Revista portugal septiembre'2013

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AndrĂŠs Mellado, 42 PEDIDOS: 28015 - Madrid CINTURON NEGRO Tel.: 91 549 98 37 E-mail: budoshop@budointernational.net

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Basta um CliC para estar no melhor que em Artes Marciais existe no teu idioMA‌


WINGTSUNG

JEET KUNE DO Pedro Conde, um conhecido e respeitado especialista na matéria, analisa pormenorizadamente os aspectos chave que governam este pontapé no estilo de Bruce Lee e o situa em seu contexto histórico em um magnífico artigo, ao qual acompanham algumas fotografias que de certo serão a delicia dos amantes do pequeno Dragão.

O segredo que deixou de o ser... O sistema com o qual eu pessoalmente aprendi (e a imensa maioria de praticantes de WT da Europa), fundamenta a evolução (passo de níveis) na superação, mediante um exame que geralmente se realiza em um seminário de um grande mestre.

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BOXING

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BRAZILIAN JIU JITSU AIKIJUJUTSU

p. 16

Aikijujutsu… Nada além do vácuo!... Para o conceito AIKI, o acaso não pode ter pré-organizado tantas condições necessárias para o desenvolvimento da vida: formação de planetas, irradiação solar, presença de uma atmosfera... tudo dosado para que a vida fosse aí possível, dado que qualquer excesso ou deficiência a teria destruído.

VINCENT LYN

p. 62

Enfrentar-se ao frio aço , o que fazer perante uma ameaça com faca? Muitos se tem falado no rápido aumento em vendas das armas de fogo, especialmente após os atentados terroristas, mas ninguém diz que os fabricantes de facas nunca tiveram melhores vendas.

Grand Master Francisco Mansur foi a mão direita de Hélio Gracie; durante 35 anos foi polícia no Rio de Janeiro. Campeão de Vale-Tudo, actualmente o Mestre é o mais reconhecido do mundo em Jiu Jitsu. Trabalha nos Estado Unidos”

p. 86 Entrevista exclusiva com um dos grandes do Boxe que se atreveu com a MMA, medalha de Ouro Olímpica e com uma carreira fabulosa, com motivo da apresentação dos seus 6 DVDs para aprender Boxe.

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KARATE

KAPAP

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Como estudante da Arte da espada japonesa, sei que: “Tem de se estudar o antigo para compreender o novo”. Eu fui um “Uchideshi” durante quase 8 anos no Japão, sob a tutela do Mestre de Espada o Sensei Kubo Akira e o tenho seguido durante os últimos 30 anos. Sou testemunha da sua grande habilidade e ele tem sido o meu inspirador.

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Pioneiro do Karate na Espanha e na Europa, o Mestre Hattori com seus quase 70 anos, nos fala de uma vida dedicada ao Karate.


TAI CHI CHUAN

BRAM FRANK CSSD

p. 102

É necessário a p r e n d e r habilidades que se possam utilizar em tempo real sob coacção. São o suficientemente simples para ser aprendidas em horas e para que alguém possa ensinar os conceitos básicos em 12 horas: NÃO é ciência espacial!

HUNG GAR O Gung Gee Fook Fu Kuen leva os estudantes a um novo nível no programa do Hung Gar e os põe em forma em todos os aspectos do sistema, tanto físicos como mentais.

p. 106 O Grão Mestre Victor Sheng Lung Fu é sobrinho do Grão Mestre Fu Zheng Song (ou Fu Chen Sung 1881-1953) o famoso fundador do sistema completo de artes marciais internas chamado Fu Estilo Wudang Quan ou Wudang Boxing, que inclui Tai Chi Chuan, Liang Yi Chuan, os seus Xiang Chuan, Hsing Yi Chuan e Pa Kua Zhang, além de outros tipos de punhos e formas com armas.

RUSSIAN ARTS É um dos grandes das Artes Marciais Russas, atrás de esse olhar de lobo, há um Mestre das Artes Eslávicas, alguém que viajando por todo o mundo, mais tem feito para dar a conhecer as revolucionárias maneiras de conceber o combate que se desenvolveram na antiga União Soviética.

p. 78 VOVINAM VIET VO DAO A prática das Artes Marciais no BATTOJUTSU Vietname, sem importar o estilo e as escolas, inclui quase sempre o trabalho de armas como o sabre, a cimitarra, a alabarda, o machado de guerra ou a lança.

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Sempre ilustrativo e detalhado, ressuma estilo e conhecimentos de mestre; é Sueyoshi Akeshi que está de regresso com novos trabalhos que iremos apresentando nos próximos meses, para alegria de seus muitos seguidores.

p. 68 SHORIN RYU

Sérgio Hernández Beltrán, o autor desta reportagem um versado e consumado especialista do Karate e do Kobudo mais tradicionais, nos apresenta neste trabalho um novo DVD de Budo International, acerca da escola Shorin Ryu com um dos mais destacados mestres dos nossos dias.

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549 98 37.


“A mente intuitiva é um presente sagrado e a mente racional é um fiel servente. Criamos uma sociedade que honra o servente e esqueceu o presente” Albert Einstein

T

oda iniciação é um processo de talha e polido do nosso ser, no marco de um caminho específico. Existem rios navegáveis na espiritualidade, que são o resultado da tentativa mantida por muitos seres no decurso de várias gerações. Claro, que fazer uma coisa muitas vezes, não a faz melhor, nem mais correcta, mas pode chegar a garantir resultados congruentes em terrenos, nos quais o tempo de uma só vida não nos daria nem sequer ocasião de traçar os mais superficiais mapas. Os humanos não somos os mais rápidos, nem os maiores e mais grandes, nem os mais fortes dos animais; ¡Nem sequer os mais espertos! Pois a inteligência é coisa difícil de medir sem predefinir parâmetros e com as cartas marcadas sempre acabamos ganhando nas comparações. Na verdade, o nosso êxito está baseado na capacidade de comunicar-nos experiências inteligíveis para cooperar. Para as grandes conquistas isto significa traçar mapas e deixar essa herança aos que vêm depois, para que continuem os caminhos e inclusivamente cheguem mas além. Os rios navegáveis da espiritualidade são necessariamente hereditários e cooperativos, entrar sozinho nas matas do mundo invisível é uma temeridade, pois um peixe pequeno é só um alimento para um peixe grande. O processo de talha e polimento é entretanto um ponto comum a todos eles. Toda iniciação é semelhante a entrar em um funil, a passar por uma peneira, cada vez mais fina, submetendo o nosso ser a uma decantação. Iniludivelmente, retalhos do nosso ser vão ficando pelo caminho, trapos descartáveis devem ser relegados, porque se tornam uma carga pesada, porque cumpriram sua tarefa, ou porque são inaceitáveis no plano superior ao que pretendemos ter acesso. Se o caminho espiritual escolhido é autêntico, nos questionar-nos-á tanto a nós, como à ideia do mundo com que cheguemos a ele. O choque de ambas forças, identidade e caminho, não se fará esperar, porque nenhum nascemos completamente prontos; nascemos “para estarmos prontos” e no melhor dos casos, para evoluir e crescer. As opções entretanto, estão sempre abertas, porque cada passo, cada encruzilhada, determinará a seguinte direcção, delimitará o caminho, afinará o destino. Mas viver dentro de algo não é suficiente, pois nada substituirá a determinação, a lucidez e o esforço e m p re g a d o s , n a d a e v i t a r á a s c o n s e q u ê n c i a s d a s nossas decisões, que necessariamente encontrarão um eco no nosso acontecer. Se o caminho escolhido é atinado e poderoso, aprenderemos a lidar com tudo isso, a ser mais sábios, mas se se tratar simplesmente de um conjunto de normas baseadas no costume ou sustidas no poder da misericórdia, será muito difícil ir mais além.

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“A mente intuitiva é um presente sagrado e a mente racional é um fiel servente. Criamos uma sociedade que honra o servente e esqueceu o presente” Richard Bach, “João Salvador Gaivota”

Porque há caminhos… e caminhos. O mundo espiritual é um grande mercado onde se encontra de tudo, nas mais das vezes mau, caro e disfuncional, mas já lá diz o povo: “Sempre há um roto para um descosido”. No mundo espiritual há também alta costura, pret a porté, e segunda mão. Sim, nisto também há qualidades muito diferentes, não se assombrem nem levem as mãos à cabeça; assim é e não podia ser de outra maneira, porque a lei dos graus age sempre e em todas as coisas. No entanto, o que serve ao propósito, a necessidade e o momento de cada um, é sagrado e deve ser respeitado; por isso não esperem de mim nomes, nem sobrenomes, que cada um faça de sua capa um saiote, não verá em mim um juízo de valor, não perceberá nunca um desdém, nem encontrará uma crítica. Aprendi que cada via navegável responde a uma necessidade, cumpre uma função, acorda a outras realidades e deve ser respeitada. Eu tenho sido toda a minha vida tremendamente exigente neste assunto; a dita exigência se viu finalmente satisfeita, mas se olhar para trás vejo que sempre os meus passos me levaram de uma ou outra maneira a esse caminho. Todos temos uma história que nos transcende, que nos demarca em um cenário maior, que age silenciosamente entre as bambaleias da nossa representação, ditando como um apontador as frases da peça teatral. O mundo espiritual de cada um, que todos o temos, conspira sempre a o nosso favor, por mais que nem sempre o escutemos. Mas despertar à espiritualidade não é fácil. As árvores não nos deixam ver o bosque e frequentemente teimamos em apagar as marcas e as mensagens, sempre abundantes, que nos enviam. Cada um escolhe a sua própria cegueira, suas próprias razões, mas a simplicidade e o imediato do que é material, são uma barreira a superar sempre. No final, por mais que ninguém se inscreva voluntário no caminho da consciência, será pelo amor, ou será pela dor, mas todos encontraremos ocasiões para transcender a nossa visão limitada à matéria. O espiritual teimosamente se desliza entre as aberturas dos mundos e tarde ou cedo os nossos olhos, os olhos de todos se abrirão a essas outras dimensões do invisível. Todos nascemos com uma natureza essencial, há quem nasce calhau e seu destino será rolar pelos caminhos, há quem nasce diamante e seu destino será ser talhado e polido em mãos do mais fino ourives. Quem nasceu esmeralda, não dará rubis, quem nasceu água-marinha, não resultará em ágata. A talha ou o polido só puxará para fora o que levemos dentro, pelo que um bom caminho espiritual deve considerar a peculiaridade das nossas naturezas essenciais, só assim saberá tirar para for o melhor de cada um. Não há democracia no espiritual, pelo que a sua ideia de igualitarismo como justiça já a podem pôr de parte. O


“Não acredites no que os teus olhos te dizem. Só mostram limitações. Olha com o teu entendimento, descobre o que já sabes e encontrarás a maneira de voar”

espiritual, como o natural, é hierárquico. O que nos faz iguais são as leis em que estamos inseridos, mas isto não implica que todos sejamos iguais. Não o somos neste plano, nem nos outros planos. Despertar ao invisível requer de nós permanecer atentos, espertos e pronto para o inconcebível. Não negar não significa acreditar. Nestes assuntos nada substituirá pertinentemente a experiência própria, comungar com rodas de moinho não nos fará mais sábios. A dúvida não ofende, é saudável ingrediente na cozinha da consciência, insubstituível aditamento do nosso espírito inquiridor, faminto de conhecimentos, firme no seu desejo. Para além do material há mundos de energias e consciências onde tempo e espaço têm outro valor; há outras dimensões que se cruzam continuadamente com a nossa, que numa interacção interferem continuamente. Os antigos descobriram que temos os mecanismos para faze-las conscientes e nos legaram os seus mapas. Unos mais pertinentes que outros, os mapas estão aí para os honestos que andam em busca da verdade ou das verdades que nos encomendaram como caminhos navegáveis da espiritualidade. O meu é o e-bunto.

Alfredo Tucci é Director Gerente de BUDO INTERNATIONAL PUBLISHING CO. e-mail: budo@budointernational.com


Reportagem “O Karate Tradicional de Okinawa compreende a prática do kata (forma) e do kumite (combate) de maneira conjunta”

Texto: Sergio Hernández Beltrán ryubukan@hotmail.com Fotos: © www.budointernational.com

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Karate Os bons exemplos de Karate tradicional são a cada dia mais difíceis de encontrar. O Karate se tornou um desporto de alta competição e está estendido por todo o mundo, no entanto, as suas raízes continuam vivas e este artigo é um bom exemplo disso. Sérgio Hernández Beltrán, o autor desta r epor tagem um versado e consumado especialista do Karate e do Kobudo mais tradicionais, nos apresenta neste trabalho um novo DVD de Budo International, acerca da escola Shorin Ryu com um dos mais destacados mestres dos nossos dias.

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Okinawa Shima Ha Shorin-Ryu Karate-Jutsu Um antigo Estilo numa Época Moderna O Karate Tradicional de Okinawa compreende a prática d o ka t a ( forma ) e o kumit e ( c omb a t e ) d e maneira conjunta. Em diálogos e conversas com o meu Mestre, o Shihan Toshihiro Oshiro, frequentemente faz ele uma comparação entre o Karate e a arte da espada. Explica que o actual Kendo se baseia no combate com uma armadura (bogu) e com um Shinai, quer dizer uma espada feita de lâminas de bambu. Mas os kenshi (praticantes de espada), quando praticam com uma espada real, só o fazem em forma de kata. A partir deste símile do Mestre Oshiro, o estilo baseia o seu trabalho em compreender a biomecânica corporal e o sistema físico dinâmico interno através dos kata antigos. O que de início chama a atenção quando se começa a praticar o estilo, é que este defende a forma antiga de praticar o Karate como um sistema unitário, frente às separações que faz o actual desporto do Karate. Hoje em dia, na maioria dos estilos modernos de Karate, a prática do combate é contemplado de maneira diferenciada do kata. Ainda mais, por sua vez o sentido dos kata perderam toda compreensão que não seja a que os próprios praticantes e o público que assiste aos torneios lhe dão. Apreciam apenas a sua beleza exterior na execução, quer dizer, de maneira similar a uma coreografia ou ginástica artística. Muitos praticantes de Karate actuais gostam de dominar a graça e a plasticidade do Kata, sem questionarem o seu propósito essencial. O trabalho de Kata e de Kumite destes praticantes não é o consensual, é diferente. Não se apercebem que sem realmente dominar o Kata, não podem fazer kumite como arte marcial. Assim sendo, os kata são vistos como desnecessários para fazer combate e muitos praticantes que procuram um sentido funcional à sua disciplina, deixaram de praticar katas ou se orientam para outras disciplinas que não possuem formas. Os movimentos dos actuais e modernos kata não funcionam nos combates de treino nem nos combates de competição. O Kata deve de ser a expressão máxima do controlo corporal e a extrema eficácia. É uma perda absoluta de tempo e de energia o facto de aprender e praticar kata sem dominar a eficácia dos movimentos. Na comunidade do Karate tradicional, alguns especialistas denominam essas modernas formas como Kata Estancados, porque os seus movimentos físicos e mentais ficam sem progressão e só se seguem executando esses kata “para seguir a regra”, quer dizer, não se procura ir mais além, ficam estancados na primeira fase, na mais básica.

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Karate

O conceito para dominar o Kata é o mesmo que para dominar o Kumite. Os estilos de Karate que não contêm os princípios de tempo e gravidade não atendem à essência das autênticas artes marciais, das disciplinas de combate reais. O antigo estilo Shorin-Ryu, que procede do Shuri-Te, era um estilo concebido para lutar contra adversários armados. Em muitos aspectos, pode observar-se uma certa procedência de movimentos que se executavam portando armas. Por outras palavras, um estilo criado por guerreiros e para guerreiros. Era uma técnica totalmente oposta às origens e conceitos do NahaTe, chegado posteriormente ao arquipélago das Ryu Kyu. Os antigos mestres de Okinawa diziam: “O Shuri-Te é o Karate de Okinawa”. A expressão pouco entendida “um batimento para matar”, se deriva do Karate Shuri-Te. Era um conceito, não era uma técnica, que se baseava na esquiva ou na antecipação perante um inimigo a r m a d o e m a t á - l o co m u m s ó batimento ou deixá-lo fora de combate. Não havia uma segunda oportunidade, era uma questão de vida ou morte, não havia “medalha de prata”. E isto era acima de tudo, pelo facto de que o contrário estava armado e porque também existia a possibilidade de mais de um adversário, de maneira que não havia tempo para lutar. Ainda podemos ver antigas fotografias onde observamos os mestres em posições que nos nossos dias mudaram completamente. A utilização de uma posição lateral, com os pés quase alinhados, o

conceito de “flutuar” e a mecânica de rotações (kawate) em 180º são estranhos para os praticantes habituados a posições estáveis, fixas e amplas, voltas em dois tempos e de frente para o contrário para utilizar a moderna e expandida técnica do Gyaku Tsuki, pela qual se conhece o moderno Karate. O conceito básico do trabalho do estilo está orientado para o conceito da linha central Seichusen, que é o eixo de defesa assim como o de ataque. Os kata em Shima Ha Shorin-Ryu, possuem todos este conceito e se mantêm seja qual seja a direcção em que se vai girar. No que diz respeito a dar a volta em 180º ou kawatte, este termo se traduz como “mudar”, em vez do clássico mawatte, traduzido como “girar”. Para o praticante moderno isto é uma descoberta, entendendo que ao fazelo em um tempo só em vez de em dois - como é habitual tanto nos estilos de Naha-Te (Goju-Ryu, UechiRyu), como nos estilos de Shuri-Te (estilos Shorin-Ryu) - permite aumentar velocidade, quer dizer, modificar “o tempo” e influindo o factor surpresa. Este aspecto é devido aos pés estarem quase em linha, posição também muito comum nos antigos estilos de Nemhon Kobudo (Antigas Artes Marciais do Japão) conhecidos hoje, os quais eram sempre praticados com armas. Insisto no aspecto marcial da prática, entendida para o combate real e não tanto para uma prática desportiva onde o contrário não vai armado e não se teme ser ferido, nem morto.

Conceito da busca do equilíbrio no desequilíbrio Existem técnicas nos kata em que se aplica este princípio, que a maioria não podemos perceber por te ter perdido a aplicação prática real. Mas o certo é que mesmo desequilibrados, se mantém o equilíbrio no momento em que se impacta com o alvo. No kata se incluem formas de evitar esse desequilíbrio, que na aplicação não seriam necessárias, mas que a maioria interpreta como o “fim” da técnica. A maneira de efectuar um tsuki e as suas diferenças com os estilos modernos radica em que a energia não é lançada para o exterior, pelo contrário, se deixa no interior, “retendo” a técnica. Exteriormente “parece” um tsuki potente e a quem o executa dá-lhe uma sensação de potência sem igual, mas na realidade não “atravessa” o alvo. A procedência do estilo em linha com um Karate antigo e os seus conceitos, permite observar no seu trabalho as diferentes influências, entre elas a proveniente do Tomari-Te, onde uma qualidade primordial é o timing. Também os agarres ou prender durante o treino de combate, ou fugir dos agarres e apresamentos, é também importante. O estilo Tomari-Te dá importância às projecções e desequilíbrios, posto que o Karate antigo encarava o combate a muito curta distância. Tudo isso se pode ver nos bunkai que se realizam em Shima Ha.

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“Numerosos versados praticantes de Okinawa de grande nível, escolheram praticar e ensinar tal como se fazia antigamente”

SHIMA HA SHORIN-RYU KATA Kihon Kata Kihon Kata Ichi Kihon Kata Ni Kihon Kata San Pinan Kata Pinan Shodan Pinan Nidan Pinan Sandan Pinan Yondan Pinan Godan Kata Intermedios / Avanzados Naihanchi Wankan Wanshu Jitte Aragaki no Sochin Rohai Tomari Passai Itosu Passai Matsumura Passai Kyan no Chinto Koshiki Wankan Chatan Yara no Kusanku Matsumura Kusanku Gojushiho (1) Gojushiho (2)

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Karate Habituados a esmiuçar, organizar, enquadrar, equilibrar, numerar o molde físico mas acima de tudo o mental de um praticante moderno, esse praticante “sofre” não encaixando na forma do Karate antigo. É necessário

apurarmos a nossa “visão” para podermos “ver” e compreender este estilo de Karate “ancorado” nas suas origens. Possivelmente não seja um estilo “apto para todos os públicos”, mas

para aqueles realmente resolvidos a tentar perceber e principalmente aprender, é sem dúvida alguma um desafio. A possibilidade de aprender, pelo menos os conceitos do movimento, pode proporcionar inclusivamente ao moder no karateka, benefícios que irão melhorar o seu rendimento.

HISTÓRIA Masao Shima (1933-2003) Numerosos versados de Okinawa de grande nível, escolheram praticar e ensinar tal como se fazia antigamente, quer dizer à porta fechada, segundo eles dizem o caminho correcto do autêntico Budo. A isto se denomina “Kakure-Bushi”. Houve grandes especialistas que se formaram antes, durante e depois da 2ª

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Karate Guerra Mundial e que tendo obtido um elevado nível, nunca quiseram ser publicitados, preferiram crescer para “dentro” e não perder tempo na difusão da sua arte em busca de promoção nem dinheiro. Muitos desses Mestres preferiram não gastar mal o seu talento dando aulas e sendo comerciais e escolheram ensinar a um reduzido grupo de pessoas e “crescer” correctamente. Um destes Mestres é o Sensei Masao Shima. Masao Shima estudou Matsubayashi Shorin Ryu Karate sob a direcção de Shoshin Nagamine, de quem Shima foi um dos alunos mais importantes. Shoshin Nagamine tinha proibido praticar Kumite livre no seu dojo. Por tal motivo, Shima Sensei junto com outros, fundaram um Dojo para poder praticar livremente o Kumite. Isto foi nos inícios da década de cinquenta, pouco depois da sua graduação como cinturão negro. Masao Shima, Chokei Kishaba (1931-2000) e Kensei Taba (1933- ), juntos fundaram um dojo em Kanzatobaru, na cidade de Naha. Este dojo ficou sob a direcção de Shima Sensei, depois de Taba e Kishaba Sensei se irem embora. Shima nunca pediu dinheiro aos seus estudantes, mas queria que o ajudassem trazendo água, que já era pouca e devia ser transportada de longas distâncias. No Dojo de Shima nunca houve mais de dez membros aprendendo. A princípios dos anos 60 se trabalhavam particularmente os Kata. Após isto, o treino continuava com um trabalho de força (entre outros elementos se trabalhava com o Chishi). Também se praticava com o Bo. Este Dojo foi famoso pelos duros combates que ali havia; um ensino em contraposição ao que se difundia no Dojo de Nagamine Sensei, mais orientado para o trabalho do Kata. Existia uma estreita relação com o Dojo de Nagamine, posto que todos provinham do dojo de Shoshin Nagamine Sensei. Quando este

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faleceu, Shima Sensei já era 10ºDan e desde então até a sua desaparição, dirigiu o seu próprio ramo de Shorin-Ryu. Masao Shima viveu durante aproximadamente um ano em Los Angeles (USA). Curiosamente, são os seus alunos residentes nos Estados Unidos os que finalmente deram a conhecer este “Mestre na sombra”. São eles: Toshihiro Oshiro, Kiyoshi Nemshime e Eihachi Ota.

Toshihiro Oshiro O Mestre Oshiro Toshihiro nasceu a 1 de Maio de 1949 em Haneji, Okinawa, Japão. Começou a prática séria do Karate com 16 anos, mas a partir dos oito ou nove anos, na escola primária o seu Sempai já lhe ensinou Karate e Bojutsu Não se lembra de inicialmente praticar nenhum estilo em especial. Lembra-se que depois da Segunda Guerra Mundial, muitos mestres de Karate de Okinawa eram prisioneiros de guerra e um dos campos de internamento ficava perto de Haneji. De algum destes mestres muito provavelmente provinha o Karate ensinado nessa zona. O seu primeiro e principal mestre de Karate foi Masao Shima Sensei. Um ano depois de entrar no seu dojo, o mestre lhe recomendou que fosse de trem ao Honbu Dojo, do estilo Matsubayashi Shorin-Ryu, criado e dirigido pelo Mestre Shoshin Nagamine (1907-1997). Quando se graduou como Shodan passou a se ajudante de instrutor e depois instrutor. Shima sensei lhe ensinou do Fukyu kata até Chinto. No Honbu Dojo, Nagamine sensei, Kushi sensei, Yamaguchi sensei e Seigi Nakamura sensei (1924-1999) lhe ensinaram Chinto kata, em especial Seigi Nakamura sensei, que lhe ensinou esse kata em profundidade. Não obstante, a sua referência mais importante em Karate é para ele o seu Mestre Masao Shima, daí que actualmente denomine o seu estilo Shima-Ha Shorin Ryu.

Conheceu Chokei Kishaba sensei (1931-2000) (Kishaba Juku Shorin-Ryu) quando se graduou cinto castanho. Naqueles tempos treinavam dia e noite, sete dias por semana. Tive sorte de ser recomendado por Chokei Kishaba sensei ao irmão do seu mes tre e assim passou a ser instruído em Yamannem-Ryu Bo-jutsu, sob a direcção de Chogi Kishaba. Nessa época, Oshiro sensei trabalhava na Polícia. Em 1978, para substituir um dos seus sempai de Karate, que tinha um dojo na Califórnia e que falecera, viaja aos Estados Unidos para substitui-lo. Durante os cinco primeiros anos ensinou só Karate. Não ensinou Kobudo a ninguém até que um dia assistiu a um torneio e viu como se praticava bojutsu. Alguém lhe pediu para fazer uma demonstração e quando ele a fez, ficaram surpresos por ver como eram diferentes os seus estilos. O interesse foi em aumento e começaram a pedir-lhe que ensinasse o seu estilo. Actualmente ele está instalado em San Mateo, Califórnia, onde possui seu próprio dojo e profissionalmente ensina artes marciais. É um mestre rigoroso e exigente que tanto no Karate como no Kobujutsu, deseja que os movimentos sejam executados correctamente. Na Europa é conhecido desde o ano 2003, quando foi convidado a ir à Espanha, principalmente para ministrar diversos seminários Internacionais de Yamannem-Ryu Kobujutsu.

A Ryukyu Bujutsu Kenkyu Doyukai (RBKD) A Ryukyu Bujutsu Kenkyu Doyukai (RBKD) foi fundada em Okinawa em 1985 pelo Mestre Chogi Kishaba e pelo Sensei Oshiro Toshihiro nos Estados Unidos. A finalidade determinada nos estatutos desta associação são a pesquisa e o desenvolvimento do Karate de Okinawa e da técnica do Kobujutsu. A RBKD está aberta a profissionais e praticantes de qualquer estilo


Reportagem

tradicional de Karate, que estejam seriamente interessados nas artes marciais de Okinawa. A associação RBKD é dirigida pelo Mestre Chogi Kishaba e sua administração na Europa e nos Estados Unidos de da incumbência do Mestre Toshihiro Oshiro. A RBKD baseia o seu currículo em diferentes armas de Okinawa, com especial destaque no Bo. Também inclui a prática e a pesquisa de outras armas "tradicionais" de Okinawa, como o Sai, o Tonfa, o Kama e o Nunchaku. O estilo principal no seio da RBKD é o Yamannem Chinen-Ryu Bojutsu. O objectivo e intenção subjacente na RBKD é a prática das dinâmicas dos deslocamentos e o movimento corporal característicos do estilo Yamannem-Ryu, com a finalidade de que cada um dos seus praticantes compreendam o conceito real das artes marciais de Okinawa e se traduz numa substancial melhora na execução de fortes técnicas e nos movimentos que se realizem nas suas respectivas práticas à mão nua. Na Espanha e no vizinho país dos Pirenéus, Andorra, o estilo Shima Ha Shorin-Ryu é liderado por Sérgio Hernández Sensei, Presidente e Director Técnico da RBKD-Espanha, apoiado por outros instrutores e mestres e em Shima Ha Shorin-Ryu, assim como em YamannemRyu Kobujutsu, pelo Sensei Cristobal Gea. Também se proporcionam ensinanças de Yamannem Chinen-Ryu Kobujutsu, tendo sido esta disciplina a primeira em dar-se a conhecer nestes países. Actualmente, um pequeno mas escolhido grupo de praticantes, todos com anos de experiencia em outros estilos de Karate e com graus das federações regionais e da Real Federação Espanhola de Karate, escolheram apoiar e trabalhar o estilo e o trabalho do Shihan Toshihiro Oshiro, sob a liderança de Sérgio Hernández Sensei. Onze são até agora os membros da RBKDEspanha que se graduaram como Yudansha, obtendo diferentes graus Dan de tão prestigioso e tradicional estilo de Karate de Okinawa, como é o Shima Ha Shorin-Ryu. Com o tempo, certamente estes serão também claros expoentes de uma visão quanto menos diferente da prática da nossa arte marcial.

“A tão pouco compreendida expressão 'um batimento para matar', se deriva do Karate Shuri-Te” “Actualmente, na maioria dos estilos modernos de Karate se contempla a prática do combate de uma maneira diferenciada do kata” 13


Karate RBKA-ESPANHA DOJO Dojos afiliados à RBKD a nível internacional e membros na Espanha

RYUBUKAN DOJO Honbu Dojo RBKD-Espanha Sérgio Hernández Beltrán (Hospitalet-Barcelona e Principado de Andorra) Presidente e Director Técnico RBKD-Espanha 6º Dan Real Federação Espanhola de Karate (RFEK) 6º Dan Federação Catalã de Karate (FCK) 3º Dan Shima Ha Shorin-Ryu Karate Jutsu (RBKD) Treinador Nacional (RFEK) 6º Dan Okinawa Dento Kobudo Kyokai (ODKK) 5º Dan Kobudo. Federação Catalã de Karate (FCK) 3º Dan Yamannem-Ryu Kobujutsu (RBKD) ryubukan@hotmail.com

SHIHO WARI DOJO Leôncio Garcia Garcia (Les Franqueses do Vallés-Barcelona) Vice-presidente RBKD-Espanha 7º Dan Real Federação Espanhola de Karate (RFEK) 7º Dan Federação Catalã de Karate (FCK) Treinador Nacional (RFEK) Juiz Tribunal Nacional de Graus (RFEK) 5º Dan Okinawa Dento Kobudo Kyokai (ODKK) 4º Dan Kobudo. Federação Catalã de Karate (FCK) 2º Dan Yamannem-Ryu Kobujutsu (RBKD) shihowari2@live.com

YOSHIKAN DOJO Cristola Gea Gea (Ripollet-Barcelona) Secretario RBKD-Espanha 6º Dan Real Federação Espanhola de Karate (RFEK) 6º Dan Federação Catalã de Karate (FCK) 2º Dan Shima Ha Shorin-Ryu Karate Jutsu (RBKD) Treinador Nacional (RFEK) Juiz Tribunal Nacional de Graus (RFEK) 5º Dan Okinawa Dento Kobudo Kyokai (ODKK) 4º Dan Kobudo. Federação Catalã de Karate (FCK) 2º Dan Yamannem-Ryu Kobujutsu (RBKD) yoshikandojo@yahoo.e

DOKAN DOJO Maria Louise González Sanz (San Sebastián) 5º Dan Real Federação Espanhola de Karate (RFEK) 3er Dan Karate Do Shotokai (KDS) Treinador Nacional (RFEK)

Juiz Tribunal Nacional de Graus (RFEK) 1er Dan Okinawa Dento Kobudo Kyokai (ODKK) lilishoto@yahoo.es

KEN-ZEN DOJO Victor Herrero Peres (Srta. Margarida i Monjos - Barcelona) 3º Dan Karate Jutsu - International Martial Arts Federation (IMAF) 1º Dan Real Federação Espanhola de Karate (RFEK) 1º Dan Federação Catalã de Karate (FCK) 1º Dan Okinawa Goju Ryu Kyokai 1º Dan Okinawa Dento Kobudo Kyokai (ODKK) dojokenzen@gmail.com


REF.: • OSHIRO1

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Aikijujutsu… Nada além do vácuo!... Diferente dos raciocínios anteriores relacionados ao vazio, este nos desperta para a força activa iminente. Se olharmos pela origem da palavra, do Lat. Vacuu adj., absolutamente vazio; que não contém absolutamente nada; s. m., espaço circunscrito sem matéria; fig., aborrecimento; tédio; enfado; privação; ausência; falta. Analogamente, é o momento em que nos sentimos vulneráveis no Aikijujutsu. Muitos que se sentiram frustrados com a prática marcial, seja ela ligada ao conceito AIKI ou não, percebem que quem se disciplina no Caminho, quando encontra condições adversas, enfrenta a dúvida do existir, de si mesmo, da força em acção, da verdade interior, exterior... Isso torna o Uke ou adversário mais forte e poderoso: presos ao vácuo exaltamos a parte externa que está mais aparente. Se olharmos pela via antiga das práticas marciais, aquela dotada de conhecimentos místicos e invisíveis, certamente que, através desta dúvida, os mestres diriam: “Karma! Aprendizado!” - Obviamente. Contudo, nos seres produzidos pelas condições do Karma, nenhuma substância imutável pode ser encontrada e a alegria, bem como o sofrimento, são também resultados de acções intencionais do passado. O KI e sua magnitude fortalecem ou enfraquecem aqueles que lhe permitem actuar em prol da reflexão. Isso significa que para os mestres mais antigos devemos aceitar o destino com coragem. Ocorrendo o ganho ou a perda, que cada um aceite seu Karma. O coração nada sabe de aumentos ou diminuições. Recordo-me palavras que traduzem algo: “na harmonia silenciosa com o Caminho, o vento do prazer não me abala. Isso é o significado de aceitar o Karma.”

“O KI e sua magnitude fortalecem ou enfraquecem aqueles que lhe permitem actuar em prol da reflexão. Isso significa que para os mestres mais antigos, devemos aceitar o destino com coragem”


"Nossa existência não é mais que um curto-circuito de luz entre duas eternidades de escuridão" Vladimir Nabokov Para o conceito AIKI, o acaso não pode ter préorganizado tantas condições necessárias para o desenvolvimento da vida: formação de planetas, irradiação solar, presença de uma atmosfera, sua adequada composição química, humidade, oceanos, terras emersas, calor, luz, prontas no ambiente as substâncias utilizáveis, tudo dosado para que a vida fosse aí possível, dado que qualquer excesso ou deficiência a teria destruído. É como se chegássemos agora em um Dojo e olhássemos para a nossa consciência: no princípio, tudo isto é caos, e deste nasce uma ordem maravilhosa, construindo-se, edificandose através de planos, o ser biológico que agora vemos funcionar e ao mesmo tempo evoluir, um organismo feito de partes comunicantes, que vivem trocando entre si o material de nutrição, combinando-se e fundindo-se numa só vida. O AIKI que todos falam de interacção (Yu) e vazio (Mu) favorece apenas os que se deixam levar por ele. Neste caso, o acaso não pode, de maneira alguma, pré-organizar tudo isso, nem tornar possível sua utilização até chegar a saber produzir o milagre da interligação humana.

A mágica do domínio, da alteração da força do Uke; a condução de sua energia e a transformação de seu interior... Subentendemos estas colocações apenas como conotativas e abstractas; todavia, me refiro aos momentos em que o Uke deixa de ser Yang e passa a ser Yin - deixa de exercer a acção e se torna pacífico. Diferentes formas de Osae (imobilização) e kansetsu (chaves e torções) podem exemplificar este momento em que o eixo do Tori se

"Onde há muito sentimento, há muita dor" Leonardo da Vinci

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“Todos possuem essa força, todavia, há que se despertar para este instante existente entre um e outro”

estabiliza e passa a direccionar o eixo do Uke. JouRiki: Jou - Puro Ri - razão Ki - energia É o fenómeno da eterna polarização natural das energias Yin e Yang que exprimem nos ciclos a dualidade harmonia e conflito - problemas, combates estúpidos. É nesse ponto que muitas crises se desencadeiam. É o momento em que o mundo que envolve o Tori e o Uke não são mais do que Mujô, impermanência. Tal é o verdadeiro aspecto da vida e do mundo. Todos possuem essa força, todavia, há que se despertar para este instante existente entre um e outro; caso não haja essa consciência, isso não chega a se manifestar, e a menos que seja realizado, não podemos nos inteirar. Em qualquer prática marcial, os vários graus de conhecimento que a evolução nos oferece alcançam-se com tipos variados de inteligência, proporcionados ao nível biológico conquistado pelo indivíduo. Para as formas superiores praticadas no Aiki, os primitivos estão completamente imaturos. Podem recebê-lo,

“Aquele que sabe a hora de lutar e de não lutar, jamais perderá uma batalha!”


