Cores na Cidade, Azulejaria Santa Maria de Belém | Colours in Town, Tiles from Santa Maria de Belém

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Cores na cidade | colors in town

Cores na Cidade Azulejaria de

Santa Maria de Belém

Colours in Town Tiles from Santa Maria de Belém

Junta de freguesia de santa maria de belém

Augusto Moutinho Borges

Augusto Moutinho Borges

BY THE

BOOK

Junta de freguesia de santa maria de belém

BY TH E

BOOK


©Edição Edition By the Book, edições especiais, lda para/to Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém Título TITLE Cores na Cidade – AzulEjaria de Santa Maria de Belém | Colours in town – Tiles from Santa Maria de Belém © T e x to T E X T Augusto Moutinho Borges T r a d u ç ã o T RAN S LA T I O N MIGUEL CASTRO HENRIQUES © F oto g r a f i a P H O T O GRA P H Y MUSEU DA PRESIDÊNCIA DA RePúBLICA : José Manuel (P. 16), Imagens de luz (p. 17) Margarida Capeto (p. 12 meio/middle, P. 15, pp. 18-21, p. 50 sup./up, pp. 96-97, pp. 106-107, pp. 120-122, pP. 124-125, p. 134 sup./up e inf./above) Maria Cristina Duarte (p. 117) Vitor Roque (p. 25 sup./up e inf. dir./above right, p. 32 sup./up, pp. 40-43, p. 44 inf./above, Pp. 54-59, pp. 98-105, p. 133, p. 160?) Augusto Moutinho Borges (todas as restantes/all other) T r a t a m e n to d e i m a g e m Maria João de Moraes Palmeiro

P H O T O GRA P H Y P O S T P R O DU C T I O N

Des i g n Forma, Design: Veronique Pipa | Margarida Oliveira C oo r d e n a ç ã o E d i to r i a l e P r o d u ç ã o Ana de Albuquerque | Maria João de Paiva Brandão I m p r ess ã o P RIN T ING Printer portuguesa ISBN 978-989-97317-9-0 Dep ó s i to Le g a l 343639/12

BY THE BOOK Edições Especiais, lda Rua das Pedreiras, 16-4º 1400-271 Lisboa T. + F. (+351) 213 610 997 www.bythebook.pt

L E GAL D E P O S I T

C O O RDINA T I O N AND P R O DU C T I O N


Índice Index

Prefácio Preface Agradecimentos Acknowledgments Palavras prévias Previous words 10

Azulejaria nos palácios, edifícios religiosos e equipamentos militares Tiles in palaces, religious and military buildings

12 Palácios Palaces 16 Palácio de Belém 18 Palácio dos Condes da Calheta 24 Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha 32 Edifícios Religiosos Religious buildings 34 Mosteiro de Santa Maria de Belém 36 Convento do Bom Sucesso 40 Convento das Salésias 44 Equipamentos militares Military buildings 46 Regimento de Lanceiros n.º 2 50 Regimento de Cavalaria n.º 7 54 Instituto Superior Naval de Guerra 60 Arquitetura civil Civil architecture 62 Azulejaria de exterior Exterior tiles 66 Fachadas Facades 70 Registos Devotional panels 74 Toponímia Toponymy 76 Números de polícia e caixas de correio Door numbers and mail boxes 78 Legendas e datas Subtitles and dates 80 Arte pública Public art 84 Reclames e heráldica Advertising boards and heraldry 86 Balaustradas, vasos, urnas, pináculos e estátuas Balustrades, jars, urns, pinnacles and statues 88 Outros exemplos Other examples 91 Padrões Patterns 94 Azulejaria de interior Tiles for interior decoration 96 Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém 98 Escola Marquês de Pombal e Sala-Museu Leopoldo Battistini 106 Embaixada da República Democrática de Timor-Leste 108 Jardim Botânico Tropical 118 Centro Cultural Casapiano 120 Pastéis de Belém 126 Pensão Setubalense 128 Queijadas de Belém 130 Outros exemplos Other examples 134 Padrões Patterns 138 Artistas e centros produtores Artists and manufacturing centers 140 Mestres e pintores Masters and painters 146 Fábricas, oficinas e ateliers Factories, manufacturers and ateliers 150 Cronologia Timeline 153 Glossário Glossary 155 Bibliografia Bibliography


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Azulejaria nos palĂĄcios, edifĂ­cios religiosos e equipamentos militares Tiles in palaces, religious and military buildings


