MĂşsica na escola: conceitos
Apresentação Que bom contar com você neste projeto. Sua participação é fundamental. Temos uma bela empreitada pela frente e precisamos estar preparados. Ensinar música é uma tarefa desafiadora em qualquer circunstância, e no nosso caso há o fato de que você não é professor de música. Isso pode parecer estranho, como confiar o ensino de algo aparentemente tão complexo quanto música a pessoas que não são especialistas e nem tiveram treinamento para tal. É exatamente por este motivo ou por esta suspeita que nós já vamos entrar em campo dizendo – “O que você tem em mãos é o treinamento! E mais, ele foi especialmente elaborado para você que não é professor de música”. Então, relaxe, todos seremos aprendizes nesse Projeto. Queremos dizer também que é perfeitamente compreensível que você esteja preocupado com o fato de estarmos lidando com música. Tem muita gente que acha que saber música é realmente complicado, que é uma atividade que tem que ter um dom, um “jeito pra coisa”. Quem atua como músico ou professor de música, sabe bem disso, quantas vezes não ouvimos frases do tipo: “estudar música é muito difícil”, “só aprende quem tem talento”, “já sou muito velho pra começar”, frases que afirmam de um jeito ou de outro que estudar música é difícil, e que acabam servindo como desculpa para não começar a aprender a arte dos sons e ritmos.
Nós, do Projeto Orquestra Brasileira de São Salvador – OBSS, não concordamos totalmente com esse pensamento. Se assim fosse, não estaríamos aqui tomando seu tempo e gastando o nosso. Concordamos em parte, pois sabemos da responsabilidade que qualquer projeto de ensino demanda e estamos totalmente cientes de que, sim, a música é uma arte que envolve o conhecimento de muitas coisas. São regras e teorias, técnicas que envolvem corpo, mente e intelecto, e por isso não se aprende da noite para o dia. É notório que pessoas talentosas aprendem muito rápido e com muita consistência, mas qualquer um, qualquer um mesmo, que se dedique obterá bons resultados. Para finalizar, aproveitando que estamos falando sobre alguns motivos que “afastam a freguesia” na hora de aprender música, falta falar sobre a ideia de que só estuda música quem quer se tornar um músico profissional. Que grande engano! Primeiramente é sabido os muitos benefícios que o estudo e a atividade de se tocar ou cantar trazem para nossas vidas. Maior organização e concentração, desenvolvimento da criatividade e da abstração, melhoria da cognição, da memória e do condicionamento físico. Além, é claro, de ser uma das criações humanas mais bonitas e somente por isso já valeria a pena dedicar-se a conhecer um pouco dos seus “mistérios”. Enfim, música é tudo de bom! E a boa notícia é que mesmo com pouco tempo de estudo podemos chegar á um nível bastante razoável de proficiência. Tocar um tema num saxofone, acompanhar alguém cantando ao violão, tocar percussões em um samba de mesa, tudo isso pode ser conseguido. Enfim, muitas possibilidades de se divertir e aprender.
Se pensarmos bem veremos até que é bem simples: todos nós conhecemos um pouco de música. A música está presente em nossas vidas desde que somos pequenos. Ou melhor estudos provam que as músicas ouvidas por futuras mamães ainda grávidas podem afetar seus bebês no ventre, antes mesmo do nascimento. Depois vem os acalantos e brincadeiras infantis, todos com seus ritmos e melodias. A música está presente na TV, no rádio, no cinema, nas festas e cerimônias religiosas. Enfim, é uma velha conhecida nossa. Nós provavelmente conhecemos mais sobre música do que imaginamos, e agora vamos aprender um pouco mais sobre esse fascinante assunto. Mas precisamos deixar claro que mesmo sendo um curso de música não pretendemos formar músicos. Estamos falando de um introdução, dos primeiros capítulos sobre o mundo dos sons. Coisas básicas que todos devem ou deveriam saber, conhecimentos e habilidades que conectam a música à nossa vida cotidiana. Mesmo com essas palavras de incentivo você ainda deve estar pensando: “Nossa, como vou ensinar música? Como ensinar algo que não conheço?” Este material é um primeiro passo neste sentido, ele visa te ajudar a entender mais sobre música e a preparar e ministrar aulas de iniciação musical para seus alunos e alunas. Este primeiro livro é para ser utilizado como um texto de consulta. Nele estão explicados de maneira resumida os principais fundamentos da organização dos sons e as bases estruturais do discurso musical. Não há necessidade de ser lido do começo ao fim antes do início do curso, mas pode e deve estar sempre a mão para consultas e esclarecimentos.
Para que serve este material? Objetivos Gerais
Capacitar educadores para o ensino de música no nível básico
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Propor atividades de Iniciação Musical para os educadores trabalharem com alunos da rede pública de ensino de Camaçari (BA)
Realizar projetos de coleta de canções e músicas típicas da região por meio de entrevistas e registros em vídeo
Material de apoio Música na escola: conceitos Noções básicas de estruturação musical Bases da educação musical
Música na escola: exercícios
CDs
Programa de Aulas
CD 1: as 15 músicas gravadas por instrumentos e vozes
33 aulas estruturadas sobre um repertório de 15 músicas Textos e Exercícios divididos em atividades que trabalham teoria, percepção e estilo através do repertório proposto
CD 2: 32 faixas – 15 de playbacks com as músicas sem as vozes e 17 faixas que visam demonstrar o som dos instrumentos utilizados nas gravações
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Música: Estruturação e Ensino Noções básicas
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Aprender Música Mitos e Verdades Antes de iniciarmos nosso estudo gostaríamos de falar um pouco mais sobre aqueles mistérios que envolvem o aprendizado de música, aquelas ideias erradas que as pessoas têm sobre isso. Na verdade, muita gente encara qualquer tipo de arte como algo fora da nossa vida e da nossa sociedade, como se fossem atividades difíceis e complicadas, ocupações ou profissões de pessoas que têm um dom especial, que já nasceram sabendo. Dizem por aí que todo mito esconde uma verdade e que toda lenda parte de uma história real. Partindo dessa perspectiva, vamos discutir alguns mitos e lendas sobre o aprendizado de música.
1) Aprender música é difícil. Depende. Podemos aprender a fazer música ou a tocar um instrumento em diversos níveis. Para quem quer se tornar um bom músico, atuante no mercado de trabalho, o aprendizado é longo e são necessárias muitas horas. Por ser um processo a longo prazo ele pode ser muito bem planejado, de forma a que o aprendiz se desenvolva progressivamente e aumente suas horas de estudo e treinamento. Se pensarmos, porém, em um nível de aprendizado que nos permita conhecer melhor os elementos presentes na execução 10
de uma música, e até tocar um instrumento razoavelmente bem, não precisamos de tanta dedicação e tempo assim. Com algumas horas semanais e uma boa orientação, em um ou dois anos já se consegue tocar algo, compor um tema, enfim, “fazer um som”.
2) Aprender música é chato. Pode ser. Com certeza existem professores e cursos que transformam o aprendizado de música em algo muito maçante, sem graça, chato mesmo. Parece que esquecem que quem quer estudar música é porque gosta de música,
e provavelmente quer “fazer música com as próprias mãos”, tocar um instrumento, cantar, compor. É triste ver alguns educadores que transformam o ensino de música num festival de regras e teorias, textos e partituras, no qual o som aparece em último lugar. Por outro lado, não queremos passar a impressão de que aprender música é diversão, lazer. Vá lá: tocar e cantar pode ser muito divertido, mas música não é brincadeira. Exige atenção e respeito de quem faz, de quem ouve e de quem estuda. O que realmente pode ser chato é a demora em obter resultados ou até a ausência de um resultado real, evidente. Todos nós quando nos empenhamos em algum projeto gostamos de obter bons resultados, esperamos algum produto, mesmo que seja o desenvolvimento de uma habilidade pessoal. Desta maneira, é muito importante passar aos nossos alunos a certeza de que eles realmente aprenderão algo, ainda que com poucos recursos. Temos que ter um pacto, um compromisso que afirme: “olha, você vai ter que se dedicar e trabalhar, mas no final tudo vai valer a pena, afinal, você vai ter aprendido muitas coisas sobre esta maravilhosa arte, a música”. Nosso planejamento vai te ajudar a encontrar esse equilíbrio com diversos modelos de organização de aula. No entanto, o nível de interesse e a capacidade dos alunos e da classe podem ser muito diferentes, e por isso só você poderá, com observação e bom senso, decidir o tempo de cada atividade.
