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7.1 O potencial local para a piscicultura ornamental
7.1 O potencial local para a piscicultura ornamental
_ A aquicultura Ornamental
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A aquicultura ornamental se destaca pela produção e comercialização de uma grande diversidade de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos e plantas, geralmente de pequeno porte, porém, com alto valor agregado. Isto faz deste setor um dos mais lucrativos na aquicultura e com uma rentabilidade por área, muitas vezes, superior à produção de peixes de corte. A indústria de produção de animais aquáticos ornamentais também movimenta a fabricação, venda e distribuição de insumos específicos para o aquarismo das espécies cultivadas como, diferentes alimentos, luminárias, aquários, condicionadores de água, medicamentos, filtros, substratos, reatores e diversos outros equipamentos e produtos exclusivos para tal fim. Ainda oferece serviços, oportunidades de emprego e contribui para o crescimento econômico, principalmente de regiões pouco desenvolvidas. Ao final da cadeia produtiva, o cultivo de ornamentais em aquários passa a ser, além de hobby, um meio para amenizar o estresse e a ansiedade dos clientes, auxiliando na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Também se torna uma importante ferramenta de busca e aplicação de conhecimento, valorização de espécies e ecossistemas aquáticos, além de ser um acessório de decoração de ambientes internos e externos. Por estes motivos, o cultivo desse grupo de animais é, dentro do mercado pet, um dos setores mais crescentes ao redor do mundo.
A aquicultura ornamental é um campo que apresenta ótimas perspectivas para futuro em meio à continua expansão da atividade e oportunidade de exportação de várias espécies, sobretudo das espécies nativas brasileiras. Alguns estados como Amazonas, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará, aproveitam esta oportunidade de negócio e se destacam ao atender o comercio nacional e internacional. Porém, no Piauí, este campo ainda é completamente inexplorado. As principais vantagens da região litorânea piauiense para entrada de investidores no setor de organismos aquáticos ornamentais são relacionadas à proximidade da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), do aeroporto internacional de Parnaíba e de vários centros de escoamento de ornamentais já conhecidos no mercado brasileiro e internacional, que devem ser seguidos como exemplo, como Fortaleza, capital do Ceará. Do ponto de vista ambiental, o litoral do Piauí apresenta clima adequado para o cultivo de uma grande variedade de espécies, com destaque para as espécies amazônicas. A região possui o clima quente durante todo o ano, é banhada por rios perenes e possui uma estação chuvosa bem definida que estimula a reprodução de muitas espécies.
Outras vantagens da região litorânea piauiense são relacionadas às características intrínsecas do setor ornamental que atendem à população regional, como necessidade de uso de pouco espaço para a criação dos animais, podendo inclusive ser feita nos quintais das residências em regiões urbanas, necessidade de pouca água e pouco investimento inicial, configurando uma boa alternativa para pequenos produtores, principalmente para aqueles que não conseguiram manter a produção de peixes de corte por conta da dificuldade de escoamento da produção, pouca área disponível para a implantação do empreendimento, pouca água disponível para trocas parciais ou pelo alto custo com a ração.
Como a produção de peixes ornamentais exige um trabalho mais leve quando comparado à outras formas de aquicultura, tanto os homens como as mulheres e pessoas idosas podem administrar pequenas unidades domésticas. Além disso, a atividade também exige equipamentos pouco sofisticados, pequenos aeradores, lâmpadas que consomem pouca energia elétrica, facilitando a implantação e manutenção de grandes unidades em áreas urbanas também.
Por fim, o litoral piauiense conta, ainda, com um laboratório de Produção de Peixes Ornamentais no curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Delta do Parnaíba. Criado em outubro de 2021, o laboratório tem como objetivo o estudo da fisiologia das espécies, capacitar alunos para exercer a atividade e auxiliar o desenvolvimento da cadeia produtiva dos organismos ornamentais. Portanto, há na região litorânea piauiense, características, ambientais, sociais, técnicas e econômicas ideais para o desenvolvimento do cultivo de espécies ornamentais. Se tornando um campo aberto para uma grande oportunidade de negócio que atenda tanto o mercado nacional como internacional.
_ Mercado de Peixes ornamentais
Os peixes ornamentais representam o maior e mais diversificado grupo de animais exóticos utilizados como animais de estimação, contando com 655,8 milhões de unidades, seguidos por cães (360,8 milhões), gatos (271,9 milhões) e aves (200,5 milhões) (APEX-BRASIL - AGÊNCIA BRASILEIRA DE PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES E INVESTIMENTOS, 2016). No Brasil, onde há a maior diversidade de peixes de águas continentais no mundo e muitas delas são de interesse para o mercado ornamental, há cerca de 19,9 milhões de peixes ornamentais, sendo, a 4ª maior população de pets no país, ficando atrás dos cães (55,9 milhões), aves (40,4 milhões) e gatos (25,6 milhões) (ABINPET - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO, 2022).
