Almanaque do
DOURADO
A trajetória do Programa Permanente de Educação Ambiental da Bacia do Rio dos Sinos
o Comitesinos, a “ Para Educação Ambiental é
válida quando deixa de ser apenas teoria e passa a ter um resultado efetivo.
”
Viviane Nabinger- coordenadora do PPEA
Almanaque do
DOURADO
A trajetória do Programa Permanente de Educação Ambiental da Bacia do Rio dos Sinos São Leopoldo
C5 News-Press 2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Becker Júnior, Castor Almanaque do Dourado: a trajetória do Programa Permanente de Educação Ambiental da Bacia do Rio dos Sinos [textos] Castor Becker Júnior, Jane Catarina de Oliveira. -- São Leopoldo, RS : C5 News-Press, 2015. Vários colaboradores.
ISBN: 978-85-66589-02-3
1. Bacia do Rio dos Sinos (Rio Grande do Sul) 2. Educação ambiental - Sinos, Rio dos, Bacia do (RS) 3. Política ambiental 4. Recursos hídricos - Desenvolvimento - Sinos, Rio dos, Bacia do (RS) 5. Sustentabilidade I. Oliveira, Jane Catarina de. II. Título. 15-03243
CDD-304.2098165
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Bacia do Rio dos Sinos : Rio Grande do Sul : Educação ambiental 304.2098165 Coordenação:
Viviane Nabinger Débora Cristina da Silva Equipe técnica:
Paulo Fernando de Almeida Saul (in memoriam) Ana Cristina da Silva Carla Anelize Pilger Cátia Beatriz Appolo Eliane Aparecida Martins dos Santos Eunice dos Santos Fernando Soares Iara Maria Costa Pacheco Juarez dos Santos Loreni Aparecida dos Santos Márcia Maria Oliveira dos Santos Márcia Rocha Souza Márcia Silvana Zimmer Scherer Margarida Telles da Cruz Marisa Braga Monica da Silva Gallon Sabrina Dinorá Santos do Amaral Textos
Castor Becker Júnior Jane Catarina de Oliveira Projeto gráfico, fotos, edição e diagramação:
C5 NEWS-PRESS LTDA-ME Castor Becker Júnior jornalista Reg Prof. 8862 - DRT/RS Tiragem - 1.000 exemplares
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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A Geração Peixe Linha do tempo Por que Dourado? Cresceram e agora ensinam Os Encontros Infantojuvenis A Celebração das Águas Projeto Monalisa Projeto VerdeSinos O Plano de Bacia Os Mapas do Conhecendo e Divulgando Aprendendo a fazer e executar projetos
Capa: Professora e aluno do Projeto Dourado em uma pinguela sobre o Rio dos Sinos, na localidade de Fraga, interior de Caraá Contracapa: Rio dos Sinos em Caraá Fotos: Castor Becker Júnior/C5 News-Press
As ações nos municípios
A trajetória do Dourado
Índice
42 46 50 54 58 62 66 70 74 78 82 86 90 94 98
Caraá Santo Antônio da Patrulha Taquara Três Coroas Igrejinha Parobé Sapiranga Campo Bom Novo Hamburgo Estância Velha Portão São Leopoldo Sapucaia do Sul Esteio Canoas
Conhecimento sob o signo do
DOURADO S
e a alta capacidade de mobilização tem sido historicamente um dos grandes diferenciais do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), muito disso hoje se deve ao trabalho de base de seu Programa Permanente de Educação Ambiental (PPEA). Criado em 1988, o Comitesinos foi o primeiro comitê de bacia do Brasil em rios de domínio estadual. A entidade é filha de uma ação de toda a sociedade, que se mobilizou em torno de debates e propostas para garantir o desenvolvimento sustentável da região. Já em 1989, representantes da região participaram do Seminário Sinos/ Gravataí de Educação Ambiental, que ocorreu no Centro Universitário La Salle, em Canoas. O evento foi promovido pela Metroplan, com a intenção de discutir uma maneira de incluir a Educação Ambiental na pauta dos, até então, dois únicos comitês de bacia do Estado (o do Rio Gravataí foi criado logo depois do Comitesinos). Isso porque o meio ambiente ainda não era contemplado na educação formal. A partir daí, o Comitesinos começou a preparar a estratégia de um trabalho sustentável, mobilizador e de qualificação constante, que resultou em um curso de capacitação em Educação Ambiental, no mesmo ano e patrocinado pelo Ministério da Educação. O nascimento do PPEA como um movimento amplo e duradouro veio em 1996, com o 1º Seminário Regional de Educação Ambiental da Bacia do Sinos, realizado em Campo Bom. Autoridades, pesquisadores e professores de diversos municípios participaram de oficinas e discussões que deram as linhas gerais para um trabalho sustentável para mobilizar as comunidades a partir das salas de aula. Foi ali se iniciou uma agenda de encontros periódicos, com apoio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com cursos e oficinas para professores e agentes multiplicadores.
O ciclo evolutivo
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Em quase duas décadas de PPEA, centenas de professores foram preparados para uma Educação Ambiental que ultrapassasse os muros da escola. Assim, a sociedade foi conhecendo de perto seus rios e arroios e aprendeu que o problema muitas vezes começa bem longe da calha de seu principal rio. Tudo à medida que os debates do Comitesinos foram abrangendo também estiagens, cheias, poluição por esgoto doméstico, perda da mata ciliar, aterramento de banhados e outros fatores. O ciclo evolutivo do PPEA deu um salto em 2001, com o início do Projeto Peixe Dourado – nome simplificado para Projeto Dourado em 2002, em sua nova versão. Foi essa iniciativa que inaugurou o conceito de aliar pesquisa científica ao esforço de campo dos
professores das escolas polo espalhadas pela região. E, de quebra, deu um aproveitamento mais efetivo às próprias pesquisas, já que o conhecimento construído pelos cientistas passou a ser imediatamente repassado aos professores do Ensino Fundamental e às próprias comunidades. Resumindo, os moradores chegaram mais perto de suas águas, os cientistas se aproximaram das comunidades e as discussões ganharam consistência, dando respaldo aos debates dentro do próprio Comitesinos. E o Dourado colocou sob o mesmo signo o trabalho de formiguinha de toda uma geração. A associação deu tão certo que, na Bacia do Sinos, o nome do peixe se tornou sinônimo de seu programa de Educação Ambiental.
