1 IGREJA PAROQUIAL DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
B Y THE
BOOK
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BOOK
9 789898 614476
IGREJA PAROQUIAL
DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR 1
Coleção Júlio de Castilho – ESTUDOS DO LUMI A R –
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PREFÁCIO : PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DO LUMIAR
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PRÓLOGO : REVERENDO PRIOR DA IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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INTRODUÇÃO
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PARTE I | A IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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O EVOLUIR DA HISTÓRIA
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ASPECTOS ARTÍSTICOS E SIMBÓLICOS
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O QUE O VISITANTE DEVE VER
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OS ARREDORES DA IGREJA
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PARTE II | ESTUDOS SOBRE A IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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A IGREJA PAROQUIAL DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
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IGREJA DO LUMIAR SÃO JOÃO BAPTISTA
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A DEVOÇÃO DAS 40 HOR AS NA IGREJA DO LUMIAR
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NOS 82 ANOS DO ANJO DA CUSTÓDIA NO TECTO DA CAPELA-MOR DA IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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A CRUZ DE CRISTO MANUELINA
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A PINTUR A DO TECTO DA SALA DO DESPACHO DA IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACR AMENTO DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR
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A EXTINCTA IRMANDADE DO ESPÍRITO SANTO
130 LIVRO INTITULADO “MEMÓRIAS DA IGREJA DO LUMIAR” 138 JOSÉ FERREIR A DE AR AÚJO 144 A IMAGINÁRIA SACR A BARROCA DA ANTIGA MATRIZ DO LUMIAR – SÉCULO XVII E SÉCULO XVIII 169 ANÁLISE ICONOGR ÁFICA
208 PARTE III | DOCUMENTOS 210 DOAÇÃO AO MOSTEIRO DE SAN DENIS DODIVELAS O PADROADO DE SAM JOHANE DO LUMEAR 212 PROVISÃO DE 9 DE JULHO DE 1610 214 INQUÉRITO E RESPOSTA DO PRIOR DO LUMIAR SOBRE OS ESTR AGOS DO SISMO DE 1755 226 DOCUMENTO REFERENTE AO CEMITÉRIO PAROQUIAL EXISTENTE NO ARQUIVO DA IGREJA 228 DOCUMENTOS EXISTENTES NO ARQUIVO DA IGREJA ACERCA DA DEVOÇÃO DAS 40 HOR AS 234 OS BENS DA IGREJA 240 ECOS DO INCÊNDIO DE 7 DE FEVEREIRO DE 1932 NA IMPRENSA 252 CONCLUSÃO 254 AGR ADECIMENTOS
PREFÁCIO : PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DO LUMIAR, PEDRO DELGADO ALVES
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A comemoração dos 750 anos da Freguesia do Lumiar, aniversário partilhado com a criação da Paróquia do Lumiar, representa o melhor pretexto para o lançamento da primeira obra enquadrada na coleção de estudos sobre a Freguesia que agora se começa a dar à estampa. Remontando ao século XIII a fundação do Lumiar, identificada tradicionalmente na obra de D. Rodrigo da Cunha a 2 de abril de 1266, e formalmente documentada em 1276, a Freguesia manteve a sua existência ao longo dos sete séculos seguintes, subsistindo incólume à sua sucessiva inclusão no Termo de Lisboa, no efémero Concelho dos Olivais e, a partir de 1886, no alargado Concelho de Lisboa. Hoje, fruto da reforma administrativa da cidade de 2012, que agrupou as mais antigas freguesias da cidade em novas autarquias recém-nascidas, o Lumiar tornou-se a mais antiga freguesia de Lisboa em existência ininterrupta desde a sua fundação. Neste contexto, é mais do que adequado que o primeiro tema a abordar na coleção seja precisamente o da história e dos elementos arquitetónicos e artísticos do mais antigo e mais relevante elemento patrimonial do território e que se mostra indissociavelmente ligado à dupla fundação da Freguesia e da Paróquia: a Igreja de São João Batista do Lumiar. Mais do que uma mera digressão histórica em torno da evolução da Igreja e das suas sucessivas mutações, que a transformaram paulatinamente de templo medieval em testemunho vivo das várias campanhas de reconstrução e aditamentos que ao longo dos séculos lhe foram introduzindo elementos arquitetónicos manuelinos e barrocos, a presente obra inventaria ainda o atual espólio artístico da Igreja e oferece ainda uma significativa coleção de estudos a ela dedicados pela pena de inúmeros olisipógrafos de renome, com destaque para a referência maior que é Júlio de Castilho. Por outro lado, e anunciando uma futura investigação mais detalhada a enquadrar nos estudos históricos sobre a Freguesia, a obra debruça-se igualmente sobre um dos elementos mais relevantes para a história da Igreja e da Freguesia e para as tradições do território ao longo das épocas, a presença da relíquia de Santa Brígida da Irlanda, para ali trazidas por três cavaleiros irlandeses em 1283. Graças ao trabalho incansável do Padre João Caniço, que recentemente assegurou uma revalorização patrimonial e uma aproximação à história que aqui partilhamos com a Irlanda, torna-se hoje cada vez mais claro o papel que a relíquia desempenhou na origem da festa e feira em homenagem de Santa Brígida que, até ao século XX, mobilizava a população do Lumiar e das povoações envolventes para uma romaria, em cada mês de fevereiro, ao terreiro fronteiro ao templo para bênção do gado. Finalmente, aos autores da obra agora editada fica o sentido agradecimento da Junta de Freguesia por mais um legado fundamental para a compreensão da história do Lumiar, na linha de muitos dos trabalhos de investigação e de divulgação que têm desenvolvido ao longo dos anos, em parceria frutuosa com a autarquia.