“Uma mente envelhecida pelo tempo, experiente, sabe reconhecer o perigo e refrear as paixões tal como os desejos. aprendê-lo, repeti-lo, possuí-lo em aparência, mas a prática munida de compreensão obedece apenas aquelas que por ela se interessam. O conhecimento não se pode sobrepor à experiência, porque é consequência dela. Todos passamos por esta divisão, o Hara amadurece, evolui em um nível de produção de energia e passa a se direccionar para pontos e eixos mais elevados. Se for uma questão de frequência, se olharmos sob esta óptica, logicamente que o corpo e a mente favorecem esta alteração e vice-versa. Involuntariamente passamos a emanar e atrair outros fragmentos que se transformam em outras frequências de energias. É o ponto racional que passa a ser influenciado pelo abstracto; passamos a ser o ponto em descoberta; em fluência com este novo centro que estabelece uma nova direcção, uma nova vida, novos horizontes! Talvez esteja aí a explicação do motivo pelo quais muitos mestres se direccionam para outras realidades. Enquanto o Hara favorece apenas o corpo físico, o treino, a aquisição de novos conhecimentos significa um prazer de conquista; todavia, à medida que este centro se transforma, passa a actuar em outra dimensão interior, passamos também a compreender de maneira diferente as realidades adjacentes que passam a se tornar mais aparentes.

No passado, achava que a velocidade e a força eram os atributos mais importantes em um combate; hoje, já compreendo que só são úteis, de maneira a serem consideradas armas invencíveis, como constatam alguns, em mentes preparadas e experientes. Caso contrário, já não se pode garantir uma constante vitória. Quando conhecemos somente a força e a velocidade, podemos ser vítimas de um adversário mais forte ou veloz. “Os guerreiros mais velhos conduzem os mais jovens a uma cilada!” Sun Tzu Por um outro lado, uma mente envelhecida pelo tempo, experiente, sabe reconhecer o perigo e refrear as paixões tal como os desejos. “Aquele que sabe a hora de lutar e de não lutar, jamais perderá uma batalha!” Sun Tzu

“Quando conhecemos somente a força e a velocidade, podemos ser vítimas de um adversário mais forte ou veloz” 19


O legado Marcial de Re Tigre Phra Chao Sua

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s governantes sempre têm tido um papel importante na evolução do Muay Thai, o qual também se denomina “A Arte dos Reis. De entre todos os reis, o lutador mais famoso foi certamente Prachao Sua, conhecido como o Rei Tigre por sua força como lutador e por sua ferocidade no combate. A lenda diz que se apaixonou pela luta até o ponto de deixar a capital Ayuddhaya e ocultando quem era, viajar a través do seu reino para desafiar os campeões das diferentes povoações, aos quais regularmente derrotou. Fu King Sua mandou que o seu exército treinasse regularmente a Arte Marcial Nacional Siamesa, o Muay Thai. Fundou pessoalmente diversos Kai Muay campos de treino viajou por todo o País. Khun Luang Sorasak (este era o nome do Rei Tigre antes de ser coroado rei), ávido de conhecimentos queria ter em seu redor o melhor do Khru Muay da época. Assim sendo e devido à sua privilegiada posição, reuniu os mestres de diversas partes do país em Ayuddhaya. Estes m e s t r e s trouxeram com eles estilos e sistemas potenciais de Muay. A corte real, sob o atento olhar do príncipe, se transformou em um fantástico laboratório onde foram comparadas, experimentadas e resumidas as melhores

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estratégias e técnicas de combate sem armas, como nunca antes se tinha feito. Viajou para conhecer em pessoa as pesquisas do Mai Muay (técnicas de combate) mais sofisticadas, mudando a sua corte de lugar, para visitar os melhores campos de treino do reino e os métodos utilizados por vários mestres. Do ponto de vista da técnica, devido a estudos recentes do Ministério da Cultura da Tailândia, se demonstrou que King Sua contribuiu de maneira fundamental para a realização de um "programa técnico" refinado, que serviu durante anos como guia da formação dos Damruot Luang, o batalhão da Guarda Real, a primeira divisão de elite (hoje chamadas forças especiais) do exército tailandês da época de Ayuddhaya. De acordo com o estilo de combate do batalhão da Guarda Real, o verdadeiro Muay Luang não é mais que a sistematização do método de luta desenvolvido por Re Tigre Phrachao Sua. Neste método, o guerreiro praticante de Muay deve adestrar-se principalmente nas técnicas evasivas; como diz um lema latino “Primeiro de tudo é viver”. Com esse propósito se classificam 4 estilos defensivos baseados na arma natural utilizada pelo inimigo para atacar-nos, Mahd (punhos), Thao (pés), Kao (joelhos), Sok (cotovelos). Se distinguem 29 formas de defesa com punhos e seus contra-ataques, 25 formas de defesa e contra-ataques com pés, 3 formas de defesa e contra-ataques com os joelhos e 4 formas de defesa e contra-ataques com os cotovelos. Para situações que requerem uma acção imediata da ofensiva, por exemplo, para múltiplos oponentes que devem ser eliminados rapidamente, o método Prachao Sua dispõe de 22 formas denominadas "agressão imediata". Todo o sistema revela uma grande experiência técnica para essa época. O Re Tigre era um grande conhecedor dos aspectos mais complexos e sofisticados da Arte Marcial e a eficácia das acções não se baseiam no uso indiscriminado da força física, mas sim no conhecimento detalhado da anatomia humana (em especial no que diz respeito aos pontos sensíveis e vitais) e no uso racionalizado das armas naturais do corpo. Técnicas de grande alcance para atacar as pernas ou os braços, se combinaram com movimentos imprevisíveis (saltos, mudanças de nível, torção) que levaram o lutador conhecedor do Muay Luang a ser capaz de adaptar-se com facilidade a situações e oponentes completamente diferentes. O grande mérito de Re Sua radica na sua enorme paixão pelo Muay e ter dado um grande impulso ao memo, assim como ter juntado sob a sua liderança, os melhores mestres da época dourada do Ayuddhaya, com a finalidade de desenvolver a verdadeira base do que continuaria a ser durante séculos, uma das Artes de luta mais respeitada e temida do mundo.


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Kyusho Posição 1: “Loto sentado” (Padmasana) Kyusho significa “Ponto Vital”. Quando se trabalha com o desenvolvimento da energia, a saúde e o bem-estar, é essencial compreender os aspectos anatómicos do corpo humano e suas funções. Portanto, em vez de trabalhar somente com acções físicas, começaremos a empregar uma tentativa interior mais directa, para provocar uma resposta directamente inter na. Devemos também examinar cada posição como um exercício por separado, que consiga provocar essas mudanças internas e externas. Com o trabalho da energia do Yoga, há uma série de posições que se empregam não só para esticar e contrair o corpo, mas que também permitem ao praticante abrir determinas vias de energia. As posições em si fazem com que se estiquem e se contraiam os músculos correctos, assim como o corpo se situe da maneira correcta para executar os aspectos internos. Isto um por um, até um certo limite, abrirá fisicamente os caminhos da energia. Mas apesar de ser uma abertura muito superficial, longe do que se pode chegar a conseguir completamente, com o tempo se desenvolve o conhecimento. Também devemos concentrar-nos internamente na nossa respiração e no nosso pensamento, para alcançar todas as possibilidades de cada posição. Antes de aprofundar na posição específica, devemos esclarecer determinados aspectos rudimentares. O primeiro de todos é usar roupa confortável; as posições devem ser confortáveis e uma

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vestimenta inadequada pode não dar comodidade. As fibras naturais como o algodão, a seda ou a lã são cruciais, posto que os materiais sintéticos têm tendência a produzir electricidade estática, que irá dificultar que a energia natural possa fluir bem durante a nossa prática. O ambiente também deve ser confortável, para que o praticante não sinta frio nem calor, de maneira a não modificar as sinais eléctricas do cérebro para mandar os músculos contrair-se de fizer frio, ou suar se fizer muito calor. É estupendo trabalhar ao ar livre, especialmente em um ambiente onde houver água, dependendo do que se deseja. No entanto devemos saber que os diferentes meios com água interferem no corpo de maneira diferente. Por exemplo, quando se trata de uma lagoa, o praticante terá uma sensação de muita calma. É muito recomendável para um principiante que seja capaz de concentrarse nas sensações e actividades internas. Quando o praticante já está completamente habituado a esse conhecimento e é capaz de sentir a energia que lhe proporciona cada posição, poderá realizar um treino mais avançado e trabalhar junto do Oceano, o qual exerce uma influência muito dinâmica na energia do corpo. Quando se pratica ao ar livre também é preciso ter cuidado com as coisas que nos podem distrair - como a luz do Sol, o vento, os insectos - e que podem desviar a nossa atenção da experiência da realidade dos movimentos internos, que têm lugar no corpo em cada posição. Também é muito importante trabalhar debaixo de um teto, em um ambiente controlado, de maneira

que se possa sentir o trabalho interno das energias de uma maneira constante. O conhecimento completo e a capacidade só se adquirirem mediante a prática diária constante, ainda que com uma prática periódica correcta também se podem alcançar grandes resultados e benefícios.

“Loto sentado” (Padmasana) Esta posição situa o primeiro chacra directamente contra o chão, pelo contacto directo com a terra ou o solo. Este chacra é conhecido como o Muladhara (ou Chacra Raiz) por estar situado perto da terminação basal da coluna, nas imediações do plexo coccígeo (de onde surgem os nervos anucoccígeos que estimulam a pele sobre o cóccix e em volta do ânus). Mas o seu kshetram (que na mitologia hinduísta significa literalmente sítio ou lugar sagrado) ou ponto de activação, está realmente localizado no perineu. Também é reconhecido como sendo a sede da nossa sobrevivência. Mediante esta posição conseguimos calma e estabilidade, proporcionando ao corpo a energia primordial que controla o medo, devido a estar concentrado e centrado no solo. Enquanto estamos em pé, as ondas da energia da radiação ultravioleta que rebatem das vibrações da terra, o campo electromagnético e o movimento (expansão, contracção, rotação e órbita), assim como a radiação do Sol, fluem na nossa direcção constantemente. De facto, o corpo humano tem o mesmo campo electromagnético que a Terra.* Este fluxo electromagnético também se dá com as


mesmas características quando estamos sentados na posição com o chacra raiz apontando para o chão. Quando estamos em pé, as energias da atmosfera e da terra passam através das pernas em ambas direcções (para cima pelo interior da perna e para baixo pelo exterior), assim como pelo nosso centro. Nesta posição, o interior da perna está agora em um contacto aumentado com a terra, posto que o corpo está sentado nesta primeira posição. Devemos saber que um corpo junto do chão não sentirá a voltagem produzida pela electricidade estática e estará menos influenciado pelos campos magnéticos do meio. Portanto, adoptando esta posição em que as pernas estão dobradas, com os pés em contacto com a parte interna das coxas, a energia pode fluir directamente para o centro e o Chacra raiz aponta para o chão para acalmar o corpo e repelir as influências eléctricas do exterior. Isto é primordial para um trabalho ulterior com a energia, assim como para limpar e despejar as tensões do dia-a-dia, esgotamento, estresse e as entradas das radiações negativas ou de outras vibrações irritantes. Mas continuando com as vantagens da posição. Com a parte superior do corpo também se dobra a região inguinal e o abdómen, para enfatizar o fluir de energia espinhal do Kundalini, enquanto que a coluna se endireita. Entretanto, esta não é uma posição para tentar aumentar a energia, mas sim para conseguir uma base e um equilíbrio; por isto, as ideias e conhecimentos se devem dirigir para a espinha dorsal largando a energia para baixo, em direcção ao chacra raiz junto do chão. Nesta ocasião não se deve tentar que o fluir da energia seja para cima. As palmas se situam sobre a parte interna dos joelhos, para evitar a dispersão dos caminhos da energia; os braços junto ao peito, quando se abrem (ou seja, se esticam) as costas liberam tanto a tensão dos músculos e a pressão dos nervos da espinha dorsal, como assim também os canais da energia. Situando as mãos sobre os joelhos formamos um escudo que repele as cargas electromagnéticas negativas. Isto é similar à moderna jaula de Faraday, em que as cargas electromagnéticas são dirigidas à jaula e os animais no seu interior estão protegidos da energia. Na nossa era tecnológica os desenhadores e engenheiros compreendem muito bem a importância dos escudos electromagnéticos. Quando se usam aparelhos electromagnéticos, a protecção radica geralmente num determinado lugar, bem seja numa placa de metal, numa cápsula ou num cabo à terra. Se as peças electrónicas geram energia electromagnética por si mesmas, (como faz o corpo humano), se usa uma jaula de Faraday para proteger-se de uma exposição excessiva. Por isso é habitual que a utilização de telemóveis não seja autorizada em hospitais e em outros lugares onde houver equipamentos electrónicos, posto que um equipamento desprotegido pode estragar-se quando exposto às microondas criadas pelos telemóveis ou por outros transmissores de rádio. O mesmo acontece com o corpo humano… Esta posição é um método de protecção. Quando nesta posição a energia flui para baixo pela espinha dorsal (Shushuma), a corrente eléctrica também forma espirais em volta do caminho original, como um caracol de energia sobre a energia original. Este caracol de energia é conhecido em Yoga e em outras Artes hinduístas com o nome de Ida (à esquerda da espinha dorsal) e o Pingala (à direita). Esta posição sentada serve tanto ao Ida como ao Pingala (por existir um equilíbrio de lado a lado no chacra raiz e nos chacras destes canais tradicionais) proporcionando calma e estabilidade. Também dispersa algumas das influências eléctricas negativas que encontramos no mundo moderno: aparelhos de rádio, telemóveis, televisões e outros aparelhos electrónicos. Esta limpeza proporciona, conhecimento, concentração, relaxação e bem-estar ao corpo. Este é o motivo de que o símbolo de Caduceu tenha sido adoptado pela medicina moderna. É a representação do Shushuma, Ida, Pingala, glândula Pineal e as asas, que são símbolo de ascensão, mensagens da divindade e conhecimento desde um ponto mais alto.

Respiração e propósito Uma respiração profunda em todas estas posições terá seu próprio propósito e sensações para conseguir os maiores benefícios energéticos. Para iniciar uma completa e total relaxação nesta posição, tem de se inspirar profundamente como se respirasse a própria raiz. Quando se inspira, se sente a respiração do nariz até o centro do corpo, através do chacra raiz que descansa no chão. Ainda não nos devem de preocupar as energias destes canais, isto sucederá mais tarde, com outras posições e os seus benefícios serão adicionais aos que se conseguem com esta posição. Quando se expira temos de levar o nosso conhecimento e atenção a capa externa da pele, de maneira especial ao escudo que formamos com esta posição. Depois de expirar e justamente antes da inalação seguinte, sentiremos as energias eléctricas quando contactarem com a pele. Com a prática constante iremos notá-las durante todo o dia e far-nosão mais conscientes das influências externas, assim como das energias naturais de outras pessoas, enquanto ascendemos a um maior grau de conhecimento. Texto: Evan Pantazi Carolina Lino (Instrutora de Yoga - Ponta Delgada, Açores) Fotografia de: Tiago Pacheco Maia

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O GM Bierman soma mais uma medalha de oiro em armas Maio de 2013 Durante os últimos 40 anos, George Bierman de Loyalsock vem dedicando a sua vida à prática das Artes Marciais. No seu primeiro ano na Universidade de Bloomsburg, em 1973, começou a treinar Tae Qwon Do e Judo. A partir daquele momento e após muito tempo de prática se foi tornando um dos Mestres mais galardoados do Karate. Bierman é agora 8º Dan e ensina Karate e Defesa Pessoal na escola local. A variedade das suas habilidades abrange tudo desde o Akai Ju Jutsu até a defesa com armas. Foi seleccionado como membro do Hall of Fame das Artes Marciais na 10ª edição deste evento e já ganhou mais de 200 prémios em Karate, incluídos dois da Casa de Representantes de Pensilvânia, nos quais se reconhecem suas extraordinárias conquistas. No entanto, a sua vitória mais impressionante no mundo da competição das Artes Marciais ele a conseguiu anteriormente nas Olimpíadas das Artes Marciais OrienteOcidente, realizadas de 11 a 14 de Abril. Este evento, que na opinião de muitos se tornou a maior competição de Artes Marciais do mundo, é organizado pela Confederação Internacional de Artes Marciais. A competição que tem lugar em São Petersburgo, Rússia, é uma reunião na qual os Artistas Marciais não só mostram as suas habilidades como também intercambiam seus conhecimentos com participantes de diferentes culturas. Já que não há competição de Karate nos Jogos Olímpicos de Verão, esta competição é considerada a mais prestigiosa. Em Abril de 2000 George Bierman competiu por primeira vez e ganhou duas medalhas. No ano seguinte, no Open Oriente-Ocidente ganhou três medalhas nos foros tradicionais, armas compridas e armas curtas, além de uma medalha de bronze em Kumite. Após essas impressionantes vitórias em 2000, Bierman passou a ser o “homem do cartaz” durante os seguintes sete anos e desde então tem feito regularmente viagens ao evento como embaixador dos Estados Unidos. Este ano, Bierman teve que voar de novo à Rússia para participar na cerimónia inaugural, junto com Dan Severn, membro do Hall of Fame do UFC. Após realizar a sua exibição na cerimónia inaugural numa sexta-feira, Bierman ficou surpreso quando soube que o coordenador do evento o inscrevera para a competição de armas do domingo. Com 57anos de idade, Bierman teve de aceitar, não muito bom grado, apesar de não ter levado armas nem equipamento de luta. "Acabei comprando um Bo a um dos vendedores e pratiquei um pouco na noite antes, para tirar as teias de aranha" - disse Bierman. "Eu trabalho a cada dia, mas quando competia, treinava para a competição durante um ano e meio". Como um grande campeão que é, Bierman ganhou a medalha de oiro do evento, superando a outros 15 competidores que levavam um ano preparando essa competição. "São mais jovens, talvez um pouco mais rápidos, mas provavelmente eu saiba um pouco mais… Acredito que tenham subestimado uma pessoa quase idosa" - disse Bierman após a vitória. Apesar de ter Ganho o seu sexto título mundial este ano, no Open Oriente-Ocidente, não pensa em voltar a competir. "Uma vez que se alcança este nível, estamos a falar dos melhores atletas do mundo e para ser bem sucedido a esse nível tem de se comer, dormir e respirar Artes Marciais" - e juntou - "Estou começando a aprender que quando se alcançou o lugar mais alto, só se pode perder ou ficar lesionado”.

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A tua guarda está alta ou a tua mão está estendida? enho mostrado muitas vezes ao longo dos anos, como a atitude própria pode chegar a afectar a outros. É muito fácil de fazer e sempre se chega à mesma conclusão. Assim é como funciona. Chamo umas pessoas para se situarem no centro da sala e peço-lhes que façam uma primeira reacção à minha acção. Então dou um passo em frente e levanto a minha guarda de maneira agressiva. Inevitavelmente, as pessoas reagem levantando a sua guarda. Seguidamente, digo-lhes que desçam a guarda e que voltem a reagir à minha primeira acção. Eles assim fazem. Estendo-lhes a mão com um gesto de amizade e eles respondem da mesma maneira. Finalmente, peço-lhes que levantem a guarda. Quando o fazem, estendo a minha mão com um gesto de amizade. Eles também estendem a sua mão para um aperto de mãos. O importante deste exercício é fazer com que toda a gente seja consciente de como é simples e natural reagir à energia de outros com a mesma energia, como num espelho. Quando alguém se comporta de maneira defensiva connosco (guarda alta) é difícil não agir da mesma maneira. Assim também, quando alguém tem para nós um gesto de amizade e nos estende a mão, é muito fácil responder a esse favor. O verdadeiro desafio está no terceiro exemplo. Quando estamos em frente de alguém que tem a guarda alta, resistiremos ao instinto de situarnos da mesma maneira, ou seremos capazes de estender a mão em um gesto de Amizade? Não é fácil e requer um grande esforço mental, mas o resultado pode ser e é assombroso. Por tanto, na próxima vez que se encontrem numa situação assim, o meu conselho é que resistam ao vosso primeiro instinto, sem importar o forte que seja, e tentem estender uma mão de amizade. O resultado é realmente fabuloso!

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Texto e Fotos: Salvador Herráiz, 7ºDan de Karate (Tóquio, Japão)

Reportagem

Takashi Sasakawa, de 78 anos de idade, é o Presidente da Federação Japonesa de Karate, organização que patrocina desde o falecimento de seu pai, o magnate Ryoichi Sasakawa, em 1995. Importante político durante anos, Deputado e até Ministro! Takashi Sasakawa recebeu em Tóquio a Salvador Herraiz, para mostrar-nos seus pontos de vista acerca do Karate e o seu mundo.

PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO JAPONESA DE KARATE TAKASHI SASAKAWA “UM HOMEM DE GRANDE PODER”

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uma ocasião, durante uma das minhas primeiras viagens ao Japão, lá pelos anos 80, alguém me disse: “Sasakawa Ryoichi não é Ministro porque ele é quem designa e depõe os Ministros”. Em 1995 o magnate japonês Ryoichi Sasakawa falecia à idade de 96 anos, deixando atrás de si uma vida dedicada às suas crenças políticas (com uma inusual actividade e poder de alto nível desde a sombra), aos negócios, a uma filantropia mundial plena de obras de caridade, … e ao Karate, um Karate que não praticava fisicamente, mas cujo espírito desenvolveu sempre. Em 1964 Sasakawa tinha patrocinado e “obrigado” que os grandes mestres da

época, ou seja: Hironori Ohtsuka, Masatoshi Nakayama, Kenei Mabuni, Manzo Iwata e Yamaguchi Gogen, se entendessem para a fundação da Federação Nacional. Antes disso, o seu activismo político levou-o à prisão após a II Guerra Mundial, donde pensou o mais frutífero dos seus negócios futuros, as apostas nas corridas de lanchas rápidas. Filantropo mundial, Sasakawa ajudou posteriormente grandes causas, através da Organização Mundial da Saúde, Organização de Nações Unidas, etc.…, tornando-se de amigo de personalidades como o Papa João Paulo II, o ex Presidente americano Jimmy Carter, reis e príncipes, além de outros muito variados, mas sempre de grande relevância internacional.

Na sua velhice e com as mudanças políticas acontecidas no Japão, Ryoichi perdeu força e aqueles que inclusivamente o tinham até temido, ousaram enfrentar um homem já idoso e debilitado, amargando-lhe os seus últimos anos de vida. Mas não me vou entreter em contar as peripécias do magnate, coisa que de facto fiz em várias ocasiões em Cinturão Negro. Aqui quero concentrarme em seu filho Takashi, herdeiro na Federação Japonesa de Karate (da qual já era Vice-Presidente desde anos antes), que ocupou o lugar de seu pai numa organização hoje, em 2013, diferente, com outros objectivos, outras pessoas,… mas da mesma maneira com um poderoso Sasakawa no comando.

Takashi Sasakawa, en 2008, con el Maestro Keiichi Hasumi, 9º Dan Shotokan y Vicepresidente JKF, y Antonio Espinós, Presidente W.K.F.

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Reportagem Takashi Sasakawa nasceu a 5 de Outubro de 1935 e estudou na Universidade de Meiji, em Tóquio, até que em 1956 a abandona para se dedicar por completo ao negócio das corridas de lanchas, que o seu pai tinha posto em marcha. Sempre tem estado muito ligado à alta política japonesa, durante muitos anos dentro do Partido Democrata Liberal. Apesar de em 1972 e mais tarde em 1983 não ter conseguido um bom resultado, em 1986 é eleito pela prefeitura de Gumma como membro da Câmara de Representantes na Dieta - nome que se dá no Japão à Câmara Baixa - para a qual em anos posteriores seria reeleito. Em 1994, Takashi abandona o PDL e junto a outros políticos provenientes desse partido, se une à formação da Nova Fronteira, com a que apenas colabora dois anos, antes de voltar à que tinha sido a sua casa política original, passando a ser colaborador do célebre Hashimoto. O percurso do partido Nova Fronteira será curto, dissolvendo-se em 1997. Em 2001 o Primeiro Ministro do Japão, Yoshiro Mori, no seu segundo gabinete dá a Sasakawa a carteira de Ministro de Ciência e Tecnologia, que mantém durante apenas uns meses, posto que Junichiro Koizumi iria substituir Mori à frente do Governo e dará a Koji Omi a carteira de Sasakawa. Em 2003 Takashi é nomeado Presidente da Comissão de Orçamentos na Câmara de Representantes. Em 2008, Sasakawa exerce como Presidente do Somukai, o Conselho Executivo do Partido Democrata Liberal, um dos três lugares mais importantes dentro do partido, sendo substituído meses depois por Ryotaro Tanose, quando Sasakawa perde o seu escano. Desde então, Takashi emprega a maior parte do seu tempo na JKF. Pessoalmente conheci Takashi Sasakawa faz poucos anos, durante um torneio nacional japonês de Karate. Foi-me apresentado por Shigeo Kurihara, 7ºDan de Karate (Shotokan), que estudara na Universidade de Hosei e então Vice-presidente federativo. Como naquele momento deixamos a nossa conversa inacabada, agora, tempo depois, é momento de me sentar com ele tranquilamente, para completar a sua visão sobre diferentes aspectos do Karate. Combinamos encontro na nova sede da JKF, no bairro de Daiba, uma zona da baía de Tóquio e na qual Sasakawa mandou construir recentemente um edifício amplo, exclusivo, com confortáveis escritórios, salões e dois amplíssimos tatames. Cheguei em um táxi guiado por uma alocada mulher que tanto me explicava que era bailarina, como me dava uns ienes quando alguma coisa que eu dissesse lhe fazia uma graça especial. Imediatamente depois chega Sasakawa no seu flamante Bentley branco, que o seu chofer conduz com sigilo. Takashi Sasakawa tem ideias claras e modernas respeito ao Karate e é também directivo da Federação Japonesa de Kendo, como já seu pai foi no seu momento (e de Shorinji Kenpo!). Cinturão Negro: Como vê a evolução do Karate o seu máximo responsável no Japão?

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Takashi Sasakawa: O Karate deixou de ser japonês para se tornar mundial, de todos. Eu conheci os velhos mestres. As novas gerações necessitam perceber que a tem um grande peso no mundo e no Karate. A Europa tem muitos países, diferentes, grandes, pequenos… e uma grande riqueza cultural. C.N.: Qual é o espírito e a filosofia do Karate moderno, em sua opinião? T.S.: Não importa que se faça kata ou se faça kumite. A base é o mais importante. Também não é importante que os karatekas ganhem ou percam nos campeonatos. O importante é que tenham bom espírito de Karate. Isso deve ser importante para todos e especialmente para as crianças e para os pais. Uma parte do Karate é desporto mas só isso não é o Karate. Para que se possa prosperar no Karate é preciso que atrás das técnicas desportivas exista uma filosofia correcta. É importante manter um corpo saudável e um conhecimento do espírito de harmonia, evitando a hostilidade com outros. Só assim se pode ter uma vida prazenteira. C.N.: Evolução mas mantendo certos valores… Importantes palavras tendo em consideração que vêm de alguém cuja responsabilidade é principalmente na faceta desportiva do Karate, que é do que na realidade logicamente se ocupam as federações. Um trabalho difícil, não é?


Arriba izda.: Takashi Sasakawa, Shigeo Kurihara y Salvador Herráiz, en Tokio, en 2012. Arriba: Los tres durante el Campeonato de Japón Infantil dos años antes. Izda.: Sasakawa durante el final de su etapa política, con Taro Aso y Hiroyuki Hosoda, en 2009.

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T.S.: O Karate deve ser educacional. Isso é o mais importante. Ao princípio o Karatedo era uma arte marcial de auto defesa frente aos inimigos, mas agora é um meio educacional muito efectivo, que desenvolve a cultura através da actividade física, e um alto espírito de cooperação na sociedade. O Karate deve desenvolver a sua faceta desportiva baseando-se na técnica e na fortaleza mental. É um estupendo meio de forjar o carácter da pessoa. Eu acredito que é importante conhecer a história do Karate para perceber bem tudo quanto tem a ver com ele. C.N.: Mantém o pensamento que o seu pai tinha sobre ele? T.S.: O Karate foi proibido no passado, depois se tornou um sistema de auto-protecção. Sinto muito respeito pela gente de Okinawa que o manteve e desenvolveu. Respeito muito aqueles que dedicaram seu corpo e sua mente à evolução do Karatedo, contribuindo assim à paz mundial através dele. Não há prosperidade no mundo sem um amor à paz. Todos devemos ser irmãos e irmãs. Esta última frase, que já o seu pai Ryoichi proclamava frequentemente, está escrita em grandes kanji caligrafados pelo magnate, em um grande quadro que preside a sala da nossa reunião. C.N.: O que é o mais importante na sua filosofia do Karate? T.S.: O principal nas artes marciais é a saudação. O seu fundo deve ser um agradecimento do coração. No Japão o Dia de Ano Novo faz-se um agradecimento ao Sol. Após um combate se saúda o adversário em sinal de agradecimento por nos ter ensinado os pontos débeis, os defeitos, … e por ajudar-nos a adquirir conhecimento, valentia, paciência. Quando se vive na abundância de bens materiais não se sente agradecimento ao Sol, à Água, à vida quotidiana. Aqueles que sentem agradecimento se preocupam por outras pessoas. Um assunto curioso que apresento a Sasakawa é por que motivo em Okinawa existem muitos mestres titulados como 10ºDan por diferentes organizações e na JKF não há nenhum.

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C.N.: O que pensa desta diferença de critérios com respeito ao 10ºDan? T.S.: Em Okinawa há diferentes grupos e todos dão a seus máximos líderes o 10ºDan. É já como uma tradição. Agora Kurihara sensei intervém para dizer que… “em JKF não existem mais que uns poucos de 9ºDan mas não há nenhum 10ºDan”; mas nesse instante Sasakawa interrompe com humor dizendo: “Há um; o presidente; eu!”. Of course. Rimos todos dizendo que sim com a cabeça. Não parecem dar nenhuma importância ao facto de Okinawa ser assim (lá é assim e aqui assim é, sem mais) ainda que sei de boa fonte, que inclusivamente na ilha do Karate estão a pensar em que não seja dado - com tanta alegria em alguns casos - a dita categoria. Algum dos principais mestres me falou dessa preocupação e possibilidade. C.N.: Parece ser que após muitos anos de utilização do sistema Shitei Kata, este vai desaparecer na competição WKF. O que pensa? T.S.: O sistema de Shitei Kata cumpriu o seu papel razoavelmente. No baile por exemplo, existem coisas diferentes como Cha-cha-cha, etc.… No Karate está por exemplo o kata Bassai, mas o problema é que há muitos Bassai diferentes. É impossível que os árbitros conheçam tudo e por isso o sistema Shitei faz o seu papel. Agora talvez seja momento de mudar isto mas... no Karate é muito difícil perceber o que está acontecendo e se vão mudando coisas, sistemas, bandeiras,… Takashi pensa muito nos problemas arbitrais e tem passado muitas horas observando não só os torneios do Karate como também os de Judo, etc.…, para tentar tirar certas conclusões que ajudem os responsáveis arbitrais japoneses. T.S.: É importante subir o nível dos árbitros e evitar os erros que infelizmente se continuam a ver em demasia. Takashi Sasakawa é uma pessoa muito generosa, amável, compreensiva e disposta, que se interessa pelos meus escritos, pelos que mostra admiração, o que a mim logicamente me agrada. A verdade é que sinto orgulho em que veja página por página os livros e revistas que eu lhe


Entrevista levo, longe de dar uma olhadela de compromisso. Fico-lhe muito agradecido. Não há nada como sentir que o nosso trabalho está sendo bem recebido. Para ele… T.S.: É muito importante que existam livros que mantenham a herança das tradições. Admira-se também por ver nos meus livros dados e fotografias que ele próprio desconhecia. O seu assombro é patente por ver como conheço os pormenores do ambiente do Karate. Por vezes, durante a nossa conversa, Kurihara sensei e ele olham um para o outro como perguntando “Mas… como sabe este ocidental tanto? Hiroko Noguchi, minha inestimável amiga, chega a dizer de brincadeira: “Quando na JKF precisarmos de saber alguma coisa… teremos que te chamar a ti, Salva”, comentário que todos faz rir. Ao ver um dos meus livros observa que o prólogo é de António Espinós, o que me da pé para perguntar:

C.N.: Em 2013 o Campeonato do Mundo WKF Cadete & Junior será na Espanha, e especificamente na minha cidade de Guadalajara. Viajará à Espanha por ocasião de tal evento? T.S.: Se for vivo irei… (Diz com um humor agora um tanto negro).

C.N.: Conhece Espinós? Que opinião lhe merece o seu árduo trabalho? T.S.: António Espinós está trabalhando muito pata levar o Karate a ser olímpico.

C.N.: De certeza que será vivo. Eu o vejo estupendo - respondo. Lá nos veremos então. Já conhece a Espanha?

Sei quem é, até já o vi, mas não tenho relação com ele. Foi-me apresentado por Keiichi Hasumi faz tempo e nos vimos algumas vezes, mas não mantemos uma relação. C.N.: E o olimpismo para o Karate…, aproximasse ou se afasta? T.S.: Penso que existe um 90% de possibilidades de que o Karate seja olímpico em Tóquio-2020, posto que outros desportos minoritários o são sem tanto mérito. Mas de momento, é preciso esperar que Tóquio, cidade candidata, consiga ser a escolhida.

T.S.: Estive na Espanha faz anos. Tocamos uns portos durante um cruzeiro no Mediterrâneo, com alguma das minhas filhas e netos. A minha mulher faleceu faz bastante tempo. Sou viúvo faz 18 anos. Tenho cinco filhos. Me dedico em corpo e alma à JKF, mas também sou presidente da Federação de Karate de Tóquio. C.N.: Quer dizer mais alguma coisa? T.S.: É muito importante que os mestres de Karate transmitam bem os seus conhecimentos, posto que o fazem durante toda a vida. Em outras facetas ou trabalhos a pessoa se dedicam a isso durante alguns anos, mas o Karate é para toda a vida, pelo que é mais importante faze-lo e transmiti-lo correctamente. Após a conversa, Sasakawa pergunta: T.S.: Vai jantar com alguém? Gostaria de os convidar. Claro que me apetece enormemente prolongar o encontro mas nessa mesma noite tenho que estar no dojo Shotokan, em Kikukawa, onde combinei encontro com Masamoro Koyama, um amigo karateka.

Sasakawa y el anterior Vice Presidente J.K.F., Sr. Hasumi.

