Ministério da Cultura e BASF apresentam
Oficinas de educação musical vol. 1 1
Aos integrantes da
Orquestra Brasileira de São Salvador Olá, alunos e alunas Estamos começando mais uma fase de atividades. E nesta fase fará parte do seu percurso de estudos realizar uma coisa muito bonita e muito importante: ensinar. Você vai poder ensinar para algumas crianças um pouco daquilo que aprendeu com seus professores. Isso é bonito e importante por diversos motivos. Um professor muito sábio disse, certa vez, que a gente aprende por amor e ensina por gratidão. Entenda essa nossa proposta como uma etapa essencial do percurso do seu aprendizado. Todos nós, professores e gestores da Orquestra, acreditamos que essa breve experiência será muito importante para cada um de vocês. Faça bom proveito dela. Leve-a muito a sério. Divirta-se.
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Do que se trata esse material? Esta apostila tem o objetivo de orientá-lo na realização das Oficinas de Educação Musical que serão realizadas nas escolas públicas de Salvador e Camaçari, conforme grade que lhe será entregue posteriormente. Você poderá sugerir em qual escola gostaria de realizá-las. Você deve realizar pelo menos 3 oficinas como parte das suas atividades neste ano de estudo. Este material deve ser lido atentamente e estudado para que você tenha sucesso nesta nova, difícil e gratificante tarefa de ensinar música. Nessa apostila você receberá dois grupos de 3 oficinas cada. Grupo 1 -Oficina 1 - Jogos do Silêncio -Oficina 2 - Sinfonia de Surpresas Sonoras -Oficina 3 - Tempestade na floresta
Grupo 2 -Oficina 1 - “O meu tempo” ou “O tempo interior” -Oficina 2 - “O tempo do relógio” ou “o tempo métrico” -Oficina 3 - “O nosso tempo” ou “o tempo pulsante”
Os roteiros foram pensados para que você se imagine numa sala de aula.
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Ao lê-los, você se sentirá dentro da sala de aula. É um passo a passo para você que está começando, ao mesmo tempo em que contém dicas preciosas e práticas. Preste muita atenção nelas. É claro que, com o tempo e com a experiência, cada um de vocês fará a elas suas próprias contribuições. Mas, nesse momento inicial da formação de vocês, jovens educadores, nós acreditamos que elas serão uma boa receita a seguir. Pensem como jovens cozinheiros: no começo, a gente segue algumas receitas, aprende com quem sabe fazer. Depois, a gente mesmo cria nossas próprias receitas, não é mesmo? A faixa etária, ou seja, idade das crianças escolhidas, também foi pensada para que você se sinta à vontade em realizá-los. As crianças de 6, 7, e 8 anos adoram aprender! E como elas são novinhas e ainda não tiveram tempo de aprender muitas coisas, certamente você terá muito a ensinar a elas. Pensando ainda na sua vida profissional futura, saber dar aula é uma excelente alternativa de trabalho para os músicos. Ensinar o que se sabe a outras pessoas é uma das tarefas mais bonitas e mais importantes que podemos assumir. Dá pra imaginar um mundo sem mestres? Um mundo em que ninguém ensinasse nada pra ninguém? Boa sorte!
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Introdução Algumas coisas que você precisa saber para realizar as oficinas: 1. A música é uma combinação de sons e silêncios. 2. Aprender a escutar sons e silêncios é fundamental para nossa educação, para se fazer música e para se viver bem. 3. Aumentar a percepção auditiva e musical através de exercícios que estimulem seus alunos será uma de suas tarefas. 4. A utilização da voz e do corpo também é fundamental para que incorporemos e entendamos a música. Ela também estará sempre presente como estratégia e objetivo das oficinas. 5. A outra tarefa destas oficinas é ensinar às crianças uma noção das propriedades do som aqui descritas. 6. Você deve ter muita clareza sobre estes conceitos, pois eles são a base teórica da sua aula. Lembre-se sempre que ninguém ensina aquilo que não sabe.
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Índice
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Propriedades do som Apresentação Apresentando seu instrumento
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Grupo 1
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Oficina 1
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Introduzindo o assunto Tema da aula Aplicação Finalização
18 19 22 23
Oficina 2
24
Introduzindo o assunto Tema da aula Finalização
26 27 30
Oficina 3
32
Introduzindo o assunto Tema da aula Finalização
34 35 41
Grupo 2 Introduzindo o assunto
42 44
Oficina 1
48
O meu tempo ou o tempo interior
50
Oficina 2
54
O tempo do relógio ou o tempo métrico
56
Oficina 3
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O nosso tempo ou o tempo pulsante
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Bibliografia Equipe Anotações Partituras
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Propriedades do som Altura, Duração, Intensidade e Timbre Altura Um som pode ser grave ou agudo, dependendo da freqüência de suas vibrações por segundo. Quanto menor for o número de vibrações por segundo (Hz), ou seja, quanto menor a freqüência da onda sonora, mais grave será o som, e vice-versa. O pio de um pássaro é agudo, o som de um trovão é grave. Um violino produz sons agudos, ao passo que um contrabaixo produz sons graves. Não confunda altura com volume!!!
Na partitura, a altura é definida pela nota e sua posição na pauta.
Duração Um som pode ser medido pelo tempo de sua ressonância e classificado como curto ou longo. Exemplos: a madeira produz sons curtos, ao passo que metais produzem sons que vibram por mais tempo. Na partitura, a duração é definida pela figura rítmica.
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Intensidade Um som pode ser medido pela amplitude de sua onda e classificado como forte ou fraco. Alguns materiais produzem sons fracos, outros, sons mais fortes. Mas a intensidade de um som pode variar de acordo com a força do ataque. Exemplo: você pode tocar um tambor, sons com diferentes intensidades, forte, médio e fraco. Na partitura, a intensidade é definida pelos sinais de dinâmica, por exemplo, fff (fortíssimo) ou ppp (pianíssimo).
Timbre É a característica que diferencia, ou “personaliza” cada som. Também costumamos dizer que o timbre é a “cor” do som. Depende dos materiais e do modo de produção do som. Exemplos: o piano tem seu próprio timbre, diferente do timbre do violão, assim com a flauta, e a voz de cada um de nós. Na partitura, a escolha do instrumento, ou instrumentos que serão usados determina o timbre que iremos escutar. Tendo esta base teórica firme, siga o roteiro da oficina.
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Apresentação 10 minutos Bom dia pessoal, tudo bem? Dica 2: Espere que eles respondam. Se não responderem, repita dizendo, por exemplo: “Não escutei...Bom dia pessoal, tudo bem?” Se houver um grupinho ou alguém mais agitadinho, olhe bem para eles, tranquilamente, e espere que se aquietem.
