Revista Nacional da Carne 431

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ISSN 1413-4837

Nº 431 • Ano XXXVIII Janeiro/2013 www.btsinforma.com.br

Vis-à-Vis Antônio Jorge Camardelli, da Abiec Pesquisa O bem-estar das aves

Um promissor As expectativas para a indústria frigorífica no ano que se inicia




Sumário

ISSN 1413-4837

Nº 431 • Ano XXXVIII Janeiro/2013 www.btsinforma.com.br

Vis-à-Vis Antônio Jorge Camardelli, da Abiec

Arte da Capa: Adriano M. Cantero Filho

Pesquisa O bem-estar das aves

Um promissor

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Pesquisa Desempenho e qualidade de carne de frangos de corte criados em sistema dark house

As expectativas para a indústria frigorífica no ano que se inicia

32 Capa

Um balanço de 2012 e as perspectivas de 2013 para a agroindústria da carne

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TecnoCarnes Expresso

Produtos cárneos com benefícios para a saúde

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Vis-à-Vis Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, traça um panorama de 2012 e fala sobre as expectativas para 2013 nas exportações de carne

4

E mais

6 Editorial 8 Palavra do Gerente 18 Mercado 20 Eventos 48 WSPA 54 Crônica 58 Índice de Anunciantes

Janeiro 2013



ISSN 1413-4837

Editorial

Ano XXXVII - no 431 - Janeiro DIRETOR GERAL DA AMÉRICA Marco A. Basso LATINA DO INFORMA GROUP

Um novo ano para o setor

I

nício de ano é o período ideal para realizar um balanço e fazer uma reflexão sobre o ano que passou e projetar as conquistas e dificuldades dos meses que virão. É exatamente sobre este tema nossa reportagem de capa, que ouviu especialistas e empresários do setor frigorífico para saber deles o que foi 2012 e o que será 2013. A opinião de cada um deles é destacada para conhecermos do ponto de vista dos maiores envolvidos no mercado qual a situação atual e futura da carne brasileira e internacional. Na entrevista desta edição, conversamos com João Antonio Camardelli, presidente da Abiec, sobre as expectativas para as exportações no ano que vem. Camardelli, com seu olhar analítico, comenta como o Brasil deve se portar para prosseguir com o título de maior exportador de carne do mundo. Um dado, por exemplo, é de que no ano de 2012 houve um aumento de mais de 12% no volume de carne bovina exportada pelo Brasil. A força do mercado interno foi outro tema da entrevista, além das potencialidades do Brasil para suprir o mundo com alimentos. Duas seções desta edição trazem assuntos relacionados com o bem-estar dos animais. Uma pesquisa sobre o desempenho e qualidade da carne de frango em sistema dark house e como o estresse gerado nas aves reduzem o desempenho da produção é um dos destaques. Na outra, enviada pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), a análise sobre a implementação da nova diretiva que proíbe o alojamento de matizes suínas em gaiolas durante a gestação. O artigo da Tecnocarnes Expresso deste mês fala sobre produtos cárneos com apelo funcional e a crônica de Luiz Carlos Ramos, de forma leve, aborda os recentes problemas da relação comercial entre Brasil e Rússia. A edição ainda traz a cobertura de eventos, como o Simpósio de Qualidade da Carne, em Jaboticabal, e o lançamento do Parque Científico e Tecnológico Chapecó@, uma iniciativa da Unochapecó. Além de notícias e artigos. Boa leitura. O editor

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IMPRESSÃO

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Palavra do Gerente

Ventos positivos

O De Luca Filho Gerente do Núcleo Carnes e Frigorificados da BTS Informa

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ano de 2013 se inicia com uma confiança maior do que o início do ano passado. 2012, apesar de turbulências da economia mundial, foi melhor do que a indústria frigorífica esperava. Este ano que se inicia, por sua vez, traz os ventos positivos de uma Copa do Mundo que bate à nossa porta e o foco cada vez maior que o Brasil alcança no mundo. Neste sentido, esta edição é um balanço do que passou e uma perspectiva do que nos espera. Um bom termômetro para medir isso é a Tecnocarnes, que prossegue com as vendas a todo vapor e com certeza entrará para a história neste ano de 2013, consolidando-se como uma das feiras mais importantes do mundo para o setor frigorífico. Em 2012 a indústria reconquistou sua competitividade e avançou sobremaneira no plano internacional. Neste sentido, a entrevista realizada com Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, dá uma boa noção de tudo o que foi alcançado em 2012 e dos objetivos traçados para os próximos doze meses. Ao leitor, um bom início de ano e prosperidade nos negócios. O sucesso no setor frigorífico passa pelos corredores da Tecnocarne e pelas páginas da Revista Nacional da Carne. Boa leitura e bons negócios.

Dezembro 2012





Vis-à-Vis Arnaldo de Sousa, freelancer para a RNC

Foto: Édi Pereira/Hórus Photograph 2011

Ações para exportar

Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, traça um panorama de 2012 e fala sobre as expectativas para 2013 nas exportações de carne

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A

Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec) está convivendo com as explicações em torno da análise realizada e concluída de um animal com suposto “mau da vaca louca” (BSE) no Brasil. Na verdade, de acordo com a nota técnica, trata-se de “um achado priônico em uma vaca morta em 2010 no Estado do Paraná. Após análises feitas pelos laboratórios nacionais, a amostra do material coletado neste animal foi enviada a laboratório de referência na Inglaterra. Nesta amostra foi detectada a presença do príon. É uma ocorrência atípica ou ‘não clássica’, já que o animal não manifestou a doença e não morreu em decorrência dela. O que foi detectado é que ele possuía o agente causador da doença apenas”, diz a nota. A simples explicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a respeito de um caso de 2010 levou à sanção do Japão em suspender temporariamente as exportações de carne bovina in natura a partir do Brasil até “maiores explicações” por parte do Brasil. Janeiro 2013


De janeiro a outubro de 2012, o mercado japonês comprou apenas 1.392 toneladas de produtos industrializados que representaram US$ 7.635.586. Isto representa, respectivamente, 1,54% do volume e 1,38% do faturamento de carne bovina industrializada exportada pelo Brasil, e 0,14% em volume e 0,16% em faturamento do total de carne bovina em geral exportada pelo Brasil. Embora seja um mercado pequeno, apenas o anúncio do embargo poderia influenciar mercados mais importantes, o que não ocorreu até o fechamento desta edição. Confira a seguir a entrevista exclusiva com Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, sobre as ações da associação em 2012 e 2013. O ano está terminando e quais foram as principais conquistas das indústrias exportadoras de carne? A indústria, representada pela Abiec, trabalhou em diversas frentes para o avanço do setor. Uma prioridade foi reconquistar a competitividade da indústria e dar maior segurança jurídica às empresas. Para isso trabalhamos para a modernização da legislação que regulamenta o funcionamento dos frigoríficos, como o RIISPOA. Essa reforma permitirá maior liberdade de inovação e eficiência no processo industrial. No tocante à logística, um projeto realizado em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) para otimizar o processo de exportação permitirá reduzir em 57 horas o tempo de espera no porto de embarque, reduzindo custos, por meio do uso de lacres eletrônicos e da transmissão eletrônica de dados.

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Dentro do Plano Brasil Maior, estamos pleiteando a desoneração da folha de pagamentos das indústrias, a monetização de créditos represados e o reintegra para a carne bovina. Concluímos uma Norma Regulamentadora para o trabalho em frigoríficos dando maior segurança aos trabalhadores e às empresas. Com o Ministério Público Federal, temos trabalhado para regularizar a cadeia produtiva no bioma da Amazônia. No plano internacional avançamos nas negociações com Rússia, com o fim do embargo, Europa, na devolução da Lista Traces ao Brasil, China, com a habilitação de mais plantas e a mudança da classificação de Risco do Brasil quanto à BSE pela OIE, para risco negligenciável. As exportações tiveram uma recuperação em volume, após quedas sucessivas desde 2008. E quais são as principais barreiras a serem superadas para o setor? Ainda não acessamos alguns dos mercados importadores mais importantes, como Japão, Coreia do Sul e os países do Nafta, onde o valor agregado da carne bovina é maior do que a média mundial. Neste sentido, a erradicação completa da febre aftosa no território brasileiro e a melhora no status sanitário ainda é um entrave e uma prioridade tanto para o setor privado como para o governo brasileiro. Outros entraves estão em barreiras tarifárias que deveriam ser trabalhadas em negociações bilaterais. Infelizmente, o Mercosul tem se mostrado pouco eficiente na conclusão de acordos comerciais.

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Vis-à-Vis

Como foi a participação brasileira na feira de Sial/2012 (Salon International de l’Alimentation) e quais as principais novidades acompanhadas por lá? A Abiec teve boa participação? A Abiec participou da Sial com um novo conceito. Com apoio da Apex-Brasil, o stand com mais de 708 metros quadrados, agrupou as principais empresas exportadoras de carne bovina do Brasil em áreas individuais, desembocando em uma praça central comum, onde todos puderam degustar a carne bovina brasileira. O conjunto foi denominado Abiec City, dada a sua magnitude. A atmosfera criada no stand, aliando os conceitos de sustentabilidade, tecnologia, diversidade e ressaltando a qualidade da carne bovina brasileira, proporcionou um ambiente extremamente favorável ao fortalecimento de contatos, fechamentos de negócios e reuniões gerais de alinhamento e atualização dos mais diversos assuntos relacionados ao setor. Foi uma feira bastante produtiva para as empresas e para o setor. Conseguimos transmitir a mensagem proposta e estreitar o relacionamento com as mais de 3.500 pessoas que transitaram pelo stand durante a feira.

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A Abiec já planejou o que vai fazer para 2013 em termos de marketing da carne com apoio da Apex no exterior? A Abiec dará continuidade aos projetos iniciados em 2012, com o apoio da Apex. Dentre as ações previstas, é possível citar a participação em feiras, exemplo da Gulfood e Anuga, além de estruturação do Projeto Imagem, em que jornalistas internacionais são convidados a vir ao Brasil para conhecer a realidade da pecuária, promoção de encontros com decision-makers de mercados prioritários. Lançaremos a segunda edição do Brazilian Beef Stories, vídeo que retrata a pecuária brasileira em diversos biomas, entre outras ações. A Abiec pensa em ampliar o número de associados nos próximos anos? Sim. Mesmo com a consolidação do setor nos últimos anos existem novas empresas operando no mercado externo, e também se tornando fornecedoras de matéria prima para outras indústrias exportadoras.