3) Só aprende quem tem um dom. Mito. Isso sim é um mito. No máximo podemos afirmar que existem pessoas que realmente “levam jeito para a coisa” e aprendem mais rápido. Pessoas que têm um ouvido privilegiado ou uma facilidade incrível para aprender a tocar e cantar. Mas é necessário levar em consideração duas coisas. A primeira é que mesmo pessoas muito talentosas precisam estudar. O talento ajuda, em algumas vezes ajuda muito, mas não resolve a questão. Não há casos de gente que toque, cante ou componha bem sem ter praticado minimamente. Pode até ter aprendido sozinho, de maneira informal, mas pesquisou, treinou, gastou tempo buscando resultados. A segunda coisa é que existem pessoas que apresentam muita dificuldade no aprendizado da música, sobretudo com o “universo sonoro” do estudo. Ou seja, têm boa capacidade intelectual, entendem a teoria da combinação dos sons (que tem muito de raciocínio matemático), mas não conseguem distinguir nem reproduzir sons e ritmos. “Dom”, “talento”, “jeito pra coisa” facilitam o caminho, apenas isso. Na falta deles um pouco de esforço já compensa.
Em resumo, está nas mãos do professor e de sua metodologia determinar se o estudo de música é algo chato ou não.
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Aprender Música Mitos e Verdades
4) O aprendizado tem que começar desde cedo, na infância. Depende. É muito bom quando temos a oportunidade de começar a estudar música cedo. Apesar de existirem muitas metodologias e escolas de ensino, todas concordam que a idade de iniciação deve estar entre 4 e 10 anos, sendo que a faixa dos 8 anos é tida como bastante indicada para o início dos estudos. Como toda linguagem a música é mais facilmente aprendida na infância, mas pode ser aprendida em qualquer fase da vida. A conclusão é a mesma do que em relação ao talento: começar cedo é bom, mas não é fundamental. Adultos já na terceira idade, por exemplo, podem aprender perfeitamente a fazer música.
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Conclusão Existe um mistério excessivo envolvendo a atividade musical. Paira no ar que tocar, cantar ou compor é só para quem tem o dom. De certa forma todas as artes “sofrem” desse preconceito e parece que, sobretudo no nosso país, arte virou coisa só de artista. Temos a impressão de que só alguns escolhidos, dotados de um talento todo especial, podem se arriscar a tocar, cantar, atuar, escrever, pintar, esculpir e tudo mais. Como se essas habilidades não pudessem fazer parte das habilidades básicas do cidadão, como ler e escrever, conhecer álgebra ou história. O fato de existirem artistas que realmente impressionam, que nos deixam maravilhados com seu enorme potencial e talento, bem como obras de arte que nos desafiam pela sua excelência, beleza e virtuosismo, não impede que, na outra ponta, um grande número de pessoas se arrisquem em pequenos desafios e produzam “pequenas obras de arte” de acordo com suas possibilidades, e o principal, que sintam prazer, orgulho e realização ao fazer isso.
O Estudo de Música Uma reunião de conhecimentos, sensações e habilidades
O homem traz em si mesmo todos os elementos da música. Suas palmas, seu caminhar, sua corrida, sua dança, seu ritmo. As vozes faladas e cantadas, intimamente ligadas (nós dizemos ainda: o poeta canta), estão igualmente na base das manifestações primitivas da arte dos sons. (DUFOURCQ, 1946, p.7)
Quando ouvimos uma música, seja uma simples canção de ninar ou uma grande sinfonia, estamos desfrutando de uma criação humana que envolve diversos conhecimentos e técnicas. Estamos falando de regras, leis e teorias que trabalham questões matemáticas e físicas, estamos tratando de questões corporais, de condicionamento muscular, relaxamento e precisão, e também do desenvolvimento da percepção auditiva e da criatividade.Vamos agora apresentar uma visão geral dos diversos elementos e técnicas presentes na composição ou execução de uma música, e mostrar como eles estão intimamente relacionados com a natureza e com as nossas vidas. Uma música, antes de ser tocada, precisa ser composta. Para compor, alguém que conhece música utiliza seu gosto e conhecimento para combinar escalas, acordes e ritmos na criação de uma peça. Claro que existem regras e técnicas que auxiliam neste processo criativo, ajudando a combinar com coerência os sons a fim de se criar algo reconhecível e, se possível, belo. Depois da música composta ela precisa ser tocada, interpretada. Para isso entra em cena outra pessoa, ou várias outras pessoas, com uma série de habilidades e conhecimentos para executar a composição.
Grosso modo, este processo ocorre na maioria das músicas que conhecemos – ou seja, sempre temos alguém que compõe e alguém que executa (que pode até ser a mesma pessoa). Composição e performance são dois importantes pilares do mundo da música e dos músicos. A partir daí, conforme o tipo de música, surgem outros especialistas com diferentes funções – maestros, arranjadores, improvisadores, produtores, cantores. Neste projeto vamos deixar de lado esses outros tipos de músicos e suas atividades e vamos nos concentrar no que está envolvido na composição e na execução de uma música. Como combinamos sons, ritmos e palavras para formar uma música? Você já parou pra pensar? É só tentativa e erro? É inspiração? Precisa saber tocar um instrumento? Precisa saber teoria? Afinal, o que temos que saber para criar uma melodia para uma letra? E para fazer uma sinfonia? Um improviso? Muitas perguntas, muitas respostas. Para nós o importante é que você comece a entender as bases do discurso musical, os princípios que orientam os músicos quando compõem ou tocam. Para facilitar esse processo vamos analisar os componentes de uma música sobre três dimensões – ritmo, melodia e harmonia.
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Ritmo e pulsação Para muitos estudiosos e músicos o elemento fundamental da música é o ritmo. É ele que vem primeiro, é ele que fundamenta, dá base e organiza o discurso dos sons. Filosofando um pouco podemos dizer que o ritmo organiza a própria vida, já que ele pode ser encontrado ou percebido tanto em nossos movimentos vitais como cotidianos. As batidas do coração, nossa respiração, nosso caminhar são exemplos clássicos do ritmo atuando. Quando exercemos alguma tarefa manual como lavar louça, varrer o chão, serrar, ou bater um prego geralmente fazemos mediante movimentos regulares e ritmados. A natureza também está repleta de exemplos de atividades ou movimentos com regularidade rítmica. Isso talvez explique a razão de utilizarmos a palavra “ritmo” para definir períodos maiores de tempo ou em situações em que não temos um movimento claro, como, por exemplo, “no ritmo que está este trabalho não vamos terminar nunca”, ou “aos 30 anos minha vida estava num ritmo alucinante”. Vida, movimento e ritmo parecem estar fortemente ligados. Mesmo quem não estudou música sabe que o ritmo tem considerável importância na hora de tocar ou cantar. É senso comum que um bom músico tem que ter “um bom ritmo”, sobretudo em música popular. Uma das coisas que prezamos em uma banda é o balanço, a ginga,
o suingue, termos que significam um ritmo bom, cadenciado, contagiante, balançado. Para quem é músico ou estuda música o ritmo é um assunto constante, independente do estilo ou da complexidade da música. Na música popular os ritmos são bem destacados e normalmente definem os estilos. Para uma música ser samba tem que ter ritmo de samba; o que reúne as valsas em um mesmo grupo é seu ritmo. Poderíamos dar vários exemplos dessa ligação. Mas, de maneira geral, em todas as músicas que servem de base para a dança o ritmo está bem presente e normalmente é executado pelos instrumentos de base, sobretudo os de percussão. Vamos nos aprofundar um pouco mais neste importante elemento da música. Existem diversos tipos de ritmo – regulares, irregulares, simples, compostos, múltiplos de 2 ou de 3... No entanto, em todos os ritmos temos um elemento fundamental que se chama pulsação ou pulso. A pulsação é como dividimos o tempo para fazermos música. Essa divisão é de certa forma aleatória. Ou seja, não há uma pulsação pré-definida para todas as músicas, cada música tem sua própria pulsação. Em nossas vidas dividimos o tempo em horas, dias e semanas e subdividimos em minutos
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Deixe o ritmo te levar e tente bater palmas junto com a música.