Eu sou fulano(a), tenho xx anos e queria contar uma história para vocês. Quando eu tinha uns 10 anos, veio um pessoal na minha escola para dar umas aulas de música. Eu gostei tanto do assunto que comecei a estudar e hoje faço parte de uma orquestra. Quem sabe o que é uma orquestra? (respostas)
Quem já viu uma orquestra? (respostas) Dica 3: Às vezes ficamos ansiosos para começar logo o assunto da aula, ou estamos nervosos, e não damos tempo para que as crianças respondam. Não tenha pressa. Espere que elas respondam cada pergunta e ESCUTE DE VERDADE. Sempre! Afinal, se você perguntou, deve querer saber! Aí você estabelecerá um vínculo com elas. Nesta idade, é muito importante que a criança fale sobre suas próprias experiências e sinta que está sendo ouvida, e você já estará captando impressões importantes para entender a turma.
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Quem já escutou o som de uma orquestra? (respostas)
Quem conhece alguém que toca numa orquestra?
Dica 1: Crianças adoram histórias. Fale em alto e bom som, pausadamente, buscando o olhar de cada criança.
Dica 4: Se, por outro lado, começar uma confusão com todos falando ao mesmo tempo, levante o braço pedindo silêncio com calma, mas com firmeza. Combine com eles que é preciso levantar a mão para falar, para que todos possam ouvir e falar, numa conversa coletiva. Garanta que a pergunta seja ouvida por todos.
(respostas)
Quem sabe os instrumentos que tem na orquestra? (respostas)
E, para terminar, quem adivinha o instrumento que eu toco? Eu toco (flauta), e trouxe-a para mostrar para vocês.
Observação: o ideal é que você esteja com seu instrumento. Se isso não for possível, mostre uma foto de você tocando, ou uma foto da orquestra, ou o desenho de uma orquestra, ou mesmo do seu instrumento.Se você preferir, leve qualquer outro instrumento com você.
Dica 5: Se alguém estiver disperso, ou conversando, você pode intervir (delicadamente) da seguinte forma: Oi, tudo bem? Qual o seu nome? Então, fulano, você escutou a pergunta da sua colega? Quer fazer alguma pergunta, também?
Apresentando seu instrumento Comece mostrando as partes do instrumento, por onde sai o som, onde você aperta, ou assopra etc. Fique na posição de tocar, concentre-se por um instante e comece a tocar buscando o olhar de cada criança, passeando pela sala (se o instrumento permitir) aproximando-se de um ou outro, tocando trechos rápidos ou lentos, fracos e fortes, explorando a tessitura como se tivesse se aquecendo. Termine com uma melodia conhecida, pode ser Sambalelê, que será usada nesta oficina, ou algo que você domine bem. Observação: outra alternativa, que vai depender muito do seu jeito, é entrar na sala, dar bom dia, montar o instrumento calmamente, sem falar nada, ficar na posição, se concentrar e começar a tocar, criando uma expectativa, para depois fazer a conversa.
Dica 1: Ensaie isto em casa. É o seu show, curta este momento de solista. As crianças são platéias muito generosas. É a sua apresentação, e a partir dela, garantirá a empatia e o interesse das crianças, que ficarão encantadas com a mágica que é saber dominar e tocar um instrumento.
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Oficinas
Grupo 1 Os exercícios propostos nesse grupo de oficinas são baseados no conceito de Paisagem Sonora do músico e professor canadense Murray Schafer.
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Oficina 1
“Jogo do Silêncio” Material: Seu instrumento. Som/silêncio: + Escuta Ativa + Parâmetros do Som+ Canto (Sambalelê).
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Introduzindo o assunto Silêncio + som (5 min)
Dica 1: Se estiver numa sala de aula, você pode fazer uma roda nesta hora. Se achar que vai bagunçar, deixe para depois.
Bom, agora que vocês já me conhecem, já sabem o que eu toco, e eu já conheço vocês, o que será que eu vim fazer aqui? (espere sempre as respostas)
É isso aí, vim dar uma aula de música para vocês... E a música é feita do quê? (respostas)
E os silêncios, fazem parte da música também? Claro que sim... às vezes temos silêncios entre uma nota e outra, às vezes um instrumento fica em silêncio esperando a sua vez de tocar...
Dica 2: Crianças desta idade adoram desafios!
(bole exemplos rápidos, mostre as pausas numa partitura, peça que alguém cante algo e mostre as pausas)
Então para fazer música, além de saber tocar, tem que saber fazer silêncio também? Ah, essa parte é fácil...será? Então eu vou lançar um desafio! Quero ver se a gente consegue fazer silêncio aqui! (voz de desafio)
Quando eu fechar as mãos assim... (faça um gesto de regência de pausa com as duas mãos)
...quero ouvir o SILÊNCIO ABSOLUTO... atenção...vai começar!!
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Tema da aula Escuta ativa + parâmetros do som (20 min) Exercício 1 - Exercitando o silêncio Através de um gesto de regência, você deve desafiá-los a ficar em silêncio e marcar o tempo num relógio ou contando mentalmente. Comece com 10 segundos, depois 30, até chegar em 1 minuto. Muito bem! Agora eu vou falar já, e quero que vocês façam silêncio de olhos fechados! Espere o silêncio, e, aproveitando este momento de concentração, abaixe o tom de voz, mude a intenção da fala de maneira a soar misterioso e questione, quase sussurrando, pedindo para que eles continuem de olhos fechados:
Dica 1: Enquanto fala e dá as pausas, aproveite e faça o exercício com eles, captando sons para estimulá-los caso eles tenham dificuldade.
Será que existe SILÊNCIO ABSOLUTO mesmo, ou vocês estão ouvindo sons que vêm de outros lugares, ou mesmo daqui da sala? Mantenham-se assim, olhos fechados e silêncio, mas agora, “de ouvidos bem abertos”... (continue sussurrando, criando um clima, uma nova atmosfera na sala)... faz de conta que vocês escutaram um barulho à noite no escuro e ficaram assustados...tentem ouvir tudo...sons longe...pausa... sons perto... pausa ...sons da natureza... pausa ...sons da escola... pausa ...sons da rua... pausa ...sons da sala... pausa ..sons do corpo... (Interrompendo)
- E aí? O que ouviram? (Respostas)
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Tema da aula Escuta ativa + parâmetros do som (20 min) Exercício 2 - O Jogo do Silêncio Dica 1: Este é um excelente exercício de escuta para todos, inclusive você. Leve-o a sério. Faça-o junto com eles. Vão aparecer algumas risadinhas, ou tosses propositais. Ignore, mantendose concentrado e surpreendaos, comentando sons que eles não haviam percebido, estimulando-os a fazer o exercício cada vez melhor.
O exercício consiste em ficar em silêncio de olhos fechados por um tempo observando os sons. Faça-o algumas vezes, marcando 30 segundos ou 1 minuto, e entre cada exercício peça que alguém levante a mão e comente o que escutou. Repita o exercício por 4 ou 5 vezes. Você pode ir mudando o foco: Só sons da natureza. Só sons da escola. Só sons de máquina. Só sons perto. Só sons longe. Sons de vozes. Muito bem! Então, agora que estamos de ouvidos bem abertos, vamos usar o nosso corpo e a nossa boca?
Dica 2: Pode ser legal usar a lousa e fazer uma tabela com colunas com cada tipo de som .
Convide as crianças a formarem um círculo, afastando as carteiras. Quem consegue imitar um som que ouviu no nosso jogo do silêncio? Pode usar a voz, o corpo, bater em algum objeto... Dica 3: Se ninguém começar...você começa, ok?