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O pontapé lateral é muito simples em seu contexto e à vez, contraditoriamente, muito complexo em sua aplicação. Talvez por esta dificuldade em nenhuma Arte Marcial, nem nos desportos de contacto, se fez um estudo mais profundo e meticuloso sobre ela como o que levou a efeito Bruce Lee para poder aplicá-la no seu estilo de luta. De facto, as extremidades inferiores são “a pedra angular”, a nível técnico, do Jeet Kune Do. A questão do porquê e o como de tudo isso, é de pura lógica. Pedro Conde, um conhecido e respeitado especialista na matéria, analisa pormenorizadamente os aspectos chave que governam este pontapé no estilo de Bruce Lee e o situa em seu contexto histórico em um magnífico artigo, ao qual acompanham algumas fotografias que de certo serão a delicia dos amantes do pequeno Dragão. Texto: Pedro Conde Fotos: Michael Tudela & Pedro Conde

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O Pontapé Lateral no Jeet Kune Do O pontapé lateral é muito simples em seu contexto e à vez, contraditoriamente, muito complexo em sua aplicação. Talvez por esta dificuldade em nenhuma Arte Marcial, nem nos desportos de contacto, se fez um estudo mais profundo e meticuloso

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sobre ela como o que levou a efeito Bruce Lee para poder aplicá-la no seu estilo de luta. De facto, as extremidades inferiores são “a pedra angular”, a nível técnico, do Jeet Kune Do. A questão do porquê e o como de tudo isso, é de pura lógica. A estrutura ou base técnica do sistema de luta está baseado na interceptação e antecipação do

adversário, recordando a máxima do Jeet Kune do: "A técnica mais efectiva das Artes Marciais é frustrar o ataque de um adversário com um contraataque simples e directo, antes que ele possa bater no seu objectivo". Evidentemente, quando o adversário está fora da distância e inicia o seu ataque, a “arma” ou “ferramenta” mais comprida e próxima de que se dispõe


Reportagem para abortar esta acção, é o pé adiantado. Inquestionavelmente, como a distância mais curta entre dois pontos é a linha recta, a técnica idónea para o fazer, por cobrir mais espaço, por dinâmica e por eficácia, é o pontapé lateral; é óbvio que se a um edifício lhe falharem os seus cimentos, vem abaixo. Neste caso, batendo no joelho, se detém em seco o seu

“Enquanto que no Jeet Kune Do é a base técnica com as extremidades inferiores, em outros estilos quase não se utiliza em combate. Porquê?” ataque. Com esta acção cabe a possibilidade de que interceptando com este golpe dado com o calcanhar, se lesione o adversário. Se estamos no ginásio e não queremos ferir o nosso parceiro, existe a possibilidade de bater na tíbia ou caso se preferir e tivermos elasticidade, no estômago. Em qualquer dos casos, o pontapé lateral é um arma muito potente no ataque e na defesa, que não se pode nem deve ser desprezado. No entanto, enquanto que no Jeet Kune Do é a base técnica com as extremidades inferiores, em outros estilos “quase” não se utiliza em combate. Qual o motivo? Como já foi dito, trata-se de um pontapé bastante complexo. Assim como outros pontapés gozam de certa "naturalidade técnica", o lateral resulta mais "sofisticado" e por isso exige mais treino que outros ou ao menos, mais atenção no momento do aprender, mas esta "complicação" ou "sofisticação" não significa que seja mais ou menos eficaz, nem que seja superior ou inferior a outros pontapés, simplesmente significa que seu treino e aperfeiçoamento técnico entranham uma maior dificuldade, isto é devido à sua dinâmica ou mecânica, pois para o levar à prática se deve elevar o joelho (mais ou menos alto em função do nível ao que se quer bater), girar o corpo até deixá-lo completamente de lado e então é quando se estende a perna tendo que ficar todo o corpo em linha. No momento lançar o pé e bater tem de se projectar com força as ancas (girando-as) na direcção do pontapé, batendo com o calcanhar. Após o impacto, se recolhe a perna com a mesma rapidez com a que saiu, para voltar rapidamente à posição de guarda. Este pontapé, bem lançado, conjuga elasticidade e potência, perícia técnica e auto-controlo, além de eficácia e espectacularidade estética. No entanto e incompreensivelmente, em alguns desportos de contacto,

praticamente é inexistente. Isto é um facto inquestionável; se aplica muito pouco em um ringue e praticamente nada em combate de competição ¿Por quê? Principalmente devido à rapidez e habilidade técnica que exige para resultar eficaz. É um golpe de trajectória directa, que parte lateralmente do corpo, o que implica girar até situar-se de lado com respeito ao objectivo, pelo que quando se é lento na sua execução, se fica quase indefeso frente ao adversário. Por esta razão só os “pontapeadores” mais rápidos e técnicos são capazes de executar a rotação e a técnica, com a habilidade e rapidez suficientes para aplicá-la com sucesso em combate. Evidentemente o inconveniente deste pontapé é a sua lentidão, devido a que habitualmente se executa com a perna atrasada (direita), porque com a adiantada (esquerda) não se tem a suficiente confiança para a lançar. Por regra geral, em quase todos os estilos onde se bate, o lado bom ou o mais forte, está situado atrás e a parte mais débil, diante. O conceito técnico que se mantém é que com a parte mais débil se defende e abre espaço e com a forte se remata; por esta razão, muitos praticantes não contam com o pontapé lateral no seu arsenal. No entanto e apesar destes inconvenientes, vale a pena trabalhar esta técnica, posto que nenhum outro pontapé consegue concentrar tanta potência em um ponto de impacto reduzido e contundente (normalmente o calcanhar). Não em vão é o pontapé típico dos rompimentos; quase ninguém quebra tábuas com pontapés em rotação batendo com o peito do pé ou com os dedos. Sem dúvida é o melhor pontapé para parar em seco e com contundência o ataque de um rival, especialmente se é mais pesado do que nós. Contraditoriamente, o que para um sistema de luta é estruturalmente mau, para outros é bom. No caso específico do Jeet Kune Do, as melhores “armas” estão diante, quer dizer: per na e punho direito (no caso de ser destros), por esta razão é a técnica idónea para aplicar em combate, onde a axioma de seus praticantes é interceptar ou antecipar-se ao ataque do oponente, antes de que o mesmo possa levá-lo à prática, pelo que com esta acção se impede que a força do seu golpe chague até o objectivo e ao mesmo tempo que se defende, se ataca o rival numa mesma acção com um valor adicional: por sua dinâmica não se telegrafia a técnica e além disso fica desconcertado, posto que seu pensamento está concentrado no seu ataque e não espera um contra-ataque e menos à parte inferior da sua perna. Para os especialistas, este ataque ao joelho ou à tíbia tem ou mesmo efeito

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de um golpe curto e explosivo à contra, no Boxe ocidental, com a particularidade que com a perna, além de cobrir mais distância, se gera três vezes mais potência que com um braço. Também é muito difícil defender-se contra ele, obviamente parar ou interceptar um pontapé lateral à altura do joelho ou da tíbia, tem de se realizar a defesa com as extremidades inferiores, posto que com as superiores não se chega. Mesmo estando numa posição baixa, é muito, muito complicado parar ou bloquear com a mão, por não dizer que é impossível e ainda mais quando se iniciou o ataque ou se dispõe a faze-lo. Se extrapolamos a técnica à defesa pessoal, calçando sapatos ou calçado desportivo, o efeito é ainda mais devastador. O oponente vai verse surpreendido de que este simples pontapé o vai anular completamente, deixando-o fora de combate. Como o leitor terá podido deduzir o Dragão sabia muito bem diferenciar entre o cine e a realidade… Ele estava completamente de acordo com a teoria de assim como ninguém bate com socos nas pernas, não é aconselhável bater com a perna na cara, pois o risco que se corre é muito grande. De facto, na actualidade quando assistimos a um combate das MMA, Vale Tudo, K-1, Kick Boxing, etc. “quase” nenhum lutador se arrisca a lançar um pontapé à cara por medo a uma contra. O “Dragão” em sua busca de uma eficácia em combate, concluiu que para chegar com um golpe ao trem superior, primeiro era preciso ultrapassar a defesa dos braços. Quando se conseguia isto e se chegava à zona abdominal, se os músculos estavam desenvolvidos, podiam aguentar um forte impacto. A zona das costelas e órgãos flutuantes estavam cobertos por cotovelos e antebraços, assim como a cara com um leve movimento. No entanto, as defesas dos joelhos eram diferentes, a sua estrutura é muito débil e fácil de quebrar-se ou lesionar, como era e é o caso da rótula ou dos discos fibrocartilaginosos (meniscos). Nestes órgãos não existe nenhum elemento que possamos desenvolver com treino para conseguirmos um “joelho de ferro” à prova de batimentos e menos para resistir ou impacto de um pontapé com o calcanhar, projectado com todo o corpo. Apesar da sua eficácia demonstrada e das tremendas possibilidades existentes da sua aplicação em combate, como vemos, o pontapé lateral não capta a atenção de muitos praticantes de Artes Marciais e inclusivamente, eu considero - pelo menos essa é a minha apreciação que nos últimos tempos, no Jeet Kune Do também se lhe não presta a atenção que merece; parece ser que

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para alguns, como o seu nome indica, o “caminho do punho interceptor” só se pode levar a cabo como conceito com o punho e não com as extremidades inferiores. Grande erro, pois uma perna serve também como utensílio ou ferramenta para interceptar ou antecipar-se a um ataque. Por exemplo, em caso de lutar contra alguém que se decanta para o Boxe ou técnicas com o punho, é mais inteligente para o anular utilizar o antagonista, quer dizer: os pés. Por lógica, um pugilista, pela estrutura técnica do seu sistema de luta é especialmente vulnerável no nível baixo, quer dizer no joelhos ou nas tíbias. A estratégia é utilizar os pés para manter-se afastado das suas “armas” mais perigosas e quando ele as utilizar, parar o seu ataque. Esta técnica é conhecida em Jeet Kune Do como "pontapé de paragem ou travado", onde pode ser utilizada para interceptar ou parar qualquer movimento de avance do adversário; de facto, nos círculos marciais, o punho de meia polegada era o que mais surpreendia de Bruce Lee, no entanto, todos os seus alunos consideravam o seu pontapé lateral como a técnica mais perigosa do seu arsenal, até o próprio Bruce Lee considerava o seu pontapé lateral como a sua melhor arma. Ele falava deste pontapé como "Fácil de aplicar. É poderoso e pode ser modificado". Quando o “Dragão” começo a pesquisar e praticar esta técnica, o método para executar a técnica tinha (e tem) quatro fases: elevar o joelho, lançar o pontapé, retroacção do golpe e volta à posição de guarda. Mas a genialidade de Bruce Lee para aplicálo à interceptação, o levou a simplificálo a dois movimentos ou dois simples passos: pontapear e volta à posição. Porquê? pela simples razão de que para bater no joelho ou na tíbia, não fazia falta levantar em excesso a perna para executar correctamente a técnica. Quer dizer, levando à prática a famosa frase “simplifica o simplificado”, o pontapé simplesmente sai em linha directa desde onde está o pé, até o objectivo. Tecnicamente, o pé atrasado deve deslizar rapidamente em direcção ao pé adiantado e dar-lhe um ligeiro toque; então o pé adiantado se dispara directamente para o objectivo. Evidentemente e dado a posição inicial ou de guarda desde onde se executa, por sua dinâmica ou mecânica, não deixa de ser um pontapé lateral, simplesmente não se perde tempo em elevar nem em posicionar exageradamente o joelho, mas não por isso perde a sua eficácia. Com treino, quando se mete ou concentram correctamente as ancas, a técnica não perde nem um ápice de potência.


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Quando introduziu este novo método de bater com o pontapé lateral, alguns cépticos duvidaram da sua eficácia em combate, duvidaram da potência que se podia chegar a gerar com ela sem a elevação do joelho. Bruce Lee explicou que não fazia falta elevar a perna tanto para bater com potência, pelo contrário, quanto menos alto fosse o pontapé, com mais força se batia, e insistia em que quando se aprendia a utilizar correctamente as ancas e a posição da perna de apoio era a adequada, a potência que se podia desenvolver era realmente inacreditável até para alguém com pouco peso, como era o seu caso. Surpreendendo quando o executava tanto contra versados como neófitos, todos ficavam perplexos perante a potência do seu pontapé lateral e o mais importante, perante a sua efectividade, posto que se executava directamente desde a posição de guarda e se lançava sem nenhuma preparação: simples e directamente, sem telegrafar ao adversário. Dentro do Jeet Kune Do existem basicamente dois tipos de pontapés laterais: o de paragem ou freio e a de ataque ou antecipação. Ambas têm vários denominadores comuns: em algumas ocasiões se tem de concatenar simultaneamente com a mão adiantada, ou fazer um agarre, batendo no adversário com uma chuva de golpes. Quer dizer: é a “chave” que abre a porta, mas em ocasiões, tem de se “fechar” com outras técnicas.

Pontapé de paragem ou obstrução O conceito da paragem é vencer o adversário no momento em que inicia o ataque. Isto quer dizer que se tem de parar o rival enquanto está em movimento, ou seja, justamente no instante em que a sua técnica começa a iniciar a sua aceleração ou exactamente antes de que seja efectiva, o que implica que para poder levar isto à prática, tem de se ser muito mais rápido que ele. Isto é possível de levar à prática quando se desenvolve correctamente a arte da antecipação e o “timing”, evidentemente com o treino adequado do estado de alerta. Os pontapés de paragem ou freio estão enquadradas no Jeet Kune Do como técnicas de obstrução porque executando-as se põe um obstáculo no caminho do rival, para o impedir de poder chegar ao seu objectivo. O simples facto de levantar o pé bloqueia a via de acesso entre o adversário e nós. Quanto mais rápido se deslocar o contrário, mais se magoará, porque irá somar a velocidade e a força da sua entrada com a potência do nosso

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“Bruce sempre insistiu em que este pontapé para ser eficaz, devia ser executado de maneira rápida, natural e com potência” pontapé. Por isso, há quem denomina esta técnica como pontapé de paragem passivo, posto que o movimento do oponente, não é como o nosso. O importante não é como se chame ou seja conhecido, mas sim o conceito e os resultados que em combate se obtêm com ele. Além de interceptar os golpes de punhos do adversário, também se utiliza para as técnicas de pernas, mas para o fazer se requer um grande “timing”, visão de combate e capacidade de reacção, pois se trata de obstruir com o nosso calcanhar a trajectória do pontapé do rival, quando ele o estiver lançando, coisa muito difícil de fazer, mas não impossível… Temos de ser conscientes de que nem sempre se pode realizar o conceito de interceptação e que depende em grande medida do nível marcial que se possua. Evidentemente, e como em tudo, existem diferentes exercícios para o seu desenvolvimento e o conceito em qualquer deles é conseguir o “timing” do ataque partindo da base que fisicamente é impossível para um atacante lançar um pontapé sem mover antes o seu joelho, obviamente se o mesmo começa a levantar-se, já se sabe que será seguido de um pontapé, é nesse preciso momento onde entra em jogo o pontapé lateral.

Pontapé em avance, ataque ou antecipação Esta técnica é a mais potente e efectiva do Jeet Kune Do e é muito difícil de parar ou bloquear. Uma vez que se lançou, a defesa mais efectiva perante ela é sairmos do seu campo de acção com um deslocamento. O problema é que se o adversário o faz e realiza um contra-ataque, pela trajectória da técnica é muito difícil que se possa defender, pois logicamente, devido à inércia do deslocamento, não se pode mudar a sua trajectória e nem travar em seco para voltar à posição de guarda, isto é o seu “calcanhar de Aquiles”. O pontapé lateral sendo potente e

implicando todo o corpo na sua execução, não é rápido, nem tão enganoso como alguns outros pontapés, pelo que para assegurarmos o êxito do mesmo, deve ser precedido por uma “finta”. Uma boa “finta” com as mãos pode abrir a defesa do rival. Bruce Lee levantava a sua mão, antes do lançar, para desviar a atenção do adversário. Ele sempre insistia em que este pontapé devia ser executado de maneira rápida, natural e com potência para que fosse eficaz. Para o conseguir, comparativamente com outros sistemas de luta, balançava bastante o corpo, se pontapeava mais alto, se inclinava ainda mais. Ele dizia: "Se te preocupares da forma, como muitos artistas marciais, tentando estar o mais direito possível, talvez fique bonito, mas não é natural. Estás a pôr excessiva tensão nas tuas lombares e por isso acabarás por ter problemas nas costas. Além disso, desde essa posição rígida não podes desenvolver toda a potência quando lanças o pontapé"- para o levar à prática tentava não pôr demasiada atenção na forma. “Acredito no resultado final” - dizia. "Praticar a forma é uma perda de tempo. Um artista marcial tem de aprender a lutar. Isso quer dizer destruir o teu inimigo ou ele te destruirá a ti. Os katas pertencem ao ballet e a outras artes, não pertencem às Artes Marciais. Simplicidade é do que precisas. Lutar com flexibilidade, sem rigidez". O pontapé pode ser lançado da meia distância, mas logicamente, é mais potente quando lançado de mais longe, pois se aproveita o avance para aumentar o impulso do nosso corpo antes do contacto. “O Pequeno Dragão“ acostumava aplicar este pontapé baixo como um “jab”. O seu pontapé era tão rápido que podia lançar vários em um segundo, não necessitava de um grande avance para que o seu pontapé fosse eficaz e perigoso. A este respeito ele dizia: “Muitos artistas marciais não as suas aproveitam vantagens. Dão um pontapé mas sem nenhuma potência. Utilizam também pontapés de empurrão. Não geram potência suficiente para magoar ou prejudicar”. Também apontava que o clássico pontapé lateral em avance, em algumas Artes Marciais tinha potência, mas carecia de velocidade. Em


Reportagem outras era ao contrário. Bruce Lee insistia em que não era perfeito porque não combinavam correctamente ambos atributos, coisa que sim se fazia no Jeet Kune Do onde se batia de maneira equilibrada, com rapidez e explosividade. Para mostrar como se devia fazer, Bruce Lee acostumava a deixar cair uma tábua de 4 centímetros, desde a altura de seus ombros e a partia ao meio antes de chegar ao chão. Se o seu pontapé tinha só potência, mas carecia de velocidade, a tábua saía despedida, sem se partir. Se pelo contrário o seu pontapé tinha velocidade mas não potência, a tábua não se partia porque com essa espessura e sem apoio, era muito grossa para se partir com um pontapé veloz. Para p conseguir, velocidade e explosividade deviam de combinar-se correctamente. Resumindo: Ainda que no Jeet Kune Do as mãos são as ferramentas mais importantes, as pernas em geral e em especial o pontapé lateral, são uma parte vital e integral na estratégia global do sistema de luta, pelo que

não deve ser desprezado nem descuidado no treino. Em alguma ocasião, dá a impressão de que alguns praticantes de Jeet Kune Do se esqueceram de que neste sistema de luta, a primeira linha de um ataque ou de uma defesa, é o pontapé lateral à tíbia ou ao joelho, por ser o alvo mais próximo e ou o mais difícil de proteger. Também se realiza esta técnica por ser a mais segura, pois quando se executa se está fora do campo de acção dos batimentos do adversário e ainda por cima, existem muitas possibilidades de o poder anular e inutilizar com só um golpe, coisa muito difícil de conseguir com o punho. Evidentemente, para levar a termo o conceito do Jeet Kune Do se requerem uma série de atributos. Assim como um praticante de Taekwondo precisa ter elasticidade e velocidade com a pernas, para poder aplicar eficazmente a estrutura técnica do seu sistema, em Jeet Kune Do se precisa de velocidade e rapidez. Não podemos esquecer que o génio que criou esta arte pesava 65kg e ele a criou para poder vencer adversários de

muito maior tamanho e mais fortes que ele. Para isso desenvolveu uma série de técnicas onde aplicou os diferentes tipos de velocidades, melhorando os movimentos com economia dos mesmos e criando cinco caminhos de ataque para poder aplicá-lo. A força de seus batimentos têm como base a explosividade das suas técnicas. Evidentemente para alguém forte e com envergadura, talvez existem outras Artes Marciais que serão mais adequadas. Quer dizer: o Jeet Kune Do é um grande sistema de luta mas nem toda a gente está capacitada para poder levá-lo à prática; digamos que é a essência estratégica marcial; a vitória da mente e da habilidade sobre a força, baseando-se na velocidade.

O que outros Mestres disseram acerca do pontapé lateral O que mais me impressionava eram seus pontapés. Ele nunca alardeava disse, mas pontapeava como


ninguém; dava um pontapé com a direita e quando o seu pé ia tocar o chão, pontapeava com a esquerda; um pontapé lateral e assim continuava, boom, boom, boom!!! Uma vez e outra vez... Esses pontapés se viam como se fosse um ballet! Como uma borboleta movendo as asas. Era lindíssimo, era digno de se ver! (….) Dan Inosanto me falou de como Bruce Lee acostumava a pontapear o saco de 200 libras, feito

exclusivamente para ele e de como o movia sem problema algum. Ninguém, inclusivamente na actualidade, é capaz de fazer o que Bruce Lee fazia com aquele saco, incluindo as pessoas que têm o dobro do seu peso (…) Falando com o treinador do Clube Atlético de Los Angeles, que segurou um escudo para Bruce Lee, me explicou que o choque que provocou com o seu pontapé lateral foi tão duro que teve que ir para o hospital e lhe

fizeram umas radiografias para ver se tinha alguma costela partida. (…) Falei com Ted Wong acerca da chicotada que recebeu com o pontapé lateral de Bruce. Não, Lee não bateu no corpo de Wong directamente, pontapeou o saco que estava pendurado e que Wong segurava com as costas. O saco separava Bruce Lee de Ted Wong, e a repercussão do golpe deslocou Wong para a frente, causando-lhe uma lesão (…) Há artistas marciais que facilmente podem quebrar uma tábua de duas polegadas com um pontapé lateral, se está mais ou menos bem segura. Mas não o poderiam fazer quando se segura ligeiramente. Bruce Lee era um dos poucos ou provavelmente o único que as podia partir no ar. Ele as deixava cair de uma altura do ombro e as partia ao meio antes de tocarem no chão. "A única maneira em que se pode partir uma tábua dessas"- dizia ele - "é combinando potência e velocidade”. O problema é que a maioria de artistas marciais não o podem fazer, seus pontapés laterais têm potência mas carecem de velocidade" (…) Mito Uyehara Em casa de Bruce Lee havia sacos especiais para bater e pontapear. Na garagem havia um saco gigantesco de um metro e meio de largo por dois metros e meio de altura, que ocupava a metade da área. Era mole, para absorver a energia e obrigar a fazer um esforço extraordinário e empregar uma força adicional se alguém queria bater nele. Era como bater numa grande bola de algodão de maior tamanho que nós. Bruce Lee podia lança-lo pelos ares com um dos seus melhores pontapés. Também havia algumas máquinas que mandavam um pontapé quando se batia nelas, obrigando-nos a fazer uma “finta” si não queríamos receber uma pancada. Uma que Bruce tinha desenhado e foi construída por um amigo de James Lee, era uma espécie de barra inclinada, com um grande mola que se estendia por baixo. Bruce podia regular o grau de tensão para imitar que lhe faziam um contra-ataque. A máquina só media um metro de alto, de acordo com a crença de Bruce, de que os golpes baixo eram os mais efectivos. (…) Bruce dizia que o melhor para bater era uma árvore,


mas não uma arvorezinha. Devia ser uma grande palmeira. Dizia que quando se podia pontapeá-la de maneira que ficarmos tal qual mas que a árvore estremecesse, então estávamos a começar a compreender o que é um pontapé. (…) Numa ocasião contei a Bruce Lee que tinha tido um pesadelo. No sonho tinha furado um pneu numa estrada solitária; pouco depois parava um carro e quatro homens se encaminharam para mim, ameaçantes. Eu corri para uma parede próxima, imaginando que assim teria as minhas costas protegidas, e me preparei para resistir o seu ataque. Perguntei a Bruce Lee o que deveria ter feito. Ele respondeu que o meu primeiro erro tinha sido correr para a parede onde eu ficava encurralado. Disse que se tinha certeza de que desejavam lutar e não podia ou não queria fugir, devia ter atacado, tomando a iniciativa... Me disse que tinha de ter usado imediatamente o “fingers jab” (golpe directo com os dedos) aos olhos a um deles. Depois um bom pontapé no joelho para deixar fora de combate e inutilizado um outro e então continuar lutando com os que restavam. Disse que devia usar a minha arma mais comprida, as pernas. Continuar dando pontapés aos joelhos. A rótula quebra sob uma pressão de 32 quilos, o que está ao alcance de uma criança. Sterling Silliphan O que Bruce fazia era bater no chão e no escudo ao mesmo tempo. Muitos artistas marciais primeiro apoiam o pé e depois pontapeiam e o que acontece é que se perde o “timing” pela fricção do contacto com ou chão, enquanto que se fazemos contacto ao mesmo

tempo, geramos uma reacção oposta e igual. Hayward Nishioka Deixem-me dizerlhes uma coisa, esse garoto era realmente incrível. Com um pontapé em salto eu partia quatro madeiras e uns dias mais tarde ele as mas partia penduradas, com o seu pontapé lateral Não podia acreditar! Jhoon Rhee Bruce Lee pesava uns 64kg mas tinha uma capacidade para dar pontapés de uns 180kg. Tinha umas pernas fortes. Se estiveres em pé e pontapeares assim, directamente, vês limitada a velocidade que desenvolves, mas podes obter uma potência tremenda com apenas dar um impulso com a perna atrasada. Herb Jackson Lembro-me de uma vez lhe ter levado um saco novo que pesava perto de 45Kg, o qual Bruce pendurou de uma grande “L” em ferro. Bruce me disse que era demasiadamente duro: “Realmente não é do tipo idóneo para ti, mas de qualquer maneira hoje vamos trabalhar com ele; talvez possa amolece-lo um pouco.” Deu uma corrida, bateu no saco com um pontapé lateral e partiu a corrente! Quero esclarecer que o saco estava pendurado de uma corrente de uns

30Kg e ele a quebrou! Abriu um buraco no toldo, vou pelos ares e foi cair no meio do jardim feito um trapo, estragado… Um saco novinho vindo da fábrica!!! (….) Bruce Lee me ensinou a dar pontapés laterais e de gancho. Ele me fazia partir tábuas de duas polegadas com o meu pontapé lateral, segurando-as com dois dedos, o que para mim era uma autêntica conquista. Para ele, isso não era nada. Ele as lançava ao ar e as partia. James Coburn


Grandes Mestres “Foi a mão direita de Hélio Gracie; durante 35 anos foi polícia no Rio de Janeiro. Campeão de Vale-Tudo, actualmente o Mestre é o mais reconhecido do mundo em Jiu Jitsu. Trabalha nos Estado Unidos”

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Biografia

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rancisco Mansur nasceu no Brasil em 1940. A sua entrada no Jujitsu foi graças ao seu pai que tinha recebido aulas em jovem e transmitiu a informação ao seu filho pequeno. Quando era adolescente, Francisco Mansur se mudou para o “centro” de Rio de Janeiro para estudar. Ali Mansur começou a receber aulas do Grão Mestre Hélio Gracie. Mansur contava 15 anos quando conheceu o famoso Mestre Gracie. Com 17 anos, o Mestre Mansur estava preparado para participar no seu primeiro combate de Vale-Tudo (Luta Livre). Na noite antes do evento não conseguiu dormir devido aos nervos. Tratou de manter a compostura no dia do combate e conseguiu vencer seu oponente em 17 segundos. O Mestre Mansur tomou parte em outros 38 combates com regras de Luta Livre. Venceu em todos e permaneceu invicto durante toda a sua carreira na competição. O Mestre Francisco Mansur foi uma figura importante na criação da primeira Federação de Jujitsu no Brasil (Federação Rio de Janeiro). Abriu as portas da sua primeira academia quando contava apenas 25 anos e

como treinador rapidamente deixou a sua marca. Mansur teve um grande êxito trabalhando com os mais jovens, formando muitos grandes lutadores com o seu programa para crianças e com o seu extraordinário conhecimento dos princípios do Grappling. As suas aulas foram as mais procuradas pelas crianças que queriam realizar actividades desportivas no Rio de Janeiro. O seu trabalho, para além do desenvolvimento das Artes Marciais, lhe tem proporcionado numerosos prémios, incluída o admissão no Hall of Fame de Karate Mundial, no Hall of Fame da Revista Action Martial Arts, no da Associação Americana de Karate de Okinawa e no Hall of Fame da revista Budo International. A Academia Kioto, aberta 1965, foi a primeira em seu género, com um programa muito exigente e sistemático. Este BJJ se concentra nas técnicas básicas que ensinava o Grão Mestre Gracie, assim como no aspecto defensivo do BJJ. Frequentemente se fala dela como sendo a escola mais tradicional de Jujitsu do mundo. O primeiro

faixa preta do Mestre Mansur foi Marcelo Rezende Filho e a sua linhagem de BJJ fundou academias tão importantes como a de Cláudio França BJJ, Brasil 021 ou Soul Fighters. Após a partida do Mestre Francisco Mansur do Brasil para ir viver nos Estados Unidos, passaram a se encarregar da Academia: Álvaro Mansur e Kraus Mansur, enquanto que o Mestre Francisco Mansur se continua encarregando da equipa. Em 2008 Álvaro Mansur deixou a Academia Kioto para formar uma equipa diferente (Soul Fighters) junto com alguns estudantes da Academia Kioto.

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Grandes Mestres

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É autor do livro “A Bíblia do Jiu Jitsu” e de “Séries de DVDs de Instrução da Arte Suave” 47


KAPAP: A arte de dar a vida, não de a tirar

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omo estudante da Arte da espada japonesa, sei que: “Tem de se estudar o antigo para compreender o novo”. Eu fui um “Uchideshi” durante quase 8 anos no Japão, sob a tutela do Mestre de Espada o Sensei Kubo Akira e o tenho seguido durante os últimos 30 anos. Sou testemunha da sua grande habilidade e ele tem sido o meu inspirador. O Mestre Kubo Akira demonstrou a sua mestria com cada movimento, cada respiração. Quando me ensinava, frequentemente falava de Nakayama Hakudo, também conhecido como Nakayama Hiromichi, Soke de Muso Shinden Ryu. Por isso eu ensino aos meus estudantes Artes e Habilidades. Mas não se pode ensinar, só se pode aprender! Quando me mudei para Los Angeles procurei um professor que pudesse manter este espírito e inspiração e encontrei o professor John Machado. O Professor Machado sempre me ensinou Ju Jitsu Brasileiro, o que eu necessitava para fluir com bom espírito e Boa Atitude, para dessa maneira manter a boa saúde. É uma forma de vida inspiradora e ajuda a ter uma boa qualidade de vida.

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Nunca fui estudante de Carlos Gracie Sénior, mas devo dizer que tenho estudado muito inspirado por ele, apesar de o não ter conhecido pessoalmente. Tenho sentido o seu espírito em cada aula que tenho dado com o meu Mestre. Habitualmente havia uns momentos que chamávamos “momento das histórias”, quando o professor Machado nos contava factos e outras revelações do seu coração, enquanto uns aqueciam e outros rolavam no chão, outros ainda, nos sentávamos e conversávamos com ele. Quando voltava para casa eu fazia uma lista do que necessitava estudar. Não se tratava tanto das técnicas - e eu tinha muitas técnicas na minha cabeça e sempre as estava praticando e corrigindo! Tratavase mais do timing e de traçar um esquema para usa-las. Essa é a chave, porque se usarmos uma grande técnica com o timing errado, seria como usar a ferramenta errada para o trabalho errado. Já estudara tudo isto com um dos meus professores mais inspirados e inspiradores, Hanshi Patrick McCarthy. O professor Hanshi McCarthy sempre tratava de achar uma Ponte entre as Artes Marciais antigas tradicionais e as Artes Marciais modernas, utilizando a fluidez como se usava no Aiki Kenpo. Quando descobri o BJJ, encontrei

o que para mim era mais apropriado e também me mostrou a fluidez do Aiki Todos os caminhos desde a posição de pé até a de chão. O Professor John Machado sempre falava do “Tio, Carlos Gracie”, provavelmente a figura mais importante na história do Jujitsu Brasileiro. Ele foi o primeiro Gracie a fazer germinar as sementes do BJJ, a partir do Jiu Jitsu japonês. Carlos Gracie era conhecido com o sobrenome de “Pai Branco”. Assim o chamavam os seus irmãos e família mais chegada, devido a que vestia sempre de branco e porque ele era considerado “cabeça do clã”, era a sua figura paterna. Era o filho mais fraco e por isso seu pai o levou para estudar com o Sensei Maeda, que usava o nome de Conde Coma. Conde Coma, Misuyio Esai Maeda, era um representante do Jiu Jitsu/Judo enviado pelo Japão ao Brasil, para a difusão da Arte do Ju Jitsu. Ele contava muitas histórias, acerca da nutrição, da saúde, sobre como fluir e eu me inspirei em estudos da natureza e do ser humano, graças às histórias que contava este Grande Mestre. Contou histórias de como nadava em um rio com jacarés, ou como desenvolveu o treino mental e a resistência que o levaria a deixar de ser


Artes Marciais 7 Esquecer os erros do passado e concentra a energia nas vitórias que estão por vir. 8 Tratar sempre de que os companheiros tenham uma atitude alegre, optimista e agradável, para que todo isso repercuta em nós. 9 Gastar todo o tempo necessário para melhorarmos nós, mas não gastar tempo para criticar os outros. 10 Temos de ser demasiadamente grandes para nos sentirmos inquietos, demasiadamente nobres para sentirmos ira, demasiadamente fortes para sentirmos medo e demasiadamente felizes para claudicar perante a adversidade. 11 Ter uma opinião positiva sobre nós mesmos e dize-la ao mundo, não através da vaidade mas sim da benevolência.

“uma galinha” e passar a ser uma “ave de guerra”. Tenho sido inspirado pelos 12 mandamentos de Carlos Gracie e me gostaria de os dizer aqui: 1 Ser tão forte que nada possa perturbar a paz da nossa mente. 2 Falar a toda agente acerca da felicidade, saúde e prosperidade. 3 Fazer com que os amigos sintam que são valiosos. 4 Ver sempre as coisas de um ponto de vista positivo, que tudo se torne positivo na vida real. 5 Pensar sempre no melhor, trabalhar só procurando o melhor e esperar sempre o melhor. 6 Ser sempre entusiasta com os êxitos alheios, como se fossem próprios.