Arquivo Comitesinos
A força motriz para outros projetos Em 19 anos de PPEA e 14 de Projeto Dourado, a Educação Ambiental promovida pelo Comitesinos sedimentou apoio de prefeituras e ganhou novos parceiros entre órgãos governamentais, organizações não governamentais ONGs e entidades da iniciativa privada. Isso potencializou diversos outros projetos colocados em prática pelo Comitê de Bacia. Em outras palavras, o Dourado se tornou a grande força motriz da sociedade em ações de monitoramento e recuperação de ambientes naturais. Caso do Projeto Monalisa, que entre 2004 e 2006 mobilizou voluntários no mapeamento de mais de 8 mil impactos ambientais em quase 3 mil quilômetros de córregos, arroios e rios, qualificando e equipando os recursos humanos locais. Outro exemplo foi a construção de parcerias que gerou o Projeto Piloto de Recuperação da Mata Ciliar na Bacia
À esquerda, um guerreiro de restos de plástico recepcionava os participantes de um dos seminários de Educação Ambiental, ocorrido na antiga sede da Unisinos, em São Leopoldo
do Sinos, mais tarde Projeto VerdeSinos, com suas mais de 6 mil pessoas envolvidas e que agora entra em uma nova (e mais abrangente) fase. Ações que serão apresentadas nas próximas páginas e que deram base e inspiração para proliferar iniciativas menores nos próprios municípios.
PARCERIA PETROBRAS Nesse cenário, a Petrobras, por meio da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), tem sido uma aliada essencial nas ações do PPEA. Começou com o Projeto Mutirão do Rio dos Sinos, em 2002. Mas foi em 2005 que o trabalho em conjunto do Comitesinos e Unisinos com a estatal se tornou uma constante, a partir do Projeto
de Fortalecimento da Educação Ambiental na Bacia do Sinos, que foi até 2010. A partir de 2009 a Refap patrocinou o Conhecendo e Divulgando as Águas e Banhados do Meu Município, que consistiu na elaboração de mapas com concepção artística dos recursos hídricos de cada município. Ação que agora tem os estudantes indo a campo para atualizar periodicamente as informações dos mapas. E, em dezembro de 2012, a parceria foi outra vez renovada, para uma oficina de elaboração, execução e gerenciamento de projetos para os professores do Dourado. E para a elaboração deste Almanaque, resgatando toda esta trajetória. Arquivo Comitesinos
Imagem do seminário que marcou o nascimento do PPEA, em 1996
C5News-Press
Fotos: Castor Becker Júnior/
s do Projeto Dourado
Atual time de professora
em mais inos e Unisinos es it m o C , A S/ p 002 a ue vem desde 2 Direção da Ref q ia er rc a p a d o uma renovaçã
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medida que este Almanaque oferece uma visão de parte do que foi feito pelo Comitesinos, ao longo de 26 anos, para uma Educação Ambiental consistente, mobilizadora e voltada para ações práticas na Bacia do Rio dos Sinos, também descortina os próximos estágios desse trabalho: criar mecanismos para medir a efetividade ou não das condições de nossas águas, e fazer com que a Educação Ambiental se torne uma ação de Estado (no sentido de estadismo, valendo principalmente para as prefeituras). De uma maneira geral, isso quer dizer não mais depender, quase que exclusivamente, da abnegação de professores, de um relativo empirismo pessoal e do caráter voluntário frequentemente identificado nas ações de Educação Ambiental. A história da Bacia do Rio dos Sinos é marcada pelo protagonismo de sua população, resultando na criação do Comitesinos antes mesmo do Estado e da União traçarem suas políticas de recursos hídricos. Mas, como se viu na própria gestão das águas, as ações das comunidades - por mais alcance e mobilização que tenham - necessitam do respaldo de uma política governamental. Foi assim com os acordos entre produtores rurais e abastecedoras públicas para contornar as situações de estiagens na região. E está sendo assim com a efetivação do Plano de Bacia do Rio dos Sinos. No caso da Educação Ambiental, houve um esforço gigantesco de muitas pessoas para inseri-la nas escolas da região. E aí é importante também ressaltar o apoio técnico, administrativo e institucional oferecido pela Unisinos, também engajada na atuação do Comitesinos na promoção da Educação Ambiental desde a sua origem. Mesmo assim, ainda falta a certeza de continuidade: via de regra, não há horas na estrutura da Educação, reservadas para a promoção da EA. Nas mudanças políticas, nunca se sabe se os processos terão ou não continuidade. Não há, com raras e valiosas exceções, um programa de qualificação continuada (cursos, experimentos, outros) dos professores no cronograma de ações das prefeituras. Tudo segue de acordo com a vontade ou ao acaso das circunstâncias na expectativa ou esperança de que uma instituição - como o Comitesinos faça um curso, uma palestra, se, se e se... Nesse cenário, alguns professores ainda buscam uma qualificação fora da Bacia do Sinos, trabalhando realidades externas, enquanto as ferramentas e oportunidades disponíveis aqui (Plano de Bacia, Plano de Saneamento, Planos Diretores Municipais entre outros) sequer são conhecidas e reconhecidas como deveriam. Vale lembrar que, dos 32 municípios da Bacia do Rio dos Sinos, apenas 15 integram o Programa Permanente de Educação Ambiental (PPEA) do Comitesinos. A adesão ao PPEA é voluntária, mas a grande ausência de municípios fragiliza uma ação coletiva e articulada, sob forma de rede, na dimensão da bacia. Esse conjunto de fragilidades, apontado e fundamentado nos encontros de agentes de Educação Ambiental, foi decisivo para identificar a pauta do IX Seminário Regional de Educação Ambiental. Objetivamente: fazer constar no orçamento municipal tudo aquilo que é necessário para a promoção da EA, desde horas de professores, meios, equipamentos, espaços físicos, logística, entre outros. O Seminário tem o objetivo de construir a Carta das Águas para a Educação Ambiental, para ser incorporada nos Planos Municipais de Educação, de modo a criar as condições de continuidade do PPEA e do Projeto Dourado, que seguirão fazendo história. 8
1988
Linha do tempo das principais ações do Comitesinos para Educação Ambiental
Hora de dar o próximo passo À
1989 1991
1994
Curso de Capacitação em Educação Ambiental em Nova Santa Rita.
1995
I Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
1996 1997 1998 1999
2000
5º Seminário Regional de Educação Ambiental - Relendo o ambiente através das culturas, em São Leopoldo. VII Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
2001 2002 2003 2004 2007 2009 2013 2014 2015
VIII Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos). IX Mutirão do Rio dos Sinos(Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos). X Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
Seminário de Educação Ambiental dos Comitês de Bacias Hidrográficas dos Rios Gravataí e Sinos, apoiado pela Metroplan.
Em 17 de março é fundado o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos). Primeiro comitê de bacia do Brasil em rios de domínio estadual. Em 2004, a Lei Estadual nº 12.171 torna a data o Dia Estadual de Preservação e Conscientização da Importância da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e torna ainda o peixe dourado como símbolo da Bacia.
Encontro Regional de Professores das Redes Municipais de Ensino da Bacia do Sinos.