Quem quer começar levante a mão! Como você chama? Bom, a Maria vai começar e vocês vão adivinhar! Agora comece a intervir, introduzindo os parâmetros do som. Os parâmetros do som: Duração, Intensidade, Altura, Timbre. Adivinharam? Muito bom!
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Dica 4: É importante para a criança que o professor diga seu nome e se dirija a ela pessoalmente.
O som feito pela Maria foi: Aguuudo (fale bem fininho)? Altura
Graaaaave (fale bem grosso)? ou Médio (fale numa altura média)?
Duração
É looooooooooooooongo? (exagere muuuuito) Curtinho? pá! (seco) Ou médio? É forte? ( faça um barulho. Por exemplo, bata o pé, junto com uma palma e um grito pá! dando um susto em todos)
Intensidade
Fraquinho? (faça algo realmente muito baixo, como por exemplo, se coçar) Ou médio? E o tipo do som?
Timbre
É metálico? Estridente? Suave? Raspado? Arranhado? Aveludado? Parece produzido por uma corda, por um tambor, por uma madeira? Repita o exercício com outras crianças. Bom, agora que já sabemos que a música tem som e (faça uma pausa) silêncio, tem graves, médios, agudos, fortes, fracos, longo, curto, metálico, aveludado,(faça isso brincando com sua voz) vamos cantar uma canção utilizando todos estes recursos que aprendemos para torná-la ainda mais interessante.Quem conhece a música que eu toquei na flauta no começo da nossa aula? É o Sambalelê! Vamos cantá-la? 21
Aplicação Aplicando os conceitos na canção (15 min) Como ensinar uma canção: 1. Cante a canção inteira 2. Cante a primeira frase e os alunos repetem como um eco Samba lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada (eco) 3. Cante a segunda frase e os alunos repetem como um eco Sambalelê precisava é de umas boas palmadas (eco) 4. Cante as duas primeiras e os alunos repetem: Sambalelê tá doente, tá com a cabeça quebrada Sambalelê precisava é de umas boas palmadas (eco) 5. Repita o processo com o resto da canção: Samba, samba, samba, olelê (eco) Pisa na barra da saia, olalá (eco) Samba, samba, samba, olelê Pisa na barra da saia, olalá (eco)
SAMBALELÊ (Cantiga do repertório de brincadeiras tradicionais da infância) A
E
E
A
SAMBALELÊ TÁ DOENTE, TÁ COM A CABEÇA QUEBRADA A
E
E
A
SAMBALELÊ PRECISAVA É DE UMAS BOAS PALMADAS A
E
SAMBA, SAMBA, SAMBALELÊ E
A
PISA NA BARRA DA SAIA Ô LALÁ
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Finalização (10 min)
Após ensinar a canção aos alunos, cantá-la explorando os parâmetros: 1. forte e fraco, um trecho forte outro fraco. (intensidade) 2. rápido, devagar, metade rápido, metade devagar. (duração) 3. grave, agudo, alternando. (altura) 4. alternando timbres, como voz normal e voz anasalada. (timbre)
Use o silêncio, regendo uma pausa longa entre as frases, por exemplo. Termine a aula em roda, cantando a canção de maneira bonita e diminuindo o volume. Peça para que eles façam comentário e faça seus comentários também. Sugira que eles brinquem do Jogo do Silêncio na escola ou em casa. Se quiser, como toque final, toque a canção novamente no seu instrumento para terminar. Antes de ir embora, lembre-se de dizer: Antes de ir embora, gostaria de agradecer a vocês por me receberem aqui na escola. Foi muito gostoso estar aqui hoje. Vocês são muito inteligentes e, com certeza, vão aprender tudo aquilo que quiserem. É importante que as crianças recebam dos adultos esse tipo de mensagem. Elas costumam acreditar naquilo que os adultos dizem. Por isso, sempre que possível,elogie seu desempenho e diga coisas legais sobre elas. Se você tiver Facebook, Twitter ou MSN e achar que deve deixar o seu endereço com as crianças, escreva na lousa.
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Oficina 2
“Sinfonia de Surpresas Sonoras” Material: Seu instrumento + 1 foto + caixinha de surpresas sonoras. Escuta Ativa: + Parâmetros do Som + Composição Coletiva + Regência.
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Introduzindo o assunto Silêncio + som (5 min) Bom, agora que vocês já me conhecem, já sabem o que eu toco, e eu já conheço vocês, o que será que eu vim fazer aqui? (espere sempre as respostas). É isso aí, vim dar uma aula de música para vocês... Na verdade, eu vim formar uma orquestra com vocês! Então vamos lá! Quem toca violino levanta a mão! (imite o gesto e o som do violino)
Quem toca trombone? (imite o gesto e o som do trombone) Bateria? (idem) Ninguém toca nada? Ah, você toca na igreja? Trouxe o teclado? Não? Como vamos fazer? Já sei! Vamos criar uma Orquestra de Sons-Surpresa! E para isso, então, gostaria de apresentar a vocês a minha Caixinha de Surpresas Sonoras!!
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Tema da aula Escuta ativa + regência Sinfonia de Surpresas Sonoras (35 min) Suspense... invente um texto ou improvise, usando o texto abaixo como inspiração: Esta caixa contém a minha coleção secreta de timbres estranhos, sons esquisitos, sons inesperados, sons bizarros, feitos por objetos raros e comuns, pesquisada durante anos e trazida especialmente para ser mostrada, ou melhor, ouvida pela primeira vez... por vocês! E tem mais, vocês alunos da escola XXX terão o privilégio de serem os músicos da minha orquestra, e participar da criação da Maravilhosa Sinfonia de Surpresas Sonoras, obra prima da música mundial, que será criada e executada hoje, aqui, dentro de alguns instantes. Mas para isso...(suspense...pausa dramática...) primeiro vocês têm que passar no teste da audição...fechem os olhos... abram bem os ouvidos...quero ver quem sabe que som é este: 1. moedas de diferentes tamanhos: você pode fazê-las girar sobre uma superfície lisa, criando um tipo de rulo agudo que termina seco. CD velho também serve. 2. bexiga: você pode puxá-la e soltar, fazendo um estalido seco, e também pode enchê-la e ir esvaziando, segurando o bico e controlando o ruído,deixando-o mais grave ou agudo, fazendo vibrato, etc... 3. um pregador de roupa faz um estalo seco. 4. pedaços de conduíte que ao serem girados, fazem som de ventania.
Dica 1: A partir de agora você vai explorar os sons da sua caixinha, da sua pesquisa sonora. Coisas simples e descartáveis. Não precisam, nem devem ser, instrumentos, e sim, objetos.
Dica 2: Se a classe tem trinta alunos, uns quarenta objetos divididos em onze tipos diferentes.
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Tema da aula Escuta ativa + regência Sinfonia de Surpresas Sonoras (35 min) 5. papel celofane ou sacos plásticos para sons de floresta ou crepitar de fogo. Dica 3: Combine com eles: “ouçam primeiro, e esperem eu pedir para alguém responder, ok?”
