António Homem Cardoso
500 RETRATOS
da minha vida
António Homem Cardoso 500 RETRATOS
da minha vida prefácio António Barreto
É nos olhos que se aprende a cor do coração. ANTÓNIO HOMEM CARDOSO
À Joaninha Porque nunca deixando de ser ela, soube aprender o que eu sou. Mais do que uma dedicatória, é uma profunda gratidão por 40 anos de dedicação ao meu trabalho.
Caríssimo Leitor, Neste livro vai encontrar alguns grandes retratos, outros assim-assim, outros nem por isso. Tal como a vida, o retratista tem dias bons, maus e péssimos: Capaz de entender a grandeza de que é feito o ser humano, mas também a fragilidade que lhe serve de base, partilha o que sente, e na cumplicidade que é um retrato nem sempre o afeto sabe limar as sombras da dúvida.
Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
DE CARA A CARA OS RETRATOS DE ANTÓNIO HOMEM CARDOSO ANTÓNIO BARRETO
“Fazer um retrato” foi, desde o início da fotografia, o grande desejo tanto dos fotógrafos como dos que pretendiam ser fotografados. O retrato serviria para muitos e variados fins. Era uma maneira de comunicar à distância, de guardar memórias, de conservar a imagem da pessoa amada e ausente, de lembrar quem desapareceu, de esperar que nos recordem, de prestar homenagem e até de convidar alguém a pensar em nós e a fazer reverência. Os finalistas de cursos universitários distribuíam os seus retratos dedicados aos colegas e amigos, como sinal de respeito, vaidade e apresentação. Os emigrantes enviavam, na correspondência com a família, retratos seus e pediam os dos parentes deixados para trás. Os viajantes e turistas de todos os tempos faziam retratos que fossem a prova de onde tinham passado e de que lá tinham estado. Os amantes exigiam retratos uns dos outros. Monarcas e presidentes descobriram na fotografia uma maneira de serem admirados pelos seus, como se dizia então, ou de estarem próximos dos cidadãos, como se dirá hoje. Sabe-se que a Rainha Vitória é uma das pessoas mais fotografadas na história: cortesãos, súbditos, fiéis e cidadãos todos tinham a sua imagem na parede de casa, em cima da mesa Camila, no álbum de família e de pessoas importantes ou simplesmente no bolso (com as famosas “cartes de visite”). Para já não falar das mil maneiras como as imagens de rosto podiam e podem ser reproduzidas em livro, espelho, quadro, gravura ou caneca. Ou notas de banco para os heróis e os chefes políticos ou pagelas para os santos e beatos. O presidente Lincoln, Churchill, Estaline e Mao Tse Tung podem-se comparar com a Imperatriz. Em Portugal, há vários exemplos de “famosos” que foram objecto de culto fotográfico, isto é, as suas figuras foram impressas em muitos milhares de exemplares distribuídos ou vendidos, durante décadas, em todo o país. Entre nós, o Padre Cruz e Sidónio Pais estão certamente entre essas figuras. Ainda hoje, em lojas tradicionais ou especializadas, é possível comprar retratos daqueles senhores.
