Cores na Cidade, Azulejaria da Estrela

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Azulejaria da Estrela

Colours in town

Tiles from Estrela

Augusto Moutinho Borges

estrelA Augusto Moutinho Borges

Cores na Cidade | Colors in town

Cores na Cidade

Junta de freguesia da estrela


©EdiçãO EdiTiOn By The Book, edições esPeciais, Lda para/to JunTa de FReguesia da esTReLa TíTulO TiTlE coRes na cidade – azuLeJaRia da esTReLa | coLouRs in Town – TiLes FRom esTReLa

BY THE BOOK Edições Especiais, lda Rua das Pedreiras, 16-4º 1400-271 Lisboa T. + F. (+351) 213 610 997 www.bythebook.pt

© TExTO TExT augusTo mouTinho BoRges rEvisãO rEvisiOn maFaLda souTo | maRgaRida oLiveiRa TraduçãO mick gReeR

T r a n s l aT i O n

© FOTOgraFia PHOTOgraPHY adeLaide naBais padrão capa/pattern cover, (p.13 inf., p.21 todas excepto sup. dir./all except sup. right, p.42, p.43 centro/ middle+inf., p.46, p.47 sup., p.48 4ª do topo/4th from top, p.49 sup., p. 50 8ª do topo/8th from top, p.65, p. 67 sup., p.68, p.75 inf esq./left+dir./right, p.80, p.81 sup. centro/middle+inf. dir./right+inf. centro/middle+dir./right, p.87-89, p.107, p.111 azulejo com pássaro/tile with bird, p.112-113, p.116 inf., p.117 centro/middle+inf., p.122 3ª, 5ª, 7ª, 8ª, 10ª, p.123, p.125 inf., p. 132-133, p.134 excepto/ except sup. dir/right+esq./left, p.135 sup.+inf., p.136 inf, p.137-146, p.147 centro/middle, p. 148, p. 149 excepto/except 1ª, 2ª, 3ª, 4ª esq./left, p.151-152, p.154 sup.+inf., p.156 centro dir./middle right, p.157 inf. esq.+centro/left+middle, p.159 inf., p.161 inf., p.162-165, p.169 sup+inf., p.170, p.172, p.173, p.174-175, p.177, p.184, p.187-188); anTónio homem caRdoso + hugo FigueiRedo (assistente de fotografia/ assistent) (p.7-12, p.13 sup., p.14 inf., p.16 inf., p.17 sup. esq./left+ibf. dir./right, p.18-20, p.21 sup. dir./right, p. 22-41, p. 43 sup., p.44-45, p.47 inf., p.48 todas, excepto 2ª inf./all, except 2nd inf., p.49, sup. esq./left, p.53-64, p.66, p.67 inf., p.69-74, p.75 todas, excepto inf. esq.+dir./all, except inf. left+right, p.76-79, p.81 as restantes/all other photos, p.82-85, p.94-106, p.108-110, p.111 todas, excepto uma/ all, except one, p.114-115, p.116 sup., p.117 sup., p.118-121, p.122 9ª do topo/9th from top, p.124 inf., p.125 sup., p.126-127, p. 128 inf. dir./right, p.147 sup., p.150, p.158 sup. esq./left, p.168, p. 171, p.178-179, p.181, p.190-191); assemBLeia da RePúBLica (p.86); augusTo mouTinho BoRges (todas as restantes, all other photos); PedRo BRás figura capa/figure cover(14 sup.+centro/middle, p.15, 17 centro/middle, inf. esq./left, p.129 centro/middle+ inf. esq./left, p.130 sup.) EdiçãO dE imagEm PHOTOgraPHY POsT PrOduCTiOn maRia João de moRaes PaLmeiRo dEsign FoRma, design: maRgaRida oLiveiRa C O O r d E n a ç ã O E d i TO r i a l E P r O d u ç ã O C O O r d i n aT i O n a n d P r O d u C T i O n ana de aLBuqueRque | maRia João de Paiva BRandão imPrEssãO PrinTing PRinTeR PoRTuguesa isBn 978-989-8614-49-0 dEPósiTO lEgal dL nº 426 785/17

lEgal dEPOsiT

agradECimEnTOs aCKnOwlEdgmEnTs agrupamento de escolas Bartolomeu de gusmão, assembleia da República, associação atelier aberto, Buenos aires 39, câmara municipal de Lisboa, casa dos açores, centro clínico da gnR, cruz vermelha Portuguesa, estado maior general das Forças armadas, Fundação Luso-americana para o desenvolvimento, Fundação Pró dignitate, igreja evangélica Lusitana, instituto hidrográfico marinha, instituto da imaculada, instituto superior de economia e gestão, irmandade de nossa senhora das dores, Lusitânia seguros, ministério dos negócios estrangeiros de Portugal, ministério dos negócios estrangeiros e europeus em França - embaixada de França em Portugal, museu das marionetas, museu nacional de arte antiga, Patriarcado de Lisboa, dr.ª ana Barradas, ir. dr.ª ana Rosa do espírito santo, contra-almirante antónio coelho cândido, Prof. doutor antónio Pimentel, dr. antónio e isabel Xara-Brasil, general artur Pina monteiro, Prof. doutor augusto santos silva, doutora cátia mourão Rodrigues, drª clara Tavares, dr. eduardo Ferro Rodrigues, dr. eduardo José da silva Farinha, dr.ª emília cabral, dr.ª Filomena Ferreira, herr günther Peitz, dr.ª iola Leite, dr.ª isabel Pinto Basto, dr.ª isabel soares, embaixador Jean-michel casa, dr. João silvério, José aguiar, eng. José Fortunato, coronel José manuel Leite machado, cónego horácio correia, Lurdes castro, dr. Luís Barbosa, dr.ª maria José machado santos, dr.ª maria Fortunato, Prof. doutor mário maciel caldeira, dr. miguel ávila Loureiro, Padre norbert abeler, nuno andrade, dr. nuno Ruivo, Rita Beirão, Rita Passanha, dr.ª Teresa Parra da silva, Prof. doutor Tomé calado, Prior valter malaquias, Prof. doutor vasco Rato, e a todos os que, direta e indiretamente, autorizaram cedência de fotografias e colaboram nesta obra, quer em nome individual, institucional ou outra forma / and to all those who, directly or indirectly, authorized the use of photographs and collaborated on this book, whether individually, institutionally or in another form.


