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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 15 DE ABRIL DE 2016

LANÇAMENTO

Um macaco que resolve na bala HQ “A Ameaça do Macaco Barão” investe no gênero policial para criar uma trama urbana e pessimista

Chacina Nas primeiras páginas do quadrinho, um a um, cada integrante da história tem suas participações reveladas. A coisa fica braba quando uma bizarra chacina é descoberta. Os militares estão de mão atadas e poucas (ou quase nenhumas) informações sobre o caso são conhecidas. A imprensa é pega de surpresa e até mesmo os conhecidos criminosos locais não conseguem estar à par dos acontecimentos. Mais mistério vai sendo integrado a este caldo quando relatos apontam que o responsável seria uma estra-

“A Ameaça do Macaco Barão” é definido pelos autores como um gibi de “noir tropical” e a obra atualiza anti-heróis clássicos é necessário como fio condutor dos fatos a presença de um investigador,ou alguém minimamente interessado em desobstruir as evidências e nós cegos. Para este expediente, a imaginação de Hector Lima investe na figura da repórter Renata. Cansada dos intermináveis plantões da redação, a jornalista se vê diante de um labirinto de interesses. O poder a tudo esconde e desvendar o mistério significa colocar em risco, além da carreira profissional, a própria vida. De longe, esta mulher se sobressai como a persona mais interessante do trabalho. Afinal, por ter nas mãos a responsabilidade de conduzir o olhar do leitor, as motivações de Renata são bem mais exploradas na HQ. Quanto ao restante das figuras que compõem a estruturada narrativa,ogostodecaricatura e a sensação de “já vi isso antes” é inevitável. Do traficante que dialoga através de um sem número de gírias (em dado momento soam um tanto forçadas) ao cana de rabo preso.

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nredos policiais costumam ter em comum um ambiente carregado de personagens dúbios no tocante a suas motivações. O crime, indo muito além de uma querela social, se impõe como costura dos fatos e preenche o cotidiano daqueles que estão presos na trama. Todos são culpados, até que o ápice conclusivo nos prove o contrário irremediavelmente. Este clássico jogo de gatos e ratos é referência basilar à HQ “A Ameaça do Macaco Barão”, lançamento que chega às lojas do País através da parceria entre a Zarabatana Books e o coletivo de quadrinhos Fictícia. A novidade aqui é introduzir um novo e casca grossa anti-herói nos quadrinhos nacionais. O trabalho é fruto dos serviços a seis mãos dos realizadores Hector Lima (roteiro), Milton Sobreiro (arte) e Felipe Sobreiro (capa e letras). Ambientado num cenário infestado pela corrupção, o tráfico e a violência, “A Ameaça do Barão Macaco” se desenvolve sob uma perigosa selva de pedra. O caráter urbano se impõe como realidade insolúvel. Arranha-céus, neón e asfalto constituem uma verdadeira prisão sem grades. Adictos esvaziam o resto de vida através dos becos. A força policial representa um ninho de cobras e políticos se sobressaem como a fachada ideal para o crime organizado. Se assusta ao leitor a cruel semelhança desta HQ com a atualidade, a ficção chega para contemplar nossas espiações. Ao melhor estilo do jargão “Você é uma doença, eu sou a cura”, um vigilante começa a agir impiedosamente neste angustiante barril de pólvora.

O caráter urbano se impõe como realidade insolúvel. Arranha-céus, neón e asfalto constituem uma verdadeira prisão sem grades

HQ

“A Ameaça do Macaco Barão” HectorLima,MiltonSobreiro e FelipeSobreiro ZARATANABOOKS 2016,72páginas R$34,00

nha figura com máscara de macaco. Dessa forma, esse núcleo central (mídia, polícia e criminosos) se perdem em um trama onde as estruturas estão ameaçadas. Mas, quem seria este justiceiro vigilante que age nas sombras para fazer de sua cidade um lugar mais justo e seguro? Quem é essa sombra que desarticula esta rede criminosa que sustenta o padrão de muitas vidas a troco de outras. Retomando às características fundamentais do romance dito policial, vale destacar que

Páginas de “A Ameaça do Macaco Barão”: obra introduz um novo e casca grossa anti-herói nos quadrinhos nacionais, fruto dos serviços a seis mãos dos realizadores Hector Lima (roteiro), Milton Sobreiro (arte) e Felipe Sobreiro (capa e letras)

Escolha Mesmo assim, é possível que tal escolha criativa esteja fazendo jus ao serviço da trama. É como se Hector nos apontasse que cada um destes malfeitores que tomba no chão fossem descartáveis. Isso é de um pessimismo atroz e de certa forma coaduna com a realidade atualmente imposta. Detalhe: também pouco sabemos sobre a origem da cidade onde o Barão Macaco age. Ela pode ser qualquer grande capital brasileira. Uma fábula que pode pertencer a qualquer noticiário policialesco do momento. Inicialmente projetado para publicaçãoviafinanciamentocoletivo online, “A Ameaça do Macaco Barão” é definido pelos autorescomoumgibide“noirtropical” e a obra atualiza conceitos de anti-heróis pulp clássicos. É onde surgem contornos e influências de personagens como Sombra, Aranha, o próprio Batman, Fantasma e A Garra Cinzenta (personagem publicado no Brasil entre 1937 e 1939). A arte de Milton Sobreira ganha o reforço em família do filho Felipe Sobreira. O resultado impresso nas páginas aponta uma estética retrô de algum material perdido entre as décadas de 1970 e 1980. Aguardamos por mais causos deste vilão/herói que salva o dia da vizinhança na base da pólvora.

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