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Portanto, faz sentido que a Abiec também passe a incorporar estas empresas dentro de uma estratégia única de defesa dos interesses do setor. As exportações atingiram (ou devem atingir) a meta esperada no início de 2012? Até novembro, tivemos um aumento de 12,25% no volume de carne bovina exportada frente ao ano anterior. Em faturamento, o crescimento foi um pouco menor, de 6,4% (até novembro), isso porque houve uma ligeira diminuição do preço médio da carne bovina exportada pelo Brasil, após três anos de crescimento. Até novembro, o volume exportado no acumulado do ano já foi maior que 2011. No geral, o ano foi bastante positivo para a indústria exportadora. Em termos de acesso a mercados, houve alguma conquista importante em 2012, qual? Explique sua importância na geografia estratégica da carne. Considerando os dez maiores mercados da carne bovina brasileira, tivemos aumento significativo em

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todos, exceto pelo Irã, em função de questões políticas. Até novembro (dados disponíveis até o momento), as exportações cresceram para a Rússia, União Europeia, Hong Kong, Egito, Venezuela, Chile, Estados Unidos, Arábia Saudita, Líbia, entre outros. As previsões de aumento de consumo de carne bovina no futuro indicam que a Ásia será o mercado mais promissor. As negociações para ampliação da lista de habilitações para a China continuam sendo essenciais, já que é o mercado de maior potencial. Negociações continuam também com Vietnã, Indonésia e outros. Os Estados Unidos também são de grande potencial para a carne bovina brasileira. Apesar de grandes exportadores são também grandes importadores. O processo de abertura do mercado norte-americano para a carne in natura do Brasil continua. Tem algum país almejado pelas indústrias da carne para serem alcançados? O papel da indústria é desmontar o boi e encontrar o melhor mercado para cada parte da carcaça. Ainda

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Vis-à-Vis

não temos, por exemplo, uma alternativa tão rentável quanto a Europa para os cortes nobres do traseiro. Esta alternativa estaria em mercados de alto valor na Ásia como Japão, Coréia e Taiwan, por exemplo. A abertura destes mercados, porém, demandará tempo e uma evolução do status sanitário do país. Os Estados Unidos, por exemplo, podem ser um mercado para o dianteiro, já que é a matéria prima que eles precisam para hambúrgueres. Empresas como Marfrig e JBS alcançam outros mercados (não atingidos pelo Brasil) por causa de suas aquisições na Europa, Estados Unidos e Ásia. Essa é uma tendência que veremos mais nos próximos cinco anos? A internacionalização dessas empresas provou trazer vantagens comparativas, como, por exemplo, driblar barreiras sanitárias, acessar mercados fechados ao Brasil, trazer tecnologia de fora para ser implantada aqui, assim como know how, além de encurtar a cadeia de valor, já que hoje algumas indústrias mandam matéria-prima a suas processadoras ou distribuidoras, direto nos mercados consumidores. É provável que a estratégia se amplie e que o caminho seja seguido por outras empresas. O Brasil conseguiu fazer na proteína algo que perdeu na soja, por exemplo, a oportunidade de criar grandes empresas multinacionais. A Abiec, apoiada por seus associados, investiu no monitoramento das fazendas instaladas na Amazônia. No entanto, JBS e Marfrig dizem que ainda precisam colocar cerca de 50% de seus fornecedores da Amazônia em seus sistemas de monitoramento. O caminho para estes ajustes ainda é longo? Na verdade, todos os fornecedores no Bioma já estão localizados no mapa. O grau de precisão da informação geográfica, porém, varia. Às vezes, o que se sabe do fornecedor é apenas um ponto de GPS. É preciso que essa informação evolua para um perímetro georreferenciado da propriedade para que o monitoramento seja feito com precisão. Acreditamos que com o novo Código Florestal e a implantação e disseminação do CAR, o Cadastro Ambiental Rural, conseguir essa evolução no monitoramento será mais fácil. 16

O Brasil tem conseguido responder a todas as demandas/exigências sanitárias, rastreabilidade e etc. dos europeus. Este grande mercado ainda não decolou em termos de exportações, por quê? A limitação ainda é o do pequeno número de propriedades habilitadas. Apesar da administração da Lista Traces de fazendas ter retornado ao Mapa no começo do ano, as regras do SISBOV continuaram as mesmas. O produtor não se interessa porque são burocráticas e caras, e os frigoríficos não conseguem aumentar o prêmio pelo fato de o volume ser pouco. A CNA, em uma parceria com o Mapa, está desenvolvendo uma Plataforma de Gestão Agropecuária, que unifica os bancos de dados das GTAs eletrônicas e do SISBOV. Com a GTA eletrônica teremos uma segurança muito maior no controle sanitário e de informação, e o SISBOV será reformulado para se tornar menos burocrático e mais democrático. Com isso poderemos retomar o mercado a partir do ano que vem. E a Rússia? Temos boas perspectivas com os russos? A Rússia é um excelente cliente, que compra grandes volumes e paga bem. No entanto, têm exigências próprias que precisam ser respeitadas. O Brasil e a Rússia têm encontrado entendimentos nas questões sanitárias e nas garantias oferecidas pelas indústrias brasileiras. No longo prazo, mesmo que existam ainda pontos de ajuste, a perspectiva é que Brasil e Rússia continuem a serem grandes parceiros comerciais. Quais são as perspectivas para 2013, frente à economia recessiva na Europa, Estados Unidos e Ásia? Devemos crescer ou manter o status das exportações? A expectativa é que a retomada das exportações de 2012 continue. O cenário para 2013 continua positivo para a indústria, e pode ser ainda mais positivo se o cenário macroeconômico favorecer a retomada também dos preços. Existe a demanda para isso nos nossos principais mercados, que são principalmente países emergentes, Rússia, Oriente Médio, América Latina e China. Manter a liderança nas exportações (em receita e embarques/toneladas) será um desafio importante para os próximos cinco anos? O Brasil tende a manter a liderança das exportaJaneiro 2013


ções nos próximos anos. Em 2011, a posição de maior exportador do

Brasil foi perdida para os Estados Unidos, mas porque houve uma

forte seca e um aumento de oferta no território norte-americano, além do dólar favorável, que possibilitou a expansão das exporta-

ções. Em 2012, o rebanho dos Estados Unidos está no menor nível desde 1973 e dificilmente conseguirão manter o nível de produção e exportações.

Outros concorrentes do Brasil nas exportações de carne bovina

são Austrália, que está no limite da sua produção e exportação, portanto deve manter os números dos anos anteriores, e Índia. A Índia tem sido, a cada ano, um concorrente de maior peso para a carne brasileira. Alguns mercados que pagam menos, que são

menos exigentes e que aceitam comprar carne de búfalo, têm comprado mais carne da Índia, em função do seu preço altamente

competitivo. Essa situação deve continuar nos próximos anos e o

Brasil pode perder parte de alguns mercados para a carne indiana, mas pode conquistar outros de maior valor agregado. As garantias sanitárias e a qualidade da carne é que farão a diferença.

O Brasil exporta cerca de 20% do que produz. Caso o merca-

do externo não consiga absorver a demanda produtiva em 2013, o mercado interno é capaz de absorvê-la?

O mercado interno absorve mais de 80% de toda a carne que

é produzida no Brasil. Em 2011, 83,5% (7,6 milhões de toneladas

equivalente carcaça) da carne bovina produzida foi consumida no mercado interno, o que corresponde a um consumo per capita de

cerca de 40 quilos. Com a economia em crescimento, um mercado interno dessa magnitude tem condições de absorver um possível aumento de oferta.

Segundo a FAO/ONU, o Brasil deve responder para suprir o mundo com alimentos até 2050. Qual sua ótica a respeito para o setor da carne, já ele tem se concentrado em poucas grandes empresas exportadoras. Será possível atender à expectativa global?

O Brasil tem área disponível (sem derrubar florestas), tem gado

de ótima qualidade, pastagem muito bem adaptada, tem domínio da tecnologia, além de mão de obra bastante qualificada. Ainda

assim, os índices de produtividade da pecuária brasileira estão bem abaixo dos grandes produtores. Temos muito que crescer em

termos de produtividade, de melhor aproveitamento de área, de

ganho tecnológico. Portanto, temos condições de ajudar a suprir o mundo com carne bovina nas próximas décadas. O potencial de crescimento ainda é enorme.

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Mercado

Sindicarne garante que 2013

será marcado por custos elevados

S MB Comunicação

egundo projeções de Clever Pirola Ávila, presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), diante da crise do encarecimento dos insumos, o ano de 2013 será marcado por elevados custos de produção para todos os setores da indústria da carne. O executivo reforça que a agroindústria catarinense passou por muitos problemas em 2012, um de seus momentos mais desafiadores da história. “Não bastassem os altos custos de matérias-primas, tivemos ainda as quase

Clever Pirola Ávila, presidente do Sindicarne

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rotineiras barreiras não comerciais estabelecidas pelos nossos ‘parceiros comerciais’ como Argentina, África do Sul e Rússia, entre outros”, comenta. Ávila menciona, ainda, a inoperância do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em aplicar políticas agrícolas para regularizar o abastecimento de grãos em Santa Catarina perante a quebra de safra regional. “Tivemos que enfrentar sozinhos esse desafio, pagando custos ainda mais altos. Enquanto outras regiões são beneficiadas com essas políticas, nosso Estado continua sendo colocado em segundo plano”, explica. Esses fatores refletiram de forma negativa nos resultados do setor, prejudicando alguns empresários e levando-os a venderem seus ativos, enquanto outros encerraram as suas atividades. O gestor observa que muitos frigoríficos de aves ou de suínos fecharam no País. Mesmo diante desse cenário, porém, Clever Ávila aponta os avanços na abertura de novos mercados para a carne suína catarinense. “Estamos perto de iniciar negócios com os Estados Unidos e intensificar a relação com a China. Completamos as fases de exigências para abertura do Japão e estamos aguardando a troca do Governo japonês para carimbar nosso passaporte”, especifica. Para 2013, além da continuidade dos altos custos de produção – com patamares de preços similares a 2012 –, o presidente do Sindicarne prevê que mesmo que as próximas safras mundiais normalizem o mercado, os setores da indústria da carne continuarão a elevar seus preços em função dos custos já absorvidos, tanto no mercado interno quanto no mercado externo. Além disso, no plano comercial, o Brasil abrirá o mercado do Japão para suínos, o que influenciará também na abertura da Coreia do Sul. “Se não houver nenhuma catástrofe climática, podemos afirmar que estaremos melhor posicionados no mercado para obtenção de resultados positivos”, conclui. Para finalizar, Ávila antecipa que nos próximos meses deverá acontecer a implantação do projeto-piloto de identificação dos animais por DNA com o apoio da Fapesc e da Embrapa. Janeiro 2013



Eventos

Unochapecó lança Parque Científico e Tecnológico Chapecó@ Autoridades locais e estaduais prestigiaram evento que dá início à criação do parque

A

implantação do Parque Científico e Tecnológico Chapecó@ está oficializada por uma iniciativa liderada pela Unochapecó. Estiveram presentes no evento integrantes da reitoria da Unochapecó e da presidência da Fundeste, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Santa Catarina, Paulo Roberto Bornhausen, o prefeito José Claudio Caramori e secretários municipais de Chapecó, o secretário de Desenvolvimento Regional de Chapecó, Eldimar Jagnow, e outras lideranças regionais. No ato, foram assinadas as portarias de criação do Escritório de Projetos e Prestação de Serviços, do Escritório de Apoio à Gestão Pública e do Parque Científico e Tecnológico Chapecó@ pelo reitor Odilon Luiz Poli. Definido pelo reitor da Unochapecó como a realização de um sonho, o parque irá promover a potencialização do crescimento econômico, assim como interligar a universidade, o poder público e o setor produtivo da região. O vice-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, professor Claudio Alcides Jacoski, apresentou às lideranças o projeto do parque, as estratégias de atuação e também falou sobre a Rede de Inovação, que atuará dentro parque, promovendo uma reestruturação estratégica para o Oeste Catarinense. 20

O secretário Paulo Bornhausen enfatizou a parceria entre os governos estadual e municipal, a Unochapecó e a Associação Comercial e Industrial de Chapecó (Acic) para a promoção de inovação e tecnologia, garantindo um futuro econômico mais versátil para a região. “Chapecó é estratégico para o Brasil e precisa ser mais do que uma simples fronteira, mas um produtor de conhecimento, inovação e tecnologia”, afirmou Bornhausen. Um terreno com 9.580m² foi doado pelo município de Chapecó, ao lado da Unochapecó, para a construção do prédio administrativo do parque tecnológico, que será erguido com recursos do governo do Estado, previstos para serem liberados no início de 2013. No total a obra está estimada em R$ 46 milhões, sendo R$ 36 milhões originários de uma emenda parlamentar do senador Luiz Henrique da Silveria e R$ 10 milhões da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, por meio do Plano SC@2022. São parceiros do Parque Científico e Tecnológico Chapecó@ a Unochapecó, Fundação Universitária de Desenvolvimento do Oeste (Fundeste), Prefeitura de Municipal de Chapecó, Acic, SC@2022, Inova@SC e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. Janeiro 2013