Curso Piloto de Capacitação em Educação Ambiental abrangendo os municípios de Canela, Gramado, Três Coroas, Igrejinha, São Francisco de Paula, Riozinho, Rolante, Taquara, Parobé, Sapiranga, Campo Bom, Dois Irmãos, Ivoti, Estância Velha, Portão, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas (patrocinado pelo MEC, via PADCT). Ocorre o I Mutirão do Rio dos Sinos, com patrocínio da Refap S/A e apoio da Unisinos.
Programa de Rede: Capacitação em Educação Ambiental, abrangendo diversos municípios da Bacia do Sinos. 1º Seminário Regional de Educação Ambiental, abrangendo 13 municípios da região e firmando o Programa Permanente de Educação Ambiental (PPEA) do Comitesinos como movimento amplo e duradouro.
Curso de Capacitação em Educação Ambiental em Santo Antônio da Patrulha.
III Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos). 2º Seminário Regional de Educação Ambiental, em São Leopoldo, abrangendo os municípios da Bacia do Sinos. V Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
IV Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
4º Seminário Regional de Educação Ambiental em São Leopoldo.
3º Seminário Regional de Educação Ambiental, em São Leopoldo, abrangendo os municípios da Bacia do Sinos.
VI Mutirão do Rio dos Sinos (Patrocínio Refap S/A e apoio da Unisinos).
Curso Temático: Reconhecimento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e Microbacias em São Leopoldo (1ª, 2ª e 3ª edições). Curso Temático II: Microbacias Reconhecimento e Conservação, abrangendo Sapiranga, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Esteio. 6º Seminário Regional de Educação Ambiental Interação Ambiente e Comunidade, Um Desafio Permanente para o Educador, em São Leopoldo. II Encontro Infantojuvenil de Educação Ambiental da Bacia do Sinos, em Igrejinha (Patrocínio Refap S/A). Começa o Mutirão da Responsabilidade no Rio dos Sinos, que vai até 2005, abrangendo diversos municípios. Nasce o Projeto Piloto de Recomposição da Mata Ciliar da Bacia do Rio dos Sinos, que dá origem ao Projeto VerdeSinos, que continua até hoje. Oficina de Elaboração e Execução de Projetos do PPEA, concluída em 2015 (Patrocínio Petrobras/Refap S/A). Mobilização social pelo Enquadramento das Águas e Plano de Bacia.
Início do processo de Enquadramento das Águas dos principais cursos d’água da Bacia do Sinos, que vai até 2002.
1º Encontro de Educação Ambiental do Fórum Gaúcho de Comitês de Bacia. I Encontro Infantojuvenil de Educação Ambiental da Bacia do Sinos, em Esteio.
Começa o Projeto Dourado (inicialmente chamado de Projeto Peixe Dourado e, em seguida, Dourado Multiplicadores) de Educação Ambiental, que prossegue até hoje.
Região entra no circuito da Romaria das Águas, com a Celebração das Águas.
Começa o Projeto Monalisa, que vai até 2006, mapeando mais de 2,7 mil quilômetros de cursos d´água.
III Encontro Infantojuvenil de Educação Ambiental da Bacia Sinos, em Igrejinha (Patrocínio Refap S/A).
IX Seminário Regional de Educação da Bacia Sinos - Construindo a carta das águas para a educação ambiental.
Começa o projeto Conhecendo e Divulgando as Águas e Banhados do Meu Município (Patrocínio Petrobras/Refap S/A.
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Por que DOURADO?
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Fotos: Castor Be ck
dourado (Salminus brasiliensis) foi o peixe que colocou pesquisadores da Unisinos e professores de escolas da região juntos, literalmente, dentro da água para aprender sobre as condições de vida do Rio dos Sinos. Tudo começou em 2001, com uma parceria entre o Comitesinos, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). O dourado foi escolhido como espécie bandeira por ser topo de cadeia alimentar. Ou seja, sua presença em um corpo hídrico indica que ali também habitam todas as espécies que formam essa cadeia, de peixes a moluscos e plâncton. O que, consequentemente, dá uma ideia das condições ambientais do local. Na primeira etapa, a iniciativa se chamava Projeto Peixe Dourado. E consistia de uma pesquisa científica que ocorreu em três fases – ecologia do peixe, reprodução do animal em cativeiro e a possibilidade de reintrodução no habitat natural da espécie criada no cativeiro. Paralelamente, iniciou-se a mobilização de professores e alunos a partir de 12 escolas polo espalhadas pela Bacia do Sinos (hoje, são 13). Os professores acompanharam de perto o trabalho dos pesquisadores e começaram uma troca de informações que passou a abranger também os próprios alunos, que intensificaram suas saídas a campo. Isso gerou um entusiasmo que deu sobrevida à iniciativa.
Com habitat nas águas da Bacia do Sinos, o dourado (foto maior na página ao lado) se tornou símbolo de várias ações do PPEA, desde as primeira mobilizações de estudantes em sala de aula até a capacitação de professores para ensinarem sus comunidades a monitor as águas pela coleta de insetos e crustáceos (abaixo)
Arquivo Comitesinos
Arquivo Comitesinos
omitesinos
Arquivo C
Mesmo depois de oficialmente terminada a pesquisa, em 2003, as escolas polo continuaram funcionando e o Comitesinos prosseguiu com os encontros mensais para troca de experiências entre o grupo. Até que veio uma nova etapa de pesquisa, de 2007 a 2009, desta vez com o nome simplificado: Projeto Dourado. Novamente a pesquisa envolveu o peixe símbolo da região (veja na próxima página). Simultaneamente, em 2008, veio ainda o projeto Dourado Multiplicadores, que treinou cerca de 900 pessoas na região a como avaliar as condições da água em rios e arroios monitorando a quantidade de macroinvertebrados na água. Os professores aprenderam (e passaram a ensinar) a coletar insetos aquáticos e pequenos crustáceos e, a partir da contagem de cada espécie, estimar como estão as condições da água naquele ponto e naquele momento. De maneira rápida e barata. Terminado mais esse capítulo, a mobilização de professores prosseguiu, coordenada pelo Comitesinos e com apoio das prefeituras que abraçaram a ideia. O movimento se consolidou como a nova cara do PPEA, assumindo o nome do peixe que se tornou também símbolo da Bacia do Sinos.
