Nº 457 • Ano XXXVIII www.btsinforma.com.br
MAIO/JUNHO
2015 Exclusivo Integração lavoura/ pecuária/floresta e a revolução do setor
Um ex-vilão Embutidos saudáveis ganham espaço no mercado
Vitrine de Destaques Conheça as novidades em máquinas e serviços
O reflexo do novo dólar Um retrato do poder de influência da moeda através dos elos da cadeia cárnea
ÍNDICE
36 CAPA
Os impactos do novo dólar na indústria cárnea
14 Artigos [ 34, 48 e 60 ] Importantes entidades inauguram colunas na revista
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24 Exportação Embalagens ganham força na busca por novos mercados
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62 Consumo As lições de uma churrascaria para driblar a crise
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06 08 16 30 50 56 65
Editorial Vis-à-vis - APTA Empresas & Negócios vitrine - Informe Publicitário Mercado - Embutidos Eventos - TecnoCarne Índice de Anunciantes
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ISSN 1413-4837
editorial
Uma nova revista
Ano XXXVIII - no 457 - Maio/ Junho 2015
President Informa Group Latin America
Marco A. Basso
VICE PRESIDENT INFORMA GROUP Araceli Silveira LATIN AMERICA Group Director
José Danghesi jose.danghesi@informa.com
GERENTE COMERCIAL
Marilda Meleti marilda.meleti@informa.com
DEPARTAMENTO COMERCIAL Kelly Martelli kelly.martelli@informa.com Lisandra G. Cansian (SC) lisandra.cansian@informa.com Priscila Fasterra priscila.fasterra@informa.com
GESTÃO EDITORIAL - VENGA CONTEÚDO
José Danghesi
A
aclamada frase do poeta Fernando Pessoa “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas” serve bem para representar o novo momento da Revista Nacional da Carne. Vivemos hoje em um “tempo de travessia”, especialmente na economia nacional, que nos permite dois tipos de passos: ou retrair-se ou ousar, e dedicar-se ainda mais ao que já se faz bem. E isso, tanto para a vida, quanto para o mercado de trabalho e para as relações comerciais, aplica-se muito bem. Preferimos sempre a segunda opção: fazer ainda mais. E é isso que estamos fazendo para o nosso leitor. Mudamos, abandonamos nossas “roupas velhas” para dar uma “nova forma ao nosso corpo”. Este novo projeto gráfico foi pensado antes de tudo em você. Queremos que com um nova roupagem você se sinta ainda mais atraído pelo conteúdo abrangente que trazemos a cada edição. Pensamos em uma diagramação, e recursos gráficos mais leves, refinados, que tenham mais apelo e ligação aos temas de mercado que tanto importam ao setor. Seja alteração na fonte, para melhorar a leitura, ou no padrão de cores, tabelas, e gráficos padronizados, a intenção é fazer fluir ainda mais sua experiência. Queremos que o conceito por trás da informação seja tão atrativo quanto ao conteúdo que você lê. A Revista Nacional da Carne quer se aprofundar cada vez mais em temas fundamentais para tomadas de decisões. Apostamos num jornalismo de qualidade, que se propõe a debater, com imparcialidade e olhar crítico, não só os principais temas do setor, como de toda a conjuntura nacional. Teremos novos artigos, com especialistas que o deixarão por dentro de temas relevantes. A partir desta edição, a revista terá cinco colaboradores fixos, que terão total isenção para escrever sobre suas áreas de interesse. Nosso intuito é abordar os pontos mais abrangentes possíveis da cadeia produtiva da carne. Eis os parceiros: ABPA, CICB, SNA, World Animal Protection e Sindirações, este último a partir da próxima edição E esta transformação já começou há oito meses com o lançamento do site Nacional da Carne. Lá teve início nossa experiência e aposta num conteúdo cada vez mais interativo. A partir da web extraímos os seus anseios de leitura e os aprofundamos com abrangência na revista. Nessa edição de abertura ouvimos especialistas e mostramos o real impacto do dólar em cada área da cadeia cárnea. Desmistificamos conceitos da indústria de embutidos. Apresentamos um panorama das embalagens e a conquista de clientes via exportação. E já deixamos um gostinho das apostas das empresas para a Tecnocarne que está chegando. Como Pessoa nos ensinou, “Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho”. Esperamos que a travessia para esta nova revista lhe renda uma experiência proveitosa.
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REDAÇÃO Thais Ito thais@vengaconteudo.com.br ARTE
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Leo Martins Emerson Freire Ricardo Torres Marcelo Tárraga Marcela Gava
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Vis-à-vis
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Um sistema que enriquece Itamar Cardin
Pesquisador da APTA explica como sistema de integração lavoura, pecuária e floresta pode favorecer meio-ambiente, frigoríficos e consumidor
Hélio Minoru Takada, pesquisador da APTA, segura muda de leucena
A
aposta na alternativa correta nem sempre é a melhor opção. Para definir uma estratégia coerente e responsável de investimento sustentável, por mais que o retorno em longo prazo seja garantido, é preciso ponderar questões cruciais de mercado: tempo para reaver os gastos, probabilidade de lucro, tamanho da despesa, relação custo-benefício. Não há discurso que se sustente sem equilibrar essa balança. Uma empresa, para ser correta, precisa primeiramente ser rentável. Encontrar esse ponto de equilíbrio pode ser ainda mais custoso à indústria cárnea, um mercado que tra-
balha diariamente com questões ambientais complexas e urgentes. Mas, apesar dos reais percalços dessa trilha verde, alguns bons exemplos são notoriamente decisivos. E uma recente iniciativa desenvolvida no interior de São Paulo parece certificar o postulado: a alternativa correta pode, sim, ser a melhor opção. Essa foi a aposta da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, ao elaborar uma ampla pesquisa sobre o sistema de integração de lavoura, pecuária e floresta (iLPF).
crédito: APTA
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Vis-à-vis Desenvolvido no Polo Vale do Paraíba, mais precisamente na região de Pindamonhangaba, o estudo pretende incentivar o cultivo alternado de espécies agrícolas, forrageiras, florestais nativas e exóticas, buscando estimular a recuperação de pastagens degradadas. E, segundo a APTA, não há qualquer margem para dúvida: o investimento tem retorno financeiro garantido. Os experimentos foram instalados em uma área de 9,52 hectares no final de 2014. E, no início deste ano, foram plantadas sementes de leucena. Para o segundo semestre, por sua vez, mudas de cratília e de eucalipto irão para os solos. E, embora a pesquisa ainda esteja no início, já é possível antever benefícios: ganhos na fertilidade de solo, redução de adubos, melhora na condição de armazenamento de água e disponibilidade de alimento no período seco, conforme enumera Hélio Minoru Takada, pesquisador da agência, em entrevista exclusiva à Revista Nacional da Carne. A utilização do sistema pode, inclusive, segundo Takada, trazer ganhos concretos aos frigoríficos. “O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos no mercado local e regional. Garante, ainda, a melhoria do bem-estar animal aliada à possibilidade de aumentar a fixação de gás carbônico, reduzir a emissão de óxido nitroso e de mitigar a emissão de gás metano.” Até mesmo o consumidor, afetado pelo aumento descontrolado do preço da carne, poderia ser beneficiado se o sistema fosse implantado em larga escala. “O iLPF pode propiciar ao pequeno produtor de leite e de carne uma estratégia a longo prazo de adequação da propriedade, na qual poderá regularizar o fornecimento de alimento”, comenta o pesquisador, lembrando que a baixa
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oferta de bezerros é responsável direta pelo aumento dos preços. Leia a entrevista completa com Hélio Minoru Takada, pesquisador da APTA. A pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Dra. Maria Luiza Franceshi Nicodemo, e o pesquisador Sergio Schalch também participaram da conversa
O que se pode afirmar é que o sistema refletirá em uma melhor relação custo/ benefício Como surgiu a ideia da pesquisa? A pecuária de leite é considerada a principal atividade familiar da região do Vale do Paraíba e, historicamente, ocupa papel importante na manutenção de grande parte das propriedades agropecuárias do Vale. O Polo Regional Vale do Paraíba, da APTA, realizou projetos de pesquisas na área de alimentação animal, envolvendo aspectos da pastagem, e obteve grande repercussão e interesse pelo dia de campo em recuperação de pastagens. O fato que deu andamento a esse projeto foi a escassez hídrica na
safra 2013 e 2014, que acarretou em redução do período útil de pastagens e em resultados precários na produção de silagem com sorgo forrageiro.
O iLPF pode ser trabalhado tanto pela pecuária de corte quanto pela de leite? Existem várias modalidades de iLPF, incluindo a integração lavoura-pecuária, como os sistemas silvipastoris. Ele é apregoado para uso nos casos com experiência de sucesso na América Latina. No Brasil, os resultados e unidades implantadas são mais comuns, principalmente, para a pecuária de corte, embora existam experiências de sucesso em Minas Gerais, por exemplo. A raça bovina, as espécies florestais e as culturas utilizadas vão influenciar no desenho do sistema.
E como foi o passo-a-passo para a implantação do projeto? O Polo organizou, em outubro de 2014, um curso de capacitação em arborização de pastagens, em conjunto com a Embrapa Pecuária Sudeste. Selecionou-se para compor o sistema o plantio de sementes de Leucaena leucocephala, variedade Cuninghan, Cratylia argentea e Eucalyptus saligna, e a gramínea Panicum maximum, cultivar Mombaça. A área experimental foi dividida em quatro parcelas, sendo duas com o sistema silvipastoril e duas com pastagem a pleno sol. A área foi avaliada quanto à fertilidade de solo, densidade e porosidade. O levantamento de nível foi realizado para viabilizar a construção dos terraços para a conservação do solo. Já a correção do solo foi feita com aplicação de calcário, adubação de macronutrientes e micronutrientes.
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Quando a APTA deve ter uma conclusão final sobre esse trabalho?
condição de armazenamento de água na pastagem e disponibilidade de alimento no período seco.
A partir do segundo ano de plantio será possível colocar bezerros e novilhas no sistema para o pastejo no Mombaça e nas leguminosas e, assim, avaliar a taxa de pastejo, além do ganho de peso dos animais. Já no terceiro ano as vacas em lactação deverão pastejar no sistema silvipastoril e teremos os primeiros dados relativos a ganho reprodutivo, produção e qualidade.
Especificamente para a pecuária de corte, quais os benefícios concretos que o sistema de integração pode trazer?
Já é possível antever algum resultado? Ganhos na fertilidade de solo, redução de adubos, melhora na
Algumas vantagens são: • Melhoria do bem-estar animal, com o conforto térmico dos animais no campo, a redução do período de ganho de peso e o aumento na produtividade; • Produção de alimento com elevado teor proteico, regularidade na produção com qualidade, plantas com maior potencial de aumento na taxa de lotação de animais e melhoria do custo/benefício alimentar;
• Diversificação da produção e geração de renda, com produção de madeira para serraria; • Conservação do solo: redução do impacto das gotas de chuva na desagregação do solo e no escorrimento superficial em enxurrada, fixação de nitrogênio pelas leguminosas, ciclagem de nutrientes e microclima favorável; • Proteção ambiental: redução da erosão e aumento da diversidade de espécies.