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PRÓLOGO : REVERENDO PRIOR DA IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR, PADRE JOÃO CANIÇO
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Presto desde já a minha homenagem especial a todos os que tão generosamente se lançaram à realização desta obra, nas Comemorações dos 750 Anos da Paróquia do Lumiar, levadas a efeito pelos responsáveis da mesma paróquia, de colaboração com a Junta de Freguesia do Lumiar. É que, se todo o conhecimento é considerado, por si mesmo, iluminante, o conhecimento histórico e cultural pode esclarecer não só muitas das realizações levadas a efeito ao longo do tempo, mas também levar a perceber muitas das suas justificações profundas, aproximando-nos assim do pensamento motivador e dos fins em vista das escolhas e decisões que chegaram até nós. A Paróquia de São João Baptista do Lumiar foi iniciada a 2 de Abril de 1266, com a consagração da sua primeira igreja, hoje capela de Santa Brígida, inserida na igreja paroquial atual, construída três séculos mais tarde. A igreja inicial foi a igreja-mãe, à volta da qual se foi desenvolvendo o núcleo da vida desta paróquia, neste caso, uma paróquia sui generis, já que foi aqui implantada, não tanto pelas exigências pastorais dos trabalhadores ou dos senhores das “quintas” desta zona, mas para atender religiosamente a família real, os familiares, acompanhantes e servidores, quando, por períodos mais ou menos longos, necessitassem de se deslocar ao “Paço dos Liminares”, o projeto levado a efeito pelo espírito criativo e dinâmico de El-Rei D. Afonso III, o bolonhês. A construção da Igreja de São João Baptista, que hoje sobressai aos nossos olhos, durou praticamente todo o século XVI, e foi obra da vontade de D. Manuel I, cujo estilo artístico nela se perdura. Vários acrescentos e adaptações, tais como a atual capela batismal, o cruzeiro exterior e a torre sineira, a capela mortuária e os espaços de apoio pastoral, serviços de atendimento, etc., foram-se construindo ao longo dos tempos. O acontecimento mais nefasto, porém, para a visibilidade deste templo, foi o incêndio de 7 de Fevereiro de 1932: o fogo, começado pelas 23 horas, devastou todo o interior do templo, até cerca das 5 horas da manhã do dia seguinte, altura em que as primeiras pessoas se deram conta da enorme tragédia que se consumava desde há pelo menos seis horas. Tarde demais para algum socorro a sério. Estavam definitivamente perdidas as pinturas de todos os tetos de madeira em toda a superfície do templo, os frescos de todas as colunas, as talhas dos três altares, as pinturas dos magníficos 12 quadros (estilo joanino) da Paixão de Cristo, nas paredes ao longo do corpo da Igreja, todas as imagens de madeira, todo o grande coro alto, com os seus dois órgãos de tubos, etc. Não tardaram muito os Paroquianos em promover a restauração da sua querida Igreja. Em três anos foi restaurada. No entanto, o Cardeal Cerejeira veio já inaugurar o culto, na Festa do Natal de 1933, quase dois anos após o incêndio. Só em 1935 foi aberta definitivamente ao culto. De então para cá, a Igreja tem sido objeto constante de carinho e de cuidado, em diferentes obras de manutenção. Ao longo dos tempos, sobressaíram nesta Igreja, de forma especial, as devoções a São João Baptista e a Santa Brígida da Irlanda. Fazemos votos por que estes dois santos continuem a abençoar os habitantes do Lumiar, na fé inquebrantável no mesmo Jesus, de que São João Baptista foi precursor, e na prioridade absoluta dada à justiça e à caridade, em que a gloriosa Santa Brígida se empenhou durante toda a sua vida. 7
INTRODUÇÃO
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Investigar sobre a Igreja de São João Baptista do Lumiar é como participar no filme sobre a Descoberta da Arca Perdida: aventura, entusiasmo, demanda, descoberta! Partir à descoberta de tudo o que fundamente a sequência histórica de um monumento que conta sete centenas e meia de anos é, na verdade, um acto aventureiro, nem sempre com consequências positivas. Com efeito, muito se perdeu, ou por descuido, ou, sobretudo, por acidentes e passagem do tempo. A Igreja de São João Baptista do Lumiar acusa a presença de todos estes infortúnios. Daí o espírito de aventura que dominou a equipa desde que o Ex.mo Senhor Presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, Dr. Pedro Delgado Alves, e o Reverendíssimo Prior, Padre João Caniço, nos formularam o convite à nossa colaboração, atendendo à excelência inusual de tão vetusta comemoração de 750 Anos. O mais honrado e reconhecidamente possível aceitámos o repto. As dificuldades, porém, não se fizeram esperar: documentos perdidos e investigações incompletas por impossibilidades técnicas. Mesmo nestas circunstâncias algo se tornou possível apresentar aos leitores e futuros investigadores que poderão, assim, completar um acervo documental necessário e imprescindível para um mais desejável conhecimento da história do templo e da Freguesia. Este esforço não se limitou a produzir a obra actual. Foi mais além, despoletando o primeiro Colóquio sobre a Igreja do Lumiar, em 27 de Junho de 2015, que contou com a presença da Senhora Embaixadora da República da Irlanda, de Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, do Reverendo Superior da Companhia de Jesus. Além disso, verificou-se a oportunidade da criação de um Museu de Arte Sacra, na Freguesia. A presença de obras de arte investigadas, de documentação compulsada garantiria um Museu, ou Centro de Estudos, muito proveitoso aos estudiosos, à Igreja Paroquial e à Freguesia. Seria um tesouro a criar neste espaço. Exigiriam um corpo de elementos profissionalizados e tal realidade redundaria em proveito de toda a espécie, como se pode constatar. Não constituiriam realidades passivas, ou mesmo mortas, dado que, sobretudo as alfaias litúrgicas, poderiam servir nas cerimónias religiosas, em vez de ficarem encerradas em vitrinas mais ou menos vistosas. Culto, cultura, turismo religioso projectariam o ego dos lumiarenses a novas alturas e, desta maneira, consciencializar-se-iam mais profundamente das possibilidades e da cultura da sua Freguesia.
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PARTE I A IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO LUMIAR Centro Cultural Eça de Queiroz-Telheiras – ESEQ
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O EVOLUIR DA HISTÓRIA
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Historial da Igreja
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A SUA VASTA PROPRIEDADE EXISTENTE nas bandas do Leminare, em 1276, D. Afonso III cedeu uma parcela junto a um pequeno agregado populacional que surgia à volta da portagem dos produtos que, vindos das chamadas áreas saloias, ou do termo que ali se alongava, entravam na Olisipo, onde aquele Rei havia estabelecido a Chancelaria do Reino. Era o denominado porto, para cujo local de funcionamento ainda actualmente existe uma azinhaga própria – a Azinhaga do Porto. A povoação crescia e exigia um templo onde os seus habitantes, se bem que ainda escassos mas trabalhadores, pudessem realizar as suas devoções e abrir-se à salvação das suas almas. A provar tal crescimento de população, já em 2 de Abril de 1266 se criara uma Freguesia própria 1. Esta igreja primitiva não se mostrava grande porque desnecessário, mas suficiente para os devotos existentes. Nos nossos dias, ainda existe, pelo menos em parte, no seu gótico primitivo, transformada na Capela de Santa Brígida, anexa à Igreja Paroquial. O Bispo de Lisboa, D. Mateus, instituiu o templo sob a denominação de São João Baptista e São Mateus 2 . O espaço concedido pelo monarca favorecia a existência de um adro para a vida comunitária e para sepultamento ad sanctos. Segundo o Prior Feliciano Gonzaga, “a Igreja Paroquial do Lumiar nam está dentro do lugar Lumiar, mas sim no fim delle e tam junto do mesmo lugar se acha situada que sem discomodo algum dos moradores estes vem a ella assestir aos officios divinos (…)”. 3 O reinado de D. Dinis deixou marcas no terreno da igreja. Com efeito, criando o Mosteiro de Odivelas para as Freiras Bernardas, o Rei Lavrador decidiu dotá-lo com uma relíquia. Na sequência desta sua decisão, surgiu a verdadeira lenda fundacional, dos três Cavaleiros que partiram em demanda da relíquia.