6. chocalhos de diferentes sons, tamanho e materiais. Uma garrafinha plástica, ou um potinho de fermento de metal com arroz, feijão, miçangas, clip... 7. tocos de cabo de vassoura, podem ser batidos uns contra os outros, rolados no chão... 8. tubos de papelão de diferentes tamanhos, para simular uma corneta com a boca.
Dica 4: Durante as adivinhações, pergunte o nome dos alunos, e elogie quando eles acertam. Como já dissemos, isto é importante nesta faixa etária e faz com que eles te respeitem e criem vínculo com o trabalho.
9. chapa de pulmão, ao ser chacoalhada, parece um trovão. 10. canudinho de refrigerante, tubo de linha de costura, tampinha de caneta: assoprados como uma flauta transversal, produzem sons agudos. Com o canudinho dá para criar um glissando para o agudo, comprimindo a base e subindo rapidamente. 11. apitos, língua de sogra. Sugerimos que a caixa seja pequena, de fácil transporte. Uma caixa de sapatos, ou algo um pouco maior, por exemplo, uma caixa arquivo de documentos, e mais os tubos maiores na mão.
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Depois das adivinhações, distribua, entre os alunos, instrumentos e crie naipes diferentes, criando uma classificação junto com eles, e para isso, usando critérios baseados nos parâmetros do som (descritos na Oficina Jogo do Silêncio), nos materiais ou nos timbres. Posicione os alunos em semicírculo na sua frente, com os naipes divididos, e combine sinais de regência. Use os sinais que está acostumado com o maestro e crie outros mais expressivos e divertidos. Muito bom! Os naipes estão divididos, agora quero ver se vocês estão atentos aos sinais do maestro! Vamos ver o naipe dos chocalhos! Teste os gestos de regência com cada naipe. Ótimo! Podemos começar então a tocar nossa obra experimental, a Sinfonia das Surpresa Sonoras!
Dica 5: O ideal seria que você realizasse esta experiência com seus colegas educadores, para ter um repertório de idéias e soluções. Faça várias experiências, pode incorporar sons do corpo ou da voz. Bole um final bacana! Por exemplo: Um tutti pianíssimo crescendo e terminando com um ataque fortíssimo. Pausa. Todos gritam: Sinfonia de Surpresas Sonoras!!!! Um sininho soa sozinho no ar.
Crie um percurso sonoro, explorando graves, dinâmicas, ataques, pianíssimos, fortíssimos. Quem gostaria de ser o regente agora? Faça a experiência com alguns alunos. Você pode incorporar o seu instrumento à orquestra, e criar, por exemplo, um Concerto para Flauta e Orquestra de Surpresas Sonoras.
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Finalização (10 min)
Depois das experiências, fixe um percurso, e ensaie algumas vezes. Se a professora ou professor dos alunos toparem, e você achar que vale a pena, vocês podem convidar outros alunos para ver o resultado final. Faça uma execução final bem caprichada. Ensaie também o cumprimento final da orquestra, com todos indo à frente de mãos dadas e agradecendo com um gesto do tronco e cabeça para frente. Para terminar, você deve recolher o material da sua Caixinha de Surpresas Sonoras com a ajuda deles, e guardar tudo organizadamente. Deve sentá-los em roda, comentar e ouvir os comentários deles sobre o resultado e encorajá-los a criarem a sua própria caixinha de surpresas sonoras para brincar com os amigos. Antes de ir embora, lembre-se de dizer: Dica 1: Esta ritualização final é muito importante para você e para os alunos, que sentem uma conclusão do trabalho e uma boa sensação de trabalho feito até o fim.
Antes de ir embora, gostaria de agradecer a vocês por me receberem aqui na escola. Foi muito gostoso estar aqui hoje. Vocês são muito inteligentes e, com certeza, vão aprender tudo aquilo que quiserem . É importante que as crianças recebam dos adultos esse tipo de mensagem. Elas costumam acreditar naquilo que os adultos dizem. Por isso, sempre que possível, elogie seu desempenho e diga coisas legais sobre elas. Se você tiver Facebook, Twitter ou MSN e achar que deve deixar o seu endereço com as crianças, escreva na lousa.
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Oficina 3
Tempestade na floresta Material: Seu instrumento + 1 foto + 1 chapa de pulmão. Sons da voz e do corpo: + Composição coletiva + Regência.
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Introduzindo o assunto Silêncio + som (5 min)
Bom, agora que vocês já me conhecem, já sabem o que eu toco, e eu já conheço vocês, o que será que eu vim fazer aqui? (espere sempre as respostas).
É isso aí, vim dar uma aula de música para vocês... Na verdade, eu vim formar uma orquestra com vocês! Então vamos lá! Quem toca violino levanta a mão! (imite o gesto e o som do violino)
Quem toca trombone? (imite o gesto e o som do trombone)
Bateria? (idem) Ninguém toca nada? Ah, você toca na igreja? Trouxe o teclado? Não? Como vamos fazer? Já sei! Vamos usar nossas vozes e nosso corpo!
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Tema da aula Composição coletiva com vozes e corpo (35 min) Quem aqui gosta de cantar? Ensaie em casa o texto a seguir, não precisa ser decorado, pode ser improvisado, mas você tem que brincar com sua voz, com gestos, usando o corpo e a interpretação, exagerando bastante as diferenças entre cada tipo de som, a exemplo do que foi feito na Oficina 1. Nossa voz é um instrumento que a gente sempre carrega com a gente, né? Com a voz você pode cantar um som GRAVE, aguuudo, médio... Um som FORTE, fraco, intermediário. Pode ser um som curto, pode durar muuuuito tempo, seguir soando com a mesma força, com a mesma suavidade, tornar-se cada vez mais forte, ou mais fraco, pouco a pouco sumindo.... Sua voz pode movimentar-se, subindo e descendo, como uma sirene. Pode cantar palavras como hum, tralalá, pode parecer alegre ou triste, pode assobiar, estalar a língua, pode imitar animais... Quem sabe imitar algum animal? Ouça as imitações deles. Deixe-os brincar, e aos poucos vá organizando, pedindo para que levantem a mão, chamando a atenção de todos para uma imitação engraçada, bem feita, aproveitando para perguntar o nome deles, enfim, trocando informações, criando vínculos, conhecendo o grupo. Peça desde leão até grilo, passando pelos macacos, e não esquecendo dos pássaros, sapos e corujas, que serão importantes para o exercício.
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Tema da aula Composição coletiva com vozes e corpo (35 min) E os sons da natureza? Quem sabe fazer som de vento nas árvores, chuva, raio, trovão? Ouça as imitações Muito bem! E com o corpo? Dá para fazer sons também? Espere as respostas. Sugira sons. Pesquise na internet o Grupo Barbatuques que trabalha com percussão corporal. Agora eu vou ensiná-los a fazer som de gota de chuva! Tem a gota de chuva de boca...tem que fazer silêncio, pois ela é bem baixinha... Abra e feche os lábios úmidos. Fica perfeito. Dá para gotas menores e maiores, conforme a abertura da boca. E a gota de chuva de mão! Abra bem a palma da mão esquerda e com o dedo indicador da mão direita bata bem no centro da mão. Para deixar a gota mais grossa, use, dois dedos, três e até quatro. Deixe que eles experimentem, que te mostrem o resultado. Ouça com atenção!