Assinatura de Portarias e apresentação do projeto marcaram o evento

O início

Neste primeiro momento, explicou o professor Claudio Jacoski, a vida do parque tecnológico se dará dentro da Unochapecó, que é responsável pela criação e consolidação do projeto. Dentro do Chapecó@ será criada uma Rede de Inovação que atuará na prestação de diversos serviços, como pesquisas, já que estarão à disposição os 120 laboratórios da Unochapecó, seus profissionais e professores, além de outros ambientes necessários à pesquisa e desenvolvimento. A Rede de Inovação também contará com: auditórios e salas de aula para utilização de acordo com a disponibilidade; fomento e articulação entre os agentes do setor produtivo entre si e com as capacidades instaladas de pesquisa, extensão e ensino na universidade; apoio e fomento à captação de recursos públicos e privados necessários ao desenvolvimento das atividades acadêmicas e de novos produtos e processos produtivos; gestão de todas as questões relativas à propriedade intelectual desenvolvida no âmbito do parque; e gestão do fundo de desenvolvimento da pesquisa básica, gerado a partir das atividades do parque, em articulação com a Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu da Unochapecó. A estrutura inicial comportará a Incubadora Tecnológica da Unochapecó (Inctech) que atua incubando novas empresas e desenvolvendo suas ideias e produtos inovadores. Janeiro 2013

Quando a estrutura do Chapecó@ estiver pronta, essa incubadora será transferida do campus da universidade, podendo oferecer mais vagas para empresas interessadas na incubação. Também estará presente a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unochapecó (ITCP), que é um programa de extensão permanente e tem por finalidade promover a inserção, na economia formal, de grupos sociais excluídos, a partir da sua organização para o trabalho, por meio da incubação e do acompanhamento de empreendimentos de economia solidária na perspectiva da autogestão. Procura, ainda, garantir a autonomia e independência, tanto do sujeito/indivíduo como do empreendimento/coletivo. Outras três incubadoras tecnológicas, instaladas em Palmitos, Seara e Maravilha, estarão em contato com o parque formando a Rede de Inovação. Da mesma forma, ocorrerá com o Núcleo de Inovação e Transferência Tecnológica da Unochapecó (Nitt), que promove o contato entre a universidade, poder público, empresas e demais organizações. O Nitt é responsável em proteger a propriedade intelectual gerada na Unochapecó e promover sua transferência para o setor produtivo, buscando o desenvolvimento tecnológico, econômico e sustentável da sociedade. 21


Eventos

IV Simpósio de Qualidade da Carne

R

Realizado entre os dias 21 a 23 de novembro, evento reúne o setor em Jabuticabal ealizado entre os dias 21 e 23 de novembro no Centro de Convenções UNESP/FCAV, no Campus de Jaboticabal (SP), o IV Simpósio de Qualidade da Carne, organizado pelo Laboratório de Produtos de Origem Animal, do Departamento de Tecnologia da UNESP, contou com cerca de 200 profissionais do setor, estudantes de graduação e pós-graduação, patrocinadores, parceiros, especialistas e docentes de diversas universidades conceituadas no País. Por três dias, os debates estiveram voltados para as novidades na produção animal, tecnologias disponíveis no mercado e tendências mundiais em relação a produção de carne. Estiveram em destaque os profissionais da Embrapa Pecuária Sudeste, WSPA, UFLA, USP, UFLA, UEL, UFMG, UFU, UEMS, UFAL e UNESP. Mais de 40 trabalhos científicos, em diversos temas, estiveram expostos durante todo o evento, enri-

22

quecendo ainda mais a divulgação da pesquisa científica. O espaço empresarial do evento contou com empresas do setor, como a Extralab Brasil, BrasEq e Testo. Em nota, o Departamento de Tecnologia da UNESP, juntamente com a Funep, agradece aos que compareceram no IV Simpósio de Qualidade da Carne e conta com a presença de todos em uma próxima oportunidade.

Janeiro 2013



Pesquisa

Bem-estar das aves 1

Carvalho, R.H., 2Soares A.L., 3Grespan, M., 2Spurio, R.S., 1 Coró, F.A.G., 4Oba, A., 1,2,4,*Shimokomaki, M.

Programa de Pós Graduação em Ciência dos Alimentos 4 Programa de Pós Graduação em Ciência Animal, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR. 3 Médico Veterinário, Cascavel, PR. E-mail: *mshimo@uel.br 2

O

Introdução

modelo moderno de produção industrial de carne de frango requer conhecimentos e investimentos nas áreas de nutrição, genética, sanidade, ambiência, manejo e tecnologia de abate. O sistema de criação de frangos de corte é um fator crucial que afeta as aves, no seu bem-estar, saúde e eficiência de produção. Os frangos em escala mundial são criados em uma variedade de sistemas de produção, que varia de acordo com diferentes fatores, entre os quais, condições do ambiente, o tamanho da produção e a disponibilidade financeira. Segundo Glatz e Pym (2007), a moderna avicultura utiliza galpões e equipamentos onde se torna possível exercer um controle considerável sobre a ambiência. Entretanto, esses galpões necessitam alto investimento para construção e mão de obra qualificada para operar, requerendo uma grande rotatividade de aves para se mostrarem viáveis. Ao longo dos anos, as chamadas instalações convencionais – com extremidades abertas, ventilação natural, comedores e bebedores manuais – começaram a ser substituídas por instalações arrojadas. Atualmente, encontram-se ambientes controlados por meio do uso de ventiladores, nebulizadores, ventiladores de exaustão, sistema de refrigeração, comedores e bebedouros automáticos, e com a facilidade de controlar a temperatura, umidade e ventilação por meio de monitoramento eletrônico com registros computadorizados, facilitando o controle de variações climáticas (COSTA, et al., 2008).

Sistema dark house Desempenho e qualidade de carne de frangos de corte criados em sistema dark house

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Inseridas neste conjunto de ousadas instalações surge o sistema dark house que é caracterizado por possuir grande automaticidade. Este sistema proporciona melhor controle do ambiente dentro do aviário (temperatura, umidade e renovação de gases), maximiza o desempenho das genéticas disponíveis, são eficientes e seguros, desde que tomadas algumas precauções, e proporciona finalmente a redução no custo do quilograma de carne produzido (ABREU & ABREU, 2010). Janeiro 2013


O regime de confinamento proporcionado pelas instalações pode propiciar estresse às aves, tendo como consequência respostas fisiológicas e comportamentais adversas, podendo ocasionar sérios problemas à saúde e ao bem-estar dos animais (HALL, 2001). Durante a fase produtiva de frangos de corte, o uso de ambiente climatizado e no escuro, deixa-os com menor agitação e fornece um maior bem-estar que se reverte em maior produção. Recentemente, trabalhos (BICHARA, 2009; GALLO, 2009) relatam os benefícios do sistema dark house como: Controle de luminosidade; yy Maior densidade de aves por m² de galpão; yy Menor estresse às aves; yy Evita dermatoses; yy Melhor conversão alimentar; yy Melhor Ganho de Peso Diário (GPD); yy Maior viabilidade; yy Uniformidade do lote; yy Evita sazonalidade de produção.

Estresse

O estresse proporcionado aumenta a mortalidade e reduz o desempenho na produção, além de influenciar na qualidade da carne de frango. Esse estresse é provocado em inúmeras situações de manejo, principalmente em condições de pré-abate, trazendo o desenvolvimento das carnes conhecidas como PSE, do inglês Pale, Soft, Exudative ou pálido, macio e exudativa (SHIMOKOMAKI et al., 2006) com prejuízos calculados em mais de US$ 50 milhões anuais no País e nos Estados Unidos chegam a ultrapassar US$ 200 milhões. Há uma relação direta entre o grau de estresse e a quantidade de carnes PSE avaliada nos filés de peito de frango medida pelos valores do seu pH e coloração ( SOARES, et al., 2002). Inúmeros fatores antes do abate estão relacionados com a formação de PSE, entre eles: engradamento, condições de transporte e o abate. Etapas como o manejo das jornadas da granja ao abatedouro – incluindo o jejum hídrico, banho, calor ambiental, ventilação no veículo, movimento vibratório, descanso e a nebulização das aves no recinto do frigorífico, disposição nas nóreas e a ambiência da luz nos momentos que antecedem o abate propriamente dito - têm sido estudadas. Entretanto, cientificamente, pouco se sabe sobre a eficácia do sistema do dark house no que diz respeito ao desempenho zootécnico das aves, e a incidência de certos fenômenos como o estresse e, consequentemente, a qualidade da carne medida pela ocorrência das carnes PSE. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos de diferentes modelos de instalações de frangos de corte perante o desempenho, bem-estar e a qualidade da sua carne.

Material e métodos Alojamentos das aves

O experimento foi realizado no Estado do Paraná durante o verão de 2011, em uma empresa agroindustrial onde foram avaliados 27 Janeiro 2013

25


Pesquisa

aviários, divididos em três categorias, sendo que para cada tratamento foram avaliados nove lotes. Assim, os tratamentos experimentais consistiram em: Tratamento 1 – Sistema Convencional de Cortina Amarela (n=9),

Rações utilizadas

As rações foram formuladas à base de milho e farelo de soja atendendo aos padrões nutricionais da linhagem. O programa alimentar adotado foi o de quatro fases de criação, de acordo com a idade das aves: 1) Pré-inicial de 1 a 7 dias, 2) Inicial de 8 a 21 dias, crescimento, 3) Engorda de 22 a 38 dias, 4) Final de 39 ao abate.

Programa de luz e densidade de criação

O programa de luz para a linhagem utilizada foi fornecido de três maneiras:

Figura 1 – Sistema convencional de produção de frangos de corte, com cortina amarela

Tratamento 2 – Sistema Convencional de Cortina Azul (n=9),

Figura 2 – Sistema convencional de produção de frangos de corte, com cortina azul

Tratamento 3 – Sistema dark house (n=9),

1) Sistema convencional de cortina amarela: 0 a 7 dias de idade, diário: 23 horas de luz (40 lux) e 1 hora de escuro; 8 a 46 dias de idade, diário: 4 horas de luz (40 lux) completado com luz natural. 2)Sistema convencional de cortina azul: yy 0 a 7 dias de idade, diário: 23 horas de luz (40 lux) e 1 hora de escuro; yy 8 a 46 dias de idade, diário: 4 horas de luz (40 lux) completado com luz natural. 3) Sistema dark house: yy 0 a 7 dias de idade, diário: 23 horas de luz (40 lux) e 1 hora de escuro; yy 8 a 46 dias de idade, diário: 4 horas de luz (40 lux) completado com 20 horas de escuro (5 lux). Para os tratamentos 1 e 2, sistema convencional de cortinas amarela e azul, respectivamente, a densidade de alojamento foi de 12 aves/m2, já para o sistema dark house a densidade de alojamento foi de 15 aves/m2.

Avaliação do desempenho e bem-estar

Para avaliar o desempenho das aves foram mensurados os seguintes parâmetros: consumo médio diário (CMD), ganho médio diário (GMD), peso médio final (PMF), conversão alimentar (CA) e viabilidade criatória (V).

Avaliação do bem-estar

Figura 3 - Sistema dark house de produção de frangos de corte

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Para a determinação do bem-estar das aves medido pela incidência de carnes PSE, foram escolhidos aleatoriamente três aviários de dada tratamento e foram abatidas 210 aves por tratamento, totalizando 630 aves, divididos da seguinte maneira: Janeiro 2013


Tratamento 1 – Sistema Convencional de Cortina Amarela (n=210); Tratamento 2 – Sistema Convencional de Cortina Azul (n=210); Tratamento 3 – Sistema dark house (n=210).

determinando o valor de pH e luminosidade (L*) conforme descrito por Soares et al. (2002), onde os filés foram classificados como PSE (pH≤5,80 e L24h*≥53,00) e como Normal (pH>5,80 e 44,00<L24h*<53,00).