índice

Contents

04

PrEfácio foreword

08

AzuLEjAriA nos PALácios, Edifícios rELigiosos E dE Ensino

06

PALAVRAs PrÉViAs foreword tiles in pAlACes, religious Buildings And eduCAtionAl institutions

10

50

Palácios Palaces 14

Palácio Condes d’Óbidos (sede nacional da Cruz Vermelha Portuguesa/ Head office of the Portuguese red Cross)

22

Palácio das Necessidades (Ministério dos negócios estrangeiros/ Ministry of Foreign affairs)

36

Palácio de Santos (embaixada de França/ French embassy)

18

Palácio Machado Pinto (Machadinho, CM Lisboa/ Lisbon City Council)

28

Palácio Porto Côvo da Bandeira (sede da Lusitânia seguros/ Head office of Lusitânia seguros)

42

Palacete Condes de Monte Real (Família Faro e Melo Passanha)

54

Basílica, Convento e Palacete do Sagrado Coração de Jesus (Paróquia e Fundação Pró dignitate/ Parish and Foundation)

62

Igreja de Santos-o-Velho

Edifícios religiosos Religious buildings 60

Igreja de Nossa Senhora das Dores

66

Capela do Senhor Jesus dos Navegantes

70

Convento Carmelitas Descalços de Santo Alberto e de Nossa Senhora dos Remédios (Museu nacional de arte

76

Convento-Colégio da Estrela (Hospital Militar Principal / Military Hospital)

86

Convento de São Bento da Saúde (assembleia da república/ Parlamento)

94

Convento das Trinas do Mocambo (instituto Hidrográfico da Marinha/ Marine Hydrographic institute)

antiga e Marianos/ national art Museum) 82

Convento do Santíssimo Sacramento a Alcântara (Ministério dos negócios estrangeiros/ Ministry of Foreign affairs)

91

Convento-Hospital de São João de Deus (Centro Clínico da Gnr/ national Guard Clinical Centre)

100 Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo da Lapa (Paróquia da estrela/ estrela Parish)

106

Equipamentos de ensino Educational institutions

108 Instituto Superior de Economia e Gestão 114 Escolas Básicas, Secundárias e Especiais Bartolomeu de Gusmão, Escola Paroquial da Lapa, Instituto da Imaculada, Patronato Cristo Rei

120 ArtE PúbLicA, AzuLEjAriA dEcoRAtiVA E utiLitáriA puBliC Art, deCorAtive And utilitAriAn tiles

122

Azulejaria Decorativa e Utilitária Decorative and Utilitarian Tiles 124 Arte Pública Public Art (Jardim da estrela; avenida infante santo; avenida da Índia; rua Jorge alves) 132

Fachadas, Padrões e Frisos Facades, Patterns and Friezes

148 Registos Devotional Panels 152 Heráldica Heraldry

154 Publicidade e Toponímia Advertising and toponimy 160 Prémios Prizes

162 Balaustradas, Urnas, Pináculos e Estátuas Balustrades, Urns, Pinnacles and Statues 164 Conservação e Restauro Conservation and Rest0ration

178

172 Outros Exemplos Other Examples ArtistAs E cEntros ProdutorEs Artists And MAnufACturing Centres

180 Mestres e Pintores Masters and Painters

184 Fábricas, Oficinas e Ateliers Factories, Manufacturers and Ateliers 188 bibLiogRAfiA gERAL generAl BiBliogrAphy


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PreFáCio Foreword

a cidade de Lisboa é vibrante, uma mensagem de um passado com memória, repleto de cultura, de história, de tragédia, de destruição, da resiliência dos seus povos e da afirmação do seu futuro. Todos somos atores na sua construção diária, território a território, bairro a bairro.

the city of lisbon is vibrant, a

luís newton

message from the past with

de freguesia da estrela

culture, history, tragedy, de-

presidente da Junta

Cada um de nós tem responsabilidades que tem de saber reconhecer e ter a coragem de assumir. isso é ainda mais verdade para quem tem responsabilidades acrescidas de ser eleito pelos seus pares para a gestão dos territórios, para a gestão dos bairros.

a memory overflowing with struction, the resilience of its people and the affirmation of its future.

we are all actors in its daily construction, area by area, neighbourhood by neighbourhood.

everyone one of us has responsibilities that

we must learn to recognize and have the cour-

o papel de uma Junta de Freguesia, porém, tem de ser muito mais que isso. Tem também de ser guardiã dessa herança Histórica e Cultural, cabendo por isso ao Presidente de Junta procurar promover esse desígnio estratégico.

age to take on. this is even truer for those who

acresce que aqui na estrela somos muito afortunados. Temos uma enorme riqueza Histórica e Cultural no nosso território, que se traduz na vastíssima riqueza patente no património imobiliário que preenche a nossa malha urbana.

the role of a Junta de freguesia, or local coun-

não há maior prova da nossa identidade e da nossa diferenciação cultural que aquela patente nas vastíssimas obras azulejares, nas fachadas de muitos dos nossos edifícios ou nos lindíssimos painéis que decoram o seu interior, contribuindo para que na estrela exista uma rara concentração desta manifestação cultural tão nossa, tão Portuguesa.

idea in practice.

e mais importante que essa riqueza material, temos uma outra, uma riqueza de pessoas que estão profundamente empenhadas em contribuir para a preservação desse património, para a sua divulgação e, sobretudo, para ajudarem a sua Junta de Freguesia na construção desse repositório de informação e de memórias fotográficas.

there is no greater proof of our individual cul-

a obra que aqui se apresenta, compilação de uma profunda recolha de imagens e de informação histórica, é a materialização dessa conjugação de deveres do órgão público e de entrega da Comunidade. Bem Hajam!

have the increased responsibility of having been elected by their peers to manage these areas, these neighbourhoods.

cil, however, has to be much more than that. it

must also be the guardian of this historical and

cultural heritage, and it is therefore up to the president of the Junta de freguesia to put this

it has to be said that here, in estrela, we are very

fortunate. we have an invaluable historical and

cultural wealth to be seen in numerous buildings throughout the area.

tural identity than the plentiful tilework on the facades of many of our buildings and the beauti-

ful panels decorating interiors, giving estrela a

rare concentration of an art form that is so ours, so portuguese.