Arquivo Comitesinos
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Literalmente, as pesquisas sobre o peixe dourado na Bacia do Sinos ocorreram por água, terra e ar. Tanto no projeto Peixe Dourado quanto no Dourado, o primeiro passo para os pesquisadores da Unisinos foi capturar exemplares da espécie bandeira do estudo. Na primeira etapa dos estudos, entre 2001 e 2003, alguns exemplares foram direcionados para a tentativa de reproduzir a espécie do Rio dos Sinos em cativeiro. Outra parte, 29 peixes, para ser mais exato, receberam transmissores implantados em seus corpos e foram devolvidos ao rio. A partir daí, seus comportamentos foram acompanhados por um aparelho receptor, carregado em saídas a campo em vários pontos da Bacia do Sinos. Outras vezes, levado em um avião, com a antena fixa à asa e ganhando capacidade para rastrear trechos extensos do rio em pouco tempo. Já quanto aos peixes em cativeiro, os primeiros alevinos produzidos a partir deles foram soltos no rio em 2005, no município de Caraá. E seu desenvolvimento foi acompanhado na etapa seguinte. No Projeto Dourado, novamente foram implantados transmissores em peixes soltos no Rio dos Sinos. Dessa vez, para acompanhar a migração e identificar as áreas de reprodução dos peixes, assinalando locais importantes para a preservação do ecossistema aquático da Bacia do Sinos. 12
Fotos: Castor Becker Júnior/C5News-Press
Rastreados por água, terra e ar
Peixes tiveram transmissores implantados (esq.), para que os pesquisadores pudessem acompanhar sua migração pelo Rio dos Sinos, seus afluentes e banhados da região, inclusive com uso de avião (observe a antena fixa à asa, na foto maior)
O enquadr
amento
As águas qu e temos e as que querem que dela de os, prevend sejamos – co o os usos m base na R Conselho Na e solução 357 cional do M /05 do eio Ambien os trechos d te (Conama), os corpos híd q ue define ri cos de Class de 1 a 4, part e Especial e indo da mais Cla preservada colocado em à mais poluíd sses um mapa pa a. Tudo ra o qual os várias frente relatórios té s foram alin cnicos de hados ao co ção da comu nhecimento nidade sobre e à percepse u s ri o s e arroios. Assim foi a e laboração d o Enquadram uma rodada ento das Ág de encontro uas, com s comunitári Reuniões em os em março que a prese de 2014. n ça do Projeto não só no co Dourado foi mparecimen sentida to de alunos escolas polo ep da região, m as pela consc rofessores das sentantes d ientização d os governos e repremunicipais, da indústria da produção , saneamento a g rícola, e abastecim tais, Ministé ento, ONGs rio Público E a mbienstad todos os mu nicípios junto ual e moradores em ge ral (de a cada curso nos encontr d´água) estiv os. eram As reuniões ocorreram e m Rolante, C Velha e Nov araá, Canoa o Hamburgo s, Estância e serviram p dramento, re ara definir o spectivame Enquan te Caraá, Sapu caia, Estância , do Rio da Areia e dos a rroios Velha/Portã Rau. Paralela o e Peri, Pam mente, foram pa e Luís atualizados dos rios dos os enquadra Sinos, Paran mentos hana, da Ilh 2000 e 2002 a e Rolante, . feitos entre O mapa do Enquadram ento é parte de Bacia do fundamenta Rio dos Sino l do Plano s e serve pa água na reg ra regrar os uso ião (incluind s da o o vidades eco licenciamen nômicas e e to ambienta m l de atipreendimen as ações de tos), além d conservação e orientar e recuperaç próximas dé ão ambienta cadas. A ela l para as boração tan to quanto d to do Enquadra o Plano de B mena cia foi um ex a consistênc ercício e tan ia do conhe to cimento div para comunidade idido até aq , pelo esforç ui com a o dos multip Por outro la licadores do do, e Dourado. compromisso sse planejamento defin iu um horizo s, que vão e nte de xigir uma pe apurada da rcepção ain realidade da da mais s águas e da sociedade d a bacia.
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Invas達o de estudantes em ESTEIO E IGREJINHA
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Arquivo Comitesinos
ntes estuda , s o n a Há 15 a região a de tod ntaram o e l , em movim Assis Brasi de s e Parqu m dois dia ação, e r , g o e Estei de int exões s e d a ativid eiras e refl ião eg ad s da r brinc a u g á as sobre . ) (foto tro Encon o i l a a Nasci uvenil de ue oj tal , q n Infa t ão Ambien ç ções, Educa is duas edi a de a rm teve mma nova fo dizado com u iar o apren inos. c S viven Bacia do a sobre 15
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Fotos: Arquivo Comitesino
magine um grande acampamento onde centenas de alunos do Ensino Fundamental de escolas de cidades de toda a região se reúnem e passam dois ou três dias em oficinas, jogos e diversas atividades com temática ambiental. Todos divididos em equipes formadas por estudantes propositadamente misturados de cada escola ou cidade, dormindo em alojamentos e dividindo as filas dos banheiros e do lanche, cronometrando as apresentações da gincana, indo a campo plantar mudas à beira do rio e assim por diante. Pois esse foi o clima do Encontro Infantojuvenil de Educação Ambiental, que teve três edições: 2000 e 2003 em Esteio, no Parque Assis Brasil, e 2007 em Igrejinha, no Parque da Oktoberfest. Os encontros foram promovidos pelo Comitesinos e Unisinos, com patrocínio da Refap S/A e apoio de prefeituras, entidades públicas e empresas. Para os estudantes, hoje adultos ou recém-saídos da adolescência, foi uma maneira de ver o aprendizado em sala de aula compartilhado com estudantes de toda a região, para fazer a diferença em toda a Bacia do Sinos. Para os professores, cada edição representou uma confraternização, onde também ensinaram e aprenderam dicas e truques sobre formas diferentes de fazer acontecer a Educação Ambiental.
A primeira edição do Infantojuvenil de Educação Ambiental em Esteio movimentou centenas de crianças e adolescentes. Há 15 anos, esse exercício de reunir tantas escolas em atividades com pernoite era uma novidade na região. Mas quando se dizia que em Educação Ambiental era preciso que os alunos e professores tivessem uma visão macro do ecossistema de uma bacia hidrográfica, ainda faltava algo que lhes fizesse enxergar a dimensão do que isso representava. Daí a ideia de reunir tantos quanto possível em um único lugar e misturar as turmas para que todos conversassem com todos. Três anos depois, o evento repetiu a dose na mesma cidade e, em 2007, foi levado para Igrejinha, aumentando em mais um dia a programação, com 500 estudantes participando das atividades. 16
Castor Becker Júnior/C5News-Press
Em resumo: para todos, um encontro para partilhar e ampliar horizontes.
Castor Becker Júnior/C5News-Press
Tendo a sustentabilidade como tema, o Infantojuvenil teve suas outras duas edições em Igrejinha, em 2003 (esquerda) e 2007. Todas com programações envolventes, com gincana (direita), mostras, atividades de monitoramento (abaixo) e reflorestamento de mata ciliar (abaixo, à direita)
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Ex-monitoras e ainda
MULTIPLICADORAS Q
Suélen Gabriela Fonseca Corrêa
uatro vidas com o DNA da Educação Ambiental, ex-participantes do Projeto Dourado fazem a diferença no dia a dia, quer nas salas de aula, quer nas empresas, entre os amigos ou familiares. Participantes do Projeto
Dourado, Natália , Adriele, Suélen e Juliana Kanitz dos Santos seguem multiplicando os conhecimentos para garantir a preservação da biota da Bacia do Rio dos Sinos, como tantos outros colegas da época da escola.