1 Possivelmente por falta de espaço – daí a doação real – não disporia de igreja ou capela própria. Com efeito, a Freguesia pode ter sido criada antes da Igreja. Tal facto explica a diferença de 10 anos, entre a criação da Freguesia e a construção do Templo. 2 Certamente foi do seu agrado fazer perdurar o seu nome através do hagiónimo. O santo Evangelista acabou por cair em desuso. Com efeito, São João Baptista liga-se mais com a realidade agrícola que ali se viveria do que propriamente São Mateus. 3 In Rosa Maria Trindade César Ferreira e Fernando Afonso de Andrade e Lemos, Nova Monografia do Lumiar, p. 91. 13
Trata-se de uma lenda de tal modo vivida que motivou diversas versões. J. M. Cordeiro de Sousa apresenta-nos duas mas há mais. Todas possuem, no entanto, um ponto em comum: foi no Lumiar que a calote da Santa permaneceu. Seguindo Cordeiro de Sousa, veja-se a primeiras das duas versões que apresenta, na sua pequena monografia A Igreja Paroquial de São João Baptista do Lumiar: “Conta-nos uma velha lenda que, ordenando o bom Rei D. Dinis a fundação do seu mosteiro de Odivelas, se lembrara de presentear as reverendas filhas de S. Bernardo com uma autêntica relíquia da Virgem-Mártir Santa Brígida, que para tal faria trazer da longínqua Ibérnia; ou acaso de lá lha terão mandado como oferenda devota para as madres habitadoras da nova casa claustral. (…) Mais acrescenta a lenda que três nobres cavaleiros irlandeses portadores da Sagrada Relíquia, cansados da jornada e temerosos de penetrarem pelo negror da noite no denso olivedo do vale que os separava do mosteiro; resolvem pernoitar no alto da colina, junto aos Paços do Infante D. Afonso Sanches. Manhã alta, quando o sol não despontava ainda das bandas da charneca de Nossa Senhora do Funchal, e se dispunham a descer a encosta, dão pela falta da Relíquia. E qual não foi a surpresa ao vê-la suspensa no cimo de um pinheiro que então ali se erguia. Julgando cada qual que algum dos outros, por cautela, lá a tivesse posto, foram buscá-la, seguindo seu caminho. Mas eis que, ao chegarem a Odivelas, verificaram cheios de espanto, que de novo a Relíquia desaparecera. Algum mais animoso volta atrás, pressentindo milagre, e de novo depara com ela em cima do pinheiro. Pela terceira vez o caso se repete, e então o povo alvoroçado pede ao Bispo, que seria ao tempo D. João de Soalhães, para que a milagrosa Relíquia fique no Lumiar, na ermida se acaso então já existia, ou na que a piedade do Rei ali manda logo edificar.” (pp. 5-6). Passe-se, agora, à segunda versão apresentada por Cordeiro de Sousa: “Outra versão conservada num desaparecido livro do cartório paroquial contava-nos que, chegados os três cavaleiros hibérnios portadores da Relíquia ao Lumiar, por motivos que não nos diz, “não foy possível passarem adiante”, e então a deixaram na igreja. Mas as arreliadas bernardas é que não se conformaram com a perda de tão valiosa dádiva, e trataram de requerer “que lha levassem ao seu mosteiro processionalmente” todos os anos pelo mês de Maio, até que em certa ocasião, havendo-a recebido com “ ladainhas e rogaçoens”, se negaram a restituí-la. Então Santa Brígida, decerto indignada pela feia acção das madres, faz com que, “por seu gosto e espontânea vontade”, a sua cabeça apareça milagrosamente “em huma madrugada sobre uma grande árvore que se achava defronte da porta-travessa desta igreja paroquial.” (p. 6) João Baptista de Castro, no Mappa de Portugal Antigo e Moderno, vol. 2, p. 128, narra-nos uma versão quase irreconhecível desta lenda: “Na Igreja de S. João se conserva a cabeça de Santa Brígida Virgem, a qual querendo-a colocar el-rei D. Diniz pelos anos de 1300 no mosteiro de Odivellas, por duas vezes foi vista milagrosamente á porta da Igreja do Lumiar, onde finalmente se depositou, e se guarda em sacrário com particular culto, concorrendo em todo o anno grande numero de pessoas pelos inumeráveis prodígios, que Deus obra por intercessão d’esta Santa. (…) podemos dizer, que a veneravel cabeça, que está no Lumiar, é de Santa Brigida Virgem natural de Lisboa.”. 14
Sabendo as valências e a origem de Santa Brígida, no campo da Simbologia, como protectora da agricultura e do gado, facilmente se compreende a persistência da deusa de permanecer no Lumiar. Encontrava-se no seu meio propício. O Lumiar era rico em águas e, portanto, em agricultura e igualmente em gado. Daí a feira que criou para este tipo de animais. Um pormenor, no entanto, sobressai na leitura da primeira lenda: a existência de um pinheiro, árvore escolhida pela Santa para se refugiar. Lembra o culto de Átis, também uma divindade ligada à fertilidade. Serão lembranças longínquas? Cordeiro de Sousa apresenta uma hipótese: “Tenho até razões para supor que o Rei mandara vir a Relíquia, em anos de grande seca, para o Lumiar já então centro de certa importância agrícola, por ser Santa Brígida protectora dos campos e dos gados. E estará porventura aqui a origem daquela tradição, ainda hoje viva, de levarem os gados dos lavradores destes contornos a dar três voltas em redor da Igreja no dia 2 de Fevereiro.” .
