporte e distribuição do camarão vendido passa a ser de responsabilidade do comprador. Com relação à produção e distribuição de pós-larvas do camarão, a única unidade produtiva em atividade no Piauí durante a realização deste estudo estava instalada próxima à costa litorânea, em Barra Grande, distrito de Cajueiro da Praia, e captava a água diretamente do mar. As pós-larvas são comercializadas por um preço em torno de R$11,00 o milheiro (pós-larvas 12) e são entregues às fazendas de engorda do camarão nos estados do Pará, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte. O laboratório possui capacidade de produção mensal de 60 milhões de pós-larvas, entretanto, menos de 10 milhões são destinadas aos produtores piauienses. Enquanto 60% dos carcinicultores piauienses possuem uma relação informal de fidelização com os clientes da fazenda, a relação de fidelização entre produtores e fornecedores de insumos é inexistente, seja formal ou informal. Segundo os produtores, a escolha do fornecedor de insumos e dos produtos a serem utilizados é dada apenas por uma relação entre preço, oportunidade e resultado no desempenho dos animais cultivados. No Piauí, os principais insumos utilizados para produção de camarão como, póslarvas, equipamentos, probióticos, fertilizantes e ração, são adquiridos de outros estados brasileiros, sobretudo do estado do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Dentre

estes insumos, somente as pós-larvas podem ser produzidas na região litorânea piauiense. Entretanto, de acordo com os entrevistados, todas os empreendimentos que atuam na fase de engorda do camarão adquirem as pós-larvas dos laboratórios no estado do Ceará. Somente dois produtores piauienses afirmam adquirir, eventualmente, larvas do laboratório instalado no Piauí. Vale destacar que, apesar de algumas fazendas de engorda no Piauí possuírem laboratórios para produção das pós-larvas, atualmente, por questões administrativas, o setor continua desativado dentro das fazendas.

Os produtores reconhecem a qualidade das pós-larvas produzidas no Piauí, contudo, para a estratégia de manejo e nas condições de cultivo utilizadas nas fazendas, as pós-larvas cearenses apresentaram, nos últimos ciclos de produção, melhores resultados de desempenho e sobrevivência. Segundo os produtores entrevistados, a genética das póslarvas cearenses, em especial a resistência aos vibrios e ao vírus da mancha branca (White Spot Syndrome Virus – WSSV) é um dos principais fatores levados em conta na escolha do laboratório.

Os insumos de maior impacto nos custos do laboratório de produção de pós-larvas e das fazendas de engorda são os produtos relacionados a alimentação dos camarões. Toda a ração utilizada nos empreendimentos piauienses é adquirida do estado do Ceará. Assim, as indústrias de ração instaladas no Piauí não atendem às necessidades dos carcinicultores. A entrega das rações é responsabilidade do fabricante, entretanto, as fazendas arcam com seu custo do transporte até o local do empreendimento. Quando questionados sobre a melhor estratégia para aumentar a produção do empreendimento, 85,7% dos produtores declararam que há necessidade de aumento de área física do empreendimento com construção de novos viveiros e tanques de cultivo, entre eles, 40% necessitam também de melhorias nas estruturas já existentes nas fazendas de produção. Neste sentido, os produtores mostraram interesse em parcerias que viabilizem análises de água, solo e identificação de patógenos com as instituições de Ensino e Pesquisa. No que se refere ao papel do governo, foi sugerido à redução da carga tributária, em especial do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), da ampliação do subsídio para energia elétrica e a viabilização de uma adutora que conduza água-doce aos empreendimentos da região.

_ Problemas vivenciados pela carcinicultura

Apesar do crescimento da atividade nos últimos anos, a carcinicultura marinha no Piauí apresenta gargalos significativos em alguns de seus elos que impedem o maior desenvolvimento da atividade (Figura 4).

_ A instabilidade e/ou o preço da energia elétrica. Este é um dos principais entraves que afeta todos os produtores de camarão do estado. A energia elétrica no Piauí tem uma das tarifas mais altas do Brasil e, mesmo havendo descontos para produtores rurais, o consumo de energia elétrica pelos sopradores e bombas, colocam em dúvida a sustentabilidade de formas mais intensivas de produção, como o uso do sistema em Bioflocos (BioFloc Technology - BFT), por exemplo. Além disso, a constante oscilação da energia elétrica compromete a rotina de captação de água, o uso de aeradores, bombas, lâmpadas e a vivência dos funcionários nas fazendas de criação. Foi relatado por um dos produtores que a instabilidade recorrente no período noturno faz com que seja necessário o bombeamento do canal de abastecimento da fazenda ao longo do dia, horário no qual não há subsídio para redução do custo com a energia elétrica.

Figura 4 Frequência relativa dos problemas da carcinicultura no litoral do Piauí na visão dos produtores.

Fonte: elaborada pelo autor.

Entre os problemas mais citados pelos produtores, destacam-se: _ O alto preço e a dificuldade na aquisição de insumos. Grande parte dos insumos utilizados pelos carcinicultores no Piauí, são oriundos de outros estados onde a atividade é amplamente exercida e se constituem polos comerciais e de distribuição de material e equipamentos aquícolas para outras regiões do Nordeste. Para aquisição dos insumos, os produtores se deslocam até os estados vizinhos ou recebem o produto com um alto valor de frete na fazenda. Em ambos os casos, o insumo, em especial a ração, chega à fazenda com o preço alto e passa

a ser considerado como um dos maiores obstáculos vivenciados pelos produtores piauienses, pois implica diretamente no aumento dos custos de produção. Durante o levantamento das dificuldades em aquisição de insumos, alguns carcinicultores consideram o Piauí como “fim de rota” (local onde cessa o escoamento de produtos) das indústrias.

_ A escassez de água-doce nas fazendas. A região litorânea piauiense convive, historicamente, com a escassez de água doce. Entretanto, nos últimos anos, o problema ficou mais intenso e visível com o desenvolvimento das comunidades turísticas locais. Assim como acontece nestas comunidades, a falta de água doce nas fazendas de camarão prejudica o consumo humano, a higiene pessoal dos funcionários e a limpeza do ambiente e do material utilizado na rotina diária de trabalho. Para contornar este problema, as fazendas recorrem ao aluguel de caminhões-pipa para abastecer os empreendimentos. No verão, entre os meses de dezembro e março, alguns produtores captam a água da chuva e a estocam em cisternas para o uso. Apesar de ser um problema que afeta toda a região litorânea, há uma possível solução em curso. O Governo do Estado do Piauí está promovendo a construção da Adutora do Litoral, projeto que integrará o abastecimento de água e esgotamento sanitário dos municípios piauienses de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia. Segundo o Instituto de Desenvolvimento do Piauí (2021), a maior parte das obras da adutora já estão concluídas e, brevemente, garantirá o abastecimento de todos os municípios e localidades da região litoral do estado, atenuando ou eliminando o problema de escassez de água doce nas fazendas de camarão.

_ Indisponibilidade de mão de obra e a baixa qualificação dos funcionários. Parte dos produtores entrevistados tem dificuldade em contratar funcionários para exercer as funções de preparação dos viveiros, manutenção, alimentação, manejo e despesca nas fazendas. De acordo com os produtores, as comunidades em torno das fazendas dão preferência por outras atividades tradicionalmente feitas na região, como pesca, agropecuária e produção de farinha. Assim, é comum a saída de funcionários das fazendas e entrada de pessoal sem experiência ou conhecimento prático para executar as atividades. Ainda que a maior parte dos carcinicultores afirmem ter o domínio da técnica de criação empregada no cultivo, a ausência de capacitação dos funcionários pode gerar problemas no manejo e redução da produtividade da fazenda. A disponibilidade de mão de obra e a baixa qualificação dos funcionários empregados na carcinicultura também foi observada no ano de 2004 por Sampaio e Couto (2004), que relataram que 88% da mão de obra empregada nesta atividade eram de baixa qualificação.

_ Os problemas com a legislação ambiental. Tais problemas são recorrentes em meio à carcinicultura brasileira. No Piauí, de acordo com 45,5% dos produtores, os problemas em torno da legislação ambiental são entraves que impedem o maior desenvolvimento da atividade. É perceptível que não há um entendimento por parte dos carcinicultores quanto aos trâmites exigidos pelas instituições responsáveis pela segurança ambiental. Por outro lado, a falta de informações, a burocracia e a lentidão dos processos relacionados à legislação ambiental afastam os produtores dos órgãos competentes. _ A falta de laboratórios para análises sanitária e de qualidade de água e solo: A nível mundial, o maior problema enfrentado pela carcinicultura são as doenças provocadas por vírus e bactérias. Como ocorre na criação de qualquer organismo aquático, o surgimento de doenças na produção é uma resposta à combinação entre o manejo inadequado dos animais, a baixa qualidade da água do cultivo e o aumento da densidade de estocagem, tanto em sistemas semi-intensivos como intensivos, que promovem o estresse e o consequente comprometimento do seu sistema imunológico. A carcinicultura piauiense tem em seu histórico uma sucessão de problemas causados por enfermidades que levaram a indústria à grandes perdas econômicas nas últimas décadas. Entretanto, a ocorrência de doença não foi citada por nenhum dos produtores entrevistados como um empecilho para o desenvolvimento do setor. Nota-se que os produtores piauienses reconhecem a importância do assunto, se adaptaram ao problema e hoje não negligenciam as medidas de combate aos patógenos. Neste sentido, a principal estratégia de profilaxia utilizada por todos os produtores no Piauí é a aplicação de biorremediadores/probióticos e a manutenção de baixas densidades de estocagem em busca de reduzir o estresse dos animais cultivados em viveiros escavados. Percebe-se assim, o motivo pelo qual os produtores acreditam que a intensificação do cultivo não é, atualmente, uma alternativa recomendada para promover de maneira sustentável o aumento da produtividade de camarões no estado. Outras medidas preventivas à ação de patógenos adotadas pelos produtores são relacionadas ao uso de aeradores e a realização de análises presuntivas que proporcionam maior controle e segurança do cultivo, e consequentemente, reduz possíveis danos à produção causados por enfermidades. Entretanto, alguns produtores relataram dificuldade em realizar análises de água, solo e de sanidade dos animais. Cabe aqui ressaltar que a ausência de laboratórios para diagnóstico de patógenos, pode ser atenuada pela presença de pesquisadores e laboratórios de análises na Universidade Estadual do Maranhão, em São Luís-MA, e no Labomar em Fortaleza-CE.

_ Ausência de unidades de beneficiamento para camarões no Piauí. A falta da indústria de beneficiamento foi citada como problema para 27,3% dos produtores. De acordo com um deles, a flutuação dos preços do camarão faz com que, em algumas ocasiões, seja inviável economicamente comercializar o produto devido ao seu preço baixo. Neste sentido, o beneficiamento pode se tornar uma solução para este problema ao agregar valor ao camarão e por permitir seu armazenamento até que os preços voltem a ser viáveis para o produtor. Os produtores citaram nesta pesquisa que quando há necessidade de beneficiar os camarões é preciso conduzir a produção para as unidades de beneficiamento do estado do Ceará, aumentando os custos.

_ A dificuldade em manutenção do preço sem repasse para o consumidor: Os produtores relataram que, nos últimos meses, os custos de produção do camarão marinho aumentaram consideravelmente. Entre os principais fatores que causam essa variação em um curto e médio prazo, podem ser citados, problemas com a elevada carga tributária, o alto preço da energia elétrica e dos insumos utilizados no cultivo.

Além desses fatores, a oferta e a procura internacional pelo camarão, regida pelo dólar, podem ser consideradas causas da alteração do preço do produto à curto prazo no Brasil. Além do camarão, o combustível dos transportes e os insumos utilizados nas fazendas, inclusive para a produção da ração, também são commodities que possuem o valor definido pela relação entre a moeda brasileira e a moeda norte Americana (taxa de câmbio). O aumento no preço destes produtos acompanhados da desvalorização da moeda brasileira, acarretam no maior custo de produção do camarão. Entretanto, os produtores são pressionados pelo mercado a vender no preço da tabela recomendada pela ABCC ou pelo preço exigido pelo atravessador. Neste sentido, o atravessador se mostra um importante agente que atua no mercado ao transportar o camarão produzido até os clientes ou comerciantes no final da cadeia produtiva. Entretanto, o atravessador especula financeiramente o valor da compra do camarão produzido entre as pequenas e médias fazendas da região, com base no valor médio de mercado. Sentindo-se pressionados, os produtores, muitas vezes, cedem à venda por um valor menor que o desejado. Nesta pesquisa, os produtores relataram a dificuldade de absorver a variação do preço do camarão produzido, sem ter que repassar esse aumento de custos para os atravessadores. Neste caso, os produtores citam a redução no lucro da produção no período em que o preço do camarão no mercado está baixo. _ Outros problemas relatados. Os produtores também consideraram como problemas para o desenvolvimento da carcinicultura, a “falta de estímulo ao

consumo do camarão cultivado”, a “alta carga tributária”, principalmente o ICMS, a “falta de representatividade das associações” e a “má qualidade genética das póslarvas brasileiras”.

5.2 A visão dos Técnicos Consultores

Entre os elos da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí, somente as fazendas de produção tem a opção de contratar serviços de consultoria na região para a resolução de problemas internos. Assim, não existem profissionais independentes ou de instituições privadas que prestam assistência ou cursos para atender o setor intermediário representado pelos atravessadores ou para o setor de beneficiamento e distribuição do camarão aos consumidores.