12 Ter uma forte crença de que o mundo está connosco se mantivermos a verdade do que é melhor. Tudo isto voltou ao meu pensamento durante o meu último treino com Hanshi McCarthy, quando procurava ampliar os meus conhecimentos acerca da Arte da Espada, do Judo, Jiu Jutsu e BJJ. Olhando para as Artes Marciais modernas, devemos destacar o que fazemos e o que ensinamos, queremos e devemos passar esses conhecimentos para as seguintes gerações. Uma das minhas 'mensagens' foi desenvolver uma nova faca baseada neste amplo estudo. A nova faca está fabricado na Itália pela marca “Fox” e se chama “Rastejador Israelita KAPAP”. Este faca foi desenvolvida tendo em consideração

muitas ideias, começando pela minha própria história. O meu pai era pára-quedista de combate. A cor de fundo das suas asas era o vermelho (em vez de azul) o que significa que realmente participou em missões de combate. Isto é raro, posto que a maioria dos pára-quedistas treinam, mas raramente nem entram em combate. Desta maneira eu cresci entre os pára-quedistas da IDF, assimilando a sua cultura, a sua história, as suas narrações e fotografias do passado. Nunca poderei esquecer uma fotografia dos anos 50, em que o pelotão está fazendo treino com faca, quando o KAPAP, Krav Panim ou Panim/combate corpo a corpo, era o sistema de combate utilizado pela IDF. Enquanto o voltávamos a desenvolver e o começamos a reintroduzir na sociedade civil, esta fotografia me vinha à memória uma e mil vezes como o princípio do KAPAP. Essa fotografia do meu pai, é a que adaptei para o meu logótipo. Assim honro a memória e a tradição do meu pai. Esta 'sombra' da faca me tem seguido desde que era criança. Lembro-me como o meu pai usava a sua pesada e bela faca, tanto em interiores como em exteriores. Me alistei no exército em 1980 e tomei parte na Guerra em 1982. Servi numa zona de Guerra durante 2 anos e sempre guardei a faca do meu pai no meu colete militar. Quando deixei de servir no exército, ofereci a minha faca a um Tenente Coronel meu amigo. Depois viajei ao Japão para aprender Artes Marciais japonesas durante 8 anos. Alcancei o 6ºDan em espada japonesa e 7ºDan em Aiki Kenpo Jutsu. Tenho praticado diferentes Artes Marciais, mas sempre me vejo a mim próprio como um professor de combate e Arte da Espada. Na minha escola se ensina o uso da espada para dar a vida. Quando comecei a ensinar a combater, me apercebi de que muitos estávamos ensinando a matar com a faca e portanto estávamos ensinando a usar a faca de maneira incorrecta. Pode matarse com uma pedra… mas a faca é uma das ferramentas mais importantes para o ser humano. A utilizamos para a nossa sobrevivência no dia-a-dia. Ligando a minha história pessoal, o meu modo de vida e os meus princípios, com o estudo profundo do manejo da espada e a faca, desenvolvi o que constituiria o ideário acerca da faca. Baseando-me na origem da faca e nas minhas experiências como treinador de esgrima olímpico e professor de luta com faca, assim como os meus conhecimentos no manejo da espada japonesa, comecei a desenhar esta faca para ser a base do trabalho com faca que ensinamos no KAPAP, chamado “Só Faca.” Os estudantes têm que penetrar no bosque com apenas uma faca para

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Kapap sobreviver. Tem de se desenhar a faca de maneira que não só seja efectiva como arma mas que também deve ser útil para realizar outras actividades: como construir um refúgio, conseguir comida, conseguir água, acender um fogo, e todas as outras actividades necessárias para a sobrevivência. A ideia é que uma faca de combate não só serve para matar, também serve para salvar vidas e sobreviver. Este é o propósito principal desta faca, dar a vida, não tirá-la. O KAPAP não é um sistema convencional. É uma “PONTE” entre sistemas: é um conceito e uma filosofia. O KAPAP não foi desenhado como sistema com cinturões, ou para criar Mestres e Grandes Mestres. Há sistemas mais que suficientes para isso. Como ponte, a meta do KAPAP é unir os Artistas Marciais de diferentes disciplinas, para que sejam capazes de comunicar-se e partilhar conhecimentos como irmãos de armas. Desejamos fazer isto sem conflitos, egos ou políticas em que se baseiam os princípios das Artes Marciais comuns. Alguém me disse: “Não há maus alunos, mas sim maus professores.” Eu me pergunto o que eram esses professores antes de se tor narem professores. Penso que foram maus estudantes. Nos nossos dias, com sistemas 'sem raízes', temos Grandes Mestres de tudo e isso realmente não é nada. Há muitos guerreiros ou Grandes Mestres de YouTube, Facebook 'Internet' ou 'teclado', que aprenderam as suas Artes Marciais em pouco tempo e dão-se ao luxo de difamar Grandes Professores e Pessoas. Estes mesmos Professores têm praticado Artes Marciais a maior parte da sua vida! O meu amigo Sam Markey me contou uma história acerca de alguém que lhe perguntou se podia lutar contra dois ou três atacantes ao mesmo tempo e ele disse “Posso lutar contra um Leão, mas não contra cem coelhos. A verdade está no tatame!” Não há demasiados professores mas há demasiadas organizações e muitas vezes, dirigir essas organizações se tornou mais importante que ensinar. “Um exército de ovelhas dirigido por um leão é melhor que um exército de leões dirigido por uma ovelha” Alexandre Magno Gosto imenso de ser professor e vou lutar por continuar sendo professor e não um homem de negócios. Um dos meus professores mais importantes é a natureza. Por isso fazemos muitas acampadas e exercícios de sobrevivência, posto que nenhuma arte ou ofício se pode realmente ensinar mas sim aprender e as habilidades serão postas à prova por uma situação real. Nas Artes Marciais acontece isso mesmo. Há gente que trata de “vender-se” nas Artes Marciais. Havia um Mestre legendário e um estudante seu foi o seu melhor estudante. Mas como este Mestre faleceu, agora há um Grande Mestre que ensina o trabalho de toda a vida desse Mestre. Mas nunca é assim. A maioria dos Bons estudantes também têm

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alguma coisa neles para criar e estudar, e por isso a maioria dos Grandes Mestres de hoje estão aqui para serem portadores da chama, não das cinzas. Transmitir o espírito. Por isso tento ensinar os três elementos: Corpo, Mente e Espírito. É o mesmo que transmitir os três círculos das Artes Marciais: Tradicional, Combativo e Desportivo. Lembrem-se sempre de que as técnicas podem funcionar ou não. Depende da situação, do timing adequado e também do objectivo que se escolher para bater. Pode ser incorrecto, mas ao mesmo tempo também pode ser correcto. Confiem no que fazem combatendo e não na teoria ou na prática estática. A verdade se descobre sempre na lona quando se tenta e a maioria das vezes aprendendo dos erros. Podem bater desta ou daquela maneira, com a mão aberta ou fechada. A experiência do combate livre, acção/reacção, lutando em pé ou no chão, com armas ou sem armas, com golpes ou sem golpes, com Gi sem Gi - se aprendem as lições, inclusivamente quando se falha. Afastem-se dos covardes que dizem coisas do género: “Não somos uma Arte Marcial desportiva” ou “Não somos uma Arte Marcial tradicional, não somos uma Arte Marcial sem sentido” ou “Sem árbitro, sem lona, sem regras.” Estes slogans só mostram MEDO. Todos sabemos que podemos pontapear entre as pernas ou meter o dedo nos olhos do nosso oponente numa luta real. Mas, não nos teremos esquecido das habilidades das outras pessoas? A vantagem de um desporto de combate com árbitro e com regras só é que nos oferece uma maneira de nos enfrentarmos a nós mesmos e aos nossos medos. Escondendo-nos atrás destes slogans, não vamos a estar melhor preparados. Se falhamos na preparação, nos preparamos para falhar. A natureza não tem piedade, se nevar e só vestimos roupa interior, vai continuar nevando e vamos ter de nos enfrentarmos a isso. Para sobreviver é preciso estudar a natureza, amar a natureza, fluir com a natureza; por isso a natureza pode ser tão boa professora. A dor também pode ser um bom professor, mas ninguém quer aprender isso na aula! Estude-se a si mesmo, melhore as suas habilidades. A natureza oferece muitas maneiras para treinar o espírito e fazernos mais fortes. Sentir medo é normal e necessário, é a maneira da natureza para nos dar uma carga extra de energia. O conhecimento é o primeiro passo para superar os medos. Estando na natureza podemos estudar e aprender a usar o nosso pensamento em situações de sobrevivência. O pânico pode fazer agir uma pessoa sem pensar. Gostaria partilhar algumas frases e palavras sábias para finalizar esta lição com “Mokuso.” Cada aula tradicional começa e finaliza desta maneira. A natureza faz-nos mais fortes, nos desafia; não nos desafiam os outros. “Aquele que conhece os outros é sábio. Quem se conhece a si mesmo é um iluminado” Lao Tze

Diz-se que os grandes e inspirados estão afastado do mal. “Preferia ser um ninguém pequeno que um alguém malvado” Abraão Lincoln “Há muitas razões para viver, algumas coisas pelas que morrer e nenhuma razão para matar” Tom Robbins “Quando as pessoas te ferem repetidas vezes, pensa que são como o papel de lixa. Eles podem raspar e ferir um pouco, mas afinal, tu acabas `polido e eles acabam sendo inúteis” Anónimo “A vida é uma luta, mas nem toda agente é lutadora, caso contrário, os abusões seriam uma espécie em extinção” Andrew Vachss “Com a ignorância vem o medo - com o medo vem a intolerância. A educação é chave para a tolerância” Kathleen Patel “E se o garoto de quem abusavas na escola, cresce e se torna no único cirurgião capaz de te salvar a vida?” Lynette Mather “Se não há heróis para te salvar, então tu és o herói” Denpa Kyoshi “Tu não tens um domínio maior ou menor que aquele que tens sobre ti mesmo” Leonardo da Vinci “Tens inimigos? Bem. Isso quer dizer que te levantas-te por alguma coisa, alguma vez na tua vida” Winston Churchill Como tenho dito muitas vezes, a primeira coisa que aprendemos da história é que não aprendemos da história! Afastate do mal e das Artes Marciais que tratem de te ensinar a ser um abusão. “Não portes uma arma - sê uma arma” Avi Nardia Assim é como treinamos para ser uma arma, usando o nosso cérebro e com o treino mental que ensinamos na aprendizagem de sobrevivência. Todo o treino de Kapap se baseia no conceito de não depender de outra arma que nós mesmos. Como na frase anterior acerca do papel de lixa, nos tornamos uma arma em um processo lento de instrução para o corpo, a mente e o espírito. Compreendam o propósito do Mokuso na abertura e encerramento do Reshiki. “Mokuso” é o termo japonês para a meditação. Faz-se ao princípio e ao final de cada aula para “esclarecer a mente” das distracções da vida do dia-a-dia e é similar ao Mushin, um conceito Zen. Isto se conhece formalmente como “preparar a mente para treinar duramente”. Repetimos o Mokuso no fim do treino para fazer um exercício de introspecção. Introspecção é um auto-exame dos pensamentos conscientes e os sentimentos. Pode fazer-se referência à introspecção em um contexto marcial e espiritual como o exame do espírito. A introspecção está e relação com o conceito humano de auto-reflexão e em contraste com a observação externa”.


“Tens inimigos? Bem. Isso quer dizer que alguma vez na tua vida, te levantaste por alguma coisa� Winston Churchill

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“Pioneiro do Karate na Espanha e na Europa, o Mestre Hattori com seus quase 70 anos, nos fala de uma vida dedicada ao Karate”

Reportagem de: Pedro Conde

Foto 1: O Mestre Hattori com Michel Hsu, primeiro aluno do mestre Murrakami, sendo também instrutor do Exército Francês. Foto 2: Inauguração do F.E.J. Pte e D. A. A karateka é proclamado presidente. Foto 3: A professora Hattori com alguns de seus primeiros alunos.

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Foto 1: Festival de Artes Marciais realizado em Barcelona nos anos 70, nele participaram alguns dos grandes mestres do

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“Velho Continente, entre eles de destacar os Mestres de Karate Yasunari Ishimi, Yoshuke Yamashita, Choyu Hentona, entre outros. Foto 2: Curso de Mestre Nacional em Madrid; nos anos 70 se fazia conjuntamente com os mestres de Taekwondo. Foto 3: Curso de Ă rbitro Internacional, em Edimburgo, ano 1977. Foto 4: Primeiro Campeonato Provincial de Karate em CantĂĄbria, 1970.

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Tatsuhiko Hattori, pioneiro do Karate na Europa O mestre de Karate Japonês Tatsuhiko Hattori nasceu a 10 de Abril de 1944, numa povoação de Nagoya chamada Jimokuji, pertencente à prefeitura de Aichi (Japão), onde seu pai era o presidente da Câmara. Com 17 anos começa os seus estudos universitários de Filologia Espanhola na Universidade de Nanzan (Nagoya), onde existe um Dojo, como acontece em “quase todas” as faculdades do Japão. Alí começa a praticar Karate com o mestre NorioKachi, aluno directo de Gichin Funakoshi e Yoshitaka Funakoshi. Por isto, o estilo que aprende é o de O'Sensei Funakoshi; no entanto, na faculdade recebe o nome de Nanku-Kai (Associação de Karate da Universidade de Nanzan e que dera nome ao kata criado por NorioKachi, denominado Nanku-Ichi).

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Aquelas aulas, eran normalmente supervisadas pelo mestre Genshin Hironishi, com assiduidade assistia à Universidade, para supervisar as aulas e de vez em quando para directamente dar aulas. No1966, a Universidade de Nanzan, para aperfeiçoar o Espanhol organiza um curso intensivo na UIMP de Santander. Nessa viagem ele chega à Universidade Internacional Menéndez Pelayo e o reitorado organiza uma festa. Nos dias preliminares à mesma, o mestre Hattori

conhece Manuel Palácios (pioneiro do Karate na Espanha), que é quem pusera em conhecimento da reitoria as habilidades do jovem estudante japonês. Lhe solicitam então realizar uma exibição dessa arte que é o Karate, na época desconhecida mas temida por todos. O mestre aceita e realiza uma demonstração com um aluno de Sensei Murrakami, no antigo cafñe de “As Chamas”, junto com seu amigo Manuel Palácios. A exibição foi um grande sucesso, pois é inquestionável a eficácia do Karate em combate; qualquer pessoa com esses conhecimentos e habilidades físicas está numa nítida superioridade frente a um ou vários agressores. Depois de ver em acção Hattori, todos compreendem porque a prática do Karate está proibida na Espanha. Devido ao sucesso da exibição, o mestre Manuel Palácios convida o mestre Hattori a dar aulas da sua arte no ginásio que possuia em Santander (Cantábria), na rua Cádiz e que se chamava “Karatekan Judo”. Em um princípio o mestre não aceita o convite, talvez pensa que no Japão há lhkaratekas e mestres que ele…, no entanto, a ideia o seduz, gosta imenso da Espanha em geral e em especial da região da Cantabria. Depois de analizar os “pros” e os “contras”, posto que aquilo implicava deixar o seu país e começar uma nova vida em um país estranho, Hattori toma uma difícil decisão que mudaria a a vida para sempre: voltar à Espanha pelo menos durante um ano e portanto, ser um dos pioneiros do Karate na Europa.

A trabalho que o espera é arduo, entretanto, depois de receber o beneplácito do seu mestre Genshin Hironishi, regressa de novo a Santander a 12 de Abril de 1967, onde cpmeça imediatamente a sua ensinança. Naquela época era o segundo mestre japonês que implantava o seu ensino neste país; o primeiro, recordemos, seria o Mestre Atsuo Hiruma (Shotokai), o qual chegara um ano antes a Madrid. Depois viriam outros mestres, mas é inquestionável que o Mestre Tatsuhiko Hattori foi um dos grandes pilares do Karate na Espanha, inclusivamente no assunto da arbitragem, ele foi o primeiro árbitro queteve a Espanha, não só a nível nacional como internacional, por isso e por todos os seus méritos e conquistas no Karate-do, a revista “Cinturão Negro” o traz este mês às suas páginas, numa entrevista que amavelmente nos concedeu.

Entrevista Cinturão Negro: Tenho entendido que o Mestre começou a praticar Karate na Universidade de Nanzan, com o Mestre NorioKachi, aluno directo de Gichin Funakoshi, e com o filho deste, Yoshitaka Funakoshi… Mestre Hattori: É correcto. Comecei a praticar Karate com o mestre Kachi Norio, que era O.B. (Old Boy, quer dizer 'graduado') da Universidad de Senshu, assim como o Mestre Kase. O Mestre Motonobu Hironishi era Shihan desta universidade. Hoje sinto orgulho de que ele me examinasse do 4º Dan, junto com o Mestre Yoshio Someya. Gostaria de esclarecer que o Mestre Hironishi é o presidente de Shotokai e o Mestre Shigeru Egami é o chefe instrutor do dojo Shotokan. Mas o mestre Kachi dizia que mais que com o Mestre Gichin (O'Sensei),ele trabalhava com seu filho, o Mestre Yoshitaka, porque O'Sensei era muito idoso e estava fisicamente depauperado. Não obstante supervisava e corrigia durante as aulas, explicando e

Foto 1: Na primeira licença de árbitro nacional esta Karate arte era a disciplina associada em espanhol Judo Federation, anos mais tarde, quando o Karate tinha sua própria federação, o professor recebeu o cartão pela associação nacional de árbitros. Foto 2: Carta que ligava o mestre Hattori que tinha passado no exame nacional de Karate árbitro. Foto 3: O cartão nacional árbitro karate, emitido em 21 de Fevereiro de 1970, o cartão mestre Hattori foi o primeiro a ser concedido na Espanha.

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Grandes Mestres ensinando. O Mestre Yoshitaka era a parte física, O'Sensei Ginchin era a parte espiritual, a representação do “Do”. C.N.: Como era o Karate naqueles dias? Quais as diferenças diferencia te com o que se pratica na actualidade? M.H.: Era pura arte marcial, sangue, suor, dor, pancadaria, aguentar, ter , etc.… Muitas vezes queria eu, ou melhor, queríamos todos figir do dojo, mas afinal aguentei. Hoje me sinto orgulho e estou muito contente, porque posso jurar asegurar que as aulas eran realmente duras comparadas com as actuais, eran realmente espantosas e por vezes inumanas… Se hoje se treinasse como naquela época, não havia tantos karatekas como agora há. Por exemplo, há muitas universidades que proibiram ou destruiram seus dojos por várias razões, por exemplo a famosa Universidade de Takushotsu, lá houve grandes e graves acidentes; nos combates se abusaba dos alunos novos, em alguma ocasião houve até algum falecimento e se viram na obrigação de encerrar o Dojo para sempre e proibir o Karate como actividade desportiva. A fim de contas, por estar o dojo na universidade dependia da sua reitoria e esta não podia permitir estas coisas. Também na minha universidad houve problemas. Aqueles treinos não eram humanos, se começava a treinar às cinco da manhã e se acabava ao meiodia e não se parava nem um instante nem para beber água ou para comer. Nos combates se desconhecia o que era o controlo… Isto pode parecer exagerado, mas podem ter a ceteza que era assim, até tal ponto que no primeiro curso nos chamavam “animal”, no segundo “escravo”, no terceiro “pessoas” e no quarto “deuses”! C.N.: Com seu mestre Kachi Norio aprendeu o estilo Nanku-Kai. Existe alguma diferença com o Shoto Kan? M.H.: O meu mestre, Kachi, nos ensinou Karate do estilo do Mestre Funakoshi. Quero esclarecer aqui que Shotokan é o nome do dojo do Mestre Funakoshi, Depois dele falecer, continuou o Mestre Egami como chefe instrutor do dojo e Shoto kai é o nome da associação de todos os alunos do Mestre Funakoshi. O Mestre Hironishi é o presidente desta associação e também está emposse do selo oficial do Shoto kai, que se põe no diploma desta escola. Gostaria matizar e insistir que no Japão, em qualquer documento importante, não vale a assinatura, isto é simplesmente distintivo, o que verdadeiramente é uma credencial e que dá legalidade ao documento ou diploma, é o selo. C.N.: Então, todos praticam o mesmo estilo? M.H.: Efectivamente, si falamos de estilo, penso que temos de falar do

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“Shoto-Ryu”. Qeria esclarecer que Nanku-kai é o nome da associação da Universidade de Nanzan, não é o nome de um estilo de Karate. Na Espanha, o primeiro estilo de Karate que se ensinou foi o “Shoto Ryu”. Devo lembrar que o primeiro mestre japonês que veio dar aulas de Karate a este país foi o Mestre Hiruma e depois, alguns meses depois vim eu. Os dois pertencemos ao mesmo estilo Shoto-Ryu, mas ele é discípulo do Mestre Egami, que modificou a maneira tradicional de trabalhar do Shoto-ryu. Assim, ao princípio, o Mestre Hiruma chamava o Shotoryu como Shoto-ryu Suave e o estilo que trabalha, estilo duro. Podemos dizer que a nível técnico é o mesmo, o que mudou é a maneira de trabalhar ou aplicá-lo, é mais fluente. No Karate Shoto ryu se dá muita importância ao kime (1), pelo contrário, na maneira de trabalhar do mestre Egami, a técnica não termina em um golpe seco mas sim que flui a outro movimento. É a maneira em que aplica a sua técnica o mestre Egami. Entretanto, o mestre Motonobu Hironishi trabalhava o estilo clássico de O'Sensei. Apesar de terem pontos de vista diferentes, também existem pontos em comum, por exemplo, no Shoto-ryu o máximo grau é o 5ºDan, porque O'Sensei Ginchin faleceu com o 5ºDan e seria uma falta de respeito a ele, ter um grau superior. C.N.: Na actualidade continua ensinando o mesmo estilo ou houve alguma modificação? M.H.: Continuo sendo fiel ao estilo… Durante 46 anos tenho praticado e ensinado o mesmo, obviamente não faço as mesmas coisas que fazia em jovem; com o tempo e a idade, vamos mudando sem darmos por isso, se bem espiritualmente, a minha maneira de trabalhar, não mudou. Um dia me disse o Mestre Kachi que quando treinava com o mestre Funakoshi, ele dizia: “Como sou bastante idoso, eu não posso, mas vocês que ainda são jovens, trabalharão desta maneira e não como eu faço”. Esta frase faz-me lembrar muito do Mestre Kachi. C.N.: O Mestre estudou filologia hispánica e veio ate a Espanha para aperfeiçoar a língua española. Aquí realizou uma exibição e assim surgiu a ocasião de dar aulas na Espanha… Como foram esses começos? M.H.: Para estudar eu era um péssimo estudante, de maneira que antes de acabar o meu curso universitário, vim assistir a um curso de Espanhol intensivo na UIMP (a Universidade de Santander). Assim foi como conheci Manuel Palácios, um dos pioneiros do Karate na Espanha e junto com ele, Luis Zapatero de Zaragoza (Kyokushinkai). Manuel Palácios era discípulo do Mestre Murrakami, que foi o primeiro japonês a

O mestre Hattori com seu assistente Ramon Crespo Paredes acompanhados por seus respectivos parceiros.

vir à Europa, para dar aulas de Karate na França. Ambos me propuseram que viesse dar aulas. Pensei no assunto e resolvi vir. Ao princípio vim para ficar um ano, mas por várias circunstancias… acabou por ser para toda a vida. Isto acontecia em Abril de 1967 e já Manuel Palácios tinha unos grupos de karatekas, entre os quais destacavam quatro; Luis González Gay, Juan Vidal (Capitão da Guarda Civil), Miguel Garoña e Eduardo Garcia. Estes quatro karatekas já tinham cinto castanho concedido pelo Mestre Murrakami. Muitos dos que começavam naquela época pertenciam à Polícia Secreta de Santander. C.N.: Naquela época em que o Karate estava proibido, chegou a ter problemas por isso? M.H.: Naquela época diz-se que estava proibida a prática do Karate, mas eu nunca tive problema algum. Penso que aquilo era mais uma questão política por parte da Federação de Judo, que outra coisa, porque tinham medo de que invadíssemos o seu campo. Depois, o Karate foi incluido nessa Federação. Quero lembrar-me que o primeiro responsável pelo sector do Karate na Federação de Judo foi Carlos Vidal, o primeiro discípulo do Mestre Hiruma. C.N.: E… qual o motivo dessa rivalidade? M.H.: Realmente não sei, mas suponho que era devido a interesses económicos e políticos. No Japão existia um grande respeito entre praticantes de Judo e Karate; de facto, quando O'Sensei chegou ao Japão vindo de Okinawa, Jigoro Kano o ajudou a propagar a sua arte, inclusivamente o permitiu de dar aulas no seu Dojo, por isso, Sensei Gichin sempre que passava na porta do seu Dojo ou de qualquer lugar onde se praticasse o Judo, inclinava a cabeça em sinal de respeito


Ram贸n Crespo Paredes, Tatsuhiki Hattori Itoh y Antonio Revilla Ruiz (Kus).

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Grandes Mestres ao Mestre. Todos os praticantes de Shoto-Ryu sabíamos disto e nunca houve rivalidade alguma entre nós, tudo pelo contrário… O que aconteceu na Espanha foi uma luta de interesses visando o predominio de uma arte marcial sobre a outra. Quando começaram a chegar outras disciplinas, a luta já não fazia sentido e hoje são simplesmente histórias do passado. C.N.: Em 1966 começou a dar aulas na Espanha, sendo o segundo mestre que o fazia neste país e um dos pioneiros na Europa, pelo que tem sido um dos “pilares” do Karate Espanhol. Está satisfeito da sua obra? M.H.: Se estou satizfeito com o meu trabalho no Karate? É uma pergunta difícil de responder… Do que fiz, eu estou satisfeito… Do resultado, não! Mas não me lamento. Nesta vida há mais gente desagradecida que agradecida. Mantenho ainda gente que me é fiel. São verdadeiros karatekas que sentem o Karate no coração e não por dinheiro, nem por trofeus e tudo o mais… E isso é o que vale! C.N.: A Federação ou algum estamento reconheceram a sua contribuição ao Karate Espanhol? Porque o senhor foi pioneiro e o primeiro em muitas coisas... M.H.: Penso que não tenho sido reconhecido pela Federação nem por nenhum outro estamento. É mais, penso que em algumas ocasiões me têm utilizado. Consegui o título de Árbitro internacional em Edimburgo e o de Árbitro e Juiz de Kata Mundial no Campeonato do Mundo de Madrid, com bastantes empecilhos por parte da F.E.K, tendo pago do meu bolso uma quantia considerável de dinheiro, sem ajuda alguma por parte da F.E.K. Quando fui a Edimburgo para ter o título, sinto orgulho em ter sido o número um no exame teórico, tendo recebido parabéns da comissão que o Sr. Max Vichet presidia. Por parte da Espanha fomos cinco ou seis pessoas, capitaneados pelo Sr. Antonio Oliva. Foi o único a quem lhe foram pagas as despesas, todos os outros tivemos que pagá-las da nossa algibeira. Por certo, fui o único que aprovou o exame de árbitro e outras três pessoas aprovaram o de juiz (2ª categoria), o Sr. Oliva não aprovou o de Árbitro nem o de Juiz. Realmente me sentí muito satisfeito por ser o único dos que tinham ido da Espanha a aprovar o exame de Arbitro Mundial de Kumite e Juiz Mundial de Kata. C.N.: A sua licença de árbitro é a número um da F.E.K.E. e obviamente, nestes anos houve uma evolução. O que pensa das regras de arbitragem actuais? Mudaram para melhor ou para pior? M.H.: A arbitragem de Karate é muito difícil, é quase impossível com a vista humana ser equânime, ainda mais com a maneira de pontuar nestes dias. Faz

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bastante tempo que não arbitro nem vejo campeonatos, mas se não mudar por completo a maneira de decidir um vencedor e um perdedor, não não mudará nada nem para melhor nem para pior. C.N.: Obviamente se modificaram muito nos últimos anos com vistas a que o Karate seja olímpico. Pensa que será positivo que o Karate seja olímpico? M.H.: Enquanto o sistema de arbitragem não mudar completamente, nunca será olímpico e penso que se chegar a ser olímpico, vai haver muita mais política dentro das federações, escolas, etc. e o Karate perderá por completo o seu espíritu como Arte Marcial, para se tor nar mais um desporto. Talvez não aconteça a curto prazo, mas acontecerá conforme os anos forem passando. C.N.: O Mestre arbitrou o primeiro campeonato da Espanha de Karate, foi campeão António Oliva. Que diferenças existiam no nível daquela época à actual? Há mais ou menos nível nos nossos dias? M.H.: Lembro-me bem desse primeiro campeonato da Espanha, que contou com a presença do Rei, naquela época Príncipe, em que ficou António Oliva como primeiro campeão da Espanha. Os campeonatos daquela época tinham muita mais marcialidade que os actuais; actualmente se tem refinado muito o nível técnico. Todas as coisas com o tempo melhoram, caso contrário seríamos parvos! Naqueles anos o Karate espanhol, estava quase no último lugar da Europa, mas depois de ficar António Oliva sub-campeão da Europa em Londres e Pepín Martínez no primeiro lugar como campeão da Europa, sendo ambos espanhois, hoje o Karate espanhol é um dos melhores do mundo, a nível do Japão, França, Inglaterra… C.N.: Um dia o Mestre declarou que se dava excessiva importância à competição e que no Karate, o realmente importante é alcançar o “DO”. Tal como hoje se ensina, pensa que seja possível alcançá-lo? M.H.: O Karate-Do é uma das artes marciais japonesas e ao mesmo tempo `pode ser praticado como desporto; para isso existem os campeonatos… O karate é para todos, jovens, idosos, crianças, etc. E é indiferente se é homem ou mulher. A época do Karate desportivo é demasiado curta, o importante é ser constante. O Do o pode e deve ser encontrado por um através da prática. Penso que Do não é coisa que se ensine, mas que por si mesmo cada um aprende. C.N.: Mestre, pensa que um ocidental pode “sentir” o Karate como um japonês? M.H.: Tenho a certeza que um

ocidental pode sentir o Karate como um japonês, ou pode senti-lo melhor, depende da pessoa. Tenho conhecido bastantes ocidentais que sentem o Karate por ter lido livros ou visto filmes, mas também tenho conhecido bastantes ocidentais que sentem o Karate como japoneses e quero mostrar o meu grande respeito a eles, mas não direi aqui os seus nomes. C.N.: Nas aulas actuais se ensina a filosofia antiga? M.H.: Isto é questão da pessoa que der as aulas. Devo dizer que a filosofia antiga é muito importante, como a história em geral ou qualquer outra coisa, mas também é importante praticar, suar, etc… Tudo é importante! C.N.: Serão apreciações minhas ou dantes havia mais nível, tanto em Kumite como em Katas? M.H.: Certamente que o nível do Karate, tanto em kata como em kumite, tem melhorado tecnicamente, mas acredito que se tenha perdido em essência, em marcialidade… Serei eu um dos poucos que mantêm a essência de antigamente? C.N.: Na sua opinião, qual o motivo do Karate ter descido em número de licenças na Europa em geral e em especial na Espanha? M.H.: Até agora existiam muito interesses na questão das licenças obviamente, a mayor número de licenças, mais dinheiro a entrar e portanto, mais ajudas, o que implica uma política e fricções entre estilos, onde a única coisa em vista é o proveito de uma minoria, sem ter em consideração o interesse da maioria. A política da federação não se pode basear só em campeonatos. A grande maioria dos praticantes não querem competir e deveriam pensar em oferecer outras actividades e alternativas. Um grande número de praticantes de Karate não tiram a licença porque não lhes da vantagem alguma, apenas o seguro médico e isso, qualquer associação inscrita em alguma das múltiplas mútuas do país, oferece a mesma cobertura com menos custo. Só renovam a licença aqueles que querem ter oficialmente seu título de Cinturão Negro ou o de monitor. Os federativos deviam começar a considerar estas questões. E que conste que eu todos os anos tiro a minha licença federativa, mas entendo o descontento de muitos karatekas. (faz uma grande pausa e continua): Para praticar Karate-do não faz falta licença, para competir, sim. C.N.: Na actualidade, se pode viver do Karate? M.H.: Esse é um assunto que eu sempre falava com os meus alunos e lhes dizia: Nunca pensem em viver do Karate, porque o Karate é uma arte. Eu vi o meu Mestre Kachi como ensinava Karate, quase gastando dinheiro para


nos ensinar. Era um grande contador oficial do Estado, que tinha o seu escritório. Nós éramos estudantes com fome, íamos à sua casa e sempre nos convidava, assim sendo, mesmo que lhe pagássemos alguma coisa, ele sempre gastava mais. Vendo o exemplo do mestre Kachi, eu nunca pensei em viver só do Karate e com muita sorte pude trabalhar durante 35 anos em um centro de reabilitação de Santander (um dos melhores da Espanha e inclusivamente da Europa). Assim, aos meus alunos que queriam ser no futuro professores de Karate, eu os aconselhava terem um trabalho certo, além do Karate. Dar aulas de Karate para comer é coisa que me desgosta. No Japão poucos mestres vivem só do Karate, mesmo sendo um grande mestre, e isto aconte tanto no Karate como no Judo, no Kendo, etc. C.N.: Quantas horas poe semana dedica a treinar? M.H.: Depois de me encarregar do meu ginásio fará no mês de Dezembro 40 anos, vejo e faço as coisas de outra maneira. As aulas da parte da tarde são dirigidas por Ramón Crespo Paredes, que é um grande entusiasta do Karate. Eu dou aula aos meus antigos alunos uns 15 karatekas que levam 30, 35 e até 40 anos de prática continuada - às terças, quintas e sextas-feiras das 7.30 às 8.30 horas.

Praticar e treinar é muito importante mas é ainda mais ser constante e ter qualidade. Assim gostaria que fosse enquanto o meu corpo e a minha mente o permitirem. C.N.: ¿Qué futuro pensa que aguarda ao Karate? M.H.: O Karate, como todas as coisas, passará por tempos duros e tempos de prosperidade, maus e bons, mas enquanto houver gente que queira praticar, terá continuidade. A história se repete… C.N.: Quê projectos tem para um futuro próximo? M.H.: Falta pouco para eu fazer 70 anos. No Japão se festeja muito este aniversário como 'Koki', que quer dizer “muito estranho chegar a esta idade”. Desde os 22 anos que vivo na Espanha; tenho tido de tudo, bom, mau, árduo…, mais árduo que outras coisas. Gostaria de viver o resto da minha vida tranqüilo, como estou vivendo actualmente. Faz 6 anos que fiquei viúvo, mas por sorte Deus me trouxe outra mulher do Japão. Mas 2 ela é espanhola, aqui da zona e é uma antiga doente de onde trabalhei e também aluna de Karate; viveu 35 anos no Japão e compreende perfeitamente como é a mentalidade japonesa. Vive comigo faz cinco anos e este

ano vamos casar. Assim viviremos juntos para sempre, com os meus alunos de Karate, veteranos que já fazem parte da minha vida...” (1) O termo Kime alude ao aproveitamento e a concentração da energia física e mental no momento em que o karateka que ataca ou defende impacta contra o oponente. Literalmente em Japonês significa “decidir” ou “última decisão”, e faz referência à capacidade para atacar ou defender-se sem exitar e o que é mais importante, finalizar o ataque ou a defesa com rapidez de decisão e convicção. Foto 1: O mestre Hattori com seus alunos mais veteranos; alguns deles envelheceram junto com o mestre e as suas ensinanças. Foto 2: Ramón Crespo Paredes, Miguel Ángel Revilla Roiz e Tatsuhiko Hattori Itoh. Foto 3: O mestre Hattori arbitrando no campeonato da Europa de 1976, realizado em Geneve. Foto 4: O mestre com alguns dos seus alunos mais veteranos, alguns deles levam quatro décadas treinando com o mestre.