More important than this material wealth is another richness, that of the people who are

deeply committed to preserving and spreading


5

knowledge of this heritage, and, above all, to helping their Junta de Freguesia in the building

of this repository of information and photographic memories.

The work presented here, a compilation of a painstaking collection of images and historical

information, is the materialization of this coming together of the duties of the public body and the commitment of the community. May it be ever so!


8


9

AzuLEjAriA nos PALácios, Edifícios rELigiosos E EquiPAmEntos dE Ensino tiles in pAlACes, religious Buildings And eduCAtionAl institutions


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Palรกcios

Palaces


a estrela, reunidas as áreas das antigas freguesias da Lapa e de santos conserva, na sua folha administrativa, vasto conjunto de construções apalaçadas, desde o século XVii até ao presente, realçando-se, no todo, alguns exemplares edificados únicos na história nacional. as referências não se limitam à arquitetura, mas a toda uma dimensão estética e diferenciada das restantes construções pela complexidade decorativa, desde a pedraria, o madeiramento, ferragens, estuques, às pinturas e azulejaria. Todas as referências dizem respeito ao interior e ao exterior voltado para os eixos viários e jardins. a sobriedade arquitetónica do século XVii e centúria seguinte desenvolveu arquétipos estéticos onde a utilização azulejar se revelou bem presente do gosto nacional, acentuando a sua utilização depois do Terramoto de Lisboa, de 1 de novembro de 1755, pois a necessidade de reconstrução rápida da cidade e formas de equilibrar as perdas materiais provocadas pelos incêndios e derrocadas eram a prioridade governamental. na zona que agora estudamos, embora as consequências destes fenómenos não tenham sido em demasia, os vestígios que encontramos integram-se neste ciclo reformista e inovador, pois a influência das novas utilizações estéticas percorreram o leque social profundamente marcado pelos anos da aculturação de Pombal, rumo ao neoclássico mariano e afirmação do gosto liberal/romântico. encontramos inúmeros palácios, palacetes e casa nobres com variado espólio azulejar, desde simples rodapés até silhares revestindo átrios, corredores, salas, quartos, capelas e cozinhas. as decorações são variadas, monocromáticas para os séculos XVii , podendo ser enriquecidas com coloração ocre, que se desenvolve até cerca 1730, e depois, suavemente, se começam a enriquecer com novo colorido até à sua plenitude pelos anos de 1755, com diferente paleta cromática, realçando-se o roxo manganês e o verde seco.

estrela, encompassing the former parishes of lapa and santos, has a large group of palatial buildings under its administration, from the 17th century to the present, some being unique in portuguese history. this uniqueness is not limited to architecture, but applies to a whole aesthetic dimension differentiated from other buildings by its decorative complexity, ranging from stone, wood and ironwork to stuccoes, paintings and tilework. All the examples are from interiors and exteriors facing thoroughfares and gardens. 17th and 18th century architectural sobriety produced aesthetic archetypes where the use of tiles proved to be very much in keeping with the national taste, especially after the lisbon earthquake of november 1st, 1755, because the government’s priority was to rebuild the city rapidly and find ways of balancing the material losses caused by the fires and toppled buildings. Although the estrela area did not suffer too greatly from this event, there are traces to be found of this reformist and innovative cycle, since the new aesthetic had a great influence across society during the years of pombal’s acculturation, which inclined towards the Marian neoclassical and affirmation of liberal/ romantic taste. we have found numerous palaces, palaces and noble houses with varied tiling, ranging from simple skirting boards to ashlars lining entrances, corridors, rooms, bedrooms, chapels and kitchens. the decorations are varied, monochromatic for the 17th century, sometimes enriched with ochre colouration, up until about 1730. from then, there was a gradual movement towards new colouring

11


18


Palácio machado Pinto Rua do machadinho, n.ºs 18-22 outras denominações other names machadinho Funções atuais current use insTaLações da câmaRa municiPaL de LisBoa LisBon ciTy counciL PRemisses

Zona especial de Proteção conjunta do Museu nacional de arte antiga, da igreja de são Francisco de Paula, do Convento das Trinas do Mocambo e do Chafariz da esperança. o Palácio dos Machadinhos, como é no presente conhecido, data da 2.ª metade do século XViii e foi reconstruído pelo fidalgo da Casa real, Coronel de auxiliares e administrador-geral do Contrato do d. José Pinto Machado (o Machadinho) quando adquiriu, na Madragoa, o antigo palácio seiscentista dos eças. as obras que se seguiram deram-lhe a grandeza que hoje apresenta, com exceção do desaparecimento da capela da casa já no século XiX . as campanhas foram definidas com objetivos de reedificação, ampliação e decoração do edifício e da cerca, constando nesta última o embelezamento dos espaços com motivos azulejares ao gosto do estilo pombalino. após o óbito de Pinto Machado, o palácio transitou para a viúva, seu irmão e sobrinhos, até à sua venda em 1831. dos locatários ilustres salientamos, em 1837, o embaixador de espanha e, em 1851, o poeta antónio Feliciano de Castilho (1800-1875), que fundou no palácio o Colégio do Pórtico e seu filho, o olisipógrafo Júlio de Castilho (1840-1919). após a transformação em prédio de arrendamento desde 1860, foi comprado pela família Lima Mayer próximo dos finais do século XiX até ser adquirido, pela Câmara Municipal de Lisboa, em 1948. entre esta data e 1954, o palácio sofreu grandes campanhas de obras de conservação e restauro para o dotar das necessárias infraestruturas para fins administrativos. entre as obras desenvolvidas procedeu-se à aplicação por todo o edifício, com realce para a escadaria nobre e várias salas, de painéis azulejares de diversas proveniências, entre os quais o palacete do Pátio do saloio, na Mouraria, e do extinto convento carmelita descalço masculino de são João da Cruz de Carnide.