Nesta pesquisa, os consultores entrevistados possuíam graduação em Engenharia de Pesca ou Engenharia de Aquicultura, tinham entre 26 e 52 anos de idade, possuíam uma renda mensal de R$ 600,00 a R$ 6.000,00 e apresentavam entre 1,5 e 30 anos de experiência no mercado de consultoria para carcinicultura. Além de prestarem consultorias para empresários no Piauí, os entrevistados também atuavam no Maranhão e Ceará e, na sua maioria (80%), não tinham empresas formalizadas para exercer exclusivamente esta atividade.

Assim como foi citado pelos produtores de camarão no Piauí, a maior parte dos consultores também acredita que a carcinicultura está em fase de crescimento, porém, em um ritmo lento em relação ao potencial de produção. Somente um entrevistado acredita que a atividade está estagnada, sem crescimento, em virtude dos problemas como preços baixos de venda e custos altos de produção. Na visão de 80% os consultores, o Piauí tem potencial para expandir a carcinicultura a partir do aumento de densidade de estocagem e na interiorização da produção de camarão marinho em direção ao sul do estado. Neste caso, os consultores acreditam que o uso do sistema de cultivo em Bioflocos, utilizando águas continentais (água doce ou até salobra), poderá se tornar uma realidade, principalmente para unidades de produção de pequena área. Ainda, de acordo com estes profissionais, as áreas localizadas fora da zona de estuários são mais baratas e as políticas ambientais são menos rigorosas. Entretanto, segundo os entrevistados, a interiorização da carcinicultura só se tornará possível se houver no mercado mão de obra especializada, projetos bem delineados e maiores subsídios na tarifa de uso da energia elétrica ou uso de energia fotovoltaica para que o cultivo do camarão se torne viável.

O aumento da produção de camarão no Piauí a partir da expansão da área de cultivo nos estuários não se apresenta, para os consultores, como a melhor alternativa

para incrementar a produção estadual. Um dos entrevistados ressalta que as áreas ideais para instalação de empreendimentos já estão ocupadas e outras áreas estão sob proteção ambiental, dificultando o crescimento da atividade na maneira como é tradicionalmente exercida.

O cultivo de outras espécies de camarão, sobretudo dos camarões de água doce, como o Macrobrachium rosenbergii ou o Macrobrachium acanthurus, também não se mostra, neste momento, como opção real para o incremento da carcinicultura piauiense. Na visão dos técnicos consultados, apesar do bom desempenho zootécnico destes crustáceos e haver tecnologia básica para fechar o ciclo de produção destes animais no Brasil, por questões culturais referentes ao consumo, a criação destes animais ainda não desperta atenção dos empresários para iniciar um empreendimento neste ramo. Quando questionados sobre a cooperação entre as fazendas, os consultores afirmam que este vínculo de ajuda entre os empreendimentos de produção de camarão no Piauí é inexistente. De acordo com 33% dos consultores, a cooperação entre as fazendas, se ocorrer, é devido a amizade entre os técnicos e se limita às questões pontuais, pouco relevantes aos problemas do setor. Segundo um dos entrevistados, a união entre as fazendas e a troca de informações, principalmente sobre a resolução dos problemas, deveria ser habitual em prol da melhoria da atividade.

Quanto à relação de cooperação entre os consultores, somente um entrevistado afirmou que há existência de cooperação entre os profissionais que exercem esta atividade. Os demais consultores (80% dos entrevistados), asseguram que não há qualquer vínculo de ajuda mútua entre a classe. Como motivos, os entrevistados ressaltaram questões como a desconfiança sobre a competência de outro profissional, o hábito de não pedir ajuda, a falta de união entre os consultores e a falta de representatividade dos conselhos e associações profissionais que estimulam a desvalorização do profissional frente à outras classes, como agrônomos e veterinários, por exemplo. Todos os entrevistados também afirmaram que não há relação de vínculo de fidelidade na prestação dos serviços dos consultores com os proprietários ou administradores das fazendas. Neste sentido, o desempenho do consultor na resolução do problema do contratante é o principal motivo para que a fazenda volte a contratá-lo. O papel e a relevância do atravessador de camarão no mercado e no desenvolvimento da carcinicultura é visto sob diferentes aspectos pelos técnicos consultores. Entre os entrevistados, 66% acreditam que o atravessador é um agente chave na distribuição do camarão até os comércios, não podendo ser eliminado da cadeia produtiva. Entretanto, um destes entrevistados acredita que sua atuação se faz necessária apenas para grandes quantidades de camarão comercializadas. Os demais consultores (33%) acreditam que

o atravessador não contribui em nada para o desenvolvimento do setor e atrapalha a divulgação de marca ou procedência do produto. Entre os entraves vivenciados pela carcinicultura piauiense, na visão dos técnicos consultores (Figura 5), destacam-se novos problemas que antes não foram citados pelos produtores, como a dificuldade em atualização tecnológica das fazendas piauienses e a falta de agregação de valor ao camarão comercializado na região.

Figura 5 Frequência relativa dos problemas da carcinicultura no litoral do Piauí na visão dos técnicos consultores.

Fonte: elaborada pelo autor.

Segundo os entrevistados, os principais problemas são:

_ Falta de divulgação do camarão para o mercado consumidor: Segundo os consultores entrevistados, o incentivo ao consumo do camarão na região auxiliaria no escoamento da produção, trazendo benefícios, principalmente, para as menores fazendas no estado. Também proporcionaria a maior rotatividade do produto nas peixarias. _ Falta de unidades de beneficiamento para o camarão: A falta de unidade de beneficiamento limita, segundo os consultores, a disponibilidade de novas formas de apresentação do camarão no comércio.

_ As doenças: Segundo 68% dos entrevistados, as doenças ainda se constituem o principal fator de risco à sustentabilidade da carcinicultura no Piauí. De acordo com estes entrevistados, a chegada da “larva X” no Brasil, resistente a alguns patógenos, pode atenuar este problema e iniciar uma nova fase para a carcinicultura brasileira. _ Carga tributária sobre os insumos: A alta carga tributária na distribuição dos insumos, principalmente na ração, é um dos problemas que aumentam o custo de produção do camarão e impedem o maior crescimento da atividade. Neste ponto, os carcinicultores e os consultores também convergem sobre a dificuldade em aquisição de insumos e os problemas que isto gera para a atividade. Um dos consultores também considera o Piauí como “fim de rota” para a distribuição de insumos. _ Aumento do preço de produção e dificuldade de repasse: Segundo os consultores, a margem de lucro da produção de camarão está cada vez menor em função do aumento do custo de produção. O setor apresenta dificuldade em repassar este aumento de custo para o atravessador. Neste ponto, vale ressaltar que 60% dos consultores consideram o atravessador como um “mal necessário” à cadeia produtiva. _ Ausência de evolução no processo tecnológico: Na visão de 40% dos consultores, o fechamento das fazendas para a entrada de novas tecnologias é outro ponto que deve ser levado em consideração entre os problemas que limitam o maior desenvolvimento da carcinicultura.

Os entrevistados também citaram a falta de união entre os produtores como fator que intensifica os problemas ou impede que estes problemas sejam solucionados. Um dos entrevistados ressaltou, por exemplo, que a falta de comunicação entre o setor produtivo impede o estabelecimento de uma margem de preço pouco variável do camarão a ser comercializado na região. Outro entrevistado citou a falta representatividade dos pequenos produtores que impede que suas demandas sejam viabilizadas e, na falta de diálogo, estes produtores se tornam invisíveis para as associações de criadores de camarão e o governo. Por fim, na visão dos consultores, o Governo pode atuar em benefício da carcinicultura atenuando a carga tributária sobre os produtos utilizados na aquicultura. Também foi sugerido o favorecimento de um plano de gestão da cadeia produtiva. Quanto à universidade, os entrevistados sugerem uma maior atuação na pesquisa para melhorar os mecanismos de produção e resultados nas fazendas.

5.3 Perfil dos atravessadores

O atravessador é o profissional que exerce suas atividades colocando-se entre o produtor e o comerciante varejista. Na cadeia produtiva da carcinicultura, o atravessador é o principal ator que faz a compra dos camarões nas fazendas cearenses e o distribui em pequenas quantidades pelos municípios do Piauí, atendendo a maior parte do comércio, sobretudo, os pequenos estabelecimentos, peixarias, bares e restaurantes. A participação chave do atravessador na distribuição do camarão na região litorânea piauiense se dá, pelo fato que, os carcinicultores no Piauí dão preferência à venda de grandes quantidades de camarões despescados em um único lote, atendendo assim, consumidores de maior poder aquisitivos. Por este motivo, o camarão é destinado principalmente à região sudeste do Brasil. Desta forma, os atravessadores buscam menores quantidades de camarão nas fazendas do Ceará e fracionam o volume para atender os estabelecimentos nos municípios do Piauí. Apesar da importância deste elo da cadeia produtiva, o atravessador recebe críticas por parte dos produtores de camarão, proprietários de peixarias e técnicos consultores independentes que atuam junto às fazendas. Segundo alguns produtores, o atravessador especula financeiramente o valor da compra do camarão produzido entre as menores fazendas da região, com base no valor médio de mercado. Sentindo-se pressionados, os produtores, muitas vezes, cedem à venda por um valor menor que o desejado. Para alguns proprietários de peixarias e técnicos consultores independentes, o atravessador é um elo da cadeia produtiva que deveria ser evitado, sempre que possível, pois seu custo eleva o preço do produto ao final da cadeia produtiva ou reduz o lucro do produtor para que os preços se mantenham estáveis ao consumidor.

No Piauí, a atividade de atravessador é feita, predominantemente, de maneira informal, dificultando o registro do número de pessoas que exercem essa função na cadeia. Poucos atravessadores possuem empresa formalizada. Os que possuem, são proprietários de peixarias e a maior parte destes se inserem na categoria de Micro Empreendedor Individual (MEI).

Nesta pesquisa, a soma do volume de camarões de cultivo que é transportada pelos atravessadores entrevistados até os comerciantes da região litorânea piauiense atinge 264 toneladas ao ano. No ato da compra dos camarões nas fazendas de menor porte, o atravessador é o responsável pela negociação, logística de busca e entrega do camarão, pela compra de gelo e metabissulfito de sódio utilizado.

Após a compra nas fazendas, os camarões são transportados em caixas de poliestireno contendo gelo até o município de Parnaíba, em seguida, são repassados aos estabelecimentos comerciais da região por um preço em torno de 25% a 35% acima do

valor adquirido na fazenda. Para que os camarões cheguem até o interior do estado, em particular a capital, Teresina, os atravessadores enviam o produto por transportadoras, em carro próprio ou ônibus intermunicipal. Neste caso, os atravessadores negociam com os clientes o valor do transporte ou incluem o custo do transporte no preço do produto. Não há uma relação de fidelidade entre atravessadores e produtores de camarão. A compra do produto na fazenda é determinada pelo preço momentâneo e a distância que se encontra do varejo. Já a relação de fidelidade entre atravessadores e clientes só é feita para estabelecimentos que necessitam de volume regular, como peixarias, redes de restaurantes e lanchonetes, em especial, para os comerciantes que trabalham com a venda de comida japonesa e pizzarias. Quando os atravessadores foram questionados sobre os motivos que levam os clientes a comprarem seu produto, 40% citaram o preço como o principal fator que leva o cliente à sua procura, 30% dos atravessadores citaram a flexibilização pela forma de pagamento e, de acordo com 20% dos atravessadores entrevistados, os clientes os buscam pela qualidade do camarão fresco. Todos os atravessadores relataram que a proximidade e localização do atravessador não é um fator a ser levado em consideração, uma vez que grande parte do produto também é vendido para o interior do estado. Entre os problemas citados pelos atravessadores, destacam-se: _ Excessiva carga tributária. O imposto pago pelo transporte do camarão na divisa entre os estados do Ceará e o Piauí, desestimulam a busca pelo camarão e o atendimento aos clientes piauienses. Por isto, os atravessadores afirmam ter preferência pelo camarão produzido no Piauí. Além disso, o custo com o transporte do camarão também seria menor. _ Energia elétrica: O alto custo da energia elétrica piauiense desestimula a construção de câmaras frigoríficas e eleva os custos para armazenamento do camarão em refrigeradores. _ Falta de produto na região: Como muitas vezes o camarão não está disponível no litoral piauiense ou há disponibilidade, mas o preço não é favorável aos atravessadores, há necessidade de busca pelo camarão nos municípios cearenses, principalmente em Acaraú e Itarema. Este transporte aumenta o custo do camarão que é repassado ao cliente. _ Estabilização dos preços ao consumidor: A grande flutuação do preço do camarão do mercado é repassada ao varejista, cliente do atravessador. Por outro lado, os restaurantes não repassam as alterações de preços para os consumidores de camarão ou incorporam ao preço do alimento feito com ele. Neste sentido, os atravessadores relatam que os varejistas buscam por fidelização com os atravessadores, desde que seja com o preço estável, impossível de ser atingido com tamanha variação do preço do camarão no mercado.

