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ERA UMA VEZ UMA CASA
MEM6RIA DA INSUA
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BY THE
BOOK
FRANCISCO XAVIER OLAZABAL ALBUQUERQUE
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Índice
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Prefácio
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1. Antes do princípio [1380-1420]
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2. Uma casa e um mundo
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3. vita honesta. facultas certa. domus quieta. dona caelestia
49
4. Retrato de um cavaleiro
57
5. Ao serviço de Portugal no Brasil
109
6. A casa, os jardins e as matas
157
7. Aventuras de uma herança. Um juiz e um general escocês
189
8. Tempo de amor e de guerra. Um casamento e um mundo novo
225
9. Os caminhos do progresso
269
10. O tempo do tio João
325
11. Passagem de testemunho
333
Bibliografia
336
Índice Remissivo
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Prefácio A memória é o futuro do passado. Paul Valéry
Quis o destino que tenha vivido toda a infância e juventude num contacto mais estreito e envolvente com um dos ramos, ou costados, da minha família. Aquele em que um passado ainda vivo estava presente, perdurava e aparecia como determinante do futuro – a família da Ínsua, o ramo Albuquerque da minha mãe. Esse passado, património imaterial de memórias, tradições, relações humanas e familiares, transposto até ao presente de gerações sucessivas, assentava na estrutura material da Casa da Ínsua, da casa e dos seus bens. O desmembramento do património material da Casa e das suas propriedades – com as suas consequências – a minha idade, talvez a saudade, levaram-me ao impulso, quase sentido como dever, de investigar e relembrar um pouco das vidas e acontecimentos das gerações passadas e do mundo por elas construído. “A memória é o futuro do passado”, é verdade, mas também é certo que o passado é difícil de agarrar, de fixar. Foge-nos. Tantas vezes aparece em testemunhos marginais, escondendo o essencial. Fui juntando documentação dispersa desse passado – a que me foi possível. Para este escrito, eliminei muita coisa que me pareceu lateral, pouco significativa, ou pouco interessante no contexto desta Memória. Mas a informação de que dispunha era desigual. Para alguns capítulos, ou para o enquadramento de algumas personalidades, debati-me com a falta de dados ou relatos, e não se tratando de um romance histórico, ainda menos de um romance, não podia inventar factos e situações que desconhecia. Em vários casos e episódios dos tempos mais recentes acrescentei as minha próprias recordações. Alguns dos comportamentos de que dão testemunho os documentos desta Memória foram mudando com o tempo, e parecem-nos – hoje - inaceitáveis, mas eram circunstâncias daquele tempo, desse tempo. Lembro, por exemplo, a escravatura e a Inquisição. Outros sinais e valores de que também há registo foram aparecendo ao longo de séculos – o sentido do dever e da honra, o empenho na salvaguarda do interesse colectivo, a vontade e o sentimento de continuidade da Família e da História. 7
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1. Antes do Princípio [1380-1420]
A
22 de Outubro de 1383 morria o rei D. Fernando, deixando a sua filha única, D. Beatriz, casada com o rei de Castela, e D. Leonor Teles como regente. Formam-se dois partidos em conflito, o de D. Beatriz e o de D. Leonor Teles. O tratado de Salvaterra de Magos definia as regras de sucessão do trono, mas ainda hoje a sua interpretação levanta dúvidas. É nesta época de equilíbrios instáveis, de guerras e incertezas que nascem e vivem os antepassados directos dos Albuquerques que se haviam de fixar na Ínsua, entre eles Vasco Martins da Cunha, casado em segundo casamento com Teresa de Albuquerque, uma das filhas de Fernando Afonso de Albuquerque – enviado a Inglaterra pelo Mestre de Aviz – e de Laura, uma loira inglesa, segundo dizem as crónicas. Vasco Martins da Cunha foi, assim, genro de Fernando Afonso de Albuquerque, e teve do seu casamento com Teresa de Albuquerque três filhos: Gonçalo Vasques da Cunha, o mais velho (c.1368), Pedro e Isabel de Albuquerque, a filha mais nova.1 As fronteiras entre Portugal e Castela eram, então, em muitas zonas, indefinidas, dependem da vontade e poder dos fidalgos que controlam vilas, castelos e seu senhorio. A quase totalidade do Minho adere à causa de D. Beatriz e D. João de Castela. Na Beira, e no resto do país, há muitas divisões. Vasco Martins da Cunha, 7º Senhor de Tábua, faz parte, com os seus filhos Martim e Gil Vasques da Cunha, do grupo de fidalgos que, ainda em 1383, acolheu triunfalmente D. João de Castela, na Guarda.2 A 13 de Janeiro de 1384, a rainha regente D. Leonor Teles renuncia a favor do genro e da filha, criando mais uma cisão entre os nobres. É provável que tenha vindo dessa altura a deserção de D. Fernando Afonso de Albuquerque, Mestre de Santiago, do partido de D. Leonor
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1 • antes do princípio [1380-1420]
Uma vista da Beira-Alta. Fotografia de Helena Azeredo