Os frangos, aos 46 dias de idade, foram abatidos e os filés avaliados. As aves foram capturadas ao entardecer, adentrando-se pela madrugada, pelo dorso e foram colocadas cerca de dez aves por caixa de transporte. O abatedouro para o qual os frangos foram levados se situa em um raio médio entre 20 e 50 km da planta de abate, as aves foram transportadas em condições climáticas de verão (31°C e 51% de umidade relativa do ar) e abatidas seguindo a linha de processamento comercial com as seguintes etapas consecutivas: pendura, insensibilização elétrica, sangria, escalda, depenagem, evisceração, resfriamento em chiller e desossa com retirada do peito, Pectoralis major. Após o abate, os filés foram resfriados a 5°C, por 24 horas, para subsequentes análises de cor e pH. As amostras foram classificadas em PSE e Normal,

O programa Statistica for Windows 7.0 foi utilizado para análise dos resultados. O teste de Tukey a 5 % de probabilidade (p≤0,05) foi aplicado para comparar o desempenho dos animais.

Dezembro 2012

Análise estatística

Resultados e Discussão

Durante a fase produtiva de frangos de corte, o uso de um ambiente escuro deixa-os com menor agitação e resulta um maior bem-estar melhorando o desempenho das aves. Com os resultados apresentados na Tabela 1 se observam diferenças significativas na CA, GMD, PMF. Os resultados mostram que aves criadas em sistema dark house apresentam maior GMD 11,4 e 9,2% comparado aos aviários convencionais amarelo e azul respectivamente. Consequentemente, as aves tendem a ter maior PMF

27


Pesquisa

11,4 e 9,3% comparativamente aos aviários amarelo e azul, respectivamente. O sistema dark house apresentou melhor CA, cerca de 3,8 e 2,7% em relação aos aviários convencionais amarelo e azul, que não apresentaram diferença entre si. Não foram encontradas diferenças significativas para consumo médio diário (CMD) e viabilidade criatória % (V) para aves produzidas em aviários convencionais e dark house. Tabela 1 – Médias e desvio padrão de consumo médio diário (CMD), ganho médio diário (GMD), peso médio final (PMF), conversão alimentar (CA) e viabilidade criatória (V) para frangos de corte criados em sistemas: convencional amarelo, convencional azul e dark house Desempenho

Convencional amarelo

Convencional azul

Dark house

CMD

107,32a ± 5,63

105,81a ± 6,35

110,57a ± 8,82

GMD g

56,68b ± 0,95

57,79b ± 1,45

63,14a ± 1,40

PMF g

2607,00b ± 44,03

2658,00b ± 66,76

2904,00a ± 21,47

CA

1,82a ± 0,04

1,80a ± 0,47

1,75b ± 0,33

96,88a ± 0,48 Obs: Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância (p≤0,05) V%

96,67a ± 0,75

96,18a ± 0,54

Bichara (2009) e Gallo (2009) analisaram o desempenho de frangos de corte criados no sistema convencional e dark house encontraram diferenças nos parâmetros de conversão alimentar e ganho médio diário favorecendo o desempenho no sistema dark house. Similarmente, Nowicki et al. (2010) encontraram melhor conversão alimentar em aviários dark house (1,74) comparados aos aviários convencionais (1,83), corroborando com os resultados desta pesquisa. As instalações utilizadas para confinamento das aves possuem grande potencial como estressores, que levam as aves ao desencadeamento de reação de estresse. Nesse contexto destacam-se: os níveis de luz no ambiente, oscilações de temperatura, práticas de criação e modelos de instalações (JONES & MILLS, 1999; MARIN et al., 2001, NRC, 2008) que podem ocasionar sérios problemas à saúde e ao bem-estar dos animais (HALL, 2001). Entretanto, em aviários dark house, estes parâmetros são controlados e proporcionam 28

maior bem-estar para as aves. Abreu & Abreu (2010) e Costa (2008) relatam que o isolamento externo faz com que as condições internas do aviário dark house propiciem melhores resultados, como ocorrido no presente experimento. O estresse por calor é responsável por grandes perdas no rendimento dos lotes de frangos, ocorrendo piora da conversão alimentar além de diminuição do peso corporal (BILGILI et al.,1989). Entretanto, no sistema dark house o estresse causado pelo calor é minimizado, permitindo que as aves obtenham melhor desempenho e também que neste sistema as aves se movimentam menos e consequentemente gastam menos energia contribuindo para melhor ganho de peso. Após a classificação das carnes em PSE e normal, os tratamentos onde os frangos foram produzidos em aviários convencionais de cortina amarela e azul, as percentagens de carnes PSE foram menores em relação ao aviário dark house. Considerando então os valores de pH e cor para a classificação dos filés de peito de frango, verificou-se em uma amostragem do tratamento convencional de cortina amarela e azul que 26 e 27% dos filés apresentaram características de carnes PSE, respectivamente. Enquanto que no tratamento dark house, 37% das carnes foram classificadas como PSE. (Figura 4). Essa maior ocorrência, provavelmente, é a súbita claridade diurna e a consequência que essa condição acarreta aos frangos não habituados ao novo ambiente. 80%

74%

73%

70%

63%

60% 50% 37%

40% 30%

27%

26%

20% 10% 0% Convencional Amarelo Filé PSE %

Convencional Azul

Dark House

Filé Normal %

Figura 4 - Incidência de PSE em filés de peito de frango (n=630) classificados com base nos valores de pH24h e L*24h nos modelos de instalações: convencional amarelo, convencional azul e dark house Janeiro 2013



Pesquisa

Como mencionado anteriormente, o sistema dark house possui controle ambiental interno no aviário, esse controle fornece maior bem-estar às aves (ABREU & ABREU, 2010). Entretanto quando estas são submetidas a situações de estresse, como no pré abate: jejum, apanha, transporte, pendura (OLIVO et al., 2001; GUARNIERI et al., 2004; SIMÕES et al., 2009; BARBOSA, et al., 2011) as aves desenvolvem respostas ao estresse, ocasionando o desenvolvimento de carnes PSE. Na literatura, constam relatos que no verão a incidência de carne PSE é maior quando comparados ao inverno (SHOMOKOMAKI & OLIVO, 2006; SIMÕES et al., 2009; LANGER et al., 2010). Neste estudo, o transporte em condições de verão (31° C e 51 % de umidade relativa do ar) foi de grande importância para um maior desenvolvimento de carnes PSE em aviários dark house.

produzidas no sistema dark house são acometidas de maior intensidade de estresse comparado ao sistema convencional.

Conclusão

O sistema dark house possui maior potencial para produção, com desempenho superior aos sistemas convencionais. Entretanto, apresenta maiores valores de incidência de carnes PSE, indicando que as aves

Referências ABREU, V.M.N.; ABREU, P.G. Os desafios da ambiência sobre os sistemas de aves no Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, p.1-14, 2010. BARBOSA, C. F.; SOARES, A. L.; CYMBALISTA, D.; ROSSA, A.; SHIMOKOMAKI M.; IDA, E. I. O uso da luz azul no controle do estresse durante o pré-abate dos frangos. Revista Nacional da Carne, v.35, p.22-28, 2011. BICHARA, T. Aviário azul e dark house para frangos de corte. In: X Simpósio Brasil Sul de Avicultura E I Brasil Sul Poultry Fair, Chapecó, SC, Brasil, p.74-84, 2009. BILGILI, S. F.; EGBERT, W. R.; HOFFMAN, D. L. Research note: effect of postmortem ageing temperature on sarcomere lengh and tenderness of broiler Pectoralis major. Poultry Science, v.68, p.1588-1591, 1989. COSTA, F. G. P.; SILVA, J. H. V.; LIMA, R. C.; OLIVEIRA, C. F. S.; RODRIGUES, V. P.; PINHEIRO, S. G. Scientific progress in the production of monogastric in the first decade of the twenty-first century. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, p.288-302, 2008. GALLO, B. B. Dark House - manejo x desempenho frente ao sistema tradicional. In: X Simpósio Brasil Sul de Avicultura E I Brasil Sul Poultry Fair, Chapecó, SC, Brasil, p. 85-90 2009. GLATZ, P.; PYM, R. Poultry housing and management in developing countries. Poultry Development Review, p.1-5, 2007. GUARNIERI, P. D.; SOARES, A. L.; OLIVO, R.; SCHNEIDER, J. P.; MACEDO, R. M.; IDA, E. I.; SHIMOKOMAKI, M. Preslaughter handling with water shower spray inhibits PSE (pale, soft, exudative) broiler breast meat in a commercial plant. Biochemical and ultrastructural observations. Journal of Food Biochemistry, v.28, p.269-277, 2004. HALL, A.H. The effect of stocking density on the welfare and behaviour of broiler chickens reared commercially. Animal Welfare, v.10, p.23-40, 2001. JONES, R.B.; MILLS, A.D. Divergent selection for social reinstatement behavior in Japanese quail: Effects on sociality and social discrimination. Avian Poultry Biology Review. v.10, p.213–223, 1999.

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LANGER, R. O. S.; SIMÕES, G. S.; SOARES, A. L.; OBA, A.; ROSSA, A.; MATSUO, T.; SHIMOKOMAKI, M.; IDA, E. I. Broiler Transportation Conditions in a Brazilian Commercial Line and the Occurrence of Breast PSE (Pale, Soft, Exudative) Meat and DFD-like (Dark, Firm, Dry) Meat. Brazilian Archives Biology Technology, v.53, p.1161-1167, 2009. MARIN, R. H.; FREYTES, P.; GUZMAN, D.; JONES, R. B. Effects of an acute stressor on fear and on the social reinstatement responses of domestic chicks to agemates and strangers. Applied Animal Behaviour Science, v.71, p.57-66, 2001. NOWICKI, R.; BUTZGE,E.; OTUTUMI, L. K.; PIAU JÚNIOR R.; ALBERTON, L. R.; MERLINI,L. S.; MENDES, T. C.; DALBERTO, J. L.; GERÔNIMO, E.; CAETANO, I. C. S. Desempenho de frangos de corte criados em aviários convencionais e escuros. Arquivos Ciências Veterinária Zoologia UNIPAR, v.14, p.25-28, 2010. National Research Council – NRC. Committee on Recognition and Alleviation of Distress in Laboratory Animals. Washington, D.C.: National Academy of Science , 137p. 2008. OLIVO, R.; SOARES, A. L.; IDA, E. I.; SHIMOKOMAKI, M. Dietary vitamin E inhibits poultry PSE and improves meat function proprieties. Journal Food Biochemistry, v.25, p.271-283, 2001. SHIMOKOMAKI, M., OLIVO, R., Carne PSE em Frangos. In: Shimokomaki et al., Atualidades em Ciência e Tecnologia de Carnes. Varela, São Paulo, 95-104, 2006. SIMÕES, G. S.; ROSSA, A.; OBA, A.; MATSUO, T.; SHIMOKOMAKI, M.; IDA, E. I. Influência do Transporte em frangos PSE e a-DFD. Revista Nacional da Carne. v.383, p.20 - 30, 2009. SOARES, A. L.; LARA, J. A. F.; IDA, E. I.; GUARNIERI, P. D.; OLIVO, R.; SHIMOKOMAKI, M. Variation in the colour of Brazilian Broiler Breast Fillet. Proceedings International Congress of Meat Science Technology. Roma, v. 48, n. 2, p.540-541, 2002.