5.4 Setor de Distribuição e Processamento do Camarão

Na região de abrangência do presente estudo, a venda de camarões para o consumidor é feita, principalmente, por um supermercado, restaurantes e peixarias nos municípios, com destaque para o município de Parnaíba. Neste ponto da cadeia produtiva, a classificação do camarão segundo o peso, como é feita pelo atravessador ao comprar na fazenda, não é mais a principal medida de diferenciação dos produtos. Os camarões no comércio local passam a ser classificados quanto ao tamanho genérico do animal, recebendo a denominação de “pequeno” (P) para os camarões de tamanho variando entre 8 a 10g, “médio” (M) para os animais entre 12 a 14g, “grande” (G) para os camarões entre 14 a 16g e “GG” para os camarões acima de 16g. Os comerciantes locais absorvem tanto os camarões oriundos da pesca como da aquicultura. A maior parte do camarão proveniente da aquicultura que chega ao mercado são provenientes do estado do Ceará. Este camarão é adquirido por alguns atravessadores que, por sua vez, compram diretamente da fazenda de produção, não passando, portanto, por unidades de beneficiamento. O camarão é repassado aos comerciantes sob duas formas de apresentação, fresco inteiro e congelado inteiro, porém, nos tamanhos, pequeno, médio, grande ou “GG”. Eventualmente, quando o camarão é oriundo de produtores piauienses, alguns atravessadores o conduzem até o município de Cajueiro da Praia para fazer a torragem. Enquanto os camarões provindos da aquicultura têm limitadas formas de apresentação, as unidades de beneficiamento atreladas aos entrepostos pesqueiros no Piauí distribuem na região, camarões oriundos da pesca nos tamanhos pequeno, médio, grande e “GG”, além de diferentes formas de apresentação como, inteiro fresco ou congelado, filé fresco ou congelado, descabeçado fresco ou congelado. As industrias cearenses que atuam na distribuição de camarão no Piauí também trabalham com as formas de apresentação citadas anteriormente além de camarões pré-cozidos nas formas de filé, descabeçados, inteiros, nos tamanhos pequeno, médio, grande e GG, além de camarões torrados. Neste sentido, os comerciantes de peixarias preferem adquirir o camarão das unidades de beneficiamento já processados, assim, há uma economia de tempo e trabalho pois, cabe aos comerciantes apenas embalar os camarões em sacos de 1kg, nas diferentes formas de apresentação, para a venda ao consumidor. Segundo os entrevistados, a venda do camarão, de maneira geral, é maior no período de alta estação que compreende os meses de dezembro, janeiro, junho e julho. Neste período, tanto o camarão oriundo da pesca como da aquicultura tem mesmo volume de venda no comércio local. Ao longo do ano, o camarão oriundo da carcinicultura passa a ser mais vendido quando o produto da pesca sofre variação de preço por conta da disponibilidade sazonal de captura.

A questão da sazonalidade se torna um problema nos meses de verão, quando ocorrem as chuvas na região, e no período de defeso do camarão no mar com proibição da sua captura, que acontece no mês de março. Nestes períodos a oferta do camarão fruto da atividade pesqueira também é reduzida e o comerciante é limitado à compra dos camarões provenientes da carcinicultura. Outro fator relevante na relação de concorrência entre os camarões provenientes da pesca e da carcinicultura é o preço relativo ao peso do produto. Os camarões inteiros oriundos da pesca nos tamanhos pequeno e médio são, de maneira geral, mais caros que os camarões cultivados no mesmo tamanho. Por sua vez, os camarões de tamanho grande e GG, são mais baratos quando oriundos da pesca quando comparados aos camarões de criatórios.

_ A venda do camarão nas Peixarias

Na região litorânea, é notório a existência de dois tipos de peixarias com algumas características distintas, as peixarias de grande porte e as de pequeno porte. Ambas as peixarias recebem camarões tanto da pesca como da aquicultura e têm o camarão médio como o produto mais vendido. Além disso, todos os comerciantes de peixarias entrevistados se sentem motivados a continuar trabalhando no setor pois, consideram que, de maneira geral, há oferta de camarão e demanda por produto ao longo de todo o ano. As maiores peixarias da região se mostram mais organizadas quanto à estratégia de venda dos camarões. Nestes empreendimentos, os comerciantes armazenam em câmaras frigoríficas uma quantidade grande de camarões comprados das fazendas no período em que o preço está relativamente baixo. Assim, evitam repassar as constantes flutuações de preço do mercado para os consumidores. Além disso, estes comerciantes dispensam a atuação dos atravessadores ao buscar o camarão diretamente nas fazendas e se mostram mais preocupados com a origem do produto em função da exigência dos consumidores. Em cada um destes estabelecimentos, a venda de camarão tanto da pesca quanto da aquicultura, gira em torno de 320 a 500 kg por semana. Devido ao volume de camarão comercializado, a capacidade de armazenamento e o baixo preço do camarão adquirido, estas peixarias atuam tanto na distribuição do camarão para o consumidor como na venda atacadista, revendendo o camarão para peixarias menores, bares e restaurantes. As peixarias de pequeno porte mostram, por sua vez, menor capacidade de venda de camarões em função do local de armazenamento do produto em refrigeradores, juntamente com outros pescados. O volume de camarão comercializado nestes estabelecimentos varia, normalmente, em torno de 20 a 50 kg por semana. Há uma dependência de atravessadores para fornecimento do produto e, com isso, os preços do camarão sofrem constante variação.

A escolha do fornecedor (atravessador) para a compra do camarão nestes estabelecimentos é limitada ao preço, e não sua origem. Porém, o aspecto visual do camarão, em particular a coloração do produto, é levado em conta na avaliação da qualidade do camarão.

_ A venda do camarão nos restaurantes

De maneira geral, os restaurantes da região litorânea adquirem o camarão cultivado nas peixarias. Somente aqueles restaurantes especializados na venda de refeições feitas com camarões recebem o produto diretamente dos atravessadores, porém, estes estabelecimentos também recorrem às peixarias em casos imediatos. Em ambos os estabelecimentos, o camarão oriundo da carcinicultura é adquirido nos tamanhos pequeno, médio, grande e GG. A quantidade comprada de cada tamanho varia conforme a época do ano e as refeições servidas aos clientes. Quando questionados sobre a preocupação com a origem ou a escolha dos fornecedores, todos os representantes deste setor afirmaram dar prioridade ao preço do camarão e as formas de apresentação do produto. Ainda segundo os comerciantes, o grau subjetivo de escurecimento do camarão (melanose) é a única forma de avaliação da qualidade do produto no momento da compra.

_ A venda do camarão nos supermercados

A maior parte dos supermercados da região trabalha apenas com o camarão congelado, já embalado sob diferentes tamanhos e formas de apresentação, oriundos de uma indústria situada na capital do estado, Teresina. Segundo os responsáveis pela compra de pescado nestes estabelecimentos, a opção por não trabalhar com camarões frescos se deve à pouca procura pelos clientes, a necessidade de logística de transporte, falta de selos de inspeção dos fornecedores, por conta do tempo de armazenamento do produto e ausência de mão de obra dentro da empresa para manipulação do camarão. Apenas um supermercado na região trabalha com camarão fresco, na maior parte das vezes, oriundo de uma fazenda de produção no Ceará (Figura 6). Neste caso, o representante do supermercado negocia a compra do camarão diretamente com o produtor. O produtor, por sua vez, se responsabiliza pela entrega do produto no supermercado. No momento da chegada, o camarão adquirido exclusivamente de tamanho médio, é supervisionado, beneficiado e disposto à venda aos clientes.

Figura 6 Camarões fresco oriundos da aquicultura sendo comercializados em um supermercado em Parnaíba, Piauí.

Fonte: autor.

Segundo o representante do supermercado, a fl utuação do preço do camarão adquirido nas fazendas é repassada ao consumidor, ocasionando também a variações no valor de venda à cada lote adquirido. Além disso, o representante ressalta que o lucro do estabelecimento sobre o camarão fresco é mínimo, muitas vezes inexistente, mesmo assim, o supermercado comercializa 10.000 kg de camarão fresco por mês. Além deste produto, também há venda de camarão congelado, benefi ciado, proveniente de industrias, assim como ocorre nos outros supermercados.

_ A venda do camarão nos mercados públicos

Assim como ocorre nas peixarias, as bancas nos mercados municipais (feiras livres) trabalham com o camarão proveniente da pesca e da aquicultura. O camarão de cultivo é repassado pelo atravessador aos comerciantes no início da manhã, torrados ou frescos. Parte dos vendedores também fazem a torragem do camarão e, em ambos os casos, os

camarões são dispostos sobre a bancada do mercado para a venda sem refrigeração (Figura 7). O camarão de cultivo é adquirido em tamanho único, médio, e o preço de venda do camarão fresco ao consumidor é, em média, R$25,00/kg. O camarão torrado custa em média entre R$30,00 a R$36,00/kg ao consumidor.

Figura 7 Camarões torrados oriundos da pesca e da aquicultura sendo comercializados no mercado público (feira livre) em Parnaíba, Piauí.

Fonte: o autor.

_ Problemas do setor

Segundo os entrevistados, representantes do setor de distribuição do camarão, os principais problemas enfrentados são:

_ Energia elétrica: Algumas fazendas de produção de camarão possuem unidades de benefi ciamento. Apesar da opção pelo não uso destas unidades estar relacionada à fatores internos à administração, as constantes faltas de energia elétrica aliadas

à carência de água doce, desencorajam seu funcionamento. Para os varejistas, como os empresários de pequeno porte, que fazem o beneficiamento do camarão, o elevado consumo de energia elétrica das câmaras frigoríficas e refrigeradores desestimulam os investimentos para instalação e ampliação dos empreendimentos. No caso das peixarias de maior porte, os empresários investiram em painéis de geração de energia fotovoltaica como solução para este problema. _ Falta de divulgação do produto: O estímulo ao consumo do camarão fortaleceria o desenvolvimento de todos os elos da cadeia produtiva e poderia resultar na abertura das fazendas para atender o comércio local piauiense. Neste sentido, com a compra do camarão produzido nas fazendas piauienses, os custos com consumo de combustível, manutenção de veículos, caixas de estocagem e gelo, impostos interestaduais e diárias dos atravessadores que buscam o camarão no Ceará seriam reduzidos e, poderiam repassar o produto por um menor preço ao consumidor piauiense. _ Inadimplência dos clientes: para 40% das peixarias, a grande quantidade de dívidas dos clientes com a empresa é um problema considerável. _ Falta de gelo: A carência de gelo é um problema relatado para as peixarias em Parnaíba. Neste caso, parte dos empreendimentos compram o gelo de industrias pesqueiras no município de Luís Correia. _ Pandemia: A crise econômica causada pela COVID-19 no Brasil afetou os setores de produção de alimentos. Segundo os proprietários de peixarias, houve uma redução na atividade econômica e no consumo de pescado de maneira geral. _ Doença de Haff: A divulgação da doença de Haff deixou em alerta os consumidores de pescados, inclusive os consumidores de camarão. Todos os entrevistados relataram a redução de, pelo menos, 50% na venda de camarões nos estabelecimentos neste período.

5.5 Perfil dos consumidores

Para avaliar o perfil dos consumidores, foram entrevistados compradores de camarão nas unidades de distribuição (peixarias, mercados e supermercados). Os entrevistados tinham entre 20 e 60 anos de idade, 42,2% eram homens, 6% tinham o ensino médio incompleto, 21,2% tinham o ensino médio completo, 27,2¨% tinham curso superior completo e 39,3% tinham o ensino superior incompleto. A renda mensal de 90% dos entrevistados era menor que 4 salários mínimos, especificamente, 48% ganhavam até 1 salário mínimo e 42,4% ganhavam entre 2 e 4 salários mínimos. Não houve uma correlação direta entre a frequência de consumo de camarão com o grau de escolaridade, a idade e a renda mensal dos consumidores ou o sexo dos entrevistados.

Entre os entrevistados, 53,9% consomem camarão pelo menos uma vez por mês, 33,1% consomem pelo menos uma vez a cada dois meses, 10% não consomem camarão e apenas 3% consomem camarão uma vez por semana. Segundo 42,4% dos consumidores de camarão, se o preço do produto fosse mais acessível o consumo seria mais frequente. A principal causa relatada para o não consumo, citada 45,4% dos entrevistados não consumidores, é a alergia ao crustáceo. Com relação ao preço do camarão (Figura 8A), 48,4% dos entrevistados acham que o produto tem o preço muito alto, 39,3% acreditam que o preço do camarão é um pouco alto, considerável no momento da escolha do alimento, e somente 9% acham o preço do camarão acessível. O principal problema que impede o aumento do consumo de camarão, citado por 50% dos entrevistados, é o seu preço (Figura 8B).

Figura 8 Percepção dos consumidores de pescado do litoral piauiense quanto o preço do camarão (A) e os motivos pelos quais os entrevistados não consomem camarão (B).

Fonte: elaborada pelo autor.

Quanto à origem, 73,1% dos entrevistados mostraram preocupação com a origem do camarão, principalmente por questões de frescor e higiene no momento da manipulação, armazenamento e beneficiamento e do risco que isto pode levar à saúde do consumidor (Figura 9). Entre os entrevistados, 26,9% não mostraram preocupação com a origem do camarão consumido. Nenhum entrevistado relatou preocupação se a origem é da pesca ou da carcinicultura.

Figura 9 Frequência absoluta e relativa dos motivos de preocupação dos consumidores de camarão do litoral piauiense no momento de aquisição do produto.

Fonte: elaborada pelo autor.