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Teles. O mestre de Santiago, “estando na Vila de Palmela, veio com todas as suas gentes para Lisboa e recebeu o Mestre de Aviz por Senhor e ficou seu vassalo para o servir”. 3 Mas nessa ocasião o apoio ao Mestre de Aviz não era ainda total. Vasco Martins da Cunha não seguiu, nessa altura, a decisão do seu sogro, Fernando Afonso de Albuquerque, e manteve-se ainda fiel ao partido da Rainha. Meses mais tarde Fernando Afonso de Albuquerque e o Chanceler-mor seriam enviados como embaixadores a Inglaterra, com a missão de obter apoio para a causa do Mestre de Aviz. Face ao fracasso da primeira embaixada a Inglaterra, o Mestre de Aviz decidiu “enviar uma segunda embaixada a Inglaterra reforçada com dois pesos pesados: Lourenço Eanes Fogaça, chanceler-mor de D. Fernando e Fernando Afonso de Albuquerque, Mestre da Ordem de Santiago”. Nesta segunda tentativa os primeiros encontros não resultam, com respostas evasivas do lado inglês. Mas com o decorrer do tempo vão sendo conseguidos apoios, em homens e armas, que seriam de grande importância para o Mestre de Aviz. Para Portugal vêm, em vários barcos, cerca de seiscentos experientes mercenários ingleses.4 E em 9 de Maio de 1386, na sequência das negociações realizadas, com Fernando Afonso de Albuquerque como delegado plenipotenciário de D. João I, viria a ser assinado o Tratado de Windsor. D. João de Castela, que realizara uma primeira tentativa de ocupação de Portugal, tinha recolhido a Sevilha, acompanhado por alguns nobres portugueses que lhe continuavam fieis, entre eles Pedro Álvares Pereira, o irmão mais velho de Nuno Álvares Pereira, nomeado Mestre da Ordem de Calatrava. Realizam-se as Cortes de Coimbra, em 6 de Abril de 1385, onde o Mestre de Avis é aclamado como rei D. João I, e pouco tempo depois D. João de Castela ataca e invade, de novo, Portugal. Os fidalgos da Beira, hesitantes e divididos entre si, e de cuja ambiguidade o Mestre de Aviz se lamentara, acabam por atender o seu pedido de apoio, e reúnem-se num exército comandado por Gonçalo Vasques Coutinho, em que, à frente de vários corpos, estavam os irmãos Martim Vasques da Cunha e o alferes-mor Gil Vasques da Cunha. Estava-se a 28 de Maio de 1385, e trava-se a batalha de Trancoso em que os portugueses levam a melhor. Passado algum tempo, os irmãos Vasques da Cunha voltam a retirar o seu apoio ao Mestre de Aviz e não tomarão parte na batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. 10
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Em Aljubarrota, combatem pelo lado castelhano muitos portugueses, entre eles, João Afonso Telo e dois dos irmãos de Nuno Álvares Pereira, Pedro, mestre da Ordem de Calatrava, e Diogo, e ambos morrem nessa batalha.5 Depois da revolução de 1383 e da batalha de Aljubarrota em 1385 assiste-se durante anos a uma forte contestação do rei por parte da nobreza. D. João convoca novas cortes em Coimbra, que se realizam em Dezembro de 1397 e Janeiro de 1398. Nessas cortes os fidalgos queixam-se da desvalorização da moeda que provoca a desactualização das rendas das terras que possuíam: “Senhor, os vossos fidalgos e vassalos som muito agravados e dapnados de suas herdades que teem emprazadas e afforadas, e nos tempos que foram afforadas e arrendadas era moeda boa e ora Senhor a moeda é tal como vós vedes”. Também se queixavam de ter de pagar sisas (impostos) sobre os produtos que vendem: “Senhor. Os vossos fidalgos e vassalos fazem saber aa Vossa mercee, que som muy agravados em que deles muitas cousas; primeiramente na parte das sisas, que lhes fazedes pagar das cousas que vendem, ca aquelas cousas que eles vendem de suas herdades nom he senom pêra comprarem cavallos e armas pêra vos servirem (…)”. E até – já naquela época – os fidalgos mais velhos reclamavam o direito à aposentação: “Senhor, som agravados os fidalgos mais antigos, e velhos que som em hidade, que vos não podem servir em armas (…) e estes reyx que ante vós foram os fazião pousados com conthia que aviam e lhes eram guardadas todas honras e liberdades (…)”.6 D. João I não se comove. Diminui um pouco algumas sisas e, baseado em devassas e inquirições com escasso sentido de justiça, confisca numerosas terras que ele próprio tinha anteriormente doado. Cria assim forte descontentamento, e muitos fidalgos que o tinham apoiado passam-se para Castela. Várias famílias dividem-se, tomando os seus membros partidos opostos. O próprio D. Nuno Álvares Pereira, magoado com o rei, manifestou a ideia de abandonar o reino, e só desiste depois de uma intervenção do bispo de Évora, enviado ao seu encontro pelo monarca.7 Outros, no entanto, partem e entre eles Martim, um dos irmãos Vasques da Cunha. Os fidalgos que partem mantêm o domínio das vilas e castelos do seu senhorio, que passam à posse de Castela. Aconteceu com Bragança, Vinhais, etc. Muitos dos que saem não 1 • antes do príncipio [1380-1420]
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Os antepassados dos Albuquerques da Ínsua, originários da região da Guarda (1), fixaram-se em Penalva do Castelo, Beira Alta, no século XV. O núcleo inicial da Quinta da Ínsua (2) data do século XVI. Depois, até ao século XX, a Casa da Ínsua expandiu-se e agregou outros Morgadios e propriedades em várias zonas do país. O Morgadio dos Melos, na Lousã, próximo de Coimbra (3), o Morgadio da Horta, na Bairrada (4), o Morgadio dos Cáceres, em Casalvasco, Fornos de Algodres (5), a casa da Rua do Rosário, no Porto (6), no final do século XVIII ou princípio do século XIX, a quinta do Saião em Vila Nova de Foz Côa (7), no século XIX e a quinta do Forbes, na Praia da Granja, Vila Nova de Gaia (8), no século XX.