“Enchia meu coração de esperança acreditar que era possível o nosso querido ambiente limpo e harmonioso.” A frase é de Suélen Gabriela Fonseca Corrêa, que aos 10 anos se tornou monitora ecológica do Projeto Dourado e hoje, aos 21 anos, atua como técnica em Segurança do Trabalho. E agora pretende ingressar na faculdade de Engenharia Ambiental. Embora, sua atividade seja longe da sala de aula, Gabriela diz que mantém o compromisso feito quando estudava na EMEF Alberto Pasqualini, em Esteio, época que compartilhava o tempo vago com o Movimento Escoteiro. Como técni-
ca em segurança, entende que não pode negligenciar as responsabilidades quanto à saúde do meio ambiente. Procura, constantemente, conhecimentos referentes a ecoeficiência, trazendo para o dia a dia na empresa o conceito de produção mais limpa. “Educação ambiental e Segurança do Trabalho têm uma relação estreita”, observa. Gabriela conta que os ensinamentos adquiridos no Dourado foram muito importantes para a sua vida. “Me ensinou que é possível acreditar em um futuro melhor, me ensinou a ter persistência por mais difícil que uma situação pareça.”
Fotos: Arquivos pessoais
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Natália Mariela da Silva Kovalski
Juliana Kanitz dos Santos
“Assim como o Dourado me motivou, quero motivar meus alunos a se sensibilizarem para as questões envolvendo o meio ambiente.” A frase é de Juliana Kanitz dos Santos, 20 anos, que leciona em uma escola de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Estância Velha, que atende crianças de 1 a 5 anos de idade. A trajetória de multiplicadora começou ainda na 2.ª série do Ensi-
no Fundamental, quando teve contato com o Projeto Dourado. Uma nova experiência com um projeto ambiental aconteceria na 7.ª série, quando foi líder de classe. Na ocasião, a turma adotou um arroio próximo à EMEF Selvino Ritter, onde estudava. Juliana conta que os assuntos voltados às questões ambientais sempre lhe despertaram interesse. Estudante de Artes Visuais na Feevale, agrega o aprendizado adquirido durante o Dourado ao seu trabalho no dia a dia da escola, que tem uma proposta voltada ao meio ambiente. As crianças plantam na horta, colhem a salada para o almoço e chás para o lanche da tarde. Há espaço para flores e árvores frutíferas. Inclusive montaram uma composteira para depositarem as casas das frutas.
A pedagoga Natália Mariela da Silva Kovalski guarda boas recordações da época que era Monitora Ecológica do Projeto Peixe Dourado, quando frequentava a EMEF 25 de Julho, em Campo Bom. Hoje, aos 26 anos, leva suas turmas para visitar o projeto. “Eles saem maravilhados. Acredito que também planto
uma pequena sementinha no coração de meus alunos”, conta, lembrando que o conhecimento adquirido com o projeto ajuda muito em sua vivência em sala de aula. Natália participou do Dourado aos 14 anos e hoje trabalha com crianças do 2º ano (7 e 8 anos) e 4º ano (9 e 10 anos) questões que envolvem o desperdício de água, descarte de lixo, plantio de árvores, horta, reaproveitamento de garrafas pet e outros conteúdos pertinentes a cada série. A ideia é ensinar aos estudantes a importância das ações do dia a dia para a preservação do meio ambiente e dos recursos fornecidos pela natureza. Um assunto que gosta de trabalhar. Quanto ao Dourado, nota que o projeto cresceu, está melhor equipado. “Me sinto orgulhosa em poder mostrar às crianças fotos expostas na parede, onde me encontro em algumas delas.”
Adriele Feix Rodrigues Ensinar os pequenos a colher frutas e folhas para chá, além de embelezar o jardim, faz parte do dia a dia de Adriele Feix Rodrigues, 25 anos. Pedagoga, cursando especialização em Docência na Educação Infantil, ela foi monitora do Projeto Dourado quando estava na 6ª série na EMEF Selvino Ritter, em Estância Velha. Hoje, leva o aprendizado para seus alunos, com idades entre zero e 1 ano de idade. “Eles aprendem a caminhar em meio ao jardim aromático da escola e querem comer a fruta direto do pé”, conta. A trajetória de Adriele na Educação Ambiental teve início antes do Dourado chegar à sua escola. Egressa do projeto Ecologista Mirim, ela e mais dois colegas foram chamados para fazer o curso de multiplicadores junto com os
professores. Foi nesse período, com saídas a campo, que ganhou esse olhar sobre o meio ambiente que tenta passar para os pequenos na sua tarefa diária de educar para a vida. “A gente precisa ter consciência que o meio ambiente é um bem que precisa ser cuidado, preservado, pois acaba se esgotando.” A vivência do Dourado unida a seu trabalho com Educação Infantil levou Adriele a participar da equipe da Estação Ecologia, de Estância Velha, até 2012. Em Novo Hamburgo, onde mora, manteve sua disposição em repassar a importância de pequenos gestos de preservação da natureza. Preocupação que leva para o seu dia a dia em família e com os amigos, apostando em hábitos que garantam uma biota da Bacia do Sinos saudável. 19
Celebração das Águas
Reflexões sobre o SAGRADO
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Castor Becker Júnior/C5News-Press
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rovocar uma reflexão sobre o sentido sagrado da água como fonte de vida e, a partir daí, estimular e aprofundar a percepção da importância das ações de cada um para o equilíbrio da natureza. Esse é o objetivo da Celebração das Águas, que ocorre há mais de 10 anos na Bacia do Rio dos Sinos. O evento na região é coordenado pelo Comitesinos, em parceria com as 14 escolas polo do Projeto Dourado (leia-se PPEA) e apoio de prefeituras e outras entidades locais, além do patrocínio da Refap S/A. Para isso, todos os anos os professores do Projeto Dourado movimentam suas comunidades, levando estudantes e outros convidados para atividades de coletas de água em cada município. Essas amostras são trabalhadas em sala de aula ou em atividades com a comunidade. A ideia é que o maior número de pessoas veja como está a qualidade dos recursos hídricos e reflita sobre o que pode ser feito para melhorar a situação. O fechamento da programação regional é com uma solenidade macroecumênica, quando as delegações de todos os municípios levam suas águas para serem misturadas e abençoadas. Líderes espirituais de diversas religiões falam sobre como esse elemento natural aparece em seus ritos e textos sagrados. Depois, fazem uma bênção em conjunto. Assim como os rios unem as comunidades, a celebração da vida une os credos. Por fim, as águas misturadas e abençoadas têm uma parte devolvida ao Rio dos Sinos, simbolizando o compromisso de todos com a preservação da bacia hidrográfica. 21
Romaria das Águas
A Romaria das Águas A Celebração das Águas é a versão local (e parte integrante) da Romaria das Águas, que ocorre nas nove bacias que integram a Região Hidrográfica do Guaíba (dos rios dos Sinos, Caí, Gravataí, Taquari-Antas, Pardo, Alto Jacuí, Vacacaí-Vacacaí Mirim, Baixo Jacuí e Lago Guaíba). O movimento nasceu por iniciativa do irmão marista Antônio Cechin, que trabalhava junto às comunidades da Ilha da Pintada, em Porto Alegre. No início dos anos 90, catadoras que separavam resíduos para reciclagem encontraram dentro de uma sacola plástica uma imagem quebrada de Nossa Senhora. O fato foi comparado à história da imagem de Nossa Senhora Aparecida, que também estava quebrada quando foi resgatada no Rio Paraíba, em São Paulo, em 1717, iniciando ali o culto à atual padroeira do Brasil. A Romaria das Águas teve sua primeira edição em 1994, com a mesma sistemática replicada no Vale do Sinos: cada comunidade recolhe suas águas, que são misturadas e abençoadas em uma grande cerimônia macroecumênica realizada em Porto Alegre. Sempre no dia 12 de outubro, feriado de Nossa Senhora Aparecida. A delegação da Bacia do Sinos, composta por turmas do Projeto Dourado, encarrega-se de levar a amostra de água da região. Por fim, a água de toda a Região Hidrográfica é lançada no Guaíba, com o mesmo significado de comprometimento com os recursos hídricos.