special protection Area comprising the Museu nacional de Arte Antiga, the igreja de são fran-

cisco de paula, the Convento

das trinas do Mocambo and the Chafariz da esperança.

the palácio dos Machadinhos, as

it is known today, dates from the 2nd half of the 18th century and

was reconstructed by the lord

of Casa real, Colonel of the Auxiliaries and general Administrator of the tobacco Contract José pinto Machado (Machadinho)

when he bought the former 17th palace of the eças in Madragoa. the works that followed gave it

the grandeur it displays today, with the exception of the house

chapel that was lost in the 19th century.

the aims of these works were to reconstruct, enlarge and

decorate the building and its grounds, with the latter being embellished with tile motifs in

pombaline style. After the death of pinto Machado, the palace

passed on to his widow, brother and nephews until its sale in 1831.

Bibliografia Bibliography

palace had various illustrious

caRvaLheiRa, José melo, Palácio do Machadinho. Lisboa: cmL, 1990.

over the following years, the tenants: in 1837, the ambassador of spain and in 1851, the poet António feliciano de Cas-

tilho (1800-1875), founder of the

Colégio do pórtico in the palace,

caRvaLho, José silva, Madragoa; Sons e Arquitecturas. Lisboa: Livros horizonte, 1997. FRança, José augusto, História da Arte em Portugal: o Pombalino e o Romantismo. Lisboa: ed. Presença, col. Biblioteca da arte, n.º 5, 2004.

19


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ber of rooms, with tiles coming

from various places, including

the pátio do saloio mansion, in

Mouraria, as well as the former male discalced Carmelite mon-

astery of st. John of the Cross in

Carnide.

At the entrance, in the main ves-

tibule, a series of 17th century tiles with albarradas (vases of

flowers) runs along the staircase and the switch box. some of the tile panels decorating the main

Logo à entrada, no vestíbulo nobre, um conjunto azulejar do século XVii com albarradas que se desenvolve pela escadaria e caixa de distribuição. entre os painéis de azulejo que ornamentam as salas do piso nobre figuram cenas mitológicas e profanas, antevendo-se festas galantes de exterior e interior. alguns destes painéis são datáveis dos inícios do século XViii . na sala de Música destaque para os silhares com representações de caçadas e um interessante “Jogo de Meninos” com anjos brincando com bolas. no jardim, a “Casa de Fresco” de planta hexagonal domina a totalidade do espaço pela sua implantação num ponto mais elevado que a casa, tendo a cúpula revestida com azulejos pombalinos. ainda no jardim, intervencionado na década de noventa do século XX , foram colocados bancos e conversadeiras-alegretes revestidos com azulejos policromos setecentistas, reaproveitados de antigas construções.

and his son, the olisipographer, Júlio de Castilho (1840-1919).

After being transformed into a

rented building in 1860, and be-

ing bought by the lima Mayer

family in the late 19th century, the palace was acquired by the

floor rooms depict mythological

and profane scenes, anticipat-

ing the exterior and interior fête gallants. some of these panels

can be dated back to the early 18th century. in the Music room,

ashlars feature hunting scenes, and an interesting Jogo de Meni-

lisbon City Council in 1948.

nos (Boys’ game) depicting an-

underwent major conservation

in the garden, a hexagonal

from then until 1954, the palace

and restoration works, which provided it with the necessary

infrastructures for administra-

tive purposes. Among the works carried out, tile panels from

various sources were applied

throughout the building. the

highlights of this decoration are the main staircase and a num-

gels playing with balls.

casa de fresco, or folly by water,

dominates the space from its raised position, with its pom-

baline tile-lined cupola. Besides this, work in the 1990s brought garden seats and conversation benches lined with 19th century

polychrome tiles, recycled from former buildings.


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Palácio de santos

Zona especial de Proteção conjunta do Museu nacional de arte antiga, da igreja de são Francisco de Paula, do Convento das Trinas do Mocambo e do Chafariz da esperança. o Palácio de santos, atualmente embaixada de França em Portugal, teve a sua origem durante a segunda metade do século XVii e a primeira metade do século XViii, altura em que d. José Luís de Lencastre (1639-1687), Conde de Figueiró, seu irmão d. Luís de Lencastre (1644-1704) e o seu filho d. Pedro de Lencastre (1697-1752) confiaram ao arquiteto régio João antunes (1643-1712) a função de tornar o Palácio de santos num dos mais notáveis da cidade, incidindo as intervenções na capela, sacristia e na sala das porcelanas. neste período continuou a reformulação do palácio com acrescentos de grandes salões, de um pequeno jardim e da nova fachada para o arruamento, conferindo-lhe a grandiosidade que apresenta na atualidade. o edifício denota a evolução que ao longo dos séculos foi sofrendo, enriquecido com azulejaria dos séculos XVii e XViii, encontrando-se muita in situ e outra recolocada em remodelações. Logo no pátio carral encontramos painéis azulejares aplicados recentemente nas paredes por obras de valorização decorativa, convidando à entrada para o vestíbulo com paredes revestidas por silhares de azulejos monocromos do tipo tapete. esta divisão era aberta no passado, mantendo no presente o programa decorativo tradicional nas construções congéneres, onde o forramento azulejar com motivos de albarradas impregna o espaço com uma atmosfera senhorial e convida à entrada.