Começou deste modo o culto de Santa Brígida na região e os cavaleiros repousaram para sempre no exterior da capela. Ainda lá se encontram, rezando o seu epitáfio: AQVI NESTAS TRES SEPVLTVRAS JAZE. ENERADOS OS TRES CAVALROS IBERNIOS Q TROVXERÃ. A CABECA DA BE. AVETVRADA. S. BRIGIDA VIRGE. NATVRAL. DE IBERNIA. CVIA. RELIQVIA. ESTA. NESTA. CAPELLA. PA MEMO RIA DO QVAL HOS OFICIAIS. DA MESA. DA BE. AVENTVRADA. S. MÃODARÃO. FAZER. ESTE E IANRO DE 1283
Foi este o ano em que pela primeira vez se realizou a feira do gado, no adro e nos arredores da igreja. Pertencia ao Rei, como Patrono, nomear o pároco. Porém, a 5 de Outubro de 1318, este Rei doou o padroado que lhe assistia ao Mosteiro de Odivelas, abrindo, então, um conflito com o Bispo de Lisboa, D. Frei Estêvão, que se opunha a tal decisão. Só ficou resolvido, anos volvidos, no tempo de D. João Afonso de Brito. Em 1334, a igreja passa para domínio completo do Mosteiro de Odivelas. Sucedeu que D.ª Teresa Martins, viúva de Afonso Sanches, para sufragar as almas do marido e do sogro ofereceu ao Mosteiro a Igreja de São João Baptista e o seu Paço do Lumiar. Entretanto perderam-se tanto a relíquia como registos históricos posteriores a D. Dinis. Instalou-se o silêncio até possíveis novas descobertas. Só com D. Manuel I regressam notícias. Este rei, com efeito, dotou a igreja de obras e ampliações. Poder-se-á dizer, na verdade, que foi D. Manuel quem dotou a forma maneirista da igreja. Como afirma Cordeiro de Sousa, “Este tipo de igrejas rurais, de três naves, a do meio de maior altura, separadas por colunas onde se apoiam arcos de volta redonda, tectos de madeira
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de três planos, e capela-mor abobadada, é vulgar na centúria de quinhentos.” 4. A ele possivelmente, ou o mais tardar à primeira parte do reinado de D. João III, se devem as belas 12 colunas de que a igreja dispõe. Com efeito, depois de D. Manuel, e já no reinado de D. João III, o Concílio de Trento não permitiria uma estrutura deste tipo. Em 1488 foi construída a Capela de São Valentim, a primeira do lado do Evangelho por parte de quem entra no templo. Tinha acesso à torre por uma escada de pedra. Com elevada dose de certeza, pertence à lavra deste rei o começo da estrutura do templo actual, dado que, no século XVI vemos referidas três entradas na igreja 5: uma principal e duas secundárias. Destas uma abria-se a norte e outra a sul. Saliente-se que se trata de um templo orientado, isto é, o altar-mor encontra-se a Nascente e a porta principal a Ocidente. Todas estas entradas eram servidas por escadas e dispunham de pias de água-benta. D. Manuel deixou o selo da sua acção numa bela cruz de sagração na parede exterior Norte da capela-mor. O reinado de D. João III revelou-se frutífero para a igreja, até porque o rei era um devoto afervorado de Santa Brígida. Veio por vezes a esta igreja, nela demorando vários dias a sua devoção. Assim, marcou fortemente a transformação da estrutura do templo. Aproveitou e aumentou a obra do seu antecessor. A população do Lumiar apreciou devidamente a transformação; com efeito, surgem desta época vários sepultamentos que ficaram devidamente confirmados, como a sepultura de Braz Roiz e seus herdeiros datada de 1524 6 , a sepultura junto da porta principal, cujo nome ignoramos por diluição do tempo e uso 7. Delineou-se o portal exterior, desenhou-se o ábaco de um capitel do lado da Epístola e, com surpresa quase milagrosa, descobriu-se a relíquia de Santa Brígida. Foi tal o impacto que a igreja passou a denominar-se Igreja de Santa Brígida. Mas pouco durou este apodo; rapidamente voltou ao anterior orago. É no reinado deste rei que a Paróquia de São João Baptista começa a reduzir o seu território, dando origem a duas outras paróquias: a da Ameixoeira, em 1541, e, mais tarde já no tempo da União das Coroas, a da Charneca, em 1585. Os meados do século XVI acusaram, deste modo, obras extensas. Além das já citadas, acrescente-se, em 1542, a colocação de azulejos na nave do templo e a colocação de uma pia baptismal datada. Quatro anos volvidos, procedeu-se à instalação de um púlpito no lado da Epístola, na segunda coluna. Traçou-o o canteiro João Mateus, conforme a inscrição que possuía esculpida na pedra: “I.O.HÃ. M.A.T.E.V.-S. L.A.V.R.O.U. E.S.T.E. P.V.L.P.I.T.O. 1546” 8 . Tratava-se de uma bela obra de mármore róseo com balaustres de mármore branco, sobre um pé polinervado com a forma de cálice. 4 J. M. Cordeiro de Sousa, A Igreja Paroquial de São João Baptista do Lumiar, p. 12. 5 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5063. Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. 6 SA DE BR AS ROIZ HE / DE SEVS ERDROS … 1524 (Cordeiro de Sousa, op. cit., p. 13). 7 E STA SA HE DE … / … E DE SEUS FOS E DE / … IAZ AQUI TAMB … / … 1.5.4.8 (Cordeiro de Sousa, op. cit., p. 12). 8 Cordeiro de Sousa, op. cit., p. 12. (Por motivos de melhor leitura, separámos as palavras. O texto está todo corrido.) 16
Tempos volvidos, foi transferido para a terceira coluna do lado do Evangelho. A presença do púlpito constituiu uma adaptação às normas do Concílio de Trento. A igreja passou a assumir a forma actual. Dispôs de três naves, à maneira maneirista, o que indica a já referida obra manuelina. Estas naves tomaram nomes de santos como se pode verificar na esquematização seguinte:
Nave do Rosário
Nave de Jesus
Nave de S. Sebastião