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Coloque o CD 1 e ouça a faixa 14, “Eu só quero um xodó”. a ron 2P
Pense numa música rápida, o frevo “Vassourinhas”, por exemplo. Para tocá-la precisamos de um ritmo enérgico, rápido, o que resulta numa pulsação também rápida. Já para tocarmos “Carinhoso”, o famoso choro lento de Pixinguinha e João de Barro, temos
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Na música temos uma organização semelhante. Temos unidades definidas para medir porções de tempo que são relacionadas entre si, como as horas e os minutos. Porém, como dissemos antes, a duração não é pré-definida. Quando compomos ou executamos uma música temos que definir uma das unidades, e assim definimos as outras. Seria mais ou menos como se toda vez tivéssemos que definir a duração do segundo. Como se houvesse vários tipos de segundo, um lento, outro rápido, e ainda um médio. Parece maluco, não? Mas você verá que faz todo o sentido.
A pulsação é isso, uma unidade de medida de tempo de grandeza variável, que se adapta ao caráter e ao ritmo da música.
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Todos nós temos uma noção razoável da passagem do tempo. Ninguém precisa dar maiores explicações quando diz “te vejo daqui a uma hora” ou “vou demorar dois dias pra voltar”, porque essas indicações são precisas. Mesmo que os dias no inverno sejam mais curtos do que no verão, ainda que algumas vezes uma hora pareça uma eternidade, temos relógio e calendário que definem precisamente essas grandezas e não as deixam sujeitas às nossas interpretações. Um segundo, um minuto, uma hora são medidas claras, universais e aceitas por todos. Some-se a isso o fato de que sabemos que um minuto dura 60 segundos, uma hora dura 60 minutos e um dia dura 24 horas.
que diminuir bem o andamento, mudar a pulsação deixando-a mais espaçada e lenta.
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e segundos. Com as pulsações acontece a mesma coisa: podemos agrupá-las ou dividilas. Para explicar a marcação do tempo em música através das pulsações vamos traçar um paralelo com a marcação do tempo em minutos, horas e dias.
Coro
Agora continue a bater palmas e cante a letra. Que falta eu sinto de um bem Que falta me faz um xodó Mas como eu não tenho ninguém Eu levo a vida assim tão só Repare que suas palmas vão cair, ou vão ser batidas, junto com algumas sílabas da letra. Se tudo correr bem, muito provavelmente você estará batendo palmas junto com as sílabas em negrito abaixo. Que falta eu sinto de um bem Que falta me faz um xodó Mas como eu não tenho ninguém Eu levo a vida assim tão só Agora vamos utilizar a faixa 11, “Sôdade”, que é uma canção lenta. Siga o mesmo roteiro que fizemos acima. Você vai reparar que com esta gravação vai ser mais difícil bater palmas no ritmo. Isso é normal, a música é mais lenta e o acompanhamento bem menos marcado. 15
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Ritmo e pulsação Mas confiamos na sua sensibilidade e achamos que você vai conseguir. O resultado deve ser palmas nas sílabas indicadas abaixo. Caiu um cravo do céu Sôdade! De tão alto desfolhou Sôdade! Quem quisé casá comigo Ai sôdade Vai pedi a quem me criô Ai sôdade
Pois bem, as pulsações são as estruturas fixas e básicas do ritmo de uma música. Elas determinam o trilho sobre o qual a música vai correr e nós determinamos sua velocidade, segundo o estilo da música. Falando nisso, em música a “velocidade” da execução se chama andamento. Tradicionalmente o andamento é expresso por termos italianos – andante, allegro, largo, e assim por diante.
Se compararmos as duas palmas veremos que as palmas de “Eu só quero um xodó” são mais rápidas que as de “Sôdade”. Pode parecer óbvio, mas você já tinha pensado nisso?
Um outro elemento básico do ritmo que está diretamente ligado às pulsações é o compasso. O compasso é formado por grupos de pulsações, que se reúnem segundo acentos rítmicos. Difícil de entender? Vamos dar um exemplo para facilitar.
Todo mundo sabe cantar “Parabéns a você”, que é geralmente cantada com todos batendo palmas. Se nós escrevermos a letra de “Parabéns a você” e indicarmos os locais em que batemos palmas ficaria algo assim (palmas indicadas pelas setas):
Parabéns a você
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida
Faça o teste e cante batendo palmas. Você pode reparar que algumas vezes as palmas podem ser acentuadas e que isso causa um efeito bom, musical. Veja.
Parabéns a você
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida
Repare que há um acento que se repete de 3 em 3 pulsações. Esse tipo de acento determina um compasso de três tempos, ou seja, grupos de três pulsações definidos por um acento no começo de cada uma. 16
Os compassos mais comuns são os de dois, três e de quatro tempos. Vamos ver agora um exemplo de compasso de quatro tempos utilizando o nosso Hino Nacional.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante E o sol da liberdade em raios fúlgidos, brilhou no céu da Pátria nesse instante Repare, acentos de 4 em 4 tempos.
As pulsações e os compassos, além da função estrutural, têm uma ligação direta com o estilo e caráter da música, ou seja, com a estética da música. Se vamos tocar um baião não basta só termos uma sanfona, um triângulo e um zabumba, temos que tocá-los no ritmo do baião. E o baião, por sua vez, tem suas características rítmicas que necessitam de uma base de pulsações e compassos específica. Aliás, a base e o ritmo são mais importantes do que os instrumentos típicos. Tanto é que podemos tocar um baião com violão, pandeiro e ganzá, basta que seu ritmo esteja bem definido. Vamos seguir com mais um aspecto importante, que é como efetivamente definimos o ritmo de uma melodia utilizando as pulsações, os tempos e os compassos. Os músicos primeiramente definem uma unidade de tempo. Existem alguns jeitos de se fazer isso, mas vamos apresentar apenas a mais comum de todas, que é quando a unidade de tempo é a semínima. A semínima é representada por um ponto preto com uma haste.
Se tenho um compasso de quatro unidades de tempo, ou apenas “de quatro tempos”, as semínimas ficarão assim representadas na pauta.
Então, na figura acima, temos representado um compasso de quatro tempos, cada tempo ocupado por uma semínima. 1 2 3 4
Podemos dividir a semínima em duas notas de igual tamanho. Esse valor é chamado de colcheia. A colcheia é composta por um ponto preto com uma haste e um braço. Quando estão uma ao lado da outra as colcheias “se dão os braços”, ou juntam suas hastes.
+
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+
= 17
Ritmo e pulsação Podemos agrupar duas semínimas, ou duas pulsações, o que origina uma mínima.
A mínima se parece com a semínima, mas a sua “cabeça” é clara.
Com essas três figuras rítmicas vamos escrever o ritmo de “Parabéns a você”:
Mais adiante, quando falarmos sobre notação musical, você vai aprender mais elementos que irão ajudar a entender o que é ritmo. Agora vamos falar das alturas.
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Sobre Alturas e Afinação Para introduzir o tópico alturas no universo da música utilizaremos um texto da compositora britânica Imogen Holst, que introduz o capítulo “Sons Musicais” de seu livro “ABC da Música”.
“Som é tudo que ouvimos: o tique-taque de um relógio, uma porta batendo, um cão latindo, um carro mudando de marcha na ladeira, o vento nas árvores, uma voz soando no quarto ao lado e outra voz cantando na casa do outro lado da rua. Uma voz cantante tem maior destaque que uma voz falante. Um murmurado ‘onde está você’ pode ser ouvido dentro de um aposento, mas se precisa chegar ao outro lado de um campo, a voz deve ser elevada a um nível mais alto do que o usado em conversação, e as palavras faladas devem ser transformadas num chamado. Cada palavra viaja pelo ar num nível de som alongado e resoluto.
VOCÊ Onde
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está
A elevação da voz ajuda a esclarecer o sentido das palavras, e a resposta ao chamado pode seguir, provavelmente por puro instinto, os dois diferentes níveis de som:
VOU
!