Rua de sanTos-o-veLho, n.ºs 1-11. Funções atuais current use emBaiXada de FRança FRench emBassy

special protection Area comprising the Museu nacional de Arte Antiga, the igreja de são fran-

cisco de paula, the Convento

das trinas do Mocambo and the Chafariz da esperança.

the palácio de santos, currently the home of the french em-

bassy in portugal, dates back to the second half of the 17th cen-

tury, a period when José luís de lencastre (1639-1687), Count of

figueiró, his brother luís de lencastre (1644-1704) and his son,

pedro de lencastre (1697-1752)

entrusted the royal architect, João Antunes (1643-1712), with

the task of making the palácio

de santos one of lisbon’s most outstanding palaces, particular-

ly with the works in the chapel, sacristy and porcelain room.

in this period, the remodelling of the palace continued with the addition of large halls, a small

garden and the new street-fac-

ing facade, giving the palace its current grandeur.

the building records the chang-

es it has been subject to over the centuries, having been enhanced by the addition of tile-

work, especially in the 17th and 18th centuries. Much of this can still be found in situ, whilst

other examples have been relo-

cated during remodelling work.

Bibliografia Bibliography Binney, marcus. Casas Nobres de Portugal. Lisboa: difel, 1987. caRiTa, hélder. Le Palais de Santos. Paris: ed. michel chandaigne, 1995. samoyauLT, Jean-Pierre. O Palácio de Santos. Paris: embaixada de França, 2012.

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as salas principais estão no piso térreo da ala sul, articulando-se com outras divisões de esmerada decoração, realçando a sala de Música; o salão nobre; a sala de Jantar; a sala das Louças, cujo teto apainelado em cúpula piramidal está integralmente revestido de porcelanas e faianças orientais; a Capela e sacristia. o revestimento da Capela é desenvolvido com azulejos monocromos com figurações da Fuga para o egipto. a sacristia está totalmente revestida com azulejos brancos, destacando-se um desenho de cordão emaranhado com borlas pendentes, sobressaindo um arcanjo, pintado a azul, localizado entre a entrada e a passagem. outros elementos azulejares encontram-se distribuídos pelo palácio, mantendo a tradição da decoração cerâmica nas casas nobres de Lisboa.


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When going into the courtyard for carts, we find tile panels recently applied on the walls to enhance the decoration, inviting us to enter the vestibule, whose

walls are covered by monochrome, carpet-tiled ashlars.

In the past, this room was open and still has the traditional dec-

oration typical of such construc-

tions, where the tile flooring with albarradas motifs fills the

space with a manorial atmosphere and invites us to enter.

The main rooms are on the Southern wing ground floor, linked to other areas with ex-

quisite decoration: the Music

Room; Main Hall; Dining Room; the Crockery Room, whose pan-

elled roof in a pyramidal dome is entirely lined with porcelain and Oriental faience; the chapel and sacristy.

The chapel lining is made up of

monochrome tiles depicting the

Flight into Egypt. The sacristy

is fully lined with white tiles, bearing a tied-rope design with

pendant tassels, highlighting

a blue-painted archangel set between the entrance and the passageway.

Other tile features are spread throughout the palace, maintaining the tradition of ceramic

decoration in Lisbon’s noble houses.


50

EdifĂ­cios religiosos

Religious buildings


a cidade de Lisboa é rica na história arquitetónica religiosa, onde mosteiros, conventos e igrejas se construíram ao longo dos séculos e ocuparam áreas geográficas, das quais a estrela é testemunho. desde o início da romanização que a presença humana é constantemente referenciada nesta zona da cidade, sendo a igreja de santos-o-Velho exemplo da presença cristã nas proximidades do rio Tejo. as construções sucederam-se, tendo como invocações proveniências diversas, quer aludindo à fixação das ordens religiosas masculinas e femininas, quer às igrejas paroquiais para conforto espiritual dos fregueses ou grupos e corporações reunidos em torno de um templo. Proliferaram, entre a Pampulha e a Madragoa, em direção à Lapa e estrela, variadas construções devocionais, onde a arte azulejar é uma constante, preenchendo vestíbulos, claustros, corredores das celas, refeitórios, salas capitulares, cozinhas e cercas, com elementos realizados em oficinas e centros fabris desde o século XVii até ao século XX . Grande parte deste património monacal e conventual está afeto a instituições públicas e privadas, servindo hoje as suas instalações como museus, hospitais, estabelecimentos de ensino, organismos científicos, fundações de soberania e pólos culturais, instituições militares e de segurança. a sua conservação e restauro têm sido possíveis porque as entidades residentes vão, à medida das suas posses económicas, valorizando e preservando os edifícios, estando no presente, muitos deles com programas culturais e de fruição pública. o estudo que desenvolvemos integra-se numa visão do conjunto decorativo restrito à arte azulejar, tendo em conta que esta componente é apenas uma das áreas de interesse cultural e patrimonial afeto ao património religioso. Percecionamos oscilações qualitativas entre muita desta arte cerâmica atual; a variedade temática prende-se muito com as origens devocionais e também com os interesses dos encomendadores.

As estrela clearly shows, lisbon has a rich history of religious architecture through its monasteries, convents and churches built over the centuries. since the beginning of romanization, its physical and legendary presence is constantly referenced in this area of the city, with the Church of santoso-velho an example of the Christian presence close to river tagus. these religious buildings, with their various dedications, arose one after another with the convents and monasteries establishing the male and female orders, and the parish churches giving spiritual comfort to the parishioners, or groups and corporations in the vicinity. Much religious building work went on between pampulha and Madragoa towards lapa and estrela, where tile art was a constant, filling vestibules, cloisters, cell corridors, refectories, chapterhouses, kitchens and the grounds with features made in workshops and manufacturing centres from the 17th to the 20th century. Much of this monastic and conventual heritage is devoted to public and private institutions, its facilities serving today as museums, hospitals, educational establishments, scientific bodies, embassies, or centres of culture and security. this heritage has been conserved and restored because the resident entities have, as far as their economic possibilities permit, been valuing and preserving the buildings, with many of them currently part of cultural programmes for public benefit.