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O retrato fotográfico sucedeu ao retrato pintado, desenhado, esculpido ou gravado. Foi o continuador democrático, mecânico, industrial, reprodutível e de massas. Até meados do século XIX, os meios técnicos e a capacidade aquisitiva limitavam a difusão da imagem e das fisionomias. A pintura e a gravura eram os meios mais acessíveis que permitiam os retratos. Mas, em ambos os casos, havia sempre a certeza de que um artista ou um técnico, alguém, tinha tido intervenção, tinha acrescentado ou retirado, embelezado ou apoucado. Sem falar nos custos: raros podiam mandar fazer os seus retratos a óleo ou parecido, poucos podiam oferecer a outros os seus próprios retratos, muito menos distribuí-los em quantidade. Com a gravura, o mercado alargou-se, mas mantinha-se exíguo. E raramente as gravuras eram difundidas em grandes quantidades. Com a fotografia, tudo mudou. Os que podiam mandar fazer passaram a ser numerosos. Os que queriam ter e receber retratos transformaram-se em multidões. Na verdade, quase toda a gente passou a poder fazer o seu retrato, divulgar ou distribuir a sua imagem, guardar e conservar os retratos dos seus ou dos que tal mereciam. Mas também foi uma nova maneira de ver, olhar, ser visto e retratado. Na verdade, a fotografia não foi apenas um modo de fazer mais barato, em quantidades infinitas e acessível a toda a gente, o mesmo que se fazia por outros meios. O retrato fotográfico acrescentou qualquer coisa, do realismo à expressão, passando pela dimensão e pela utilização da luz, que as técnicas e as artes precedentes não conseguiam. Sobretudo, o retrato passou a ser a verdade. O que ali estava era o que era, sem intermediário, sem criatividade, sem transformação nem arranjo. Apesar de rapidamente se ter percebido que o estúdio e a câmara escura faziam prodígios e maravilhas, a verdade é que o mito da verdade fotográfica nunca morreu. A fotografia era a vida. A fotografia era o real. A fotografia não mente. A fotografia é a verdade. Sabemos que não é assim tão simples e que a fotografia pode ser o mais adequado modo de mostrar como “com a verdade me enganas”. Mas nada disso impediu que a verdade e o real ficassem para sempre ligados à fotografia, em detrimento de todos os outros meios, a começar pela palavra. E com a primeira sensação de verdade e de real, vem a certeza do retrato. Com o retrato, a fotografia nunca engana. Com a fotografia, o retrato atinge a verdade. Com o retrato, alcança-se a pureza da expressão. Com o retrato, chega-se à pessoa, ao âmago do humano, à verdade do ser.
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Curiosamente, “fazer um retrato” é, em português, “tirar um retrato”. Há outras línguas em que tal é dito da mesma maneira, como em francês, por exemplo, fonte permanente de termos modernos portugueses no século XIX. Mas é uma especialidade. Muito interessante. Não se sabe a origem, mas há quem pense que a génese está num preconceito comum a vários povos: fazer o retrato de alguém implica tirar qualquer coisa, talvez a imagem, talvez mesmo mais. No Peru, há muitas décadas, fui agredido por um pequeno grupo de Índios andinos porque, quando fazia algumas fotografias, lhes estava a “tirar a alma”, segundo me garantiram. Verdade, verdade, é que quando se tira um retrato não se tira nada a ninguém. O melhor retrato é o que escolhe o que se quer de cada um, o que sublinha algo de especial, o que quer conferir a alguém um dote ou uma qualidade. Os melhores retratos não acrescentam, nem retiram. Vêem. Olham. Fixam. Reproduzem. Interpretam. António Homem Cardoso é um fotógrafo exímio, nada lhe é estranho. Tem uma rara capacidade de conhecer muito bem a técnica do ofício, sem nunca fazer dessa mesma técnica um fim ou um acrescento. A melhor técnica é a que não se vê, não se sente, não incomoda. António é isso mesmo: domina a técnica e a arte, nunca as exibe, nunca se deixa impressionar ou dominar. Tem-se a clara noção de que as únicas coisas que lhe interessam são as pessoas diante de si, as caras diante da sua, os olhos diante dos seus. O que lhe importa é o modo como dá aos outros o que vê, quem está na sua frente. Não existe uma só tradição da arte do retrato. Mal começaram a actividade, mal tiveram acesso às primeiras máquinas, os fotógrafos pioneiros do século XIX logo tentaram o retrato. Todos os planos foram tentados, grande plano, plano americano, primeiro plano, plano médio ou curto, plano geral… Mesmo os fotógrafos especializados em paisagem, natureza, vida selvagem, reportagem, guerra ou “street photography”, querem sempre, uma ou várias vezes, fazer a experiência do retrato. É irresistível. Há quem diga que nada é mais expressivo do que um rosto humano. Nada é mais dramático, nada tem mais significado. É bem possível. António Homem Cardoso parece ter pensado isso. Ele, que fez tanta fotografia e que explorou todos os temas possíveis, inclinou-se para o retrato. Foi no retrato que ele fez uma vida, um nome e uma carreira. É um dos retratistas mais importantes e conhecidos do Portugal contemporâneo.