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mais voltaram, vindo alguns a desempenhar um papel importante na história de Castela, caso dos descendentes dos Vasques da Cunha que lá ficaram, e têm hoje o apelido Vazquez de Acuña. Martim Vasques da Cunha e outros portugueses refugiados em Castela atacam as tropas do rei de Portugal, em Maio de 1400, no cerco a Alcântara. Mas em Setembro do mesmo ano, durante as tréguas entre os dois reinos, D. João I mostra vontade no regresso de Martim Vasques da Cunha, em consideração dos serviços que lhe havia prestado. Por fim acontece a reconciliação, o regresso dá-se, e para esse sucesso terá contribuído o seu meio-irmão Gonçalo Vasques da Cunha, bispo da Guarda desde 1398, e portanto, homem de confiança de D. João I. Gonçalo Vasques da Cunha, era, como se viu, filho de Vasco Martins da Cunha e de Teresa de Albuquerque e neto de Fernando Afonso de Albuquerque. Foi doutor em Direito pela Universidade de Bolonha, a mais antiga universidade da Europa, e Bispo da Guarda de 1398 a 1426, data da sua morte. Teve três filhos, um Lopo da Cunha, de mãe não identificada, e dois – João Vasques de Albuquerque e Álvaro Gonçalves – de Maria Fernandes. Os dois filhos com Maria Fernandes foram legitimados por D. João I em 1391.8 O seu filho, e meu antepassado, João Vasques de Albuquerque, nasceu cerca de 1389, quando o seu pai teria pouco mais ou menos 21 anos. O apelido Albuquerque que tomou de sua avó Teresa, viria a perdurar na sua descendência. Numa primeira impressão, causa algum desconforto ter por antepassado um bispo. Mas essa circunstância não está suficientemente era uma vez uma casa: memória da insua
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esclarecida. Os filhos de Gonçalo Vasques da Cunha nasceram vários anos antes da sua nomeação para bispo da Guarda. Teria sido casado? Não sabemos, mas o facto de os seus dois filhos de Maria Fernandes – João Vasques de Albuquerque e Álvaro Gonçalves – terem sido legitimados por D. João I, em 1391, parece indicar que não teria havido casamento. Qual seria a sua ocupação ou profissão quando do nascimento dos filhos? Seria ainda estudante em Bolonha? Ignora-se. A figura e as funções dos bispos na Idade Média aconteciam num contexto muito diferente dos tempos da Igreja primitiva ou da Igreja actual, e é difícil, ou mesmo impossível, avaliar o passado com pressupostos actuais. Os bispos, nessa época, eram figuras com muito poder político. Faziam parte do Conselho de Estado e, por vezes, participavam em acontecimentos militares. Administravam importantes bens da diocese e também importantes bens pessoais. Dirigiam um corpo numeroso de pessoal civil, ou não religioso, composto por funcionários administrativos, trabalhadores agrícolas, artesãos ou artistas, etc. Eram nomeados directamente pela coroa, ou com o seu consentimento expresso. Muitos outros bispos portugueses, mais ou menos contemporâneos, da Diocese da Guarda e de outras dioceses de Portugal, tiveram também filhos em contextos sociais e históricos que não é possível aqui descrever e comparar. D. Gonçalo Vasques da Cunha mandou fazer o importante portal gótico da fachada norte da actual Sé da Guarda, interveio em outras corpos de construção da Sé, e colocou no lado direito da fachada o escudo com as armas dos Albuquerques e dos Cunhas. João Vasques de Albuquerque – o seu filho meu antepassado – foi alcaide-mor do Sabugal, concelho na órbita da Guarda, onde dominava o seu pai. Quando se retirou destas funções, sendo, entretanto, fidalgo da Casa Real, foi viver para Penalva do Castelo, onde casou com Joana Teles. Depois de enviuvar, foi Abade de Sátão.9 Alguns dos seus descendentes mantiveram-se em Penalva do Castelo e viriam a estar na origem da Casa da Ínsua, que ali se enraizou e desenvolveu. De D. Gonçalo Vasques da Cunha descendem os numerosos Albuquerques da Beira, e muitas outras famílias que com estes foram casando: Anadia, Seisal, Maiorca, Graciosa, Abreu Castelo Branco (Fornos), Soares de Albergaria, Tomar, Tovar Barata, Albuquerque Amaral Cardoso, Albuquerque Couto dos Santos, etc. 1 • antes do príncipio [1380-1420]
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NOTAS 1. Geneall.net. 2015 2. Aljubarrota. Luis Miguel Duarte. Academia Portuguesa de História, Edição Expresso. 2014. Pg. 44. 3. O Portal da História. 1383-1385. Maria José Pimenta Ferro Tavares. 2015 4. Aljubarrota. Luis Miguel Duarte. Academia Portuguesa de História, Edição Expresso. 2014. Pg. 48 5. Idem. Pg. 108 6. Contestação e Oposição da Nobreza Portuguesa ao Poder Político nos Finais da Idade Média. Humberto Baquero Moreno. Revista da Faculdade de Letras Universidade do Porto. 1987. Pg. 104 e 105. 7. Idem, p. 106 8. Geneall.net. 2015 9. Idem.