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Defesa Pessoal Enfrentar-se ao frio aço O que fazer perante uma ameaça com faca? Na curta distância, a faca é a arma mais letal. As estadísticas do FBI mostram que 35% dos crimes violentos se cometem com faca. Se consideram crimes violentos o assalto à mão armada, roubo, violação. Nos Estados Unidos os crimes violentos desde 2004 aumentaram de um 2% a um 5% a cada ano e não parece que possa diminuir. Só na cidade de Nova York se cometeram 55.000 crimes durante 2005 e esses são só os que estão registados. Acontece que crimes como a violação, não são todos denunciados devido à vergonha que sentem as vítimas por terem de enfrentar-se a essa situação, em caso de ter de subir a um estrado em um julgamento. Os crimes violentos se tornaram parte da nossa cultura, de tal maneira que quando se informa acerca de um crime atroz na Televisão, já não nos impressiona. Aqueles que cometem roubos, violações e assaltos à mão armada, frequentemente se servem de facas para impor a sua vontade às vítimas. A faca proporciona muitas vantagens para isso. É silenciosa, é letal e não deixa casquilhos de bala nem outras pistas que possam ser seguidas. Em defesa pessoal, muitos norte-americanos decidem portar facas para se protegerem. Reparem nos pequenos sacos em coiro junto dos cintos, ou um pequeno botão em metal que se une às algibeiras das calças, si ainda não se percebeu que isto acontece na rua, de certeza vai surpreender ver quantas pessoas portam este tipo de armas. Apesar das facas serem armas, elas constituem um problema nas leis que controlam as armas. Na nossa sociedade, a faca é considerado uma ferramenta e são precisas muitas justificações para portar uma, especialmente entre os operários. Muitos se tem falado no rápido aumento em vendas das armas de fogo, especialmente após os atentados terroristas, mas ninguém diz que os fabricantes de facas nunca tiveram melhores vendas. O que faria o leitor, perante um assaltante que ameaça com uma faca? Para um cidadão normal a resposta é simples: correr tão depressa como possível e se as circunstâncias permitem ter uma saída rápida. Mesmo que o assaltante nunca tenha usado uma faca numa situação de perigo para a vida, quem não está preparado não tem nenhuma possibilidade perante o frio aço. A situação acabará pela via rápida. A única situação em que aconselho enfrentar-se a uma faca, é portando uma pistola. Claro está que se este facto é evidente, o oponente não fará nenhum movimento para atacar com a sua faca. Como se acostuma a dizer: “Nunca leves uma faca a um tiroteio”. Já contemplamos os detalhes da situação e já disse a minha opinião. Também reconhecemos que muita gente porta facas para proteger-se e que outros podem sentir que uma faca é digna de consideração. Também aceitamos que só se tem oportunidade de defender-se levando uma faca e que poderia ser necessário lutar sem piedade para salvar a nossa vida. Em ambas as situações, a única coisa justa

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Reportagem é ter uma ideia do que temos por diante. Se o leitor é apreensivo, devia não ler o resto do artigo, pois pode ser repulsivo e cruel para pessoas sensíveis. A folha rectilínea de duplo fio é a melhor para defender-se com uma faca. A folha rectilínea permite fazer movimentos entre as costelas, na direcção dos olhos, orelhas ou garganta do assaltante. O dupla folha permite fazer um movimento cortante com a faca em qualquer direcção, com o mesmo efeito. A longitude da folha da faca varia e deve ser escolhida consoante a intenção de uso e para facilitar a ocultação. Isto é o correcto: para ser efectivo, devemos evitar que o possível atacante se aperceba de que estamos armados. Uma folha de uns 8 centímetros pode ser útil para cortar no pulso, garganta, perna ou rosto, mas para apunhalar entre as pernas, pulmões, ou rins, tem de se usar uma folha mais comprida para alcançar os órgãos vitais. Há três tipos principais de facas disponíveis: a faca de bota, a faca de cinto e os facas dobradiça, que são as mais usadas. A desvantagem das facas dobradiças é que se demora mais em pode-las utilizar, um factor que pode determinar quem sobrevive em um confronto. Portanto, estar pronto para a acção requer de prática e muita atenção aos movimentos do oponente. O tempo é essencial numa situação à vida ou morte na que se usam facas. Isso quer dizer que a faca que se usar deve ser rápida e fácil de pôr em acção e o oponente não deve ser ciente de que estamos armados. No caso de se aperceber de que estamos armados, vai deixar de lado a fase de intimidação (apesar de alguns assaltantes gozam com essa fase) e vai passar directamente a atacar com a faca. Temos que considerar estes assaltantes muito sérios - só um parvo ameaça alguém com uma faca sem intenção de usá-la. Se usarmos qualquer arma de defesa pessoal, devemos pedir informação à polícia local, para conhecermos as leis locais ou estaduais a esse respeito (se houver alguma) e então considerar essa informação conforme com a necessidade de portar uma faca para defesa pessoal. Em muitos estados a posse de facas de duplo fio é ilegal e portanto podemos ser presos. É considera arma táctica a que tem um só propósito. Nos três estados, Nova York, Nova Jersey, Connecticut, se permite portar uma faca dobradiça sempre que a folha não supere os 10 centímetros. Mas isso não significa que se possa portar uma faca rígida da mesma longitude. Por exemplo, no Reino Unido é ilegal portar uma faca sob qualquer circunstância. É extremamente importante estudar as leis locais a esse respeito. É claro que eu não aconselho a fazer nada que seja ilegal, mas se nos matarem em um confronto, a situação é irreversível. Por outro lado, si sobrevivemos ao ataque sempre poderemos contratar um advogado para que faça a nossa defesa legal - sempre e quando não façamos um corte no adversário de mais de dois centímetros. A justiça pode ser tão perversa quando nos defendemos com uma faca como quando nos defendemos com uma pistola. Vamos supor que nos assalta de madrugada alguém que pretende partir-nos a cabeça para nos levar a carteira. Se podemos puxar pela nossa faca e somos bem sucedidos defendendo-nos, não devemos chames nem procurar autoridades. Si o fizermos pode acontecer estarmos no lado errado da lei (há advogados que aceitam este género de casos) e acabaremos acusado e pagando as facturas de hospital do assaltante, como resultado de nos termos defendido. Se o leitor tem uma faca em casa para se defender dos ladrões, pegue uma tira de velcro na pega da sua faca e outra no gonzo da porta. Poderia ter outra por cima do gonzo atrás da porta. Tome cuidado de estarem longe do alcance das crianças. Pode ter outro faca no quarto de dormir, com acesso fácil. No automóvel, o melhor lugar para guardar

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Defesa Pessoal uma faca é debaixo do assento. Pode considerar situar uma faca em outros lugares que sejam acessíveis, dependendo de sua situação. O facto de ter uma faca acessível não serve de nada se quando a empunhamos não sabemos utilizá-la. A maneira de segurar na faca também é importante, assim como o impacto psicológico que causa ao atacante. Se usamos um agarre adequado e aparentamos ser um experientes no seu uso, podemos evitar uma situação perigosa. Não se arriscariam a lutar contra alguém que pode usar melhor a faca. Por esta razão, um ar de confiança (mesmo que seja difícil armar-se de valentia) pode fazer que o confronto não chegue mais longe. Mais uma vez, não estou aconselhando fingir numa situação perigosa - se empunhamos uma faca é melhor que saber utilizá-la para proteger-nos. Não há nada pior que empunhá-la com um fraco agarre e que se veja que estamos a fingir. Dois tipos de agarre ajudarão de maneira considerável a usar a faca. Um é o agarre de florete, no qual o polegar se situa em volta da pega. O outro é o agarre de sável; neste caso o polegar deve situar-se atrás do protector e se usa para defender-se dos movimentos de corte do oponente. Há um terceiro agarre que é do “pica gelos”, que habitualmente escolhem a maioria das mulheres. É estupendo para movimentos de cima para baixo, mas deixa-nos a descoberto perante um ataque. A nossa posição determina a nossa efectividade, além de informar o atacante acerca da nossa habilidade ou falta da mesma. Se nos enfrentarmos a ele situados completamente de frente, os nossos movimentos ofensivos e defensivos serão limitados. Além disso, oferecemos muitos objectivos para cortar ou apunhalar e damos-lhe ocasião de nos desequilibrar facilmente. Um lutador de faca habilidoso se situa em guarda com um pé atrás do outro, o que só permitirá ao oponente alcançar um lado do corpo. O pé adiantado pode usar-se como ponto de pivot, o que permite girar para a frente ou para trás com facilidade. Se usamos a mão direita, como a maioria das pessoas, situamos o pé direito atrás. A isto se chama a posição Apache e é a que utilizam os Corpos de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, a Força de Defesa Israelita e a maioria dos corpos de elite de combate do mundo. Neste ponto, vamos parar e avaliar a situação. Pela razão que seja, estamos numa situação de vida ou morte. Estamos nela porque não há maneira de evitá-la. O oponente está armado com uma faca e nós também. Já indiquei como realizar os agarres da faca correctamente e como situar-nos em frente do atacante. Quando começa, a luta com faca é tudo menos justa. Vamos usar todas as artimanhas que nos venham à cabeça. Vamos fazer o possível para desequilibrar, não deixar situarse ao oponente e distrair a sua atenção. Gritamos; nos pomos de cócoras; agarramos lixo, areia ou pedras que lançamos à sua cara, ao mesmo tempo que tentamos cortá-lo. Com a mão livre procuramos na algibeira moedas que lhe lançamos à cara. Agarramos um pau se possível e usamo-lo para desviar o seu ataque e bater no seu pulso. Quanto mais rápido o podermos derrotar, melhor. Resumindo, nos tornamos uma “fera selvagem” antes dele fazer o mesmo. O efeito psicológico nos fará segregar adrenalina; neste caso, é provável atacá-lo com a guarda baixa. Aqui é onde os especialistas versados avaliam a situação. O assaltante sem dúvida nos tomou por uma vítima indefesa De repente mudou a imagem que tem de nós. A maioria dos assaltantes com faca abortariam o ataque neste ponto. Excepto os que sejam sádicos, estúpidos ou estiverem drogados. Este tipo de atacantes continuaram adiante com o ataque, porque não sabem fazer outra cosa. Nesse caso é importante que sermos nós a fazer o primeiro corte e que seja rápido. Quando uma pessoa recebe um corte, se produz um choque psicológico peculiar, especialmente se o corte começa a sangrar e se é abundantemente, melhor. Por isso devemos tentar cortar rapidamente o oponente, para que comece a sangrar. A pessoa que recebe o corte normalmente começa fraquejar, a se inclinar para trás, ou simplesmente perder a confiança e abandona o confronto. Se o atacante não está suficientemente atordoado para reprimir o seu ataque, então de certeza que nos encontramos numa luta real. Teremos que o deixar ferido ou matá-lo para acabar com o confronto.

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Reportagem Como podemos ver, estamos numa situação derivada de usarmos a faca para defender-nos até chegarmos ao ponto em que nos afastemos de qualquer comportamento civilizado e lutemos pela nossa vida. Isto é coisa que nem todo indivíduo pode fazer com facilidade. Esta é outra boa razão pela qual eu recomendo que evitar usar a faca como arma defensiva - a não ser que se seja capaz de tomar parte numa luta selvagem, sem duvidar. Quem duvide numa luta com faca, acabará perdendo inevitavelmente. Eu não acredito que alguém tome parte de maneira insensata, em algo que não é capaz de enfrentar. Apesar disto, quando se resolve portar uma faca para defesa, há mais uma coisa que tenho a dizer. A retrospecção é mais clara que a premonição, mas devemos pensar mais além e afastar-nos das zonas em que podes ser atacados com faca. Se vemos uma zona na qual pensamos que pode haver um ataque, o melhor a fazer é ser discreto e abandonar a zona o mais rapidamente possível. Mesmo estando armados, devemos fazer todo o possível para evitar uma situação desagradável. No pior dos casos, se tudo isto falhar e há um conflito, devemos ter sempre a opção de nos defendermos.

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Dmitri Skogorev é um dos principais especialistas internacionais no ensino das Artes Marciais Russas, Director da escola russa de artes marciais "Sibirski Vjun" (SYSTEMA "SV") e Presidente do Centro Internacional de Artes Marciais Russas. É também autor de vários livros e programas de combate corpo a corpo e membro homorífico da organização das forças aéreas de assalto e dos veteranos das forças de operações especiais "Gvardia". Desde 1988, Skogorev tem sistematizado e analisado estruturalmente o Sistema russo de Artes Marciais, pesquisando em Psicologia aplicada e Bioenergética, o que repercutiu no desenvolvimento teórico e prático dos programas de "Sibirski Viun". O Sistema russo de combate corpo a corpo se aplica em situações extremas, tanto no âmbito profissional como civil e suas cracterísticas são as seguintes: 1.- Não existem métodos específicos frente a situações específicas (só existem acções básicas baseadas nas leis naturais). 2.- Não faz sentido o trabalho de "força contra força" (capacidade para sentir a força e geri-la), e… 3.- O trabalho de acordo com a situação (a situação muda constantemente em tempo e espaço).

REF.: • SKOGOREV1

Todos os DVD's produzidos por BudoInternational são realizados em suporteDVD-5, formato MPEG-2 multiplexado(nunca VCD, DivX, o similares) e aimpressão das capas segue as maisrestritas exigências de qualidade (tipo depapel e impressão). Também, nenhum dosnossos produtos é comercializado atravésde webs de leilões online. Se este DVD não cumpre estas exigências e/o a capa ea serigrafia não coincidem com a que aquimostramos, trata-se de uma cópia pirata.


Nada como este trabalho foi visto até hoje pelos apaixonados estudantes de Shaolin Hung Gar. Trata-se da primera forma com parceiro de Hung Gar, a Gung Gee Fook Fu Doy Dar. Para treinar até o limite do combate realista com um parceiro, é absolutamente necessário aprender esta forma. O Mestre Martin Sewer, 8º Dan, com a ajuda de dois de seus principais instrutores, mostra os subtis detalhes desta forma desenhada para a luta. Não em vão se diz que a “Gung Gee Fook Fu Doy Dar” ajuda os estudantes interessados em progredir, a alcançar novas habilidades de combate e melhorar enormemente as suas habilidades. Não percam a ocasião de descobrir o verdadeiro conhecimento do Templo de Shaolin, assim como o autêntico Hung Gar Kung Fu, pela mão do Grão Mestre Martin Sewer!

REF.: • SEWER5

Todos os DVD's produzidos por BudoInternational são realizados em suporteDVD-5, formato MPEG-2 multiplexado(nunca VCD, DivX, o similares) e aimpressão das capas segue as maisrestritas exigências de qualidade (tipo depapel e impressão). Também, é nenhum dosnossos produtos comercializado atravésde webs de leilões online. Se este DVD não cumpre estas exigências e/o a capa ea serigrafia não coincidem com a que aquimostramos, trata-se de uma cópia pirata.


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É um dos grandes das Artes Marciais Russas, atrás de esse olhar de lobo, há um Mestre das Artes Eslávicas, alguém que viajando por todo o mundo, mais tem feito para dar a conhecer as revolucionárias maneiras de conceber o combate que se desenvolveram na antiga União Soviética. Hoje, ele apresenta o seu primeiro DVD com Budo International. Mais vale que o não percam! Dimitri tem muito a dizer, muito o que ensinar... É impressionante! ste sistema de Artes Marciais tem a sua origem nos serviços especiais da desaparecida URRS, como o KGB, o (FSB), o GRU, Ministério do Interior, Ministério da defesa (equipa de assalto aéreo, SWAT) e também na tradição cultural dos antigos eslavos. Muitos aspectos do estilo são segredos de estado. Sob as condições das operações do combate moderno, a Arte Marcial russa é tão actual como os aviões militares modernos e o seu equipamento. É uma arma poderosa difícil de ensinar, mas ao contrário das armas habituais, é difícil de se perder. Em 1923, após a separação do exército da URRS, começou a Guerra dos Partissanos ou Soldados da Resistência. Os Partissanos, eram os guerrilheiros que tinham de imobilizar a retaguarda do agressor. Os guerrilheiros necessitavam um sistema de luta militar para enfrentar os desafios que apresentava o inimigo. Os homens de serviço (NKVD (KGB) também necessitavam um sistema para lutar contra os terroristas, bandidos e guerreiros clandestinos. Então e graças à sociedade DINAMO surgiu o primeiro clube de defesa pessoal organizado por Victor Spiridonov. Spiridonov adquiria as suas habilidades no exército czarista - as técnicas dos Plastuns (Cossacos) que podiam m o v e r- s e silenciosamente em qualquer superfície e capturar prisioneiros sob as condições mais complicadas. Ta m b é m s e u n i r a m V l a d i m i r Ascshepkov e Anatoly Kharlampiev para desenhar o sistema de autodefesa militar. O sistema Spiridonov e Aschepkov tinha a sua origem na luta Sambo (defesa pessoal sem armas). O Sambo se tor nou uma arma poderosa para os homens do serviço secreto.

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Segunda Guerra mundial - 1941 Se formou uma brigada motorizada para missões especiais. Estava constituída por formados desportistas, mestres em desportos de luta, boxe, tiro, esqui…, especialmente treinados. Em 1942 a SMERSH (Morte aos Espias) se formou para lutar contra os invasores alemães. Também se organizaram grupos especiais para capturar prisioneiros. Em 1950 se formou um destacamento especial na GRU (Direcção especial da Inteligência do Pessoal do Exército Russo). Em 1979 se criaram os destacamentos especiais “GROM” e “ZENIT”, predecessores do conhecido “ALFA”. 1986 foi um ano de ressurgimento do sistema doméstico militar; se fundou um centro de pesquisa das Artes Marciais Russas, “A Escola” estava comandada por Alexey Kadochnikov. Foram realizados trabalhos de pesquisa nas áreas da biomecânica, cinemática e bioenergética. O sistema está baseado no principio de máximo esforço-reserva. O algoritmo da análise da situação está formado em um nível mental subconsciente, assim como o de prognóstico e descoberta da solução óptima para a tarefa, as habilidades para agir com um sistema agressivo e fazer que nos obedeçam. Estudando a psicologia do combate deu oportunidades improváveis a algumas pessoas. Quem dominar este sistema marcial pode sentir que exerce uma ameaça invisível e que bate no oponente sem realizar um contacto físico, simplesmente usando a energia. Em 1994 os destacamentos especiais do GRU e FSB começaram a usar este sistema renovado.

Dimitri Skogorev, o autor Dimitri Skogorev, foi oficial do departamento de poder especial

Fotos: Giuseppe D "Angelo (retrato), Mira Grande Axelsson (foto ao natural).

(Serviço de Protecção Física) dependente da Administração do serviço Federal da Fazenda e Polícia da Fazenda na região de Novosibirsk, de 1995 até 2001. Actualmente é um dos principais especialistas no ensino das Artes Marciais Russas, tanto na Rússia como no estrangeiro. É director da escola Russa de Artes Marciais “Sibirski Vjun” (SYSTEMA “SV”) e Presidente do Centro Internacional de Artes Marciais russas. É autor de vários livros e de um grande número de programas relativos ao combate corpo a corpo. Organiza grupos de estudo sobre esta matéria na Rússia e no resto da Europa. É um conhecido membro da organização de veteranos das forças de assalto aéreo e das forças de operações especiais “GVARDIA”. Começou a aprender Artes Marciais em 1980 na secção de Sambo da DINAMO. De 1981 a 1984 foi treinado em Karate por Sergey Danilov (que era juiz inter nacional diplomado de Taekwondo, 5ºdan). De 1985 a 1987 formou parte do exército soviético, no departamento de luta corpo a corpo. Desde 1991 organiza reuniões com os diferentes representantes das Artes Marciais Russas. Em 1998, 1999, 2002 organiza seminários sob a liderança de Alexey Kadochnikov (na cidade de Krasnodar, Rússia). Em 1991 participa numa reunião com brilhantes representantes das Artes de Luta russas, como G.N.Bazlov (Tver); em 1992 com A.I.Retjunsky (Presidente da Federação Russa de Artes de luta, S. Petersburgo); em 1992, 1995, 1996, 1997 - com o Príncipe B.V.Golitsyn, (S. Petersburgo, estilo patrimonial); em 1998, 1999, 2002 com A.A.Kadochnikov (Krasnodar). Com E.Bogaev em 1994, 1995, 2000. Com A.L.lavrov em 2008 (Zelenograd). Com M.V.Ryabko em 2009 (Moscovo).


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Sistema Russo Desde 1988 Dimitri Skogorev tem estado sistematizando e fazendo uma análise estrutural do Sistema Russo de Artes Marciais; pesquisando sobre psicologia aplicada e bioenergética, cujo resultado teórico e desenvolvimento prático está por sua vez representado nos programas da escola “Sibirski Vjun”. 2000 - Melhora as suas habilidades profissionais na instituição de Educação do Estado "Instituto nacional da Saúde" (grupo de Novosibirsk) "Sistemas Tradicionais de melhora de combate individual russo" (Registratsionyj 0300072). D.V. Skogorev tem o estatuto de instrutor internacional (Grande Mestre de RMA Systema "SV" (“Sibirski Vjun”). Em 2007 é Mestre Fundador e Coordenador da Organização mundial da Defesa Pessoal (RMA Systema "SV" (“Sibirski Vjun”)).

A escola A escola de Artes Marciais Russas “Sibirski Vjun” foi fundada por Dimitri

Skogorev em 1988, em Novosibirsk (Sibéria). Os métodos actuais de treino das Artes Marciais russas desenvolvidas por Dimitri Skogorev foram aprovados pela Administração do serviço Federal da Fazenda e a Polícia da Fazenda em Moscovo (No. 3/114 data 20.06.97.), e também pelo Administração do serviço Federal da Fazenda e pela Polícia da Fazenda na região de Novosibirsk (No. 134/18 data 12.05.97.) e pela escola especial secundária da milícia de Novosibirsk, dependente do Ministério do Interior. (No.19 data 7.05.97.). O sistema russo de Artes Marciais tem diferentes aspectos: militar (exército, polícia) e defesa pessoal comum (para a povoação civil). Os métodos da escola “Sibirskyi Viun” permitem aos instrutores ensinar aos estudantes as bases do combate corpo a corpo russo. O interesse pelas Artes Marciais Russas se deve à simplicidade da sua percepção e filosofia. O ensino se baseia na estrutura (sistema) o que permite aprender tanto as bases da defesa

corpo a corpo e dominar o manejo de armas e diferentes objectos, assim como adquirir a habilidade de lutar em um espaço limitado, contra vários oponentes armados e o uso dos elementos psico-energéticos. Os estudantes da escola “Sibirskyi Viun” aprendem luta corpo a corpo com Dimitry Skogorev, de acordo com a sua metodologia pessoal, tomando parte em acções militares do Ministério da Defesa da Rússia, realizando tarefas mandadas pelo Ministério do Interior da Rússia de maneira confidencial e coordenando os esforços. Nas situações extremas serão capazes de salvar tanto as suas vidas como as dos seus parceiros. Tanto o sistema militar russo como o trabalho dos instrutores em especial recebem uma nota alta. O uso do sistema russo de luta corpo a corpo proporciona a oportunidade de agir para salvar a vida quando se luta em situações extremas, de acordo ao que segue: • Não há métodos específicos para acções específicas (só acções básicas baseadas nas leis naturais)


Sistema Russo • Não se trabalha “força contra força” (se trabalha a habilidade para sentir a força contrária e usá-la); • O trabalho consoante a situação (A situação muda constantemente no tempo e no espaço). Tudo isto se adquire aprendendo no processo do treino os princípios chave, as leis físicas e biomecânicas do corpo humano, assim como as leis de inter-acção humana quando se estabelece um diálogo. A ausência de métodos específicos contra acções específicas significa que há aplicações chave de defesa, combinadas com técnicas de bater e derribar, que junto com o conhecimento de sistemas de alavanca e as maneiras de desequilibrar física e mentalmente o atacante, servem para derrotar o agressor em qualquer situação. Não se trabalhar “força contra força” no sentido físico, significa a negação das formas duras (a fazer mais lento ou deter o ataque do contrário com mãos e pernas fica excluído), em seu lugar se usa a força e a inércia do oponente, e se acelera. Assim se evita o uso da força bruta e depois se controla. Os movimentos de defesa são suficientemente curtos e racionais

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o que por sua vez dão vantagem em força e tempo. Assim, se detém a força bruta e então se controla. As são acções de protecção suficientemente curtas e racionais dando vantagem em força e tempo. A não Resistência se realiza em todos os níveis, mas com controlo tanto físico como mental. O trabalho é consoante a situação quando se repete a mesma acção, por exemplo se o mesmo golpe é interceptado várias vezes, as acções defensivas devem ser diferentes, posto que a situação muda a cada vez, as características do golpe (como força velocidade, longitude, etc.) serão diferentes, o que permite que o processo de coordenação se ajuste à situação real. O treino se desenha sobre esta base em um método “frondoso” - um conjunto de acções que se fundamenta em um movimento básico. Se se escolhem muitos movimentos básicos, se dá a oportunidade de treinar um lutador não na aplicação de movimentos imperturbáveis bem treinados, mas para agir em cada diferente situação aplicando a velocidade e a força que seja possível, em um período de tempo relativamente curto.

O sistema O programa de treino de luta corpo a corpo do sistema russo inclui elementos como: Acrobacias especiais: Capacidade de cair com segurança numa superfície dura. Se usa a queda como defesa de um ataque para um ulterior trabalho no combate.



Sistema Russo Biomecânica A mecânica trata da análise especial dos diferentes movimentos no espaço. As leis da mecânica que se aplicam a qualquer organismo vivo se definem como biomecânica. A biomecânica é uma ciência que estuda as leis sob as quais age qualquer organismo vivo que lhe permitem realizar tarefas mecânicas (estáticas e dinâmicas) com a mínima acção muscular. Um ser humano está considerado como uma estrutura biomecânica que consiste em um sistema de alavancas de ossos, que estão unidos pelas articulações e o retináculo - um sistema muscular cujo movimento

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abrange livremente mais de 250 graus muscular. • Psicofísica - Bioenergética Psicofísica é a ciência que estuda os fenómenos físicos e psicológicos e a relação entre eles. Para a luta corpo a corpo se consideram elementos (tanto internos como externos) a consciência, a percepção, a memória, a atenção, etc., assim como a resposta do oponente a estas ou aquelas acções e o domínio psíquico do atacante. • Libertar-se dos agarres Agarres chave e como libertar-se deles. • Os métodos de controlo • Métodos de batimento com mãos e pernas.

• Estudo das linhas, ondas e vibrações dos batimentos. • Técnicas de batimento: estudo e treino dos golpes em condição de contacto (ombros, antebraços, bíceps, cotovelos, joelhos etc.) • Defesa contra golpes de mãos e pernas. • Estudo dos esquemas e princípios chave. • Maneiras de desequilibrar o oponente e seu controlo no chão ou submissão • Defesa contra pau. • Defesa contra ameaça de pistola (em contacto e à distância) • Defesa contra faca em contacto e à distância.


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Sistema Russo • Defesa contra vários atacantes com ou sem armas. • Trabalho em grupo (unidade), ajuda mútua. • Maneiras de dominar uma arma. • Trabalho em condições difíceis com diferentes combinações • Trabalho no chão. • Uso de pistola, pau, etc., contra outra arma (faca, pau, etc.). • Trabalho com objectos improvisados para usá-los como armas. • Trabalho em espaços limitados, contra um muro, sentado, etc. O sistema de treino também inclui: Preparação física geral, ginástica de articulações, métodos de respiração, psicofísica, psicologia, neuropsicologia. Treino de combate - sparring, individuais. competições (torneios) em

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competições de: luta, boxe, combate com faca, etc. Para enfrentar com êxito um combate é necessário dominar os três tipos de distância que se treinam nas seguintes práticas: 1. Combate de punhos - para dominar este combate se pratica a meia distância. Métodos de defesa. Técnicas de batimento com mãos e pés. Tipos de movimentos. 2. Esgrima - neste género de combate se domina a longa distância, combate com faca, maneiras de defender-se contra um pau (combate de pau). 3. Luta Livre - Neste tipo de combate se domina a curta distância, maneiras de libertar-se de um agarre ao braço. Estudo e treino de derribamentos, luta com o parceiro no chão. Habilidade para conduzir um combate de contacto.

Certidão de qualificação A certidão (ou diploma) da escola de combate russo “Sibirskyi Viun” determina o nível de domínio das acções básicas que fazem com que os alunos cheguem a ser instrutores. O diploma se consegue após realizar um programa de treino que dura de 4 e 6 anos, onde há exames para superar os 6 diferentes níveis. Aqueles que aprovam os exames de graduação obtêm uma certidão ou diploma de instrutor em combate corpo a corpo da escola russa de combate “Sibirskyi Viun”, devidamente assinado e selado. Durante os anos de trabalho na escola se realizam mais de 60 grupos de trabalho para entrar a fundo no método, assim como sessões de treino de 24 horas. Desde 1993 a 2012 têm assistido a estes grupos de trabalho mais de mil


Novo DVD pessoas. O trabalho permanente permite à escola oferecer metodologias de treino bem desenvolvidas, métodos eficazes de comunicação, e o necessário para alcançar a habilidade no sistema de combate corpo a corpo. A escola “Sibirskyi Viun” (Systema SV) está representada por suas delegações em cidades como Gorno-Altaisk, Angarsk, Seversk, Kiselevsk, Kazan, Ufa (Rússia), Almaty (Kazajstan) etc....

Também tem delegação na Alemanha (director, Fuhrmann), onde se realizaram 8 grupos de trabalho de 1997 a 2012. Também tem escritórios na Bélgica (Aleksandr Balandin). Também se constituíram grupos de trabalho em 2007, 2010, 2012 em Israel (Haifa, Telavive, manager - Mr. Michelson). Em 2010 em Agosto e em Novembro de 2012, na Bulgária (Sofia, Albena). Em 2011, na Eslováquia (Stará Turá (Bratislava).

Nos EEUU, Tuxtla Gutierrez Chiapas. No México Fidel Alfonso León Castillejos Calzada. No Canada (Mr. Krivoshein), na Suécia - em 2009 e 2011 (Mr. Igor Sadonskiy). Na Itália houve 6 seminários em 2006 e 2007, 2008, 2009, 2010, 2011/. 2012; - (Luigi Soprano) EEUU; 2012 - Andrey Patenko, México; - 2012 - Fidel Alfonso Leon Castillejos. Na França (Stephan Surdi). Há numerosos contactos com clubes de combate corpo a corpo da Grã Bretanha.


O primeiro passo do "crescimento" na formação tradicional do Hung Gar Kung Fu Ê o que descrevem muitos estudantes como a aprendizagem da forma principal do sistema, a Gung Gee Fook Fu Kuen ou "A Conquista do Punho do Tigre". Na China, antigamente o tigre era o animal mais forte e mais famoso. Nem os animais nem as pessoas poderiam vencer este

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majestoso animal e basta ver o nome da forma. Dela se dizia: "Aprendeste esta forma. Agora serás até mais forte que um Tigre”. Isto não é só uma superstição. De facto, conforme diz um Mestr e com experiência, o Gung Gee Fook Fu Kuen leva os estudantes a um novo nível no programa do Hung Gar e os põe em forma em todos os aspectos do sistema, tanto físicos como mentais.

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Desenvolvimento da forma com parceiro Mesmo que com estas formas, como o Gung Gee Fook Fu Kuen, se estabeleceram marcas importantes no treino do Hung Gar, os praticantes avançados não deixam de procurar com afinco, aperfeiçoar o sistema e encontrar novas formas para que os estudantes alcancem as suas metas rapidamente, quer dizer, ser um lutador preparado. Com o treino das formas, que são sequências fixas de movimentos, o estudante pratica uma luta contra um oponente imaginário e exercita assim as suas habilidades. Isto funciona tão sumamente bem que um estudante a sós, com a prática das formas pode melhorar as suas habilidades de luta sem assistir à escola. Apesar deste facto, não havia nenhuma etapa intermédia, uma transição entre as formas e a luta real com oponentes ou parceiros de treino. Desde estas considerações e outras similares surgiram as chamadas formas a dois, ou seja, com parceiro. À diferença das formas convencionais, geralmente estas formas estão delineadas para ser executadas por duas pessoas e não por isso são menos perigosas para os praticantes. A vantagem destas formas com parceiro é bastante óbvia. São trabalhadas com um parceiro e portanto há um sólido contacto dos corpos. Assim há interacção e se p o d e m aproveitar estas técnicas de maneira significativa e melhorar as habilidades. Isto motivou os Mestres de Hung Gar a criar uma forma com parceiro

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que tivesse os mesmos benefícios que o Gee Fook Fu Kuen, o que deu como resultado a criação do Gee Fook Fu Dar Doy Dar. Em formas como a Gung Gee Fook Fu Dar Doy, tudo está orientado para avançar no processo. Há um parceiro de treino, um rival de combate. O momento e a "autenticidade" da força utilizada jogam um papel muito importante. A maneira de agir do parceiro vai determinar a força e o timing das técnicas. Isto vai proporcionar conhecimentos a ambas as partes, assim como os resultados numa luta na realidade.

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O que segue, indica como ser mais astuto que o oponente, mas com habilidades realistas e uma possível "derrota". Quando se realizam as técnicas da Gung Gee Fook Fu Kuen se pode incorrer em algumas situações perigosas para quem as executam.

O então e o agora… A aprendizagem da Gung Gee Fook Fu Dar Doy tem sido sempre um desafio para os estudantes de Hung Gar, em especial para os seguem a linha de Chiu. O Grande Mestre Chiu Chi Ling (10º Dan), experiente lutador

e líder do estilo, naturalmente que conhece os movimentos exactos da forma, mas oferece uma versão totalmente livre e improvisada: Era o pé esquerdo ou era o direito? "Não tem importância" - disse o Grão Mestre - "Afinal, tens de trabalhar para atacar com qualquer deles." Ele era um verdadeiro Mestre tradicional. De uma maneira similar se comporta o seu sucessor no estilo o Grão Mestre Martin Sewer (8 º Dan). É um dos poucos europeus que para o beneficio de seus estudantes, assome o desafio de incluir uma forma tão


complexa como Dar Doy, no programa de formação estruturado para a sua “Escola de Kung Fu MARTIN SEWER” Muitos estudantes aspiram a incorporar o Gung Gee Fook Fu Doy no seu caminho no Hung Gar Kung Fu Gee Fook Dar Doy, assim como nas lições e nos princípios educativos. E com toda a razão! Mas o estudante com experiência sabe que não só basta com aprender a forma, como também tem de compreender a forma e reconhecer os seus matizes, para finalmente incorporá-los às suas próprias habilidades. E também sabe que pode aprender também dos seus parceiros de aula. "Quando aspirava ao 2º Dan, o meu Sifu me disse que se pode conhecer a maneira de ser de uma pessoa em um combate". E tinha razão, com c e r t e z a ! Quando se pratica com alguém o Gung Gee Fook Fu Dar Doy, se pode julgar muito bem que tipo de pessoa se tem na frente e

tanto gostam disto os estudantes e seguidores da ESCOLA DE KUNG FU MARTIN MARTIN SEWER, que lhe pediram para publicar um DVD de instrução acerca do Gung Gee Fook Fu Doy Dar. Sob a direcção do Mestre Martin Sewer, dois dos seus instrutores nos mostram a forma na sua totalidade e as suas aplicações. Como é natural, neste DVD também se mostram variações

da forma descrita e explicada pelo próprio Sifu Martin Sewer. Por meio destes filmes educativas, o estudante pode favorecer a sua formação, ampliar os seus horizontes na compreensão do sistema Hung Gar e assim progredir mais rapidamente Sem dúvida, um DVD que admiradores e seguidores devem de ter!

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6 DVDs impressionantes. Boxe para Artistas Marciais! O melhor pack de DVDs sobre Boxe jamais realizado!

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Preço: €22 C/U

Todos os DVD's produzidos por BudoInternational são realizados em MPEG-2 formato suporteDVD-5, multiplexado(nunca VCD, DivX, o similares) e aimpressão das capas segue as maisrestritas exigências de qualidade (tipo depapel e impressão). Também, nenhum dosnossos produtos é comercializado atravésde webs de leilões online. Se este DVD não cumpre estas exigências e/o a capa ea serigrafia não coincidem com a que aquimostramos, trata-se de uma cópia pirata.


Na cultura marcial do Vietname, independentemente de estilo e escolas, duas armas são particularmente importantes: a alabarda Dai Dao e o sabre. O estudo da utilização destas duas armas é indispensável para todo praticante de Artes Marciais Vietnamitas, posto que elas representam as duas grandes ferramentas de luta nos campos de batalha. Se comparamos o sabre e a alabarda, o sabre está limitado os cortes, a picar, e aos bloqueios. Em alguns casos, se pode utilizar a pega do sabre para bater e a guarda para prender as folhas, mas são uns usos de último recurso. Por sua parte a alabarda está verdadeiramente concebida para ser uma arma de uso múltiplo permitindo-nos: cortar, picar na curta e na longa distância, interceptar com a folha e o pau, enganchar a arma do adversário, usar como maça e fazer varrimentos. Neste DVD realizado pelo Mestre Patrick Levet, estudamos as técnicas de base do sabre: ataques, esquivas, bloqueios e desvios, as 15 técnicas fundamentais de sabre, o Quyen de Sabre Tinh Hoa Luong Nghi Kiem Phap, baseado na essência do princípio das duas polaridades opostas, e o Quyen da “Alabarda da Lua e do Sol”, junto com a forma actual de competição, um pouco diferente, com uma alabarda ligeira.