Janeiro 2013



Capa

por Arnaldo de Sousa, freelancer para a RNC

A agroindústria da carne

2013

As perspectivas para 2013 e a opinião de especialistas sobre o que a indústria frigorifica pode esperar dos próximos doze meses

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Janeiro 2013


A

agroindústria da carne (bovina, frango, suína e outras) vive um bom momento ao encerrar o ano e aponta perspectivas promissoras ao rever as operações para entrar no ano novo. O mercado interno brasileiro sugere um ano de 2013 com indicações de aumento de consumo na carne bovina de 33 kg por habitante ano (dados da Informa Economics FNP) para algo em torno de 34 kg ou 35 kg. A carne suína, que está em 15 kg, estima elevar-se para 16 kg e a de frango, que foi de 47,4 kg em 2011 (último dado disponível), deve ter um cenário de estabilidade. No entanto, para a indústria do frango, o Brasil representa 70% da demanda. “Em 2012, que foi um ano bom, a indústria da carne reduziu entre 20 a 30% a sua ociosidade e está trabalhando com 70% de sua capacidade. Se aumentar mais o consumo, a indústria está preparada para absorver a demanda”, projeta Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

“O mercado nacional absorve mais de 80% de toda a carne bovina que é produzida no País. Em 2011, 83,5% da carne bovina produzida foi consumida no mercado interno, o que corresponde, para a Abiec, um consumo per capita de cerca de 40 quilos. Com a economia em crescimento, um mercado interno dessa magnitude tem condições de absorver um possível aumento de oferta”.

Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec

Janeiro 2013

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Capa

De acordo com Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), o mercado nacional absorve mais de 80% de toda a carne bovina que é produzida no País. “Em 2011, 83,5% (7,6 milhões de toneladas equivalente carcaça) da carne bovina produzida foi consumida no mercado interno, o que corresponde, para a Abiec, a um consumo per capita de cerca de 40 quilos. Com a economia em crescimento, um mercado interno dessa magnitude tem condições de absorver um possível aumento de oferta”, prediz Camardelli.

“A avicultura brasileira enfrentou uma estiagem no Sul do País no início do ano, gerando escassez de farelo de soja, insumo que representa 30% do total da ração que alimenta o plantel. Posteriormente, agravou­ ‑se ainda mais a situação com a quebra de safra norte-americana de milho, que rebaixou em mais de 100 milhões a expectativa da colheita mundial do cereal. A consequência foi a elevação de mais de 100% no preço do farelo de soja e de 40% nas cotações do milho em plena safra, já que as negociações no mercado interno brasileiro seguem os valores praticados pela Bolsa de Chicago, que foi drasticamente afetada pela estiagem dos Estados Unidos”.

Francisco Turra, presidente da Ubabef

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“O destaque para o setor de carne suína em 2012 foi o aumento de produção, que atingiu 3,49 milhões de toneladas, um crescimento de 2,5% na comparação com 2011. Desempenho devido à elevação de 1,5% na produtividade do rebanho e do peso médio de abate de 600 gramas por carcaça, apesar da alta no custo da ração. “Em 2013, a produção deve crescer 1%, bem abaixo do seu potencial, devido principalmente à crise que afetou os produtores que operam sem contrato de produção e as indústrias com baixo nível de diversificação de produtos e mercados e que têm foco somente no mercado interno”. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs

O consumo interno é a base do crescimento da indústria de alimentos, geradora de milhares de empregos. Somente a agroindústria da carne de frango, de acordo com dados recentes da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), gera 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos e negócios que envolvem um movimento de R$ 36 bilhões e participação de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB). Janeiro 2013



Capa

Em termos de potencial de consumo, em geral, e das carnes, em particular, a população nacional oficialmente é de 193.946.886 de habitantes até o dia 1º de julho de 2012, nas estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os Estados mais populosos e com maior poder aquisitivo médio estão concentrados no Sul e Sudeste e juntos representam mais de 110 milhões de habitantes, ou 43% da população nacional. Muito tem se comentado a respeito da ascensão das classes E e D para a classe C, entrando no mercado de consumo em geral e, consequentemente, consumindo mais carnes. O crescimento da economia nacional nos últimos anos e o consequente crescimento do consumo de alimentos fora de casa, o chamado “food service”, tem contribuído para melhores margens do setor para produtos de melhor valor agregado. “O país vai ter um pouco mais de atividade em 2013 com o Produto Interno Bruto (PIB) passando de 1,5% deste ano para algo em torno de 3% para o ano que vem”, comentou Enzo Donna, consultor da ECD, empresa especializada no segmento de food service. Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), até o ano de 2022, o mercado de food service no Brasil tende a crescer exponencialmente, pois a previsão é de que ao menos metade das refeições diárias seja feita em food services. A notícia aproxima o País da realidade vivida nos Estados Unidos, onde 18% das refeições são feitas fora de casa.

Com projeções mais próximas da ECD, até 2014 o mercado de food service deve atingir o patamar de oferecer 70 milhões de refeições ao dia. Em 2011, foram servidas 63 milhões de refeições em food service no Brasil, desde o cafezinho até uma refeição. O faturamento do segmento vem crescendo nos últimos três anos, passando de R$ 215 bilhões em 2011 e R$ 240 bilhões em 2012, para atingir R$ 276 bilhões em 2013 nos cálculos da consultoria ECD. “O consumo de carnes em geral está na casa dos 34% do setor de food service e a carne bovina representa 16% das compras do consumidor fora de casa. A carne bovina tem uma elasticidade violenta, quanto menor seu custo maior será seu consumo”, comentou Donna.

“No curto prazo, o mercado da carne bovina deve repetir 2012. Porque não tem nenhum fator que vai alterar esse quadro. Mantendo todas as condições atuais, tudo será mantido. 2012 foi bom, os frigoríficos tiveram uma performance adequada, os produtos tiveram boa rentabilidade. Houve um incremento de consumo com o crescimento da classe média brasileira. Melhoria na renda é sinal de maior consumo. Se os supermercados, que detém 70% da venda de carnes no varejo, reduzissem suas margens em 30%, o consumo de carne aumentaria muito no Brasil”.

Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo

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Janeiro 2013


Tendência de queda nos preços

Há uma expectativa de maior consumo da carne bovina no marcado interno porque os preços médios da arroba do boi gordo, matéria-prima para a agroindústria, apresentam retração sobre a média do ano passado, que foi de R$ 100,40/@ na média do ano, atingindo os atuais R$ 95,60 em 2012, segundo informações da consultoria Informa Economics FNP. “Os preços variaram em torno de 5% negativamente em 2012 sobre o ano anterior e devem cair mais 5% em 2013. A agroindústria da carne está preparada para absorver a demanda. Se por um lado a rentabilidade do pecuarista estará mais achatada, por outro a da indústria irá melhorar no próximo ano. A conta é simples: matéria-prima mais barata, melhor serão os resultados industriais”, comentou José Vicente Ferraz, diretor da Consultoria Informa Economics FNP. De acordo com a análise de Ferraz, o ano vindouro deve ser encarado como o de ajustes de custos da indústria e consequentes maiores lucros, pois a economia em geral tem sofrido pressões por menores custos. “É cíclico esse processo. Em anos em que a matéria-prima recua de preços, a indústria cresce, investe e amplia sua rentabilidade. Na minha visão será um ano razoavelmente bom para o setor. Melhor para a indústria e bom para o pecuarista, mas inferior que 2012”, decreta Ferraz.

Prognósticos de longo prazo

Para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que realiza suas projeções de longo prazo baseadas em taxas médias de crescimento fixo, o segmento de carnes para o Brasil mostra que esse setor deve apresentar intenso crescimento nos próximos anos. “Entre as carnes, a que projeta maior taxa de crescimento da produção no período 2011/2012 a 2021/2022 é a carne de frango, e ela deve crescer anualmente a 4,2%, e a bovina, cujo crescimento projetado para esse período está em 2,1% ao ano. Já a produção de carne suína tem um crescimento previsto de 2% ao ano, o que também representa um valor relativamente elevado, pois consegue atender ao consumo doméstico Janeiro 2013

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Capa

“O mercado de carnes no Brasil é caracterizado por altos preços nominais. Esta situação é gerada pelo crescente aumento da demanda nas economias em desenvolvimento. Segundo a FAO, a maior parte do crescimento deste setor será reflexo das exportações feitas por países da América do Norte e do Sul, que serão responsáveis por quase 70% do comércio mundial até 2021. A produção de carne bovina deverá aumentar em média 1,8% ao ano, mesmo com a redução gradativa do rebanho bovino brasileiro (abate de fêmeas), gerando demanda crescente pelo sistema de cria e intensificação progressiva no uso das tecnologias em nutrição, sanidade e, principalmente, no melhoramento genético. O pecuarista deverá, portanto, produzir cada vez mais e melhor, utilizando práticas sustentáveis”.

Vladimir Walk, diretor regional América Latina do Grupo CRV

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e às exportações”, conforme dados do levantamento estatístico chamado de Projeções do Agronegócio. “A carne bovina assume o segundo lugar no aumento do consumo com uma taxa anual projetada de 2%, entre 2011/2012 a 2021/2022. Isso significa um consumo interno de 9,4 milhões de toneladas para a carne bovina daqui a dez anos. Em nível inferior de crescimento, situa-se a projeção do consumo de carne suína, de 1,8% ao ano para os próximos anos”, diz a publicação. Segundo a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), a maior parte do crescimento do setor de carnes será reflexo das exportações feitas por países da América do Norte e do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), que serão responsáveis por quase 70% do comércio mundial até 2021. A população mundial estimada pelas Nações Unidas deverá atingir 7,8 bilhões de pessoas em 2020 e deve chegar a 9,7 bilhões em 2050; a população brasileira deverá alcançar 214,8 milhões de pessoas em 2020 e 227,3 milhões em 2050. O que significa um mercado garantido no longo prazo para a agroindústria da carne crescer tanto externa como internamente. “No mercado externo, a expectativa é que a retomada das exportações de 2012 continue. O cenário para 2013 continua positivo para a indústria, e pode ser ainda mais positivo se o cenário macroeconômico favorecer a retomada também dos preços. Existe a demanda para isso nos nossos principais mercados que são principalmente países emergentes, como Rússia, Oriente Médio, América Latina e China”, disse Camardelli, da Abiec. As exportações brasileiras de carne bovina in natura caíram 17,8% em novembro na comparação com o mês anterior, gerando um resultado de 82,7 mil toneladas, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Em outubro, foram embarcadas 100,6 mil toneladas. O faturamento também caiu, passou de US$485,9 milhões para US$399,2 milhões de um mês para o outro. Já o valor pago por tonelada se manteve praticamente estável, ficando em US$4.829,30 por tonelada. No Brasil, a produção de carne bovina deverá aumentar em média 1,8% ao ano, mesmo com a redução gradativa do rebanho bovino brasileiro (abate de fêmeas), gerando demanda crescente pelo sistema de cria e intensificação progressiva no uso das tecnologias em nutrição, sanidade e, principalmente, no melhoramento genético. “O mercado de carnes no Brasil é caracterizado por altos preços nominais. Esta situação é gerada pelo crescente aumento da demanda nas economias em deJaneiro 2013



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senvolvimento. O pecuarista deverá, portanto, produzir cada vez mais e melhor, utilizando práticas sustentáveis”, na opinião de Vladimir Walk, diretor regional América Latina do Grupo CRV.