Pensando numa escala maior, que envolva frigoríficos, como o investimento pode objetivamente trazer retorno financeiro? O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos
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Vis-à-vis
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Os benefícios do iLPF ao frigorífico * * * * * * no mercado local e regional. Garante, ainda, a melhoria do bem-estar animal aliada à possibilidade de aumentar a fixação do gás carbônico, reduzir a emissão de óxido nitroso e de mitigar a emissão de gás metano pelos ruminantes, o que pode favorecer o marketing ambiental.
A pecuária brasileira vive um momento discrepante de preços. Enquanto os produtores sofrem com o preço baixo do leite, o consumidor enfrenta problemas com o preço alto da carne. O iLPF poderia facilitar esse ajuste? A política de preços depende, principalmente, do mercado, que sofre influências das commodities na base da alimentação do gado, como a soja e o milho, e de seus insumos, sobretudo os carrapaticidas, os medicamentos e os adubos que sofrem com a alta do dólar e refletem na cotação do leite e da carne. A valorização do dólar refletirá diretamente no mercado internacional de leite e carne do Mercosul e de demais países.
O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos no mercado local e regional Há outros fatores que influenciam esses preços? As valorizações da carne também estão atreladas ao histórico de bezerros, com baixa oferta de animais de qualidade, e à falta de chuvas, que prejudica a qualidade das pastagens, reduzindo a taxa de prenhes. Esses fatores têm influência muito acentuada na questão dos preços.
Maior produtividade Maior oferta de produtos no mercado Alimento com alto teor proteico Melhoria do bem-estar animal Menor emissão de óxido nitroso e de gás metano Amplo favorecimento do marketing ambiental
E como o iLPF pode minimizar esse impacto? O iLPF pode propiciar ao pequeno produtor de leite e de carne uma estratégia a longo prazo de adequação da propriedade, na qual poderá regularizar o fornecimento de alimento. Os sistemas silvipastoris podem ser uma fonte contínua de alimento de qualidade, produzindo-o no período de menor precipitação e aumentando a produção de leite e carne. Eles reduzem, ainda, a influência das condições climáticas adversas na pastagem e no gado, proporcionando sombra para os animais. Além disso, o nitrogênio fixado pelas leguminosas ajuda a manter a produtividade e recuperar a pastagem degradada.
Em resumo, qual seria o grande benefício do iLPF? Pode-se verificar a influência direta desses efeitos e os ganhos que o iLPF traz na sustentabilidade da propriedade, mas é difícil quantificar seu efeito no mercado, pelos diversos fatores que o regulam. O que se pode afirmar é que o sistema refletirá em uma melhor relação custo/ benefício na propriedade agrícola.
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Espaço World Animal Protection
O papel do responsável pelo bem-estar animal no frigorífico José Rodolfo Ciocca, gerente de agropecuária sustentável da World Animal Protection
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esde 2008, a World Animal Protection trabalha em parceria com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), desenvolvendo materiais e capacitando profissionais para a implementação de procedimentos que assegurem o bem-estar animal durante e antes do abate. Para isso, a organização conta com uma equipe especializada, de parceiros oficiais que replicam esse treinamento e formam profissionais capacitados, reconhecidos pelo Ministério da Agricultura.
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Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Nas próximas quatro edições da Revista Nacional da Carne, publicaremos artigos relacionados ao abate humanitário dos animais, analisando pontos críticos e implementações de processos. Este primeiro artigo aborda o perfil e a importância do responsável de bem-estar animal nos frigoríficos. Em todo o mundo, mais de 100 bilhões de animais são transportados, comercializados e abatidos anualmente. O aumento da demanda do consumo de carne, aliado a uma cadeia de abastecimento globalizada, reforça a necessidade de desenvolver melhorias no bem-estar durante todas as etapas da produção animal. A cada dia, mais consumidores buscam produtos éticos, com padrões de produção que atendam os conceitos de sustentabilidade ambiental, social e animal. Neste sentido, as plantas frigoríficas possuem papel fundamental para implantar procedimentos que assegurem a produção de um alimento inócuo e ético, baseados em legislações nacionais e internacionais, além de padrões de clientes privados, como McDonald’s e Tesco, entre outros. Quando o assunto é bem-estar animal, legislações privadas e internacionais, como a EC1099/2009 da União Europeia, exigem a presença de um responsável pelo bem-estar animal dentro do frigorífico. A demanda por este profissional tem crescido e a atualização de legislações relacionadas ao abate humanitário tem incluído a obrigatoriedade do mesmo entre suas alíneas. Este profissional é a pessoa responsável por assegurar que os animais tenham um manejo humanitário antes e durante o abate, ou seja, com respeito à vida do animal que está sendo sacrificado para ser consumido como alimento. Para conseguir atuar de forma efetiva, este profissional deve ter conhecimento
técnico e embasamento científico sobre os indicadores de bem-estar animal de cada espécie, podendo assim capacitar pessoas, implantar processos e averiguar índices. Isso implica na realização de cursos específicos, reconhecidos por órgãos oficiais, capacitando-o para atuar com segurança dentro dos processos da planta.
Sabemos que a mudança nos padrões culturais é o caminho mais perene para uma sociedade sustentável
É fundamental o desenvolvimento de uma estratégia de comunicação e de educação alinhada com a visão da planta frigorífica, pois ela deve dar autonomia para que este profissional implemente e cobre ações para proteção dos animais. Diversos materiais podem ser desenvolvidos para facilitar a implementação de procedimentos, como cartazes, listas de ação e imagens ou fotos para ilustrar o que deve e o que não deve ser feito, certificando-se de que a linguagem adequada seja usada para comunicar-se com os diferentes públicos dentro da planta frigorífica.
A atuação deste responsável não minimiza apenas os problemas relacionados diretamente ao animal, mas também traz ganhos econômicos para a indústria por meio da redução de perdas diretas por mortalidade, hematomas, fraturas ou indiretas por defeitos na qualidade da carne dos animais. Através de procedimentos claros, a análise, o registro e a tomada de ação diante de uma não conformidade resultarão em uma correção rápida do problema, uma vez que temos o controle do processo. Em resumo, o responsável pelo bem-estar animal deve: - Possuir certificado de competência em bem-estar animal na(s) espécie(s) abatida(s) no frigorífico onde atua; - Verificar se todos os colaboradores envolvidos no processo têm o conhecimento e as competências adequadas para as suas tarefas e, se necessário, intervir para tomar medidas a fim de manter essas competências; - Dispor de autonomia para a tomada de ações que assegurem o bem-estar dos animais; - Estar presente durante todo o período em que são realizados os procedimentos de manejo pré-abate e abate. A World Animal Protection acredita que seu trabalho é contribuir para a construção de um relacionamento sadio com criadores, indústrias e governos locais por meio da capacitação e da educação de pessoas em bem-estar animal. Sabemos que a mudança nos padrões culturais é o caminho mais perene para uma sociedade sustentável, promotora de um consumo responsável e ético, onde todos os animais criados para servir de alimento sejam tratados com condições de respeito e bem-estar.
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Couro brasileiro seduz capital da moda
EMPRESAS & NEGÓCIOS
O couro brasileiro conquistou o mercado mundial da moda. Entre abril e maio, o projeto Design na Pele integrou uma importante mostra na Università Degli Studi Di Milano, em Milão, na Itália: a exposição Brazil S/A. E o resultado não poderia ser melhor. O Design na Pele atraiu visitantes de diversas partes do mundo, com destaque para estilistas do Brasil, Itália, França, México e Polônia. Até mesmo Philippe Starck, ícone do design contemporâneo, conferiu a elogiada iniciativa brasileira. Parte das ações do Brazilian Leather, um projeto setorial de internacionalização do couro brasileiro gerenciado pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), o Design na Pele é um dos grandes destaques atuais da Apex-Brasil. O projeto, que busca trabalhar artisticamente o couro nacional, é conduzido por dois consagrados estilistas brasileiros: Ronaldo Fraga, designer de renome mundial, cujas coleções têm diálogo constante com a cultura e a sustentabilidade; e Heloísa Crocco, pioneira do segmento ao unir moda e artesanato.
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Uma das peças desenvolvidas por Fraga ao setor, aliás, já foi exibida na Design of the Year, em Londres, na Inglaterra, uma das mais importantes exposições do mundo. Este é um programa singular, segundo José Fernando Bello, presidente executivo do CICB, que dá vazão à criatividade do brasileiro. “E isso naturalmente agrega ainda mais valor ao nosso couro.” O Design na Pele inaugurou sua segunda etapa neste ano e estabeleceu como tema a denominação Escritas. Assim, cada um dos curtumes participantes está desenvolvendo sua versão para uma temática comum, conjugando aspectos históricos e culturais, além da criação artística para cores e texturas do couro. O projeto já conta com a participação de 12 curtumes: AplicColour, Curtume Rusan, Courovale, Couros Bom Retiro, Fuga Couros, Curtume Krumenauer, Indústria de Peles Minuano, Romeu Couros, Couroquimica, Nova Kaeru, JBS e Curtume Moderno.
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EMPRESAS & NEGÓCIOS
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Danfoss lança controlador com maior conectividade Interface amigável, fácil navegação e notáveis capacidades de conectividade de rede: esses são os principais benefícios do EKE 347, um novo controlador de nível de líquido apresentado pela Danfoss, que pode elevar o “controle para um novo nível”, segundo a empresa. Ligado ao sensor que mede constantemente o nível líquido no vaso/ reservatório, o EKE 347 possui informação clara, com display gráfico com texto, e integração ampla com PLC da instalação. A Danfoss destaca, ainda, entre suas características, o circuito do sinal de entrada analógico autoalimentado, a aplicação em nove idiomas, o rápido assistente de menu, as melhores capacidades de controle e os algoritmos para minimizar as oscilações indesejadas. Mas o grande destaque do EKE 347 é, de fato, segundo a empresa, a “informação e controle em um só lugar”, possibilitando “uma interface gráfica remota fácil e poderosa que se conecta a vários controladores EKE”.
Aurora
filia 13ª
cooperativa
e amplia abate de aves
A Cocari Cooperativa Agropecuária e Industrial de Madaguari passou a integrar o quadro social da Aurora, tornando-se sua 13ª cooperativa filiada. Ambas passam a exercer o princípio da intercooperação, segundo contrato assinado pelos respectivos presidentes, Vilmar Sebold e Mário Lanznaster. A Aurora assume, portanto, o frigorífico/abatedouro de aves e a fábrica de rações da Cocari. “A unidade industrial de frango de corte abate 140 mil cabeças/dia, mas tem capa-
cidade instalada de 180 mil/dia que será atingida, ainda neste ano, pela nova operadora”, informa a Aurora em nota. Já a Cocari manterá sob sua administração o sistema de produção integrada de aves e o relacionamento com produtores integrados. A Vitaves, de propriedade da Cocari, passa a compor o mix de marcas da Aurora. Em 2014, a Cocari obteve receita operacional bruta de R$ 1,2 bilhão. A Aurora, por sua vez, faturou R$ 6,7 bilhões com seus mais de 800 produtos.