REF.: • VIET5

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Grandes Lutadores

6 DVDs impressionantes. Boxe para Artistas Marciais! O melhor pack de DVDs sobre Boxe jamais realizado!

• Medalha de Ouro Olimpíadas de Seul 1988 • Campeão do Mundo dos pesos Pesados

Ray “sem piedade” Mercer “Entrevista exclusiva com um dos grandes do Boxe que se atreveu com a MMA, medalha de Ouro Olímpica e com uma carreira fabulosa, com motivo da apresentação dos seus 6 DVDs para aprender Boxe” Cinturão Negro: Fale-nos um pouco da sua vida e de como decidiu fazer estes DVDs. Ray Mercer: Fui campeão olímpico em Seul 1988, tendo vencido todos os meus combates por KO. Fui o primeiro militar a ganhar uma medalha olímpica formando parte do serviço activo. Depois fiz-me profissional e consegui ganhar o campeonato do mundo dos pesos pesados da Organização Mundial de Boxe WBO. Quando subia ao ringue tive a certeza de que ia ganhar porque levava o meu amuleto da boa sorte na minha bota esquerda. É um amuleto que é muito importante para mim, levei-o sempre a partir daquelas Olimpíadas e depois quando me fiz profissional na WBO e sempre me dei muito bem. Este amuleto é importante porque me ajuda a todo momento a não esquecer quem sou e o que quero conseguir. Fui o último peso pesado a ganhar a medalha de ouro olímpica e o sétimo boxeador americano a ganhar a medalha de ouro olímpica. Eu acredito portanto, que o meu potencial fala por si mesmo e todo aquele que vir esta série de DVDs, deve saber que tudo quanto há nela é real. C.N.: Conte mais alguma coisa acerca da sua vida e da sua carreira… R. M.: Nasci em Jacksolville, Florida, a 4 de Abril de 1961. O certo é que tive uma infância muito feliz. O meu pai era militar, a minha mãe era dona de casa e vivíamos todos juntos, a minha mãe, o meu pai, a minha avó, as minhas quatro irmãs e eu. Lembro-me de quando tinha 6 anos, o que fazia com os meus amigos, quando íamos brincar e à loja para comprar doces. Lembro-me das festas de Natal e muitas coisas felizes em relação a essa época do ano. Quando tinha uns 9 anos, o meu pai voltou de Vietname, foi destinado a um quartel na Geórgia e nos mudamos para lá. Gostava imenso daquilo, lembro-me de muitas coisas boas de lá, andávamos de bicicleta e íamos nadar com os meus amigos. Foi uma infância muito feliz. Também brigava com as minhas irmãs, especialmente com as minhas irmãs mais velhas, e isso me serviu de ajuda posteriormente, para desenvolver as minhas habilidades no Boxe. Quando

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Grandes Lutadores contava uns 15 anos o meu pai foi destinado à Alemanha. Daquela época lembro-me do cabelo à afro, da música disco e do Liceu donde jogava futebol, que naquela época era o meu desporto favorito. Eu tinha jogado ao futebol mas não fazia nada de Boxe. A minha equipa permaneceu invicta durante 2 anos. Posteriormente voltamos para os Estados Unidos, onde me matriculei na academia Richmond dois anos e depois de fazer uns pequenos trabalhos sem importância, resolvi me alistar no exército. Gostava estar no exército. A vida era dura, era preciso esforçar-me, acordar cedo, marchar, limpar, treinar… Era duro mas eu gostava.

Devo muito à minha etapa no exército. Naquela etapa fui destinado à Alemanha e foi nesse país onde entrei para a equipa de Boxe, onde eu era o único peso pesado. Comecei a treinar com a equipa, me ensinaram os fundamentos dos golpes, as posições, as fintas, tudo…, e depressa comecei a combater. Naquele ano em Alemanha participei em 13 combates e consegui um recorde de 13 vitórias e 0 derrotas; foi uma grande época. Gostava imenso do Boxe e muita gente gostava de me ver lutar, aprendi muito e tive uns grandes treinadores, alguns desses treinadores foram para mim como uma figura paterna. Eu fazia o que me diziam, inclusivamente seguia os s e u s conselhos fora do

ringue, essa é uma das coisas que me fizeram campeão. C.N.: Qual foi o seu combate mais duro? RM.: Foi contra Bert Cooper. Foi um combate a 12 assaltos. Deixou-me muitas sequelas, sofri um corte no lábio, varias feridas na cara, parti umas veias da mandíbula, o que me fez sangrar muito. Lembro-me de uma imagem depois do combate, em que Bert Cooper e eu estávamos na enfermaria curando as feridas do combate. Dois dias depois do combate tive que ir ao hospital, devido a que me sentia muito debilitado e tinha febre. Também estava muito desidratado devido ao combate e à dura preparação o mesmo; preparamos uma estratégia que constava de tratar de dar três golpes


Grande Campeões por cada um que recebia e tive de me esforçar muito para poder realizar essa estratégia. Foi uma luta tão dura que foi reconhecida como “O Combate do Ano. Foi em 1990. C.N.: Fale-nos do seu rival daquela noite, Bert Cooper. RM.: Bert Cooper era uma grande lutador, um pugilista muito duro, rápido e resistente. Podia lançar muitos ganchos seguidos, sem problema algum. Também encaixava bem, eu lancei-lhe muitos golpes e ele aguentou muito. Penso que o seu estilo de luta era como o de Joe Frazier… Tive contra ele uma grande luta! Para mim era como as Lutas de Mohamed. C.N.: Qual foi o momento mais importante da sua carreira? R.M.: O título de campeão do mundo dos pesos pesados foi muito importante para mim, mas sem dúvida fico com a Medalha de Oiro nos Jogos Olímpicos de Seul. Os Jogos Olímpicos são um evento onde todo o mundo quer participar. Eu era um membro do exército, estava representando o meu país: ao princípio não pensei que pudesse ganhar, mas treinei muito, escutei o que me diziam todos os meus treinadores e adquiri a confiança suficiente para vencer. Quando ganhas uma medalha olímpica o mundo todo repara em ti, todos os olhares estão nos Jogos Olímpicos. Quando me fiz profissional e consegui ganhar o campeonato do mundo, foi muito bonito e muito emocionante. Com isso já tinha tudo, mas o que senti ganhando a medalha de oiro nas Olimpíadas é incomparável. É realmente maravilhoso ir a uma olimpíadas com todos os desportistas que representam o teu país e voltar com uma medalha de oiro. Quando eu era pequeno não praticava Boxe, nem nunca pensei em fazer Boxe, mas quando vi o Boxe nos Jogos Olímpicos pensei o importante que seria para os pugilistas que ganhavam o oiro. E como todos os garotos, sonhava com ganhar uma medalha de oro em algum desporto e finalmente esse sonho se tornou realidade. Por isso afirmo que a medalha de oiro olímpica é a maior conquista da minha carreira. Toda a gente se lembra disso. C.N.: Qual é a melhor recordação daquele acontecimento? R.M.: É o do momento em que estava no pódio, com a medalha de oro pendurada no pescoço e escutando o hino do meu país. Eu estava chorando de emoção, a minha mãe, que assistira aos Jogos estava chorando, o meu pai que o estava vendo em casa também estava chorando. Todo o mundo estava emocionado, eu agarrei a medalha para morde-la. Em fim, tudo o que se faz

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quando se ganha uma medalha. É disso do que lembro melhor… Também do facto de que os Coreanos tentaram intimidar-nos desportivamente falando, deu ainda mais valor àquela vitória. Estar em um pódio dos Jogos Olímpicos recebendo a medalha de oiro é inesquecível. C.N.: Quais os pugilistas que considera que foram os mais importantes na história deste desporto? R.M.: Considero que os melhores foram Mohamed Ali, George Foreman, e Joe Frazier. Foram os melhores de todos os tempos! Houve outros muito bons e muito importantes, mas penso que estes são realmente os melhores e os que mais se destacaram dentro deste desporto. Além do mais, estes são os pugilistas que eu observei de maneira especial e que também tiveram uma grande influência sobre mim no início da minha carreira. Eram muito duros, podiam aguentar na calma os 15 assaltos e teriam aguentado mais se tivesse sido necessário; usavam luvas mais pequenas, estavam em melhor forma e batiam com mais força. Quando falo de Boxe sempre aparecem na minha memória estes três pugilistas: George Foreman, Joe Frazier e Mohamed Ali. Inclusivamente destacaria este último. Para mim, Mohamed Ali estaria em primeiro lugar e depois George Foreman e Joe Frazier. Se tivesse que destacar uma característica de cada um destacaria o Gancho de Joe Frazier, a Velocidade de Ali, e a Potencia de George Foreman. Eram lutadores incansáveis, lutavam até o fim e nunca se rendiam. De facto, acredito que os lutadores de hoje em dia perderiam se tivessem de se enfrentar a eles, porque eram lutadores mais fortes, que lutavam numas condições mais duras. C.N.: O que pensa que aconteceria se tivesses de se enfrentar a estes pugilistas? R.M.: Se me tive de enfrentar com eles, faria treinos mais duros que os que faço para lutar contra os pugilistas da minha época. Se tivesse de lutar contra Mohamed Alí, faria da mesma maneira que fez Joe Frazier, pressionando muito para não o deixar usar o seu jab explosivo e a sua velocidade. Se tivesse que lutar contra Joe Frazier, penso que seria uma guerra… Esse homem sempre estava pressionando, lançando socos continuadamente, seria um combate de poder a poder, teria de tentar nocautealo como fosse, caso contrário nunca poderia vencer esse homem. Se tivesse que me enfrentar com George Foreman, trabalharia especialmente a potência. Mas não para o nocautear directamente, mas sim para o desgastar com golpes potentes, e ao

mesmo tempo trabalharia o jogo de pés para escapar dos seus ataques. C.N.: Qual é sua técnica favorita? R.M.: A minha técnica favorita é o Jab, gosto de usar o jab para ir sempre em frente e ter o meu rival sob pressão. Se o pressiono é muito mais fácil que cometa algum erro, que me permita nocautea-lo ou ter vantagem no combate. C.N.: Alguma coisa divertida que lhe tenha sucedido durante a sua carreira? R.M.: Foi em um combate contra Tomy Morrison; ele começou muito forte, me atacou como um leão, começou a me lançar golpes ao corpo e no segundo golpe que me alcançou no estômago, a mim me fugiu uma “ventosidade”. Na verdade eu nem dei por isso, o combate continuou e quando voltei para a minha esquina, o pessoal do meu canto estava a rir… Eles tinham escutado e me contaram… Sei que não é a primeira vez que sucede num ringue, mas o certo é que naquele momento não achei piada nenhuma, mas agora passado tanto tempo, posso dizer que é o facto mais divertido que me sucedeu em um combate. C.N.: O que é o melhor e o pior de ser pugilista profissional? R.M.: O melhor de ser pugilista profissional é que te pagam por fazer uma coisa que gostas. E o pior é que te batem. Bem, falando a sério: o melhor é o reconhecimento do público e dos seguidores. E o pior é quando treinas arduamente, preparas à consciência um combate, te esforças ao máximo no ringue e no final do combate os juízes resolvem dar a vitória ao rival; isso é do que menos gosto. C.N.: Contra quem gostaria de ter lutado? R.M.: Teria gostado muito de lutar contra Mike Tyson, penso que foi um excelente boxeador. De facto, estive quase a lutar contra ele, já estava tudo acertado, mas finalmente decidiram que lutasse contra Lenox Lewis. C.N.: Por que motivo resolveu participar em combates de MMA e K1? R.M.: Bem. Eu percebi que a minha carreira no Boxe já estava acabando, mas ainda continuava tendo forças e energia para continuar a fazer coisas, por isso considerei este tipo de desportos como uma oportunidade de me continuar a manter activo e porquê não dizer!, de continuar ganhando dinheiro. C.N.: Muito obrigado por ter partilhado as suas experiências e por ter colaborado com a nossa revista. R.M.: Foi um prazer.


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Alabarda e sabre, armas rainhas Artes da guerra… Batalhas… Em todas as civilizações e culturas, a evolução do homem sempre esteve estreitamente ligada aos progressos das armas e das técnicas de guerra, as quais foram durante séculos sinónimo de meio de sobrevivência. Por fortuna, o lugar que antigamente tinham as guerras na vida diária, apesar de ainda continuarem sendo importante em numerosos países do planeta, na Europa praticamente desapareceu nos nossos dias. Não obstante, se no Ocidente as armas e técnicas da Idade Média só se encontram nos museus ou em mãos de uns poucos coleccionistas amantes de antiguidades, no Oriente, pelo contrário, as artes marciais cultivaram esta parte da sua historia ao ponto de conservarem a prática das armas brancas, quando já não se utilizam mais as armas cortantes em nenhum exército moderno, com a excepção da baioneta e do punhal de combate. A prática das Artes Marciais no Vietname, com independência de estilo e escolas, inclui quase sempre o trabalho de armas como o sabre, a cimitarra, a alabarda, o machado de guerra ou a lança. Esta preocupação por conservar é acima de tudo uma vontade de conservar um tesouro cultural e de o transmitir às gerações futuras, inclusivamente sabendo que as mesma nunca irão fazer uso delas em combate real. Trata-se de um fenómeno cultural misturado com um sentimento de nacionalismo. De um ponto de vista cultural, no Vietname, por ser um país que tem padecido muito as invasões estrangeiras, o espírito de liberdade é omnipresente. Se nós, como ocidentais, podemos pensar que eles não têm ainda o que consideramos como liberdade no sentido político e social, o que os vietnamitas consideram acima de tudo como liberdade é o facto de não estarem sob dominação de um país estrangeiro. Isto tem produzido durante muito tempo neste povo, um fenómeno de rechaço a tudo o que era estrangeiro, ao mesmo tempo que o povo adoptava numerosos conceitos e técnicas estrangeiras, modificando-os para que fossem “vietnamizados”. É de facto um dos princípios fundamentais estabelecidos para a criação do Vovinam pelo desaparecido Mestre Nguyen Loc. No entanto, é matéria muito delicada falar das origens estrangeiras de algumas partes da cultura vietnamita. Faz alguns anos, numa entrevista para um jornal vietnamita, eu “meti o dedo na chaga”, recordando que as artes marciais vietnamitas tinham origens chinesas importantes, assim como a música tradicional vietnamita e outros aspectos sociais do Vietname, como os meses do calendário lunar, as festas do novo ano lunar, a família, a religião, a metafísica, etc. Mas a pesar de que estes factos são una realidade e são históricos, o artigo provocou uma grande polémica, assim como “pressões”, depois as quais me fizeram perceber, nos altos estamentos da imprensa vietnamita, que aquilo era um assunto delicado ao qual não se devia aludir. Os vietnamitas têm uma independência que lhes custou tão cara em vidas humanas e em sofrimento que eles preferem não falar das origens chinesas e estrangeiras da sua cultura actual. É precisamente esta luta constante contra os invasores estrangeiros que durante muitos séculos, forjou as artes marciais do Vietname. Se este país tivesse sido pacífico e não tivesse sido ocupado por grandes potências, talvez jamais tivesse desenvolvido as artes marciais. Depois de mais de mil anos de ocupação chinesa directa, seguidos de quase 10 séculos de estatuto de livre mas tributário da China,

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Grandes Mestres

após um século de incursões e ocupação francesa, quatro anos de invasão japonesa e uns trinta de guerra moderna e devastadora entre o Norte e o Sul (implicando numerosas grandes potências ocidentais), o Vietname vive em paz e se recupera das sequelas destas guerras. O país pode agora fazer valer a sua cultura, da qual as artes marciais formam parte. Na cultura marcial do Vietname, duas armas são particularmente importantes: a alabarda e o sabre. O estudo da manipulação destas duas armas é indispensável a todo praticante de artes marciais vietnamitas, pois elas representam as duas grandes ferramentas de luta nos campos de batalha. Efectivamente, o contexto actual das salas de artes marciais nos leva frequentemente a esquecer o verdadeiro lugar de prática destas armas: os campos de batalha. Sem nenhum tatame, paredes ou chãos lisos, mas com uns grandes espaços onde se lutava no meio de cavalos de guerra e de soldados. São todos estes factores que se devem ter em consideração, pois o próprio uso da arma está condicionado ao contexto no qual estará sendo utilizada.

A alabarda ou Dai Dao A fama do sabre, em parte devida aos filmes japoneses vistos no Ocidente, oculta a importância capital da alabarda nas antigas guerras do Oriente mais longínquo e em especial na China, no Vietname, na Coreia, e até no Japão com a alabarda “Naginata”. O rádio de acção da alabarda é até três vezes maior que o do sabre; além disto, a alabarda é uma arma de uso variado. Se comparamos o sabre e a alabarda, o sabre está limitado a cortar, picar e interceptar com a parte de atrás da folha, aquela parte que não corta, de preferência, para não estragar o fio da folha, mas também se fazem intercepções com o fio da folha. Em alguns casos se pode utilizar o cabo do sabre para bater e a guarda em feitio de


gancho do sabre vietnamita para enganchar as folhas, mas são uns usos de último recurso. No que respeita à alabarda, ela está verdadeiramente concebida para ser uma arma de uso múltiplo: • Corte: directo com a folha e de revés com um dos bicos da folha. • Picada: directa na curta distância, com a ponta da folha e na longa distância fazendo deslizar o pau da arma. • Intercepção: com as costas da folha, com a parte média do pau e com a extremidade do pau. • Engajamento: se pode enganchar a arma do adversário com a parte traseira da folha da alabarda e com a guarda. • Massa: o agarre, o qual se compõe por vezes de uma parte cortante, serve de massa de guerra, utilizado em estocadas e em golpes em rotação. • Varrimentos: com a folha, as costas da folha ou o pau. Devido a todas estas aplicações, o rádio de acção da alabarda era variado e amplo, o que fazia dela uma arma ideal para defender-se contra um inimigo a cavalo, pois ao contrário do sabre, a longitude da alabarda oferecia uma melhor segurança frente a um cavaleiro. Mas a diversidade do manejo da alabarda lhe dava uma vantagem suplementar, posto que podia ser utilizada também pela infantaria desde o chão, ou bem por um oficial montado a cavalo. O seu nome vietnamita «Dai Dao» significa literalmente «Grande sabre» e provém da leitura fonética vietnamita dos dois caracteres ¥Û grande (Dai), e µ∂ sabre (Dao). Este último carácter não deve ser confundido com a leitura da palavra vietnamita “dao” com um “d” sem barra que se lê “Yao” ou “Zao” e que significa faca.

Origens Apesar de que numerosos mestres de artes marciais vietnamitas priorizam o carácter nacional de seus estilos e com frequência “envelhecem” a data da origem destas escolas, omitindo as influências chinesas, as mesmas, em pequena ou em grande escala, são inegáveis. No que se refere ao feitio da alabarda, comparada à dos diversos tipos de alabardas chinesas, é muito similar ao feitio do “Guan Dao”, a alabarda chinesa importada há cerca de dois mil anos, após umas guerras de colonização. Outras armas chinesas são similares, como o “Zhang Ma Dao”, que tinha uma folha muito comprida, como a de um sabre,

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ou o “Pu Dao”, com uma folha mais estreita e mais quadrada. Não obstante, ao contrário das armas de treino dos estilos chineses, a alabarda do Vovinam não tem uma extremidade em ponta no final do pau. Foi substituída por um estremo da empunhadura. A alabarda é uma arma pesada, que na tradição só os lutadores grandes e fortes podiam manipular. Ela simboliza o puro poder e a capacidade de cortar completamente ou atravessar armaduras que os sabres mais afiados não podiam nem sequer cortar. Era uma arma temida nos campos de batalha. A pesar disso, hoje em dia, nas competições técnicas de Vovinam, é uma alabarda toda em alumínio a que se usa, permitindo assim uma manipulação muito rápida, que já não tem nada a ver com o espírito do poder da alabarda. No Vietname, nas competições técnicas, as alabardas de última geração estão feitas de um tubo oco, numa liga que o faz ligeiro, e muito fino, pesando só algumas gramas, ao qual se juntou uma folha muito fina, cortada numa placa da liga. Umas campainhas situadas na folha, proporcionam um efeito sonoro, sendo o conjunto de uma manipulação ainda mais rápida que o simples pau de vime. Longe desta mascarada, o trabalho da alabarda devia ser considerado de maneira tão séria como o trabalho do sabre. O Vovinam continua ainda estando longe do espírito Budo da maior parte das escolas japonesas ou coreanas, que têm sabido preservar a autenticidade do trabalho com as armas. Nas artes marciais chinesas, se bem muitas armas de competição são bastante ligeiras, existem umas alabardas chinesas de treino e de competição que pesam de 3,5 a 5Kg, o que já é de uma manipulação bastante pesada para a execução da forma inteira, a pesar de que continuem a ser muito mais ligeiras que uma verdadeira alabarda de guerra. De facto, são dois conceitos enfrentados: as poucas gramas do instrumento de competição do Vovinam e a alabarda legendária de 40Kg, do general chinês Guan Yu. Sem ir até estes extremos, tive ocasião de portar uma verdadeira alabarda antiga de 8Kg e a sensação de necessidade de potência física para a sua manipulação é absolutamente fantástica, difícil de descrever. Mas é neste espírito de arma poderosa, capaz de cortar tudo, que o trabalho da manipulação da alabarda deveria estar focado. No Vovinam existem umas federações ou grupos que se negam a

cometer o erro da transformação do Vovinam em um simples desporto, e isso com a finalidade de preservar o espírito marcial do Vovinam. Este espírito é indispensável, entre outras coisas, para o trabalho da alabarda. Efectivamente, basta simplesmente, após ter efectuado a forma completa (Quyen) com uma alabarda de competição ultra ligeira, voltar a fazela com uma verdadeira alabarda muito pesada. Passamos primeiro por uma sensação de debilidade física, seguida depois por uma pergunta que nos vem à memoria: Como faziam para defender-se numa situação de verdadeiro perigo de morte com uma alabarda tão pesada?

O treino Por desgraça, como acontece com a maior parte das armas em numerosas escolas de artes marciais vietnamitas, a alabarda não se ensina como se deveria ensinar. A forma lógica de progressão, assim como para as técnicas de mãos nuas, deveria ser o trabalho dos ataques de base, de maneira repetitiva, depois do trabalho das intercepções, efectuadas também de manera repetitiva, seguido das esquivas, os concadenamentos, tudo isso durante um longo período de tempo, a fim de permitir uma assimilação, para depois continuar com a prática das aplicações com parceiro, antes de passar à fase final que deveria ser a forma completa (Quyen), a qual - tendemos a esquecer frequentemente - serve para rever sem parceiro os concadenamentos ou as técnicas normalmente praticadas com parceiro. Desafortunadamente, a aprendizagem da manipulação da alabarda já não passa por estas etapas. O factor principal que modificou os métodos e a progressão do ensino é a falta de tempo. O Vovinam, muito rico em técnicas, necessita muito tempo quando se quer dominar todo o programa e todas as armas que ele inclui. Em numerosos clubes de Vietname, alguns mestres têm uma solução: cada aluno tem uma especialidade que dominará à perfeição. Estes mestres terão assim uns alunos que serão excelentes por exemplo em combate punhos-pés, mas serão medíocres e até muito maus em Quyen; outros serão especialistas na manipulação da alabarda, mas terão um nível baixo em numerosos outros campos de aplicação do Vovinam. Não é nada raro ver em alguns clubes de Vovinam “desportivo” no Vietname, a um campeão invicto desde faz muitos anos, que quando ensina um Quyen a


Grandes Mestres

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um praticante estrangeiro em um curso no Vietname, fá-lo cometendo erros monumentais. Pode acontecer até que i g n o r e completamente alguns Quyen que entram no programa do seu grau. É uma situação impensável no Ocidente. Um atleta ou um praticante de alto nível deve de conhecer o programa do seu grau, assim como o uso de todas as armas que constam no seu programa. Esta óptica ocidental do

“O estudo da manipulação destas duas armas é indispensável a todo praticante de Artes Marciais Vietnamitas, pois elas representam as duas maiores ferramentas de luta nos campos de batalha”

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trabalho do Vovinam (que é também a maneira antiga de ver as coisas no Vovinam do Vietname) é saudada por muitos mestres que no Vietname estão assombrados pela capacidade dos ocidentais para conhecer de manera muito precisa um programa tão amplo como o do Vovinam. Quando um competidor ocidental ganha várias medalhas de ouro em um campeonato do mundo em numerosas categorias técnicas, este atleta é sumamente considerado, porque os atletas vietnamitas não acostumam se arriscar a participar em numerosas categorias. Eles se inscrevem em poucas categorias e a maior parte das vezes, só em uma categoria, a sua especialidade. Se para a alabarda, esta inclinação fazia que uma «especialização» fosse estendida também ao conhecimento e a destreza nas técnicas de aplicação com parceiro com a alabarda, isto seria ideal. Mas na realidade, a “especialização” se limita a efectuar o Quyen para a competição da maneira mais rápida e mais estética. É por esta razão que a alabarda se trabalha no Vovinam sempre da maneira mais simples e menos eficaz: se aprende a forma completa repetindo os movimentos, sem conhecer a

aplicação nem as combinações em combate. Além disto, este Quyen, por ser uma forma “em bloco” corre o risco de não se difundir de manera homogénea. Efectivamente, ao ter aprendido só uma forma completa como uma série de movimentos, sem pontos de referência para aplicações em combate e sem separações por secções com um sentido preciso, é possível que todo um conjunto de problemas possa impedir a memorização precisa a longo prazo, mas também gerar diferenças com os

o u t r o s praticantes de clubes: outros dúvidas sobre os movimentos exactos, erros, deformações de técnicas, esquecimentos… Ao que vem juntarse a competição, que também dará lugar a numerosas sequelas: transformação dos movimentos para melhorar a estética, saltos que se juntam para mais espectacularidade, lançamento da arma a uma altura irreal para uma arma deste tipo, velocidade de execução exagerada…


Grandes Mestres Por isso, o trabalho tradicional das armas e da alabarda em especial, é muito mais prático e eficaz que a aprendizagem da forma completa do Quyen numa só unidade. Mais vale então passar um longo tempo no trabalho de manipulação de base, depois as aplicações e esperar até que estas técnicas estejam assimiladas, antes de trabalhar a forma completa do Quyen.

O Quyen da Lua e do Sol É costume nas artes marciais vietnamitas, em geral, dar aos Quyen nomes que sejam ao mesmo tempo uns princípios metafísicos da escola. Se esta relação entre o nome do Quyen e o princípio metafísico ou filosófico não fica bem explicado aos ocidentais que aprendem o Quyen, então a relação com esta metafísica ou esta filosofia perder-se-á quando eles trazerem este Quyen para casa. A maioria dos

professores ocidentais que viajam ao Vietname para formar-se, têm uma sede de aprender tão pronunciada que assimilam muito bem o conceito metafísico e as técnicas. Ocorre também por vezes, que a tradução do nome do Quyen chega ao Ocidente de manera errónea e perdura assim durante muito tempo. É o caso de “Ngoc Tran Quyen”, muitas vezes traduzido como o «Quyen de homem ébrio», quando não existe nenhum Quyen do homem ébrio em Vovinam. O Ngoc Tran Quyen é o Quyen «do cálice de Jade». O erro provém do facto que alguns mestres pensam que este cálice de jade contém álcool e que v á r i o s movimentos s e

“A prática das Artes Marciais no Vietname, sem importar o estilo e as escolas, inclui quase sempre o trabalho de armas como o sabre, a cimitarra, a alabarda, o machado de guerra ou a lança”

parecem aos das técnicas das formas de Boxe chinês do homem ébrio. Mas o princípio metafísico do Ngoc Tran Quyen é o da oposição entre o “recipiente” e o “conteúdo”. A questão que o mestre pergunta ao aluno, impondo-lhe escolher e não responder “os dois” é: “O que é o mais importante, o recipiente ou o conteúdo?” Este princípio, fundamental nas artes marciais, é também o do dilema entre a importância do copo vazio (que não contém nada) e do copo cheio. Para que possa encher-se, primeiro tem de estar vazio; o que contém não pode ser se não tiver conteúdo... Numerosas teses se têm escrito sobre este assunto e uma das aplicações em Vovinam é a seguinte: dado que o empate não existe nos combates de Vovinam, para haver um vencedor tem de haver um vencido. Quer dizer que o menos forte dá-lhe o valor ao mais forte, pois sem o menos forte, ele não seria o mais forte. Em todo o Ngoc Tran Quyen estes elementos opostos são postos em prática: batimentos dados a potência máxima, opostos a técnicas suaves e sinuosas; deslocamentos curtos,


rápidos e em potência contra outros longos e suaves; intercepções duras opostas a desvios com suavidade… Por conseguinte, mudando o sentido do nome do Quyen, se perde todo um valor, o qual é uma das diferenças fundamentais entre um desporto e uma arte marcial: a aplicação de princípios metafísicos em umas técnicas de combate. Acontece exactamente o mesmo com o nome do Quyen da alabarda: Nhat Nguyet Dai Dao. Este Quyen da alabarda está em perfeita harmonia com o seu nome. O sol (»' Nhat) e a lua ('¬ Nguyet) são dois astros tradicionalmente opostos. É claro que não falamos aqui dos conhecimentos científicos e astronómicos ocidentais actuais, e sim dos conhecimentos, da presença e da influência destes dois astros sobre a povoação do longínquo Oriente e acima de tudo sobre a povoação chinesa. Efectivamente, temos de recordar isto, praticamente toda a metafísica vietnamita está baseada na metafísica chinesa, a qual,

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a través de quase dos milénios de períodos de presença chinesa (ocupação directa e indirecta tributária), foi assimilada por todas os povoações no território que hoje denominamos Vietname. Os dois astros a Lua e o Sol, são uns elementos cuja oposição se deve demonstrar durante a execução do Quyen da alabarda. Ao longo de todo o Quyen, há movimentos de corte amplos e lentos, que estarão opostos a umas estocadas em linha recta e rápidas; há deslocamentos em linha recta e pesados, opostos a pequenos passos cruzados rápidos e circulares. A própria manipulação da arma está ligada ao carácter oposto dos dois astros: as principais duas funções polarizadas da alabarda são o corte (quer dizer a folha, a parte alta) e os batimentos de massa (ou seja o extremo da empunha dura, com a parte baixa oposta à folha). Deveremos então, durante todo o Quyen, diligenciar os dois astros Sol e Lua, em harmonia. Mas outros

elementos devem juntar-se, da mesma maneira que para os dois astros, vão haver diferentes posições em função do dia ou da noite. Se a maior parte do tempo só se vê um dos dois astros por vez (ou bem umas técnicas «Nhat» ou bem umas técnicas «Nguyet»), algumas vezes, o eixo dos dois astros estarão perto ou quase idêntico visto da Terra e a folha e a ponta da empunhadura estarão na mesma linha de ataque ou serão utilizadas numa mesma técnica de combate. Outras vezes Sol e Lua serão visíveis ambos ao mesmo tempo no céu, mas as distâncias opostas e as técnicas no Quyen reflectem estes princípios, bem na manipulação da arma, bem nas posições do corpo e os deslocamentos. Em Vovinam, o trabalho da alabarda vai por conseguinte, muito mais longe que a simples manipulação de uma arma que foi rainha nos campos de batalha. É todo um conjunto à vez técnico, marcial e filosófico, que rende homenagem a esta arma pesada, companheira guerreira do sabre.


Nesta nova série de DVDs de instrução, o Mestre Mark Gridley apresenta e explica em detalhe o uso de pontos de pressão na defesa pessoal. O programa de Pontos de Pressão Tácticos do Combat Hapkido é o resultado de muitos anos de estudo e pesquisa, sob a orientação e assistência de um dos principais especialistas mundiais na matéria e se baseia em princípios práticos e modernos da Defesa Pessoal, sem a complexidade excessiva e a mística de outros sistemas de pontos de pressão. O curso de Pontos de Pressão Tácticos do Combat Hapkido é aamplamente utilizado pelas agências policiais de todo o mundo e pode ser integrado em qualquer programa de Artes Marciais. A série consta de quatro volumes que abrangem todo o programa de Instrutores: Curso de Instrutor Aprendiz, Curso de Instrutor associado, Curso de Instrutor, e Curso de Instrutor Senior.

REF.: • CHTPP1

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SDS Concept - Nunca desarmado Um ataque imprevisto, um oponente poderoso ou inclusivamente vários, ou pior: um ataque com faca. Uma defesa sem armas parece inútil para a maioria das pessoas. O uso de objectos para a defesa pode aumentar drasticamente as nossas possibilidades. Este é o tipo de pensamento que inspirou o conceito do SDS. A ideia subjacente no SDS Concept é realmente simples: aumentar drasticamente em um período curto de tempo, a capacidade de uma pessoa para defender-se, utilizando técnicas simples e compreensíveis. Se pode usar qualquer coisa para proteger-se contra todo género de ataques. Pode acontecer que as armas ou as ferramentas para a autodefesa não estejam ao alcance, pode ser que só se possam usar em determinadas situações, talvez não sejam legais em alguns lugares. Todas as armas de defesa pessoal têm seus prós e seus contras, nenhuma é perfeita. Agora bem, o que pode ser mais apropriado que desenvolver um sistema de defesa no qual não só se usem armas senão que se improvisem armas?

Desvantagens das armas e as ferramentas de defesa pessoal - Podem ser ilegais (facas, armas de fogo, Kubotanes ou outros instrumentos de defesa) - Podem não estar disponíveis ou ao nosso alcance (spray de pimenta) Podem ser facilmente reconhecíveis como armas (cacetes, facas, armas de fogo, Kubotanes) - Podem ter desvantagens no uso (difícil alcance, o usuário pode põe em perigo a sua própria pessoa ou aos seus acompanhantes com o spray de pimenta, por exemplo) - Seu uso pode ser exagerado e inapropriado (facas, armas de fogo) - Nem toda a gente as pode portar (armas de fogo, tonfas, cacetes) - Pode que não sejam úteis em certas situações (facas, cacetes) Resumindo, podemos dizer que, além dos prós e dos contras, o uso correcto das ferramentas e o treino efectivo são absolutamente necessários para não pormos a outros e a nós mesmos em perigo. As armas só são efectivas quando se conhecem suas características e seus prós e contras, e podemos aprender a usá-las. Concentrar-nos em uma só arma ou numa só ferramenta de defesa pessoal, frequentemente nos leva a ignorar outras opções, como usar objectos quotidianos como armas. Por tudo isto, o sistema SDS Concept é um sistema fácil de utilizar e não está restringido a uma só

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arma, posto que usa todas as coisas disponíveis para a defesa pessoal. Regadores, chinelos, toalhas, assim como esferográficas, livros, garrafas de plástico, cachecol ou chapéus. No sistema SDS Concept, o usuário simplesmente tem que perceber as características de certos objectos para poder usá-los e ao mesmo tempo parecer desarmado. Se usam todo tipo de objectos sólidos e flexíveis, assim como líquidos. No SDS concept usamos os objectos directa ou indirectamente para bater, interceptar, derribar, incomodar, distrair, manter a distância, fixar, desarmar, estrangular ou manipular. Uma vantagem importante é que o atacante não reconhece estes objectos como armas. Além disto, sempre estão disponíveis para ser usados em qualquer momento e ocasião, o que supõe uma grande vantagem em situações de perigo. Por tanto, o SDS Concept não se concentra em uma determinada ferramenta de defesa pessoal, mas sim em destacar objectos e princípios que se podem aplicar a cada objecto.

O que podemos usar para a defesa pessoal? Isto pode parecer demasiadamente simples, mas quase tudo se pode usar como ferramenta para defender-se: Lançar uma pedra à cara do nosso atacante. Interceptar ataques com uma cadeira. Bater com um livro. Usar uma mesa para manter a distância. Desarmar o atacante com uma toalha. Qualquer objecto pode ser usada, quando se sabe como. Uma das grandes vantagens do SDS Concept é que não é um sistema de defesa pessoal convencional: ele está adaptado para novas situações. Por isso este sistema se pode combinar facilmente com outros, em vez se opor a eles. No primeiro capítulo vamos ver os objectos flexíveis e como utiliza-los.

Como usar armas e objectos flexíveis para a defesa pessoal A maioria das pessoas não pensa em cachecóis, malas ou toalhas como ferramentas de defesa. No entanto, quando se sabem utilizar, estas são armas que devem ser tidas em consideração. O SDS Concept ensina a usar objectos flexíveis, como um saco como escudo, mas também para distrair a atenção do atacante, bater, fixar, desarmar, manipular o corpo do oponente, ou simplesmente para estorvar as acções do atacante. Se podem usar muitos objectos, o que conta é a sua força estrutural, longitude e tamanho, flexibilidade e por claro está, a disponibilidade.

Objectos flexíveis Esta é uma pequena relação de objectos que se podem usar não só para defender-se, como também para atacar: cachecol, cinto, correia de cão, toalha, mala, camisa, jaqueta, corda, gravata, chapéu, saco das comprar… Podemos conseguir que os objectos sejam armas mais efectivas. Encher uma peúga com moedas, ou atar um nó numa toalha para bater com mais força. Dependendo da situação, se podem usar objectos flexíveis com uma ou com duas mãos, tudo depende do alcance, peso tamanho e impacto. Se pode usar a uma mão se queremos lançar objectos ou queremos manter um atacante à distância. Se utilizam as duas mãos quando se trata da curta distância ou do combate corpo a corpo.

Uso de objectos flexíveis para bater Devemos distinguir entre objectos que se usam com duas mãos, como um saco grande, e objectos que se usam com uma mão, como um cinto com uma fivela, uma peúga recheia com uma bola de ténis ou com moedas, um cinzeiro, coisas como estas. Apontamos aos pontos débeis do atacante, como a cabeça ou entre as per nas, mas também às suas extremidades, para evitar produzir lesões graves.