Já Isso é cantar. Cada nível de som claro sustentado é uma nota. A elevação ou profundidade de cada nota é sua altura.” (HOLST, p.3) 19
Este texto ilustra de maneira poética o momento em que a fala começa a virar canto. A autora demonstra como, ao precisarmos de maior volume e propagação da voz, alongamos as vogais e mudamos a entoação. Começamos a cantar. O texto é bom também porque consegue sugerir que os limites entre nossa vida e a música não existem, ou pelo menos não deveriam existir. Como foi dito, ritmos e melodias estão presentes em quase todas as ações humanas. Podemos chegar a conclusão semelhante olhando para a natureza. As marés, os rios e ventos produzem sons, muitas vezes com algum ritmo e diferentes alturas. Dos animais nem se fala: os cantores da natureza são os pássaros e as aves, animais que dominam o ar. Tendo que se comunicar em lugares amplos, os pássaros desenvolveram um jeito de deixar o som alto e inventaram o canto. Com as baleias e golfinhos acontece a mesma coisa. O canto das aves, o canto das pessoas e os sons dos instrumentos têm um importante componente em comum, que é o uso de som com altura definida.
O que significa isso? Significa que determinadas características físicas de um som fazem com que ele possua afinação e possa ser classificado em uma escala musical. Observando a natureza e fazendo experimentos, fomos nos adaptando e
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controlando aspectos naturais do som para fazer música. No aspecto das alturas existem diferentes possibilidades de organização dos sons. Abordaremos brevemente como na música ocidental as alturas são trabalhadas pelo tonalismo, que é um sistema de organização das alturas e escalas musicais. A organização do som em diferentes alturas e a sistematização destas, pela qual nomeamos as notas, é uma adaptação de uma característica natural dos sons para produção de música. O som é um fenômeno físico, seja ele o barulho de um motor ou uma nota tocada por um piano. Os ruídos e barulhos são sons que possuem frequências irregulares, já os sons musicais são formados por frequências regulares, que produzem harmônicos. Os harmônicos são como “sons dentro do som”. Toda vez que ouvimos um instrumento tocando uma nota, essa nota é formada por várias notas – uma nota fundamental e vários harmônicos. Você já deve ter ouvido falar que a luz branca é um composto de várias cores; com o som acontece coisa parecida: um som afinado é um composto de vários sons. O som fundamental é o mais grave e o mais potente, sendo ele quem nomina a nota. Se temos um som fundamental “sol” a nota é chamada de “sol”. Sobre ele, ou acima dele soam uma série de outros sons que estão relacionados ao timbre da nota produzida. Esse tema é um tanto complexo, e como nosso curso é apenas introdutório vamos seguir em frente. Fica a sugestão para quem tiver interesse no assunto procurar em livros ou pesquisar na internet palavras-chave como “som”, “harmônicos”,
“série harmônica”, “tonalismo”. Por ora, o que é importante saber é que esta característica do som afinado, do som com uma altura específica, faz com que ele combine ou não com outros sons afinados. A combinação dos sons pode ser simultânea (no caso dos acordes) ou sucessiva (no caso das melodias). É preciso esclarecer que não estamos falando só de combina/não combina, bonito/feio, mas sim de uma série de sensações acústicas que nos causam uma série de sensações psicológicas – tensão, relaxamento, incômodo, coerência, fluência, resolução, calma, movimento, falta de movimento. Ao longo dos séculos, os músicos aprenderam a controlar as combinações do som para expressar suas emoções. Nesse sentido, o domínio das alturas foi muito importante. Falaremos mais sobre esse assunto quando abordarmos a harmonia. O som fascina a mente dos estudiosos há muito tempo. Assim como em outras áreas do conhecimento ocidental, o estudo do som já era realizado na Grécia Antiga. São atribuídas a Pitágoras as primeiras pesquisas sobre o som, seus harmônicos e os instrumentos musicais. De lá para cá muitos estudiosos, construtores de instrumentos e músicos trataram de desenvolver uma complexa teoria que se baseia nesta característica natural dos sons – a série harmônica – e que originou um sistema chamado de tonalismo. Neste sistema, as notas são organizadas em escalas e acordes, que determinam harmonias e cadências, e há uma tonalidade principal, que determina uma relação hierárquica dos
sons. Em linhas gerais, no tonalismo algumas notas são protagonistas e, assim, têm mais importância do que outras. Por isso, quando ouvimos dizer que uma música está em Fá Maior, significa que a nota Fá passa ser a principal referência na organização daquela música, seguida por uma série de notas que pertencem a uma escala maior. A escolha desta nota, ou desta tonalidade, tem relação com o instrumento ou voz que irá interpretar a música. Por exemplo, quando um homem de voz grave vai cantar “Asa Branca”, ele deve escolher um tom que combine com a sua voz. Isso quer dizer que ele deve conseguir cantar com conforto todas as notas da melodia, desde as mais graves até as mais agudas. Porém, se uma mulher for cantar no mesmo tom do homem, ela provavelmente terá dificuldades com as notas graves, que ficarão fora de sua extensão vocal. Com os instrumentos acontece a mesma coisa: a melodia deve estar em uma região, entre graves e agudos, que seja confortável ou “tocável”.
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Sobre combinar notas
Ébano e Marfim vivem juntos em perfeita harmonia
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Lado a lado no teclado do meu piano Oh Deus, porque nós não? (Ebony and Ivory, Paul MacCartney)
O genial Paul MacCartney utiliza as cores brancas e pretas do teclado de um piano como metáfora contra o racismo. O piano é um instrumento harmônico por excelência, no qual tocamos acordes e melodias que se combinam e se sucedem para produzir música. Se música é a arte de combinar sons, a harmonia é a arte de combinar as alturas. Ela é especialmente importante na música ocidental, sobretudo a partir do Período Barroco, e desde então vem sendo parte fundamental dos elementos que estruturam a música erudita e popular. Quando falamos há pouco sobre combinar alturas, observamos que não são combinações simples, que exprimem antagonismos do tipo feio/bonito ou agradável/ desagradável. Pelo contrário, estamos falando de um quadro muito mais complexo de possibilidades. Esse quadro, no entanto, parte de uma relação simples na qual duas notas são combinadas, e o resultado desta combinação é avaliado como consonante ou dissonante. A partir daí, ao longo da história da música, as combinações foram se desenvolvendo. De duas notas foram aumentadas para três, quatro, ou mais notas, formando acordes e cadências que embasam as grandes obras orquestrais nas quais muitas notas são combinadas simultânea e sucessivamente. 22
Veja numa partitura a diferença entre sons sucessivos, ou seja, melódicos, e os simultâneos, harmônicos.
Repare como podemos “empilhar” os sons e, assim, fazer surgir acordes de vários sons.
Em linhas gerais, as notas tocadas numa melodia devem combinar, ou melhor, harmonizar com as notas da harmonia. Veja um trecho da partitura “Pobre barqueiro” e repare na melodia e nos acordes. Melodia
Acorde
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A harmonia acrescenta um caráter tridimensional à música, confere profundidade. Talvez isto explique o fato de serem comuns as comparações entre as grandes sinfonias e as grandes catedrais. Estudiosos afirmam que as sinfonias são monumentos sonoros tridimensionais, repletos de sons empilhados e enfileirados, timbres e tramas melódicas, que resultam em algo ao mesmo tempo grandioso e cheio de pequenos detalhes, como as antigas catedrais. Não se assuste, não vamos começar falando de grandes obras musicais, sinfonias ou óperas, mas ainda assim vamos manter a analogia com a construção. Assim como na engenharia existem características comuns entre uma catedral e uma casa, na música existem elementos comuns que estão presentes tanto na composição de uma sinfonia como na de uma canção de ninar. São esses elementos que estudaremos. Casas, pontes e prédios são coisas concretas, reais, palpáveis. Mesmo que não tenhamos estudado engenharia ou trabalhado com construção sabemos que, para construir, precisamos de uma base sólida fixada no solo, de colunas e lajes para sustentar o telhado, e de um acabamento que transforma essa estrutura em algo não apenas forte, mas agradável de se ver e de se utilizar. Com uma música também temos elementos básicos estruturais que fundamentam a obra e outros que visam embelezar ou particularizar determinadas características. Então vamos “construir” essa casa de sons. No alicerce vamos colocar os sons graves e os ritmos básicos definidos por uma determinada pulsação e por um tipo de compasso. Para as 24
paredes escolheremos acordes, organizados de forma bem compacta e coerente, que irão fornecer a estrutura para o nosso telhado. O telhado será a melodia, que virá por cima de tudo e será adornada pelos diferentes timbres dos vários instrumentos. Uma das dificuldades em entender a música em relação às outras artes é o seu caráter abstrato. Não temos como “pegar” o som, não temos como parar o tempo e, com calma, examinar um ou dois compassos de uma sinfonia. A comparação com arquitetura tenta lidar com isso – “imagine uma música como uma construção...”. Temos que imaginar, visualizar, já que nossa cultura é muito visual. Nesse sentido aqui vai uma última imagem para ajudar a entender a organização dos sons em uma música. Podemos dividir as combinações dos sons em simultâneas e sucessivas. Assim chegamos a dois planos, um vertical para os sons simultâneos, e um horizontal para os sons sucessivos. O ritmo está exclusivamente vinculado ao plano horizontal. Assim, para haver ritmo é preciso que o tempo passe. As melodias sempre apresentam algum ritmo, estando assim também relacionadas ao plano horizontal. No entanto, as alturas utilizadas nas melodias são determinadas por um contexto harmônico que é vertical. Essa dimensão é definida pelos acordes, que são grupos de sons simultâneos e que, por isso, acabam acrescentando também uma dimensão vertical à melodia. A harmonia é como organizamos os acordes, o que é vertical, e como estes devem ser organizados ao longo do tempo, em cadências, o que é horizontal.