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2. Uma casa e um mundo
A
té ao final do século XVIII, os casamentos dos antepassados e herdeiros da Casa da Ínsua fizeram-se sempre com pessoas de Casas das Beiras. Casas situadas numa faixa de território do centro do país, que ia desde a Guarda, a Leste, até Aveiro a Ocidente, passando por Seia, Coimbra, Lousã e Bairrada, ou zonas próximas de Penalva do Castelo. No quadro da página seguinte resumem-se os dados que parecem ser os mais fiáveis, dos indicados por várias fontes. Ainda no século XIV, João Vasques de Albuquerque (c.1389 - …) casa com Joana Teles, de Vouzela. No início do século XV, Alvaro de Albuquerque (c.1410 -…) casa com Brites Coutinho, de Penalva do Castelo, e a sua neta Joana Sequeira de Albuquerque (c. 1460-…) com o seu primo Pedro Vasques de Albuquerque. Joana Sequeira de Albuquerque chegou a ser, temporariamente, proprietária da Quinta de Gôje, nos arredores de Penalva do Castelo, uma quinta que ainda hoje existe e pertence à família Magalhães Coutinho, mas, por decisão de um tribunal, perdeu-a em conflito de partilhas. Nem sempre é fácil definir com certeza as linhas de parentesco e sucessão das gerações mais recuadas. No arquivo da Casa da Ínsua havia variada documentação antiga, mas em alguns casos com indicações de parentesco imprecisas ou contraditórias Como escrevia o meu tio Luis (Téta) numa carta para um genealogista, suponho que o José Lima, “(…) Há aqui divergência com as suas notas genealógicas e também com algumas árvores genealógicas arquivadas na Ínsua. Destas, coincidem umas com as suas notas e outras divergem mais ainda, em certos pontos. Quais estão certas? Confesso que nenhuma afirmação segura posso fazer. Nem sei qual o critério de escolha que se deva adoptar (…)” ( ver capítulo 10). Por vezes a investigação genealógica leva à descoberta de novas fontes documentais que permitem fechar elos da cadeia sucessória
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2 • uma casa e um mundo
Genealogia
Vista aérea da casa da Ínsua, do jardim, de parte das matas e da aldeia da Ínsua. Do lado esquerdo, em cima, a casa do colégio de Santa Joana. Década de 1950.
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Linha de Sucessão
Ofícios e Notas
Conjuge e Filhos
1 João Vasques de Albuquerque (c.1389 -…)
Alcaide Mor do Sabugal. Abade de Sátão. Vivia em 1444.
Joana Teles, de Vouzela.
2 Alvaro Anes de Albuquerque (c. 1410-…)
Antepassado da maioria dos ramos Albuquerque conhecidos.
Brites (ou Beatriz) Gonçalves Coutinho, de Penalva do Castelo. 5 filhos.
3 João de Albuquerque e Castro (c. 1440 -…)
Combateu na batalha de Toro em 1476, e D. Afonso V nomeou-o fidalgo.
Brites de Almeida, de Gouveia – 6 filhos. Filha do alcaide de Portimão.
4 Joana Sequeira de Albuquerque (c. 1460-…)
Temporariamente proprietária da Quinta de Gôje. Pedro foi militar.
Pedro Vasques de Albuquerque, seu primo. 7 filhos.
5 Diogo de Albuquerque e Castro (1480 – c.1550)
Esteve na India. Comprou a Quinta do Outeiro, núcleo inícial da Quinta da Ínsua.
Isabel Saraiva da Fonseca. 7 filhos.
6 Isabel Saraiva de Albuquerque (c. 1530 -…)
Pedro, Ouvidor (Juiz) na India.
Pedro Fernandes de Almeida (c.1510 - c.1570). 9 filhos.
7 Diogo de Albuquerque (c. 1560 – c. 1630)
Ouvidor Geral na India. Cavaleiro da Ordem de Cristo (1590)
Guiomar da Rocha Corte Real, de Coimbra. 4 filhos.
8 Rodrigo de Albuquerque e Castro Procurador às Cortes de Coimbra. (c. 1610 – c. 1685) Caval. Ordem de Cristo (1643) Prov. de Tomar
Maria Toscano, de Coimbra e da Horta (Bairrada). 3 filhos.
9 Francisco de Albuquerque e Castro(c.1635 - …) Nasceu em Coimbra
Capitão de Cavalos. Tenente Geral de Cavalaria Comenda Ordem de Cristo.
Luisa Pereira Albuquerque, de Penalva do Castelo. (1652-…) Sua prima. 4 filhos.
10 João Rodrigo de Albuquerque e Castro (1681-1746)
Capitão-mor de Penalva. Comenda Ordem de Cristo.
Margarida de Vasconcelos Sotto Mayor, de Seia. (… - 1758). 4 filhos
11 Francisco de Albuquerque e Castro Pereira (1707- 1801)
Mestre de Campo de Auxiliares, em Viseu. Comenda Ordem de Cristo.
Isabel Antónia de Melo e Cáceres (1712-c. 1770) Coimbra e Casal Vasco. 5 filhos.
12 Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. (1743- c. 1825)
Juiz Desembargador no Rio de Janeiro e no Porto. Comenda Ordem de Cristo.