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Olhando para estas fotografias que ele e a Joaninha seleccionaram e que representam dezenas de anos de retratos, longas caminhadas de andarilho, numerosas horas de estúdio e de câmara escura, vemos uma boa parte da história de Portugal, décadas de vida de nós todos. Os que aqui estão quase resumem um país, os seus dirigentes, os seus mais notáveis, os seus mais famosos. Olhando com atenção, vemos homens ou mulheres, ricos e pobres, novos e velhos, de esquerda ou de direita, gente do dinheiro e gente da arte, civis ou militares. É curioso ver como muitas destas pessoas notáveis aqui retratadas ficaram com o seu rosto marcado. Por outras palavras, é o retrato deles feito por Homem Cardoso que fica na nossa mente e na memória colectiva. Ao ver esta galeria, veremos, no nosso íntimo, como de certas pessoas diremos de imediato: “ele sempre foi assim!”. É este o talento do António. O António pouco interfere, olha para o que é, fotografa o que está. Quando é encenador, mal se nota. Deixa as pessoas estar. Deixa-as ser. Procura o que elas são. Uma vez por outra, percebe-se a pose. Mas não se fica a saber se foi direcção dele ou escolha da pessoa. Estou convencido de que, em geral, foi orientação sua. Uma espécie de guia imperceptível, delicado, à procura, à espera… De modo justamente a dar a entender que foi o próprio que escolheu e não o encenador quem ditou. Não é obra fácil. Não é tarefa simples. Mas é quase uma quintessência do retratista. Orientar sem dirigir. Encenar sem forçar. Fazer crer ao retratado que é dele a pose, que é sua a realidade e que é espontânea a atitude. Há fotógrafos retratistas que, para o seu trabalho, se fazem acompanhar de verdadeiras equipas de trabalho, de assistentes e colaboradores, que, em conjunto, traçam cenários e criam cenas. Há retratos desses prodigiosos, mas nos quais se perde a inocência. O António pertence ao grupo dos artesãos, dos que observam sem forçar a vida nem a expressão. Este livro é uma galeria. Literalmente. É uma verdadeira sala do capítulo, sem monges nem abades, mas com notáveis, presidentes e reis, políticos e empresários, artistas e escritores. São quarenta anos de história. Algumas centenas de pessoas que deixaram marcas ou memórias, que algo fizeram ou alguma coisa deram aos seus contemporâneos. Não estão aqui todos. Certamente. Faltam muitos. Seguramente. Estas listas nunca têm fim. Mas esta selecção mostra sobretudo que António Homem Cardoso esteve lá, esteve com eles, viu-os, não se esqueceu, quis guardar testemunho, quis manter a sua galeria. O que nos dá hoje, neste álbum encantador, é tanto a vida dele, como a nossa. De uma coisa temos a certeza: foi uma vida longa e rica dedicada à fotografia. Começou nos anos 1960, ainda não tinha vinte anos. Teve uma actividade variada e recheada. Editou ou colaborou em dezenas de livros e álbuns, teve uma inesgotável produção. Sessenta anos depois, oferece-nos esta colecção. Continua, felizmente, a mostrar-nos o mundo e as pessoas. A olhar para nós. De cara a cara. 12
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Desde há muitos anos que a minha Família e eu temos o privilégio de contar com o Mestre António Homem Cardoso como nosso Fotógrafo oficial. Para além da vantagem de termos sempre fotografias de grande qualidade artística, gozamos da vantagem de, de vez em quando, beneficiar da sua companhia. Vários primos e amigos estrangeiros têm manifestado uma certa simpática inveja em relação às nossas fotografias, em particular os cartões de Boas Festas. Eu tive também oportunidade de contar com a sua companhia em algumas viagens aventurosas, como a que fizemos a Angola, onde o António foi detido por fotografar um edifício militar. Felizmente um Oficial explicou ao militares autores da prisão que a fortaleza tinha sido construída pelo “Muene Puto” e que sendo eu o actual “Mueno Puto” podia fotografar o que quisesse. “Muene” significa Rei e “Puto” Portugal em todas as línguas Bantus. Mas a viagem mais importante foi à Indonésia e a Timor, quando consegui convencer as autoridades indonésias de que seria preferível negociarem o fim da ocupação de Timor. Na companhia do Senhor Bispo Dom Carlos Ximenes Belo e do Eng.