Resumindo: Ritmo – plano horizontal – relação com o tempo Melodia – plano horizontal, alguma verticalidade – relação com o tempo, uso do espaço Harmonia – plano vertical, alguma horizontalidade – relação com o espaço, uso do tempo
Agora vamos falar um pouco sobre como os músicos foram ao longo do tempo “escrevendo os sons no papel”, e o que representam alguns dos símbolos que transferem uma música para uma partitura. Observamos que o intuito aqui é mais facilitar a sua compreensão dos elementos da estruturação musical do que ensinar a ler música.
Sobre a Notação Musical As partituras foram e são muito importantes na divulgação das músicas. Surgidas logo no início do desenvolvimento da música ocidental, por volta do século XIV, permitiram que músicos de toda a Europa se comunicassem transmitindo suas composições. Neste projeto não ensinaremos nem você nem os alunos a lerem música, mas isso não implica em prejuízo algum para nossos objetivos. Acreditamos que o primeiro contato com a aprendizagem musical se deva dar pelos sons e não pelas partituras, sobretudo quando os alunos são crianças ou jovens.
A notação musical é um conjunto de símbolos e sinais que visa fornecer o máximo de informações possíveis para que um músico (intérprete) possa executar uma obra ou arranjo de um compositor. Serve também para registrar uma composição, a fim de que ela não se perca no tempo e possa ser tocada por músicos de diferentes lugares e épocas. No entanto, a notação musical não é perfeita: por mais detalhada que seja, ela não consegue transmitir todas as informações para uma boa interpretação. Esta finalização ou este acabamento fica a cargo do intérprete, que algumas vezes reinventa obras, colocando nelas seu sentimento, seu gosto. 25
No campo da música popular, a eficiência da notação musical é ainda mais questionada. Como um produto artístico oriundo da cultura do povo, a música popular foi ensinada e aprendida pela tradição oral. Jovens músicos aprendiam com os mais velhos e experientes vendo-os tocar. O principal recurso de aprendizado era a imitação. Era não, é! Até hoje o aprendizado “de ouvido”, no qual o músico ouve uma música e tenta tocá-la, é uma poderosa ferramenta de aprendizado da música popular. Por esse motivo a gravação de uma música pode fornecer a um músico todas as informações que ele precisa para aprendê-la. Para muita gente, ler música em uma partitura parece ser algo realmente espantoso, muito complicado mesmo. Tão complicado e misterioso que muitos músicos não sabem ler uma partitura! No entanto, conhecer os princípios básicos que orientam uma partitura pode ajudar no conhecimento da estrutura das músicas. Nossa intenção aqui é esta, que você entenda um pouco sobre a escrita da música para entender melhor a própria música. Vamos conhecer alguns princípios da notação e leitura musical. Para isso vamos utilizar a música “Eu só quero um xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, que vai nos ajudar a exemplificar alguns elementos. Deixe preparado o CD 1 para ouvir o tema junto com a partitura.
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Lendo uma partitura Assim como num texto, numa partitura começamos a ler pelo canto superior esquerdo, seguimos até o final da linha e pulamos para a linha de baixo novamente começando pela esquerda. O detalhe é que a linha das partituras não é única. Para escrevermos música precisamos de cinco linhas, o pentagrama. Falaremos dele mais adiante. Agora vamos ver como seguimos uma partitura. Você pode acompanhar o sentido da leitura na partitura a seguir. Coloque o CD e veja como a letra da música “Eu só quero um xodó” está distribuída na partitura.
Pentagrama As cinco linhas da partitura são chamadas de pentagrama, e nós utilizamos os espaços e as linhas para indicar as alturas das notas. Veja um pentagrama vazio.
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Veja abaixo notas escritas nas linhas.
Clave de sol No pentagrama colocamos uma clave. As claves determinam os nomes das notas. A clave de sol é a mais conhecida e utilizada. Seu símbolo é:
E nos espaços.
A clave de sol indica o lugar da nota Sol no pentagrama. A partir do Sol achamos todas as outras notas. Para cima vamos para o agudo e para baixo para os graves. Veja abaixo.
São cinco linhas e quatro espaços que resultam em nove lugares para escrevermos as notas. Mas temos muito mais notas do que isso. Para isso, utilizamos linhas e espaços suplementares, tanto para o grave como para o agudo. Veja a seguir as linhas na região dos graves.
E dos agudos. Veja e ouça na melodia de “Eu só quero um xodó” que a segunda parte vai bem pro agudo na sílaba “que” do verso – “Eu só quero um amor”. Repare como fica isso na partitura. Veja que a nota marcada pela seta azul é a que ocupa o espaço mais alto, comparado às outras. Logo, ela é a nota mais aguda desta melodia. 28
As notas Altura e Ritmo As notas musicais são compostas por dois elementos, a cabeça e a haste.
Haste Cabeça
A cabeça é posicionada sobre uma linha ou um espaço e indica a altura da nota e a haste
e a distância entre as cabeças indicam sua duração.No pentagrama abaixo todas as notas são Sol, e da esquerda para a direita a sua duração vai sendo reduzida. Repare com as notas vão ficando mais juntas e as hastes vão sendo modificadas.
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Como vimos, o ritmo está vinculado à passagem do tempo. De certo modo ele é como um músico que divide ou agrupa as notas ao longo do tempo. Por isso é uma dimensão horizontal e, como a letra, “corre” da esquerda para direita.
Que falta eu sinto de um bem Que falta mais faz um xodó Mais como eu não tenho ninguém Eu levo a vida assim tão só
Cante a música de Dominguinhos e repare nas sílabas que estão sublinhadas. Elas possuem figuras rítmicas mais longas, demoram mais.
Veja como fica isso na partitura.
Sabemos que pode ser difícil, mas tente relacionar as colcheias*, semínimas e mínimas que vimos mais acima com o ritmo do canto. Utilize a letra como guia. A frase “que falta
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eu sinto” é composta de colcheias; quando chega a sílaba “de”, demoramos uma pouco; finalmente no “bem”, ficamos mais tempo; e daí aparece a mínima, a nota mais longa.
*Relembre colcheias, semínimas e mínimas nas páginas 17 e 18.
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Como utilizar esse material Este livro, os fascículos e os CDs do projeto Música na Escola vão fornecer todo o material necessário para você preparar e ministrar suas aulas. São 15 fascículos (que chamamos de Exercícios) que apresentam em detalhes 33 aulas. Essas aulas são estruturadas sobre 15 músicas, escolhidas para ilustrar elementos e procedimentos da prática musical.
Metodologia O ideal é que as aulas tenham poucos momentos expositivos e muitas atividades. A preocupação maior é sentir, perceber, descobrir. Não estaremos só buscando conceitos ou nomes. Quando tivermos que definir algo, que esta definição se dê por meio de uma discussão na qual todos cheguem a uma conclusão juntos, e não por meio de um texto onde tudo já está pronto e esclarecido. Lembre-se: o som fascina pelo seu caráter abstrato e pelo seu potencial de despertar sensações e sentimentos. A música é uma linguagem universal que todos entendem. Ela também é democrática, no sentido de que meu entendimento pode ser diferente do seu, sem que haja prejuízo nisso. Utilize isso em seu favor e dos alunos. Gostaríamos de destacar dois pontos de nossa metodologia que são particulares do ensino/ aprendizagem musical: a apreciação musical e o uso de playbacks.
