a face facies
![](https://assets.isu.pub/document-structure/221004132946-84d8c5841c8d3173e3359141b41d0259/v1/3ae7a01eb74de3a5b2978f093857e7bb.jpeg)
©EDIÇÃO By the Book, Edições Especiais
TÍTULO A face
TEXTO Filipa d’Oliveira Martins | Francisco d’Oliveira Martins | Guilherme d’Oliveira Martins | Helena Canhão | Jaime Cunha Branco | José Jara | Lídia Jorge | Maria do Céu d’Oliveira Martins | Paulo Valejo Coelho
REVISÃO Benedita Rolo
© DESENHOS Filipa d’Oliveira Martins | Francisco d’Oliveira Martins | Maria do Céu d’Oliveira Martins
IMPRESSÃO Gráfica Manuel Barbosa & filhos, lda ISBN 978-989-53737-1-0
DEPÓSITO LEGAL 504659/22
Edições Especiais Rua das Pedreiras, 16-4º 1400-271 Lisboa T. + F. (+351) 213 610 997 www.bythebook.pt
PALAVRAS PRÉVIAS
Francisco d’Oliveira Martins
ESPELHO DA ALMA
Guilherme d’Oliveira Martins
Helena Canhão
A NOSSA CARA
José Jara
Jaime Cunha Branco
PALEOANTROPOLOGIA
A EVOLUÇÃO DA FACE
Paulo Valejo Coelho
DA PALEOANTROPOLOGIA
AO DIVINO MULTIFACETADO
Paulo Valejo Coelho
Paulo Valejo Coelho
79 AQUELA FACE
Filipa d’Oliveira Martins
Francisco d’Oliveira Martins
Maria do Céu d’Oliveira Martins
115 O ROSTO DA MINHA AMIGA
Lídia Jorge
121 POEMA PARA UMA SÓ FACE
Francisco d’Oliveira Martins
125 A ESSÊNCIA DO EU
Francisco d’Oliveira Martins
Tudo de mostra
Tudo se esconde
A face é o espelho da nossa alma é no fundo a essência do eu
Diz o Povo que o rosto é o espelho da alma. Com os olhos nos olhos entendemo-nos e o carácter demonstra-se na capaci dade de nos encararmos frontalmente. Quem foge ao olhar do outro, em boa verdade, foge de si próprio. O outro é, de facto, a nossa natural continuação – a outra metade de nós mesmos. Pelo olhar comunicamos e apercebemo-nos da alegria ou da tris teza, da dúvida ou da certeza, da confiança ou do medo, do pânico ou da indiferença, da atenção ou da dispersão, do conhecimento ou da ignorância, da generosidade ou da ganância, da serenidade ou da perturbação, da violência ou da piedade, do sossego ou do desassossego, da guerra e da paz. E o que é a cultura senão a com preensão da multiplicidade de atitudes, sentimentos e emoções – que o rosto identifica?
A razão e o sentimento manifestam-se pela expressão do rosto, mas, como nos ensinou Emmanuel Lévinas, mais do que uma manifestação, do que se trata é da humanidade na respon sabilidade para com os outros, que podemos encontrar no diá logo silencioso entre duas pessoas que se encontram através do olhar. A palavra grega pessoa provém de “prosopon”, que significa máscara, ou seja, a identificação pelo rosto da personagem da tra gédia helénica. Eis a importância da mais sagrada das marcas do carácter e do “ethos”.
O espelho da alma é assim o sinal da dignidade humana.
Na pintura, na escultura, nas artes, mas também no canto ou na representação dramática é o rosto a representação da es sência da humanidade. Na Divina Comédia, no percurso do Infer no, do Purgatório e do Paraíso, Dante é acompanhado pela bela Beatriz Portinari, na visita das nove esferas celestes do Paraíso – Lua, Mercúrio, Vénus, Sol (símbolo da prudência e do bom uso da teologia), Marte (sinal de coragem), Júpiter (símbolo de justiça), Saturno (da contemplação), Estrelas fixas (da Igreja triunfante), –e é na última esfera do universo físico, que antecede o Empíreo, que se dá o encontro com Deus, como descoberta de um rosto, olhos nos olhos. E quando Beatriz deixa Dante com S. Bernardo, para que a teologia comande, Dante confessa: não é voo para as mi nhas asas… Tal como em S. Paulo, a imagem essencial do supremo encontro faz-se, assim, através do diálogo do rosto. Que melhor expressão? Que melhor descoberta?