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property of public interest, de-

cree nr.516/71, dg, 1st series, nr.274, dated 22nd november

1971/Zep, ordinance nr.512/98, dr nr.183, 10th August 1998.

special protection Area comprising the Museu nacional de Arte

imóvel de interesse Público, decreto n.º 516/71, dG, 1.ª série, n.º274 de 22 novembro 1971 / ZeP, Portaria nº512/98, dr n.º 183 de 10 agosto 1998. Zona especial de Proteção conjunta do Museu nacional de arte antiga, da igreja de são Francisco de Paula, do Convento das Trinas do Mocambo e do Chafariz da esperança. a presença carmelita descalça, da ordem fundada pela Madre Teresa de Jesus, repercutiu-se no reino pela imediata adesão das principais famílias que se quiseram associar à sua fixação em território nacional. os conventos proliferaram rapidamente e com eles a construção de edifícios que mantinham a mesma tipologia arquitetónica, pugnando pelo despojamento e isolamento do mundo. em 1582 vieram os primeiros carmelitas para a Pampulha, onde estabeleceram cenóbio, mais tarde abandonado e adquirido por d. antónio Mascarenhas (c.1565-1637), Comissário da Bula da santa Cruzada para nele se erguer um convento-hospital, que entregou à ordem Hospitaleira de são João de deus. os carmelitas deslocaram-se para convento a construir em santos-o-Velho, hoje propriedade da igreja evangélica Lusitana, ostentando no seu interior restos azulejares com heráldica carmelita, atestando presença da comunidade até 1834. do antigo Convento Carmelita descalço de santo alberto – fundado em 1584 a pedido da principal nobreza do reino, com destaque para d. duarte de Castelo Branco (c.1540-1618), d. Luís de alencastre, da Casa de abrantes, e d. João Lobo, da Casa de alvito, contando com grande apoio do Cardeal alberto (1559-1621), vice-rei de Portugal – resta hoje a capela, integrada no Museu nacional de arte antiga. do extinto edifício há diversas informações que atestam a sua arquitetura e artes decorativas, referindo que, por volta de 1597, se procedeu à encomenda do frontal de azulejaria à oficina de Talavera, posteriormente entaipado e descoberto em 1938.

Antiga, the igreja de são fran-

cisco de paula, the Convento

das trinas do Mocambo and the Chafariz da esperança.

the presence of the discalced Carmelites, the order founded by Mother teresa de Jesus, had

conventos carmelitas descalços de santo Alberto e de nossa senhora dos remédios Rua JaneLas veRdes (museu nacionaL de aRTe anTiga) Rua JaneLas veRdes, n.ºs 28-32 (convenTo maRianos) Funções atuais current use museu nacionaL de aRTe anTiga e igReJa evangéLica LusiTana outras denominações other names convenTo das aLBeRTas; PaLácio aLvoR; convenTo dos maRianos

ordem religiosa Religious order caRmeLiTas descaLços – Feminino e mascuLino discaLced caRmeLiTes – FemaLe and maLe

repercussions in the kingdom due to the immediate adhe-

sion of the main families who wanted to be linked to the

Carmelites’ establishment in portugal. the convents proliferated rapidly and, with them, the construction of buildings of the

same architectural type, striv-

ing for sparseness and isolation from the world. in 1582, the first

Carmelites came to pampulha,

where they established a monastery, later abandoned and acquired by António Mascarenhas

Bibliografia Bibliography

Bull of the holy Cross, to build

aRaúJo, norberto de. Peregrinações em Lisboa. Lisboa: vega, vol. iX, 1944.

(c.1565-1637), Commissary of the a hospital convent there, which

he passed on to the hospitaller

order of saint John of god. the Carmelites moved to a convent

being built in santos-o-velho, which is owned today by the

igreja evangélica lusitana (the lusitanian Catholic Apostolic

evangelical Church). its remain-

ing interior tiles, however, dis-

play Carmelite heraldry and

attest to the presence of the community until 1834.

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BoRges, augusto moutinho (coord.). Convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide: O Falar das Pedras. Lisboa: Palavras Tácteis, 2016. FigueiRedo, Leopoldo de. O Convento de Nossa Senhora dos Remédios, Convento dos Marianos, Sua História e seus Mausoléus. Lisboa: 1943. quina, João (coord.). Roteiro - Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: edições asa, 2004. sanTanna, Frei Belchior de. Chronica de Carmelitas Descalsos Particular do Reino de Portugal e Provincia de S. Filipe. Lisboa: 1656. seRRão, vítor. História da Arte em Portugal: o Barroco. Lisboa: ed. Presença, col. Biblioteca da arte, n.º 4, 2003.


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what remains today of the for-

of a hand, which has since been

calço de santo Alberto is the

the 1755 earthquake left the

mer Convento Carmelita des-

chapel – founded in 1584 at the request of the principal nobility

of the kingdom, and, in particu-

lar, duarte de Castelo Branco

(c.1540-1618), luís de Alencastre, of the house of Abrantes,

a sacristia, com revestimento azulejar de figura avulsa, data de 1690, e os azulejos da Capela-mor de 1698. em 1703 o Pe. Carvalho da Costa refere que a igreja tem uma só nave com Capela-mor, dois altares colaterais e duas capelas no lado da epístola, dedicadas a santo Cristo e a santa Teresa, com um relicário desta, constando de uma mão, entretanto devolvida a espanha. o Terramoto de 1755 deixou o edifício muito arruinado, tendo as freiras de se refugiar em diferentes locais da cidade até voltarem ao convento, para se acolherem em barracas edificadas na cerca, enquanto decorriam obras de reconstrução. revestem a capela figurações azulejares do século XViii invocadas a santa Teresa de Jesus e ao milagre da multiplicação dos pães. as capelas estão totalmente revestidas com azulejaria do século XVii e XViii, com motivos atapetados entrelaçados com temas da Paixão. desde 1942 a Capela das albertas integra o percurso museológico do Museu nacional de arte antiga, permitindo que a partir deste núcleo se constitua um roteiro em Lisboa sobre a presença carmelita e as artes decorativas nos antigos cenóbios de santo alberto, santa Teresa de Jesus em Carnide, Convento dos Cardaes e Basílica da estrela. neste roteiro inclui-se o Palacete Monte real, porque desde 1918 tem na sua capela paineis retirados do extinto convento de santo alberto.