Uso de objectos flexíveis para incomodar ou distrair a atenção Inclusivamente podem servir em menor medida para bater ou interceptar, como um chapéu ou uma jaqueta, podem ser muito úteis para distrair a atenção do oponente durante um momento. Isto nos permitirá atacálo seguidamente com mais força. Lançar objectos à cara do oponente na curta distância ou bater-lhe.

Uso de objectos flexíveis para desorientar o oponente Se podem lançar uma toalha, um cachecol ou um jornal à cara, enquanto que simultaneamente lhe damos um pontapé ou uma joelhada. Desta maneira podemos lançar outro ataque e sair airosos da situação.

Uso de objectos flexíveis como escudo As bolsas grandes, como as bolsas do ginásio funcionam perfeitamente como escudo ante um ataque. Segurar a bolsa com ambas mãos entre o atacante e nós. Seguidamente contra-


atacar para prevenir possíveis ataques do oponente. Não se aconselha usar toalhas ou cachecóis como escudo, posto que são objectos demasiadamente débeis para parar o ataque. Uso de objectos flexíveis para fixar o oponente Os objectos largos e resistentes, como cabos, cordas e cachecóis, são muito úteis para fixar os oponentes, a ideia é segurar ou estrangular. A clave é usar a técnica correcta de forma apropriada. Uso de objectos flexíveis para desarmar Quando nos atacam com objectos afiados é muito aconselhável usar objectos flexíveis para evitar o contacto com a arma do atacante. Esta tarefa não é simples e requer muita prática. Por isso os aconselha praticar primeiro os desarmes com mãos nuas, para poder compreender bem as ideias e o conceito.

Uso de objectos flexíveis para manipular o corpo Até agora a maneira melhor e mais efectiva para manipular o corpo de um atacante é usando a sua cabeça. Isto faz-se para derribar o oponente ou para situar-se numa melhor posição para um contra-ataque. Tente usar objectos contra o oponente, como um cachecol ou um cinto! Usados correctamente, inclusivamente os objectos flexíveis servem como “armas” efectivas". Estas séries de artigos são para incentivar os Artistas Marciais de todo o mundo a continuar explorando e aumentando as suas habilidades. Isto foi também o que me inspirou a mim:

desenvolver um sistema que permitisse às pessoas defender-se de maneira efectiva perante oponentes superiores. Hoje em dia, o SDS Concept é uma ferramenta para que os treinadores Instrutores as estes aos seus estudantes e assim estes sentir-se-ão mais seguros em situações perigosas. Nos próximos números de Budo Inter nacional entraremos em profundidade nos assuntos e as estratégias, os conceitos e as aplicações que ajudam a estar abertos a esta nova tendência. É o homem quem pode transformar objectos simples em armas efectivas!

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Auto-defesa Como ensinar o Modular MBC2: “Aprender em 6 Ensinar em 12” A maioria das Artes, apesar de se terem tornado um elemento cultural em vez de um método de Guerra de uma sociedade em especial, contêm os mesmos princípios básicos de movimento. Têm que conter os mesmos princípios básicos de movimento porque os seres humanos, tanto sejam os de um passado muito longínquo como os dos nossos dias, estão feitos do mesmo. Temos o mesmo sistema biomecânico que os nossos antepassados e nos tem servido bem nestes milénios. As nossas estruturas físicas quase não sofreram mudanças durante os últimos 60.000 anos: dobramos as articulações da mesma maneira, os nossos músculos trabalham da mesma maneira e o nosso sistema locomotor é o mesmo. Com o tempo, muitos artistas marciais têm tentado ocultar as verdades da sua Arte Marcial a seus inimigos. Para as fazer estilizadas, para que se adaptem às exigências religiosas ou sociais ou à pessoalidade do instrutor, se adicionaram movimentos ou movimentos adicionais super postos aos movimentos naturais dos que todos somos capazes. Estes movimentos adicionais se tornam as técnicas desse estilo ou a maneira de presentação e a codificação de essa forma de Arte em especial.

O dragão procura pérolas, Asas batentes de grou com penas que batem, Bloqueio circula para dentro com golpe baixo ascendente circular de martelo, ou Bong Sao porta rolante ao Bil Gee… Os nomes podem ser alegóricos ou reais, por isso, durante milhares de anos de existência das Artes Marciais tem havido muitos estilos e se necessita muito tempo de estudo para compreender os segredos de luta que há atrás dos movimentos. Claro está que uma Arte Marcial com um bom instrutor é uma boa proposta para passar o tempo de estudo, c re s c e n d o l e n t a m e n t e p a r a p o d e r compreender os segredos ocultos atrás dos movimentos da Arte. Isto é o que faz que uma Arte Marcial de hoje seja u m a A r t e M a rc i a l . I n c l u s i v a m e n t e apesar de Marcial significar da guerra e Artes Marciais significa as Artes da Guerra, o nome Artes Marciais vem a referir-se à acção ou ao estudo das Artes Marciais como Forma de Arte e não necessariamente como Arte de lutar na guerra ou de combater contra o u t ro i n d i v í d u o n a r u a . N o m u n d o actual, as Artes Marciais que tratam das situações de combate têm por nome Artes Tácticas, Artes de C o m b a t e o u A r t e s M i l i t a re s o u inclusivamente se elimina completamente a palavra Arte e se denominam Sistemas de Combate, Sistemas Tácticos ou Metodologias de Combate, para diferenciá-las do estudo das Artes “clássicas” ou “históricas”.

Estes métodos tácticos ou de combate voltam às ideias originais das Artes Marciais, que estavam realmente orientadas para a Guerra e a Luta, e se baseiam nos simples princípios biomecânicos do corpo humano. Nada vistoso, nada oculto, simplesmente acções utilizadas para ensinar combate ou tácticas reais adaptadas à realidade. Habitualmente estas verdades acerca da realidade táctica ou do combate, estão organizadas em módulos, porque é mais fácil para as pessoas recordar séries de acções baseadas em três movimentos. Isto também significa que os módulos podem ligar-se entre si e formar variações do módulo original, à vez que mantém sua simplicidade de combate. Isto se chama ensino modular! O ensino modular tem que ser simples. Não pode ser como a ciência espacial ou alguma coisa complicada que leve anos para perceber os seus princípios e conceitos. Tem de ser simples para poder ser transmitido de uma pessoa para outra, em pouco tempo. Não se trata de tempo de treino das Artes Marciais, mas sim do tempo de uma aula. O tempo real de uma aula é ao tempo que dura uma aula. Neste caso seria em 6 horas (para um dia) e 12 horas (para dois dias completos) para aprender a ensinar os conceitos. Isto faz com que o método modular seja perfeito para aprender ideias que se transmitem de uma pessoa para outra, inclusivamente se a transmissão se faz a um número grande de pessoas.

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Mestres do Combate

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Auto-defesa

“Nada vistoso, nada oculto, simplesmente acções utilizadas para ensinar combate ou tácticas reais adaptadas à realidade”

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Mestres do Combate Como é possível? É possível porque o sistema modular se baseia em habilidades biomecânicas. O que uma pessoa faz de maneira natural e instintiva, se usa como princípios de movimento que se transmitem como habilidades básicas do praticante… Utilizando essas habilidades básicas se podem aprender as aplicações muito rapidamente…

Princípio de acção Um movimento biomecânico: o braço de uma pessoa se fecha ao longo do corpo desde o ombro até as ancas. O mesmo braço se abre outra vez pelo mesmo lado, à altura das ancas. A recuperação é um movimento circular vertical para fora. Estes são movimentos que em esgrima se descrevem como golpe diagonal para baixo #1, golpe fechado horizontal #4 e golpe vertical para baixo #12, no sistema modular se chama MODULAR 1-4-12. Estas mesmas

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Fotografias proporcionadas por Pirri, do México Uke Sonia M.Waring

acções também são acções básicas instintivas de protecção: #4 é como um bloqueio para fora, #1 é um bloqueio, #12 é um bloqueio sobre a cabeça. Utilizando estas acções biomecânicas, não é necessário pensar para levá-las a cabo. Isto é importante em situações de combate. Por vezes, pela pressão devida ao treino, nos contemos e temos pensamentos complexos, mas isso não quer dizer que temos umas boas habilidades motrizes…; as habilidades motrizes avançadas superam esse nível. Tem as habilidades motrizes avançadas ou básicas em um nível físico. Podemos ter pensamentos complexos mas para os levar a termo, só mediante acções básicas. Quando o ritmo do coração aumenta um pouco, os pensamentos se tornam pensamentos complexos que imediatamente quase se tor nam pensamentos básicos e então, tanto os

pensamentos como as acções físicas estão no nível mais baixo. Se as acções defensivas não se baseiam no denominador mais baixo, não se podem conseguir segundo o contexto de uso. Os grupos de habilidades modulares de combate ou tácticas, devem ser aprendidas e utilizadas em tempo real, após um curto ciclo de aprendizagem e devem ser claras para poder usá-las quase no mesmo momento de as aprender. Por isso, no CSSD/SC usamos grupos de habilidades modulares para ensinar os princípios do movimento, que dão lugar aos princípios que seguem os Agentes da Lei e da Segurança. É necessário aprender habilidades que se possam utilizar em tempo real sob coacção. São o suficientemente simples para ser aprendidas em horas e para que alguém possa ensinar os conceitos básicos em 12 horas: NÃO é ciência espacial!


Assim como o Judo, actualmente o BJJ ou o Grappling foram adoptados como método de treino por parte dos Corpos de Segurança de diversos países. todos eles sistemas baseados em projecções, controlos e finalizações, que além de terem demonstrado a sua eficácia, oferecem a possibilidade de manter-se dentro dos preceitos legais de reduzir sem lesionar. Este segundo trabalho dos professores Daniel e Eduardo Garcia se concentra nas combinações técnicotácticas de Grappling Policial perante agressões indeterminadas e aleatórias. Pela sua mão analisamos as aplicações técnicotácticas de Grappling Policial, combinadas com o uso da dotação: arma de fogo, bengala policial extensível, kubotán e grilhetas, como elemento de redução; as recuperações da posição desde o chão a em pé e desde em pé ao chão, dependendo da situação; assim como de ajuste da mesma. Explicado detalhadamente consoante as bases do sistema, com uniformidade e dotação e acabando com o sujeito engrilhetado. Um trabalho inédito em sistemas de intervenção policial.

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Entrevista

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Grão Mestre Victor Sheng Lung Fu é sobrinho do Grão Mestre Fu Zheng Song (ou Fu Chen Sung 1881-1953) o famoso fundador do sistema completo de artes marciais internas chamado Fu Estilo Wudang Quan ou Wudang Boxing, que inclui Tai Chi Chuan, Liang Yi Chuan, os seus Xiang Chuan, Hsing Yi Chuan e Pa Kua Zhang, além de outros tipos de punhos e formas com armas. Fu Zhen Song foi um dos mais reconhecidos instrutores de Kungfu da história da China. Era conhecido como um dos "Cinco Tigres chegados do Norte". O estilo Fu foi desenvolvido pelo seu filho, o Grão Mestre Fu Wing Fay (ou Fu Wing Fai ou Fu Yong Hui, 1907-1993), pai de Víctor Fu. Os seus melhores estudantes de Fu Wing Fay foram seu filho Shen Lung e uma jovem mulher com imenso talento de nome Bow Sim Mark, uma das grandes mestras dos últimos 50 anos. Victor Sheng Lung Fu e três dos seus irmãos e irmãs, herdaram o legado marcial da família. Nascido a 8 de Janeiro de 1946, começou a sua aprendizagem nas artes marciais e no sistema completo de estilo Fu com o seu pai Fu Wing Fay, quando contava apenas quatro anos de idade. Ainda criança, Victor Fu competiu em muitos torneios e com 13 anos se situou no primeiro lugar no Torneio Juvenil Provincial de Guangdong. Em 1984 fez-se membro e foi nomeado director da Guangzhou Municipal Wudang Boxing Research Society e em 1985 do Comité Municipal de Guangzhou Wushu Association. Em 1988 foi confirmado Juiz de 2ª classe de Wushu, pelo Comité Municipal de Desportos de Guangzhou. Em 1989 viaja ao Canadá, especificamente a Vancouver, na Colômbia Britânica onde seguinte ano abria a sua própria escola para ensinar o seu sistema familiar de artes marciais. Ainda hoje continua ensinando nas instituições da comunidade local, realiza actividades de educação contínua e colabora com mais de trinta cuidados de larga duração nos arredores de Vancouver. Na actualidade é um dos poucos mestres do estilo Fu na América do Norte, Canada e Europa.

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Em síntese: o estilo Fu se caracteriza por movimentos fortes, ágeis e vivazes das ancas e da cintura, dando ênfase ao jogo de pernas e os movimentos de todo o corpo. Além de ser suaves e expansivas, as formas requerem torcer, girar e inclinar-se para a frente e para trás, de tal maneira que o movimento de todo o corpo entra em jogo. Este ênfase no movimento de todo o corpo, faz o estilo Fu único entre as artes marciais internas. Tanto para saúde como para a defesa pessoal, o estudo do estilo Fu das Artes Marciais, proporciona benefícios que não proporcionam outros sistemas. Os três Grandes Mestres, Fu Zhen Song, Fu Wing Fay e Fu Sheng Lung, representam três gerações do mais alto nível das artes marciais internas. À semelhança de muitos dos estilos da família, uma prioridade nestas artes é passá-las às seguintes gerações. A escola Shuri-Te, do Mestre Maurizio Mingotti, com sede em Villa Bartolomea, na província de Verona, é a primeira e o única na Itália que adquiriu em 2011, os diplomas e certidões de afiliação da “Fu Style Tai Chi, Pa Kua, Hsing yi, World Association”, concedido directamente pelo seu Presidente o Grão Mestre Victor Sheng Lung Fu. O Mestre Maurizio, que ensina Shotokan Karate e Tai Chi e agora é mestre diplomado da quarta geração do estilo Fu de Tai Chi, junto com os seus alunos, teve o prazer e a honra de conhecer em pessoa o Mestre e receber as ensinanças directamente dele, através de dois seminários de Tai Chi e Bagua, organizados pela escola e que tiveram lugar em Maio de 2011 e Abril de 2012. Esta entrevista foi realizada a 27 de Abril de 2012, último dia antes da sua partida para o Canadá, como uma conversa espontânea entre amigos que bebiam uma chávena de chá, enquanto lá fora chovia. Em 2014 provavelmente possa ser a ocasião para a terceira presença do Grão Mestre na Itália. Para mais informação acerca do estilo Fu e para aqueles que desejarem entrar em contacto com o Grão Mestre Fu Sheng Lung, seguemse os diferentes endereços:

www.fustyle.org fustyle@gmail.com Para contactar com a Escola Italiana Shuri-Te: www.shuri-te.it info@shuri-te.it

Entrevista ENTREVISTA COM O GRANDE MESTRE VICTOR SHENG LUNG FU Legnago, Verona, a 27 de Abril de 2012 C.N.: Hoje somos muito afortunados por termos o Grão Mestre Fu Sheng Lung sentado aqui na nossa frente. Mestre, o senhor é filho de Fu Wing Fei e seu avô era Fu Zhen Song. Poderia explicar-nos acerca do seu estilo da família Fu e em especial acerca das diferenças entre o antigo e o novo estilo Fu? Victor Fu: Essa é uma boa pergunta. O estilo Fu, desde o meu avô Fu Zhen Song até mim, tem três gerações. O estilo Fu, ao todo conta 195 anos de história. C.N.: Todos falam do estilo Fu, mas poucos são cientes das diferenças existentes entre o velho estilo e o novo estilo Fu. Na actualidade, existem os dois estilos. Quais são as diferenças entre os dois estilos? V.F.: Para responder a esta pergunta, tem de se perceber as diferenças no perfil dos praticantes da família. O meu avô nasceu em 1881. Quando contava 16 anos - isto foi no Século XIX - nesse momento, o fundo cultural necessitava o conhecimento das artes marciais. As armas de fogo não estavam á disposição das pessoas comuns, o ponto de referência para essas pessoas eram as artes marciais para a defesa pessoal e o uso de armas simples para a caça e a luta, como lança, sabre, espada curta… Era muito importante desenvolver habilidades nas artes marciais para se protegerem a si mesmos, proteger a família, a escola… O meu avô praticou artes marciais duras, um duro KungFu, onde os movimentos são mais poderosos e rígidos em comparação com o novo estilo Fu. Ele poderia ter partido uma


Artes Chinas Entrevista de: Maurizio Mingotti e Chiara Bertelli Interprete: Cristina Martinuzzi Transcrição do áudio em Inglês: Markus Spivak e Pam Martin Tradução: Chiara Bertelli

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Entrevista tábua com a sua mão. O meu avô quase não tinha nenhuma educação. Não sabia ler nem escrever. Quando não se tem uma suficiente educação, não se têm os meios para se educar nas técnicas mais sofisticadas. Essa é a razão de que o velho estilo Fu, em comparação com o novo estilo Fu, é rígido. O principal problema é que é excessivamente rígido. Na segunda geração, o meu pai Fu Wing Fay, devido as diferenças culturais, teve mais educação que o meu avô. Teve uma educação universitária. Penso que o novo estilo começou em volta de 1950. Não posso dizer exactamente em que ano e mês teve lugar a transição entre o antigo e o novo estilo Fu. O Velho estilo Fu foi o da fundação. O novo estilo é mais refinado, mais suave e não é duro, mas com mais Fajing (força explosiva). O meu pai

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compreendeu que nas artes marciais o suave é melhor que o duro. C.N.: Começou a prática de estilo Fu com o seu avô ou com o seu pai? V.F.: Tive que aprender do meu pai, mas continuando com a nossa conversa sobre o novo estilo Fu, escutei dizer ao meu pai que ele estava mais interessado nas habilidades da cintura, enquanto que o velho estilo Fu do meu avô, tinha pouco em termos de movimentos de cintura. [Mestre Fu se levanta e mostra e demonstra movimentos dos estilos antigo e novo.] C.N.: Assim pois, o novo estilo é muito mais bonito e melhor para a saúde… V.F.: O meu avô estava descontente com a mudança do velho ao novo

estilo Fu. As pessoas idosas não querem mudar nada, inclusivamente a maneira como decorrem as suas vidas. Eles querem sempre o mesmo, até morrerem… O meu pai criou um novo estilo Fu, a técnica, o uso da cintura… As formas têm os mesmos nomes. O meu avô pensava que o meu pai estava enganado. Os estudantes do meu avô ainda são vivos mas o meu avô faleceu e apesar de não existirem vídeos dele, posso ver os vídeos dos seus alunos. Ainda há cinco alunos que seguem os seus caminhos. Os estudantes do meu avô se consideram estudantes de segunda geração do meu avô. Se tivessem aprendido do meu pai, deviam considerar-se terceira geração de estudantes. Na cultura tradicional chinesa, este estamento tem menos valor que ser um profissional de segunda geração. Eles aprenderam


as técnicas antes de 1950, quando as aplicações se consideravam de suma importância. De maneira que o meu pai acredita que o novo estilo Fu é correcto. Ele seguiria a evolução da forma, os detalhes e as técnicas, as formas de mão e armas, que da mesma maneira são herdeiras das mudanças. Mudar é natural no mundo, tudo muda todos os dias. Quem não desejar mudar, fica para trás. O problema nas artes marciais é que algumas mudanças são más e outras são boas. Tudo depende do criador das mudanças, se tem a suficiente experiência e habilidades, as mudanças serão boas. Caso contrário, as mudanças serão prejudiciais. Os estudantes não sabem que tipo de estilo é bom ou não é bom, nem qual é muito bom. Além disso, eles não sabem como julgar o estilo Fu. É muito diferente a utilizar um telefone celular. No caso de se utilizar um telefone celular, se podem comparar as funções de maneira imediata e se é ou não mais fácil de utilizar em comparação com o modelo anterior; mas, nas artes marciais se necessita experiência. A experiência não se adquire só com um tipo de estilo, tem de se ter os olhos bem abertos e experimentar diferentes estilos. Só então se pode determinar o que é ou não é bom, ou aquilo que não é suficientemente bom. Assim pois, eu represento a terceira geração. A minha experiência e a minha contribuição são diferentes às do meu pai. Como se pode ver, há diferenças entre meus movimentos e os movimentos do meu pai. Não se trata de grandes mudanças, as mudanças radicam só nos detalhes. O meu irmão, a minha irmã e eu, todos aprendemos do meu pai. Eu criei alguns movimentos mais razoáveis para a aplicação. Por exemplo, fazer Tai Chi em um círculo foi criado por mim. Não há nenhuma outra prática Tai Chi em um círculo…, nós praticamos com o grupo de Tai Chi em um círculo. O principal é que sinto que o novo estilo Fu é melhor que o velho estilo Fu - para as habilidades, para a sua aplicação, para a saúde. A modo de exemplo, o meu avô quando faleceu contava 72 anos. O meu pai faleceu com 83 anos. Assim, eu que suponho que para mim vai a ser com 93 anos! Eu me sinto bem, a minha condição física é mais jovem que a minha idade. Quem sabe se vou a chegar aos 100…! (ri). As coisas são diferentes agora que faz dez ou vinte anos atrás. Hoje as pessoas estão mais interessadas na saúde. As aplicações são interessantes, mas não há muitos diferenças nas aplicações, as oportunidades

de combate são poucas, mas quando se apresentam as aplicações aos estudantes, eles percebem o motivo dos movimentos serem o que são. Assim, o estilo Fu novo é melhor que o velho estilo Fu. Como praticante da terceira geração, acredito que é o máximo expoente do estilo Fu. Posso dizer que tanto o velho como o novo, são o meu estilo familiar. Não posso dizer que o estilo antigo seja mau, posto que o novo estilo vem de velho estilo. A própria natureza precisa mudanças para ser melhor. Por vezes, o tradicional é bom, mas nem sempre… C.N.: O Mestre é a única pessoa qualificada para dizer estas coisas… e mais ninguém! V.F.: Sim, eu estou qualificado para dizer estas coisas…. C.N.: Explicou muito bem as diferenças entre o velho e novo estilo Fu, mas sinto curiosidade, assim como provavelmente terão outras pessoas, por saber porquê o seu avô começou a aprender artes marciais, como evoluiu o velho estilo Fu e alguma coisa da história do desenvolvimento do novo estilo Fu. V.F.: Quando o meu avô Fu Zheng Song era novo, talvez uns 100 anos atrás, na China, em cada povoação, toda pessoa aprendia artes marciais. Era coisa muito popular. Com as artes marciais podemos proteger-nos a nós mesmos, a nossa família, a nossa povoação, o nosso país! As artes marciais davam maior atenção às aplicações e ao Kungfu duro. O meu avô viveu nessa época. Nas povoações se arrecadava dinheiro para trazer Sifus de outras cidades, para que ensinassem os residentes. Em tempos do meu avô, a aprendizagem das artes marciais se concentrava mais nas aplicações da autodefesa. Quando o meu avô contava 16 ou 17 anos, começou o seu treino nas artes marciais com um grupo da aldeia. Nesse momento, os bandidos atacavam as aldeias e atacaram a aldeia do meu avô. O meu avô, junto com os seus conterrâneos defendeu a aldeia e ele apunhalou e matou o líder dos ladrões. Quando chegou a noite, os ladrões voltariam… Não se podia saber quando atacariam durante a noite. Por essa razão, o meu avô levou toda a sua família, o meu pai, a minha avó, a sua irmã e o seu tio e toda a família foi embora dessa aldeia. C.N.: Quais são os pontos comuns entre as artes marciais e o I Ching (O Livro das mutações)? Na Europa conhecemos esse livro, mas talvez, brevemente, poderia dizer-nos alguma coisa acerca deste conceito. V.F.: O significado do I Ching é a Mudança. Não há nem uma só coisa que não mude. Tantas coisas!... Quero dizer que não só as relações humanas; o clima, as árvores..., tudo muda. Também o Tai Chi e o Xingyi, que incluem as formas dos cinco elementos, assim como Bagua - que é afim às três secções; o sistema de Neijia Chuan... Wu Dang Pai. Assim, Wu Dang Pai é cultura Taoista. A cultura Taoista cria a Medicina Chinesa, a Filosofia e as Artes Marciais. C.N.: Quando se fala em Wudang Pai, qual é a ligação entre o Tai Chi e o Wudang Pai? V.F.: O Wudang Pai inclui o Tai Chi, Bagua e Xingyi. C.N.: Estas mudanças no novo estilo Fu, são as mudanças relacionadas com o I Ching? V.F.: O mais velho e os novos estilos Fu, todos vêm de antigos estilos Fu. Por exemplo, o meu avô aprendeu o estilo Chen em primeiro lugar e aprendeu Bagua do criador do Bagua - desconheço quantas gerações de estudantes são anteriores... - e aprendeu xingyi de um criador da geração anterior... Se integraram o Xingyi e o

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estilo Sun. Depois, o meu avô conheceu Yang Cheng Fu, o criador do estilo Yang. Yang Cheng Fu e o meu avô eram bons amigos. O meu avô ia visitar Yang Chen Fu com regularidade e Yang Chen Fu vinha a Guangzhou visitar o meu avô. Tenho uma fotografia onde estão o meu avô, Yang Cheng Fu, o meu pai e o neto de Yang Cheng Fu, além de outros membros da família. Com tudo isto quero dizer que o estilo Fu vem de outros estilos de Tai Chi e que outros estilos se originam no I-Ching. C.N.: Este era o sentido da minha pergunta..., que era para compreender como evoluiu o estilo Fu a partir das melhores características dos estilos anteriores. V.F.: O estilo Fu incorpora o estilo Chen, Yang, Sun e os estilos Wu. Wu Kung Zhao e Wu Kung Yi foram os criadores do estilo Wu; o meu avô e o meu pai trabalharam junto com os criadores do estilo Wu. Yang Cheng Fu criador do estilo Yang, Sun Lu Tang criador do estilo Sun, Wu Kung Zhao criador do estilo Wu..., de tudo isto. O meu avô formou parte da família dos KungFu. Para descrever o estilo Fu se poderia dizer que incorpora em um só os quatro estilos principais da China. Neste momento, o Yang, Chen, o Sun e o Wu são os estilos mais famosos de Tai Chi na China e no mundo. O meu avô não tivera ocasião de receber uma boa educação, não sabia escrever livros. O estilo Chen tem um livro publicado, o estilo Yang tem alguns livros, uns livros tem o estilo Sun e também o estilo Wu..., mas o meu avô não tinha livro nenhum. C.N.: Talvez seja o Mestre que vai escrever livros… V.F.: Talvez uns cinquenta! Faz 100 anos os livros eram a principal maneira de publicidade, mas neste momento há muitos meios de comunicação, como jornais, revistas, DVDs, filmes, vídeos - É uma explosão de meios! O problema de escrever um livro é que não se pode ganhar dinheiro, só se perde dinheiro. E além disse é preciso muito tempo para escrever. No entanto, com os DVDs é fácil, é simples… C.N.: Uma última pergunta. Quando se fala de Tai Chi, toda a gente pensa que estamos a falar de uma coisa que é boa para as pessoas de idade, que é saudável, que é boa para o corpo. O que sugere para os jovens? O que é

melhor, praticar as Artes Marciais internas ou externas? Talvez nos possa explicar a diferença entre as Artes Marciais inter nas e as externas, para dar aos jovens uma mensagem final no que respeita à sua utilidade. V.F.: As Artes Marciais internas e as exter nas são diferentes. Os movimentos das internas são mais suaves; as externas são mais duras na sua aplicação. Os jovens, por serem jovens gostam mais das artes marciais duras, estão interessados em gastar energia, em bater e lutar. Estão interessados na energia que se gasta por meio de batimentos e lutas. O Tai Chi não é suficiente para eles poderem gastar as suas energias - o Tai chi é mais lento e mais suave. A personalidade das pessoas é muito importante; aquelas cujas personalidades são mais dadas ao "inter no", que falam devagar e suavemente, se sentem mais atraídas pelo Tai Chi. As pessoas com uma personalidade diferente acostumam a preferir os mais duras aspectos da arte marcial. C.N.: O que sugere então? V.F.: Desde a minha experiência, simplesmente sugiro que os jovens aprendam antes uma arte interna, porque as artes internas fazem o corpo estar mais relaxado, mais suave e os movimentos são um pouco mais complicados que nas artes exter nas. Assim, o que a experiência me diz, é muito simples: Com 20 anos, começar a aprender artes internas durante três anos e depois mudar para as externas. Essa mudança é muito simples. Pelo contrário, quando se começa por aprender artes externas aos 20 anos e após três anos se muda para as artes internas, é muito mais difícil. Tem de se ter em consideração a condição do corpo. aos 20 anos, para aprender ambos tipos de artes marciais, começando com as artes internas, o corpo é mais suave, mais flexível. Aos 20 anos de idade, quando se começa com as artes mais duras, o corpo fica rígido. Assim que o cambio aos movimentos suaves é difícil e assim sendo e porque o corpo está tão duro, é difícil aprender os movimentos mais suaves. E também, falando da minha experiência, quando dirijo seminários, tenho assistentes que praticam "Wing Chun”, “Choy Lee Fut”, “South chinês”, “Kungfu"…, de maneira que quando chegam aos 40 anos e depois dos 40, eles me dizem que é difícil praticar Wing Chun, Choy Lee Fut,

Kungfu exter no, porque estão envelhecendo. E então eles querem aprender Tai Chi. Depois dos 40 anos, estão envelhecendo e é mais difícil para o corpo praticar Kungfu externo. Também tenho alunos que aprendem com outros Sifus artes externas e mudam para o Tai Chi ou para o Bagua, ou para o Xingyi. Posso então observar que do ponto de vista do meu estilo, os seus corpos são muito rígidos e a mudança para os movimentos suaves é para eles muito difícil. A posição é geralmente má. [O mestre mostra movimentos rígidos e seguidamente continua]: Um exemplo simples são os socos [mostra a diferença existente entre socos nas artes inter nas e nas externas]. ...Qual é mais fácil? na interna utilizam a cintura e o retrocesso dos socos… C.N.: Com frequência se diz que a interna também é boa para a saúde do corpo… V.F.: Devido a que os órgãos internos são massajados pelo Kungfu interno. Desde a cintura se faz a massajem dos órgãos inter nos, porque o "chi" flui de dentro para fora da parte superior do corpo para todos os órgãos inter nos. Se faz a massajem de todos os órgãos inter nos, dentro e fora, na parte superior do corpo, de dentro para fora; a circulação se activa e é mais rápida. Com o "Chi" e a respiração não só se faz massajem na pele como também nos órgãos internos. Para dentro, para fora, para dentro, expandir e comprimir… Sabemos que a informação é boa para a promoção: criar cartazes para um espaço Web, responder às pessoas que perguntam, ajudar a concentrar a mente para pensar. Como encontrar um bom mestre de Tai Chi? O que é um bom Tai Chi ou o que é um bom mestre de artes marciais inter nas, como Bagua, Xingyi…? Eu não sei!… Quando se compra pão, sabemos qual é recente o qual o não é! Mas com as artes marciais, não se sabe… Os jovens estão interessados nas artes externas, mas não sabem que após cinco anos, mudar para estilos é muito difícil. inter nos Desconhecem as diferenças…, as mudanças no corpo. Os menores de 30 anos, os menores de 40 anos…, devem saber que provavelmente dos 30 para os 40 é quando se muda, quando o corpo muda de flexível para rígido…

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EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO m muitas entrevistas de revistas de Artes Marciais e muitos participantes de seminários me têm perguntado como cheguei a fundar o Combat Hapkido. Antes de responder devo esclarecer uma coisa, não me levantei uma manhã e disse “Hoje vou criar um novo estilo de Artes Marciais”. Também devo esclarecer que não criei nenhuma Arte Marcial nem inventei centenas de técnicas nunca vistas! O que fiz foi anteriormente feito por muitos Mestres, durante centenas de anos, em muitos países diferentes. Fundar um “estilo” de Artes Marciais (Kwan, Ryu, etc…) não implica inventar novas técnicas de defesa pessoal, de luta, estratégias, princípios conceitos e filosofias. Um “estilo” é criado usando primeiro um que existente, uma Arte contrastada, estável, de provada eficácia e sólidos princípios, cuja filosofia, princípios e técnicas são escolhidos e situados numa nova estrutura, com um Novo ênfase e com métodos de execução. Desta maneira de desenvolver as técnicas pode proporcionar um método mais fresco, emocionante e uma prática mais próxima das realidades da luta actual, à vez que mantêm as fortes raízes da Arte original, assim como uma respeitosa conexão com suas tradições. Os estilos de Artes Marciais evoluem de maneira gradual e independente. Em muitas culturas se desenvolveu na época tribal um estilo de luta em cada aldeia. Em algumas culturas eram estilos familiares e o Mestre transmitia as “técnicas secretas” só aos membros da sua família e a uns poucos discípulos por ele escolhidos. Em outras culturas se desenvolveram métodos e armas, devido às necessidades sociais; como é o caso dos habitantes de Okinawa que transformaram ferramentas de cultivo e pesca em armas, devido à proibição japonesa de ter armas. Em certos momentos históricos e em certas culturas se desenvolveram diferentes estilos de luta, devido a restritivas disciplinas filosóficas e exigências do gover no, como sucedeu com os Samurais japoneses e outras classes guerreiras. Poderíamos continuar e fazer uma longa dissertação sobre os muitos estilos e métodos de luta do mundo, mas penso que o leitor já conhece os processos e os motivos. Nos países ocidentais, os estilos legítimos são produto de instrutores com muitos anos de experiência, profundo conhecimento técnico, visão e desejo de modificar a Arte, não para seu próprio ego ou satisfação pessoal, mas para fazer a

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Arte mais acessível às pessoas e mais apropriado para as condições actuais. Portanto, não é para “melhorá-lo” mas sim para “adaptá-lo”. Não é uma “revolução” é uma “evolução”. Quando se trata o assunto dos “estilos”, vem-nos ao pensamento muitos instrutores de Artes Marciais do passado e do presente, alguns deles envolvidos em muita controvérsia devido à sua motivação, a sua linhagem ou inclusivamente a sua lealdade. Pioneiros ou renegados? ¿Inovadores ou rebeldes? ¿Visionários ou ego maníacos? Quando consideramos os factos calmamente e pensando, se chega à conclusão de que afinal se trata de liberdade de expressão e é um assunto de auto-realização. Bruce Lee acreditava honestamente que a sua Arte original, o Wing Tsun e a maioria das Artes originais eram demasiadamente rígidas, limitadas e até ineficazes e resolveu ir contra a ortodoxia e expressar a sua filosofia mediante a evolução do Jeet Kune Do. Ed Parker pensava que o Kenpo chinês poderia servir melhor às necessidades dos estudantes modernos ocidentais sendo transformado no Kenpo americano. Muitos Kwans das “antigas escolas” coreanas concordaram em que para popularizar e promover seus similares estilos de Artes Marciais, os deviam unificar e dessa união foi criada uma nova arte chamada TaeKwonDo. Estes exemplos deveriam ser suficientes para ilustrar o facto de que a evolução de uma Arte Marcial em diferentes estilos não é uma excepção e sim uma norma e tem tido lugar durante centenas de anos no mundo todo. Agora que expostos os antecedentes, vamos ao que diz respeito ao nosso estilo, o “Combat Hapkido”. Enquanto estudava e ensinava Hapkido, nunca senti que fosse inadequado, inferior ou obsoleto. Me encantava a Arte tradicional e eu era seu partidário mais leal, um verdadeiro crente na efectividade de suas técnicas. Ainda amo e respeito esta Arte. A motivação e a inspiração para a mudança me chegou por assuntos práticos, não pelo facto de mudar, não pela emoção de uma novidade, não por uma ambição egoísta. Simplesmente queria adaptar as devastadoras técnicas de defesa pessoal do Hapkido, às capacidades físicas ocidentais, disciplinas de treino e âmbito legal. Por outras palavras, queria que o Hapkido fosse um sistema de defesa pessoal popular e apetecível para a maioria das mulheres e homens dos nossos dias. Percebi que certos aspectos técnicos e exigências do treino deviam ser modificados para que fosse seguro, agradável e prático para grupos de todas as idades e a maioria de tipos e

condições físicas. Durante o desenvolvimento e estruturação do sistema, estive pensando profundamente acerca das possíveis consequências legais e morais do uso das técnicas. Para simplificar, não queríamos acabar preso só por vencer numa briga de rua. Em futuros artigos falarei das mudanças específicas que eu pensai que devia realizar para “modernizar” o Hapkido. O processo da evolução do Hapkido a “Combat Hapkido” começou em 1989 e concluiu com a fundação oficial do estilo e seu Organismo de Direcção a ICHF, em 1992. A partir de então credenciamos uns 2500 cinturões negros e centenas de instrutores em mais de 20 países. Temos mais de 200 programas activos autorizados para ensinar o nosso sistema, alguns deles em bases militares e Departamentos da Policia, além das escolas de Artes Marciais. Temos centenas de estudantes matriculados na nossa Universidade Combat Hapkido. Em 1999, o governo coreano, através da sua agência homologada Federação Mundial de Ki-Do, reconheceu oficialmente o Hapkido como “Kwan” (estilo) “legítimo” e credenciado de Hapkido. No entanto, tudo isto sucedeu não sem controvérsia Apesar do reconhecimento oficial, da linhagem legitimada e todas as outras conquistas - entre as que se incluem 30 DVDs didáticos, 6 livros, 18 capas de revistas, dúzias de participações em mais de seiscientos Halls of Fame em 22 países - há muitos que não aprovam e condenam a fundação de um novo estilo Hapkido. Talvez simplesmente não gostem de mim… Talvez simplesmente são ciumentos do nosso êxito. Alguns dizem que se violou uma tradição sagrada e eu faltei ao respeito ao fundador da Arte original. A eles simplesmente digo: “Devem de corrigir a ignorância estudando um pouco de história”. Um jovem coreano e um jovem japonês treinaram durante muitos anos sob a tutela de um afamado Mestre de Daito-Ryu Aikijujutsu (o estilo clássico Samurai do Aikijujitsu), seus nomes eram Choi Yong Sool e Morei Ueshiba. Mais tarde, por diferentes motivos, decidiram fundar seus próprios “estilos” denominados Hapkido e Aikido. Eles modificaram e modernizaram a Arte tradicional de maneiras diferentes para adaptá-la às exigências das suas culturas e ao seu tempo e consoante as suas diferentes filosofias pessoais. Sejamos agradecidos pela sua visão, coragem e contribuições à “evolução” das Artes Marciais. Para contactar com o Mestre Pellegrini e para mais informação acerca do Combat Hapkido, visitar www.dsihq.com


“Por outras palavras, queria que o Hapkido fosse um sistema de defesa pessoal popular e apetecĂ­vel para a maioria das mulheres e homens dos nossos diasâ€?