Ana Benedita Forbes de Almeida Portugal (1773-c.1840) de Lisboa. 3 filhos
13 João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1803-1860)
Conde da Ínsua. Oficial miguelista. Condecorado com a Torre e Espada (1832)
Camila Ribeiro de Faria (1827-1916) do Porto. 2 filhos
14 Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. (1853-1920)
Licenciado em Matemática e Engenheiro Civil. 13.º Morgado de Casal Vasco.
Não casou. Foi seu herdeiro universal seu sobrinho João de Albuquerque.
15 João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1890-1964)
Engenheiro Civil e de Minas. Comprou a Quinta do Forbes na Granja.
Não casou. Foi seu herdeiro universal seu sobrinho-neto Vicente Olazábal Albuquerque (1972- 2016)
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ou corrigir dados que se supunham adquiridos. Em 1974, Manuel Artur Norton publicou um artigo em que demonstrou, com provas, que, ao contrário do que até então se admitia, João Vasques de Albuquerque, o célebre abade de Sátão, era filho bastardo legitimado do bispo da Guarda, D. Gonçalo Vasques da Cunha, e neto de Teresa de Albuquerque.1 No século XVI Diogo de Albuquerque e Castro (1474-c.1550) casou com Isabel Saraiva da Fonseca, e comprou o que seria o núcleo inicial da Quinta da Ínsua – a Quinta do Outeiro, em Penalva do Castelo – onde actualmente se situam a eira e a casa da eira. Seu bisneto Rodrigo (c.1610-c.1685), procurador às Cortes de Coimbra, casou com Maria Toscano, de Coimbra e Ançã, ligada ao vinculo da Quinta da Horta, próxima da Curia, na Bairrada. No século XVII, Francisco de Albuquerque e Castro (c. 1635-…), combateu nas Guerras da Restauração, tendo recebido a Comenda de S. Martinho das Chãs, da Ordem de Cristo. Casou com a sua prima
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Pormenor da eira e da casa da eira, situadas no que, no século XVI, foi o núcleo inicial da quinta da Ínsua. Década de 1950.
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Armas Albuquerque e Pereira.
Armas Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Primeiro quartel – Albuquerque. Segundo quartel – Melo. Terceiro quartel – Pereira. Quarto quartel – Cáceres.
Pedra de armas na fachada norte da casa.
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Luisa Pereira de Albuquerque (1652-…), filha única de Manuel Pereira de Albuquerque, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor de Rio de Moinhos, Silvã, Sátão, Golfar e Povolide. O seu irmão mais velho, Diogo de Albuquerque e Castro, casado, mas sem filhos, nasceu em 29 de Setembro de 1630 e morreu em 27 de Outubro de 1668. Já no século XVIII, João Rodrigo de Albuquerque e Castro (16811746), que nasceu em Coimbra, casou com Margarida de Vasconcelos de Sotto Mayor (…-1758), filha do morgado de Santa Eulália, em Seia. Seu filho Francisco de Albuquerque e Castro Pereira (1707-1801), casou, em 1737, com Isabel de Melo Sousa e Cáceres (1712-c.1770), herdeira do vínculo de Casal-Vasco, em Fornos de Algodres, e do vínculo dos Melos na Lousã. Isabel de Melo e Cáceres era, pelo lado da sua mãe, neta de Gonçalo Sotto Mayor, alcaide-mor de Caminha. Na geração seguinte, do final do século XVIII e princípio do século XIX, o círculo geográfico e social dos casamentos, até então sempre na nobreza da Beira, alarga-se. Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, juiz desembargador no Rio de Janeiro e no Porto, casa com Ana Benedita Forbes de Almeida Portugal, nascida em Lisboa, filha do General João Forbes de Skellater (1732-1808), natural da Escócia, Tenente-General ao serviço da Coroa Portuguesa e Governador de Armas na Corte do Rio de Janeiro, e de Ana de Almeida Portugal d’Antas da Cunha e Vilhena (ver capítulo 7). O único filho varão de Manuel, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, ou João de Albuquerque Forbes (1803-1860), meu bisavô, nascido na casa da família na Rua do Rosário, no Porto, casou em 1852 com Camila Ribeiro de Faria (1827-1916). Nunca, excepto na geração do meu tio João, os morgados da Casa da Ínsua foram apenas administradores dos seus bens e das suas terras. A maioria teve carreiras militares, ao serviço da Coroa, e alguns houve com funções ligadas à justiça. Num caso – Diogo de Albuquerque (1630), casado com Escolástica Toscano e irmão mais velho de Francisco de Albuquerque e Castro (c. 1635) – o filho primogénito casado não teve geração. Em três casos – Luis de Albuquerque (1739-1797), Manuel de Albuquerque (1853-1920) e João de Albuquerque (1890-1964) – os primogénitos não casaram. Luis de Albuquerque, o quarto governador de Mato Grosso, não casou, e João, segundo irmão e também governador de Mato Grosso, também não. Sucedeu-lhes o terceiro irmão, Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1743-1825), Juiz, meu trisavô, que teve um filho e duas filhas. era uma vez uma casa: memória da insua
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A banda de Penalva do Castelo desfilando no pátio, em cima, e em baixo, baile popular animado pela banda (década de 1950). A banda da Casa da Ínsua, foi fundada em 1850 por João de Albuquerque Forbes ou João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1803-1860). Em 1891, foi fundada a banda municipal de Penalva do Castelo, que lhe sucedeu.