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Palรกcios

Palaces


Santa Maria de Belém foi sempre um lugar natural e aprazível para a aristocracia mandar edificar palácios integrados em quintas de veraneio. Nos primórdios do século XVII e até finais do século XVIII, os palácios e casas­nobres foram sendo erguidas, desde o início da Rua da Junqueira passando pelo Mosteiro dos Jerónimos até Algés. Aqui se instalaram diversos titulares, onde passavam largas temporadas, de forma a saírem do centro de Lisboa, onde tinham os seus palácios urbanos. O próprio rei D. João V, na segunda década do século XVIII, não fugiu ao paradigma de ter um palácio em Belém, comprando algumas quintas com seus palácios 2 , dando origem ao que hoje conhecemos como o complexo do Palácio de Belém. A presença régia contribuiu para que os titulares e os príncipes da igreja gravitassem em torno da corte, atraindo para Santa Maria de Belém um vasto conjunto de aristocratas, clérigos e burgueses que ergueram aqui as suas moradas. A configuração urbana foi-se nobilitando, tendo chegado até hoje, alguns edifícios que pertenceram à mais alta aristocracia nacional, como os duques de Cadaval, os duques de Loulé, marqueses de Marialva, marqueses de Távora, marqueses de Angeja, marqueses de Tancos, condes de Aveiras, condes de Óbidos, conde da Calheta, condes da Atalaia, condes-barões de Alvito, entre muitos outros. Uma das componentes decorativas com que os palácios, jardins, capelas e casas de fresco foram embelezados é a azulejaria 3 . A causa da sua perenidade é devida a este material não ser facilmente amovível, continuando agarrado às paredes dos imóveis, desde a sua aplicação até ao presente, sendo testemunho direto do fausto e riqueza dos seus locatários.

Santa Maria de Belém has always been a natural and pleasurable place where the aristocracy built palaces integrated in summer estates. From early XVII century untill late XVIII century, palaces and manor houses were built starting in Rua da Junqueira, going along Mosteiro dos Jerónimos, until Algés. Titled nobility used to spend long seasons out of Lisbon where they had their urban palaces. King D. João V, himself, was no exception and also had a palace in Belém. He bought some estates with their palaces 2 , originating what today is known as the complex of Palácio de Belém. The royal presence strongly contributed to titled nobility and church dignitaries moving close to the Court, also attracting to Santa Maria de Belém a great number of aristocrats, clergymen and bourgeois who built their dwellings in this area. Thus the urban configuration assumed a nobler aspect, and today we still can see the buildings which belonged to the highest Portuguese aristocracy, like the dukes of Cadaval, dukes of Loulé, marquises of Marialva, marquises of Távora, marquises of Angeja, marquises of Tancos, counts of Aveiras, counts of Óbidos, count of Calheta, counts of Atalaia, count­‑barons of Alvito, among many others. Tiles are one of the decorative components adorning palaces, gardens, chapels and casas de fresco (small summer house coated with tiles) 3 . They owe their perennity to the fact that tiles can not be easily removed, and they stick to the walls of the buildings, since they were set until the present day, bearing witness of the wealth and luxury of their tenants.

2. SILVA, 2009, p. 60. D. João V em 1729 já tinha comprado em Belém seis das quintas mais importantes de recreio. 3. CÂMARA, 2007.

2. SILVA, 2009, p. 60. D. João V in 1729 had already purchased six of the more important country estate in Belém. 3. CÂMARA, 2007.

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Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha Rua da Junqueira, n. 188-198

A capela da casa 9 , com entrada direta para a rua, pode ser visitada em horário de funcionamento da Universidade. Edifício do século XVIII, com início da construção em 1740, sob projeto de 1734 do arquiteto húngaro Carlos Mardel. Atualmente é a Reitoria da Universidade Lusíada. Átrio de entrada com azulejos recortados representando os doze meses do ano; embora sendo do século XVIII, foram aplicados no local apenas nos inícios do século XX. 9. LAMAS, 1925.

The chapel 9 can be visited during the opening hours of the University. This building is from the XVIII century, its construction started in 1740, a project of 1734 of the Hungarian architect Charles Mardel. At present it’s the Rectory of the Lusíada University. In the entrance hall, the tile panels representing the twelve months of the year, though they are from the XVIII century, were placed only in

the beginning of the XX century. 9. LAMAS, 1925.






No andar nobre, diversos salões com silhares do século XVIII alusivos a cenas campestres, reafirmando a qualidade de casa de campo, função para a qual o seu proprietário a edificou. No Salão de Neptuno, introdução de elementos azulejares dos inícios do século XX. Na zona do jardim, a antiga casa de fresco desapareceu, subsistindo um pequeno lago com elegante arquitetura de aparato, onde se colocaram azulejos do século XVIII.