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E se a gente fizer uma chuva com todos juntos? Combine gestos de regência. Comece com a gota de boca. No começo, vá regendo cada gota e aumentando aos poucos o número de gotas. Introduza gotas de mão aos poucos (só com um dedo). Aos poucos, vá aumentando o número de gotas e dedos e criando a idéia de uma chuva forte. Os pés podem entrar também, como um rulo, para fazer a trovoada. Muito bom! E vocês sabem o que eu trouxe aqui?! Mostre as chapas de pulmão ou ultrasom. O trovão!!!
Dica 1: Esta brincadeira não é tão fácil de fazer quanto parece! O efeito de chuva pode ficar muito legal, mas não pode parecer simplesmente com pessoas batendo palmas. Deve ser mais irregular. Para fazê-lo bem feito, é fundamental que você experimente antes em grupo, com seus colegas educadores.
Segurando as chapas pela ponta e chacoalhando mais forte ou fraco, você pode criar uma excelente sonoplastia de trovão e vento. Mais uma vez, é preciso treinar antes! Lembre-se, para ensinar, é preciso saber fazer! Bom, já temos os animais e os sons da natureza...acho que podemos criar a nossa música...o nome dela será: ...suspense...
Tempestade na floresta!!!
Dica 2: Muitos vão querer pegar as chapas para tentar fazer. Você pode deixar isto para o final da aula, ou para quando a orquestra já estiver mais organizada, senão pode virar confusão.
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Tema da aula Composição coletiva com vozes e corpo (35 min) Roteiro da tempestade na floresta (baseado num registro de aula do professor Paulo Padilha, São Paulo) Deve ser praticado com o grupo de educadores, alternando os regentes.
1. Madrugada pianissimo Ruídos, Grilos, coruja, sapo, rã, pequenos assobios,mãos esfregando umas nas outras ou no corpo, folhas de caderno
2. Alvorada (amanhecer) piano Aves anunciam a chegada do dia. Sugestão de sequência: Galo, Bentevi, Sabiá, revoada de pássaros mezzo piano
3. Chuva (começo) mezzo forte Começa fraca(com um aluno) e, a partir da primeira trovoada, intensifica-se até virar uma forte tempestade com todos participando. fortíssimo
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4. Chuva (fim) mezzo piano Animais saem de suas tocas. Leão, Cavalo, Boi, Macaco
5. Noite Volta clima inicial e termina com lobo uivando piano pianíssimo
Montando a tempestade A) Faça um roteiro na lousa Com 8 desenhos simples, já que nem todos sabem ler, e combine com as crianças que você irá apontando durante a regência: 1. Noite: uma lua com duas estrelinhas 2. Amanhecer: um sol nascendo no horizonte 3. Começo da chuva: pontinhos que ficam cada vez mais fortes 4. Trovoada uma nuvem escura com um raio 5. Fim da chuva: pontinhos que ficam cada vez mais fracos 6. Sol e animais: um sol forte 7. Anoitecendo: um sol se pondo 8. Noite: uma lua com duas estrelinhas 39
Tema da aula Composição coletiva com vozes e corpo (35 min) B) Defina papéis Baseado na observação do grupo, defina papéis, criando naipes. Fulano é galo, sicrano é macaco, beltranos são grilos etc Se quiser pode desenhar um galo no amanhecer, um leão no sol...
C) Fixe o roteiro e ensaie Posicione os alunos em semicírculo na sua frente, com os naipes divididos, e combine sinais de regência. Use os sinais que está acostumado com o maestro e crie outros mais expressivos e divertidos. Use o roteiro da lousa como uma partitura coletiva. Capriche no começo e fim. Comece no maior silêncio possível.
D) Apresente Se a professora ou professor dos alunos toparem, e você achar que vale a pena, vocês podem convidar outros alunos para ver o resultado final. Faça uma execução final bem caprichada. Você pode incorporar o seu instrumento( de verdade) à orquestra.
Ensaie também, o cumprimento final da orquestra, com todos indo à frente de mãos dadas e agradecendo com um gesto do tronco e cabeça para frente.
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Finalização (10 min)
Deve sentá-los em roda, comentar e ouvir o comentário deles sobre o resultado. Se houver tempo, fale que na floresta da música havia uma tribo, o “povo de um lugar’’ e cante para eles esta canção singela de Caetano Veloso:
Todo dia o sol levanta e a gente canta o sol de todo dia Fim da tarde a terra cora e a gente chora porque finda a tarde Quando a noite a lua mansa e a gente dança venerando a noite
Antes de ir embora, lembre-se de dizer: Antes de ir embora, gostaria de agradecer a vocês por me receberem aqui na escola. Foi muito gostoso estar aqui hoje. Vocês são muito inteligentes e, com certeza, vão aprender tudo aquilo que quiserem! É importante que as crianças recebam dos adultos esse tipo de mensagem. Elas costumam acreditar naquilo que os adultos dizem. Por isso, sempre que possível, elogie seu desempenho e diga coisas legais sobre elas. Se você tiver Facebook, Twitter ou MSN e achar que deve deixar o seu endereço com as crianças, escreva na lousa.
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Oficinas
Grupo 2 Este grupo contém as orientações para a realização de mais 3 oficinas de educação musical. Elas estão voltadas ao tempo musical. Além do material impresso contendo as orientações escritas para a realização das oficinas, você está recebendo um DVD. Nele, você também poderá assistir as oficinas realizadas por Lucas Ciavatta.
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Introduzindo o assunto O tempo musical pode ser organizado de várias formas. Todas elas têm seu espaço e em diversos momentos convivem pacificamente. Seguem abaixo quatro destas formas:
1. tempo não-métrico, forma proposta por Koellreuter (Paz, 2000, p. 229) “É de extrema importância que o aluno capte logo as diferentes proporções temporais, isto é, o tempo não-métrico.”
2. tempo virtual, forma proposta por Schafer (1991, p. 87) “Assim como falamos de espaço real e virtual, podemos também falar de tempo real e virtual. Um ritmo regular sugere divisões cronológicas do tempo real � tempo do relógio (tique-taque). Este vive uma existência mecânica. Um ritmo irregular espicha ou comprime o tempo real, dando-nos o que podemos chamar de tempo virtual ou psicológico. É mais como os ritmos irracionais da vida.”
3. tempo livre (“beat-free”), forma citada por Thurmond (1991, p. 98) “No Aprés-midi d’un Faune de Claude Debussy, por exemplo, a flauta solo deve ser quase destituída de ritmo métrico no sentido estrito, e quando propriamente interpretado deve dar ao ouvinte uma impressão de ‘tempo livre’.”