º Mário Carrascalão visitámos numerosos locais em Timor. Espero ter no futuro próximo novas oportunidades de fazer este género de expedições com o António! DOM DUARTE DE BRAGANÇA
DUQUES DE BRAGANÇA
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FAMÍLIA DUQUES DE BRAGANÇA
D. AFONSO
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DAVID MOURÃO FERREIRA
AMÁLIA RODRIGUES
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FAMÍLIA SARA JORDAN HENRIQUE JORDAN FAMÍLIA GILBERTO JORDAN FAMÍLIA CONSTANTINO JORDAN
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ANDRÉ JORDAN
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MARIA HERMÍNIA OLIVEIRA PAES
ERNÂNI LOPES
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MANUELA EANES
ANTÓNIO RAMALHO EANES
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Conhecemos, há muito, o Mestre Homem Cardoso, por quem temos uma grande amizade e, também, uma profunda admiração. A amizade foi gerada e desenvolvida na interacção que mantivemos na Presidência da República, de que é representativo este retrato oficial da nossa família. A profunda admiração foi sendo alimentada pelas diversas oportunidades que tivemos de constatar quão grande é o seu talento, enquanto grande fotógrafo, mas, também, de verificar que é um homem de carácter, íntegro e responsável. Na fotografia, tem sido, realmente, exemplar, porque não se limita a retratar pessoas, objectos ou momentos, mas, em cada situação, sabe retirar a sua essencialidade distintiva, que só um grande artista consegue distinguir. Homem Cardoso olha o mundo e olha-nos a todos com sensibilidade e uma dimensão poética, humana e profunda, devolvendo-nos muito mais do que o simples reflexo da realidade. A vida de Homem Cardoso equipar se pode a uma sólida estrutura sinfónica, a da “aventura do espírito”, em que fonte e motor, razão e finalidade têm sido a consideração daquilo que Shakespeare chama “as faculdades infinitas dessa obra-prima que é o homem”. Ao amigo, ao homem de carácter, ao fotógrafo-artista, ao pintor que não pinta com pincel e tintas mas pinta com a máquina, desejamos a continuação do maior sucesso. MANUELA E ANTÓNIO RAMALHO EANES
FAMÍLIA RAMALHO EANES
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MÁRIO SOARES
MARIA BARROSO
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ÁLVARO BARRETO
ÁLVARO SALAZAR
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O “Semanário” vai ser um êxito! Porquê? Porque no seu lançamento aparece o aval do talento de Homem Cardoso… Lx. 4/10/83 (Véspera de mais um aniversário da Implantação da República – da 1.ª) Com amizade MARCELO REBELO DE SOUSA
MARCELO REBELO DE SOUSA
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JACQUES CHIRAC
ANTÓNIO DE SPÍNOLA
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SÃO SCHLUMBERGER
ROSALINA MACHADO
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ANTÓNIO PINHO VARGAS
ADELAIDE DE SOUSA
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ALEXANDRA
ALEXANDRA LENCASTRE
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ÁGATA
ANA CRISTINA RODRIGUES
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ANA SALAZAR
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ADRIAN BRIDGE
ALBERTO HIGINO
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