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Fotos: Castor
Becker Júnior
/C5News-Pre
ss
De comunidade em comunidade, as águas vãos se somando em rituais de coleta e bênção, unindo a Bacia do Sinos em uma movimentação que começou nos anos 90 e que abrange toda a Região Hidrográfica do Guaíba, cujo lago é todos os anos ponto de peregrinação (foto maior, na página ao lado)
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Projeto Monalisa
Quase 3 mil km de ÁGUAS MONITORADAS E
ntre 2004 e 2006, ocorreu o Projeto Identificação dos Pontos de Impacto da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos – Retirada e Devolução de Água (Monalisa), até hoje o maior levantamento de impactos ambientais realizado na região. Ação que só foi possível devido à parceria com a Unisinos e ao engajamento de prefeituras e parceiros como Emater, sindicatos rurais e ONGs ambientais, além, é claro, dos professores e alunos do Projeto Dourado, que representaram o grosso dos cerca de 250 voluntários envolvidos nas ações de campo. Durante 23 meses, 29 equipes, em 22 municípios da região, quantificaram, localizaram e descreveram em mapas e planilhas mais de 8 mil impactos ambientais, em cerca de 2,7 mil quilômetros de córregos, arroios e rios. O Projeto Monalisa apontou o ranking de oito tipos de impactos, em uma lista que tinha desde depósito de lixo até barreira para peixes, passando por canos expostos. Ranking esse que apontou o esgoto doméstico como o maior problema da região, seguido da falta de mata ciliar nos cursos d´água.
TREINAMENTO A metodologia de trabalho empregada no Monalisa foi inédita no Brasil, inspirada em um trabalho semelhante feito nos Estados Unidos. Por isso mesmo, o Comitesinos e a Unisinos tiveram que, antes de mais nada, treinar as equipes para saírem a campo. Os voluntários aprenderam a usar o GPS tanto para percorrer os cursos d´água como para localizarem as coordenadas exatas de cada impacto ambiental avaliado. O equipamento fez parte do kit, que continha ainda uma câmera fotográfica para registrar os impactos. Os voluntários também foram capacitados a dar uma nota para cada anomalia, de modo que o relatório pudesse retratar sua severidade. Tudo para garantir um retrato fidedigno das condições das águas da região. Fotos: Castor Becker Júnior/C5News-Press
Vinte e nove equipes mapearam 2,7 mil quilômetros de córregos, arroios e rios da região 24
Mais de 8 mil pontos de s impacto ais ambient foram os em registrad do acia toda a B inos Rio dos S 25
Projeto Monalisa
Tudo em alguns cliques no mapa Além de reforçar a consciência de que as soluções para a maior parte dos problemas das águas da região precisam ser buscadas em nível de bacia (com tanta gente indo a campo ao mesmo tempo), o Projeto Monalisa também proporcionou o acesso rápido e universal a um verdadeiro raio X da região. Os dados de todas as planilhas de campo, junto com fotos e coordenadas, estão em um mapa virtual. Na plataforma online, cada impacto foi colocado em sua real localização no mapa. Classificados por cores de acordo com sua severidade (de vermelho=alta a verde=baixa). Assim, se o internauta, por exemplo, clicar na bolinha de depósito de lixo no Rio Paranhana perto de Parobé, vai abrir uma janela com a foto do impacto, suas coordenadas e sua classificação.
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Projeto VerdeSinos
Quase 6 mil VOLUNTÁRIOS MOBILIZADOS
300 s de e mata i a s d M ares servado e hect os, r pr cilia cuperad s a e ou r il mud 4 1 52 m adas, 1 t e plan etros d l m i mil e e 6 m a m r ara ões pa ão r s u mo s. Esses os r a cerc s núme r o n algu çados p o n ir alca erdade ssoas e v um ito de p as c l r e exé adas p j a s eng s água a noss
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Castor Becker JĂşnior/C5News-Press
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Projeto VerdeSinos nasceu como uma resposta direta ao levantamento do Projeto Monalisa, que apontou a ausência de mata ciliar como o segundo maior problema dos cursos d´água da região. Encabeçado pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos) e pela Fundação Universitária para o Desenvolvimento do Ensino e da Pesquisa (Fundepe), a iniciativa tem patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e parcerias com a Unisinos, Universidade Feevale, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), União Protetora do Ambiente Natural (Upan) e Movimento Roessler. Conta ainda com o apoio da Rede Ambiental do Rio dos Sinos do Ministério Público Estadual (MP), Emater, Instituto Riograndense do Arroz (Irga), sindicatos rurais, prefeituras e outras instituições. O VerdeSinos surgiu em 2009, oriundo do Projeto Piloto de Recomposição da Mata Ciliar da Bacia do Rio dos Sinos, que em 2007 já desenhava uma parceria entre o Comitesinos, produtores, MP e outras entidades da região. O objetivo era iniciar uma ação permanente para reverter a degradação ou ausência da vegetação ribeirinha.