Por fim, os entrevistados foram questionados sobre os fatores que podem fazer com que as pessoas se sintam mais interessadas em consumir o camarão. Para 31% dos entrevistados, as campanhas de divulgação e estímulo ao consumo do camarão podem ser eficientes neste quesito. O segundo fator mais citado foi a redução do preço do camarão, relatado por 18,75% dos entrevistados. Os outros fatores citados pela população entrevistada foram relacionados à procedência (12,2%) e à forma de criação do camarão (9%). Um total de 30% dos entrevistados não soube ou não quis opinar.

5.6 Os Fornecedores de Insumos

O setor de insumos constitui um dos elos-chave para o sucesso de qualquer organismo aquático, haja vista sua importância na composição dos custos de produção e nos indicadores de desempenho zootécnico. Na carcinicultura os insumos que mais impactam os custos de produção são as rações. Segundo os representantes do setor de venda e distribuição de ração para camarões, a carcinicultura piauiense, assim como acontece com a atividade em outros locais no Brasil, está em expansão. Entretanto, a atividade acompanha o panorama econômico brasileiro, sendo impactada negativamente pela pandemia e a desvalorização do real. Os entrevistados acreditam que estes fatores causaram, nos últimos anos, a falta de matéria prima para a fabricação dos insumos no mercado e o consequente aumento dos preços dos produtos utilizados nas fazendas.

No Piauí, o aumento do preço dos insumos é ainda maior pelo fato do estado não ser um produtor de matérias-primas. Além disso, devido à demanda e a estrutura de mercado piauiense, não há centros de produção e distribuição de produtos aquícolas. Uma vez que os insumos são provenientes de outras regiões, seu preço fica ainda mais alto em função do seu local origem, justificando a ideia dos produtores que o Piauí é “fim de rota” para a venda destes produtos. Apesar de ser um problema citado pelos produtores e técnicos consultores, os representantes comerciais das empresas que comercializam ração consideram que a ausência de indústrias no Piauí não se mostra um gargalo limitante para o desenvolvimento do setor, uma vez que o material necessitado pode ser importado de outros estados, sobretudo do Ceará, de modo relativamente fácil, porém, com um custo mais alto. A indústria de ração, assim como as empresas que produzem e vendem pós-larvas e probióticos, trabalham com a assistência técnica para os clientes produtores de acordo com demanda informada pela área comercial. Assim, as dúvidas mais básicas sobre a utilização dos insumos nas fazendas podem ser sanadas pelos técnicos das empresas fornecedoras. Entretanto, os fornecedores de insumos não possuem qualquer relação de fidelização com os carcinicultores. Segundo os representantes comerciais entrevistados, os resultados mostrados pelo uso dos produtos fazem com que o produtor continue usando o insumo ao longo do cultivo. Assim, na visão dos vendedores de insumos, a qualidade do produto é o principal fator que leva os carcinicultores a comprar mais vezes o insumo. O seu preço, por sua vez, é o segundo fator de maior relevância na decisão entre a continuidade da compra do produto ou sua substituição por outro no mercado. Os principais insumos utilizados pelos atravessadores de camarão são as caixas de poliestireno, gelo e o metabissulfito de sódio. Todos estes insumos são adquiridos no estado do Ceará, próximos à fazenda onde será efetuada a compra do camarão. Como a quantidade consumida desses insumos é relativamente baixa e não impactam significativamente o custo do serviço do atravessador, estes itens são adquiridos no comércio varejo. O metabissulfito de sódio, conhecido na região como “meta”, é um composto inorgânico cuja função é retardar a atividade oxidante que deixa o camarão com cor escuro (melanose), aspecto desagradável ao consumidor. Sua utilização é no momento do abate do camarão em gelo, logo após a despesca na fazenda. Tanto o metabissulfito de sódio como o gelo utilizado para conservação do camarão são rapidamente consumidos a cada compra de camarão e necessitam ser adquiridos frequentemente. As caixas de poliestireno, por sua vez, também possuem vida útil curta, de poucas semanas, no decorrer da atividade do atravessador. A origem dos principais insumos utilizados pelas peixarias varia conforme o porte do empreendimento. Para a maior parte dos comerciantes, o camarão utilizado como matéria prima para a transformação em outros produtos é oriundo do estado do Ceará. As

peixarias que atuam no atacado adquirem as caixas de poliestireno do estado do Pará ou Ceará, enquanto as pequenas peixarias compram no mercado local. O gelo que é utilizado nas peixarias da região é oriundo do município de Luís Correia. Os sacos e as caixas plásticas são provenientes de Teresina, capital piauiense, do Ceará ou do comercio local.

5.7 A atuação das principais Instituições de Apoio, Controle e Fiscalização

_ Entidades de representação

Entre os elos da cadeia produtiva do camarão de cultivo no Piauí, apenas o setor de produção é representado por entidades de classes que buscam melhorias para a atividade. Os principais órgãos representativos da carcinicultura local são a Associação dos Criadores de Camarão do Piauí (ACCP), a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) e a Associação Nacional da Cadeia Produtiva do Camarão (Camarão BR). A ABCC atua junto aos criadores de camarão divulgando material de apoio, como boletins de balança comercial, revistas, cartilhas, manuais, realizando cursos e buscando apoio político para o desenvolvimento da carcinicultura brasileira. Recentemente, parte dos maiores empreendimentos de carcinicultura no Brasil, incluindo partes dos carcinicultores piauienses, se desassociaram à ABCC e fundaram a associação Camarão BR em busca de maior representatividade política e qualificação dos profissionais do setor. A ACCP, por sua vez, representa os produtores piauienses no Conselho da Área de Proteção Ambiental do Delta de Parnaíba e leva suas demandas às entidades governamentais e políticas em busca de soluções para os problemas dos produtores locais.

_ Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar e a Universidade Federal

do Piauí – UFPI

A Universidade Federal do Piauí - UFPI, por meio do curso de Engenharia de Pesca localizado em Parnaíba, formou profissionais no período de 2011 a 2018 para atuar no mercado e auxiliar o desenvolvimento da carcinicultura brasileira. A partir de 2018, o curso passou a integrar a Universidade Federal do Delta do Parnaíba, desmembrada da UFPI pela Lei nº 13.651, de 11 de abril de 2018. Atualmente, o curso de Engenharia de Pesca na UFDPar tem dado continuidade na formação de mão de obra qualificada para o mercado aquícola, em especial para a carcinicultura brasileira. Para os demais elos da cadeia produtiva, o curso tem feito importantes trabalhos junto aos mercados públicos, criando material de divulgação e cursos de boas práticas de manejo e segurança alimentar aplicado ao pescado.

_ Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária – Embrapa

A Embrapa Meio-Norte, através da Unidade de Execução de Pesquisa de Parnaíba (UEP), atuou junto à carcinicultura na região litorânea piauiense propondo estratégias de manejo em busca da sustentabilidade ambiental da atividade. Neste período, foram realizados projetos de pesquisa relacionados ao diagnóstico de enfermidades em camarões marinhos, estudos sobre a relação entre a incidência de patógenos e as condições ambientais e de manejo de cultivo, projetos de desenvolvimento de estratégias para a formação de plantéis reprodutores de camarões, entre outros. Atualmente, as ações financiadas Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) e Embrapa, incluem a determinação dos fatores de risco relacionados a ocorrência de eventos de mortalidade nas fazendas de camarão no Piauí. O estudo visa identificar quais são as fragilidades de cada propriedade, de forma que possam ser priorizadas ações de boas práticas para minimizar a ocorrência de mortalidade durante o ciclo de produção. As outras atividades, apesar de ocorrerem fora do Piauí, estão dentro do polo produtivo da carcinicultura na região. Também com apoio financeiro do BNDES, SAP e Embrapa, serão realizadas três caravanas tecnológicas abordando problemas comuns na produção de camarão, bem como sugestão de manejo para minimizá-los. As caravanas acontecerão em Acaraú-CE, Morada Nova-CE e Natal-RN. A outra ação é financiada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e consiste na criação de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) em berçário de camarão marinho em sistema de Bioflocos simplificado. Na URT, localizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE de Acaraú, serão treinados alunos, produtores e técnicos, além do contínuo aperfeiçoamento de protocolos na produção de camarão para redução de custo e simplificação de sistemas fechados.

_ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, foi instituído pela lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007, com a finalidade de executar a proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União. Entre as funções do ICMBio, cabe a autarquia federal executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis e o apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas Unidades de Conservação de uso sustentável instituídas pela União. O ICMBio é o principal órgão de controle próximo à carcinicultura piauiense, uma vez que os empreendimentos se encontram em uma unidade de conservação ambiental

(Área de Proteção Ambiental - APA do Delta do Parnaíba). No plano de manejo da APA do Delta do Parnaíba, coordenado pelo ICMBio, a carcinicultura se apresenta como geradora de alguns dos riscos ao ecossistema, como o impedimento de regeneração dos manguezais e o lançamento de efluentes no ambiente. Entretanto, ainda é permitida a instalação de empreendimentos de carcinicultura de média ou grande escala, inclusive com a utilização de espécies exóticas, desde que compatibilizado ao alcance dos objetivos da unidade de conservação e mediante autorização do seu órgão gestor. Além disso, novas autorizações de empreendimentos de carcinicultura em áreas de salgado e apicum também poderão ocorrer, entretanto, somente mediante realização de estudo de ocupação e sua avaliação, não podendo exceder o limite de 35% das áreas dessas feições e conforme previsto na legislação vigente. Para os empreendimentos já existentes e para os novos empreendimentos de carcinicultura na região litorânea piauiense, existe a exigência de previsão de recirculação da água, bacia de sedimentação e tratamento de efluentes.

5.8 Análise sistêmica da cadeia produtiva

_ Perfil Geral da Cadeia produtiva

A síntese da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí (Figura 10) pode ser explicada da seguinte maneira: os carcinicultores adquirem os insumos como: equipamentos, rações, probióticos, fertilizantes e pós-larvas, principalmente das indústrias localizadas no Ceará. Ao término do ciclo de cultivo, o camarão produzido no Piauí é distribuído para outros estados brasileiros e somente uma pequena fração da produção (1%) é repassada para atravessadores que distribuem o produto na região litorânea e no interior do estado. Esta quantidade de camarão é insuficiente para atender a demanda do mercado piauiense. Por isto, para atender o comercio nesta região, os atravessadores buscam o camarão de cultivo proveniente das fazendas localizadas no Ceará, principalmente de Itarema e Acaraú. As peixarias, mercados, bares e restaurantes no Piauí são os principais responsáveis pelo beneficiamento e distribuição do camarão cultivado para os consumidores.

Com relação ao aspecto econômico e social, a carcinicultura no Piauí se destaca na geração de 500 empregos diretos, diversos postos de trabalho distribuídos entre os municípios com fluxos de renda e melhoria da qualidade de vida nas comunidades adjacentes às fazendas de produção, embora, o produto ainda seja destinado a outros estados brasileiros e gerando um gasto energético ao importar camarões do Ceará. Mesmo assim, a passagem do camarão cearense entre os elos da cadeia produtiva piauiense movimenta, direta e indiretamente, a economia de empresas instaladas nos municípios por onde são comercializados os camarões.

Dada a importância do segmento para o comércio local, a evolução da cadeia do camarão de cultivo é de interesse da sociedade piauiense. Em uma análise holística sobre a atividade e produtos que são transferidos a cada elo da cadeia produtiva, percebese a necessidade de melhorias nos serviços prestados e de entrada de novas formas de apresentação do camarão cultivado no mercado. Também é notório o anseio dos comerciantes por um produto de preço estável, seguro para o consumidor e que possa incrementar o fornecimento de alimento seguro para a população. Entretanto, também é clara a oportunidade de entrada de novas empresas no mercado suprindo a carência de serviços e produtos nos segmentos de produção, venda de insumos, beneficiamento, distribuição e venda do camarão.

Figura 10 Fluxo físico de produtos na cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí.

Fonte: elaborada pelo autor.

Para que os empreendimentos atrelados ao setor tenham um maior desenvolvimento, toda a cadeia produtiva deve-se manter fortalecida com políticas voltadas à sua gestão, incentivo à produção, cooperação entre os agentes responsáveis pela distribuição e

comercialização do camarão, com a aproximação e trabalho mútuo entre órgãos ambientais, associações, cooperativas e instituições de pesquisa e extensão, para o desenvolvimento de estratégias que permitam que os objetivos empresariais sejam otimizados. Não há dados pretéritos sobre as características específicas de cada elo da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí, e, por isto, as informações sobre o segmento ainda são dispersas. Segundo os atores atuantes na cadeia, o desempenho do setor recebe grande influência dos agentes de controle e fiscalização, responsáveis pela taxação tributária e fiscalização ambiental. Por outro lado, os agentes não reconhecem os impactos ou vantagens geradas pelos agentes de apoio, como consultores, instituições de pesquisa, associações e fomentadores de crédito. De fato, é perceptível que ainda há pouca infraestrutura e recursos humanos qualificados que ateiam o suporte tecnológico e impactam na qualidade e produtividade dos diferentes atores da cadeia, sobretudo junto aos empreendimentos de pequeno porte como, atores intermediários (atravessadores), no setor de beneficiamento e nos pontos de distribuição (comércio varejo e atacado). Levando em conta a escala de Harland (1996) que caracteriza o desenvolvimento de uma cadeia produtiva, pode-se afirmar que, no Piauí, a cadeia produtiva da carcinicultura se encontra entre um primeiro e o segundo estágio de desenvolvimento, no qual, a maior parte dos atores estão desconectados, com pouco envolvimento em colaboração e agindo como adversários. Entretanto, já foi percebido por alguns empreendedores, sobretudo das peixarias, que a união para a solução de problemas conflituosos pode acarretar benefícios para ambos. Essa falta de organização e maturidade dos segmentos impedem a formação de um Arranjo Produtivo Local, com vínculos de articulação, cooperação e associação que permitam alcançar um aprendizado coletivo, capacidade de inovação e um bom nível de competitividade com empresas de outros estados. Neste ponto, o plano de gestão da cadeia produtiva se faz ainda mais necessário aos pequenos empresários para alavancar o desenvolvimento dos setores relacionados à prestação de serviço e venda do camarão oriundo da carcinicultura no Piauí.