Embora haja poucos dados sobre a produção de peixes ornamentais a nível mundial, principalmente pela existência de um mercado informal bastante expressivo, estima-se que haja no ambiente entre 5.300 a 6.000 espécies de peixes com potencial ornamental, 90% das quais são espécies tropicais de água doce (WWF - World Wide Fund for Nature, 2021). Estes animais são comercializados em 125 países, em uma taxa de crescimento anual do mercado entre 10% a 15% e com um valor acumulado no varejo entre 15 a 30 bilhões de dólares (REZENDE; FUJIMOTO, 2021; WWF, 2021). No Brasil, a grande quantidade de peixes nativos com alto valor agregado somado ao clima apropriado e o desenvolvimento do comércio especializado em equipamentos, insumos e acessórios para aquários, são fatores que impulsionaram o desenvolvimento da atividade. O estado do Amazonas é o eixo de exportação de peixes ornamentais mais importantes do Brasil, respondendo por 70% das exportações deste segmento no país, entretanto, o estado depende exclusivamente do extrativismo desses animais (WWF, 2021). Apesar da pesca ser uma maneira de aquisição de peixes ornamentais rápida e com menor custo, ano após ano, o nível de extração de espécimes está sendo reduzido em função da pressão internacional pelo fim da pesca predatória e redução do risco de depleção dos estoques naturais. Aliado a isto, estima-se que 90% dos peixes de água doce comercializados na atualidade podem ser criados em cativeiro, evidenciando ainda mais o potencial de crescimento da piscicultura ornamental. Tendo em vista as vantagens já descritas para a produção de peixes ornamentais, facilmente são encontrados casos de comunidades brasileiras que tiveram sua economia alterada por esta atividade. No município de Pedra do Anta, em Minas Gerais, cerca de 40 pessoas de 12 famílias se beneficiam diretamente da produção de peixes ornamentais (EMATER - INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL, 2020). A capacidade produtiva nesta localidade é de 4 mil peixes ornamentais por mês, onde para cada 100m² de área do cultivo, há um rendimento médio de um salário mínimo por mês para o produtor (EMATER, 2020). Em Patrocínio do Muriaé, Minas Gerais, a produção estimada de peixes ornamentais é superior a 250 mil peixes por mês, o que gera uma renda de aproximadamente R$ 200 mil reais no município. Um dos produtores locais, relata que iniciou na atividade com dez casais de matrizes e, em poucos anos, já comercializava mais de oito mil unidades por mês (PATROCÍNIO DO MURIAÉ, 2017). Na região Nordeste, particularmente no estado do Ceará, a indústria de organismos ornamentais também se mostra como uma atividade economicamente relevante e nos últimos tem demonstrando crescimento tanto em volume como em valores de comercialização. No Ceará, nos primeiros nove meses do ano de 2020, foram exportados US$ 490 mil em peixes ornamentais, um crescimento de 86,4% em relação ao ano de 2019. No mercado interno, o crescimento nas vendas foi de 35% no ano de 2020 (CEARÁ, 2020).
No Piauí, as informações sobre o comercio de organismos aquáticos ornamentais são inexistentes. Os produtores estaduais são concentrados em áreas urbanas, atuam no mercado de maneira informal, possuem um plantel restrito a poucas unidades e fazem da atividade um hobby ou um meio complementar à fonte de renda. Para atender o mercado, os lojistas piauienses adquirem a maior parte das espécies nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Pará e Amazonas e, na maior parte das vezes, os animais que chegam ao comércio local são de baixa qualidade.
_ Principais espécies
Apesar da grande diversidade de espécies ornamentais, nativas e exóticas, cultivadas no Brasil, cerca de 30 espécies de água doce dominam o mercado nacional, sendo as mais comuns, os kinguios (Carassius auratus) (Figura 17), o acará bandeira (Pterophyllum scalare) (Figura 18), oscar (Astronotus ocellatus), neon (Paracheirodon axelrodi), carpa (Cyprinus carpio), kinguio (Carassius auratus), beta (Betta splendens), guppy (Poecilia reticulata), platy (Xiphophorus maculatus), espada (Xiphophorus helleri), tricogaster (Figura 19) e colisa (Tricogaster sp.) (Figura 20), os tetras (Hyphessobrycon sp. Megalamphodus sp. e Thayeria sp.), molinésia (Poecilia latipinna) e o cascudo (Pterygoplichthys pardalis).