REF.: • SDS1 Todos os DVD's produzidos por BudoInternational são realizados em suporteDVD-5, formato MPEG-2 multiplexado(nunca VCD, DivX, o similares) e aimpressão das capas segue as maisrestritas exigências de qualidade (tipo depapel e impressão). Também, é nenhum dosnossos produtos comercializado atravésde webs de leilões online. Se este DVD não cumpre estas exigências e/o a capa ea serigrafia não coincidem com a que aquimostramos, trata-se de uma cópia pirata.

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OS QUATRO PODERES DOS PUNHOS DO CHOY LI FUT Em seguimento ao artigo anterior de “As cinco raízes dos punhos do Choy Li Fut”, continuamos neste com os cinco diferentes poderes denominados Ging no Choy Li Fut. Ging, é a força interna e é necessária em qualquer fase da luta. Conforme o que se diz no escrito original de Chan Heung: “Quando atacares ou te sintas estonteado deves usar o Ging, se o não usas não estás estável e flexível e não poderás controlar o contrário”. O Ging é definido algumas vezes como “a sabedoria da força”. Leva tempo desenvolve-la e o estudante deve trabalhar arduamente e aprender a usar todos os seus músculos em bloco e dirigir o seu poder para um novo caminho no treino do Choy Li Fut. Antes de estudar o Ging, o poder muscular do estudante principiante, do intermédio ou inclusivamente por vezes do avançado, é tenso e brutal. Pode parecer forte, mas a sua força é limitada e queima energia sem esforço. Quando se aprende a dirigir directamente o Ging parece como se não

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Choi Li Fut usasse nenhuma força muscular, mas na realidade o poder o Ging flui do seu corpo como a luz. No sistema Choy Li Fut há quatro tipos principais de Ging:

O Gok Ging se produz por uma calma interna que permite ao estudante bater com um poder solto e relaxado, em vez de o fazer com o poder tenso e duro, resultante do medo e a apreensão.

Nim Chui Ging (Ging pegajoso ou enroscado)

Woi Shun Ging (Vem e vai, mas permanece no mesmo lugar)

O Ging pegajoso é o que dá voltas e indica que o estudante está entrelaçado com o seu adversário, sem darlhe oportunidade de fugir. Nim Chuin Ging é a forma mais importante de poder. Quando o estudante tenta desenvolver este Ging, tem que relaxar todo o corpo e concentrar-se em no sentimento e na sensibilidade. Quando já realizou isto, não existe o problema de para onde se dirige o oponente, podendo segui-lo e controlá-lo. Segue-se a reacção do oponente com o sentimento. Inclusivamente ainda que não inicie o ataque, mantém o controlo se o seu oponente não se mover; o praticante de Choy Li Fut também se não move. Se pelo contrário o oponente se mover, ainda que seja ligeiramente, então o praticante é o primeiro em mover-se com decisão.

Gok Ging (Ging ilustrado) É o segundo tipo de poder mais importante emitido pelo praticante de Choy Li Fut. A palavra “ilustrado” refere-se ao facto de que primeiro o estudante tem de aprender a conhecer o seu corpo e depois o o do oponente. O estudante deve ter aprendido Nim Chui Ging antes de dominar Gok Ging. É praticado estando quieto e calmo, usando delicadeza contra dureza. Este Ging pode ser comparado com o estilo de luta de uma serpente, que e s p e r a silenciosamente a sua vítima e bate com rapidez e dureza quando ela aparece.

É um poder espiritual rotativo que permite ao estudante seguir o seu adversário como se fosse um boomerang. Não há problema em saber por onde vai ir o oponente porque o círculo redondo do Woi Shun Ging o segue, consegue dissolver o ataque e deixa um espaço para um contra-ataque. O praticante usa o seu Woi Shun Ging para voltar a dirigir a direcção do ataque do seu oponente. Quando atinge o controlo, libera mais Ging. A parte do corpo que controla por inteiro este poder é a cintura.

Gum Gong Ging (O punho em estado puro, como um diamante em bruto) Este quarto tipo de Ging se traduz como “dureza” porque é parecido a um diamante. Gum Gong Ging

combina e dureza delicadeza, para libertar uma força poderosa e dura, mas não é uma força tensa. Os chineses dizem: “A dureza lava a suavidade e a suavidade lava a dureza para produzir um poder completamente equilibrado”. Antes de compreender este Ging, o estudante tem de conhecer Nim Chuin, Gok e Woi Shun, posto que Gum Gong Ging é um compêndio dos outros três Gings prévios, para produzir o timing próprio, o controlo e a direcção. Combinando os três Gings prévios, o praticante parece solto e relaxado, mas consegue um golpe duro e rápido de grande impacto.

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A Coluna de Raúl Gutiérrez

Artes Marciais e Desportos O aspecto desportivo de qualquer arte marcial, desvirtua completamente o objectivo para o qual realmente foram criadas em tempos de guerra. Como todos sabemos, para que uma arte marcial possa ser aplicada desportivamente em torneios ou campeonatos, terão sido proibidas todas as técnicas e formas de aplicação ou zonas de batimento “mais efectivas nos encontros reais”. Ter-seão escrito regras do que se pode ou não fazer. Tudo o que é repreendido, castigado e que nos faz perder um encontro desportivo, é o que realmente funciona em termos da realidade. Isto faz que Grandes Campeões da Espanha, da Europa ou do Mundo, tenham sido despedaçados em brigas de rua frente a simples desordeiros que não estão habituados a marcar pontos para vencer, mas antes sim a destruir, partir e se necessário feris gravemente, ou mesmo matar um adversário numa vulgar discoteca de bairro. Isto já algo que já na década de 80 eu transmiti em outros artigos dessa época, o que me proporcionou alguns mal-entendidos com alguns praticantes de outros estilos, que não souberam perceber o que agora, com o tempo decorrido, tenho podido demonstrar. Além de tudo o mais, um artista marcial será honesto numa luta, será renitente em magoar excessivamente o seu oponente, respeitará a lei e evitará denuncias judiciais ou acabar nos tribunais. Um delinquente ou bandido habitual, vai tentar causar-nos o maior mal possível, não percebe de ética, civismo, leis ou tribunais. Se tem uma faca nas suas mãos vai tentar espetá-la até o fundo, se tem um bate de Basebol vai tentar arrancar-nos a cabeça e se possui uma arma de fogo vai esvaziar o carregador. Não pensa na tua família nem na sua, não nos respeita, não está preocupado com ser preso, porque evidentemente também acredita em que pode fugir da justiça. Estes são factores que sempre vão jogar em contra de nós. Estaremos sempre indefesos perante este género de indivíduos. O melhor é rezar para não estar nunca no lugar dos conflitos, evitar ao máximo que estes se apresentem, agir perante tudo com lógica, inteligência, táctica e psicologia e finalmente, quando não houver mais solução, então agir com uma elevada dose de contundência, utilizando os nossos conhecimentos e o treino de tantos e tantos anos, para aplicar um

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“O aspecto desportivo de qualquer arte marcial, desvirtua completamente o objectivo para o qual realmente foram criadas em tempos de guerra” determinado grau de dor aos nossos oponentes, que consiga reduzi-los sem chegar a causar um mal irreparável. Isto em termos reais e dependendo do tipo de oponente que tivermos na frente, geralmente “não é nada fácil”. É semelhante a que um Polícia, com o a sua farda e armamento ao completo, mas com o condicionante legal de que deve prender a um malfeitor, mas “com ternura, procurando não ocasionar-lhe nenhum mal, ferida ou dor”, porque do contrário, este poderia denunciá-lo e conseguir que o castigado seja o próprio agente da lei. Coisa absolutamente ridícula, mas aceite pela nossa sociedade. Nós pensamos nos outros e em nós próprios, não desejamos meter-nos em problemas, respeitamos os outros e os seus; amamos os nossos, desejamos partilhar e gozar da vida, viver em paz e harmonia. Mas tudo isto por vezes resulta muito complicado e difícil. Mesmo assim, é o que sempre vamos tentar. Com frequência me dizem que as minhas técnicas de uso policial são demasiadamente agressivas, violentas e perigosas, mas nunca causei um mal irreparável, nunca para reduzir um “oponente que realmente se opõe” provoquei sangue ou feridas que possam ser denunciadas a um juiz. Isto só é possível aplicando a técnica apropriada, no lugar apropriado e com a dureza ou grau de dor necessário para conseguir reduzi-lo e isto é devido ao conhecimento, o treino constante, a preparação efectiva do nosso arsenal físico natural, a táctica, o método e o conhecimento dos pontos fracos e o tipo de batimento ou acção requeridos.

O Fu-Shih Kenpo é então a compilação de experiências reais ao longo da minha existência, o treino de diversos estilos de artes marciais e mestres ou especialistas mundialmente reconhecidos, uma bagagem de 45 anos através de tor neios e campeonatos do mundo, contacto policial desde a minha infância, treinos de segurança e policiais a nível profissional desde 1981 e outros campos da acção, como o próprio cinema. Muitos anos de repetição de técnicas, métodos e movimentos diversos, através de estilos continuamente treinados, até descobrir que dentro de cada um deles, há muitos conhecimentos ricos e valiosos, e outros que não só não servem para nada como também, além disso nos fazem perder tempo e desvirtuam o seu propósito final. Entendo e assim faço, que há uma grande parte dos nossos treinos, através dos quais passamos anos e anos repetindo a mesma sequência ou movimento individual, mesmo sabendo que não presta a utilidade final que é a defesa pessoal efectiva. Muitas vezes nos sentimos pouco à vontade com determinas técnicas, não nos atraem, não nos enchem, não nos convencem. Isto é um aviso semelhante à dor. Quando uma coisa nos dói e torna a doer, está a dizer-nos claramente que alguma coisa não está a funcionar, que é preciso ir ao médico. Assim também, teríamos de eliminar toda essa “palha” que existe em cada estilo ou sistema de artes marciais ou nos desportos. Eliminar de vez ou pesquisar onde radica o falho para repará-lo. Assim é o Fu-Shih Kenpo, um constante sistema de revisão, actualização e melhora. Não é melhor aquele sistema que mais movimentos, técnicas ou katas possui, mas o que realmente funciona e resulta efectivo nas suas diferentes áreas; formação, aplicação e resultado final. No mês que vem, apresentarei a estrutura actual da nossa arte marcial, aquele que optei por denominar como “O Coração do nosso Estilo Fu-Shih Kenpo”. Até então, amigos, espero que tenha sabido expressar o que marcialmente sinto. Em nenhum caso é meu propósito desprezar outros estilos, mestres ou pessoas, pois tudo depende do que cada um procura encontrar através dos seus treinos. Há diversos caminhos, espero consigam encontrar o vosso. Obrigado…


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A coluna do WT

O segredo que deixou de o ser... az uns vinte anos houve o grande auge do WingTsun na Europa. De ser um estilo de Boxe Chinês, praticamente desconhecido no “velho continente”, passou a ser o estilo de moda. Muitos praticantes de Artes Marciais sentiram curiosidade por um sistema que se mostrava aos seguidores como “o mais eficaz de todos na defesa pessoal”. As escolas e praticantes de WT aumentaram desde a Alemanha ao resto da Europa a um ritmo insuperável e nomes até esse momento desconhecidos, começaram a ser muito comentados nos ambientes e conversas entre adeptos das AAMM. Muitos fora os que começaram a prática deste sistema, animados por esse aura de invencíveis que mostrava uma geração de mestres com o meu sigung Keith R. Kernspecht em primeiro lugar, excepcionalmente escoltado por sua “guarda pretoriana” constituída por sifus ilustres (que hoje em dia são DAI SIFU) como Salih, Víctor, Emin, Henning, Tassos, etc..., conseguiram levar o WT a quase todos os países da Europa com um grande sucesso. O certo é que a maioria dos seguidores começavam a praticar não tanto por se sentirem atraídos pelo próprio sistema (devemos reconhecer que não é um estilo demasiadamente vistoso à primeira vista) mas porque “queriam ser como aquela geração de professores”. Queriam ser invencíveis! Na minha opinião, muitos erros a nível de organização e um crescimento descontrolado deram lugar a um ambiente que pouco tinha a ver com a prática de uma arte e como consequência daquilo, hoje o WingTsun deve lutar por conseguir um lugar no mundo das AAMM. Poderíamos passar horas falando acerca disto, sem chegarmos a estar de acordo, mas as evidências por vezes são incontestáveis. Acostumo a comentar aos meus colegas de toda a Europa que somos nós (e só nós) os responsáveis de todos os erros cometidos e que situaram o nosso sistema numa posição não muito boa para a sua promoção e prática. Portanto, devemos ser também nós, que com trabalho, seriedade e amor pelo que fazemos, os que o situemos onde acredito firmemente que merece. No meu livro “Alto Nível”, faço uma crítica construtiva ao WT, onde tento dar o meu ponto de vista acerca dos grandes males do nosso estilo e quais são suas possíveis soluções. Também assinalo os grandes acertos e fortalezas do mesmo, mas pensei conveniente fazer uma reflexão crítica a esse respeito, para nos situarmos em um novo ponto de partida. Tenho recebido grandes apoios ao meu projecto e como não podia ser de outra maneira, grandes críticas também. Me satisfaz enormemente que pelo menos tenha servido para as gentes do WingTsun reflectirem (inclusivamente mesmo que não estejam nada de acordo comigo). Considero que olhar com perspectiva o acontecido nestes últimos vinte anos de WingTsun na Europa, nos fará ter as chaves para dar maior força à nossa arte. Uma das coisas que olhando desde o passado até o presente mais me chamou a atenção foi como mudaram

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completamente as “estéticas” do WingTsun. Se vemos antigos vídeos sobre os mestres anteriormente ditos e os referentes actuais desta arte no mundo, sem dúvida alguma constataremos como as diferenças são grandiosas. Parecem dois estilos diferentes É normal que um estilo de Boxe Chinês como este, que tem seus fundamentos na versatilidade e capacidade de adaptação dos praticantes a um ambiente hostil, se vá modificando na sua aparência, ao mesmo tempo que os adversários e os cenários vão mudando. Mas, eu pergunto se realmente é só isso ou há outros factores que explicam essas distâncias siderais entre o antes e o agora, em só uma ou duas gerações de praticantes e pouco menos de 20 anos! A minha opinião a esse respeito? Apesar da minha intenção ser sempre de muito respeito para com todos os ramos, tendências, mestres e estilos, tenho que afirmar, não sem certa dor, que o WingTsun morreu de êxito! Sou dos que afirmam que tudo na vida é mudança, adaptação e evolução. O WingTsun não pode escapar a esta lei da vida: a mudança. O sistema com o qual eu pessoalmente aprendi (e a imensa maioria de praticantes de WT da Europa), fundamenta a evolução (passo de níveis) na superação, mediante um exame que geralmente se realiza em um seminário de um grande mestre. Quer dizer, se passa de grau quando se supera a prova. E não é preciso dizer que ninguém aprendia o nível superior até superar essa passagem de nível! Se bem este sistema tem cosias positivas, penso que o negativo supera com largura aqueles aspectos que poderiam chegar a ser interessantes para um praticante. Este sistema de formação obriga o praticante a treinar durante muitos anos, até conseguir chegar ao nível avançado onde se situam as técnicas, tácticas e estratégias mais importantes do sistema. Muitos desistem pelo caminho, JAMAIS chegam a completar o mesmo e como consequência surgem dois problemas realmente importantes: a) Muitos abandonam antes de ter a totalidade do sistema e estão carentes de muitas das chaves deste estilo. Assim é difícil conseguir combater (nem sequer um sparring suave)


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A coluna do WT

O segredo que deixou de o ser... com adversários de outros sistemas que possuem todo o seu arsenal técnico e táctico. Na maioria dois casos, o praticante não toma consciência destas deficiências por que JAMAIS SAI DO SEU ECOSISTEMA WINGTSUN (da sua escola). Nunca pratica com ninguém que não seja da sua própria escola, com o que dificilmente tomará consciência de que muitas das coisas que pratica não funcionariam em um cenário realista. Denomino isto com o termo “endogâmia marcial” e apesar de acontecer em muitos sistemas, no nosso por vezes tem aspectos cómicos. b) Aqueles que conseguem completar o sistema, não têm “companheiros” com quem praticar e isto dá origem a uma dinâmica destrutiva: “não treino porque não tenho com quem…”. Com isto, as “pérolas” deste inacreditável sistema, no melhor dos casos ficam no baú da memória de um praticante que muito de vez em quando pode praticar em algum seminário, com algum companheiro. Não pensam que seria mais razoável poder praticar durante um grande período de tempo com todo o sistema e com muitos e diferentes companheiros? Das duas opções, não saberia dizer qual é a pior… Faz alguns dias, um dos meus mestres tratava em um documento escrito, acerca da necessidade de aprender todo o sistema completo, como passo prévio a PRATICAR com ele. SIM!!! E afirmava inclusivamente que era muito necessário aprende-lo quando ainda se é jovem, porque não faz sentido aprender técnicas de combate e preparar batalhas quando já se é idoso. A essa idade tem de se gozar mais da prática e o ensino de pessoas que começam. Faz algum sentido esperar a superar os cinquenta anos para possuir todas as técnicas avançadas do sistema? Os “puristas” do WT utilizam todo género de argumentos (pouco convincentes para a maioria das pessoas inteligentes) nos quais se justifica esta maneira de ensinar por “fascículos”. Chegam a afirmar que se utiliza este sistema porque a compreensão do mesmo é muito difícil. Não estou nada de acordo com

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isso e acostumo a oferecer exemplos de sistemas tanto ou mais complexos que o próprio WT, onde os praticantes aprendem e praticam sem limitações e os resultados são mais que evidentes (Boxe, BJJ). Na minha opinião, é necessário em primeiro lugar APRENDER o sistema completo, para depois de completo PRATICAR com o mesmo. Seria como dar UMA SEGUNDA VOLTA AO CIRCUITO. Em primeiro lugar, deveríamos ensinar o sistema técnico ao completo em um prazo não demasiadamente longo. Para a imensa maioria das pessoas, este sistema (e outros) formam uma pequena parte da sua vida e não podem empregar muito mais de quatro ou seis horas semanais do seu tempo livre. Mas sem dúvida, a sensação de ir aprendendo todas e cada uma das peças, sem ter de esperar vinte anos, é um incentivo para que muitos se mantenham no caminho. Assim, mais pessoas chegariam a completar o sistema e a quantidade de praticantes que teriam todas as “ferramentas” do mesmo, seriam mais que suficientes para PRATICAR com todo o sistema e suas peças. Oiço roc a mb ole sc a s hist ória s acerca de como é complicado o WT e de que isso é impossível…, mas geralmente, todos aqueles que afir mam coisas assim, são incapazes de manter com argumentos firmes estas afirmações. Entre os meus estudantes e instrutores há pessoas de muito diferentes idades, condições e níveis intelectuais, mas tentar explicar a um arquitecto ou a um engenheiro de telecomunicações que não podemos ensinar-lhe este sistema rápido porque é muito “difícil”, pode chegar a ser uma questão complicada… Em segundo lugar, o estudante deve PRATICAR e para a prática, parece óbvio que se necessitam como mínimo duas pessoas. É esta, penso eu, a segunda fase, a que se perdeu no WingTsun e explica as enormes diferenças entre aquela primeira promoção de excepcionais instrutores (que praticaram centenas

de horas com o seu sistema), com a actual corrente de pessoas que passam mais tempo teorizando sobre questões quase que metafísicas, em vez de SUAR. Sim, meus senhores, treinando uma arte marcial (qualquer delas) o habitual é suar, trabalhar, estudar, dedicar-lhe muitas horas numa sala em silêncio. Não quero que as minhas afirmações sejam vistas como uma provocação, antes sim como tudo o contrário. Talvez um incentivo para aqueles que como eu amam profundamente este estilo da “Formosa e Florida Primavera” e que não aceitam que uma coisa tão maravilhoso morra de êxito. Há quem me diz… “Em outros estilos acontece a mesma coisa…” Para mim não é um consolo o que acontece na “casa do vizinho”. Deitando mão de um velho adágio “mal de muitos consolo de sonsos…”, proponho sermos humildes, trabalhar arduamente e ver em profundidade o nosso sistema. O resto… Nem é preciso dizer que temos de assinalar um aspecto muito positivo. Cada dia mais escolas e organizações estão levando à prática esta tendência que proponho e tenho a certeza de que se está fazendo um trabalho excepcional por parte de alguns mestres. Isto dará frutos em um prazo não muito longo. Onde está então o segredo que deixou de o ser…? Bem. Parece óbvio que aquela primeira geração de instrutores nos marcou um caminho nítido que se fundamenta em tratar este sistema como o que é, uma arte MARCIAL. Para isso não há outro caminho que o de artista marcial: suor, sacrifício, estudo, constância, etc.… Primeiro aprenderam o sistema e depois PRACTICARAM com ele. Muitos chegaram a conclusões muito dispares. Todas diferentes. Frequentemente até enfrentadas entre si. Mas, existe uma coisa melhor que ter diferentes pontos de vista de uma mesma coisa? Mais uma vez, muitíssimo obrigado pelo vosso apoio. Nos ajuda muito para continuarmos com o nosso projecto e dar passos para o futuro.


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Com uma impressionante carreira internacional mais de 2.000 Troféus, dos quais 41 deles como Campeão Absoluto - George Bierman nos oferece neste trabalho a sua experiência em Kumite durante mais de 20 anos como competidor. Uma série de técnicas básicas, conceitos e conselhos que todos nós, sejamos principiantes ou estudantes avançados, devemos conhecer para melhorar os nossos resultados em combate: o trabalho dos espaços, direcção do movimento, mudanças de direcção, melhora do equilíbrio, distâncias, timing, posições, guardas, técnicas de punho e pontapé, combinações, antecipação. Um DVD cheio de truques e ideias esclarecedoras, resultado da verdadeira experiência e muita dedicação, e não só os karatekas como também os lutadores desportivos de qualquer estilo encontrarão inspiração e verdade em quantidade.

REF.: • BIERMAN3

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Artes do Japão É uma das mais finas espadas dos nossos dias e bem conhecido dos nossos leitores, pois tem realizado inúmeros trabalhos em DVDs e livros sobre as Artes Guerreiras japonesas. Sempre ilustrativo e detalhado, ressuma estilo e conhecimentos de mestre; é Sueyoshi Akeshi que está de regresso com novos trabalhos que iremos apresentando nos próximos meses, para alegria de seus muitos seguidores.

Texto: Carlos Martins Fotos: ©budointernational

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“Um dos objectivos das escolas de Korio é manter vivo o espírito e as técnicas ancestrais desenvolvidas durante séculos e que sobreviveram até os nossos dias, a través de gerações”

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Artes do Japão Kihon Waza Neste novo DVD o Mestre Sueyoshi Akeshi mostra-nos de maneira pormenorizada, o estudo das técnicas base para a prática do Battojutsu. Todos os trabalhos de base são executados e explicados em detalhe. Nele, o Mestre não só explica as técnicas de base como as executa de maneira detalhada, para que possa haver uma melhor compreensão por parte do praticante. O Kihon é o elemento comum em qualquer arte marcial. Este género de treino tem codificada toda a essência da escola e só pode ser compreendida após inúmeras repetições, assim o corpo reage aos resultados obtidos e isso se reflecte no momento da sua aplicação. Esta é uma fase do treino em que muitos praticantes se desmotivam e inclusivamente acabam por desistir, devido a que os resultados não se obtêm a curto prazo. Mas a partir do momento em que o praticante percebe a importância da técnica base em seu treino habitual, nota que existe uma grande evolução não só a nível físico como também espiritualmente, isto é devido a que também mantém o praticante humilde, voltando constantemente à prática do kihon, para desta maneira

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poder polir mais e mais a sua técnica e também perceber que neste mundo tão vasto, a mentalidade de aluno é ideal, pois só assim se consegue evoluir e aprender para poder alcançar o nível desejado. O maior erro de qualquer praticante é usar as palavras “já sei”, posto que a partir daí, passa o seu ego ao primeiro plano e se esquece do verdadeiro sentido das Artes Marciais, o que significa que o praticante está satisfeito com o já obtido até o momento e na sua ingénua maneira de pensar, já consegue “dominar” o conhecimento que lhe foi transmitido. Na verdade, o que acontece é precisamente o contrário; o que deve surgir em cada praticante é a necessidade de devorar conhecimentos e não alimentar o ego com ideias falsas que o desviam do caminho a destinos que nada têm a ver com os princípios das Artes Marciais. Mantendo a ideia de aprendiz é possível alcançar um nível técnico e de conhecimento incalculável e aí sim, e sem sequer se aperceber, consegue alcançar um grande nível técnico e mental. É destes ingredientes que acabam por florescer grandes mestres. O elemento comum em todos os movimentos é que o corpo se deve mover como um todo. O grau de dificuldade cresce porque o praticante deve concentrar-se em participar com o corpo em toda a acção do movimento. A prática do tameshi giri (prova de corte) é, no fundo, o resultado final da prática intensiva do Kihon; se a base se executa na maneira correcta, esta se reflecte no corte do makiwara. Se retrocedemos à época feudal japonesa, podemos facilmente concluir que como então não havia margem para erros, cada ataque tinha de ser bem calculado para minimizar os riscos de ser ferido o inclusivamente morrer.


Um dos objectivos das escolas de Korio é manter vivo o espírito e as técnicas ancestrais desenvolvidas durante séculos e que sobreviveram até os nossos dias através de gerações, mas este é um tipo de aprendizagem muito duro, difícil e com resultados a longo prazo, o que não resulta muito animador para aqueles praticantes que pretendem adquirir conhecimentos sem grande esforço. O facto de não haver graduações, cintos de diferentes cores ou diplomas, não desperta a curiosidade da grande maioria dos praticantes, o que por um lado tem a sua parte boa, porque desta maneira a transmissão do conhecimento se mantém de uma maneira restritiva e para um número

reduzido. O Mestre Sueyoshi acostuma a dizer que não pretende um grande número de praticantes mas um grande número de qualidade nesses poucos praticantes. Uma coisa é certa, aqueles que praticam escolas de Korio não vêm em busca de graduações, diplomas o de qualquer outra segunda intenção; este tipo de budoka vem somente em busca de conhecimentos exclusivamente para a sua realização pessoal. É uma paixão difícil de explicar por palavras, é coisa que se sente e esse sentimento é expressado por cada praticante, pois cada pessoa sente o mesmo mas de maneira diferente. Este é mais um dos inúmeros benefícios que a prática das Artes Marciais proporciona ao

praticante, cada um acaba por criar a sua própria visão, sua maneira de estar e inclusivamente a maneira de viver na sua vida privada, mas nunca deve esquecer que a humildade é o mais importante, a sua falta significa que alguma coisa falhou e acaba por perder o verdadeiro sentido da arte marcial. A ambição é coisa que faz parte do ser humano e o tempo se encarrega de proporcionar-nos o que procuramos, mas não de maneira abrupta o gananciosa; há coisas que não é preciso pedir; em um determinado momento, no momento devido, o resultado de anos de dedicação acaba por aflorar e sem ter de ir em sua procura ou pedir, o

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Artes do Japão estatuto de cada aluno é adquirido de maneira natural e com o tempo, inclusivamente chegará o momento de por sua vez também transmitir o conhecimento e de dar continuidade à escola. As nominações, os reconhecimentos são sempre dados adquiridos mas sem uma data determinada e se existe alguma forma pressão por querer alcançar alguma coisa antes de tempo, deixa-se de ser ambicioso e se passa a ser ganancioso; são duas palavras bastante distintas mas a vezes se confundem, porque a distancia que as separa é demasiadamente curta e se acaba por entrar em um contexto completamente diferente, que não é compatível com o espírito das Artes Marciais. A dedicação do aluno ao seu mestre tem que ser vista tal como a prática do Kihon, tem de ser constante para que não possa ser esquecida, pois esta é a única maneira de manter a técnica polida e poder aplicá-la da forma mais correcta. Assim também, a maneira de tratar com o mestre é importante. Para que não possam existir dúvidas sobre as intenções do praticante, este deve segui-lo cegamente e sem o questionar, inclusivamente quando por vezes possa não estar de acordo, deve ele aceitar todas as suas decisões da mesma maneira, deve de o seguir fielmente pelo resto da sua vida e ter a ambição de chegar como mínimo ao seu nível. Tal como o aluno precisa a um mestre, o mestre também precisa do aluno, o mestre não pode ser mestre se não tem o aluno e o aluno também o não pode ser se não tiver um mestre, ambos se complementam e ambos são de grande valor, porque um é quem transmite o conhecimento e o outro é quem o assimila e se compromete no futuro de dar continuidade aos conhecimentos adquiridos; daí a importância da humildade, da dedicação e consequentemente, a ambição não existe. Não há outra maneira de poder entrar num mundo tão vasto como é o das Artes Marciais; só assim é possível dar continuidade a uma boa qualidade de aprendizagem e de ensino, para que possa ser transmitida de geração em geração. As escolas de Koriu contêm a origem mais antiga e mais profundo do Japão. São tesoiros que permanecem vivos nos nossos dias, que foram transmitidos de geração em geração. Essa transmissão é realizada por grandes mestres, tal como o mestre Sueyoshi Akeshi. A sua abertura ao Ocidente nos deu a oportunidade de poder ser parte de uma coisa de tanto valor para o povo Japonês e que agora também nos seja acessível e termos a honra de poder aprender artes que durante séculos foram inacessíveis no Ocidente. Sem dúvida é coisa que nós, amantes das Artes Marciais, devemos aproveitar e agradecer o facto de haver pessoas dispostas a transmitir-nos o seu conhecimento, com a intenção de difundir o seu maior tesouro e que uma coisa tão valiosa seja acessível àqueles que desejam dedicar-se em corpo e alma a uma aprendizagem longa,

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“Uma coisa é certa, aqueles que praticam escolas de Korio não vêm em busca de graduações, diplomas o de qualquer outra segunda intenção”


com um caminho bastante difícil por diante, pois o caminho das Artes Marciais não é coisa que se obtenha de maneira fácil; pessoas como o mestre Sueyoshi, que apesar de parecer bastante aberto, resulta ser uma pessoa muito exigente no que à transmissão dos conhecimentos diz respeito. Falo por mim, sendo eu um dos seus alunos mais antigos, o seu nível de exigência comigo é bastante severo e constantemente me

alerta para que a minha base seja suficientemente sólida, para que se possa reflectir isto na aplicação real. Perdi a conta do número de vezes que me bateu com o xinai na cabeça, o com o yari o a naginata nas mãos e sou plenamente consciente de que todas essas vezes me enganei e que o mestre insistia em me alertar das minhas fraquezas, para que no futuro pudesse eu melhorar não só a minha técnica como assim também o meu estado de alerta e a reacção. Tudo isto, mais uma vez o Mestre Sueyoshi nos oferece e agora com este seu novo trabalho inspirado nas técnicas base da Mugen Kai, adicionando assim outro imprescindível DVD que não vai defraudar ninguém, muito pelo contrário. De certeza que não ficar esquecido nos estantes e é sem dúvida mais um valioso suporte para os amantes das Artes Marciais.

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O método Fa Kuen surgiu nas salas de treino do famoso templo Shaolim do Sul e com o tempo foi difundido até chegar ao Dai Duk Lan, onde o jovem estudante Andreas Hoffmann prometeu ao Grão Mestre Wai Yan difundir o Weng Chun. Uma parte importante deste é o método Fa Kuen, que permite alcançar a potencia de um furacão, estudando o princípio do círculo. O nosso corpo, com a sua estrutura de articulações, etc., só nos permite realizar movimentos em círculo e o método Fa Kuen reconhece que o movimento directo não é o mais curto, o mais curto é o circular, permitindo-nos alcançar assim um enorme poder. Neste trabalho o Mestre Hoffmann nos desvela as 5 fontes do Fa Kuen, conhecidas como o coração da forma Fa Kuen e que se podem executar como socos, cotoveladas, pontapés, etc. Combinando estes conceitos, se desenvolve uma espiral de batimentos que permitem destruir a resistência do oponente e deixálo sem equilíbrio. O DVD se completa com a forma Fa Kuen em 10 secções e suas aplicações, assim como o treino com Pads. Um estilo que fez famosos os lutadores de Weng Chun nas competições de luta livre e Sanda, devido aos seus pouco ortodoxos métodos de batimento de Fa Kuen.

REF.: • WENG-3

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Este DVD de primeiros auxílios é uma ferramenta indispensável para todos os praticantes de Artes Marciais que tarde ou cedo encontram situações em que é preciso “ajudar”. Em cada escola em que houver lutas, combates, ou simplesmente contacto físico duro, algum estudante ou instrutor foi alcançado por um golpe ou sofreu alguma lesão. Talvez tenha sido nocauteado, tenha tido dificuldades respiratórias, cãibras musculares, tonturas, náuseas, ou qualquer outra mal estar provocada por um treino lesivo. Os “acidentes” são uma realidade y devem ser tratados o antes possível posto que a disfunção causada pode duplicar a provocada por um simples acidente. Assim sendo, não deveria ser esta informação obrigatória para todo “instrutor” visando preservar a segurança e bem estar dos estudantes? Este DVD é o primeiro de uma série de trabalhos do Mestre Pantazi, dedicados a esse “outro lado” do Kyusho, esse lado que presta atenção às ciências da “energia”, da saúde e do bem estar, não só aplicáveis no Dojo, como também no dia a dia com os nossos seres queridos e as pessoas que temos em volta.

REF.: • KYUSHO19

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