A nave do Rosário dispunha das capelas de Santa Brígida, antiga igreja, e, mais perto da capela-mor e de São Valentim. Destas, a primeira encontrava-se gradeada. Nesta igreja sedeavam várias Irmandades: a de Santa Brígida, a de São Valentim, a do Santíssimo Sacramento, a de São Sebastião, a de São João, a de Nossa Senhora da Conceição, a de Santo António, a das Almas do Purgatório, com as respectivas arcas. Cite-se, verbi gratia, a Nave de Jesus possuindo a arca de Santa Brígida e a de São João. Por sua vez, a Irmandade do Santíssimo abria duas arcas: uma maior na Nave de Jesus e outra, menor, na do Rosário. Os Filipes não se alhearam de obras, embora, por causas que desconhecemos, o templo estivesse interdito de 24 a 31 de Dezembro de 1585. Durante esta semana, os matrimónios celebraram-se na ermida do Espírito Santo, de que actualmente restam vestígios em propriedade particular. Verificou-se mudanças na localização das arcas: a de Jesus colocou-se à entrada do templo e a da Irmandade de São Valentim entrou no espaço da igreja. Igual facto ocorreu nos oragos das capelas: São Sebastião cedeu a sua a Nossa Senhora da Conceição e a de São Valentim a São João Baptista. É igualmente neste período que se coloca a lápide dos três Cavaleiros Hibérnios, no exterior. As obras foram-se acrescentando e completando: em 1603 terminou-se a porta principal, datada e com um nicho com a imagem de São João; em 1606 e 1607 recomendou-se o acabamento do retábulo do altar-mor – uma obra que se prolongará por mais de uma década e cujo acabamento, possivelmente, nunca chegou a ser completado 9. Neste mesmo último ano, recomendou-se igualmente a ultimação 9 Cordeiro de Sousa, op. cit., p. 14 elucida-nos: “Em princípios do século XVII parece que a igreja não tinha retábulo, ou se o tivera, se havia estragado, e se encomendara outro que por dificuldades de pagamento, ou desleixo do pintor, não se concluía, pois em 1606 certo visitador recomendava ‘que se acabe de pintar o retábulo do altar-mor’. A sua recomendação, porém, não foi ouvida, e no ano seguinte insiste pelo acabamento, ‘pois há tantos anos que está no estado em que o achei!’ Mas apesar das penas cominatórias do indignado visitador, o cura e os beneficiados não se mexiam e, passados nove anos, em 1616, ainda o retábulo estava por acabar, e um outro visitador lembrava-lhes, e à madre abadessa de Odivelas como padroeira da igreja, ‘a necessidade que tem o retábulo do altar-mor de se reformar e acabar de doirar, antes que de todo se danifique’. Em 1620 ainda um padre visitador menos rabugento dizia ser conveniente que o retábulo estivesse ‘ornado’, e se lhe mandasse ‘ doirar o pedestal’. Parece pois que já estaria pintado. E não era sem tempo!”. 17
das outras portas principais, obra que à maneira da anterior, sofreu várias delongas 10. Assentaram-se mais azulejos em 1617, azulejos estes enxadrezados de tiras verdes e brancas. Dois anos volvidos, construiu-se o coro alto e dotou-se a igreja de órgãos. Como não houvesse quem os tocasse, estabeleceu-se a verba de 4.000 reis para motivar um futuro organista. Edificou-se ainda o cruzeiro do adro da igreja. Mas o que, infelizmente, caracterizava a igreja era o desleixo, motivado por diversas causas. Inclusivamente, o resguardo da relíquia de Santa Brígida, necessitava de reparo. O mesmo se diga do sino. Em 1630 o pároco foi intimado a firmar um muro à volta do cemitério, no prazo de três meses, sob pena de excomunhão e do pagamento de cinco cruzados para a Santa Cruzada. O chão do adro, que servia de cemitério, era devassado por carros e animais de transporte e escavado por outras alimárias, sobretudo cães, e, por isso, apresentava aspecto deplorável com ossadas à vista. Mas o muro, ou vedação ainda não se havia colocado em 1706. O marasmo continuou, quando, em 1640, se retomou a independência nacional. Assim, em 1644, uma intimação, anódina, impôs ao Juiz da Igreja cobrir o adro. Em 1683, ordenou-se a colocação de grades à volta do baptistério. Em todo o templo, obras várias prolongaram-se até 1745. Em 1699, firma-se o contrato com Matias Rodrigues de Carvalho para efectuar o retábulo-mor e, sete anos volvidos, José Ferreira de Araújo pinta os brutescos do tecto da igreja. Em 1707, António de Oliveira Bernardes aceita, por intermédio do seu cunhado José Ferreira de Araújo, 400$000 para douramento e pintura da capela-mor 11. Foi nesta capela-mor que duas famílias reservaram espaço para sepultura. Com efeito, no seu pavimento reza-se: ESTA SA HE DOZDOR IMO CA / BRAL FIDALGO DA CA / ZA DE SVA MGDE HOJE HE / DE SVA BISNETA D. JOAN /NA CABRAL DE COADR /OS E DE SEVS DECENDE / NTES HERDEIROS / 171… 12 . 10 Socorrendo-nos igualmente de Cordeiro de Sousa, op. cit., ps. 14-15: “As invernias tinham apodrecido a porta principal. Era necessário fazer com que a igreja não fosse devassada. Na visita feita em 8 de Agosto do ano de 1607 manda o padre visitador ‘em termo de quatro meses fazer as portas principais’. Pois em 1620 ainda não as tinham feito, e onze anos passados, na visitação de 8 de Outubro de 1631, clamava outro visitador que ‘ he muito necessário fazer huas portas principais nesta igreja’, aconselhando o prior que se justificava com a falta de dinheiro, a pedir ao Rei provisão, ‘para finta’, a fim de as fazer ‘cõ toda a brevidade’. Ao que parece o indolente prior tinha mais em que pensar, visto em 1639 ainda as malfadadas portas não estarem feitas, e a igreja devassada, o que fez com que o descoroçoado visitador se lamentasse de não terem sido ‘bastantes todas as lembranças que em várias visitações foram feitas, e penas que foram postas… para que se fizessem as portas’.” 11 “Como procurador q. sou de meu cunhado Joseph frª araujo, em vertude da procurasão acima. Recebi do S.or P.e João moreira uelho, escrivão da mensa do Sº da freguesia do Lumiar, a quantia de quatro sentos mil res em d.ro de contado ao fazer deste, por conta do q. se lhe deve, procedido do doirado e pintura da sua capela mor da dita Igreia, de q. lhe dou esta procurasão, dogo, esta quitasão pª se lhe dar em conta q.do se aiustar de todo o resto. Lxª 16 de Julho de 1707. An.to de oliu.ra Ber.des, “ in Cordeiro de Sousa, op. cit., p. 16. 12 Cordeiro de Sousa, op. cit., p.20. 18
A outra refere-se a uma grande família da Ameixoeira: ESTA SA HE DE FRANCO DE FOYOS E SOVZA CA / VALEIRO PROFESO D / A ORDEM DE CRISTO / E DE SVA MOLHER D. IO / ANNA CABRAL DE COA / DROS. E DE SEVS DECEN / DENTES HERDEIROS / ERA DE 1714.