Setor de frangos ajusta sua rota

Nos primeiros 11 meses de 2012, as exportações brasileiras de carne de frango somaram 3,578 milhões de toneladas, 0,4% menos que em igual intervalo do ano passado. A receita acumulada caiu 6,9%, para US$ 6,987 bilhões, de acordo com informações da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). “O que aconteceu, na verdade, é que retomamos a sazonalidade normal dos embarques, com desaceleração nos últimos dois meses do ano. A previsão é que deveremos encerrar este ano com 3,92 milhões de toneladas embarcadas, quase o mesmo desempenho de 2011, quando foi registrada a exportação de 3,94 milhões de toneladas”, explicou Francisco Turra, presidente executivo da Ubabef. A produção brasileira de carne de frango em 2012 deve ficar em torno de 12,5 milhões de toneladas, número 4% menor em relação aos 13 milhões de toneladas de 2011. A estimativa da Ubabef é de que houve redução de 10% na produção de carne de frango brasileira no segundo semestre deste ano. Conforme a Ubabef, considerando apenas o mês de novembro, houve queda de 13% nos embarques de carne de frango em relação ao mesmo período de 2011, totalizando 312 mil toneladas. Em receita, a redução foi de 14,7%, chegando a US$ 653,5 milhões. “Os problemas pelo qual passamos em 2012 nos deixou mais fortes. As empresas estão mais organizadas e preparadas, gerindo seus recursos sob a perspectiva de que a redução dos preços dos insumos não acontecerá de forma brusca. Além disso, vamos continuar buscando novos mercados para o nosso produto”, declarou Turra. A avicultura brasileira enfrentou uma estiagem no Sul do País no início do ano, gerando escassez de farelo de soja, insumo que representa 30% do total da ração que alimenta o plantel. Posteriormente, agravou-se ainda mais a situação com a quebra de safra norte-americana de milho, que rebaixou em mais de 100 milhões a expectativa da colheita mundial do cereal. “A consequência foi a elevação de mais de 100% no preço do farelo de soja e de 40% nas cotações do milho em plena safra, já que as negociações no mercado interno brasileiro seguem os valores praticados pela Bolsa de Chicago, que foi drasticamente afetada pela estiagem do Estados Unidos”, comentou o presidente executivo. Segundo Turra, o setor enfrentou também em 2012 a greve dos fiscais agropecuários, “que causou um efeito 40

danoso, tanto para o abastecimento do mercado interno – ao qual estão destinados dois terços da produção de carne de frango” – quanto para as exportações e o alto custo dos fretes internacionais, assim como problemas causados pelos gargalos logísticos. Na avaliação do executivo, a competitividade do setor nunca esteve tão ameaçada como em 2012. No entanto, a expectativa para o próximo ano é positiva. “A situação do setor ainda requer bastante cuidado e atenção por parte do poder público, mas acreditamos que o pior já passou”. Para Turra, essa superação é fruto da tradição de um setor que hoje responde por 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos e negócios que envolvem um movimento de R$ 36 bilhões e participação de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB), aliada à união de toda a cadeia produtiva.

Carne suína surpreendeu na reta final

O Brasil contabilizou exportações de 540 mil toneladas de carne suína no acumulado de 2012 e uma receita de US$ 1,4 bilhão, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). “Este é um resultado bom, se levarmos em conta as restrições que foram impostas ao Brasil pela Rússia e a Argentina, além de o mundo ainda estar em crise econômica, iniciada em 2008. O resultado indica um crescimento de 12,83% em volume e 4,54% em valor, de janeiro a novembro, em relação a igual período de 2011”, opinou Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs. O destaque para o setor de carne suína em 2012 foi o aumento de produção, que atingiu 3,49 milhões de toneladas, um crescimento de 2,5% na comparação com 2011. Desempenho devido à elevação de 1,5% na produtividade do rebanho e do peso médio de abate de 600 gramas por carcaça, ap������������������������������������������������ esar da alta no custo da ração. “Em 2013, a produção deve crescer 1%, bem abaixo do seu potencial, devido principalmente à crise que afetou os produtores que operam sem contrato de produção e as indústrias com baixo nível de diversificação de produtos e mercados e que têm foco somente no mercado interno”, comentou Camargo Neto. Segundo ele, o próximo ano deverá continuar a pressão sobre os custos de produção, uma vez que os estoques de grãos permanecerão baixos e o mercado mundial seguirá demandante de matéria-prima das rações. Em 2012, as exportações de carne suína, em volume, devem ficar em torno de 580 mil toneladas, ainda abaixo do patamar alcançado pelo Brasil em 2007 (ano anterior à crise financeira mundial), de 607 mil toneladas. As receitas, em 2012, tiveram queda até novembro de 4,48%, por causa da redução de 12,2% no preço em dólar (US$ 2.039 a Janeiro 2013



Capa

“O mercado em 2012 foi difícil para as cadeias de carnes, impactado pela subida radical das principais matérias-primas - milho, farelo de soja e outras fontes de proteína -, assim apertando a rentabilidade dos pecuaristas e também dos avicultores e suinocultores. Em 2013, a expectativa é que os insumos caiam pelo menos 10% em comparação a este ano, ajudando um pouco. Mas como será um ano de pequeno crescimento de PIB, permanecerá apertado. Melhor que 2012, mas não muito”.

Eduardo Amorim, diretor-presidente da Nutreco Fri-Ribe Nutrição Animal

tonelada em relação a US$ 2.324 em 2011). “Em 2013, nossa expectativa é que as exportações sejam maiores do que as de 2012, porque esperamos que se regularizem as vendas para o mercado russo, que sofreram embargo em 2011. Nossa expectativa é que a viagem da presidente Dilma Rousseff à Rússia consiga destravar totalmente aquele importante mercado, que, tradicionalmente, tem figurado em primeiro lugar no ranking dos nossos embarques de carne suína”, projetou Camargo Neto. O executivo diz que o consumo per capita vem crescendo nos últimos anos, e está na casa dos 15 Kg 42

por habitante ano. “Mas é importante salientar que o mercado externo, para a carne suína, não está ruim. Veja que vamos exportar pouco menos do que em 2007, ano que marcou a pré-crise financeira mundial, a pior desde 1929”, comentou. Os principais destinos da carne suína, em 2012, foram: Ucrânia: 131.259 toneladas – (participação de 24,26%); Rússia: 121.459 toneladas (22,45%); Hong Kong: 113.788 t (21,03%); Angola: 39.851 t (7,37%); Singapura: 25.230 t (4,66%). Apenas para o mês de novembro, as exportações em volume cresceram 18,72% (51.094 t) e a receita ficou em US$ 137,32 milhões. Apesar do menor preço médio em relação a novembro do ano passado (-11,45%), houve aumento de 18,72% no volume exportado e de 5,13% na receita.

“Os preços variaram em torno de 5% negativamente em 2012 sobre o ano anterior e devem cair mais 5% em 2013. A agroindústria da carne está preparada para absorver a demanda e se por um lado a rentabilidade do pecuarista estará mais achatada, por outro, a da indústria irá melhorar no próximo ano. A conta é simples: matériaprima mais barata, melhores serão os resultados industriais”.

José Vicente Ferraz, diretor da Informa Economics FNP Janeiro 2013


Janeiro 2013

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ANO XIII Nº 116

TecnoCarnes Expresso

Av. Brasil, 2.880 - Jd. Chapadão - CEP 13070-178 - Campinas/SP - Tel.: (19) 3743-1880/1886

por Ana Lúcia da Silva Corrêa Lemos

Produtos cárneos com benefícios para a saúde Para que um produto cárneo possa ter um apelo funcional, antes de tudo deve preencher todos os requisitos que o tornem saudável segundo as recomendações dietéticas

O

grande obstáculo na comercialização de produtos cárneos com apelo de saudabilidade e benéficos para a saúde reside na percepção da maioria dos consumidores de que a carne e os produtos dela derivados são nocivos à saúde, especialmente aqueles que contem carnes bovina e suína. Os conhecimentos científicos adquiridos sobre o valor funcional da carne e seus derivados precisam ser urgentemente transferidos aos consumidores. São poucas as informações sobre as funções fisiológicas da carne. Existem compostos bioativos de interesse e que estão naturalmente presentes em carnes e derivados, tais como a carnosina, anserina, L-carnitina e ácido linoléico conjugado. Divulgar a presença destes compostos na carne, com destaque para seus efeitos fisiológicos, é urgente para modificar a imagem da carne e contribuir para a aceitação de produtos cárneos modificados com teores reduzidos de gordura, sódio, nitrito e adicionados 44

de ingredientes benéficos à saúde, pois podem reduzir o risco do surgimento de diferentes doenças crônicas de alta prevalência na sociedade moderna. Para que um produto cárneo possa ter um apelo funcional, antes de tudo deve preencher todos os requisitos que o tornem saudável segundo as recomendações dietéticas. Desta forma, as estratégias para desenvolvimento de produtos cárneos mais saudáveis incluem diferentes abordagens. Muitas vezes são necessárias manobras tecnológicas para que o produto apresente-se com suas características sensoriais e vida útil análogas às dos produtos tradicionais. Realizar modificações da composição da matériaprima por meio da dieta do animal, alterando a composição da carcaça e o perfil de ácidos graxos pode ser uma estratégia interessante para incentivar o consumo de carnes, mas não apresenta um impacto importante no desenvolvimento de produtos cárneos. Janeiro 2013


Reduzir os teores de gordura, colesterol, sódio e nitrito nos produtos cárneos requer a substituição da gordura por água e ingredientes funcionais ou, no caso da redução do colesterol, a substituição da gordura animal por vegetal é uma estratégia. A redução do teor de nitrito presente em produtos cárneos atinge uma parcela dos consumidores preocupados com este aditivo, porém os riscos envolvidos devem ser levantados e as formas de comercialização revistas. Incorporar ingredientes de efeito reconhecido na manutenção da saúde e prevenção de doenças é uma alternativa interessante. Uma abordagem nesta direção consistiria em se utilizar ingredientes funcionais no desenvolvimento destes produtos. Nesta categoria merecem destaque para produtos cárneos as proteínas de soja, fibras, antioxidantes (extratos vegetais), probióticos e prebióticos. Exemplos de ingredientes funcionais utilizados em alimentos com apelo à saudabilidade incluem oligosacarídeos, fibras dietéticas, bactérias láticas, proteínas de soja, peptídeos, cálcio, ferro, polifenóis, carotenóides, glicosídeos, fitosteróis e diacilgliceróis. Embora inúmeros produtos cárneos light ou com baixo teor de gordura e calorias tenham sido desenvolvidos em diversos países, observa-se que a indústria da carne hesita em adotar a tendência dos funcionais, como se observa em outros segmentos da indústria alimentícia, introduzindo no mercado produtos cárneos que agreguem propriedades funcionais fisiológicas. O termo alimento funcional criado no Japão, o país com a maior tradição nesta classe de produtos alimentícios, não encontra receptividade nas demais sociedades. A tendência das alegações de propriedades funcionais para a saúde e prevenção de doenças ao consumir-se o alimento que contém o ingrediente aprovado, é incluir no texto a ressalva de que a dieta deve ser equilibrada e os hábitos de vida saudáveis. Muitas destas modificações em produtos podem apresentar impactos negativos nas características sensoriais e na vida útil dos produtos cárneos, o que torna o desenvolvimento um desafio tecnológico. A seguir serão destacados alguns aspectos estratégicos para a indústria frigorífica divulgar a qualidade nutricional intrínseca da carne e desenvolver produtos modificados com adição de ingredientes com benefícios fisiológicos específicos.

Compostos bioativos

O ácido linoléico conjugado naturalmente presente nas carnes, especialmente de ruminantes apresenta propriedades anticarcinogênicas, antioxidante, fortalece o sistema imunológico, ajuda no controle da obesidade, Janeiro 2013

promove redução do risco de diabetes, além de participar do metabolismo ósseo. O teor de ácido linoléico conjugado aumenta com o cozimento. Os peptídeos bioativos são derivados de proteínas presentes em alimentos. Em hidrolisados de proteínas do músculo foram encontrados diferentes peptídeos com atividade anti-hipertensiva, hipocolesterolêmica e antioxidante. Em produtos fermentados estes compostos podem estar naturalmente presentes. Inúmeros antioxidantes estão presentes no músculo e merece destaque os dipeptídeos carnosina e a anserina que contem o aminoácido histidina. A concentração de carnosina na carne varia de 500mg/kg em coxa de frango até 2700mg/kg em paleta suína. A anserina é especialmente abundante na carne de frango (980mg/ kg). Os extratos de carne contem anserina e carnosina em abundância. A L-carnitina, obtida a partir de um subproduto do processamento de corned beef, facilita a produção de energia pelo músculo, reduz o colesterol e ajuda a aumentar a massa muscular.