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Apreciação musical Podemos ouvir música em diferentes situações e com diversas finalidades. Na história da nossa civilização temos relatos de como a música foi frequentemente empregada em festas, cerimônias, celebrações, guerras e ritos sagrados, independente da cultura ou da região. Nos dias de hoje temos a impressão de que a música nunca esteve tão presente em nossas vidas. Com aparelhos de reprodução sonora cada vez mais sofisticados na qualidade, na portabilidade e na capacidade de armazenamento, ouve-se música em todos os lugares. Os mais jovens então, nem se fala! Alguns conectam um fone de ouvido ao acordar e passam o dia todo assim, ouvindo música. Completando este quadro, a internet nos dá acesso a um universo inimaginável de gravações de todos os tipos de música, produzidas em todos os períodos, a um custo baixo ou completamente gratuito. Por um lado isso é bom: podemos escolher as músicas que queremos ouvir e as ouvimos onde bem entendemos. Por outro lado, no entanto, são raras as vezes em que paramos e separamos um tempo só para ouvir música. Um momento, curto que seja, em que não estejamos indo para algum lugar, fazendo uma atividade qualquer, descansando ou se exercitando – qualquer uma das muitas funções que podemos fazer com um som ligado.
Estamos falando de só ouvir música, ou seja, corpo, mente e alma conectados e atentos a uma música, um som, uma peça específica. Ouvir um disco inteiro sem pular faixas, ouvir uma música longa e diferente, uma sinfonia, um concerto. É interessante notar que, algumas vezes, mesmo quando nos propomos e nos organizamos para ter esse tempo, bem separadinho, bem guardado, falhamos em desfrutá-lo. Vamos assistir a um show e na metade já estamos ficando cansados, aborrecidos, esperando o final. Compramos um DVD de um artista favorito e não conseguimos assisti-lo até o final – paramos para comer, mandar um e-mail, escovar os dentes. Tudo é motivo! Nunca foi tão fácil ouvir música, e nunca foi tão difícil prestar atenção no que está se ouvindo. Sonorizamos nossas vidas e toda música, boa ou má, simples ou sofisticada, passou a ser música de fundo.
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Esta introdução tem o objetivo de preparar o caminho para um momento muito importante de nossas aulas – o momento de ouvirmos as gravações das músicas que foram especialmente selecionadas para este projeto. O termo técnico para este tipo de atividade é Apreciação Musical. Como não poderia deixar de ser, a apreciação musical é uma ferramenta básica e essencial no ensino/aprendizagem de música, podendo ser utilizada em todos os contextos e níveis de aprendizado. Devido a todos os motivos acima citados, porém, temos que ter estratégias para alcançar a primeira meta, que é manter uma classe de crianças e jovens minimamente quieta e concentrada durante os minutos que dura uma canção. Parece fácil? Pois bem, não é! Seguem algumas sugestões para lidarmos com este tipo de atividade. É importante destacar, no entanto, que o trabalho de desenvolvimento de uma audição mais apurada e perceptiva não deve ser focado só na relação ouvido/cérebro. Na verdade devemos nos empenhar em “ouvir com o corpo todo”, sentir vibrações e ritmos, responder aos estímulos sonoros com movimentos, adequar o movimento ao som. Mais adiante iremos propor um “roteiro de escuta” que inclui diferentes formas de se ouvir uma música. 1) Doses Homeopáticas Todo dia, todo encontro, toda aula deve ter um pouco de apreciação musical. Esse momento nunca deve ser excessivamente longo. A medida adequada de tempo pode
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variar muito, conforme a classe, a música e o momento do curso. Uma medida inicial pode ser o tempo de audição de uma música, em torno de 3 minutos. No CD especialmente preparado para este projeto as músicas são um pouco mais curtas, tendo uma média de 2 minutos e meio. É o tempo ideal para iniciarmos. Mas atenção: nas primeiras tentativas até esse tempo pode ser muito longo. Por isso fique atento, sinta a classe, veja se eles estão conectados. 2) É preciso silêncio Sem silêncio não podemos escutar música de uma forma plena. Como a música é a arte de combinar sons, um ambiente silencioso é a condição básica para que ela seja desfrutada. Mas o silêncio pode ser difícil de se conseguir: temos que nos condicionar a isso. Não adianta gritar para pedir silêncio – uma contradição por si só! Por outro lado, para algumas pessoas, sobretudo crianças, pode ser muito difícil se manter quieto por alguns minutos. Não apenas “de boca fechada”, mas quieto também nos movimentos. Faça um acordo com a classe. Diga que para iniciarmos a audição precisamos de 30 segundos de silêncio absoluto. Vá aos poucos aumentando esse tempo. Defina claramente o momento que o silêncio começa e intercale com momentos de descanso, no qual se pode falar e se mexer. Você pode promover “Campeonatos de Silêncio”, dividindo a classe em grupos e vendo qual grupo fica mais tempo sem fazer barulho. Ou individualmente elegendo o “Campeão” ou a “Campeã do Silêncio”. Eles podem achar bacana. Outra ideia é começar
toda aula com um minuto de silêncio, no qual todos se concentram e deixam a sala “limpa de sons”, preparada para a aula. O silêncio para o músico é a página em branco para o escritor, a tela imaculada para o pintor. Mas cuidado: não adianta forçar. Temos que respeitar os momentos e as personalidades. Não vamos ”infernizá-los”! Se alguém realmente estiver tendo dificuldades em ficar quieto, não insista. Como dissemos há pouco, “não adianta gritar”, já que queremos silêncio. Deixe o aluno dar uma volta, tomar um ar. Se for um grupo ou uma classe, comece com tempos muito curtos de silêncio, 10 segundos, por exemplo. 3) Deixe claro os motivos
seu som. Se você for repetir a audição de uma mesma gravação, deixe claro o porquê desta decisão, se é para novamente procurarmos a mesma coisa ou se é com outra finalidade. Quando o aluno sabe o motivo pelo qual está escutando uma gravação, ele se concentra mais facilmente. 4) Roteiro de Escuta Veja uma sugestão de roteiro para a escuta de gravações: A) Avise a classe que em alguns minutos vai começar a audição. Certifique-se de que todos ouviram o recado. Peça para irem se ajeitando e se acalmando.
No momento em que estamos efetivamente ouvindo alguma gravação numa aula de apreciação, estamos realizando uma “audição direcionada” – ou seja, estamos ouvindo uma música para descobrir alguma coisa, com uma finalidade específica. Os alunos precisam saber sempre qual é esta finalidade. Podemos querer saber quais instrumentos estão sendo utilizados, se quem canta é homem ou mulher, quantas partes a música tem, e assim por diante.
B) Diga que você vai contar até três e que a partir daí todos farão 30 segundos de silêncio absoluto, para que a audição seja iniciada.
“Por que estamos escutando esta música agora?” É uma pergunta que os alunos têm que saber a resposta, ainda que a resposta seja que “estamos escutando apenas para conhecer esta canção”. Quando houver algum propósito específico, explique bem qual é este propósito e certifique-se de que todos entenderam. Facilite a vida dos alunos. Por exemplo, se o objetivo for ouvir o som da flauta, converse antes com a classe para saber se todos sabem o que é uma flauta e qual o
(Sim, estamos assumindo que não conseguiremos 100% de silêncio durante toda a audição!)
C) Inicie a audição e vá até o fim. Observe seus alunos. Veja se tem alguém mais agitado, com mais dificuldades em ficar quieto, e tente de alguma forma ajudá-lo. D) Marque por quanto tempo o silêncio é mantido durante a audição, e trabalhe com os alunos para cada vez ele durar mais tempo.
E) Repita a audição e peça para os alunos marcarem com algum movimento corporal as pulsações (marcar com palmas, batidas do pé, movimentos de dança, entre outras formas). F) Repita a audição e peça para todos prestarem atenção na melodia e na letra. G) Sugira ainda uma última audição na qual um instrumento seja escolhido para ser o destaque.