São sepulturas de elementos da mesma família. A Capela de Santa Brígida apresentava já bastante desgaste e, muito possivelmente, deve ter-se desmoronado em parte antes do sismo de 1755. Houve certamente, dada a estrutura actual, uma tentativa de a recuperar. Nos dias actuais pode ver-se parte da estrutura gótica antiga com recuperação posterior. O terramoto de 1755 também causou estragos na igreja do Lumiar, sobretudo na frontaria e na torre. Tal realidade levou a recuperações e remodelações, inclusivamente na disposição dos oragos. Possivelmente data desta época a Capela de Nossa Senhora da Conceição. A disposição dos altares passou, assim, a ser a seguinte, segundo as Memorias Paroquiaes, de Feliciano Luís Gonzaga, de 1758 13:
1 2
3 5
4
1. Capela-mor; 2. Altar de Nossa Senhora do Rosário; 3. Altar de Cristo Crucificado; 4. Capela de Santa Brígida; 5. Capela de Nossa Senhora da Conceição
Na capela-mor encontravam-se as imagens de São João Baptista, do lado do Evangelho, e, do lado oposto, a de São Pedro. A Capela de Santa Brígida mostrava a imagem desta Santa e a sua Relíquia. Era a sede da Confraria própria. O altar de Cristo Crucificado tinha um crucifixo feito pelo Padre António da Costa Preto 14. O altar de Nossa Senhora da Conceição apresentava a imagem de Nossa Senhora da Encarnação, além da do orago, e dava guarida às Irmandades das Almas do Purgatório, de Jesus e de Nossa Senhora do Rosário. A Irmandade de Santo António havia cessado em 1761.
13 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Sipa.aspx?id=5063. Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. 14 Será parente do Beneficiado Manuel Gonçalves Preto que foi o possível primeiro proprietário da chamada Casa de Júlio de Castilho, no Lumiar, de 1764 a 1780. Cf. “Mistérios do Paço do Lumiar – da Fundação Júlio de Castilho”, de Carlos Revez, Prof. Eduardo Sucena. Prof. Fernando Andrade Lemos, Sr. José António Silva, Prof. Doutora Rosa Trindade, in Actas das 9.as Jornadas Histórico Culturais do Lumiar, Junta de Freguesia de Lumiar, Lisboa, 2013, pp. 7-57. 19
Em 1759, A. Joseph da Fonseca vendeu “uma armação de panos pintados” que se encontram no tecto da Sala do Despacho. São da autoria de João Pedro Volkmar e representam o Triunfo da Fé sobre a Heresia, sendo o recibo passado a Manuel Cardoso 15. Esta tela foi restaurada, em 2004 sob a responsabilidade de Carolina Barata, técnica de restauro e conservação. Em 1766, António Ferreira de Almeida custeou a Jerónimo de Barros Ferreira e a Silvestre de Faria Lobo o retábulo de talha dourada, a tela e a pintura da capela-mor, durante o seu mandato de Juiz do Santíssimo Sacramento. Sensivelmente quatro anos volvidos, André Gonçalves preencheu os tímpanos dos arcos divisórios das naves com 10 quadros alusivos à hagiografia de São João Baptista. Já nos finais do século XVIII, Jerónimo de Barros Figueira pinta o tecto da Capela de Santa Brígida e colocam-se azulejos. Em 1780, o Beneficiado Manuel Gonçalves Preto 16 , o Padre Patrício da Silva e José Correia, mesários da Irmandade de Santa Brígida, encomendaram ao ourives Bernardino António de Bastos a arca onde se guarda actualmente a Relíquia de Santa Brígida, substituindo o cofre de prata dourada e o de cristal, de estilo D. João V 17. Há notícia da construção, em 1818, de um altar colateral que foi destruído pelo incêndio de 1932. Em 1822, a igreja foi vítima de roubo 18. Tal facto calou profundamente na mente dos paroquianos. Para memória, foi colocada, na parede sul, uma inscrição que rezava: POR AQVI SAHIO / O ROBO / DO DEZACATO / Q SE FEZ EM Q P 10 / DE NOVEMBRO DE / 1822 / PA PERPETVA MEMORIA / PIDC 19
Em 1838, Manuel Maria Ribeiro, pintor, restaurou o painel do altar-mor. Ao abrigo do Decreto de 11 de Setembro de 1852, que ordenava a criação do Concelho dos Olivais, a Igreja de São João Baptista deixou de constituir um templo do 15 O quadro tem a seguinte legenda: LIBER ERITICORUM / CALVINI ET LVTERI / ATVERSUS DEEVINUM / SACR AM (EN) T (UM) / QVI VINTI FVERVN / A SAPIENSIA / ET DOTRINA / DOM TOME ET / BONAE VENTVR AE. (Livro dos heréticos Calvino e Lutero contra o Divino
Sacramento, que foram vencidos pela sabedoria e doutrina de São Tomás e Boaventura). Cf. “A Pintura do Tecto da Sala do Despacho da Irmandade do Santíssimo Sacramento de São João Baptista do Lumiar”, por Rosa Trindade e Fernando Afonso Andrade Lemos, in Actas das 5.as Jornadas Histórico Culturais do Lumiar, Junta de Freguesia do Lumiar, Lisboa, 2009, p. 51. No final de legenda, em letra cursiva tem a seguinte anotação em parte ilegível: Fes Jão P.o Uolque mar ?? / de 1743 (idem, ibidem, p. 52). Por sua vez, o recibo versa: “Recebi do Snr. M.el Cardoso a quantia de (…) procedidos de hua armação de panos pintados q. lhe vendi pª a casa do despacho da hirm. de do Santissimo Sacram.to (…) Lixª 2 de abril de 1759. A. Joseph da Fon.” (idem. Ibidem, p. 33). 16 Já referido anteriormente como possível parente de António da Costa Preto. 17 Na base da relíquia há a confirmação deste facto: “ESTA PESA FOY FEITA NO ANNO DE / 1780 POR BERNARDINO ANTONIO / DE BASTOS SENDO MENZARIOS DESTA / IRMANDADE, O PADRE MANOEL GONSAL / UES PRETO E JOZE COREIA E O PADRE / PATRISIO DA SILVA”.