Os casamentos eram, em geral, combinados entre as famílias, com maior ou menor intervenção dos noivos. Por vezes havia excepções. Como conta o oficial inglês Costigan, nas suas Cartas de Portugal (1778-1789), Ana de Almeida Portugal estava noiva de um membro da família Almada, quando conheceu o General João Forbes. Apaixonaram-se e, contra a vontade da família, Ana rompeu o noivado. A sua família tudo fez para evitar esse casamento, acusou o General Forbes de ser protestante e de um meio social inferior. Forbes mandou vir da Escócia a certidão do seu baptismo católico e as suas cre-
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denciais de antiga nobreza escocesa. O casamento fez-se, e dele nasceram três filhas, a mais nova Ana Benedita Forbes de Almeida Portugal (1773-c.1840) viria a casar com o meu trisavô Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1743-1825) (ver capítulo 7). As duas outras filhas de Forbes casaram, uma com um fidalgo dos Açores e a outra com um nobre escocês. Escocês, tal como o seu pai. Nas minhas deambulações pela livraria da Ínsua, muitas vezes me passou pelas mãos um conjunto ou colecção de convites e participações de casamentos, com datas desde o século XVII até ao princípio do século XX. Na redacção complicada e protocolar dos convites mais antigos perpassava o cerimonial que rodeava a sua celebração. No tempo dos mais antigos, lacrados e com um sinete, não havia ainda selos de correio que só existiriam em Portugal a partir do reinado de D. Maria II (1853). A redacção dos convites foi-se alterando, lenta, mas continuamente, ao longo do tempo. Nos convites e participações iniciais, manuscritos, havia um sem fim de expressões cerimoniosas como já mal me lembro – fiel e muito devotado amigo e servidor, etc, etc, etc. Depois, durante o século XVIII, mas sobretudo durante o século XIX, a redacção vai-se simplificando, para acabar no final do século XIX nos convites impressos já muito semelhantes aos actuais. No incêndio do torreão poente, em Fevereiro de 1970, arderam livros, muitos documentos e esta colecção de convites. Para mim, a perda desta colecção, abrangendo com continuidade um período de cerca de trezentos anos, que retratava parte da história das inter-relações familiares, foi uma das mais sentidas.
Instrução e outros ofícios. Ordens militares. Comendas. Familiares do Santo Ofício
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Os cargos ao serviço da Coroa, no País e no Ultramar, proporcionavam proventos suplementares, sendo ainda uma fonte de cultura e conhecimento do mundo. Davam horizontes e contactos que não teriam existido numa vida estritamente local ou regional. As missões na India nos séculos XVI e XVII, e no Brasil no século XVIII, acompanhando a expansão para o ultramar, terão permitido “a mais dilatada vista do mundo”, usando uma expressão de Luis de Albuquerque e Cáceres, Governador da Capitania de Mato Grosso. Em algumas gerações, pai e filho, ou irmão e neto, ocupam os mesmos lugares ou desempenham as mesmas funções. Mas apenas por duas ou três gerações, para mais tarde esta sequência se repetir noutras gerações e noutras funções. era uma vez uma casa: memória da insua
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Nas gerações mais antigas aparecem os alcaides-mor com, entre outras, funções militares. No século XVI, Pedro Fernandes de Almeida, casado com Isabel de Albuquerque, e o seu filho Diogo de Albuquerque, são ouvidores na Índia, função que pode ser equiparada à dos actuais procuradores de justiça. E, na geração seguinte, Rodrigo de Albuquerque e Castro é Provedor de Tomar. No século XVIII, Luis de Albuquerque e seu irmão João são o quarto e o quinto governadores de Mato Grosso, com enormes poderes administrativos e militares. A carreira militar aparece repetidamente, às vezes de forma transversal, como condição ou qualificação para o desempenho de outras funções. Francisco de Albuquerque e Castro (c.1635-…), Capitão de Cavalos e Tenente Geral de Cavalaria; João Rodrigo de Albuquerque e Castro (1681-1746), Capitão-mor; Francisco de Albuquerque e Castro Pereira (1707-1801),Coronel, Mestre de Campo de auxiliares; Luis de Albuquerque (1739-1797) e João de Albuquerque (1741-1796), governadores de Mato Grosso e Cuiabá no Brasil, mas ambos militares de carreira, com o posto de coronel. E João de Albuquerque (1803-1860), meu bisavô, oficial miguelista condecorado com a Torre e Espada. 2 • uma casa e um mundo
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Um texugo morto estendido sobre um dos canhões do pátio. Dois cães de raça teckel, ou basset, olham desconfiados. Os canhões do pátio em dia de nevão. Década de 1970.