Há uma disparidade entre a carcinicultura e os demais elos da cadeia em relação à organização e o nível de tecnologia empregado. As fazendas de cultivo, em especial as empresas de maior porte que são associadas a grupos de investidores, com filiais fora do estado, se destacam ao exibir elevada tecnologia de produção e melhor perfil organizacional, enquanto as empresas de menor porte na cadeia produtiva, que são a maioria, como os atravessadores, peixarias e vendedores em mercados, ainda não dominam princípios tecnológicos mais simples de serem transferidos, sobretudo, os de biossegurança e princípios de gestão de negócios. As ótimas perspectivas para o desenvolvimento da criação de camarão no Piauí, consenso entre todos os entrevistados neste projeto, reflete o potencial de atração de

investimentos deste setor. Afinal, o Piauí já foi um dos maiores produtores de camarão do Brasil e a retomada do ranking entre os maiores produtores pode ser construída inicialmente pela exploração do próprio mercado interno. Entretanto, para que o aumento do desenvolvimento da atividade se torne ainda maior e ocorra de maneira mais rápida, será preciso a busca pela exportação do camarão, capacitação e contratação de mão de obra qualificada, modernização das estruturas de cultivo, contínua busca por atualização e desenvolvimento da tecnologia de criação do camarão e sua adaptação às condições regionais. O pacote tecnológico tradicional de cultivo do camarão já é conhecido, entretanto, como ocorre nos demais estados brasileiros, as doenças são fatores que exigem atenção. Os produtores do Piauí lidam com importantes patógenos presentes na água do cultivo que causam doenças quando os animais são submetidos ao estresse demasiado. O vírus da Mancha Branca “White Spot Syndrome” (WSS) que acomete os animais principalmente quando a temperatura da água é reduzida, deixou de ser o principal patógeno da carcinicultura brasileira. Por outro lado, o Vírus da Mionecrose Infecciosa “Myonecrosis Infectious Virus” (IMNV), antigamente conhecido como agente causador da Necrose Idiopática Muscular (NIM), se mostra como principal agente patogênico da carcinicultura regional, principalmente quando a temperatura da água se eleva e quando se associa aos vibrios. A carência de protocolos específicos para lidar com os patógenos e a ausência de técnicos e funcionários qualificados, principalmente nas menores fazendas de produção, elevam o risco de desenvolvimento de enfermidades no cultivo do camarão. Neste caso, a redução da densidade de estocagem é o manejo profilático mais básico, de baixo custo e correto a ser tomado pelo setor. Entretanto, o aumento da densidade de estocagem dos camarões é possível, mas somente com mão de obra qualificada para tal e com larvas com material genético superior, o que não é uma realidade ainda da carcinicultura piauiense. Neste sentido, as importações de larvas do Equador ou dos Estados Unidos, vista pelo setor produtivo como larvas de genética superior por terem melhor desempenho produtivo e serem resistentes ao vírus da Macha Branca, podem ser uma alternativa para o futuro da carcinicultura, mas deve ser avaliada com cautela, pois, podem trazer consigo outros patógenos não relatados no Brasil, além de novas variantes resistentes dos vírus já existentes.

_ Análise das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí

a) Forças

_ Contínuo crescimento da carcinicultura: A melhoria das técnicas de cultivo, o surgimento de novos produtos, o crescimento populacional e a demanda por

alimento fizeram com que a carcinicultura expandisse as atividades nos anos que antecederam à pandemia. Recentemente, mesmo no período de pandemia, os empreendimentos que atuam com o camarão mantiveram os postos de empregos e buscaram rotas alternativas para aquisição de insumos, escoamento dos produtos e estratégias que promovessem a sustentabilidade da atividade. Para os próximos anos, há uma ótima perspectiva para que o mercado continue aquecido e retorne o ritmo de expansão, assegurando aos empreendedores a oportunidade de crescimento no setor.

_ Fonte de renda para os atores: A carcinicultura no Piauí se destaca na geração de postos de trabalho, fluxos de renda e melhoria da qualidade de vida nas comunidades adjacentes às fazendas de cultivo. A passagem do camarão entre os elos da cadeia produtiva piauiense movimenta, direta e indiretamente, a economia de empresas instaladas nos municípios piauienses por onde são comercializados o camarão.

_ Viabilidade das atividades em torno do camarão: O camarão marinho é um alimento nobre, de alto valor agregado, que mostra excelente lucratividade para todos os atores envolvidos em sua comercialização na cadeia produtiva. As condições ambientais no Piauí são ideais para o rápido crescimento da espécie cultivada e a tecnologia de produção é dominada pela maior parte dos produtores, permitindo menores riscos e maximizando o desempenho zootécnico do animal. Destaca-se que o setor de produção do camarão marinho é uma das atividades mais lucrativas em meio a aquicultura. No comércio local, a espécie possui excelente aceitação de mercado consumidor e alto valor comercial para as diferentes formas de apresentação do produto. _ Motivação dos agentes: Entre os entrevistados, a maior parte dos produtores, técnicos consultores, atravessadores e comerciantes que fazem a distribuição do camarão ao consumidor se mostraram motivados a expandir suas atividades comerciais no setor.

b) Fraquezas

_ Problemas com a energia elétrica: O elevado custo e a instabilidade com a energia elétrica afeta todos os elos da cadeia produtiva do camarão na região, desde o produtor até os restaurantes. O custo da energia elétrica para armazenamento do pescado, incluindo o camarão, principalmente nas peixarias de menor porte, é um dos responsáveis pela redução do lucro do comerciante e um dos principais fatores levados em conta na hora de expandir a atividade.

_ Dependência dos atravessadores: Os comerciantes na região não têm acesso às fazendas de produção no Piauí. Este problema impacta, principalmente, as pequenas peixarias que tem dificuldade na aquisição e negociação para compra de camarão que só chega através dos atravessadores que o buscam no Ceará _ Falta de diálogo entre os atores da cadeia produtiva: O diálogo entre os atores da cadeia produtiva em prol do compartilhamento de dificuldades e tecnologias poderia reduzir as diferenças e assimetrias do setor e tornar o segmento mais competitivo, aumentando os benefícios e oportunidades para os comerciantes.

_ Dificuldades técnicas e econômicas para aquisição e implantação de tecnologias

entre os elos da cadeia produtiva: A necessidade de adaptação e incremento tecnológico é imprescindível para elevar ou manter os ganhos econômicos nos setores que atuam na venda de alimento. Porém, parte dos comerciantes da região não tem conhecimento sobre quais órgãos deve recorrer para conseguir tal tecnologia. Os comerciantes também desconhecem linhas de crédito para aquisição de equipamentos, câmaras frigoríficas ou reforma das suas estruturas.

_ Falta de unidades de beneficiamento na região: A ausência de uma unidade de beneficiamento que atenda a carcinicultura limita as formas de apresentação do produto aos comerciantes e torna o setor piauiense menos competitivo com os produtos importados de outros estados ou oriundos da pesca. _ Falta de estímulo ao consumo do camarão: O incentivo ao consumo do camarão no Piauí é um dos fatores que poderia favorecer o aumento da demanda regional, estimularia o desenvolvimento de todos os elos da cadeia produtiva e poderia resultar na abertura das fazendas para atender o comércio local piauiense. Neste sentido, com a compra do camarão produzido nas fazendas locais, os custos com consumo de combustível, manutenção de veículos, caixas de estocagem e gelo, impostos interestaduais e diárias dos atravessadores que buscam o camarão no Ceará seriam reduzidos e assim, o camarão poderia ser repassado por um menor preço ao consumidor piauiense.

c) Oportunidades

_ Apoio técnico das instituições na região: Na região litorânea, principalmente em torno de Parnaíba, os segmentos da cadeia produtiva do camarão podem contar com o apoio de diversas instituições de pesquisa e extensão que fomentam assistência técnica com qualidade e frequência, sobretudo, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE e o Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Delta do Parnaíba - UFDPar.

_ Construção de alianças estratégicas: O fortalecimento de alianças entre os setores com ligações operacionais próximas pode gerar a oportunidade de aprendizagem entre parceiros do negócio e remediar problemas operacionais a médio e longo prazo. Por exemplo, a aliança entre produtores pode minimizar as dificuldades na logística de realização de análises de qualidade de água e solo. Da mesma forma, a aliança entre pequenas peixarias pode favorecer a obtenção de recursos complementares e insumos, aumentando a competitividade no mercado. _ Abertura para novas empresas no mercado: As principais dificuldades apontadas pelos agentes na cadeia produtiva são oportunidades para novas empresas piauienses entrarem no mercado. Neste sentido, destacam-se a oportunidade para pequenas unidades de produção de camarão instaladas próximo aos centros de consumo, laboratórios de sanidade e qualidade de água, unidades de beneficiamento, fábricas de gelo, empresas de consultorias, cooperativas, unidades de instalação de energias fotovoltaicas, etc. Apesar dos 66km de litoral, o Piauí possui capacidade de expansão em áreas de produção tanto no litoral como em direção ao interior do estado. O cultivo de camarão marinho em águas-interiores é uma realidade e diversos exemplos são encontrados no Ceará, como nos municípios de Jaguaruana, Morada Nova, Iguatu, Russas, Itaiçaba e Juazeiro.

d) Ameaças

_ Aquisição de insumos para outros estados: Alguns elos da cadeia produtiva são dependentes ou situados em outros estados brasileiros, sobretudo, do Ceará. A dependência de insumos de outros estados eleva o risco de uma demanda imediata e inesperada não ser atendida. Além disso, os insumos comprados levam tempo para a chegada, exigem maior custeio com frete ou com deslocamento para busca em outras regiões. _ Competitividade de produtores cearenses: O setor de produção do camarão no Piauí deixa uma lacuna para as empresas cearenses fornecerem o camarão na região e dominar o mercado. Neste ponto, grandes empresas podem sufocar pequenos empreendimentos e repreenderem iniciativas regionais. _ Ausência do plano de gestão da cadeia produtiva da carcinicultura: A ausência do ordenamento na atividade manteria o cenário atual da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí.

_ A não sensibilização dos atores: A desconfiança dos atores da cadeia produtiva quanto ao propósito da organização em busca de melhoria nos produtos e serviços prestados ameaça o maior desenvolvimento da atividade.

A Figura 11 apresenta um quadro com a análise das principais Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí.

Figura 11 Principais Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças da cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí.

Fonte: elaborada pelo autor.

5.9 Demandas e sugestões para auxiliar o desenvolvimento do setor

Recomenda-se as seguintes medidas de apoio ao desenvolvimento da carcinicultura no litoral do Piauí:

_ Capacitação técnica voltada ao cultivo de camarão em águas interiores: A implantação de unidades demonstrativas de cultivos de camarão L. vannamei utilizando águas oligohalinas, tanques suspensos e em pequenas áreas interiores pode estimular os investidores a entrar na cadeia produtiva e atender o mercado local. Acompanhado das unidades demonstrativas, é importante haver capacitação tecnológica para o cultivo e gestão e conscientização da importância do técnico capacitado no empreendimento e dos impactos ambientais do cultivo.

_ Incentivos à pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento tecnológico:

É importante que haja pesquisas em prol do desenvolvimento do pacote tecnológico do cultivo do camarão com foco em problemas de aspectos regionais, especificamente, dos estudos de viabilidade técnica e econômica de policultivos para comunidades locais, melhoramento genético das pós-larvas existentes, identificação e rastreamento de patógenos, elaboração e seleção de probióticos autóctones da região litorânea piauiense, aperfeiçoamento de programas

nutricionais e desenvolvimentos de material e equipamentos para o cultivo do camarão.

_ Apoio à articulação dos grupos e entidades representativas dos elos da cadeia

produtiva da carcinicultura: Por fim, a articulação entre os grupos favorece o fortalecimento dos setores frente à concorrentes de outros estados. Além disso, é importante agrupar os diferentes atores da cadeia produtiva para promoção de oficinas e solução de problemas em comum.

6 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PISCICULTURA

6.1 Caracterização das fazendas

A piscicultura na região litorânea piauiense é caracterizada por dois tipos de unidades produtivas. O primeiro tipo é representado por fazendas relativamente pequenas, menores que 20 ha, que comercializam os peixes no mercado local. O segundo tipo é caracterizado por pequenas unidades de produção familiar voltadas à subsistência e com venda do excedente produtivo para vizinhos. Em ambos os casos, a piscicultura na região atende somente a uma parte da demanda local por peixes de cultivo. A outra parte é atendida por piscicultores provenientes do Ceará, Minas Gerais, Bahia ou sul do Piauí que abastecem as maiores peixarias da região litorânea piauiense com os peixes de criatórios. Na região, a piscicultura é exercida com diferentes estruturas, métodos e sistemas de cultivo. Entretanto, ainda apresenta baixo nível tecnológico e predomínio do uso dos viveiros semi-escavados com monoculturas em sistema semi-intensivo e com pouca renovação de água. Apesar de se mostrarem em menor número, também são encontrados produtores de peixes em sistemas extensivos, semi-intensivos ou intensivos em tanques suspensos, com policultivos, sistemas de recirculação de água (RAS) e sistemas abertos sem renovação de água. Enquanto o município de Cajueiro da Praia se destaca na região através da carcinicultura, a piscicultura se concentra apenas nos municípios de Ilha Grande, Parnaíba e Luís Correia. O censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nestes municípios é a única fonte de dados pretéritos sobre a produção aquícola regional (Tabela 2). Entretanto, os dados mostrados pela Produção Agrícola Municipal divulgados pelo IBGE (2020) divergem das informações encontradas nesta pesquisa, sobretudo a respeito das espécies mais produzidas.