18 Encontrava-se em obras. A primeira metade do século XIX foi de vasto labor em obras na igreja. Salientam-se as realizadas em 1810, 1821, 1822, 1826 e 1840. 19 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Sipa.aspx?id=5063. Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. 20
Termo de Lisboa para ingressar no citado concelho limítrofe da capital, onde pertenceu até 1885. Com a reforma administrativa então efectuada, passou a ser uma paroquial de Lisboa. Como se via a Igreja de São João Baptista no final do século XIX e início do XX ? “A capela-mor era grande e bem proporcionada e com boa iluminação; dos lados tinha dois grandes quadros a óleo e ‘ dois magníficos azulejos, talvez flamengos’ com a Degolação e a Pregação de São João Baptista; tinha retábulo em talha dourada com tela onde o santo padroeiro acariciava a ovelha e pintura no tecto; sobre o altar-mor tinha a imagem de São João e São Pedro e, aos pés da primeira, a cabeça de São João em prata oferecida pela Duquesa de Palmela, Dª Maria Luísa; tinha dois altares colaterais, de Nossa Senhora do Rosário (lado do Evangelho) e de Nossa Senhora das Dores e ao Santo Crucifixo (lado da Epístola); na nave esquerda, dita de Jesus, existia a Capela de Nossa Senhora da Conceição e, em frente, na nave do Rosário, a capela de Santa Brígida; na parte superior da nave central viam-se dez quadros ricamente emoldurados em talha dourada e azul com os paços da vida do orago; o púlpito de mármore encontrava-se junto à terceira coluna do lado esquerdo da nave central, a contar do altar-mor; o tecto da nave central era de madeira pintada e estava em avançado estado de degradação devido à infiltração de água e foi descrito por Júlio de Castilho (…) ergue-se em volta lá no alto uma balaustrada em perspectiva, figurando terminarem aí as paredes; essa balaustrada é intervalada de acrotérios, com grandes vasos cheios de bonitas flores. Além da balaustrada, assim rota, projectava-se o azul do firmamento. Nesse azul vigoroso esvoaçavam entre nuvens vários grupos. Começando do Nascente, isto é, do cruzeiro, vê-se a Santa Sé, majestosa figura de mulher coroada da Tiara pontifícia; segura no braço direito um livro, e no esquerdo a Cruz tríplice. A esta figura segue a Fé, mulher com um cálice na mão direita e a Cruz na esquerda. Adiante a Esperança com sua âncora salvadora. Adiante, enfim, última para o lado do Coro, a Caridade amparando no regaço três criancinhas. No céu, aqui e ali, esvoaçavam Anjos (AAVV, 2003); existiam dois coros, um maior e mais alto e outro mais pequeno que comunicava com o primeiro através de degraus onde se encontrava o órgão” 20. Em 7 de Fevereiro de 1932, porém, um forte incêndio, sendo Prior o Padre José Porfírio Boim, despojou o templo de muitas destas maravilhas artísticas, nomeadamente, azulejos 21, quadros, imagens e o guarda-vento. Salvou-se o sacrário, arrancado por um bombeiro, a Sacristia, onde se encontrava a Relíquia de Santa Brígida.
20 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Sipa.aspx?id=5063. Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. 21 Os azulejos do corpo da igreja, setecentistas, que restaram do incêndio foram retirados mais tarde, por volta dos finais dos anos 60. Encontraram guarida em casa de D.ª Maria do Espírito Santo. Segundo informações da Dr.ª Ana Arez, ainda se encontravam no local em Dezembro de 1966, mas em Fevereiro de 1969 já lá se encontravam os actuais. Os azulejos foram mudados no tempo do Prior Padre Mário. 21
No ano imediato, o arquitecto Tertuliano Marques 22 aproveitou tudo o que o fogo havia poupado e começou a recuperação. Para tal, deveu aproveitar elementos não utilizados já em outros templos, como o guarda-vento que veio da Sé de Lisboa; para o restauro dos retábulos de talha dos altares colaterais, a talha do da direita proveio do Convento de Nossa senhora da Estrela, ou Estrelinha, actual Hospital Militar, na Lapa; o retábulo da capela-mor, restaurado por José Maior, veio do antigo Convento do Quelhas. Além disso, Tertuliano Marques encomendou a Conceição Silva os azulejos da Capela de Santa Brígida, com momentos hagiográficos da Santa; a Benvindo Ceia a pintura do tecto da capela-mor. Saliente-se que este pintor, personalidade relevante na pintura portuguesa dos inícios do século XX deixando um traço indelével em vários monumentos 23, figurou a sua filha, D.ª Benvinda Ceia, com três anos de idade, no Anjo que segura a Custódia nesta pintura. A 24 de Dezembro de 1934 a igreja reabriu ao culto, embora só fosse inaugurada solenemente pelo Cardeal-Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, no ano seguinte. Salvou-se, entre outros, o pequeno acervo do Cartório Paroquial, acervo este que propicia investigações sobre a História Eclesiástica da Igreja de São João Baptista. A igreja alargou, posteriormente, as dependências. Assim criou, entre a Capela de Santa Brígida e a Capela Baptistério, no lado Norte, um espaço coberto destinado a Capela Funerária. A igreja havia sido a capela funerária do Cemitério enquanto este foi paroquial. Só em 1887 se verificou a separação, dado que o Cemitério passou a ser camarário. A Capela Funerária fechou a entrada norte da igreja. Esta entrada manuelina, viu-se puxada para entrada da citada capela nova. A entrada sul deixou de existir. Estas entradas laterais situavam-se, no que respeita ao interior do templo, no espaço ocupado pelos confessionários simétricos. Construiu a Capela Baptismal no espaço anteriormente votado a São Valentim. Trata-se, na verdade, de uma capela com interior do templo mostra a vetustez da pedra. Sofrendo várias obras de manutenção, a igreja viu-se abrangida pelo PDM (Plano Director Municipal de Lisboa), em 1995, para reabilitação e arranjos tanto nela como no edifício paroquial. Em 1997, a Câmara Municipal de Lisboa classificou o conjunto do Paço do Lumiar. Em 2001, procedeu-se à conservação e restauro, não só do altar-mor, mas igualmente dos altares laterais. Três anos volvidos restaurou-se os silhares de azulejos setecentistas, recuperou-se estruturalmente o tecto e as paredes da sacristia e do 22 Tertuliano de Lacerda Marques nasceu em Lisboa a 30 de Outubro de 1883 e veio a falecer em 1942. Aquarelista. Miniaturista, arquitecto pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, foi o autor dos edifícios do Banco Nacional Ultramarino, do Chiado Terrasse e do palacete de Alfredo da Silva, em Monte Estoril. Em 1924 constituiu uma equipa com Cristino da Silva e Carlos Ramos para desenvolver obras “nacionais modernizadas”. Em 1934 traçou em co-autoria com Vasco Lacerda Marques, seu filho, o edifício do Rádio Clube Português. 23 Cite-se a título de exemplo a Assembleia Nacional, a Casa do Alentejo, a Igreja da Penha de França, entre outros, Cf. O trabalho “Os 82 Anos do Menino Jesus na Igreja de São João Batista do Lumiar”, de Fernando Andrade Lemos, Rosa Trindade, José António Silva (com colaboração especial de Benvinda da Piedade Simões Ceia Simeão e Francisca Bruschy), in 8.as Jornadas Históricas do Lumiar, pp. 15-27. O título possui uma incorrecção: não se trata do Menino Jesus mas de “O Anjo que Segura a Custódia do Tecto da Capela-Mor da Igreja do Lumiar”. 22