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EMPRESAS & NEGÓCIOS
Pif Paf planeja investir R$ 54
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Salus inaugura fábrica de nutrição animal
milhões
Reforçando as perspectivas favoráveis do setor frigorífico, que tem apresentado bons resultados mesmo diante do turbulento cenário econômico, a Pif Paf informou que investirá R$ 54 milhões apenas em 2015. O principal intuito da empresa é fazer aporte em pesquisas para construir aviários e desenvolver novos produtos. Há, ainda, a expectativa do aumento da infraestrutura do parque industrial e do portfólio de produtos industrializados. Recentemente, buscando reforçar essa aposta, a companhia lançou algumas novidades ao mercado consumidor, como escondidinho de carne moída, escondidinho de bacalhau e biscoito de queijo. Sétima maior empresa brasileira do setor de processamento de aves, suínos, massas e vegetais, a Pif Paf atua há 46 anos, possui mais de oito mil colaboradores e tem um mix de produtos com mais de 300 itens.
A Salus Nutrição Animal, apostando na permanência brasileira entre os maiores produtores mundiais de carne, inaugurou uma fábrica de premixes, núcleos e aditivos nutricionais.
A planta, localizada na rodovia SP-340, em Santo Antônio de Posse (a 30 km de Campinas), tem posição logística privilegiada, capacidade produtiva de 130 toneladas/turno e completa automação dos controles. O investimento total foi de R$ 20 milhões. “São 356 pontos de controle ao longo de todo o processo de produção, que fornece dados precisos, onde tudo é pesado, registrado e auditável. As chances de erro e contaminação cruzada são minimizadas e a rastreabilidade é total”, explica Ronnie Dari, gerente de desenvolvimento da empresa. Esta é a primeira fábrica da Salus, que iniciou no mercado como trader de aditivos para nutrição animal. “Como trader, a Salus alcançou, em pouco mais de três anos, uma posição entre as cinco maiores”, acrescenta Abílio Tardin, um dos fundadores da Salus. “Agora, como fabricante, a projeção é atingirmos um marketshare de 5% em cinco anos, na indústria do premix.”
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Feira alemã destaca importância da carne brasileira A poucos meses de sua realização, a feira bienal de alimentos e bebidas Anuga, promovida na Alemanha há mais de 60 anos, já conta com uma “fila de espera de 4 mil m³” para a área de exposição do setor cárneo. E, segundo Katharina C. Hamma, CEO da Koelnmesse, organizadora do evento, a cidade alemã de Colônia sediará, entre 10 a 14 de outubro, a maior feira mundial especializada para o setor internacional de carnes, onde “o Brasil desempenha um importante papel”. Sob o slogan de “10 trade shows em um”, a Anuga apresenta players, novidades e tendências dos setores de carnes, retail, serviços, bebidas, alimentos orgânicos, congelados, frescos, laticínios, panificação e produtos gourmet. São esperados 6.800 fornecedores de cerca de 100 países. A organização prevê público semelhante ao
de 2013, quando recebeu 155 mil visitantes. “A Anuga é a ação que oferece o melhor retorno em custo-benefício para a Apex”, afirma Rafael Prado, gerente executivo de Imagem e Acesso a Mercados da Apex-Brasil. Segundo ele, na última edição, a agência investiu de R$ 7 a 8 milhões e obteve retorno de US$ 1,1 bilhão. Neste ano, a estimativa é de aumentar esse retorno para US$ 4 bilhões.
Tendências Como grande referência do mercado mundial, a Anuga é importante também para apresentar algumas tendências. E uma das principais apostas de Katharina C. Hamma, CEO da Koelnmesse, é a de crescimento dos produtos veganos, ou seja, livres de origem animal.
Embora a tendência possa ter impacto negativo na indústria cárnea, Katharina é categórica: “vegan é uma tendência, sim, mas também notamos outras – em carnes, particularmente, a carne de alta qualidade é uma grande tendência”. Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), tem opinião semelhante: um possível aumento da tendência vegana não configura qualquer ameaça ao setor cárneo. “Pode ser uma tendência na Alemanha, mas o país vai continuar sendo um nicho de mercado”, atesta o diretor da Abiec. “Nossa indústria tem noção de que temos que trabalhar com produtos diferentes, seja de alta qualidade ou aliada a outros critérios de sustentabilidade, como o de bem-estar animal.”
Na balança Sobe I A JBS registrou lucro líquido de R$ 2,04 bilhões em 2014, crescimento de 119,6% na comparação com 2013. A receita, por sua vez, de R$ 120,5 bilhões, teve aumento de 29,7%. Sobe II Apesar do impressionante crescimento, a JBS pretende melhorar seus indicadores. “Em 2015, daremos prioridade para o crescimento orgânico e focaremos (...) para melhorar nossos indicadores financeiros”, diz Wesley Batista, CEO global. Desce O Brasil exportou 36,8 mil toneladas de carne suína em março, resultado 7,8% menor em relação a 2014. No acumulado do primeiro trimestre, a queda foi ainda mais expressiva: 18,2%.
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EMPRESAS & NEGÓCIOS
Artigo
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Sabor e
condimento para a
indústria cárnica Anderson Morales, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Doremus
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ondimentos ou temperos são produtos constituídos de uma ou diversas substâncias sápidas, de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregados nos alimentos com o fim de modificar ou exaltar o seu sabor. Na verdade, os condimentos vão além de uma simples definição e fazem parte da vida humana há milhares de anos. Existem registros que, ao longo da história humana, as especiarias tiveram emprego em banhos, inalações, rituais, misturas medicinais e, principalmente, na culinária. O uso de algumas delas tinha o poder de realçar o sabor, melhorar o aroma e tornar palatáveis carnes e outros alimentos. Quando passaram a ser comercializadas, seu preço era tão
alto que somente os ricos podiam utilizá-las. Assim, a riqueza do anfitrião passara a ser julgada pelo requinte de seus pratos e pela diversidade das especiarias utilizadas. No Brasil, os condimentos chegaram através dos colonizadores portugueses. Naquela época, os nobres mandavam vir da Índia seus prediletos, como canela, cravo e noz moscada. Com o avanço da humanidade, novas tecnologias foram adotadas, inclusive nos alimentos. Indústrias foram abertas – e com elas vieram a produção em larga escala. Ainda assim, continuamos a utilizar as especiarias em diversos produtos para agregar valor, além de aprofundar as pesquisas sobre suas funções, uma vez que muitas delas possuem ação antioxidante e antimicrobiana Hoje, a indústria de ingredientes alimentícios realiza pesquisas para fornecer produtos balanceados e com características exclusivas. E uma das tecnologias usadas para garantir o aroma de
cada condimento processado é a moagem por criogenia. A criogenia é um sistema que foi implantado, na Doremus, para a moagem de especiarias, pensando em melhorar a qualidade sensorial e organoléptica dos alimentos, além de reduzir os custos. É o ramo da físico-química para a produção em temperaturas muito baixas, utilizando nitrogênio líquido. Em um processo convencional de moagem, ocorre o superaquecimento do produto, provocando a perda dos óleos essenciais voláteis, que são os princípios ativos do aroma das especiarias. Através da criogenia, há uma redução de custo, pois se utiliza menor quantidade de especiaria para atingir o aroma desejado, uma vez que, durante a sua moagem, todas as propriedades sensoriais e organolépticas são mantidas. Os óleos essenciais são substâncias voláteis extraídas das plantas aromáticas. São formados por diversos compostos químicos, como alcoóis, cetonas,
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terpenos, ésteres e, principalmente, aldeídos. A extração dos óleos essenciais é feita, na maioria dos casos, por destilação a vapor, pressão a frio e solventes orgânicos. São amplamente utilizados na elaboração de condimentos destinados à indústria frigorífica. Os óleos de laranja, limão, canela, cravo, orégano, noz moscada, entre outros, são extraídos a partir de folhas, sementes, flores ou cascas de cada um desses produtos. Para avaliar os aromas das especiarias, dos óleos essenciais e também de suas misturas balanceadas (condimentos e aromas), a análise sensorial é constantemente empregada. A análise sensorial é a disciplina científica utilizada para evocar, medir, analisar e interpretar reações das características de alimentos e de outros materiais na forma como são percebidos pelos cinco sentidos: visão, olfato, paladar, tato e audição. Ela objetiva buscar informações e respostas para medir preferências, procurar melhorias da qualidade, vida útil ou estabilidade, aceitabilidade e manutenção da qualidade sensorial, favorecendo a fidelidade do consumidor. Empresas do setor cárneo, no decorrer dos anos, tornaram-se conhecidas e difundiram suas marcas – e muitas delas fidelizaram seus clientes. O fator considerado preponderante é a fixação de determinado perfil aromático e sabor desejável, único e marcante nos embutidos. O consumidor, cada vez mais exigente nesse quesito, fideliza determinada marca porque se identifica com seu sabor e perfil sensorial. Muitas vezes, ao ser comprado por esse consumidor, o produto deixa de ser chamado apenas por linguiça, salsicha, mortadela ou salame, e passa a atrelar-se à marca.
Quando passaram a ser comercializadas, as especiarias eram tão caras que somente os ricos podiam utilizá-las. Assim, a riqueza passara a ser julgada pelo requinte dos pratos É válido frisar que, para a elaboração de um produto embutido, avaliando a composição das matérias-primas utilizadas, os custos com aromas e condi-
mentos usualmente são menos impactantes, porém são fatores chave para conferir o sabor característico e, assim, garantir a fidelidade do consumidor. A Doremus atua com soluções em ingredientes e aromas para atender a indústria de carnes e processados. Em nosso portfólio temos estabilizantes, emulsificantes, antioxidantes, conservantes, proteínas de soja, corantes naturais e uma linha completa de condimentos elaborados para diversos tipos de aplicação na indústria frigorífica. Além disso, a empresa é pioneira em tecnologia de moagem Criogênica, que confere melhor performance em sabor e aroma. Como apoio ao trabalho da criação de um aroma ou condimento, a Doremus possui laboratório de análise sensorial e uma planta piloto para fabricação de embutidos, como linguiças, salames, mortadelas, presuntos e outros, onde aplicamos os ingredientes e concluímos o desenvolvimento dos Condimentos e Aromas Salgados.