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Nos séculos XIX e XX, Manuel de Albuquerque (1853-1920), foi engenheiro civil de formação, tal como o seu sobrinho e herdeiro João de Albuquerque (1890-1964), e o meu avô Francisco de Albuquerque (1856-1919), oficial da armada e engenheiro naval. A instrução inicial – as primeiras letras, a gramática, os princípios básicos da história e da geografia, a aritmética, a língua francesa e o latim, e em alguns casos a língua inglesa – terá sido geralmente ministrada em casa por preceptores particulares, muitas vezes padres, como era hábito em muitas das casas nobres com alguma importância. Vinham depois as Academias Militares ou a Universidade de Coimbra. Possivelmente, em alguns casos, houve o recurso a Colégios de Jesuítas que, até à sua expulsão pelo Marquês de Pombal, existiam em todas as capitais de distrito, com uma frequência anual, no total, de muitas centenas de alunos. A Academia Militar de Almeida, uma das quatro que no século XVIII existiam em Portugal, teve um importante papel nesta fase da família Albuquerque, um tempo em que alguns dos seus membros a frequentaram. Por Almeida passava a instrução militar de muitos oficiais de todo o País, que ali se cruzavam e relacionavam para toda a vida, havendo muitos oficiais superiores com funções de ensino ou comando militar. Já no século XIX é fundada a Academia Politécnica do Porto, onde estudaram o meu avô Francisco e o tio-avô Manuel. As meninas, de uma maneira geral, até ao final do século XIX estudavam em casa, e nunca frequentavam a única Universidade existente, a de Coimbra. Diversos membros da Casa da Ínsua foram Cavaleiros da Ordem de Cristo, instituída pelo rei D. Dinis. Outros foram cavaleiros da Ordem de Malta. A atribuição do título ou grau de cavaleiro de uma ordem militar e religiosa – Cavaleiro da Ordem de Cristo, por exemplo – correspondia a uma distinção ou honra da Coroa em recompensa de serviços prestados em funções de administração pública, militar ou outras. Não lhe era atribuído qualquer benefício material. Tinha um valor de prestígio protocolar e simbólico. As comendas, pelo contrário, estavam associadas a benefícios materiais. Francisco de Albuquerque e Castro (c.1635-…), nasceu em Coimbra, viveu na Ínsua, Évora e Lisboa. Em recompensa do seu compor22
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tamento militar, durante a Guerra da Restauração, nas batalhas do Ameixial, Linhas de Elvas e Montes Claros, o rei D. Afonso VI agraciou-o com a comenda de S. Martinho das Chãs, da Ordem de Cristo. Os morgados da Casa da Ínsua, que lhe sucederam, foram sucessivamente comendadores de S. Martinho das Chãs. Os morgadios da Ínsua foram extintos em 1863 – conforme registo existente no Arquivo Distrital da Guarda – cerca de 30 anos depois da implantação do liberalismo em 1834. Cada comenda supunha um certo rendimento, e para lá do rendimento material havia o prestígio de pertencer a um circulo restrito reservado apenas a algumas das Casas nobres. Mas dentro deste círculo havia diferenças. As Casas mais próximas da Corte tinham frequentemente três ou quatro comendas, que podiam representar no total até 30% dos seus rendimentos, segundo estudos recentes.3 A Casa de Fronteira e Alorna, por exemplo, tinha quatro comendas, como conta o Marquês de Fronteira nas suas memórias. Francisco de Albuquerque e Castro, fidalgo da Casa de Sua Alteza, e Comendador da Ordem de Cristo, foi nomeado familiar do Santo Ofício por carta de 5 de Maio de 1675, tal como antes acontecera com outros parentes seus.4 O Tribunal do Santo Ofício, ou da Inquisição, foi instituído em 1536 no reinado de D. João III, tendo havido tribunais da Inquisição em Lisboa, Coimbra e Évora. A partir de 1683, com D. Pedro II, aumenta o poderio do Santo Ofício, sendo-lhe atribuída jurisdição plena em matéria espiritual. Além dos inquisidores – juízes licenciados em Direito pela Universidade de Coimbra – havia os “familiares” com funções auxiliares, entre outras, da prisão de culpados e da sua condução aos autos-de-fé. Sendo os judeus e a fé judaica as principais vítimas da Inquisição, havia outros assuntos, quando se tornavam objecto de escândalo público, que caiam sob a sua alçada, como por exemplo acontecia com os desmandos da vida conventual. Rapidamente, a condição de “familiar do Santo Ofício” – tantas vezes referida nos livros de genealogia – tornou-se um meio corrente de promoção social, visto que lhe era exigida a chamada “limpeza de sangue” ou de pertença original à categoria de cristão velho, isto é, sem antepassados judeus. E os tribunais do Santo Ofício passaram a ocupar-se, sobretudo, da perseguição e condenação de judeus.5 2 • uma casa e um mundo
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4.1.1. 4.1.2.
Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
Constança de Albuquerque Forbes Cristina de Albuquerque Forbes
4.1.3.
5.1.1.
Albuquerques da Ínsua, Árvore genealógica.*
João de Albuquerque Forbes ou João Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1739-1797
5.1.3.
Jerónimo Vieira da Silva de Tovar 10º senhor das Honras de Molelos e Botulho. 1737-1818
4.2.6.
5º Governador de Mato Grosso e Cuiabá.
Camila Ribeiro de Faria
4.2.1.
1741-1796
Candida Ribeiro de Faria
1829-1916
1822-… António de Almeida Coutinho e Lemos Barão do Seixo.
Manuel João e outros 4.2.3.
5.1.2.
1º conde da Insua
João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1743-1823
1805-18…
1803- 1860
4º Governador de Mato Grosso e Cuiabá.
Margarida de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1801-18…
Jorge
Francisco Ribeiro de Faria 1824-1889
Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
4.2.3.
5.1.4.
Freira no Convento de Santa Clara, em Coimbra.
Eduardo Ribeiro de Faria
4.2.4.
1745-…
Arnaldo Ribeiro de Faria
4.2.5.
5.1.5.
1º visconde de Barros Lima.
Isabel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
Henrique Ribeiro de Faria
1825-…
1826-…
1743-1825
5.2.3.