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Sobre o uso dos playbacks No material de apoio está incluído um CD de playbacks. Este termo em inglês significa algo como “o que é tocado embaixo”, “o que fica por baixo”, “o que fica atrás”. Na verdade playbacks são gravações nas quais algum elemento está faltando – pode ser a melodia, o ritmo, a harmonia ou um instrumento qualquer. Os playbacks são utilizados para diversas funções. Um exemplo bem comum é seu uso nos chamados caraoquês, que são aqueles bares nos quais as pessoas vão para cantar. As bases utilizadas para as pessoas cantarem são playbacks, ou seja, gravações que contêm o ritmo e a harmonia, mas não o canto ou a melodia. Outro uso bem comum é em shows. Alguns artistas utilizam em shows ao vivo partes da instrumentação gravadas. Assim, com uma banda com poucos músicos eles podem reproduzir as gravações realizadas em estúdio, feitas com grandes bandas e até orquestras. Às vezes ocorrem exageros – alguns chegam a suprimir toda a banda, fazendo shows apenas com o cantor ou cantora cantando sobre um playback. No ensino de música os playbacks são amplamente utilizados. Para instrumentistas e cantores eles são uma ótima forma de simular uma situação real de performance. Vamos explicar melhor isso. Por exemplo, o playback serve como suporte no treinamento de alguém que 38
esteja estudando um concerto para violino e orquestra. Um concerto para violino é uma peça na qual o violinista é o solista e a orquestra realiza o acompanhamento. Para este violinista estudar a peça ele não terá uma orquestra à disposição, então o playback oferece uma situação bem próxima à que ele viverá quando for ensaiar ou apresentar o concerto. Assim, quesitos como ritmo e afinação podem ser melhor trabalhados. Outro exemplo: na música popular temos o que chamamos de improviso ou solo. Os solistas utilizam as bases gravadas para estudar estes solos e improvisos. O interessante é que podemos fazer uso dos playbacks em todos os níveis de aprendizado. Neste projeto, elaboramos um CD com playbacks que vai auxiliar no aprendizado das músicas, no conhecimento dos sons dos instrumentos e também para realizarmos exercícios diversos. São 32 faixas, sendo que 15 delas são as músicas propriamente ditas, das quais retiramos a melodia cantada para que você e os alunos possam cantar sobre as bases. Na verdade, colocamos um clarinete tocando a melodia cantada pela voz para servir de guia. Nas outras 17 faixas “isolamos” alguns instrumentos, para que fique claro qual é o som de cada um deles. E por fim, conforme a situação, utilizaremos os playbacks para realizar alguns exercícios práticos com ritmos e melodias.
A seguir uma tabela com a relação das músicas do CD II, o tipo de playback e seu uso principal. Gostaríamos de ressaltar que “uso principal” é uma das formas de se utilizar a faixa. Podemos e devemos, com o decorrer do curso, propor outras atividades que se utilizem dos playbacks. Faixa
Título
Tipo
Uso
1
O trenzinho do caipira
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
2
Boi-Bumbá/Dona Maria Tereza
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
3
Boi-Bumbá/Adeus Princesa
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
4
Lundu do tropeiro
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
5
Luar do Sertão
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
6
Menino, vá dormir
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
7
Roda
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
8
Romance do Antoninho
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
9
Sebastiana
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
10
Pobre barqueiro
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
11
Sodade
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
12
Chotes
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
13
Boiadêro
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
14
Eu só quero um xodó
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
15
Que casa é essa
Playback sem as vozes
Treinar a melodia
16
Violão, Flauta e Clarinete
Sons dos instrumentos
Aprender o som
17
Clarinete
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
18
Flauta
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
19
Violão
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
20
Violão e Fagote
Sons dos instrumentos
Aprender o som
21
Fagote
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
22
Violão
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
23
Piano, zabumba, triângulo, caixa, ganzá
Sons dos instrumentos
Aprender o som
24
Piano
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
25
Ganzá
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
26
Caixa
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
27
Triângulo
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
28
Zambumba
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
29
Piano, clarone, sax alto, pandeiro
Sons dos instrumentos
Aprender o som
30
Clarone
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
31
Pandeiro
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
32
Sax Alto
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
33
Piano
Sons dos instrumentos
Descobrir o som
34
Boiadêro + ganzá
Sons dos instrumentos
Aprender o som
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É muito importante que as músicas sejam cantadas pelos alunos. O ideal é que toda aula tenha um momento de cantoria. Como roteiro básico, primeiramente eles devem cantar com a gravação completa, ou seja, com base e vozes, e depois com os playbacks. Isso pode ser feito com a classe toda, ou com a classe dividida em grupos e até individualmente. É difícil estabelecer uma medida que indique quantas vezes temos que repetir cada parte do processo. Como você irá perceber, as músicas apresentam diferenças consideráveis de tamanho, de complexidade da melodia e da letra. Assim, alguns temas os alunos aprenderão rapidamente e outros precisarão de mais tempo.
40
As aulas Duração média: 50 minutos.
As aulas são subdivididas em atividades. Cada aula tem em média 4 atividades de aproximadamente 10 minutos cada uma. O nível, a idade e o número de alunos de uma classe são fatores que ajudam a determinar o tempo de cada atividade. Como as classes são mistas, esses fatores podem variar e isso terá um impacto nos tempos sugeridos das aulas e das atividades. Por este motivo você tem autonomia para aumentar ou diminuir o tempo de uma atividade de acordo com o rendimento da classe.
As atividades Como dissemos, as aulas são subdivididas em Atividades. Elaboramos sete tipos diferentes de atividades que levam aproximadamente 10 minutos. São elas:
Grande pausa Vamos ouvir Vamos cantar Vamos batucar Discussão Leitura de textos Exercícios Experiências
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As aulas As atividades sempre vêm escritas em destaque, com uma indicação do seu posicionamento nas aulas (1ª Atividade, 2ª Atividade, etc.). Também trazem a indicação do tipo (Grande pausa, Vamos ouvir, Vamos cantar, etc.) e da duração de minutos em um círculo que imita os ponteiros de um relógio. Veja alguns exemplos a seguir:
1ª Atividade
10
Vamos cantar e Discussão
3ª Atividade
10
Leitura e Exercícios
4ª Atividade
15
Vamos cantar
Assim como o tempo das aulas, o tempo que definimos para cada atividade é uma sugestão e, por isso, pode variar consideravelmente. Afinal, não sabemos a quantidade de alunos de cada classe e muito menos como os alunos vão responder às propostas.
42
Utilize sua percepção para determinar o tempo de cada atividade. Você deve conhecer a classe e saber se eles estão ansiosos ou entediados para determinar o prolongamento ou o fim de algum exercício. Vamos agora detalhar cada uma dessas atividades.
Grande pausa Nas obras sinfônicas existem momentos em que o compositor quer que todos parem de tocar. Ele quer silêncio absoluto. Assim, nas partituras dos músicos aparece a sigla “G.P.”, que significa Grande Pausa. Nesse momento ninguém toca, nem canta e nem se mexe. Silêncio é a ausência completa de sons, e movimento gera vibração no ar, que produz som ou ruído. Então na Grande Pausa temos realmente que “parar”. Sabemos o quanto pode ser difícil manter uma criança ou jovem parado por algum tempo, quanto mais em uma classe. Então este momento deve ser treinado. Mas cuidado: não podemos passar ideia de imobilidade, mas sim de relaxamento. A nossa Grande Pausa deve ser feita para meditar e relaxar, nunca para ficar mudo e imóvel. Seguem algumas instruções para esta atividade:
Deixe claro para os alunos que fazer silêncio é um exercício, que deve ser treinado e melhorado.
um curso de música. Pois bem, saber ouvir é o começo da Apreciação. Temos que ouvir primeiro para depois refletir sobre o que ouvimos.
Diga a eles que estamos buscando um silêncio total. A ideia não é só um silêncio de palavras, no qual ninguém fala, mas também um silêncio de movimentos, no qual corpo e mente relaxam.
Aqui vão duas sugestões: Sempre que houver uma atividade “Vamos ouvir”, ela deve ser iniciada com uma “Grande Pausa” de pelo menos 30 segundos de silêncio.
Isso pode ser muito difícil para algumas pessoas, sobretudo crianças. Seja paciente e razoável, não exija muito. Temos muitas aulas para trabalhar!