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exportaÇÃO
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
No embalo das exportações
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Thais Ito
Protagonismo da carne brasileira demonstra como a embalagem 茅 crucial para conquistar qualquer importador e garantir bons neg贸cios
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exportaÇÃO
crédito divulgação/Aurora
Comércio Alemão de Alimentos (BVLH). “Eis alguns exemplos: a fim de melhorar a legibilidade do rótulo dos alimentos, foi introduzido um limite para o tamanho mínimo da fonte. Alérgenos que possam estar contidos no produto devem ser destacados na lista de ingredientes. Carnes suínas, ovinas, caprinas e de aves não processadas e pré-embaladas deverão possuir indicação de origem”, esclarece. Rausch “Boa barreira de umidade e zero risco lamenta casos em que o microbiológico ao produto” são algumas exigências básicas, segundo Daniele Becchi, produto anunciava carda Aurora. ne bovina, mas continha equina. “Não queremos mais isso.” expectativa mundial de que o A alteração na legislação alimenBrasil seja o maior provedor tar europeia, contudo, não preocupa de proteína animal e a busca o Brasil. Rui Eduardo Saldanha Vardos frigoríficos nacionais por novos gas, vice-presidente de suínos da Asmercados, atraídos pela alta do dó- sociação Brasileira de Proteína Anilar, entre outros fatores, favorecem as mal (ABPA), garante: frigoríficos e perspectivas de exportações dos pro- empresas de embalagem nacionais já dutos cárneos. É momento, portanto, respeitavam essa regra. “O País semde redobrar as atenções sobre as di- pre informou na rotulagem o que o versas exigências desse processo. produto contém, sua origem animal e Tal preocupação se torna ain- sua procedência. Já fazemos isso para da mais necessária porque as regras o mercado interno e externo. A lei do mercado mundial são voláteis e não nos afeta.” inconstantes. Em dezembro do ano Mas a atenção às informações do passado, por exemplo, entrou em vi- rótulo é apenas um dos critérios na gor uma nova regulamentação sobre adequação da embalagem. E, inderotulagem para produtos alimentícios pendentemente de a União Europeia locais e importados na União Euro- ser um importante destino de alipeia (UE), um ponto de atenção para mentos e bebidas do País - as vendas todos aqueles que buscam embarcar brasileiras para o bloco giraram em carne para o mercado europeu. torno de US$ 10 bilhões nos últimos “Com esta lei, a rotulagem dos anos, com destaque para a carne boalimentos foi completamente retraba- vina e de ave, segundo a Apex-Brasil lhada”, explica Franz Rausch, diretor -, o cuidado com o invólucro é crucial executivo da Associação Federal do para conquistar qualquer importador e garantir bons negócios.
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
A
...funções
• Proteção - deve preservar a mercadoria no manuseio e no transporte para chegar ao importador de maneira íntegra. • Utilidade - seja a primeira película que toca o produto ou a caixa que a conserva, seja para porcionar ou pronto para consumo, a embalagem precisa garantir a qualidade e a durabilidade do alimento. • Comunicação - transmitir informações nutricionais, técnicas e de origem, entre outras. Do ponto de vista artístico, é uma forte ferramenta para atrair consumidores.
...requisitos básicos*
• Tecnologia que garanta a durabilidade do produto, com vida útil de 70 dias, no mínimo. • Solda segura que garanta a hermeticidade, mantenha a integridade do produto e reduza os riscos de contaminação. • Alta resistência mecânica, reduzindo perdas por manuseio inadequado.
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A embalagem
em
3
divulgação/Sealed Air Food Care”
...fornecedores de soluções
• A Sealed Air Food Care apresenta o Filme A203 para carnes congeladas, “um filme segunda pele, multicamada, com alto brilho e transparência, selado, que possui características que evitam a queima pelo frio”, segundo Alessandra Souza, gerente de segmento de mercado para carne vermelha. Seu diferencial é o processo automatizado de embalagem. Outra opção são os sacos termoencolhíveis Cryovac QuickRip (foto acima) com abre-fácil para peças resfriadas. “Permitem a abertura em condições de total higiene e segurança, sem uso de faca ou tesoura”, atesta Souza.
divulgação/Markem-Imaje
• A Spumapac conta com bandejas de poliestireno para produtos resfriados e a linha congelamento, cujas unidades são produzidas para suportarem as mais baixas temperaturas. “Não existe restrição de embalagens em poliestireno em outros países”, frisa Fernanda Portella, analista de marketing. “Porém, outros itens que são utilizados nas bandejas de poliestireno, e que compõem a embalagem final do produto, podem conter restrições devido à apresentação de imagens impróprias ou informações do produto.” • A Markem-Imaje traz o Sistema 2200 (foto ao lado), com uma codificadora que imprime e aplica etiquetas para caixas e pallets destinados à exportação. A marca garante rastreabilidade, pois “cada pallet pode ser identificado de maneira única e monitorado ao longo da cadeia logística, desde a saída da fábrica até seu destino final”. Além disso, a codificadora promete índice de reciclagem de suas partes e peças em cerca de %95, compatibilidade com suporte de etiquetas recicláveis e baixo consumo de energia (inferior a 60 watts no ritmo máximo).
...pontos de atenção!
• O mercado externo quer comprovação da origem do produto. “Vários países exigem lacres ou etiquetas específicas a fim de garantir a procedência do produto. Esse lacre deve garantir a inviolabilidade da embalagem até seu destino final”, conta Daniele Becchi, da Aurora. Alguns importadores também pedem código de rastreabilidade. Assim, o consumidor final pode conhecer toda a cadeia do produto. • O mercado externo quer ações de sustentabilidade. Para atender a essa demanda, Becchi conta que a Aurora tem reduzido o peso das embalagens através da otimização de medidas e espessura, tanto de sacos como de caixas, assegurando a resistência mecânica necessária. “No caso de caixas as mesmas são dimensionadas a fim de otimizar o volume transportado por contêiner, reduzindo os custos logísticos que são impactantes para a exportação”, complementa. • Carne pode integrar projeto Inova Embala, da Apex, que visa ajudar empresas a incrementar as embalagens para exportação. O programa nasceu graças à demanda de entidades setoriais parceiras da agência e pretende ampliar o atendimento a novos setores. “O setor de carnes, certamente, poderá estar na próxima edição, que deve se iniciar ainda em 2015”, antecipa Adriana Rodrigues, da Apex.
*Requisitos para carne bovina in natura, segundo Alessandra Souza, da Sealed Air Food Care. Fontes: Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Apex-Brasil, Aurora, Sealed Air Food Care e Spumapac.”
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divulgação/Apex
exportaÇÃO
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Influências da embalagem
“É necessário entender a situação do consumo”, diz Adriana Rodrigues, da Apex
Na exportação de produtos in natura, ou mesmo de alimentos prontos para o varejo, a credibilidade da indústria exportadora depende da embalagem. É ela quem deve acondicionar adequadamente e garantir a integridade da carne, assegurando que chegue apresentável e alinhada às especificidades do acordo comercial, que podem variar dependendo do comprador, do país de destino e do produto. “As embalagens primárias para o mercado externo exigem boa resistência mecânica, boa barreira à umidade, devem garantir que a embalagem não ofereça nenhum risco microbiológico ao produto, e devem assegurar que as resinas, os aditivos e as tintas utilizados na fabricação dessas embalagens não migrem para o produto”, conta Daniele Becchi, coordenadora de pesquisa e desenvolvimento de embalagens da Aurora.
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Nas embalagens dos produtos in natura, que costumam ser empacotados a vácuo, o cuidado especial é em reforçar a qualidade do produto. “Como a carne é um produto que todo mundo gosta de ver a peça, então é interessante que a película que a embala seja transparente”, acrescenta Rui Vargas, diretor da ABPA. A questão do idioma também influencia essa dinâmica. Embora alguns produtos brasileiros sejam aceitos em português por países do Mercosul, o mais comum é que os importadores exijam informações em sua própria língua - inclusive data de validade segundo a disposição local. “É o mais adequado”, pontua Vargas. Mas produtos que ainda serão porcionados e transformados em alimento, segundo ele, não costumam sofrer essa exigência. Outro aspecto a ser levado em conta é a cultura local. Países que possuem hábito alimentar diferente do brasileiro são justamente os que apresentam mais requisitos para a embalagem. “No Oriente Médio, por exemplo, é necessário incluir dizeres em árabe com
informações sobre o método de sacrifício, que tem de ser halal”, salienta Vargas. Nas embalagens para o varejo, os costumes do consumidor também podem influenciar o mecanismo. “É necessário entender a situação do consumo: como ele faz a refeição, com quem, onde, quem prepara, quem compra”, destaca Adriana Rodrigues, coordenadora de competitividade da Apex-Brasil. “E, para isso, é preciso entender o ‘código’ da categoria, que cores usam, que tipo de embalagem, que histórico existe.” Há, ainda, conforme relembra Rodrigues, “o shelf life (vida de prateleira) do produto, que deve ser muito bem analisado considerando a questão do transporte até o destino”. A embalagem, portanto, também influencia ou é influenciada pelo aspecto logístico, levando em consideração o meio e a forma de transporte (se em contêineres, caixas de papelão, etc) e as orientações do importador em relação às condições de desembarque.
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vitrine
Informe publicitรกrio
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Kurz KITFRIGOR A 22 anos, a KITFRIGOR, trabalha para entregar, ao mercado consumidor de frio, a melhor solução, a mais confiável, a mais completa e que proporciona a maior economia de energia do mercado(até 45%). Uma linha de equipamentos, projetados e produzidos exclusivamente para a necessidade de cada cliente. Nossos vendedores técnicos têm a solução para seu problema.
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vitrine
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MONTEF Produto: Dutos Têxteis para Climatização de Ambientes
Memphis Empreendimentos Ltda Produto: Tratamento e Reuso de Efluentes Industriais Especificações técnicas: 1)Tratamento biológico de efluentes com tecnologia anaeróbia e aeróbia (lodos ativados, MBBR e MBR) - 2) Tratamento com membranas de ultrafiltração e osmose reversa para o reuso de efluentes Benefícios: Redução de custos, otimização de ETEs, redução do consumo de água com o reuso de efluentes
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Produto: Condensador evaporativo
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Espaço ABPA
O valor que gera renda Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
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Produto com valor agregado gera emprego e renda. No caso da avicultura, são 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos
O
mercado consumidor internacional é uma arena na qual o setor avícola brasileiro tem orgulho de ostentar a faixa de “campeão”. Líder mundial nas exportações, o setor embarcou, só no último ano, mais de 4 milhões de toneladas de carne de frango. Mais de US$ 8 bilhões foram gerados com as vendas, para mais de 150 países. Engana-se, no entanto, quem vê nisto um cenário confortável para o Brasil. Competimos com nações reconhecidamente inovadoras, como é o caso dos Estados Unidos. A batalha pelo primeiro lugar é um duelo diário que disputamos em um negócio no qual o preço não é mais o grande diferencial competitivo, distinto dos mercados de commodities. Não, caro leitor, a carne de frango não é commodity. Diferente de algumas interpretações equivocadas, ela é um produto cuja qualidade, sanidade e origem é valor percebido pelo consumi-
dor – do Brasil e de outros países. É um produto com valor agregado, com marca reconhecida e de percepção diferenciada, especialmente em mercados como o Oriente Médio e o Japão. E qual o valor disto? Vamos explicar a partir dos insumos do frango: o milho e a soja. Para ser produzido, cada quilo de frango precisa de 1,133 kg de milho e 0,567 kg de soja. Se embarcássemos para o exterior todo o milho e a soja usados na produção do frango que exportamos em 2014, teríamos um saldo de US$ 1,9 bilhão – ou US$ 6,1 bilhões a menos que o saldo dos embarques de carne de frango no mesmo ano. Há, ainda, um grande horizonte para se explorar. Apenas 11% de nossas exportações é de produtos industrializados, cujo preço médio das exportações, de quase US$ 3 mil dólares, representa uma agregação de valor próxima de 80%. De outro lado, 89% das exportações são
cortes e frango inteiro, cujo valor agregado é inferior a 70%. Imagine os efeitos econômicos e sociais se a parcela de participação de industrializados e de cortes e inteiros fosse invertida! Dentre os efeitos diretos, podemos destacar a expansão dos postos de trabalho, aquisição de maquinários, fortes investimentos em pesquisa e tecnologia, entre outros. Quanto mais processos empregados, maior a presença destes fatores. Produto com valor agregado gera emprego e renda. No caso da avicultura, são 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Este deve ser um objetivo da iniciativa privada, mas também do poder público, como uma política de estado. Frente aos desafios econômicos que enfrentará nos próximos anos, o País tem duas escolhas: ou promove a agregação de valor em nosso território, ou exporta oportunidades e empregos.