Tabela 2 Produção da piscicultura na região litorânea piauiense no ano de 2020.

Fonte: IBGE (2020).

Nesta pesquisa, foi possível identificar como as principais espécies cultivadas na região, a tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus), o tambaqui (Colossoma macropomum), tambatinga (Colossoma macropomum x Piaractus brachypomus), piau (Leporinus sp.) e panga (Pangasius hypophthalmus). Entre estas espécies, a tilápia-do-Nilo se destaca como o peixe mais produzido em qualquer um dos sistemas de cultivo utilizados na região. A produção de peixes na região pode ser dividida em duas fases, a larvicultura, setor da piscicultura destinada à reprodução dos peixes e ao cultivo das larvas até o tamanho de venda quando os animais passam a ser conhecidos como alevinos, e a engorda ou fase de crescimento final, que consiste no cultivo de alevinos até o tamanho comercial para venda como animais de corte. A venda de alevinos é feita em lotes de mil animais, conhecidos como milheiros. Na região o milheiro de alevinos de tilápia com 1g custa R$150,00, a tilápia com 30g custa R$250,00, o milheiro de panga custa R$230,00, de piau R$300,00, tambaqui e tambatinga R$200,00. A disponibilidade de alevinos das espécies tradicionalmente cultivadas no litoral piauiense não é um entrave para os produtores, pois, este insumo pode ser adquirido de municípios próximos em quantidade e frequência que atenda a piscicultura na região. Os alevinos de piau são provenientes de Teresina-PI, os alevinos de panga são adquiridos do município de Madeiro-PI, os alevinos de tambaqui e tambatinga são oriundos de Buriti dos Lopes-PI e os alevinos de tilápias-do-Nilo são provenientes de Amontada-CE, Parnaíba e Buriti dos Lopes. Os viveiros semi-escavados utilizados para piscicultura são presentes nos pequenos produtores e nas maiores fazendas da região. Em ambos os casos, os viveiros são abastecidos com água dos rios ou poços artesianos e atendem ao cultivo das tilápias, piaus, tambaquis, tambatingas e pangas, desde a fase de berçário, engorda até a reprodução.

No caso dos pequenos produtores que cultivam os peixes para própria alimentação e venda do excedente, os viveiros são construídos de forma manual, sem critérios técnicos ou planejamento, com falhas de inclinação do fundo e dos taludes, nos sistemas de drenagem e captação, reduzindo a eficiência da renovação de água e favorecendo o acúmulo de resíduos orgânicos no fundo. Além disso, nestes viveiros, é comum a redução do nível de água devido à evaporação e infiltração no solo no período de estiagem, principalmente entre os meses de julho a novembro, quando os poços rasos também se mostram com baixo nível de água e inviabilizam o abastecimento e renovação de água. Os tanques suspensos na região são utilizados para os cultivos de pangas, tilápias e tambatingas. Estes tanques são construídos de ferrocimento ou pedras com dimensão e formato variáveis conforme à necessidade e recursos disponíveis do produtor, entretanto, é comum sua construção em formato circular e retangular, com profundidades de 0,7cm a 1,5m e variando entre 6 a 50m³ de volume útil.

Pode-se destacar o uso dos tanques suspensos na única piscicultura fornecedora de alevinos de tilápia-do-Nilo na região, localizada em Parnaíba. Neste empreendimento, os tanques suspensos são construídos de alvenaria e ferrocimento e têm por objetivo promover o crescimento dos alevinos de tilápia para revenda aos produtores da região. Esta piscicultura compra os alevinos com 1g do município de Amontada, no Ceará, cultivam os animais até 3 a 20g e os revendem aos produtores piauienses. A fazenda tem capacidade de produção de 50 mil alevinos ao mês e conta com 30 tanques de 10m³ dotados de sistema de aeração com compressores radiais e mangueiras microporosas. Os produtores que os utilizam tanques suspensos para cultivo familiar de subsistência, praticam o monocultivo em sistema monofásico, sem monitoramento do crescimento dos animais ou da qualidade da água, com baixa densidade de estocagem (até 4 kg/m³) e com pouca renovação de água. Os peixes são alimentados com ração comercial adquirida em pequenas quantidades no comercio local e com a taxa de arraçoamento aquém do recomendado pelos fabricantes. A oxigenação da água e sua filtragem biológica é feita com bombas submersas no modelo do “Sisteminha Embrapa”. Os peixes são despescados para consumo a partir de 400g por volta do quarto mês de criação. Na região, o cultivo de peixes em tanques-rede é exercido apenas na Lagoa da Prata, zona rural do município de Parnaíba. Nesta localidade, há uma piscicultura particular composta por 12 tanques e uma unidade de produção composta por 38 tanques de responsabilidade da Associação dos Piscicultores Familiares de Parnaíba. A associação foi iniciada com 10 famílias de pescadores e chegou a ser integrada por 40 famílias que se alternavam na manutenção do cultivo. Entretanto, atualmente, apenas 4 famílias participam da associação se dedicando à produção de peixes nos tanques-rede e fazendo desta atividade sua única fonte de renda.

Os tanques redes instalados na Lagoa da Prata possuem 7,2m³ (2m x 2m x 1,8m) e a tilápia-do-Nilo é a única espécie produzida. O cultivo utilizado é bifásico com biometrias periódicas. Inicialmente são estocados 1000 a 2000 mil alevinos em um tanque-rede e posteriormente são classificados quanto ao tamanho e o lote repicado em outros tanques. A densidade final de estocagem é de 300 kg/m³ e o ciclo de produção dura em média seis meses até que o animal atinja o peso entre 600 e 800g. Parte dos peixes produzidos nos tanques-redes são vendidos nos mercados públicos de Parnaíba enquanto outra parte é vendida à moradores locais que compram o peixe fresco, despescado no momento da venda. De acordo com os produtores, o uso dos tanque-redes tem como principais vantagens a utilização de água de boa qualidade diretamente da lagoa, sem implicar em desmatamento e custos com construção e movimentação de terra. Além disso, os produtores reconhecem a facilidade de manejo (povoamento, biometria, classificação e despesca) e a possibilidade de produção durante o ano inteiro no sistema utilizado. Por outro lado, os produtores também relatam algumas dificuldades inerentes à região, como a total dependência de ração e a dificuldade em sua aquisição, as variações no volume da água ao longo do ano e a dificuldade de acesso ao crédito ou oportunidade de crédito disponível, mas com valor incompatível à necessidade da piscicultura. Para os piscicultores que praticam a atividade como uma fonte de renda, a piscicultura já teve um panorama melhor há poucos anos atrás quando o peixe produzido era mais valorizado, a produção era maior e a saída do produto no mercado era mais fácil. Ainda segundo os produtores, atualmente, a atividade se mostra em leve crescimento apesar de haver certa dificuldade para escoamento da produção na região. Apesar disto, os produtores têm uma expectativa de continuar na atividade e expansão da área de produção. Para os produtores que visam a subsistência, a piscicultura é a esperança da garantia de alimento seguro e da soberania alimentar da família. Embora, este perfil de produtor confesse não ter controle de custos da produção e se continuará na atividade em caso de insucesso no atual ciclo. Os piscicultores na região litorânea não possuem vínculos de contratos, parcerias ou outro método de cooperação com fornecedores de insumos ou mesmo com clientes. Além disso, os piscicultores não convergem em busca de soluções para seus problemas em comum como a compra coletiva de ração, união para venda e fortalecimento perante a concorrência, busca por unidades de beneficiamento, linhas de crédito, contratação de consultorias, etc. Como consequência, há o isolamento do produtor e a dificuldade no desenvolvimento da atividade.

A ração impacta cerca de 60 a 70% do custo de produção na piscicultura em sistema semi-intensivo e intensivo, impacta no desenvolvimento direto dos animais de cultivo e na qualidade da água do cultivo. Por isto, a ração é o principal insumo adquirido nas fazendas. Enquanto os maiores empreendimentos adquirem carradas fechadas de ração diretamente dos distribuidores em Teresina-PI ou do Ceará, os pequenos produtores

compram ração à granel no comercio local, com custo alto e qualidade duvidosa devido à forma de armazenamento do produto no comércio. Estes produtores fornecem alimento em quantidade inferiores ao recomendado pelos fabricantes por questões financeiras, atrasando o crescimento dos peixes e o tempo do ciclo de produção. Após a despesca, a única forma de venda dos peixes cultivados nas peixarias e mercados na região é inteiro, fresco, ainda com vísceras e escamas. Os produtores se encarregam da entrega dos produtos nos estabelecimentos e os comerciantes fazem o processamento do peixe e venda ao cliente. Entre os principais problemas impactam no desenvolvimento da atividade na região destacam-se a dificuldade financeira dos produtores na aquisição da ração, equipamentos e serviços para a piscicultura, o alto preço da energia elétrica, a carência de estruturas para beneficiamento e processamento do pescado que facilitaria a obtenção de um selo de inspeção para os produtos regionais. De acordo com os produtores, as principais formas de ajuda do governo ou instituições públicas ao setor, na visão dos produtores, são relacionadas a abertura de linhas de crédito, redução de impostos e subsidio para compra de ração, estimulo ao consumo e divulgação do produto local, aumento e divulgação das pesquisas referentes à tendências e novas oportunidades para os empreendimentos na cadeia produtiva, oferta de cursos e assistência técnica para produtores.

6.2 A visão dos Técnicos Consultores

Assim como ocorre na cadeia produtiva da carcinicultura no Piauí, as fazendas de produção de peixes se constituem o único elo da cadeia produtiva que tem a opção de contratar serviços de consultoria na região para a resolução de problemas internos. Entretanto, como a maior parte das pisciculturas são pequenas unidades de produção, o trabalho de consultoria é ainda mais restrito, abrangendo as poucas fazendas com maior capacidade produtiva. Deste elo da cadeia produtiva, foram entrevistados técnicos-consultores que possuíam graduação em Engenharia de Pesca ou Engenharia de Aquicultura, tinham entre 29 e 42 anos de idade, possuíam uma renda mensal de R$ 600,00 a R$ 6.000,00 e apresentavam entre 1,5 e 15 anos de experiência no mercado de consultoria para piscicultura na região litorânea piauiense. Sobre o setor produtivo, é unânime entre os consultores entrevistados que a piscicultura na região litorânea piauiense tem potencial de expansão, principalmente pelas vantagens regionais para exercer a atividade como por exemplo, as diversas áreas

adequadas ao cultivo de peixes que ainda não foram exploradas, a proximidade a centros urbanos e mercados consumidores, o hábito regional de consumo de pescado, as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de espécies tropicais, a disponibilidade de mão de obra qualificada e de água com qualidade adequada para o cultivo extensivo, semi-intensivo e intensivo, principalmente entre as regiões de Ilha Grande, Parnaíba e Luís Correia. Apesar do potencial regional, 82,5% dos consultores entendem que o setor precisa de estímulo tanto para o aumento do consumo do peixe produzido como para que haja a expansão mais rápida da atividade. Neste sentido, o crescimento da piscicultura piauiense, na visão dos entrevistados, pode ser em expansão de área das fazendas existentes, aumento do número de fazendas na região ou mesmo da intensificação da produção, desde que não atinja um nível superintensivo, mas, ao mesmo tempo, é preciso que haja aumento do poder consumo da população e estratégia de divulgação do peixe como um produto regional e propagandas para estímulo ao consumo do pescado. Sobre as relações de cooperação, associação ou comunicação em prol de ajuda mutua entre os piscicultores para resolução de problemas em comum, os consultores afirmam estes vínculos de ajuda no setor de produção são inexistentes. Também não existe vínculo de ajuda entre os próprios consultores e nem entre os consultores e os donos dos empreendimentos. Ainda de acordo com os entrevistados, os piscicultores, principalmente os produtores familiares, buscam ajuda em redes-sociais. Como motivos para a falta de cooperação neste setor da cadeia produtiva, 65,7% dos entrevistados relatam que os pequenos produtores, principalmente os que produzem peixes para subsistência, acreditam não possuir condições financeiras para a contratação de serviços de consultoria, independentemente do problema. Além disso, 88% dos consultores relatou que estes produtores têm pouca confiança nos órgãos públicos ou desconhecimento de onde pedir ajuda. Para os maiores piscicultores, a noção de competição entre os produtores foi o fator mais citado pelos técnicos (67%) como o motivo pelo qual os piscicultores não se ajudam. A ideia de que os problemas que ocorrem nas pisciculturas como, mortalidade, doenças ou falta de crescimento dos peixes, são condições normais e intrínseca à piscicultura, foram citadas por 62% dos consultores. Quanto aos principais problemas da piscicultura na região litorânea piauiense, os consultores entrevistados citaram:

_ Pouca variedade de espécies produzidas. Somente a tilápia-do-Nilo, o tambaqui e o panga são espécies cultivadas que são distribuídas no comercio local. _ A falta de divulgação do peixe local para o mercado consumidor: Segundo os entrevistados, o incentivo ao consumo do peixe de cultivo, produzido na região, auxiliaria no escoamento da produção das fazendas.