and João lobo, of the house of

Alvito, with the major support of Cardinal Alberto (1559-1621),

viceroy of portugal –, now part

of the Museu nacional de Arte Antiga.

there is a lot of information about the former building’s architecture

and

decorative

arts. for example, the frontal tilework

was

commissioned

from the talavera workshop in

returned to spain.

building virtually in ruins, with the nuns having to seek refuge

in different parts of the city un-

til they could return to the con-

vent, sheltering in huts in the grounds while the reconstruction work went on.

the chapel has 18th century tiles depicting st. teresa of Jesus and

the miracle of the multiplica-

tion of the loaves. it is, in fact, fully covered with 17th and 18th

century tilework, with carpeted motifs interwoven with motifs of the passion.

from 1942, the Chapel of the

Albertas has been part of the Museu nacional de Arte Antiga,

around 1597, which was later

enabling the creation of a route

in 1938. the sacristy, with free

in lisbon and the decorative arts

covered and then rediscovered

standing figure tiling, dates

from 1690, and the tiles of the

tracing the Carmelite presence in the former monasteries of st.

Albert, st. teresa of Jesus in Car-

main chapel from 1698. in 1703,

nide, the Convent of Cardaes

that the church had only one

Monte real Mansion must be

father Carvalho da Costa stated nave with a main chapel, two

side altars and two chapels on the epistle side, dedicated to the

holy Christ and st. teresa, with a reliquary of the saint, consisting

and the estrela Basilica.

included in this route as, since 1918, it has had tiles removed from the Convent of the Albertas, abolished in the same year.


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Arte públicA, AzulejAriA decorativA e utilitáriA Public Art, DecorAtive AnD utilitAriAn tiles


Azulejaria Decorativa e Utilitรกria Decorative and Utilitarian Tiles


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A azulejaria sempre se constituiu como um elemento decorativo utilizado em revestimentos interiores, mas desde o século XIX que é usada em Portugal no exterior, vulgarmente designada como azulejaria de fachada, tal como poderemos analisar nas inúmeras construções que se encontram na folha geográfica da Estrela. Podemos acrescentar que muito deste azulejo se pode repartir por áreas bem distintas, consoante os séculos e locais para onde foi produzido: para salas de aparato ou simples corredores, para revestir cozinhas, jardins ou fachadas. Estudaremos de seguida os modelos decorativos com que foi desenvolvido o programa de azulejaria na arquitectura. Nesta zona de Lisboa, o azulejo foi bastante atuante com o meio urbano, interligando-se com os eixos viários, exaltando as construções ou tornando-as devocionais pela simples colocação de algum registo nos alçados. O azulejo imita, muitas vezes, elementos pétreos através de fingimentos ou de marmoreados, protegendo as paredes de infiltrações ou, simplesmente, dando cor à mortiça fachada reconstruída após o Terramoto de Lisboa de 1755. No presente, a prática de utilizar o azulejo como complemento decorativo da arquitetura é prova da sua perenidade, variando os desenhos, as texturas, os modelos e formas, estando perante arquétipos onde a azulejaria ganha e catalisa adeptos pela sua graciosidade e utilidade. De forma a melhor sintetizarmos a nossa investigação, dividimos o capítulo por áreas temáticas que nos parecem melhor adequadas ao processo de análise, realçando a decoração e a utilidade do azulejo.

tilework has always been an interior decorative feature. since the 19th century, however, it has been used in Portugal for exteriors as well – commonly called facade tilework –, as we can see from the numerous examples in estrela. We can add that much of this tilework is spread over very different areas, depending on the centuries and places where it was produced: for stately rooms or simple corridors, to line kitchens, gardens or facades. We will now move on to the decorative models used in projects combining tilework and architecture. tilework was much used in this area of lisbon, becoming part of the streets, enhancing buildings or giving them a religious feel by simply placing a devotional panel on their walls. the tile often imitates stone through pretense or marbling, protecting the walls from infiltrations or simply giving colour to the cheerless facade rebuilt after the lisbon earthquake in 1755. At present, the practice of using the tile as a decorative complement to architecture is proof of its perenity, through the variety of designs, models and forms, proposing archetypes where tilework wins and catalyzes supporters through its grace and usefulness. to better sum up our research, the chapter has been divided by thematic areas best suited to our study, enhancing the decoration and usefulness of the tile.


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estrela public art is a reference for the aesthetic complexity

Arte pública Public Art

of lisbon’s colours. the area is

A arte pública que encontramos na Estrela constitui-se referencial, para a complexidade estética da cor de Lisboa, pois estamos perante um programa bem definido como um pólo cultural ao ar livre em artérias das mais movimentadas da cidade. Os temas são variados, pesando muito a escolha dos artistas para a realização das obras ou simples invocações, como a que se localiza no Jardim da Estrela aludindo à amizade do Estado de Israel para com o povo de Lisboa. Mas é na Avenida Infante Santo, na Avenida da Índia e na Rua Jorge Alves que o conceito estético se desenvolveu perante um conjunto de artistas de relevo internacional, que foram convidados a decorar alguns alçados de muros recortados por escadaria e longos muretes de prédios, dando uma noção coerente aos novos eixos viários sem paralelo nas restantes zonas habitacionais. Todo o ciclo termina, por quem desce a Avenida Infante Santo, num viaduto policolorido e graciosidade ondulante, transmitidas por sensações visuais onde a gradação de cor se perfila ritmada por linhas e linhas e muitas entrelinhas de tons quentes. Os anos das colocações dos magestáticos painéis datam, como iremos ver, da década de 1950/60, projetando-se a moda decorativa até aos inícios do século XXI. Como resultado da exposição às intempéries e à degradação humana, muitos dos exemplares sofreram alterações e desgastes da cerâmica, originando, ao logo dos tempos, restauros e necessidades de conservação, sendo comum haver, muitas vezes, taipais para desenvolver os processos normais das boas práticas nas obras públicas, tendo a Câmara Municipal de Lisboa desenvolvido obras recentes de limpeza neste património comum e que a todos enaltece. Vamos, por ordem cronológica, inventariar a localização dos painéis, os anos da sua empreitada e os autores respectivos: Jardim da Estrela (1989); Avenida Infante Santo, painéis (Maria Keil, 1958, Júlio Pomar e Alice Jorge, 1958, Sá Nogueira, 1959, Eduardo Nery, 1994), Avenida Infante Santo, viaduto (Eduardo Nery, 2001); Avenida da Índia (Querubim Lapa, 1993); Rua Jorge Alves (Sá Nogueira, 2002).