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O novo dólar Moeda norte-americana se fortalece, impacta economia mundial e traz novas perspectivas à indústria cárnea brasileira Thais Ito
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divulgação/GTFoods
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“Temos um ganho na conversão para o real nas negociações com o mercado externo. Por outro lado, grande parte do nosso custo é dolarizado”, resume Edemir Trvizoli, da GTFoods
A
alta do dólar parece ter despertado um alarme geral. Uma visão mais profunda sobre a variação cambial, porém, traz meandros capazes de abafar o som estridente dos gritos de preocupação. O setor cárneo e suas exportações, por exemplo, beneficiam-se dos bons ventos emanados por esse fenômeno. Fenômeno, sim, pois a valorização da moeda norte-americana a R$ 3,30, alcançada em março, rompeu um regime de dez anos de estabilidade monetária - o dólar não ultrapassava a casa dos R$ 3,00 desde 2004. Mas, diferentemente do que tem apregoado boa parte do mercado, esse fenômeno não se deve apenas aos desarranjos da economia brasileira. “Fundamentalmente, o dólar está se valorizando no mundo inteiro. Há um ano você precisava de US$ 1,40 para comprar um 1, mas hoje só precisa de US$ 1,07”, explica Emilio Garofalo Filho, ex-diretor de área ex-
terna do Banco Central e atual diretor do Banco Ouroinvest. Ou seja, a depreciação do real não é uma exceção. Ainda assim, apesar do movimento ser generalizado, a expectativa é de que a moeda norte-americana volte a subir nos próximos meses. Garofalo aposta que 2015 deve terminar com o dólar a R$ 3,30, caso não ocorra nenhuma turbulência, enquanto Mariana Orsini, economista da GO Associados, acredita que este será o valor de 2016. Para o ano atual, a economista prevê uma cotação de R$ 3,15. Já Stefan Mihailov, diretor da Phibro, projeta que a moeda chegue a R$ 3,25 em dezembro. Essas diferentes análises, entretanto, partem de um mesmo princípio. Em consenso, economistas apontam os Estados Unidos como o principal estopim da alta. Primeiramente, porque o país tem demonstrado sinais de recuperação financeira. Além disso, o possível aumento dos
juros dos títulos norte-americanos abre margem para a especulação. Resultado: os EUA voltaram a atrair investidores e o dólar se fortaleceu. “A parte positiva é que muitas negociações com o mercado externo são realizadas com contratos previamente firmados em dólar, e nesse caso temos um ganho na conversão para o real”, sintetiza Edemir Trevizoli Junior, gerente de exportações do Grupo GTFoods. Esse impacto, contudo, tem um importante contraponto. “Por outro lado, como grande parte do nosso custo é dolarizado, também sofremos o impacto negativo e temos que arcar com a elevação de custo na produção.” A fotografia pode revelar bons ângulos, mas os benefícios não devem prevalecer sobre a análise crítica. Além de recomendar o aproveitamento do bom clima para as exportações, as fontes ouvidas pela reportagem sugerem cautela neste ano volátil.
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Por que o dólar sobe? A volatilidade do mercado cambial nasce da sua sensibilidade a fatores econômicos e políticos. Confira picos do dólar na história brasileira desde o Plano Real e suas causas, segundo o consultor da ComFinanças, Silvio Crespo. Entre suas análises, ele destaca a força dos Estados Unidos. “Repare que os títulos norte-americanos atraíram uma grande quantidade de investimentos em dois momentos aparentemente opostos: quando estourou a crise, em 2008, e agora, quando o país está se recuperando”, atenta. “Ou seja, o dólar sobe quando os EUA estão bem ou mal.”
Retomada dos EUA
Efeito Lula Maxidesvalorização do real
Crise nos EUA
Fonte: Banco Central
1999 (R$ 2,16): Maxidesvalorização do real. “Até o início daquele ano, o Banco Central vendia dólares constantemente, mantendo o real artificialmente valorizado. Prevendo que com essa política as reservas do País acabariam e o governo poderia ficar insolvente, investidores retiraram dinheiro do País, comprando dólares”, explica Crespo. “Consequentemente, a moeda brasileira teve uma súbita queda em relação à americana.” 2001 e 2002 (R$ 2,80 a R$ 3,92): Efeito Lula. “O temor de que o candidato petista não assumisse compromisso de pagar a dívida brasileira levou investidores a, mais uma vez, retirar capital do Brasil. Ninguém queria comprar real naquele momento, seja para investir no setor produtivo ou no mercado financeiro”, aponta. Logo, a cotação do dólar subiu. 2008 (R$ 2,50): Crise nos EUA. O banco Lehman Brothers quebrou e desencadeou uma corrente de insegurança entre os investidores.
“Quando o investidor fica com medo, o que ele faz? Compra títulos públicos americanos”, constata. “Então eles tiraram dinheiro praticamente de todos os outros países e se refugiaram no dólar, representado por papéis da dívida dos EUA, único ativo em que eles confiam 100 .” Consequentemente, o dólar subiu em comparação às outras moedas. E o real não foi exceção. 2015 (R$ 3,26): Retomada dos EUA. Nos últimos anos, os Estados Unidos deram sinais de que sua economia está se recuperando da crise de 2008. Com isso, investidores novamente tiram parte do seu dinheiro que está em outros países para investir nos EUA. “Primeiro, porque a economia norte-americana está crescendo e voltando a ser atraente”, conclui. “Segundo, porque há expectativa de que o Banco Central norte-americano eleve a taxa de juros dos títulos públicos, gerando especulações de alta do dólar.”
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capa
divulgação/Frimesa
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Brasil exporta menos, mas dólar segura receita O volume de produtos cárneos exportados caiu em todos os setores no 1º trimestre. A valorização da moeda norte-americana, contudo, evitou que o prejuízo fosse maior. Aves
*
O volume praticamente se manteve estável e totalizou 928,6 mil toneladas, representando ligeira queda de 0,26 em comparação com o mesmo período de 2014. A receita em dólares caiu 8,4 . Já em reais houve incremento de 11,5 , rendendo R$ 4,5 bilhões. “Já é um reflexo da valorização do dólar”, diz Ricardo Santin, da ABPA.
Alta do dólar pode estimular o escoamento da excessiva oferta de carne suína no mercado brasileiro, ressalta Elias José Zydek, da Frimesa
Bovino O Brasil embarcou 318 mil *toneladas, volume 17 menor que em
2014. A receita foi de US$ 1,3 bilhão ( 17 ). “Os dois primeiros meses foram de queda em alguns mercados, como na Rússia, que entrou em uma crise cambial e puxou nossos números para baixo, mas já vemos uma recuperação. Com o dólar, nossa expectativa é positiva”, explica Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), enfatiza: “Se o dólar não tivesse subido, a queda de receita no primeiro trimestre poderia ter sido maior”. Suíno das exportações recuou *18,2 O volume ao totalizar 92,7 mil toneladas.
A receita, de US$ 225,7 milhões, configurou decréscimo de 23,5 . Já em reais a queda foi menor ( 7 ), com receita de R$ 648,1 milhões. Rui Eduardo Saldanha Vargas, vice-presidente de suínos da ABPA, esperava a retomada para fevereiro, mas postergou para os próximos meses, culpando a greve dos caminhoneiros e o ciclo de reprodução da suinocultura.
Vocação salvadora O Brasil embarca 20% da sua produção de carne bovina, 15% da suína e 30% da avícola. Embora reserve a maior parte para o mercado interno, o setor tem vocação para a exportação. “E para quem exporta carne está excelente”, atesta Garofalo, que já teve passagem pela Fri-
boi. “Estimula a produção pecuária e a exportação porque, em dólares, podemos vender um pouco mais barato e nos tornamos um concorrente melhor no mercado internacional.” A avaliação de Garofalo já foi atestada pela BRF. No primeiro trimestre de 2015, a companhia registrou lucro líquido 42,8% superior ao do mesmo período de 2014 graças, em boa parte, às exportações e ao fator cambial. Apesar de suas embarcações terem minguado em volume em todas as regiões - Europa (-15,7%), Oriente Médio/África (-6,4%), Ásia (-9,1%) e América Latina (-29,3%) -, os melhores preços em reais compensaram os resultados. “O câmbio ajudou a empresa, obviamente”, admite Augusto Ribeiro Junior, vice-presidente de finanças da BRF, em uma conversa com investidores. Segundo ele, a queda da demanda na Rússia e a decisão de não embarcar para a Venezuela, por conta da instabilidade política, não prejudicaram os resultados. “Mesmo sem eles, que são mercados voláteis mas rentáveis, conseguimos aumentar a renda através do foco em outras regiões”. O destaque nesse período foi o Oriente Médio e a África, regiões que renderam uma receita operacional líquida 15,1% superior. Na Frimesa, empresa que fatura anualmente cerca de US$ 70 milhões em exportações suínas, o balanço da valorização da moeda norte-americana também é positivo. “Um ponto importante é o estímulo a maiores exportações, o que é muito bom para reequilibrar a questão de oferta e demanda no mercado interno, que está com um pouco de excedente, evitando a queda de preços internamente”, destaca o diretor-executivo Elias José Zydek.
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Por outro lado, o dólar valorizado pode inflacionar parte dos custos, como os de ração e medicamentos, conforme aponta Mariana Orsini, da GO Associados. “Talvez piore para consumidores internos”, ressalta. É o que a BRF sinaliza com a previsão de preços mais altos no mercado interno. “Vamos buscar um reposicionamento da pressão de custos. Devemos buscar uma recomposição de inflação via aumento de preços”, anunciou a empresa em comunicado. “2015 continua sendo o ano desafiador.” Ana Paula Firmato, sócia da área de Debt Advisory da KPMG no Brasil, concorda que este será um ano de ajustes. “Deve haver ajustes de custos e talvez reestruturação de en-
divulgação GO Associados
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Mariana Orsini, economista da GO Associados
dividamento, pois muitas exportadoras têm dívidas indexadas em dólar e isso deve ter afetado as linhas de crédito disponíveis”. A tendência, assim, é que mais empresas tentem exportar. Mas tudo tem um limite. E, neste caso, ele pode vir da demanda externa. “Você não aumenta a exportação só porque deseja vender; o outro lado tem que querer comprar. E o que aconteceu este ano é que a moeda desvalorizou em vários clientes nossos, tem a crise do petróleo nos maiores compradores, por isso a demanda caiu”, salienta Maurício Palma Nogueira, coordenador de pecuária da Agroconsult. “Acredito em estabilidade ou alta de até 4% no volume de carne bovina exportada este ano.”