_ Falta de unidades de beneficiamento: A falta de unidade de beneficiamento limita a disponibilidade de novas formas de apresentação do peixe no comércio local. Neste ponto, é importante ressaltar que as maiores peixarias da região já adquirem peixes de cultivo provenientes do Ceará, Bahia ou produzidos na Barragem de Boa Esperança, no sul do Piauí, que já chegam aos estabelecimentos frescos e eviscerados. Enquanto isto, os produtores da região vendem o peixe produzido ainda com vísceras. _ As doenças: Segundo todos os entrevistados, o compartilhamento de informações em mídias sociais sobre a Doença de Haff e da ocorrência de peixes com metacercárias nos olhos, juntamente com a falta de esclarecimento dos produtores, comerciantes e do mercado consumidor, se constituíram os principais entraves para a piscicultura regional no ano de 2021, principalmente para a produção do tambaqui. _ Inviabilização do serviço de assistência técnica: Os pequenos produtores possuem demandas que, por questões financeiras, não podem ser atendidas pelos técnicos consultores.

_ Ausência de evolução no processo tecnológico: Na visão dos consultores, a baixa tecnologia de produção dos empreendimentos ainda é um problema que precisa ser solucionado para

6.3 Setor de Distribuição e Processamento

Os peixes cultivados são distribuídos diariamente pelos próprios produtores nos supermercados, peixarias e em feiras livres. Assim, a função do atravessador, tão importante na carcinicultura, impacta pouco a cadeia produtiva da piscicultura na região litorânea piauiense. Para a análise deste setor é preciso destacar que, apesar de haver um habito regional em consumo de peixes, a proximidade com os rios, estuários e o oceano, a presença de entrepostos pesqueiros e vilas de pescadores na região, proporcionam uma grande variedade e quantidade de peixes oriundos da pesca extrativa marinha e continental nos estabelecimentos de distribuição de pescado. Assim, os peixes cultivados na região concorrem com dezenas de outras espécies pela atenção do consumidor.

_ Venda dos peixes nos supermercados

A maior parte dos supermercados da região trabalha apenas com o peixe industrializado congelado, já embalado sob diferentes tamanhos e formas de apresentação,

oriundos de indústrias situadas em outros estados (SC, RN, CE, PE, PR), neste caso, o representante do supermercado negocia a compra do pescado diretamente com o fornecedor e a logística de transporte e distribuição é toda feita pelas empresas que vendem os produtos. Segundo o representante de um dos supermercados, o estabelecimento comercializa cerca de 5.000 kg de palombeta congelada por mês, sendo esse um dos principais peixes comercializado na região. Apenas um supermercado de Parnaíba trabalha com o peixe fresco (Figura 12), provenientes das pisciculturas da região. De acordo o representante deste supermercado, diariamente são comercializados 500 kg de tilápias. Nos outros supermercados foi relatado que a falta de licenciamento, fiscalização e de selos de inspeção dos fornecedores impedem a compra dos peixes dos produtores regionais.

Figura 12 Peixes frescos (tilápia, tambaqui e panga) oriundos da aquicultura sendo comercializados em um supermercado em Parnaíba, Piauí.

Segundo os representantes dos demais supermercados de Parnaíba, os fatores que dificultam a comercialização dos peixes de cultivo produzidos na região são relacionados à dificuldade com a logística e distribuição do pescado fresco, a baixa demanda do produto pelos consumidores no estabelecimento, uma vez que os clientes que frequentam o supermercado não tem o intuito de comprar exclusivamente peixes, a dificuldade de adequação do produto às exigências da empresa, a mão de obra qualificada para trabalhar com o pescado fresco no interior do supermercado. Todos os representantes dos supermercados afirmaram que são preocupados com a origem do produto, mas não pensam em investir ainda mais na venda de pescado porque o lucro não é alto e entendem que é mais fácil e acessível para o cliente ir comprar o peixe fresco nas feiras livres, onde tradicionalmente são comercializados.

_ Venda dos peixes nas peixarias

Nas peixarias, apenas 1/4 do total de peixes comercializados são oriundos da piscicultura e a venda, atualmente, se restringe à tilápia-do-Nilo. O tambaqui e a tambatinga tiveram suas vendas cessadas em 2021 por conta da divulgação da doença da urina preta (doença de Haff). O piau, como já dito, tem sua venda inteiramente para o Maranhão enquanto o panga, que já teve maior venda nas peixarias, é atualmente comercializado em maiores quantidades nas feiras livres dos mercados municipais. Cerca de 22 toneladas de tilápias-do-Nilo vendidas mensalmente na maior parte das peixarias de Parnaíba são provenientes de cultivos em tanque-redes fora da região litorânea. Estes peixes são produzidos no açude Castanhão no estado do Ceará, na barragem de Paulo Afonso, na Bahia e do município de Guadalupe localizado às margens da barragem de Boa esperança, no sul do Piauí. Os comerciantes adquirem estes animais frescos e já eviscerados, por um preço que varia conforme o tamanho do animal, mas, muitas vezes, semelhante ou mais alto quando comparado ao preço da tilápia produzida na região. Segundos os comerciantes entrevistados que adquirem estes produtos, a preferência pelo peixe fora da região litorânea, mesmo chegando a ser mais caros que o produto local, é devido à comodidade de receber o pescado sem vísceras, pelo compromisso informal do fornecimento constante e na quantidade exigida semanalmente. Ainda segundo os proprietários de peixarias, os clientes, mesmo sem saber a procedência dos animais, mostram preferência pelas tilápias quando são cultivadas em tanques-rede devido ao aspecto físico atrativo do produto, tamanho maior, coloração mais clara e sabor agradável. Os produtores locais abastecem as peixarias diariamente no início da manhã. Os peixes são transportados, muitas vezes sem gelo, dentro de caixas plásticas ou caixas de

poliestireno dispostas nas carrocerias de carros e cobertos com lona plástica. Nas peixarias, os peixes são imediatamente refrigerados ou dispostos sobre uma mesa para a escolha dos compradores. No momento da compra, o peixe é descamado, eviscerado, pesado e repassado ao cliente. Para as peixarias, o preço de aquisição do panga, tambatinga e tambaqui gira em torno de R$12,00 o kg. A tilápia-do-Nilo eviscerada, provenientes de outras regiões, custa para a peixaria R$12,00 o peixe de 1kg, R$12,50 quando o peixe tem peso entre 1,2 a 1,5kg e R$13,00 quando o peixe tem peso superior a 1,5 kg. Os produtores regionais vendem a tilápia fresca, porém ainda com vísceras para as peixarias, por R$10,00 com peso médio entre 700 a 1,0kg. As pequenas peixarias compram também a tilápia de 300 a 500g por R$8,00 para revenda. Para os clientes, a tilápia é repassada por valores entre R$15,00 a R$16,00 o kg nas peixarias, independentemente do tamanho ou peso do animal. O tambaqui e o panga também são vendidos ao consumidor por R$15,00. Entretanto, segundo os comerciantes, diferentemente da tilápia-do-Nilo que tem demanda e oferta constante na região, o panga e o tambaqui são produtos com menor saída de mercado e susceptíveis a carência de oferta. Entre os principais problemas citados pelos proprietários das peixarias, ressaltase a alta taxa de inadimplência dos clientes, a carência de gelo em torno do município de Parnaíba, os impostos que incidem sobre os produtos e acabam elevando o preço do frete dos insumos, a crise econômica vivenciada no Brasil, o estado de Pandemia, as doenças de Haff e a ocorrência surtos de vermes nos olhos dos peixes. Como particularidade, as peixarias de menor porte consideram também como um problema que impede o crescimento da atividade o alto custo com a energia elétrica para manter em funcionamento os refrigerados. Este problema não afeta as maiores peixarias que que usam câmaras frigoríficas com painéis de energia fotovoltaica.

_ Venda dos peixes nas feiras livres

Os mercados públicos, recebem tanto os peixes oriundos da pesca como da piscicultura. Diferentemente das peixarias, os peixes de criatórios são fornecidos exclusivamente pelos produtores regionais. Neste caso, a tilápia-do-Nilo, o tambaqui e o panga são entregues também no início da manhã pelos proprietários das pisciculturas e dispostos sobre bancadas, sem refrigeração, para a venda aos clientes (Figura 13). O preço repassado da tilápia-do-Nilo pelos produtores regionais aos comerciantes do mercado é semelhante ao repassado às peixarias. Entretanto, o preço de venda do mercado para os consumidores varia entre R$12,00 a R$16,00 o kg, o tambaqui e tambatinga

são vendidos a R$15,00 e o panga inteiro custa R$15,00, cortado em postas, é vendido a R$18,00 o kg.

Figura 13 Peixes frescos (tilápia, tambaqui e panga) oriundos da aquicultura sendo comercializados em um mercado público (feira livre) em Parnaíba, Piauí.

Fonte: o autor.

_ Problemas do setor

O aumento de vendas nos peixes cultivados pode ocorrer se os seguintes problemas forem solucionados ou atenuados.

_ Doença de Haff: A divulgação da doença de Haff juntamente com vídeos de parasitos nos olhos de peixes capturados na região reduziu 70% das vendas de peixes no período de junho a setembro de 2021. Para algumas espécies, como o tambaqui, a venda foi completamente interrompida neste período. Atualmente, o setor ainda se recupera destes problemas e observa ainda uma redução de 25% nas vendas em comparação ao período anterior a divulgação das doenças.

_ Energia elétrica: O alto custo da energia elétrica necessário para o funcionamento de refrigeradores é um problema que afeta as peixarias de pequeno porte. No caso das peixarias de maior porte, os empresários investiram em painéis de geração de energia fotovoltaica como solução para este problema.

_ Falta de divulgação e novas formas de apresentação dos peixes ao consumidor:

O estímulo ao consumo dos peixes produzidos na região fortaleceria os pequenos produtores, o setor de distribuição e processamento e o comercio de insumos. Os demais problemas relatados pelas peixarias são relacionados aos incentivos fiscais, a inadimplência dos clientes, a falta de gelo no comercio local, a crise econômica proporcionada pela pandemia do COVID-19 e o baixo poder aquisitivo da população que impede o maior consumo de pescado com maior valor comercial.

6.4 Perfil dos consumidores

Os consumidores de peixes entrevistados tinham entre 20 e 60 anos de idade, 56,25% se declararam homens e 43,75% eram mulheres. A renda mensal de 50% deles era de até um salário mínimo enquanto 43,5% tinham a renda entre 2 e 4 salários mínimos e 6% tinham renda mensal superior a 4 salários mínimos. Apenas 3,1% dos entrevistados tinham ensino fundamental incompleto, 6,2% possuíam ensino médio incompleto, 21,8% tinham ensino médio completo, 28,1% tinham ensino superior completo e 40,6% tinham ensino superior incompleto. Um total de 59% dos entrevistados consome peixes oriundos da aquicultura pelo menos uma vez ao mês (Figura 14), enquanto 31,8% consomem os peixes pelo menos uma vez por semana e 9% dos entrevistados não consomem peixes de água doce.

Figura 14 Frequência relativa de consumo de peixes de cultivo por moradores da região litorânea piauiense.

Fonte: elaborada pelo autor.

Os entrevistados foram questionados sobre quais fatores determinam a frequência do consumo de peixes de criatórios. Para 34% dos entrevistados, se o preço do peixe fosse menor, seu consumo seria mais frequente. Neste quesito, tanto os entrevistados que consomem os peixes uma vez por mês, como aqueles que consomem uma vez na semana, citaram o valor do peixe como um fator que interfere na frequência e a quantidade de peixes consumidos. Para 52% dos entrevistados, o produto já possui um valor acessível no mercado (Figura 15).

Figura 15 Percepção dos consumidores de peixes de cultivo quanto ao preço de comercialização na região litorânea piauiense.

Fonte: elaborada pelo autor.

Os fatores citados pelos entrevistados que estimulam o consumo dos peixes de maneira geral são relacionados à praticidade do preparo, a busca por um alimento saudável e a necessidade de uma fonte de proteína animal alternativa às carnes vermelhas. Por outro lado, as questões culturais, a maior saciedade que as carnes vermelhas proporcionam e à grande disponibilidade de peixes marinhos na região são questões que desestimulam o consumo dos peixes de cultivo. Quando indagados sobre a importância com a origem do peixe adquirido, 75% dos entrevistados se mostraram preocupados com as questões de higiene no armazenamento e processamento do pescado. Nenhum entrevistado citou preocupação com a forma ou sistema de criação dos peixes. Além disso, 46,8% dos consumidores citaram a Doença de Haff (doença da urina preta) como um fator que influenciou a decisão de compra de peixes de cultivos no ano de 2021.

Por fim, os entrevistados foram questionados sobre quais medidas poderiam estimular o consumo de peixes de cultivo na região. Neste ponto, 43,7% dos entrevistados acreditam que o estímulo ao consumo através da maior divulgação dos benefícios para a saúde, da forma de produção e de novas formas de apresentação dos produtos aos clientes podem aumentar o consumo de peixes de cultivo na região.