a well-defined cultural pole in some of the city’s busiest

streets. the themes are varied,

with the artists’ choices hav-

ing great bearing on the works carried out, whether major or

minor, such as the one alluding

Jardim da EstrEla avEnida infantE santo (maria Keil, 1958, Júlio Pomar e alice Jorge, 1958, sá nogueira, 1959, Eduardo nery, 1994 e 2001) avEnida da Índia (Querubim lapa, 1993) rua JorgE alvEs (sá nogueira, 2002)

to the friendship between israel

and lisbon in the Jardim da estrela.

it is, however, in Avenida infante

with the lisbon city council

Jorge Alves that the aesthetic

is shared and praised by all.

santo, Avenida da Índia and rua

concept was developed by a group of internationally re-

nowned artists, who were invited to decorate some walls with stairs and parapets of buildings,

giving a coherent notion of the new streets, unparallelled in other residential areas.

the whole cycle ends, for those going down Avenida infante

santo, in a gracefully undulating polychrome viaduct, conveyed

by visual sensations where the

gradation of colour is rhythmically outlined and with many

safeguarding this heritage that

let us then, inventory the locations of the panels in chronological order, giving the year in

which the work was carried out

and the respective artists: Jardim da estrela (1989); Avenida

infante santo, panels (Maria Keil, 1958, Júlio Pomar and Alice

Jorge, 1958, sá nogueira, 1959, eduardo nery, 1994); Avenida

infante santo, viaduct (eduardo

nery, 2001); Avenida da Índia (Querubim lapa, 1993); rua

Jorge Alves (sá nogueira, 2002).

warm shades in the spaces be-

tween the lines. these magisterial panels were placed, as we shall see, in 1950s and 1960s; with this decorative fashion lasting up until the early 21st century.

As a result of exposure to bad weather and human activity, many of these tiles have suf-

fered wear and tear, requiring

restoration and conservation.

this has led to the creation of good practices in public works,

Bibliografia Bibliography alBuQuErQuE, ana de (coord.). Querubim Lapa. lisboa: inapa, 2001. HEnriQuEs, Paulo (coord.). Eduardo Nery, Exposição Retrospectiva: Tapeçaria, Azulejo, Mosaico, Vitral (1961-2003). lisboa: museu nacional do azulejo, 2003. laPa, Querubim. Querubim Lapa. lisboa: inapa, 2001. toJal, alexandre arménio, e almEida, rui manuel (coord.). Maria Keil: de propósito, obra artística. lisboa: museu da Presidência, 2014.

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one of the major concentrations of lisbon facade tilework is to be

Fachadas, padrões e Frisos

Facades, Patterns and Friezes

found in estrela, with it being impossible to stroll down any street without coming across

a building with tilework on its

exterior, although the models and patterns vary considerably.

the tilework is interwoven with polychrome buildings contributing, along with the cobbled

streets, the glazing and the reflection of the river tagus, to

lisbon’s characteristic brightness.

the variety of facades lined with ceramics is as vast as the

Uma das maiores concentrações de azulejaria de fachada da cidade de Lisboa encontra-se na Freguesia da Estrela, não sendo possível deambular por qualquer eixo viário sem deixar de encontrar um imóvel com azulejos no exterior, embora os modelos e padrões variem entre si. Intercala-se com imóveis policromados, contribuindo, com as calçadas, as vidraças e o reflexo do Rio Tejo, para a difusão luminosa pela qual Lisboa é (re)conhecida. A variedade de fachadas revestidas com cerâmica é tão vasta quanto a criatividade dos padrões que os centros produtores desenvolveram, apresentando-se lisos ou relevados, estes em menor número – como é o caso dos exemplares da rua Possidónio da Silva, da rua do Quelhas e da rua das Janelas Verdes –, sendo alguns de produtores oriundos do norte e centro do país. Do Porto há azulejos atribuídos às fábricas das Devesas e de Santo António, do centro remetem-nos para a Fábrica das Caldas da Rainha, e de Lisboa, os produtos mais procurados provinham da Fábrica de Cerâmica de Sacavém, embora outros centros tenham produzido azulejaria para revestimento. Podemos definir que na Estrela há quatro momentos para a identificação dos azulejos de fachada: antes da Arte Nova, Arte Nova, pós-Arte Nova até 1950 e depois desta data até ao presente. A azulejaria Arte Nova é das mais representativas nesta Freguesia, sendo os espécimes maioritariamente relevados.

creativity of the manufactur-

ing centres, producing tiles that are either plain or in relief, there

being fewer of the latter (these can be found in rua Possidónio

da silva, rua do Quelhas and rua das Janelas verdes), with some

examples coming from the north and centre of the country.

From Porto, there is tilework of the Fábrica das Devesas and Fábrica de santo António; From

the centre, of the Fábrica das

caldas da rainha and from lis-

bon, the most sought after work was of the Fábrica de cerâmica de sacavém, although other

centres produced tilework lining.

there are four particular phases of estrela facade tilework:

pre-Art nouveau, Art nouveau,

post-Art nouveau up to 1950

and from then until the present.

Bibliografia Bibliography

Art nouveau tilework is one of

riBEiro, luís filipe Carvalho. Azulejos de Lisboa. lisboa: litexa, vol. 1, 2002.

in the area, with most examples

riBEiro, luís filipe Carvalho. Azulejos de Lisboa. lisboa: litexa, vol. 2, 2003.

the most representative styles being in relief.

saPoriti, teresa. Azulejos de Lisboa do Século XX. Porto: afrontamento, 1992.

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