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crédito cepea
Edi Pereira
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Dólar alto: bom para o setor bovino, nem tanto para o de aves, segundo sergio de zen, do cepea
A vantagem do boi O setor bovino é o menos prejudicado pela influência do dólar nos custos de produção. Pesquisador responsável pela área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Sergio de Zen explica que poucos insumos são importados para a bovinocultura. “O núcleo mineral e a parte de medicamentos são importados, e o milho tem preço dolarizado, mas tudo isso representa apenas 10% dos custos de produção”, detalha. O pecuarista sente no bolso, mas “o impacto é menor do que o ganho na
“É preciso ter planejado quanto será exportado, independente da variação do dólar”, aconselha Ricardo Santin, da ABPA
venda”. A alta da arroba não tem relação com o câmbio, ele acrescenta, mas com a oferta, a demanda e a forte estiagem dos últimos anos. O fato de o Brasil exportar genética também favorece o setor bovino. Logo, resume Zen, quanto mais alto o dólar, melhor para esse nicho. Já o setor de aves, mais atrelado ao mercado de grãos, é suscetível à oscilação do dólar. Base para a alimentação desses animais, o milho e a soja são commodities com preços dolarizados. “Se esses produtos estão com estoque em baixa e o preço em momento difícil, então se produz uma situação altamente negativa”, elucida Zen. Outro problema é o encarecimento da energia, pois precisa-se manter a temperatura adequada nos aviários. Mais de 60% dos custos do setor são indexados ao dólar. Nas remessas de frango ao mercado externo, entretanto, o aumento do custo é neutralizado pela competitividade, conforme acrescenta Ricardo Santin, vice-presidente de aves
da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Porém, no mercado interno só aumenta o custo. Nesse caso o dólar faz com que os preços de insumos importados como vitaminas, probióticos, vacinas, sais minerais e premixes sejam impactados negativamente.” Já no caso dos suínos a situação é um pouco menos preocupante. O setor também sofre impacto do mercado de grãos, mas tem menos dependência da genética importada. O longo ciclo de produção exige menos importações - diferente da avicultura, que tem alta rotatividade. Apenas 50% dos custos produtivos para suínos estão atrelados ao dólar.
Oneração chega aos insumos O setor de insumos já foi onerado pela depreciação do real. É o que assegura Stefan Mihailov, da Phibro,
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Thais Ito
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“Mais de 80% do custo de suplemento mineral é dolarizado”, informa Stefan Mihailov, da Phibro
empresa que fornece aditivos para ração e suplemento mineral. “Mais de 80% do custo de suplemento mineral, que é fundamental na cria, recria e terminação, é dolarizado”, explica. Um dos elementos essenciais nessa mistura é o fosfato bicálcico, que já contava com aumento de 20% previsto para maio, segundo Lauriston Bertelli, presidente da Associação Brasileira de Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram). “O impacto do preço do fosfato no suplemento mineral é de 50% a 65%”, destaca Bertelli. Para se ter uma ideia das consequências na cadeia, a mistura representa de 20% a 25% dos custos totais dos insumos (vacinas, medicamentos, vermífugo, vermicida, etc) aplicados na pecuária de corte. Uma pesquisa de Índice de Confiança do Agronegócio, elaborada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), mostra que a confiança
Com a alta do dólar, o barateamento dos ativos
brasileiros deve atrair investidores estrangeiros, segundo Ana Paula Firmato, da KPMG
da indústria de insumos agropecuários já caiu. No primeiro trimestre, o fraco desempenho das vendas de defensivos agrícolas, fertilizantes e máquinas teria levado à queda de 15 pontos nesse índice. “A alta do dólar também afetou negativamente o resultado”, diz o estudo, relacionando o impacto às importações de matérias-primas. Mas o outro lado da moeda novamente reluz: em razão do perfil exportador das indústrias alimentícias, a variação cambial ajudou a amortizar a queda de confiança nesse setor.
Oportunidades e recomendações O horizonte, nebuloso pela conjuntura econômica e política, permite o vislumbre de algumas oportunidades. Otimizar ao máximo as exportações é uma delas. Outra interessante alternativa vem do próprio mercado externo, segundo Firmato,
da KPMG: “enxergar possibilidades de alianças com empresas estrangeiras, que acabam vendo os ativos brasileiros mais baratos”. Com base nesse preceito, ela prevê mais aquisições no setor por parte de estrangeiros. Na onda do estímulo às exportações, dois pontos importantes devem ser ressaltados. Um deles é a capacidade de o Brasil atender à demanda. “Se necessário, o setor de aves consegue produzir até 15% a 20% a mais em até três meses, como uma resposta imediata, sem prejudicar a estabilidade
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capa
divulgação/SRB
Thais Ito
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Maurício Nogueira, da Agroconsult: “O segredo para o pecuarista manter ganhos com a alta do dólar é aumentar a tecnologia”
do mercado interno”, garante Santin, da ABPA. Não é o caso de suínos, que apresenta o limitante do longo ciclo de produção. O outro ponto fundamental é o cuidado com a credibilidade perante o mercado internacional. Não adianta investir em exportações e cortar a oferta caso o dólar volte a cair. O compromisso com os importadores pode ser decisivo para o sucesso de futuras negociações. “É preciso ter planejado quanto será exportado e mantê-lo, independente da variação do dólar”, reforça o representante da ABPA.
Gustavo Junqueira, da SRB: "O maior investimento tem que ser em tecnologia da gestão"
Nogueira, da Agroconsult, por sua vez, afirma que o segredo para viabilizar ganhos da empresa, independentemente da cotação cambial, é aumentar a tecnologia. “É preciso aumentar o giro, fazer a conta, incrementar a tecnologia para ocupar melhor o espaço e usar a estrutura, diminuindo o custo fixo.” A opinião de Nogueira é compartilhada por Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Para ele, o maior investimento deve ser direcionado à tecnologia da gestão. “O pecuarista hoje tem que entender de gestão de fluxo de caixa, de capital de giro, os
O pecuarista hoje tem que entender de gestão de fluxo de caixa, de capital de giro, os aspectos de mercado e consolidar um relacionamento com o frigorífico
aspectos de mercado e consolidar um relacionamento com o frigorífico baseado em um produto que o consumidor quer comprar. Ou seja, ele não tem que vender aquilo que produz, mas sim produzir aquilo que se vende”, aconselha. A atenção às reais necessidades do mercado e a potencialização da capacidade gestora podem ser um elemento crucial para os próximos meses. Enquanto esse novo cenário tende a consolidar-se não só na economia brasileira, como nos principais centros financeiros, o setor precisa equacionar questões difíceis, como tamanho do lucro com embarcações, volume a ser produzido para exportação, prejuízo causado pela dolarização das dívidas e impacto provocado pelo aumento dos custos de produção. O problema, certamente, até pelo ineditismo do cenário, não será simples de solucionar. A certeza, entretanto, parece ser uma só: a indústria cárnea nacional tem plenas condições de aproveitar a maré e surfar tranquila nessa turbulenta onda do novo dólar.
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capa
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Thais Ito
Quanto mais o dólar sobe... A moeda norte-americana não é o único fator que influencia o setor cárneo. Mas, se fosse, o que aconteceria com sua valorização? IMPACTOS GERAIS Positivos
Negativos
Aumenta a competitividade dos produtos brasileiros no exterior
Prejudica quem possui dívidas indexadas ao dólar
Engorda a receita em reais das exportações
Eleva custos de produção, como milho, soja, suplemento mineral e genética importada
Aves
custos dolarizados
® Tem os custos de produção mais prejudicados, pois em média
60% deles são indexados ao dólar. A alimentação, por exemplo, é baseada principalmente nas commodities dolarizadas milho e soja. Além disso, inflam-se os gastos com energia, pois requer manutenção de temperatura nos aviários. ® Por outro lado, o dólar mais alto ajuda na competitividade e pode ajudar o setor a ganhar share no mercado internacional, estimulando o aumento de produção. ® Se o dólar cai, os custos de produção ficam mais baratos, o que é vantajoso. No entanto, a competitividade no mercado externo enfraquece. A taxa cambial de equilíbrio seria R$3,00.
Arte: Adriano Cantero
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Bovinos Lucro! Lucro! Lucro! É o mais beneficiado, pois o ganho com exportações é muito maior do que os gastos impactados pela alta do dólar - apenas 10%, em média, dos custos de produção são indexados ao dólar. ® O mercado de grãos, que é dolarizado e tende a encarecer os gastos com alimentação, exerce menos influência no setor bovino pois este se alimenta principalmente de pastagens. ® O lucro, contudo, depende muito da demanda externa, atualmente abalada pela crise econômica na Rússia, um dos grandes compradores de carne bovina brasileira. ®
Suínos dos preços Alta internos A receita de suínos sobe em proporção superior à de aves, pois há menos custos de produção atrelados ao dólar - cerca de 50%. ® A genética importada pesa menos nos gastos do setor suíno, pois seu ciclo de produção é mais longo e exige importações menos frequentes. No setor de aves a rotatividade é maior. ® No momento, a alta do dólar é benéfica ao reequilíbrio da oferta e demanda, retirando o excesso atual do mercado brasileiro e evitando alta dos preços internos. ®
Fontes: Cepea, ABPA, Frimesa e KPMG
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Espaço SNA
Governabilidade e segurança Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)
O
Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, onde se pontifica uma generalizada crise de confiança. Somos bombardeados diariamente com denúncias de corrupção nunca vistas na história desse País, envolvendo políticos, empresários e funcionários do executivo e do judiciário. Na economia, estamos atravessando uma combinação de indicadores negativos que alguns denominam de “tempestade perfeita”, com inflação em alta, estagnação econômica, déficit nas contas públicas, juros elevados, dívida pública em crescimento e perspectivas de desemprego. Na área política instalou-se uma verdadeira balbúrdia. Não podemos permitir que esse clima negativo paralise o País. A incerteza é uma das maiores inimigas do desenvolvimento. Ela amedronta os consumidores, inibe os empreendedores e afugenta os investidores. Em meio a essa crise sem precedentes, temos a oportunidade de passar a limpo o Brasil, enfrentar e superar nos-
Não é justo que os produtores - verdadeiros heróis de nossa economia - permaneçam em estado de constante insegurança sos problemas. É preciso ser implacável na punição dos corruptos e corruptores. Mas não se pode confundir uma questão criminal com a necessidade de reorganizar nossa economia. Não deve ser fácil para a presidente Dilma Rousseff implementar uma política econômica que não faz parte de seu ideário histórico e, ainda que indiretamente, admitir os erros cometidos em seu primeiro mandato. Não é hora de amaldiçoá-la continuadamente, como temos assistido. É preciso proporcionar a ela condições de
governabilidade para que sua gestão encontre o caminho do equilíbrio econômico e da segurança institucional e política. Dilma entregou o controle da economia para um profissional competente, e a articulação política para o mais experiente de seus aliados. Esperamos que ambos devolvam tranquilidade à nação e garantam o equilíbrio das contas públicas, com a consequente melhoria de nossos indicadores econômicos. Há muito o que fazer para ajustar a economia e recolocar o País em uma trajetória de crescimento sustentável.
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Não podemos permitir que esse clima negativo paralise o País. A incerteza é uma das maiores inimigas do desenvolvimento
O agronegócio já mostrou sua importância. Fornece comida farta, boa e barata na mesa dos 200 milhões de brasileiros e, ao mesmo tempo, proporciona exportações de US$ 100 bilhões que garantem o equilíbrio de nossa balança comercial, pressionada pelo gigantesco déficit do setor industrial. O bom senso econômico indica que os ajustes da economia devem garantir continuidade ao desenvolvimento de nossa agropecuária, mantendo e am-
pliando os programas governamentais de apoio ao setor, inclusive quanto ao financiamento rural. Vamos aproveitar nossa vantagem comparativa. Temos disponibilidade de terras, clima adequado e tecnologia apropriada para avançar na produção de alimentos, fibras, energia e florestas. Somos competitivos na produção, mas precisamos melhorar nossa precária infraestrutura de armazenagem e escoamento da produção.