Especiarias, extratos vegetais e seus compostos bioativos

A utilização de extratos vegetais em produtos cárneos promove melhoria do sabor, retarda oxidação, inibe o crescimento de microrganismos e ainda podem reduzir o risco de algumas doenças. O efeito antimicrobiano das especiarias deve-se principalmente à presença de compostos fenólicos, terpenos e cumarina, entre outros, os quais alteram a permeabilidade celular, interferem no transporte de elétrons na membrana o que altera o metabolismo dos nutrientes e a atividade enzimática. Destacam-se entre os extratos mais utilizados na indústria frigorífica o de alecrim, cravo, sálvia, orégano e chá verde. Os compostos fenólicos presentes em quantidades elevadas nesses extratos podem atuar como antioxidantes e antibacterianos, prevenindo oxidação lipídica e contribuindo para a estabilidade da cor. Além de retardarem a oxidação lipídica, demonstraram atividade antibacteriana, anticarcinogênica e antiviral em alguns estudos.

Vegetais, nozes e castanha

O uso de vegetais e seus derivados, que naturalmente contém altos teores de fibras, além de ser fontes de vitamina C, ácido fólico, vitaminas do complexo B, vitaminas E e K, potássio, fibras solúveis, carotenóides e flavonóides, contribuem para a imagem de saudabilidade 45


TecnoCarnes Expresso

de pratos prontos contendo carne. Alguns subprodutos do processamento de sucos cítricos apresentam bom desempenho em produtos cárneos e apresentam funções fisiológicas na prevenção de doenças cardiovasculares. Nozes e castanhas com altos teores de ácidos graxos monoinsaturados e polinsaturados, de reconhecido efeito preventivo de doenças cardiovasculares, podem ser uma alternativa para produtos cárneos.

Soja

Os ingredientes ricos em proteínas de soja já são amplamente utilizados na indústria frigorífica devido à funcionalidade tecnológica que apresentam. A ingestão de soja, principalmente em função da presença de isoflavonas que apresentam efeitos comprovados na redução do colesterol total e da fração LDL, também podem ajudar a reduzir os níveis de lipídios no sangue, o que contribui para reduzir o risco de ataques cardíacos.

Óleos vegetais e de peixe

Os óleos de peixe são naturalmente ricos em ácidos graxos insaturados ômega 3, enquanto os ácidos graxos insaturados ômega 6 estão presentes em óleos vegetais. Nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, a proporção recomendável de consumo dos ácidos graxos é de 0,4 (saturados):1,0(insaturados), enquanto ômega 6/ômega 3 deve ser de 1 a 4, respectivamente. As dietas ocidentais modernas apresentam uma relação da ordem de 15 a 20 e são deficientes em ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa. O óleo de peixes, especialmente os de águas frias, é muito rico em ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa. 46

A inclusão do óleo de peixe requer manobras tecnológicas que permitam sua estabilidade no produto e manutenção dos teores esperados durante toda sua vida útil. Os impactos no aroma podem ser superados utilizando apresentações desodorizadas e a estabilidade aumentada com a utilização de agentes quelantes e antioxidantes associados. O aumento na ingestão de ácidos graxos ômega 3 também pode ser obtido com a adição de óleos vegetais ricos em ácido linolênico.

Fibras

Uma dieta com baixa ingestão de fibras e o consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar apresenta correlação com a incidência de diferentes doenças crônicas em diferentes estudos epidemiológicos. A fibra alimentar é o principal ingrediente adicionado em alimentos funcionais, constituindo mais de 50% do total dos ingredientes usados em todo o mundo, e está sendo incorporado a diferentes tipos de alimento, como fator de qualidade nutricional muito apreciado por consumidores que entendem seu efeito fisiológico. As fibras apresentam bom desempenho tecnológico quando adicionadas a produtos cárneos, melhorando a textura e o rendimento em produtos com teores reduzidos de gordura. Diferentes ingredientes fontes de fibras já foram avaliados em produtos cárneos, tais como as fibras de trigo e aveia, dextrinas resistentes, goma guar parcialmente hidrolisada. As fibras dietéticas com função prebiótica incluem principalmente os oligosacarídeos de cadeia curta (frutooligosacarídeos- FOS e inulina). Quando Janeiro 2013


adicionados como ingredientes funcionais modulam a composição da microbiota intestinal, o que resulta em uma flora predominante de bifidobactérias que exercem um papel fundamental na fisiologia gastrointestinal. Diferentes produtos cárneos adicionados de fibras dietéticas já foram desenvolvidos e apresentaram características sensoriais similares às dos produtos tradicionais.

Aspectos regulatórios

As alegações aprovadas relacionam a propriedade funcional e/ ou de saúde a um nutriente ou não nutriente do alimento, conforme item 3.3 da Resolução nº 18/1999. No entanto, a eficácia da alegação no alimento deve ser avaliada caso a caso, tendo em vista que podem ocorrer variações na ação do nutriente ou não nutriente em função da matriz ou formulação do produto. No caso de associação de nutrientes ou não nutrientes em um mesmo produto, a eficácia da alegação deve ser comprovada no produto, com o uso concomitante dos nutrientes ou não nutrientes. No caso de alimentos regulamentados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as empresas devem inicialmente protocolar na ANVISA a petição 403, referente à solicitação de Avaliação de Alimentos com Alegações de Propriedades Funcional e/ou de Saúde. A ANVISA enviará a resposta da avaliação para a empresa, com cópia para a área competente do MAPA, que tem a prerrogativa de aprovar ou não o produto. No Brasil ainda não há nenhum produto cárneo com alegação de propriedades funcionais ou de saúde disponível no mercado. Por outro lado, dentre os ingredientes com alegação aprovada pela ANVISA vários demonstraram em diferentes estudos um bom desempenho em produtos cárneos, tais como ômega 3, carotenóides (luteína, zeaxantina, licopeno), fibras alimentares (beta glucana, dextrina resistente, FOS, goma guar parcialmente hidrolisada, inulina, quitosana, fitosteróis, sorbitol, probióticos, proteína de soja). Selos com certificação de associações se mostram uma alternativa para agregar uma imagem de saudabilidade aos produtos cárneos.

Referências

ARIHARA, K. Strategies for designing novel functional meat products. Meat Science, v.74, p.219-229. 2006. FERNÁNDEZ-GINÉS, J.M.; FERNÁNDEZ-LÓPEZ, J.; SAYAS-BARBERÁ, E.; PÉREZ-ALVAREZ, J. Meat products as functional foods: a review. Journal of Food Science, v.70, n.2, R-37-R43, 2005. JIMENEZ-COLMENERO, F.; CARBALLO, J.; COFRADES, S. Healthier meat and meat products: their role as functional foods. Meat Science, v.59, p.5-13, 2001. TOLDRÁ, F.; ROIG, M. Innovations for healthier processed meats. Trends in Food Science and Technology, v.22, p.517-522, 2011. WEISS, J.; GIBIS, M.; SCHUH, V.; SALMINE, H. Advances in ingredient and processing systems for meat and meat products. Meat Science, v.86, p.196-213, 2010. ZHANG, W.; XIAO, S.; SAMARAWEERA, H.; LEE, E.J.; AHN, D.U. Improving functional value of meat products. Meat Science, v.86, p.15-31, 2010.

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Perspectiva para a

suinocultura mundial A implementação da nova diretiva que proíbe o alojamento de matrizes em gaiolas durante a gestação

por Charli B. Ludtke¹; Osmar A. Dalla Costa²; Julia E. Gomes Neves3; Juliana Ribas4 Nanci do Carmo¹; Anna Paula Freitas¹; 1 WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal- Rio de Janeiro 2 Embrapa Suínos e Aves-Concórdia-SC; 3 Instituto Federal de Brasília-IFB-DF; 4 Seara Alimentos-MT

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A

Diretiva 120/2008 da Comissão Europeia trata dos padrões mínimos de proteção aos suínos durante a criação, sendo um dos pontos mais conhecidos o fim da utilização das gaiolas de gestação durante o período integral de alojamento das fêmeas suínas. O prazo máximo para as granjas se adequarem na Europa é janeiro de 2013. Nos novos modelos de granjas as matrizes podem permanecer em gaiolas somente no período pós desmame até os 28 dias após a cobertura, bem como uma semana antes do parto e durante a amamentação dos leitões. No âmbito comercial existe um receio de que o bemestar animal seja utilizado apenas como uma barreira protecionista pela União Europeia, sendo que a exigência da EC 120/2008 não seja aplicada aos demais países fornecedores de carne. Em 2002, num Comunicado1 apresentado pela comunidade europeia ao conselho e ao parlamento europeu, foi estabelecido que para importar produtos de países terceiros, deve ser criado um acordo bilateral, aprovado pela Organização Mundial do Comercio (OMC), onde as exigências feitas com relação

ao bem-estar da espécie envolvida estejam de acordo com aquelas aplicadas internamente na comunidade europeia e seus respectivos prazos de transposição.

Melhorias durante a gestação

Matrizes alojadas em isolamento individual (gaiola) durante a gestação podem manifestar estresse crônico, devido à privação de exercícios físicos e de expressar comportamentos normais como: interagir com o grupo, explorar o ambiente, delimitar seu espaço e área de descanso. Esses fatores podem gerar problemas comportamentais, fisiológicos e sanitários, ocasionando a manifestação de estereotipias, frustração, estresse social, laminites, infecções urinárias e lesões de apoio. Durante muito tempo acreditou-se que estes sistemas de alojamento atendiam as necessidades de produção, por demonstrar maior facilidade de alimentação, supervisão e controle dos índices zootécnicos. No entanto, com o avanço das pesquisas e dos sistemas de informatização, integrando tecnologias às granjas e bem-estar para os animais, constatou-se que é possível

Manifestação de estereotipias (comportamento anormal de morder barras) ocasionado pelo estresse, frustração e privação de espaço Janeiro 2013

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melhorar as condições das instalações para as fêmeas em gestação, sem ter impacto negativo na produtividade. Com isso, em diversos países, adotou-se a gestação em grupo e a eliminação progressiva das gaiolas.

alimentar é exploratório e passam em média de 6 a 8 horas por dia buscando comida em grupo (cavando, chafurdando, pastando).

Tabela 1. Panorama dos Estados-membros da União Europeia em relação ao cumprimento das novas regras de alojamento de matrizes em grupo

Na elaboração do projeto para o alojamento das fêmeas em grupo deve-se levar em consideração a densidade das baias (EC120/2008) e os aspectos do comportamento animal. Vários fatores devem ser considerados na construção das instalações, entre eles: o tamanho do grupo a ser alojado, a forma de arraçoamento, a existência de áreas de fuga e a presença de material de enriquecimento. A escolha pelo layout com a disposição de uma baia coletiva (maior) e várias baias de fuga (menores) auxilia para minimizar as interações negativa (brigas), principalmente quando há quebra da hierarquia social e disputa por recursos (ração, água). Essa disposição das baias também facilita a separação das áreas, onde na baia maior se dá o desenvolvimento das atividades principais (área suja), e nas baias menores o descanso ou utilização para fuga, já que as matrizes formam diversos subgrupos com hierarquias sociais.