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Em sua trajetória, o VerdeSinos já superou a marca de 330 hectares de mata ciliar conservados ou em processo de recuperação, com mais de 52 mil mudas plantadas, 114 mil metros de arame e 6 mil mourões. Tudo isso mobilizando mais de 6 mil pessoas, dos 8 aos 80 anos, em 21 municípios da região. O contingente é formado desde voluntários em ações de reflorestamento (boa parte dele composta pela turma do Dourado) até pesquisadores que foram a campo estudar o melhor meio de fazer a recuperação ambiental. A estratégia se baseia na adesão voluntária dos proprietários de áreas ribeirinhas (eles cedem o espaço para o replantio); na ação de entidades e voluntários, que se encarregam de plantar as mudas e garantem acompanhamento técnico nos locais recuperados, e na adesão de mais parceiros para fornecimento de insumos e voluntários para as ações. Sem falar na pesquisa científica, que, até aqui, avaliou a influência de cada faixa recuperada na vida terrestre e aquática, bem como qual a melhor maneira de realizar as ações. Mas que agora, assim como todo o projeto, está ampliando seu leque de ações.
Fotos: Castor Becker Júnior/C5News-Press
Projeto VerdeSinos
As ações do VerdeSinos ocorrem em várias frentes em toda a Bacia do Sinos, mas a base está no trabalho de voluntários (boa parte deles do Projeto Dourado) e técnicos em campo, além do reforço na pesquisa científica e, principalmente, da adesão voluntária de proprietários rurais que aceitam destinar parte de suas terras para a recuperação ambiental
NOVA FASE Agora, a iniciativa está entrando em um novo patamar, ampliando suas ações também para a identificação, preservação e recuperação de áreas úmidas (banhados), nascentes e encostas. Para isso, o Comitesinos conta com toda a força dos voluntários que participaram da primeira etapa (e que deve ser ampliada) e novamente vai casar as ações em campo com o trabalho em educação ambiental (não só em sala de aula, mas também junto às comunidades). Sem falar no apoio da pesquisa científica, que também já esteve na primeira etapa e agora será “vitaminada”. A receita é simples: os pesquisadores vão a campo para realizar estudos sobre a vida aquática e terrestre, além da situação dos ecossistemas e a melhor maneira de preservá-los ou recuperá-los. O conhecimento gerado pela turma da universidade é imediatamente compartilhado, sendo tanto colocado em prática nas ações dos voluntários e instituições, quando traduzido nas aulas de educação ambiental pela região. Diz-se que a ação está “vitaminada” porque, se na primeira etapa a pesquisa ficou a cargo da turma da Unisinos, nesta segunda etapa conta também com a Feevale e Ufrgs, além da Upan e Movimento Roessler. Agora são 13 linhas de pesquisa, abrangendo desde destinação de resíduos até identificação e caracterização de banhados e a identificação dos serviços ambientais prestados pelas áreas úmidas. O que deverá refletir, por exemplo, na criação de Unidades de Conservação e em condições para implementação de projetos de compensação por serviços ambientais. 31
Plano de Bacia
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“Não existirá Plano de Bacia sem Educação Ambiental . Se no Plano nós ordenamos as ações e metas para os próximos 20 ou 30 anos, é pela Educação que vamos colocar as próximas gerações dentro desse conceito.” A fala do vice-presidente do Comitesinos, Adolfo Klein , resume a importância do Projeto Dourado para os próximos passos no desenvolvimeno sustentável da região.
Castor Becker Júnior/C5News-Press
A hora de LEVANTAR A VOZ
Mas, mais do que isso, reforça o papel fundamental que o trabalho de anos do PPEA teve na própria construção do Plano de Bacia.
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Plano de Bacia
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declaração de Adolfo Klein, citada na página anterior, ocorreu no dia 18 de junho de 2014. Foi durante a Oficina de Educação Ambiental para Compor o Programa de Ações do Plano de Bacia do Rio dos Sinos, realizada pelo Comitesinos, na Unisinos. O encontro reuniu cerca de 60 pessoas, a maioria educadores do PPEA, de 14 municípios da região. A mesma turma que, nos meses anteriores, havia participado ativamente do próprio processo de elaboração do Plano de Bacia. A partir de então - antes mesmo do lançamento oficial do Plano, que ocorreria em julho - a turma passou a se debruçar sobre suas propostas de ações mais suscetíveis a movimentos das próprias comunidades. O que abrangeu, por exemplo, os itens Redução das Cargas Poluidoras, Monitoramento Quali-Quantitativo e Gestão das Áreas Protegidas. “Na Redução de Cargas Poluidoras, há a construção de estações de tratamento de esgoto, o que depende de recursos de governo. Mas, uma vez construídas as redes de tratamento, 34
as pessoas precisam estar conscientes da necessidade de ligarem suas residências a elas, mesmo que tenham que pagar pelo tratamento”, lembra a secretária-executiva do Comitesinos, Viviane Nabinger. Ou seja, no fim é tudo uma questão de Educação.
PARADIGMA
O exercício iniciado em junho pelos educadores resultou em uma lista de propostas (com foco na sociedade, em educadores e estudantes) que compôs uma ficha técnica agregada ao documento do Plano de Bacia da região. Porém, mais do que traçar ações que ajudem a provocar resultados práticos específicos, o movimento quer aproveitar a esteira da mobilização gerada em todos os setores da sociedade para quebrar um paradigma: tornar a Educação Ambiental uma política de governo. Ou seja, ao invés de se trabalhar em ilhas, em algumas escolas ou com iniciativas de algum órgão, as ações passariam a ocorrer de forma institucionalizada, multidirecional e multidiciplinar.
Fotos:
ews-Press
r Júnior/C5N Castor Becke
Esse tal de Plano de Bacia O Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos foi lançado no dia 3 de julho de 2014, em uma cerimônia que lotou o auditório Sérgio Concli Gomes, na Unisinos. A solenidade contou com autoridades nacionais, do Estado e da região, além de representantes de entidades, prefeituras e da comunidade da Bacia. O Plano aprovado pelo Comitesinos na plenária do dia 12 de junho abrange um rol de 37 ações para os próximos 25 anos. Desde então, o documento representa um pacto com força de lei. Ou seja, não só aponta diretrizes para ações e projetos de recuperação, como serve de guia, por exemplo, para processos de licenciamento ambiental e outorgas pelo uso da água. Seu processo de elaboração começou em 2007, com o apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente e uma contrapartida do Fundo Estadual de Recursos Hídricos. Partindo de uma proposta de ação do Comitesinos e contando com a gestão financeira do Consórcio Pró-Sinos, a primeira etapa resultou no diagnóstico de todos os males que assolam o rio e suas possíveis soluções à luz de toda informação técnica e cientifica acumulada sobre ele.
A última etapa, a de mobilização social, foi financiada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), também com verba do Fundo Estadual de Recursos Hídricos, e durou 12 meses, a partir de junho de 2013. Foi aí que todos os setores da sociedade foram mobilizados para atualizar, completar e corrigir os dados técnicos levantados no início dos trabalhos. O processo definiu, além dos objetivos de qualidade desejados para cada trecho de curso de água, as metas intermediárias. Também traçou todas as definições técnicas necessárias para orientar a retomada do Licenciamento Ambiental e da Outorga de empreendimentos com novas captações e lançamentos nos rios da Bacia. Foram 21 reuniões públicas no alto, médio e baixo Sinos, oportunizando a expressão e o registro de diversas visões e anseios das comunidades.