Finalmente, não é justo que os produtores - verdadeiros heróis de nossa economia - permaneçam em estado de constante insegurança, à mercê dos eventuais problemas climáticos e das ocorrências de doenças e pragas. Está na hora de resolver essa questão por meio de um eficiente e amplo sistema de seguro rural que lhes proporcione garantia de renda e tranquilidade para empreender e gerar empregos e divisas para o País.
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Mercado
Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
A desconstrução de um vilão
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Tendência de saudabilidade e outras oportunidades podem reverter imagem negativa dos embutidos Thais Ito
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indústria cárnea está diante de uma grande oportunidade para enfrentar o estigma negativo – de “vilão nutritivo” – comumente atribuído aos embutidos. E uma das principais responsáveis por desenhar esse caminho é justamente a crescente preocupação por uma alimentação saudável. Fabricantes do segmento já focam a reformulação e o lançamento de novidades sob o apelo da sauda-
bilidade. Combinada a outros fatores, assim, essa corrente pode causar uma revolução na imagem da categoria. Em pesquisas de diversos países, inclusive do Brasil, a “saudabilidade e bem-estar” é apontada como foco importante na indústria de alimentos. Segundo o “Brasil Food Trends 2020”, um levantamento sobre as tendências nacionais do setor, esse direcionamento ganha corpo por conta de diversos fatores, como “o envelhecimento das populações, as descobertas científicas que vinculam de-
terminadas dietas às doenças, bem com a renda e a vida nas grandes cidades, influenciando a busca de um estilo de vida mais saudável”. Novos produtos mostram que a indústria de embutidos está nadando nessa correnteza. A JBS, por exemplo, abriu o ano com uma linha de frios saudáveis da Seara. Composta pelo peito de peru defumado e pelo “Finesse” de peru, com alto teor de proteínas e baixo teor de gordura, o lançamento reflete seu apelo já no nome: “Escolha Saudável”.
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Mercado A BRF, por sua vez, reformulou a linguiça calabresa da Sadia. “Ela teve 30% de redução [de sódio] em relação à média do mercado, mas com uma percepção de sal muito parecida com a receita anterior”, garante Fábio Bagnara, gerente de desenvolvimento de produtos da empresa. Em 2014, a marca já havia lançado um peito de peru defumado com sódio reduzido e uma linguiça de frango com menos gordura. O executivo, entretanto, reconhece que a categoria ainda é muito bombardeada. “Nós tentamos trabalhar para mudar a percepção de vilão”, diz Bagnara. Ele defende que os novos produtos com apelo “saudável” podem ajudar a desconstruir a má imagem. “Não é um trabalho muito rápido”, pondera. “Tentamos manter o equilíbrio entre atender o consumidor que não quer que mexa no sabor e ir para um caminho mais saudável.”
Nova regulamentação Uma das desvantagens nutricionais mais atreladas aos embutidos é a concentração de sódio. Bagnara reconhece que o alto teor existe “um pouco mesmo”, mas argumenta que o produto é consumido em porções menores, como complemento, e não como prato principal. Ele, porém, acrescenta: a redução do sódio em qualquer alimento “é sempre boa”. Não só é positiva, aliás, como se tornou um compromisso formal assumido entre a indústria alimentícia e o governo federal. A regulamentação referente às indústrias cárneas, firmada em 2013, prevê a diminuição dos níveis de sódios em produtos como linguiça frescal, mortadela e salsicha, entre outros embutidos. O objetivo do acordo é nivelar, até 2020, o consumo de sódio pela população brasileira à média recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de menos de 2g de sódio (equivalente a menos de 5g de sal) diários por pessoa. Atualmente, o brasileiro ingere 4,46g de
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À prova de crise e com potencial no food service A evolução do mercado nacional de embutidos demonstra estabilidade. O consumo per capita, por exemplo, mantém uma média de 10 kg/habitante. E, apesar de a economia desacelerada ter provocado uma pequena variação negativa nos últimos três anos, não abalou a demanda por produtos com diferenciais, como valor nutricional maior. É o que explica Amilcar Lacerda de Almeida, diretor executivo do departamento de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). “Mesmo tendo uma queda do consumo per capita, o consumidor continuou trocando um produto de menor valor agregado por outro superior.” Ele acrescenta que a saudabilidade é apenas um dos fatores que caracterizam esse “valor” – há também a conveniência e a sustentabilidade, entre outros. Para ele, não há “vilões” na indústria alimentícia. “Todo alimento pode ser saudável, mas qualquer um que seja consumido em excesso pode fazer mal”, pondera.
sódio por dia (correspondente a 11,38g de sal), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compilados pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).
Desafios: sabor e ingredientes A saúde, portanto, é uma prioridade cada vez mais relevante na decisão de compra. No entanto, há outro fator crucial que deve ser levado em conta: o sabor. “Manter a percepção de sal é importante porque o consumidor brasileiro já está acostumado com o sabor salgado.
Responsável pela produção de dois milhões de toneladas, o setor de embutidos brasileiro ainda tem grandes oportunidades. “O food service seria uma oportunidade para o mercado crescer. No ano passado, esse setor cresceu 4,6 em dólar e quase 14 em reais. Em um ano em que o PIB ficou estagnado, seu crescimento mostra que é um mercado que merece atenção.” Outra possibilidade de incrementar as vendas seriam as exportações. Anualmente, o País vende externamente cerca de 100 mil toneladas – a importação chega apenas a mil toneladas. “À medida que a indústria vai sofisticando a produção no Brasil, vamos ter maior possibilidade de acessar o mercado externo de uma forma muito mais intensa”, explica Almeida. “A melhoria de valor agregado é importantíssimo para acessar novos mercados, que é a chave para aumentar a exportação de qualquer tipo de carne processada.”
Se apenas retirar o sal do produto, pode induzir a pessoa a complementar com o saleiro”, argumenta Bagnara. Outro desafio recorrente é encontrar substitutos para o sódio e a gordura. “Como os embutidos têm um padrão de identidade e qualidade muito bem descritos, algumas alternativas de ingredientes do exterior não podem ser aplicadas no Brasil por questões regulatórias”, comenta o gerente da BRF. Assim, ele conclui: “o nicho de ingredientes tem potencial para crescer muito no País”. Ana Lúcia da Silva Correia Lemos, pesquisadora e atual diretora do centro de tecnologia de carnes do Instituto de
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Tecnologia de Alimentos (Ital), reforça a importância dos ingredientes na compensação das alterações. “A redução da gordura, por exemplo, não implica somente em extrair a gordura. Sem a gordura, o produto se descaracteriza, perde textura e maciez. Então, normalmente, a manobra tecnológica para substituir aquele teor de gordura tradicional é acrescentar água e ingredientes funcionais (de funcionalidade tecnológica, não de saúde)”, explica. Entre os substitutos de gordura permitidos no País, segundo ela, há os hidrocolóides, como carragena, LBG e guar, as proteínas não-cárneas e o colágeno em linguiças. “Quando se deseja reduzir sódio é necessário substituir parte do NaCl [cloreto de sódio] por KCl [cloreto de potássio] e utilizar realçadores de sabor para manter a aceitação”, complementa. Embora vários ingredientes funcionais
com benefícios comprovados sejam adequados para os produtos cárneos, como ômega 3 e fibras, entre outros, eles ainda enfrentam entraves regulatórios. Neste ponto, Bagnara é um torcedor frustrado. “Existe na Europa uma fibra de trigo que pode reduzir a gordura da linguiça mantendo sua suculência, mas não está liberado para embutidos aqui”, exemplifica. A liberação das fibras vegetais, entre outros ingredientes, já está sendo analisada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Fátima D’Elia, consultora técnica da Associação Brasileira da Indústria e Comércio de Ingredientes e Aditivos para Alimentos (Abiam), reconhece que a indústria tem poucas opções para produzir embutidos “mais saudáveis”. Enquanto as questões regulatórias não se resolvem, o que mais a indústria nacional pode aplicar em seus embuti-
dos? “Existem alguns aromas que já estão aprovados que acrescentam uma característica de sabor, facilitando a redução de sódio sem afetar o sabor do produto”, esclarece. Além disso, D’Elia acrescenta que “o colágeno em pó aprovado para alguns embutidos pode facilitar a redução de parte da gordura, uma vez que possui uma cadeia molecular grande similar, o que confere características de palatabilidade semelhante e ainda proporciona uma boa textura na massa, e também facilita a redução de sódio no que diz respeito à atividade de água, mas não ao sabor”. Assim, auxiliados pela tecnologia e pelas novidades da indústria de ingredientes, que conferem novas armas na luta contra o sódio e a gordura, os embutidos tentam promover uma histórica revolução: a de oferecer sabor sem prescindir do bem-estar humano. O consumidor brasileiro agradece.
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CONJUNTURA Mercado
Revista da Carne Revista Nacional da Carne|| Dezembro Maio/Junho
A favor dos embutidos Especialistas apontam argumentos que podem favorecer os embutidos
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Faz bem para a saúde
Mais carne branca
Na carona da tendência da saudabilidade, há um argumento que pode ser melhor explorado: o valor nutricional das carnes, matéria-prima dos embutidos. “Elas fornecem uma grande quantidade de um importante nutriente, a proteína”, ressalta a doutora em ciência dos alimentos Rodicler Bortoluzzi, da ADM do Brasil. “Carne é benéfica para a saúde. O alto teor proteico tem que ser ressaltado. A proteína aumenta a saciedade, reduzindo a fome”, complementa Ana Lúcia da Silva Correia Lemos, pesquisadora e diretora do Ital. “O consumo de proteínas tem ajudado na redução de peso, diminuindo a prevalência da obesidade. O excesso de carboidrato é que tem sido um grande vilão, assim como óleos vegetais e seus derivados.”
Entre as oportunidades de expandir o conceito de saudabilidade, Bortoluzzi destaca a maior adaptação das carnes brancas a esse grupo. “A carne branca, como a de aves, geralmente está relacionada à baixa gordura.”
Vocação para porções pequenas Para amenizar o mantra de que o embutido prejudica a alimentação, Bagnara, da BRF, levanta uma questão: “O embutido não costuma ser o prato principal”. Segundo ele, embora o produto seja conhecido por altos teores de sódio, normalmente é consumido como complemento. Ou seja, ele é uma pequena dose perto da refeição inteira.
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EVENTOS
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Uma feira de expectativas
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Empresas enaltecem boas perspectivas da TecnoCarne e revelam suas apostas à feira
A
TecnoCarne & Leite - 12ª Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria da Carne e do Leite está se aproximando. Programada para os dias 11, 12 e 13 de agosto, e com expectativa de receber 21 mil compradores de mais de 20 países, a mais completa feira brasileira da indústria de processamento de proteína animal já movimenta o setor e aguça as perspectivas de grandes negócios.