Países

Dados coletados até 2011

Áustria

70% das matrizes em alojamento em grupo

Bélgica

36% dos produtores converteram seus sistemas para o alojamento em grupo

República Tcheca

94% das matrizes em alojamento em grupo

Dinamarca

75% das matrizes em alojamento em grupo

França

70% das matrizes em alojamento em grupo

Alemanha

70% das matrizes em alojamento em grupo

Irlanda

40% das granjas foram totalmente convertidas para o alojamento em grupo

Itália

35 a 40% das granjas alojam as matrizes em grupo

Holanda

Mais de 50% das granjas foram convertidas para o alojamento em grupo

Espanha

Próximo a 50% dos produtores de maior porte realizaram a conversão para o alojamento em grupo

Polônia

70 a 80% das granjas foram convertidas para o alojamento em grupo

O layout das baias

Fonte: British Pork Executive ( BPEX, 2012)

Alojamento de matrizes em grupo- comportamento

Para que tenhamos sucesso ao alojar matrizes em grupo, alguns aspectos relacionados ao comportamento normal devem ser levados em conta. Os suínos são animais sociais, que vivem em grupos estáveis de 6 a 10 fêmeas. Possuem uma hierarquia estabelecida por dominância ocasionada pela disputa por recursos e alimentos, e sempre que um novo animal entra no grupo ocorrem brigas para restabelecê-la. O comportamento 50

Suínos são sociais, gostam de formar grupos estáveis Janeiro 2013


Instalações da granja com separação da área suja e de descanso ou fuga

de ração, que é calculada pelo sistema integrado de informatização da granja. Importante posicionar as estações de alimentação em baias bem projetadas quanto à distribuição do espaço e atividades na área, com isso, forma-se um fluxo contínuo, minimizando brigas, esbarrões, mordidas e lesões.

Presença de áreas de fuga minimiza as interações negativas

Alimentação

Um dos principais problemas no alojamento em grupo é o acesso a alimentação, uma vez que as fêmeas competem por alimento. Uma forma de minimizar as interações aversivas é oferecer o arraçoamento várias vezes ao dia e automatizar a alimentação (estação eletrônica de alimentação). Neste sistema, adequado para grupos maiores, cada fêmea possui um chip na orelha, que ao ser lido pelo sensor eletrônico – na entrada da estação de alimentação – permite o acesso ao interior da máquina e disponibiliza a quantidade exata (porção) Janeiro 2013

Leitor para identificação do chip eletrônico

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O exemplo da Granja Miunça

Centro de integração dos dados, com equipes menores e mais qualificadas

A Fazenda Miunça, de Rubens Valentini, localizada no PAD-DF, região rural do Distrito Federal, possui 300 hectares e capacidade de alojamento de 3.800 matrizes em dois sítios de produção (gestação/maternidade e terminação). Nos últimos anos, a família Valentini manifestou o seu descontentamento em ver as matrizes suínas criadas isoladas em gaiolas, com limitação de espaço e impactando negativamente no bem-estar animal. Com isso, buscou melhorias para o bem-estar dos animais e a produtividade da granja por meio do projeto pioneiro no Brasil em escala comercial com o alojamento de mais de 800 fêmeas em gestação em grupo. Os resultados avaliados no primeiro ano (2011) demonstram que os índices de produtividade (Tabela 1) do sistema de gestação em grupo, quando comparado ao alojamento convencional da granja (gaiolas) são equivalentes ou superiores ao número de leitões por fêmea ao ano, a média de peso durante o desmame e a uniformidade da leitegada. O sistema de alojamento em grupo para fêmeas em gestação é uma alternativa viável para a suinocultura brasileira e um importante passo para suprir a demanda do mercado por produtos que agreguem um valor ético na criação dos animais com bem-estar e viabilidade econômica.

Melhorias a serem consideradas na hora de investir no alojamento de fêmeas em grupo em escala comercial com sistema de alimentação automática:

Qualidade do ambiente de trabalho proporciona maior controle dos dados

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Melhoria das instalações, visando bem-estar animal; Menor número de funcionários, com melhor qualificação; Melhores condições de trabalho (redução das atividades rotineiras); Maior motivação dos funcionários, devido a fato de o alojamento em grupo apresentar melhor ambiente; Facilidade de separar a fêmea do grupo para executar procedimentos de rotina (tratamento individualizado), logo após o arraçoamento; Equipamentos que permitem rápida identificação da fêmea (rastreabilidade); Fácil operacionalização; Menor desperdício de ração; Melhor controle individual da alimentação das fêmeas com precisão dos dados.

Janeiro 2013


Tabela 2 – Médias (erros-padrão) e níveis descritivos e probabilidade do teste F Variável

Gestação em grupo de matrizes

Gestação individual (gaiolas)

Pr> F

Aborto

0,961± 0,272

1,141± 0,207

0,6057

Desmamados

12,077± 0,185

12,091± 0,174 0,9560

Desmame/ fêmea/ano

30,557± 0,243

29,591± 0,372 0,0612

Mortes/ desmame

7,639± 0,984

8,787± 0,263 0,2278

Mumificados

2,706± 0,235

2,379± 0,168

0,2670

Nascidos totais

14,726± 0,196

14,598± 0,199

0,6537

Natimortos

7,110± 0,378

6,947± 0,654 0,8374

Partos/fêmea/ ano

2,529± 0,023

2,477± 0,011

Peso/ desmamados

6,243± 0,174

6,083± 0,055 0,3489

Peso/nascidos/ total

14,726± 0,196

14,596± 0,201

0,0445

0,6493

Repetição de cio 4,339± 0,851

4,500± 0,413 0,8668

Taxa de parição

91,604± 0,776

91,985± 1,056

0,7721

Entrada da estação de alimentação

Estações de alimentação nas baias

Saiba mais: A WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal visa construir um mundo onde o bem-estar animal importe e os maus-tratos contra os animais tenham fim por meio de campanhas e cooperação com parceiros e fóruns regionais, nacionais e internacionais. Reconhecida como órgão consultivo no Conselho da Europa, a WSPA colabora também com governos de vários países e com as Nações Unidas, atuando em mais de 50 países. Para entrar em contato, fale com a Gerente de Animais de Produção, a Dra. Charli Ludtke, no e-mail charli@wspabr.org ou no telefone (21) 3820-8207.

Referências:

1. Communication from the comission to the council and european

partament on animal welfare legislation on farmed animals in third countries and the implications for EU, COM( 2002) 626 final, 2002, http:// ec.europa.eu/food/animal/welfare/international/2002_0626_en.pdf

2. Overview of animal welfare standards and initiatives in selected

EU and third countries. Final Report deliverable 1.2, Econ Welfare, FiBL, Novembro 2010.

3. Disponível em: http://ec.europa.eu/food/animal/welfare/index_ en.htm, acesso em 29-08-2012

4. Diretiva 98/58 CE; disponível em: http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/ LexUriServ.do?uri=OJ:L:1998:221:0023:0027:EN:PDF.

5. Diretiva 91/630/EEC; disponível em: 6. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ. do?uri=CELEX:31991L0630:PT:HTML

7. Diretiva 2008/120/EC; disponível em: 8. http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:047: 0005:0013:EN:PDF

9. Regulamento (CE) nº 1, 2005; disponível em: 10. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ. do?uri=CELEX:32005R0001:PT:HTML

11. Regulamento (CE) nº 1099, 2009; disponível em: 12. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2010:312: Rastreabilidade com chip eletrônico Janeiro 2013

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Crônica

Noites de Moscou

O

Ministério da Agricultura do Brasil chegou a anunciar que estava suspenso o embargo da Rússia à compra de carnes de três Estados brasileiros – Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná. A liberação valeria tanto para carne bovina quanto para a importação de frangos e de carne suína. Mas a recente visita da presidente Dilma Rousseff a Moscou indicou que a novela não havia acabado. As restrições às condições de sanidade perduram desde junho de 2011 e poderiam ter sido derrubadas porque os russos enviaram veterinários e técnicos às instalações da cadeia produtiva da carne daqueles três Estados e pareciam concluir não haver problemas. Nada feito. A essa longa história dos negócios entre o Brasil e a Rússia em torno da carne, soma-se o fato de a própria Rússia, a China, o Japão e a África do Sul terem cobrado do Brasil explicações sobre um antigo e isolado caso de vaca louca. Uma vez que o Brasil impõe o estilo de “boi verde”, aquele que se alimenta de pastos naturais e não de restos de animais, o risco de “vaca louca” não existe. Cerca de dez anos atrás, outro absurdo: a Rússia suspendeu, por alguns meses, a compra de carne bovina brasileira por causa da descoberta de um pequeno foco de febre aftosa num município amazonense perto de Manaus, a mais de 2 mil quilômetros dos principais rebanhos nacionais de exportação. Vale a pena vender carne para a Rússia, o maior país do mundo em área – 17 milhões de quilômetros quadrados – apesar da perda dos territórios de antigas repúblicas soviéticas, que se tornaram autônomas após 1990. A população é de 140 milhões de habitantes, que sofrem com o inverno rigoroso, fator que também prejudica a agropecuária. Os russos produzem bastante carne, mas não o suficiente para abastecer toda a população, daí a necessidade de importar. Melhor para o Brasil, que, mais cedo ou mais tarde, provará a qualidade de seu gado. Visitei a Rússia uma vez, em 1980, para fazer a cobertura da Olimpíada de Moscou, aquela em que o mascote era o simpático ursinho Misha. Naquele tempo, era União Soviética, com suas quinze repúblicas. E o comunismo 54

Luiz Carlos Ramos

persistia não só lá como também na Polônia, Bulgária, Hungria, Alemanha Oriental e outros países. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a situação começou a mudar. Melhor para todos. A Olimpíada de Moscou foi linda, apesar do boicote liderado pelos Estados Unidos contra o governo soviético. O boicote, seguido por alguns aliados do governo americano, afastou dos Jogos grandes atletas. E qual o motivo do boicote? Um protesto contra a invasão do Afeganistão pela União Soviética. Sim: Afeganistão – o mesmo país que seria invadido pelos Estados Unidos após o ataque de terroristas em 11 de setembro de 2001. Explicações de invasores, seja qual for a bandeira, sempre citam a “defesa da paz”. Os russos, ao se livrarem do comunismo, deram um grande passo rumo ao progresso. Mas tudo indica que determinados países têm vocação para ditadura: a Rússia, que havia sofrido tanto nas mãos de czares sanguinários, ficou sob o controle de ditadores socialistas a partir de 1917 e, ao mudar o sistema de governo, passou a ser dominada por outro tipo de ditador, Vladimir Putin, que é mantido no Kremlin por meio de eleições aparentemente democráticas. A história da Rússia é repleta de grandes compositores, escritores, pintores e escultores. Em 1980, fiquei hospedado no enorme Hotel Rossia, na histórica Praça Vermelha. Fui ao Palácio dos Congressos, dentro do Kremlin, e ao Teatro Bolshoi para ver espetáculos de música folclórica. É linda a música “Noites de Moscou”. Nas refeições, saborosos filés de carne bovina e excelentes peixes. E, claro, não faltava caviar, bem barato. Ótimas recordações. Luiz Carlos Ramos é jornalista e professor de jornalismo, com 48 anos de experiência na área. Fez coberturas jornalísticas sobre carne em Paris e em dez Estados do Brasil. É colaborador da Revista Nacional da Carne lcr25@terra.com.br Janeiro 2013


Janeiro 2013

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Índice

Anunciantes

Akso....................................................................................25

Metalquimia.....................................................................5

Anuncie RNC..............................................................10/11

Multifrio........................................................................... 15

Assine.....................................................................3ª Capa

Odim................................................................................. 22

Beraca................................................................................35

Poly-Clip..............................................................................7

BTS Informa.....................................................................57

SIAL Brazil........................................................................ 56

Cryovac.................................................................. 4ª Capa

Soccorro............................................................................. 9

Duas Rodas..................................................................... 43

SHD.....................................................................................37

Fermod............................................................................. 47

TecnoCarne......................................................2ª Capa/3

Fispal Tecnologia.......................................................... 39

Termkcal...........................................................................27

Geza.................................................................................... 8

Tinta Mágica.................................................................. 22

GPS Kal.............................................................................. 17

Ulma Packaging............................................................ 29

Handtmann.....................................................................14

Unochapecó....................................................................23

Incomaf.......................................................................19/41

Vitafoods..........................................................................55

Jarvis do Brasil................................................................ 31

VPG..................................................................................... 13




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