In the main floor there are tile panels from the XVIII century, representing pastoral and charming scenes, reaffirming the atributes of a country house, which was the original purpose of its owner. In Neptune Hall, introduction of tiles from the early XX century. In the garden area, the

small summer house coated with tiles has disappeared, yet still remains a small lake with elegant architecture where tiles of the XVIII century are displayed.

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Arquitetura civil Civil architecture



Fachadas Facades Muitos dos edifícios de Lisboa estão revestidos com azulejaria de exterior. Em Santa Maria de Belém, as habitações não fogem à regra, havendo exemplares edificados que contêm no exterior azulejos desde o século XVIII até ao presente. Os mais antigos foram, sem dúvida, reaproveitamentos de outras construções, como os que se encontram na Rua da Praia do Bom-Sucesso, colocados nos três andares do imóvel entre os vãos das portadas que dão para as varandas. A conjugação entre estes exemplares azulejares polícromos e a coloração da pintura da fachada em rosa escuro, o branco da pedra lioz a ladear o madeiramento das portadas, pintadas a verde e branco, e o verde-escuro do gradil, em ferro forjado, emprestam à construção pré-pombalina uma nota única neste universo azulejar que agora analisamos.

Many buildings in Lisbon have a tile front. In Santa Maria de Belém houses are no exception, and we have examples of buildings that present in their facades tiles of the XVIII until today. The older were undoubtedly, reused from other constructions, like the ones to be found in Rua da Praia do Bom Sucesso, set in the three floors of the building between the gaps of the balconies. The combination between these polychrome tiles and the dark rose painting of the facades, the white limestone surrounding the wooden doors painted in white and green, and the dark green of wrought iron, lent to this post-pombalin construction a unique aspect in this sort of tiles we’ve been describing.

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A tradição de revestir as fachadas com azulejos deve-se, tal como nos é referido por Barros Veloso, 11 a uma moda que teve início no Brasil durante o século XVIII e passou para Portugal em finais do século XIX, perpetuando-se até à atualidade. Tem como origem preocupações higienistas, pois a azulejaria resguarda melhor os edifícios das humidades do que a pintura. Esta preocupação levou a que as fábricas em Portugal desenvolvessem modelos que fossem do gosto dos proprietários e empreiteiros, produzindo-se uma variedade decorativa em grande escala que acompanhou a construção civil e repovoou cromaticamente Lisboa, dando assim uma nova cor à cidade. Os modelos são diversos, sendo alguns inspirados em exemplares dos séculos XVII e XVIII, readaptando-se outros às correntes de arte que se impunham na Europa, aliados a novas técnicas que se foram experimentando para a produção azulejar, com destaque para os azulejos relevados. Destes, existe um exemplar na rua da Junqueira, em tonalidades de verde. A pintura Arte Nova emprestou um gracioso dinamismo aos espaços que, normalmente estáticos, ondulam nos frisos azulejares colocados próximos dos beirados. No século XX, os modelos pictóricos mais utilizados são os azulejos de padrão, que no seu conjunto e variedade percorrem correntes estéticas variadas, sem nunca desvirtuarem o objetivo pelo qual foram criados, o de serem utilitários e decorativos. 11. VELOSO, 1991, p. 17.

The tradition of dressing facades with tiles, as said by Barros Veloso 11 comes from a fashion that has began in Brazil during the XVIII century and entered Portugal by the end of the XIX century, remaining until present time until present time. It also stems from hygienicconsiderations, because tiles have a specific functional capacity, like temperature control, providing a better protection against humidity than paint. This concern prompted Portuguese factories to develop models according to the taste of the owners and the contractors for civil constructions, and a huge decorative variety of tiles was produced side by side with the building industry, which replenished Lisbon with plenty of new buildings, thus giving a new colour to the town. The models are diverse, and some were inspired in examples from the XVII and XVIII centuries, and others

readapted according to the new art currents that had triumphed in Europe, combined with new techniques developed for tile production, notably the relieved tile. There is one example of these, in shades of green in Rua da Junqueira. The Art Nouveau style lent a graceful dynamism to static spaces, which now undulated with tile friezes near the eaves. In the XX century the most popular pictorial models were the patterned tiles, which in their variety follow different aesthetic trends, never straying out from their purpose: to be useful and decorative. 11. VELOSO, 1991, p. 17.

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