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EVENTOS
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Essa expectativa, aliás, torna-se ainda maior devido às mudanças programadas para 2015: o espaço, agora realizado no São Paulo Expo – antigo Expo Imigrantes –, foi remodelado e trará mais conforto aos convidados. Entre as novidades estão, por exemplo, as implantações dos projetos de climatização, de rede de wi-fi e do restaurante anexo. Inovações que já reforçam as perspectivas das empresas participantes. “Participamos de todas as edições da TecnoCarne. É uma ótima oportunidade para lançarmos novos maquinários e ampliarmos o networking”, comenta Luís Antônio Campos, diretor da Camrey, empresa de São José do Rio Preto especializada em equipamentos para abatedouro e frigorífico. “Nesta edição, as expectativas são as melhores possíveis, queremos prospectar toda a cadeia produtiva da indústria cárnea.”
A TecnoCarne 2015, na avaliação da Camrey, irá reunir os principais players do Brasil e do exterior para troca de experiências, análise de tendências e vendas nas áreas de tecnologia e produtos. Assim, trará excelente possibilidade de prospecção e negócios. E, para esta edição, a Camrey apostará na máquina para abertura e separação de cabeças bovinas, com grau de risco 4. Um equipamento que, segundo a empresa, além de seguir as normas de trabalho NR-10, NR-12 e NR-36, é composto por uma faca específica que não danifica o alimento e não se prende ao osso. “Nosso objetivo é a prevenção de acidentes e doenças no trabalho, a fim de garantir permanentemente a segurança, a saúde e a qualidade de vida das equipes que utilizam nossos produtos”, detalha o diretor da Camrey.
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Presença internacional Outra empresa com grandes expectativas é a Bettcher, multinacional com mais de 60 anos de experiência na concepção de equipamentos de processamento alimentar. “A Bettcher do Brasil tem boas expectativas para esta edição da TecnoCarne 2015”, garante Tarcisio Pereira Barbosa, gerente de vendas da companhia. “Esperamos visitantes de toda a América Latina, território que a Bettcher do Brasil trabalha com visitas constantes e excelente reciprocidade técnica.” Baseando sua filosofia de trabalho em propiciar o aumento de rendimento real ao cliente, além de facilitar tarefas estratégicas no abate e na desossa, segundo acrescenta Barbosa, a Bettcher considera a TecnoCarne o lugar ideal para difundir sua metodologia.
“Um evento como a TecnoCarne serve para que consolidemos esta filosofia, recebendo os nossos clientes principais, que já têm a feira como ponto de encontro para troca de informação, conhecimento das novidades e visualizações práticas”, pontua o gerente. “Por sermos umas das poucas empresas, a nível mundial, que realiza apresentações práticas de seus produtos em eventos, a feira é uma oportunidade única para visualização pública dos equipamentos em plena atividade.” As demonstrações práticas da Bettcher, ele acrescenta, se concentrarão em novidades de sistemas de Trimmers. E, embora tenha presença marcante no mercado, com importantes clientes conquistados em diversos continentes, a multinacional espera atrair todo tipo de visitantes. “Nossa expectativa para a TecnoCarne 2015 está calcada também nas pequenas e médias empresas, que já
vêm comparecendo de forma expressiva nas últimas edições”, finaliza o gerente da Bettcher.
Os 10 verbos que resumem a TecnoCarne maquinários * Apresentar produtos * Vender Ampliar networking * Prospectar clientes * Receber visitantes * internacionais * Atrair pequenas e médias empresas experiências * Trocar tendências * Conhecer filosofia de trabalho * Difundir Conquistar o mercado *
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E spaço CICB
Em vias de ser oficializada, primeira certificação de sustentabilidade do couro no mundo promete mais equilíbrio de mercado José Fernando Bello, presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB)
E
nquanto diversos setores discutem como enfrentar a crise econômica que assombra o ano de 2015, o segmento coureiro do Brasil concentra esforços na consolidação de um dos projetos mais inovadores do ramo: a Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB). Inédita no mundo, a CSCB é o único selo que reúne o tripé de uma produção efetivamente sustentável. Em outras palavras, orienta sobre como atuar no ramo de couros e peles de forma econômica, social e ambientalmente apropriada. A CSCB é um projeto totalmente brasileiro que promete ser referência em todo o mundo – com exclusividade, entre outras referências, ela integra NBR 16000 (Norma Brasileira sobre Responsabilidade Social), ISO 14001 (Gestão Ambiental) e LWG (Leather Working Group – certificação britânica também para questões ambientais). No final de março, inclusive, a norma
A CSCB é um projeto totalmente brasileiro que promete ser referência em todo o mundo ABNTNBR 16.296 (Couro – Princípios, critérios e indicadores para produção sustentável), uma das bases da certificação, foi traduzida para o inglês, versão que irá ajudar a difundir mundialmente os princípios e critérios adotados pelos nossos curtumes.
Equilíbrio de mercado Embora liderada pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), a iniciativa conta com o apoio de todos os envolvidos na cadeia do couro – pro-
dutores, compradores, associações e instituições de ensino e pesquisa. Ao oferecer garantias de origem responsável do couro, a CSCB não apenas deve contribuir à melhoria dos processos dentro dos curtumes, mas ao equilíbrio de mercado. Com a certificação, a indústria consumidora de couro terá sinalizada a empresa que produz em harmonia com o meio ambiente, os colaboradores e a comunidade. A partir da CSCB poderá ser feita a distinção dos curtumes verdadeiramente engajados às causas sócio-ambientais. Haverá, portanto, uma concorrência mais justa à medida que, quem
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Revista Nacional da Carne | Maio/Junho
Como a base normativa já está estabelecida, seis empresas do ramo já estão se adequando aos padrões de produção sustentável compra, predominantemente deve optar por quem honra seus compromissos sociais e ambientais – e os que não demonstrarem interesse em aprimorar processos devem, gradualmente, ser supridos pelo próprio mercado. O documento que define os requisitos para avaliação da conformidade dos curtumes brasileiros está em trâmite final no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), órgão que irá conceder a certificação. Desta forma, a Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro deve ser oficializada até o final deste primeiro semestre. Como a base normativa já está estabelecida, seis empresas do ramo já estão se adequando aos padrões de produção sustentável. Desde o início deste ano, elas estão sendo acompanhadas por técnicos do CICB para a verificação de seus indicadores. A ideia é estar em conformidade para que, assim que a solicitação
pela certificação estiver disponibilizada, elas já possam receber as auditorias. A procura dos empresários demonstra o quanto o setor deseja um ‘norte’ exatamente como é a Certificação de
Sustentabilidade do Couro Brasileiro, uma proposta que pretende mais do que atestar padrões, mas elevar os níveis de qualidade deste importante setor à economia do País.
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CONSUMO
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Churrasco criativo Plano Collor, cardápio variado, serviço gourmet: as lições de uma churrascaria para manter a clientela em tempos difíceis Itamar Cardin
O
preço da carne bovina enlouqueceu. Depois de tornar-se o grande vilão da inflação em 2014, e consequentemente do consumidor brasileiro, quando atingiu alta anual de 22%, o produto parou de subir desordenadamente no primeiro trimestre de 2015. Justamente em um período marcado pelo descontrole histórico do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – ao subir 1,32% em março, a taxa foi a maior para o mês em 20 anos. Essa momentânea estabilização, entretanto, ainda não foi suficiente para reverter os efeitos de 2014.
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Assustado com o custo em açougues, supermercados e restaurantes, o consumidor ainda demonstra certa resistência diante do produto. E um dos setores mais atingidos, como reflexo tardio do descontrole de preços, foi o de churrascarias. “A representatividade da carne no custo de mercadorias de uma churrascaria é da ordem de 55%. Sendo assim, o aumento do preço das carnes teve um reflexo direto e importante nos nossos custos, de modo que o aumento do preço da carne está sendo repassado para o valor do rodízio pela maioria das churrascarias”, explica Fábio Ortega Campardo, sócio-diretor da Esteio, restaurante que atua há 26 anos em São Paulo. O natural aumento do preço das churrascarias, assim, está refletindo em uma redução da clientela. Cenário
Preço da carne no 1º trimestre Variação do IPCA
Março
1º trimestre de 2015
Últimos 12 meses
Carnes
0,06%
1,43%
17,61%
Pescados
0,62%
6,47%
7,65%
Carnes e Peixes Industrializados
0,62%
2,36%
9,18%
que pode deteriorar-se ainda mais, na avaliação de Campardo, se o restaurante apostar no “barateamento” forçado dos custos. “Um aumento de preço reflete uma diminuição de clientes, não na
mesma proporção. O que pode piorar ainda se a churrascaria optar por adquirir produtos mais baratos com qualidade inferior, o que na minha opinião irá refletir ainda mais em queda de movimento”, argumenta.
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CONSUMO
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Criatividade
Preço da carne ainda sobe no atacado Embora o preço da carne bovina tenha se estabilizado no primeiro trimestre, o sócio-diretor da Esteio, Fábio Ortega Campardo, não acredita que essa tendência será mantida em 2015. No atacado, ele garante, os valores continuam subindo acima do padrão. “O preço da carne no atacado não está estabilizado e não irá se estabilizar, pois se trata de uma commodity”, assegura Campardo.
As churrascarias, segundo ele, têm um problema ainda maior diante dessa instabilidade. “No caso das churrascarias de melhor padrão acontece um agravante, pois o número de fornecedores que temos é bem reduzido”, opina. “O preço das carnes sofre variações constantes e é fortemente manipulado pelos frigoríficos, pois não há muitas opções de fornecedores com produtos de boa qualidade”, acrescenta o sóciodiretor da Esteio.
Para driblar essa instabilidade e garantir a estabilidade da freguesia, o estabelecimento deve apostar em opções criativas, capazes de manter a frequência mesmo que a carne esteja com valor elevado. Esse ensinamento, aliás, ao menos na Esteio, veio em um dos momentos mais conturbados da história econômica brasileira. Na época do plano Collor, quando as poupanças foram congeladas e o dinheiro do brasileiro desapareceu, o restaurante enfrentou a ameaça de perder boa parte de sua freguesia. Apostou, assim, na variação do cardápio. E, ali, como alternativa ao descontrole econômico, nasceu uma das grandes tendências das churrascarias modernas. “A Churrascaria Esteio foi a primeira na cidade a incluir outras opções, além da carne, como frutos do mar e massas”, assegura Fábio Campardo. “Até hoje mantivemos essa característica de sempre trazer novidades aos nossos clientes.” A aposta, agora, em um momento de instabilidade da carne bovina, é avançar nesses serviços complementares: até o final do primeiro semestre, a Esteio pretende levar chefs de diversas áreas, como sushiman e confeiteiro, para criar pratos na frente do cliente. Há, ainda, a perspectiva de um festival de inverno, com destaque para a culinária regional da serra e as sopas. Investir em opções criativas tem se mostrado um excelente negócio à Esteio. Enquanto boa parte das churrascarias sofre com o consumo reduzido, o estabelecimento conseguiu controlar o repasse de preços. O resultado não poderia ser mais conclusivo. “Não sentimos esse impacto (da diminuição da clientela), pois não aumentamos nossos preços ainda. Estamos adiando ao máximo essa necessidade. Acabamos, indiretamente, nos beneficiando pelo aumento dos preços dos concorrentes”, comemora Campardo.
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