guarda-vento, sob a responsabilidade de Pedro Salvador. Em 2014 verificaram-se mais obras de restauro no exterior, havendo-se descoberto um belo exemplar manuelino de cruz de sagração, na face Norte da capela-mor. Actualmente, e em conclusão deste capítulo, a Igreja de São João Baptista do Lumiar pode ser descrita como se segue: “Igreja muito antiga, ligada à história da zona e à forma como foi sendo absorvida pela cidade de Lisboa, com o edifício adulterado em ocasiões sucessivas, sobretudo no âmbito do terramoto do séc. 18 e de um incêndio, que provocaram o desaparecimento do rico recheio decorativo, mas mantiveram a estrutura maneirista de três naves, bem definida na fachada principal. As fachadas laterais encontram-se marcadas por corpos adossados, constituindo capelas particulares ou devocionais, e as respectivas sacristias e casas de reunião, destacando-se a do lado N., onde aparece um portal manuelino, em arco canopial, assente em colunelo e em base ornada por estrelas, bem como inscrições alusivas às relíquias de Santa Brígida, cuja capela é visível, com remate em frontão triangular, vazado por óculo circular. A torre sineira revela várias épocas de construção, com o registo inferior bastante largo, que se vai adelgaçando até atingir o topo em coruchéu bolboso, de inspiração barroca. No interior, destacam-se as colunas, de inspiração clássica, com bases bastante trabalhadas, o baptistério, com enorme painel de azulejos representando São João a pregar, e a pia baptismal quinhentista, os retábulos colaterais em talha dourada, onde se destacam vários embutidos de calcário e o retábulo-mor, de clara inspiração jesuítica, quer pela estrutura, quer pelos santos que encerra, revelando a transição de um outro imóvel. Este apresenta estrutura maneirista por andares, alterado na zona central no período joanino, com o aparecimento de trono expositivo, rodeado por anjos de vulto, e o remate, mais recente, apresentando falso tímpano que se adapta à cobertura, formado por apainelados, de influência da talha barroca nacional, mostrando que quem executou o remate não entendeu a filosofia da estrutura e o estilo do imóvel.” 24.
24 Internet, ut supra. 23
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Altura: 53cm Perímetro: 43cm
Imagem de madeira policromada
Século XVII
Século XVIII
Século XVII
Século XVII
Imagem de São José
Imagem de Santa Rita de Cássia
Imagem de Santa Catarina de Alexandria
Cristo Triunfante Salvador do Mundo Imagem de madeira policromada
Imagem de madeira policromada
Altura: 85cm Perímetro: 105cm Base: 30cm
Altura c/peanha: 142cm Perímetro: 162cm
Altura: s/ resplendor 64cm Perímetro: 77cm
Imagem de madeira estofada e policromada; Resplendor figurado, em relevo; Resplendor estandarte em prata.
Século XVIII
São João Baptista
Imagem de madeira policromada
DIMENSÕES
DESCRIÇÃO
DESIGNAÇÃO ÉPOCA
Livro na mão e cabeça cortada aos pés
Cruz de Cristo; Disciplina; Estigma na testa.
Menino nos braços.
Manto sobre veste de lã; Cruz c/estandarte (com cruz de Malta).
ATRIBUTOS
Arrecadação do trono Sacristia
Arrecadação do trono Sacristia
Em altar próprio Lado da epístola
Gabinete do Prior
Gabinete do Prior
Repintado Mau estado de conservação A necessitar restauro urgente
Mau estado de conservação A necessitar restauro urgente
Bom estado de conservação
Mau estado de conservação
Repintado nos anos 60-70 do século XX A precisar de restauro
LOCALIZAÇÃO NO ESTADO DE ESPAÇO RELIGIOSO CONSERVAÇÃO
Anรกlise iconogrรกfica
169
Imagem de São João Baptista Na Igreja Católica, São João Baptista tem a particularidade de ser a única identidade religiosa, para além de Jesus Cristo, a ver celebrada a data do seu nascimento. Como criança, é vulgarmente representado como um menino rosado de puro semblante, sustentando um estandarte onde se lê: “Ecce Agnus Dei”. Aos pés, ou segurando nos braços, representa-se o cordeiro, símbolo da sua devoção a Cristo. A representação iconográfica de São João Baptista adulto recorre aos mesmos atributos caracterizados na sua infância, acrescentando a túnica roxa, símbolo da austeridade e jejum, bem como o manto vermelho do martírio. Numa das mãos segura a concha do baptismo. Resumidamente, o culto a São João Baptista, antecede o século XIV e repercute-se no tempo até à actualidade. Era filho de Isabel, prima da Virgem Maria, e Zacarias, sacerdote de Jerusalém, do templo de Herodes. Quando ambos se encontravam numa idade avançada para procriar, principalmente Isabel, que além disso era estéril, Isabel concebe. Na Bíblia, tal fenómeno é descrito como ficando dever-se à aparição de um anjo, que anuncia a concepção e nascimento do São João. São João Baptista é conhecido pelos seus sermões, por profetizar a vinda do Messias há muito esperado pelos judeus, razão pela qual é quase sempre representado na arte (azulejaria, pintura e escultura), baptizando os neófitos do Cristianismo, assim como o próprio Jesus Cristo, nas margens do Rio Jordão. Igualmente se representa na qualidade de pregador, arrastando crentes e seguidores. Esta imagem recorrente pode ser vista no painel de azulejos, que reveste o baptistério da Igreja Paroquial de São Baptista do Lumiar, trabalho executado pelo conceituado artista azulejador, Oliveira Bernardes. A mesma igreja integra no seu espólio imaginário três representações do santo, das quais se desconhece a proveniência. Nenhuma delas representa São João Baptista Menino, imagem devotada em muitas igrejas do país, semelhante à figuração dos putti dos retábulos de altar. Para além deste atributo, empunha uma cruz processional anunciando simbolicamente a ressurreição de Cristo. Este atributo, conjuntamente com uma imagem de cordeiro, simboliza o martírio a que foi sujeito este santo às mãos de Herodes. O movimento produzido pela cabeça e pelo corpo para o lado esquerdo exprime uma solução estética e simbólica presente em quase todas as suas representações iconográficas. Cite-se, como exemplo, a imagem de São João Baptista da capela maneirista de São Lourenço de Salzedo, na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com a mesma orientação do rosto e do corpo.
170
Século XVIII Imagem de madeira estofada e policromada Altura: 140cm Perímetro: 160cm Igreja Paroquial de São João Baptista do Lumiar inv. 2016