4. tempo duro (“thumping” meter), forma citada por Thurmond (1991, p. 37)
“Nós ficamos tão acostumados a ouvir música acentuada em elementos regularmente recorrentes e com tempo estritamente medido ‘que chegamos a acreditar que a palavra ‘ritmo’ implica numa sucessão de pancadas. 44
Uma outra forma para dar conta dos ritmos organizados sobre pulsações, chama-se “tempo pulsante”. Ela não deve ser confundida com o tempo duro, em especial porque o trabalho com o tempo pulsante envolve necessariamente o movimento corporal que mantém a precisão da pulsação e dispensa os acentos exagerados que normalmente são utilizados para este fim. O contato com o tempo pulsante é fundamental. Todas as formas devem ser conhecidas e experimentadas, mas o contato com essa forma em especial amplia de tal maneira a percepção musical, que outras formas, inclusive as acima citadas, podem, a partir dela, ser melhor acessadas. A esse respeito Noisette (1997, p. 18), considerando a pulsação como uma “noção primordial na aprendizagem da música”, afirma que: “Mesmo se, para abordar certas músicas, é preciso saber sair dela, é necessário havê-la integrado previamente.” Esta é uma perspectiva importante para entender e relacionar as três oficinas que se seguem. Há o meu tempo, aquele que eu domino, aquele sobre o qual reino, decido, mando e desmando; há o tempo do relógio sobre o qual não cabe questão, um tempo dado, um tempo sobre o qual não tenho ingerência, um tempo ao qual necessariamente me adapto; e há o nosso tempo, aquele que é nossa responsabilidade, sobre o qual precisamos conversar, dialogar, ouvir e ser ouvidos, aquele que exige em igual medida firmeza e flexibilidade. Sem dúvida as três oficinas podem viver isoladamente e esta perspectiva pode ou não ser mencionada. No entanto, aquele que trabalhando uma delas conhecer as outras e enxergá-las desta forma estará certamente mais apto para enriquecer as questões que porventura apareçam e para estabelecer conexões entre os conhecimentos construídos em sala e outros vindos das mais diversas vivências.
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Introduzindo o assunto O que queremos ensinar com essas oficinas? Queremos que as crianças vivenciem três formas de organizar o tempo musical e que a partir destas vivências possam refletir sobre a importância das formas de organização do tempo musical para a definição do fazer musical. Uma das definições possíveis para “Música” (e com a qual concordo) é a seguinte: “Música é som organizado no tempo”. Pense numa porta batendo. Quando você ouve uma porta batendo o que você pensa? “Que música interessante!” Normalmente, não. Mas se você ouvir várias portas batendo uma depois da outra e aquele conjunto de sons te fizer lembrar um ritmo qualquer, você dirá: “Viu que legal! Fez até uma música!” Agora, se alguém gravar esta porta batendo, duplicar várias vezes este som e fizer com ele um ritmo, isso pode perfeitamente ser considerado “Música”. Duvida? Você já ouviu alguma música onde o primeiro som ouvido é um som inesperadamente cotidiano (uma buzina, uma sirene, uma freada (brecada) de carro etc) e depois você percebe que aquele som faz parte da música tanto quanto o baixo e a guitarra? É exatamente a mesma coisa que acontece no exemplo da porta. A organização a ser utilizada para se fazer uma música é tão ou mais importante que a própria música. Quando alguém vai fazer uma música, a primeira a coisa que vem à sua mente é a organização do tempo musical a ser utilizada. Experimente pedir que alguém crie na hora uma melodia qualquer.
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Você verá que na imensa maioria das vezes a melodia criada será em modo maior e em compassos quaternários. Por quê? Por que não no modo lócrio e em compassos quinários? Simplesmente porque a organização que quase todos nós utilizamos, que nos foi ensinada através de nossa cultura predominantemente de matriz européia ocidental, nos “diz” para agir assim. Mesmo aquele que diz: “Ah, eu não penso em nada, eu saio fazendo e a música vem”. Mesmo ele precisa ter clareza sobre que organização utilizará. O fato de não haver consciência (por isso ele diz que não pensa) não significa que não haja uma organização. Ela existe e o fato de que ele não tem consciência disto significa apenas que ele não tem como alterar esta organização e melhorá-la, se for o caso. As formas de se organizar o tempo podem ser criadas por um único indivíduo, mas normalmente são trabalhadas por gerações e gerações, num processo onde a autoria (que possivelmente foi compartilhada) se perdeu, até que adquirem um contorno que se estabiliza. No entanto esta estabilidade é sempre passageira, pois este contorno é continuamente transformado. A questão principal aqui então é a importância de se entender como e porque organizamos o tempo musical. Quem começa a ter consciência sobre isso abre outras portas, joga com outras possibilidades, torna-se autor de sua própria história.
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Oficina 1
“O meu tempo” ou “O tempo interior” Material: Fita crepe ou barbante. Tempo de duração desta oficina: De 40 a 50 minutos.
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O meu tempo ou O tempo interior Para começar Colocar as crianças sentadas em círculo. Isso é fundamental. Minha idéia hoje era fazermos música juntos. Que tal? Será que conseguiríamos fazer algo bem simples pra começar? Vamos bater palmas? Todos juntos, assim.
Atividades A) Atividade I – “Na roda” Objetivo: Introduzir a noção de que o tempo interno, subjetivo, nem sempre coincide com o tempo externo, objetivo. Dica 1: As palmas não coincidirão. O educador poderá lançar a pergunta: “quem é que está certo?”. As crianças, provavelmente, responderão: “eu!” A resposta do educador poderá ser: “é que quando se faz música, o bacana é estar certo juntos”.
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1.Todos em roda, batemos palmas de quatro em quatro tempos e marcamos com as mãos os outros tempos em que não batemos palmas. 2. Todos de costas para a roda, batemos palmas de quatro em quatro tempos. Por que sem nos olharmos é tão difícil? Será que o tempo é igual para todo mundo? Um minuto é muito ou pouco?
B) Atividade II – “1 minuto” Objetivo: Introduzir a noção de que o tempo interno, subjetivo, nem sempre coincide com o tempo externo, objetivo. 1. Todo mundo fica 1 minuto deitado (ou sentado). 2. Todo mundo 1 minuto num pé só, com os braços para o alto Perguntas: Que minuto demorou mais? Continuando: Vamos fazer um jogo?
C) Atividade III – –“Jogo dos 10 segundos” Objetivo: Reforçar a noção introduzida no exercício anterior e tornar visíveis as diferenças entre as diversas estimativas. 1. Pergunta: “Quanto duram dez segundos?” 2. São feitas duas linhas na sala (com fita crepe ou barbante): uma de saída e uma de chegada. 3. Alguns alunos se posicionam na linha de partida e devem, assim que você der a largada, andar colocando um pé imediatamente à frente do outro (como se eles estivessem se equilibrando sobre um arame) em direção a linha de chegada. 4. Quem parar de se movimentar sai da brincadeira (é importante haver uma platéia para regular isso). 5. O objetivo é estar mais próximo da linha de chegada (tendo ou não ultrapassado a linha) quando se passarem 10 segundos (controlados num relógio).
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O meu tempo ou O tempo interior Pergunta para pensar (não necessariamente para ser respondida, deixe que eles investiguem, se mobilizem e percebam a complexidade da questão): Por que é tão difícil saber exatamente quanto duram 10 segundos?