6.5 Setor de Insumos

Segundo os representantes do setor de venda e distribuição de insumos para criação de peixes, a piscicultura no Piauí tem grande potencial de desenvolvimento, porém, seu crescimento é reflexo do panorama econômico brasileiro e assim como é influenciada por ele, o desenvolvimento da atividade também influencia a distribuição dos insumos. Por exemplo, a atual situação de pandemia, a crise econômica e a desvalorização do real impactam negativamente a atividade e desestimula os investimentos em pisciculturas, por outro lado, a falta de grandes pisciculturas na região ou a falta de demanda por rações, colabora para que seja inviável do ponto de vista da indústria, dedicar um centro de distribuição de insumos para a localidade. As rações das empresas Polinutri® e Integralmix® são as mais compradas pelos produtores locais, e não há qualquer relação de fidelidade entre vendedores destas rações e os produtores. Para os produtores entrevistados, a opção pela compra de determinado fornecedor de ração é definida sempre pelo menor preço do produto. Ainda de acordo com os produtores, apesar de haver indústrias de alimento para peixes na capital, Teresina, só há um fornecedor de ração que atende os piscicultores na região litorânea piauiense. Mesmo assim, grande parte deste insumo é adquirido do estado do Ceará com atrasos na entregada para os produtores. Para os piscicultores que atuam com tanques-redes na Lagoa da Prata, a falta de crédito para compra de ração é um entrave para que a atividade se desenvolva. De acordo com os produtores, o acesso ao crédito rural pode ser feito mas, por questões burocráticas, há o impedimento de aquisição de valores significativos para compra de ração para os produtores. Na região de abrangência deste estudo, só há um fornecedor de alevinos de tilápiado-Nilo. Esta empresa compra os alevinos de tilápia com peso médio de 2g, da linhagem “Gift”, de um fornecedor localizado em Amontada no Ceará. O fornecedor piauiense faz a recria e vende os “alevinões” com peso de 3 a 5g, com o milheiro sendo comercializado a R$ 200,00. Além de vender alevinos na região da ZPE, a empresa atende empresas e associações de produtores de outras cidades no estado do Piauí e Maranhão. De acordo com o representante da larvicultura, um dos principais problemas contemporâneos regionais do setor foi a ocorrência da doença de Haff que afetou a venda de alevinos. Por conta desta doença, os produtores não conseguiam vender os peixes e consequentemente não compraram alevinos para uma nova safra ou até deixaram de produzir. Segundo o representante entrevistado, a queda foi de 75% nas vendas de alevinos e, como forma de enfrentar a crise, a larvicultura começou a fazer também a engorda de tilápias.

Com exceção da tilápia, os alevinos das espécies cultivadas na região, como panga e tambaqui, não são disponíveis regularmente no mercado. De acordo com os produtores, além da falta de regularidade no fornecimento de alevinos destas espécies, também há má qualidade genética do plantel e isto faz com que seja feita a aquisição de alevinos em outros estados, como do Ceará e do Maranhão.

Quanto aos principais problemas do setor de insumos na região litorânea piauiense, os entrevistados citaram:

_ Logística de transporte: Os produtores relatam atrasos na entrega de ração nos empreendimentos da região. Os pequenos produtores que adquirem a ração no comercio local, no varejo, relatam a indisponibilidade frequente de determinados tipos de ração necessários à produção, causando prejuízo para os produtores. _ Qualidade dos alevinos produzidos na região: Com exceção da tilápia, as outras espécies alevinos da região, como panga e tambaqui não possuem qualidade ou regularidade na oferta. _ Dificuldades de acesso ao crédito: De acordo com os produtores, há disponibilidade de recursos, mas questões burocráticas impedem que o dinheiro chegue ao produtor para compra de insumos. Neste sentido, segundo os produtores entrevistados, há maior restrição para conceder empréstimos para pequenos produtores, em especial para aqueles que exercem o cultivo em tanques-rede. _ Falta de parceria e cooperativismo: A maior parte das pisciculturas são pequenas unidades de produção, a falta de parceria e cooperativismo entre elas são fatores que dificultam a aquisição de insumos coletivamente pelos produtores.

6.6 Análise sistêmica da cadeia produtiva

_ Perfil Geral da Cadeia produtiva

A cadeia produtiva da piscicultura na região litorânea piauiense pode ser resumida da seguinte forma: o setor de produção, representado principalmente por pequenas pisciculturas em viveiros escavados, tanques suspensos e tanques-rede, adquire a ração no varejo em Parnaíba ou no atacado a partir de distribuidores de Teresina e do estado do Ceará. A principal espécie cultivada na região é a tilápia-do-Nilo, embora haja produtores de piau, panga, tambaqui, pirapitinga e tambatinga. Com exceção do panga e do piau, os alevinos utilizados nos cultivos são adquiridos na região ou próximos dela, principalmente dos municípios de Parnaíba e Buriti dos Lopes. Ao término do ciclo produtivo, os peixes

frescos, inteiros e ainda com vísceras são comercializadas nas unidades de cultivo ou são distribuídos para as peixarias e mercados da região. Neste ponto, a função do atravessador impacta pouco a cadeia produtiva da piscicultura, uma vez que os maiores produtores fazem a própria entrega dos peixes ao comércio local. As peixarias e mercados, por sua vez, são os principais responsáveis pelo processamento do peixe (descamação, evisceração, cortes e filetagem) e venda para os restaurantes e consumidores.

As características mais marcantes da cadeia produtiva são relacionadas ao baixo nível tecnológico, a falta de comunicação entre elos, a competição entre os agentes e a pouca variedade de produtos que chegam até o consumidor. No setor produtivo, o manejo nutricional pode ser considerado a linha tênue que divide aqueles produtores com dificuldades em se manter na atividade e aqueles que, reconhecidamente, têm sucesso na produção. Entre os maiores produtores entrevistados, o fornecimento de ração aos animais, conforme a recomendação do fabricante, parece ser reconhecido por apenas um deles. Para os demais produtores, inclusive para os pequenos criadores de peixes, a oferta de ração recomendada é vista como uma atitude de luxo devido ao custo alto deste insumo. Neste sentido, é comum os produtores utilizarem grãos de milho, macaxeira, puim de milho ou arroz no intuito de alimentar os animais substituindo uma parte da ração. Obviamente, isto compromete o desempenho produtivo dos animais. Na região, a variedade de peixes comercializadas é restrita à poucas espécies, sobretudo a tilápia, tambaqui, tambatinga e o panga. A tilápia-do-Nilo é o carro chefe da piscicultura regional. À medida que os produtores têm problemas para vende-la no mercado local, para as maiores peixarias, é conveniente a aquisição da espécie já eviscerada, oriundas de outras regiões. O mercado também carece de novas espécies cultivadas, de fábricas de gelo, de unidades de beneficiamento com selo de inspeção para atender supermercados. Também carece de fornecedores de insumos, linhas de crédito, capacitação para os produtores e laboratórios de análise de água e solo. As maiores fragilidades da cadeia produtiva se mostram evidentes quando: _ O mercado local dá abertura para a entrada de peixes de cultivo oriundos de outras regiões à medida que os produtores locais mostram dificuldade em escoar a produção no próprio mercado regional; _ Quando os produtores acreditam que a principal consequência em reduzir a taxa e a frequência alimentar dos peixes é o benefício na economia de ração. _ Quando a venda de peixes oriundos da piscicultura no mercado é cessada com a divulgação da doença de Haff, sendo que os peixes de cultivo não transmitem essa doença.

Ainda é possível citar como fragilidade na cadeia produtiva da piscicultura, a falta de apoio ou informações das Secretárias Municipais da região para o desenvolvimento da atividade. Os gestores municipais se mostram de difícil acesso e, a cada troca de gestão, se perdem as informações sobre os dados de produção, cadastro de produtores, onde encontrálos, quais os problemas e os anseios do setor para a permanência na atividade ou para o crescimento da piscicultura regional.

_ Análise das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças da cadeia produtiva da

piscicultura no Piauí.

a) Forças

_ Facilidade de aquisição de alevinos de tilápias-do-Nilo: Durante todo o ano há facilidade em adquirir alevinos de tilápias-do-Nilo na região em quantidade suficiente para atender a demanda.

_ Espécies rústicas com pacote tecnológico bem definido: As espécies cultivadas na região são resistentes ao manejo, às doenças e as variações de qualidade da água e possuem um pacote tecnológico já bem conhecido no Brasil, de fácil aplicação e adaptação para as condições particulares de cada produtor. _ Contribuição para o desenvolvimento e inclusão social: Na região, muitas famílias têm a piscicultura como um meio para conseguir alimento para sustento da família, como única fonte de renda ou como fonte de renda complementar. _ Apoio de instituições públicas locais: A Universidade Federal do Delta do Parnaíba, por meio do Curso de Engenharia de Pesca, e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), atuam na região com projetos de extensão e assistência aos produtores locais.

b) Fraquezas

_ Falta de conhecimento básico sobre tecnologia de cultivo: Para a grande maioria dos produtores, ainda faltam conhecimento básicos sobre a importância do manejo alimentar correto, dos princípios manejo, avaliação e monitoramento de qualidade de água para piscicultura, de biossegurança e marketing. _ Dificuldade dos pequenos produtores em obtenção de ração: Na região, os pequenos produtores adquirem ração no comercio local, em pequenas quantidades e com preço elevado. Como a ração é o principal insumo utilizado na piscicultura

sua quantidade utilizada impacta significativamente o custo de produção dos peixes. _ Carência de unidades de beneficiamento: O principal motivo pelo qual o mercado na região recebe peixes de outros locais é a oferta do produto já eviscerado. Entretanto, na região litorânea, os produtores não conseguem fazer isso no local de cultivo, lidar com os resíduos gerados e com a necessidade de mão de obra para tal fim. Neste sentido, a carência de unidades de beneficiamento na região impede a distribuição de um produto com selo de inspeção e com maior valor agregado, como filés, por exemplo, para as peixarias e supermercados.

_ Falta de cooperativismo e interação entre os elos: Ainda há dificuldade em troca de informações entre os agentes para solucionar problemas em comum à cadeia produtiva. Algumas atitudes simples, tomadas de maneira coletiva, poderiam solucionar alguns problemas dos setores, como a compra coletiva de ração ou a venda de peixes em conjunto para garantir o fornecimento frequente e em quantidade suficiente para atender o mercado.

c) Oportunidades

_ Crescente demanda pelo pescado: No Brasil, o consumo de peixes tem aumentado a cada ano e é estimulado pela necessidade populacional de busca por alimentação saudável. Neste sentido, os peixes são fontes de proteína de alta qualidade, ácidos graxos essenciais, possuem baixo teor de gordura e possuem um preço de mercado mais baixo do que a maior parte das carnes vermelhas. _ Condições ideais para o cultivo de espécies tropicais: A região litorânea piauiense é banhada por rios perenes, clima favorável ao desenvolvimento das espécies tropicais, disponibilidade de mão de obra e sua população tem como hábito o consumo de peixes. _ Oportunidades para diversos sistemas de produção: A região tem potencial para instalação de uma grande variedade de sistemas de cultivo como extensivo, semiintensivo, intensivo, monofásico, bifásico, monocultivo ou policultivo, em viveiros, tanques-rede ou sistemas de recirculação de água.

d) Ameaças

_ Sazonalidade na reprodução de espécies nativas: O período para a reprodução dos peixes reofílicos na região litorânea piauiense é entre dezembro e março. Somente nesta época o tambaqui e a tambatinga podem se reproduzir em cativeiro.

Isso faz com que a oferta de alevinos nos meses seguintes seja dada em função da demanda nos primeiros meses de início das vendas. _ Concorrência com produtos da pesca extrativa e com peixes de outras regiões: A região litorânea piauiense é, tradicionalmente, suprida por peixes oriundo dos Rios, do estuário e do mar.

_ Elevado índice de inadimplência: As peixarias relatam elevado índices de inadimplência dos clientes.

A Figura 16 apresenta um quadro com a análise das principais Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças da cadeia produtiva da piscicultura no Piauí.

Figura 16 Principais Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças da cadeia produtiva da piscicultura no Piauí.

Fonte: elaborada pelo autor.

6.7 Demandas e sugestões para auxiliar o desenvolvimento do setor

Recomenda-se as seguintes medidas de apoio ao desenvolvimento da piscicultura no litoral do Piauí:

_ Criação de Associações e Fortalecimento de pequenos grupos de produtores: A organização entre os grupos de pequenos produtores pode favorecer uma articulação para solucionar problemas em comum, como a compra coletiva

de ração, por exemplo, que é o principal insumo e entrave para os pequenos produtores. Além disso, a união entre os piscicultores pode originar um Arranjo Produtivo Local (APL) com fortalecimento mútuo dos participantes para competir no mercado em cooperação, aproveitando canais de distribuição e escoamento da produção, maior facilidade de acesso aos insumos, fornecedores de bens e serviços, apoio técnico e aprendizagem coletiva. _ Criação de uma rede de monitoramento e auxílio aos piscicultores regionais. Como projeto piloto, a Universidade Federal do Delta do Parnaíba, por meio do Curso de Engenharia de Pesca, pode monitorar o número de produtores, a produção, os problemas e as medidas públicas para o desenvolvimento da atividade de forma independente das secretarias municipais. Evitando a perda de informações a cada troca de gestores no governo. Em um segundo momento, o projeto pode ser expandido a um programa que abarque todos os municípios estaduais e forneça um censo a cada três anos da dinâmica da aquicultura estadual.

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