Juiz no Rio de Janeiro e no Porto. Administrador da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro.
1827-1888
2º visconde de Barros Lima. Júlia Álvares Ribeiro 1839-1871
Ana Benedita Forbes de Almeida Portugal
Jerónima Júlia Maria das Dores
5.2.1.
1773-1840
Cristina Forbes de Almeida Portugal 1768-1815
Gonçalo Guedes de Carvalho
Rita Julia van Zeller e van Zeller
1817-1899
1771-1839
5.3.1.
Francisco Ribeiro de Faria
5.3.2.
Francisco de Mello Manoel da Câmara Governador e Capitão General da Capitania do Maranhão e Grão-Pará. 12º Morgado da Ribeirinha, Morgado da Silvã, nos Açores.
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4.3.1.
Joana Forbes de Almeida Portugal
4.3.2.
5.2.2.
Henry David Fraser Oficial inglês que integrou como Brigadeiro o exército português.
Rosa Margarida de Barros Lima
1830-1897
1785-1863
1800-1837
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2.1.1.
João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1891-1978
1853-1920
2.1.3.
Conde da Ínsua. (de Jure – nunca legalizou o título)
4º Conde da Ínsua (de Jure). 3º Conde de Arbelaiz. M.Teresa M.M. Brito e Cunha
Cristina de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 1.1.2.
1856-1919
Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1904-1982 Maria do Carmo Cabral Rebêlo Valente
1.1.4.
Ana Maria Maria del Pilar Francisco Javier Maria Teresa Mónica
José Joaquin de Olazábal y Mendoça
Francisco Javier de Olazábal y Mendoça Padre jesuíta. Morreu nas Filipinas.
1.1.5.
Maria Isabel Olazábal de Brito 1937
Francisco Javier Olazábal Albuquerque Isabel Alves Machado Guedes
Maria Imaculada Olazábal Albuquerque Cabral 1940 Francisco Sarsfield Cabral
Teresa Margarida Luis
Tirso Olazábal y Albuquerque 1942-1988 Isabel Sofia Andresen Sousa Tavares
Maria de las Mercedes de Olazábal y Mendoça
2.2.7.
Freira. Escrava do S.C. de Jesus. 3.3.2.
Cristina João Francisco
1909-1988
1910-1996
1875-1956
1936
1938
Morreu na Guerra Civil de Espanha.
1871-1951
Maria Luisa Mendoça Rolim de Moura Barreto
Cristina Olazábal van Zeller
Pedro Mesquita de Brito
1906-1938
2.2.6.
3.3.1.
Jaime de Olazábal y Mendoça
Macário Luis Manuel
1.1.6.
Macário de Castro da Fonseca Pereira Coutinho
Ramon de Olazábal y Eulate Conde de Arbelaiz. (de Jure – nunca legalizou o título)
1.1.3.
2.1.5. 2.2.2.
1900-1979
2.2.5.
Afonso do Vale Pereira Cabral 1857-1946
Maria da Assunção Olazábal de Castro
1.1.7.
1864-1950
M. Mercedes Olazábal y Albuquerque
Pedro H. Andresen van Zeller
1.1.8.
Inês van Zeller Guedes
1901-1974
Conde de Arbelaiz.
Rodrigo Maria Emília Gonçalo M. Benedita Luis Inês Maria Francisco Maria José António João Gaspar Margarida
Tirso de Olazábal y Mendoça
1912-1992
2.2.8. 2.2.9. 2.2.10.
Ramon de Olazábal y Mendoça
1916-2008
Maria
Maria del Rosario Olazábal y Albuquerque Maria del Carmen Olazábal de Almada 1946
Miguel Francisco Luis
Pedro J. da Cunha Almada
1914-2006
Maria Dolores de Olazábal y Mendoça
1943
1945-1945
Maria Henriqueta de Olazábal y Mendoça Freira. Escrava do S.C. de Jesus.
Maria Teresa Olazábal Castilho Alexandre de Magalhães Castilho
Luis de Olazábal y Mendoça Combateu na Guerra Civil de Espanha.
(Azambuja)
1.1.9.
3.2.4.
2
1905-1980
1.1.10.
1
Lídia Clara dos Santos 1863-1908 Maria da Conceição de Oliveira ...-1935
Maria Isabel Francisco Maria José
Isabel de Albuquerque Olazábal
1.1.11.
1863-1933
Isabel
Sebastião J. da Cunha Guimarães
1.1.12.
Rodrigo Guedes de Carvalho
2.2.1.
3.2.3.
Ana de Oliveira 1868
Rita Vicente Salvador
1934
2.2.3.
1859-19…
Maria José Rosa João Carlos Maria Carlota António Carlos Maria Inês Gonçalo Carlos Luis Carlos Roberto Carlos
2.2.4.
3.2.2. 3.2.1.
João Carlos Guedes de Carvalho
1861-1945
Maria José Olazábal Guimarães 1932-2016
1898-1985
Maria José van Zeller Guedes
Jose Joaquin de Olazábal y Albuquerque 1931
1895-1984
Francisco de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
2.1.4.
3.1.2.
Maria de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres
1.1.1.
2.1.2.
3.1.1.
1890-1964
Manuel de Olazábal y Albuquerque 1947 Mariana da Cunha Reis
Carmen Ana Cayetana Mariana
1918-1936
Morreu na Guerra Civil de Espanha.
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