Se durante a audição o silêncio for quebrado de maneira considerável, interrompa a audição, volte pro silêncio e comece tudo de novo. Aproveitamos a explicação da atividade “Vamos ouvir” para comentar sobre os CDs.
Comece pedindo tempos curtos de silêncio, 10 segundos, 30 segundos, e vá progredindo.
Os CDs
Depois de algumas aulas inclua de forma fixa no seu roteiro de aula a “Grande Pausa”. Comece toda aula com ela.
Preparamos dois CDs que completam o material para as aulas. As músicas foram arranjadas pelos maestros Nailor Azevedo, o “Proveta”, e Edson José Alves. A maioria delas são temas extraídos do nosso folclore pela musicista e pesquisadora Ermelinda Paz, mas também há clássicos como “Eu só quero um xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, e “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense.
A Grande Pausa é a única atividade que não tem seu espaço determinado em todas as aulas. Você deve incluí-la aonde achar pertinente. Sugerimos que aconteça no início da aula, mas você pode mudar este lugar.
A utilização das gravações nas aulas é indicada pela seguinte imagem: m
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A audição é a principal ferramenta de aprendizado para quem quer estudar música. Passe claramente essa noção para seus alunos. Diga também que ouvir está direta e intimamente ligado à capacidade de fazer silêncio. Já falamos sobre a “Apreciação musical” e sua importância em
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Vamos ouvir
43
A imagem do CD que deve ser utilizado, à direita a faixa escolhida e o nome da música. Veja abaixo outro exemplo no qual o CD escolhido é o 2, de playbacks, a faixa escolhida é a mesma mas existe uma indicação de minutos – chamamos de minutagem. Esta indicação será utilizada toda vez que quisermos que você toque um trecho específico e não a música inteira. No exemplo abaixo está indicado que aos 20 segundos da gravação começa o 1º tema. va
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Faixa 2 – Boi-bumbá/ Dona Maria Tereza 0’20’’ | 1ª exposição do tema
Vamos cantar Já está comprovado como a utilização do canto pode trazer benefícios no desenvolvimento da percepção auditiva das pessoas. É através do canto que treinamos nossos ouvidos, ou melhor, nossa capacidade de ouvir. Não estamos aqui falando do canto profissional, feito por cantores que possuem técnica e estudam para isso. Estamos, sim, nos direcionando para usar a voz para medir nossa capacidade de afinar, ou seja, reconhecer as alturas. Em toda aula há um momento em que o canto deve ser utilizado. É importante dizer que muitas pessoas têm vergonha de cantar e praticamente “travam” se demandarmos que cantem. Novamente é preciso paciência – não podemos deixar essas pessoas expostas, ao mesmo tempo em que não podemos deixar que elas se “escondam” e passem o curso
44
todo sem cantar. Realize o canto coletivo e vá progressivamente reduzindo o tamanho dos grupos até trios, duos e voz solo. Mescle alunos que cantam bem com outros que nem tanto. Algumas pessoas com boa afinação salvam um coral! Assim como em “Vamos ouvir”, para iniciarmos a atividade “Vamos cantar” precisamos de silêncio. Os dois CDs que acompanham este material servem, sobretudo, para dar apoio ao canto. Como você já sabe, no CD 1 a música está completa, com todos os instrumentos e vozes, e no CD 2, chamado de playback, temos apenas instrumentos. Como regra geral você deve iniciar o canto de uma nova música sempre com o CD 1, assim as vozes gravadas vão dar suporte para seus alunos. Repita isso algumas vezes e em seguida tente cantar com o CD de playback.
Discussão Toda vez que vamos abordar um novo assunto ele deve ser apresentado na forma de uma discussão. A ideia é apresentar novos conhecimentos de uma forma participativa e não simplesmente de modo expositivo. Por exemplo, ao falar das alturas comece perguntando: “Alguém sabe o que é um som agudo?”, “Quem me dá um exemplo de som grave?”, “Grave é a mesma coisa que grosso?”, e assim por diante. Após algum tempo de perguntas e respostas é que você vem com a informação precisa que define o conceito em questão.
Leitura de texto
Vamos batucar
Algumas aulas vão ter algum texto pra ser lido e discutido. Consideramos esta atividade ligada à atividade anterior na medida em que todo texto lido deve ser discutido, e que toda discussão tem um texto que a fundamenta e explica.
Batucar aqui significa tocar alguns ritmos. Marcar o tempo e reproduzir alguns ritmos coletivamente são os principais objetivos dessa atividade. Não faremos isso em todas as aulas, já que algumas músicas possuem um acompanhamento que não comporta batucadas ou percussões. Estamos cientes de que você não possui instrumentos de percussão, e muito menos sua escola. Por isso, as atividades do “Vamos batucar” serão realizadas ou com o corpo – voz, palmas e pés – ou com instrumentos de sucata.
A leitura pode e deve ser feita pelos alunos. Algumas vezes indicamos que você peça para algum aluno ler um determinado texto, mas você pode variar e escolher como isso pode ser feito.
Exercícios Os exercícios foram elaborados para serem feitos em sala de aula, são bem variados e podem ser coletivos ou individuais. O ideal é que você misture as duas coisas, fazendo alguns exercícios individualmente com alguns alunos e coletivamente com grupos maiores e com toda a classe. Novamente vale dizer que o tempo de cada exercício pode variar segundo o tamanho e rendimento da classe.
Experiências As experiências são uma categoria de exercícios, no entanto, são geralmente coletivas e necessitam de alguma preparação por parte do professor. Algumas delas precisam de um material específico – uma bacia com água, garrafas vazias, sucata. Ao iniciar um novo capítulo veja se ele não contém alguma experiência e fique preparado!
As partituras Você vai encontrar partituras de todas as músicas trabalhadas. Sabemos que você não é músico e que provavelmente não sabe ler uma partitura. No entanto, incluímos as partituras de todas as músicas a fim de deixar o material completo e no caso de alguém saber tocar um pouco de música. Vale dizer que se utilizar as explicações que demos anteriormente sobre a escrita musical e fizer uma escuta atenta, olhando para a partitura e seguindo pela letra todas as músicas, você pode aprimorar o seu entendimento sobre as músicas e como elas são representadas no papel. São três tipos de registro para cada tema: Letra, melodia e harmonia Letra e cifras Letra
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Agora é com vocês Esperamos que este percurso seja enriquecedor para você e seus alunos, e que todos saiam dele conhecendo um pouco mais de música. Se você tiver qualquer dúvida, entre no site da Orquestra Brasileira de São Salvador (http://obss-mus.com.br/). Lá você encontra notícias da orquestra e pode baixar diversos materiais sobre música. Nós estamos sempre à disposição! Boa jornada!
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Exercícios cadernos/fascículos 1.
O trenzinho do caipira
2.
Boi-Bumbá/Dona Maria Tereza
3.
Boi-Bumbá/Adeus Princesa
4.
Lundu do tropeiro
5.
Luar do Sertão
6.
Menino, vá dormir
7.
Roda
8.
Romance do Antoninho
9.
Sebastiana
10.
Pobre barqueiro
11.
Sodade
12.
Chotes
13.
Boiadêro
14.
Eu só quero um xodó
15.
Que casa é essa
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Créditos Os textos e aulas descritos neste material foram elaborados por Zé Alexandre de Carvalho, professor titular da Faculdade de Música da Universidade de Campinas (Unicamp). Seleção e edição das histórias feitas por Kiara Terra. A supervisão foi realizada por Fabiana Marchezi, a coordenação por Elaine Marin e assistência de Henrique Nakagawa, a revisão por Caroline Mazzonetto, o projeto gráfico e a diagramação foram desenvolvidos por Bárbara Scodelario. As ilustrações são de Sília Moan. O repertório do CD que orienta as atividades foi escolhido por Daniel Reginato, bacharel em Composição Erudita pela Universidade de São Paulo (USP), e Nailor Azevedo “Proveta”, renomado músico da cena instrumental brasileira e diretor artístico da Escola do Auditório Ibirapuera. Os arranjos foram feitos por Edson Alves e Nailor Azevedo “Proveta”, que também assina a direção musical do CD. A locução de apresentação dos instrumentos é de Giselle Fulanetto. Todo material de áudio foi gravado no estúdio Outra Margem por Paulo Lepetit, gravado e mixado por Homero Lotito no Reference Studio.
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Anotações
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