Perguntas para pensar: Quanto tempo exatamente leva para uma árvore crescer? Quanto tempo exatamente leva para uma flor nascer? Dica 2: Você pode pensar em outros tempos cuja duração seja difícil de precisar, mas a próxima pergunta deve ser mantida pois encaminha a próxima atividade.
Quanto tempo exatamente leva para a chuva cair? Quanto tempo exatamente leva para o Sol esquentar? Quanto tempo exatamente leva para a água secar? Quanto tempo exatamente leva para o ar sair? Continuando: Algumas músicas utilizam sons para os quais é impossível definir uma duração. Será que poderíamos fazer uma música apenas com sons assim?
D) Atividade IV – “Concerto para sons com a voz” Objetivo: Introduzir um fazer musical baseado nos tempos subjetivos.
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1.Cada aluno propõe um som com a voz. Observação: Há uma diferença entre fazer um som com a voz e fazê-lo com a boca. Estamos aqui procurando os sons com a voz. Algo que pode ajudá-los a encontrar o seu som é ressaltar através de exemplos que será preciso utilizar no mínimo uma vogal. As consoantes nos levam para os sons com a boca.
2.A turma é dividida em dois ou três grupos. Observação: A divisão da turma é opcional. Não há de forma alguma uma competição. A idéia é contarmos com uma platéia e a diferença em termos de concentração que essa presença significa.
3.Cada grupo decide (ou sorteia) um regente.
4.O regente decidirá como combinar os sons que os integrantes do seu grupo conseguem fazer. Observação: É importante ajudar os regentes na criação de símbolos corporais que deixem claro para o grupo o que eles querem. Confira com o grupo se ele está entendendo o que o regente quer com este ou aquele gesto.
5. (Opcional) Gravar o que foi feito e escutar (apenas se houver à disposição aparelhos com qualidade mínima de gravação e reprodução).
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Oficina 2
“O tempo do relógio” ou “o tempo métrico” Material: Um metrônomo amplificado (você poderá tocar uma clave ou algo semelhante, mas é interessante que os alunos associem esta marcação a um som mecânico, a uma máquina). Tempo de duração desta oficina: De 40 a 50 minutos.
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O tempo do relógio ou o tempo métrico Para começar Minha idéia hoje era fazermos música juntos. Que tal? Hoje, quando vinha pra cá, eu ouvi uma máquina funcionando e parecia que ela estava fazendo uma música. Dica 1: Dê tempo para que eles tentem fazê-lo, veja algumas tentativas individualmente e chame a atenção deles para o caráter repetitivo do som de uma máquina.
Vocês já ouviram uma máquina funcionando? Quem conseguiria imitar uma máquina? Tenho aqui um som de uma máquina que se chama metrônomo. Quem sabe o que é um metrônomo? É um aparelho usado para determinar o andamento de uma música, ou seja, se a música é lenta ou rápida. Ouçam... Quem conseguiria andar junto com o metrônomo?
Atividades A) Atividade I Dica 2: Sugira que eles associem algum som ao andar.
Objetivo: Estabelecer uma relação entre as batidas do metrônomo e os movimentos corporais. 1. Todos tentam andar junto com o metrônomo. 2. Todos tentam dar um passo a cada duas batidas do metrônomo. 3. Todos tentam dar um passo a cada quatro batidas do metrônomo Que tal se ficasse ainda mais difícil...
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B) Atividade II Objetivo: Tornar mais complexo o trabalho anterior através da introdução da “polifonia de movimentos”.
Questões: Por que em grupo ficou mais difícil? Então o melhor é fazer sozinho? Mas como fica mais legal? Sozinho ou em grupo?
1. Dividir a turma em três grupos. 2. Um grupo anda junto com o metrônomo, o outro a cada duas batidas e o outro a cada quatro.
C) Atividade III (ligada à Atividade II e apenas se esta funcionar) Objetivo: Tornar mais complexo o trabalho anterior através da introdução da noção de “forma”. 1. A cada contagem sua até quatro, o três grupos trocam a maneira como estão andando: quem estava andando a cada batida, anda a cada duas; quem estava andando a cada duas anda a cada quatro; e quem estava andando a cada quatro, anda a cada batida. Vamos fazer uma música usando o metrônomo? Como se fosse uma grande máquina.
D) Atividade IV ou “Música da Máquina de gente” Objetivo: Favorecer a noção de que o conjunto depende da habilidade e concentração de cada indivíduo. 1. Alguém vai ao meio da roda e faz um movimento “de ida e vinda” (um movimento que comece num lugar, vá ao extremo e volte) (pode ser um movimento de braço, um movimento de perna, com deslocamento ou não). Esse movimento pode durar uma, duas ou quatro batidas do metrônomo para “ir” e a mesma quantidade da ida para voltar. 2. Essa mesma pessoa associa um som ao seu movimento. 3. Outra pessoa vai para perto da primeira e faz um movimento (e um som) que “se encaixe” no primeiro movimento tentando ocupar o espaço quando o outro não está. 4. Outra pessoa vai para perto dos outros e assim sucessivamente até que todos façam parte da “máquina”.
Dica 3: Esse pode ser um trabalho difícil e é fundamental não perder de vista que se trata de uma brincadeira. O erro aqui deve ser algo divertido.
Dica 4: Aqui é introduzida a noção de “risco”. Posso, através de um toque acidental, machucar ou ser machucado, o que significa que há uma grande responsabilidade em o que e em como eu faço meu movimento (e minha música).
Dica 5: Caso alguém se perca e a máquina se desfaça, não há problema, começamos novamente com um novo grupo.
Dica 6: É possível também fazer três ou quatro “máquinas” e depois tentar juntá-las.
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Oficina 3
“O nosso tempo” ou “o tempo pulsante” Material: Nenhum. Tempo de duração desta oficina: De 40 a 50 minutos.
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O nosso tempo ou O tempo pulsante Para começar Minha idéia hoje era fazermos música juntos. Que tal? Será que conseguiríamos fazer algo bem simples pra começar? Vamos bater palmas? Todos juntos, assim:
Atividades A) Atividade I – Vendo ou sem ver Objetivo: Evidenciar a importância de olhar o movimento do outro para tocar junto. 1.Todos em roda, batemos palmas de quatro em quatro tempos e marcamos com as mãos os outros tempos em que não batemos palmas. Questão: fácil né? 2. Todos de costas para a roda, batemos palmas de quatro em quatro tempos. Questão: difícil né? Por quê? Por que de costas é tão difícil? Sem vermos o movimento corporal é impossível fazer música juntos. Esse é um exemplo de como o movimento corporal nos ajuda a fazer música.Preciso de um voluntário para dar um outro exemplo. Quem poderia me ajudar?