Figura 17 Exemplares de kinguios (Carassius auratus), peixes ornamentais exóticos mas com reprodução feita nacionalmente e amplamente comercializados no Brasil.
Fonte: o autor.
Figura 18 Reprodutores de Acarás-bandeira em aquário, espécie nativa cultivada no Laboratório de Peixes Ornamentais da Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
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Fonte: o autor.
Figura 19 Espécimes de Tricogaster (Trichogaster trichopterus) em aquário a Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
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Fonte: o autor.
Figura 20 Espécime de Colisa lalia (Tricogaster lalius) cultivada na Estação de Aquicultura da Universidade Federal do Delta do Parnaíba
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Fonte: o autor.
O sucesso de cultivo destas espécies no Brasil é relacionado à sua prolifi cidade e necessidade de pouca técnica de manejo para o cultivo. Entretanto, em função do rigor na seleção das matrizes, a prole pode apresentar ausência de cores e deformações corporais, caracterizando a perda de linhagem, consequentemente, os animais são comercializados por um preço reduzido e são consideradas de baixa qualidade para a exportação. Este pode ser um dos principais motivos que limita as importações a poucos produtores brasileiros. Por outro lado, as principais espécies exportadas pelo Brasil são sul-americanas e destinadas para a Ásia e Europa. Segundo Rezende e Fujimoto (2021), se destacam entre as exportações as espécies Neon, Limpa-vidro (Otocinclus sp. e Parotocinclus sp.) Coridoras (Corydoras sp. e Brochis sp.) Rodóstomo (Hemigrammus bleheri e Petittela georgiae), Tetras (Hyphessobrycon sp.), Borboletas (Carnegiella sp. e Gasteropelecus sp.), Lápis (Nannostomus sp.), Nanociclídeos (Apistogramma sp. e Dicrossus sp.), o Acará-disco (Symphysodon sp.) e os Cascudos (Baryancistrus sp., Ancistrus sp., Peckoltia sp., Hypostomus sp., Scobinancistrus sp., Oligancistrus sp., Parancistrus sp., Hopliancistrus sp., Pseudacanthicus sp., Leporacanthicus sp., Acarichthys sp., Spectracanthicus sp., Hypancistrus sp., Farlowella sp. e Rineloricaria sp.),
_ Tecnologia de produção
De maneira geral, os produtores de ornamentais que se dedicam à reprodução e larvicultura, também atuam na fase de crescimento fi nal dos animais (engorda) até que atinjam o tamanho de comercialização. Na produção, podem ser adotados diferentes sistemas de cultivo e níveis de tecnologia que variam de acordo com a disponibilidade de
recursos do produtor. Entretanto, deve-se atentar que para atender o mercado internacional, os peixes nativos brasileiros devem a apresentar qualidade e competitividade em preço, por isto, é necessário investimento em capacitação e tecnologia para que haja sucesso (REZENDE; FUJIMOTO, 2021). A escolha de espécies para ser inserida na piscicultura ornamental deve ser feita com base nas características biológicas do animal, hábitos alimentares e reprodutivos e qual o público alvo será atendido. Dependendo da espécie a ser cultivada, pode ser necessário o conhecimento mais avançado sobre a fisiologia do animal, das características dos habitats naturais da espécie. Também é importante se familiarizar com as técnicas de manejo, reprodução e alimentação e ter o entendimento sobre a interação social do animal no ambiente de cultivo, das principais doenças que podem ocorrer e como realizar a avaliação, manejo e monitoramento das condições da água para que atenda sua exigência. A importância desse conhecimento se deve ao fato de que os animais aquáticos ornamentais são altamente sensíveis e de fácil perca por mortalidades ao longo da produção, seja no manejo de classificação e manutenção, no transporte da aquisição ou na entrega ao cliente. Por isto, este negócio exige do produtor dedicação, cuidado e agilidade nas atividades exercidas com os animais. Além disso, os produtores que atuarem nessa área deverão ter noções básicas de gestão de negócios, seleção de espécimes, valor de mercado em função da característica do animal, marketing e aquarismo. Para o cultivo de animais com baixo, médio ou alto valor comercial, seja em pequena, média ou larga escala, é possível utilizar tanques pequenos (3m x 2m x 1m) de alvenaria, aquários de vidro ou cerâmica (aquapiso), tanques de barro e até potes e bacias plásticas (Figura 21). Para a produção em larga escala de espécies com menores valores de mercado, o cultivo também pode ser feito em viveiros escavados telados para evitar a predação de pássaros.
Figura 21 Caixas de água utilizadas para cultivo de peixes ornamentais com tela de proteção contra pássaros.
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