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B) Atividade II – Tocar junto Objetivo: Evidenciar a possibilidade de utilizar o andar para ter referências sólidas ao tocar ou cantar. 1. Peça a um aluno que toque com você uma sequência de palmas em intervalos de tempo regulares. 2. Peça que o aluno mantenha as batidas enquanto você começa a improvisar. 3. O aluno normalmente vai se perder ou no mínimo ficar muito tenso e mais preocupado em não se perder do que em escutar você, do que em “tocar junto”. 4. Peça ao aluno que ande e comece a acompanhá-lo, utilizando exatamente o mesmo andamento que ele (observe exatamente que pé o aluno está utilizando). 5. Peça que o aluno bata palmas exatamente quando o pé direito dele (para os destros) ou o esquerdo (para os canhotos) está no chão. 6. Ande junto e, assim que ele conseguir bater as palmas, comece a improvisar. Caso o aluno se perca (muito difícil), chame sua atenção para o fato de que a maior referência que ele tem é seu próprio andar.
Dica 1: Quando o objetivo de andar junto é dos dois, não há líder e liderado, os dois lideram e os dois são liderados (a platéia não quer saber quem está certo, ela quer ver todos juntos).
C) Atividade III – Andar junto 1. Você deve mostrar primeiro o que é “andar junto” pedindo a um aluno que ande com você e “lidere” o andar. O aluno deve fazer variações de andamento e você, estando atento ao aluno, deve procurar “andar junto”. 2. “Agora é sua vez de liderar”. Deve haver aqui um tom de brincadeira onde o aluno será desafiado a tentar “andar junto. 3. Definimos o pé forte e o pé fraco (a lateralidade, para alguns, ainda é uma abstração). 4. Uma dupla tenta andar junta. Os dois devem sair com o pé forte. A turma pode contar “1, 2, 3, 4” e bater palmas no próximo “1” e essa será a deixa para que a dupla comece a andar (isto é algo a ser exercitado). 5. A turma se divide em duplas e todos tentam andar juntos.
Dica 2: É preciso haver espaço físico para isso. Crie esse espaço, se necessário.
Dica 3: Quando uma dupla for formada por um destro e um canhoto, os destros devem estar pisando com o pé direito quando os canhotos estiverem pisando com o pé esquerdo. A noção de que há um pé “forte” e um pé “fraco” simplifica tudo.
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O nosso tempo ou O tempo pulsante Continuando: Agora vamos tentar tocar juntos?
D) Atividade IV – Andar e tocar junto (I) Dica 4: Quando uma dupla for formada por um destro e um canhoto, os destros devem estar pisando com o pé direito quando os canhotos estiverem pisando com o pé esquerdo. A noção de que há um pé “forte” e um pé “fraco” simplifica tudo. mantendo as duplas do exercício anterior.
Dica 5: Não é necessário aqui uma avaliação individual, apenas algumas correções bastarão para a turma saber que há “certo e errado” e que o professor está atento.
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Objetivo: Encaminhar a Levada de Palmas. 1. Todas as duplas tentam andar juntas e bater palmas no pé forte. 2. Todas as duplas tentam andar juntas e bater palmas no pé fraco. 3. Todos as duplas tentam andar juntas, um dos integrantes de cada dupla bate palmas no pé forte enquanto o outro bate palmas no pé fraco. 4. Inverter. Quem estava batendo palmas no pé forte bate palmas no pé fraco e vice versa.
Observação Importante: A oficina pode se encerrar aqui. Já há uma levada de palmas soando e uma canção pode ser entoada para que todos percebam as possibilidades que uma base rítmica abre. Você pode mencionar o fato de ser bem mais simples a manutenção do andamento, pois todos estão andando juntos e para correr musicalmente seria preciso correr corporalmente – qualquer variação no andamento pode ser regulada por um simples “gente, estamos correndo” e é interessante notar como esse é um dado concreto, apesar da abstração que ele envolve. Você pode também mencionar a forma através da qual quem se perdia conseguia, no momento seguinte, ao prestar atenção no andar, se achar.
E) Atividade V – Andar e tocar junto (II) Objetivo: Continuar a encaminhar a Levada de Palmas. 1. Apenas a metade da turma que vai sempre bater no pé forte fica em pé. A outra metade senta e observa. 2. A metade da turma que vai bater no pé forte faz o seguinte ritmo: || 1
(2)
3
(4)
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e
(2)
3
e
(4)
Dica 6: A partir daqui cada dupla deve definir quem vai ficar até o fim dos exercícios batendo no pé forte e quem vai ficar batendo no pé fraco.
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Observação: É possível explicar que eles deverão bater, sempre no pé forte, duas vezes apenas uma palma e duas vezes duas palmas. 3. Apenas a metade da turma que vai sempre bater no pé fraco fica em pé. A outra metade senta e observa. 4. A metade da turma que vai bater no pé forte faz o seguinte ritmo: || (1)
2
(3)
4
| (1)
2
e
(3)
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e
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Observação: É possível explicar que eles deverão bater, sempre no pé fraco, duas vezes apenas uma palma e duas vezes duas palmas.
F) Atividade VI – Levada de Palmas Objetivo: Realizar uma prática musical tendo como base um ritmo pulsante. 1. Todos começam a andar juntos. 2. Após uma contagem até quatro os alunos que baterão no pé forte começam a tocar. 3. Após uma contagem até quatro os alunos que baterão no pé fraco começam a tocar junto com os que batem no pé forte. Desdobramento: É possível pedir que todos parem de tocar e continuem andando e depois recomeçar, agora todos no mesmo compasso.
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Bibliografia DANILO TOMIC - BLOOM! Um mergulho no mundo das músicas cdrom / Escola Viva.
R.MURRAY SCHAFER Hacia una Educación Sonora: Pedagogias Musicales Abiertas, 2001. O ouvido pensante: Editora Unesp, 2000.
TECA ALENCAR DE BRITO Música na Educação Infantil: Editora Peirópolis, 2003.
MARCIA VISCONTI, MARIA ZEI BIAGIONI Guia para educação e prática musical em escolas: Abemusica, 2005.
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CLAIRE NOISETTE L´enfant, le geste et le son. Paris: Cité de la Musique /Centre de Ressources Musique et Danse, 1997.
ERMELINDA AZEVEDO PAZ Pedagogia Musical Brasileira no Século XX Metodologias e Tendências Brasília: Editora Musimed, 2000.
JAMES MORGAN THURMOND Note grouping: a method for achieving expression and style in musical performance. Ft. Lauderdale: Meredith Music Publications, 1991.
LUCAS CIAVATTA O Passo – um passo sobre as bases de ritmo e som: edição pessoal, Rio de Janeiro, 2003. www.opasso.com.br
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Créditos Lei de Incentivo à Cultura - PRONAC 107150 PATROCÍNIO BASF
IDEALIZAÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL La Fabbrica Comunicação e Marketing DIREÇÃO DE PROJETO Fabiana Marchezi COORDENAÇÃO GERAL Elaine Marin COORDENAÇÃO LOCAL Mônica Barbosa APOIO TÉCNICO Henrique Seiti EDIÇÃO DE CONTEÚDO Oficinas Grupo 1: Paulo Padilha Oficinas Grupo 2: Lucas Ciavatta REGENTE DA ORQUESTRA Fred Dantas EDUCADOR MUSICAL Rodrigo Belchior PROJETO GRÁFICO Bárbara Scodelario e Paulo Almeida
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Realização
COMUNICAÇÃO,EDUCAÇÃO&MARKETING
Idealização