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Conhecendo os municípios
Todas as águas NOS MAPAS M apas com uma arte menos sisuda que a de um mapa convencional, mas dando as coordenadas corretas de cada elemento, para informar e educar. Assim são as peças do projeto Conhecendo e Divulgando as Águas e Banhados do Meu Município, entregues em 2011 para cada um dos municípios do Projeto Dourado. O objetivo foi dar aos professores uma ferramenta a mais de Educação Ambiental, de fácil compreensão e pela qual todos pudessem ter uma visão ampla a imediata das águas de seus municípios.
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Fotos: Castor Becker Júnior/
C5News-Press
A iniciativa do Comitesinos teve patrocínio da Refap S/A e apoio das prefeituras e entidades dos municípios abrangidos pelo projeto. Ao todo foram 1,2 mil peças entregues: 143 mapas de dez trechos de rios e arroios cada e mais um mapa geral para cada um dos
municípios integrantes do Dourado. A ideia veio depois que as professoras constataram, em pesquisas pela região, que 95% das pessoas não conheciam os corpos hídricos de seus municípios.
As peças foram desenhadas pela artista plástica Silvana Santos, de Novo Hamburgo. Ela uso como base as informações processadas pela empresa Geopyxis Geotecnologia, que por sua vez assinalou na cartografia as coordenadas dos pontos que sofrem impactos ambientais em cada município. A maior parte das informações foram buscadas no banco de dados do Projeto Monalisa (que, entre 2004 e 2006, monitorou mais de 2,3 mil quilômetros de córregos, arroios e rios da Bacia do Sinos). Outras coordenadas foram repassadas pelos próprios professores do Projeto Dourado, em saídas complementares a campo.
Atualização com novos pontos
Apesar de ainda estarem longe de obsoletos, os mapas entregues aos municípios em 2011 estão agora passando por uma atualização. E o trabalho está sendo feito pelos próprios estudantes de cada município, em um exercício a mais de conhecimento sobre o ecossistema onde vivem. Novas artes foram encomendadas para assinalar pontos como estações de tratamento de efluentes, existência de coleta seletiva, localização de açudes e outros fatores que podem influenciar na “saúde” das águas.
São, na verdade, itens que não constavam na primeira versão dos mapas, mas que deverão ampliar significativamente o conhecimento dos alunos sobre a realidade local. As artes foram impressas em adesivos e a atividade funciona assim: as turmas saem a campo com um mapa em mãos, para avaliar determinado trecho do município. Conforme vão encontrando as características do rol de adesivos, vão colocando as etiquetas no mapa, nos pontos corretos.
Arte: Silvana Santos
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In memoriam
Fotos: Castor Becker Júnior/C5News-Press
Ao mestre, nosso
Graduado em Licenciatura em História Natural pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Leopoldo, especialista em Aperfeiçoamento em Avaliação do Ensino de 2º Grau pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, especialista em Ecologia Humana e mestre em Educação pela Unisinos, além de ligado ao Movimento Escoteiro, Paulo Saul começou a contribuir com os projetos do Comitesinos no final da década de 80, como representante da Unisinos. A Bacia do Sinos deve a ele boa parte do que hoje se conhece sobre Educação Ambiental na região. 38
Foto: Julian Mauhs
ETERNO CARINHO M
estre de mestres e alunos e inspiração de gerações de pesquisadores, especialistas, técnicos, profissionais e voluntários que de alguma maneira atuam em defesa do meio ambiente na região ou em outras partes do Estado. É o mínimo que se pode dizer do professor Paulo Fernando de Almeida Saul, falecido em julho de 2014, aos 69 anos, em um acidente de trânsito na cidade de Portão. Parceiro do Comitesinos desde a criação da entidade, em 1988, ajudou a formatar o modelo de Educação Ambiental que hoje percorre a região através do Projeto Dourado, que é um dos mais importantes trabalhos do Comitê de Bacia. O professor Paulo Saul trabalhou com o Dourado até seus últimos dias, tendo inclusive iniciado e conduzido boa parte da Oficina de Elaboração de Projetos do Programa Permanente de Educação Ambiental (PPEA), en-
sinando professores a buscar e gerenciar recursos para ações práticas de Educação Ambiental (veja nas páginas 40 e 41). Aliás, sua vida foi isso: ações práticas. Não apenas trabalhar em sala de aula, mas fazer os mais jovens enxergarem o ambiente onde vivem e que são chamados a transformar. Fazer trilhas, chegar perto da água... sensibilizar. Dar o melhor de si independente da situação da escola, fosse ela pública ou privada. Diretor de escola, escoteiro e membro do Movimento Roessler, estava sempre onde pudesse partilhar conhecimento e aprender. Como era seu desejo, foi cremado e parte de suas cinzas foram depositadas no jazigo de sua família, em Canela, sua terra natal. A outra parte foi entregue à Lagoa dos Quadros, em Capão da Canoa. Local que adorava e do qual agora faz parte para sempre.
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Garantindo sustentabilidalidade
Como planejar, gerenciar e CAPTAR RECURSOS
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ocalizar e acessar recursos oferecidos todos os anos, nas dezenas de editais ou programas de responsabilidade socioambiental de autarquias públicas e da iniciativa privada em todo o País. Mais do que isso, ter o olhar atento para as carências de sua comunidade e saber onde um trabalho de Educação Ambiental pode fazer a diferença, como elaborar um projeto “casando” as regras do edital de recursos com as necessidades detectadas, executar o cronograma a contento e fazer a prestação de contas com tranquilidade. Esse foi o foco da Oficina de Elaboração e Execução de Projetos do PPEA, que ocorreu entre 2013 e fevereiro de 2015. A atividade envolveu professores das 14 escolas polo do Projeto Dourado. Além das noções teóricas sobre as etapas para elaboração e execução de um projeto (identificação do problema, objetivo, estratégia de ação, parceiros, passo a passo da execução e outras), o grupo foi provocado a tirar suas ideias do papel, colocando em prática as iniciativas que cada um formatou. Os que toparam o desafio (coordenadores do Dourado em de Portão, Sapucaia do Sul, Sapiranga, Igrejinha, Taquara e Santo Antônio da Patrulha) receberam apoio financeiro para mobilizar sua comunidade da melhor maneira possível. Além do recurso, os professores também aprenderam a costurar parcerias em suas comunidades, envolvendo prefeituras, escritórios da Emater, associações comunitárias, círculos de pais e mestres (CPMs) e outras entidades. Por uma dupla estratégia: as parcerias não só multiplicam a ação em si, mas aprofundam a conscientização ambiental e dão longevidade às iniciativas. De quebra, ajudam a aumentar o alcance dos recursos, já que muitos editais preveem contrapartida ou, em alguns casos, têm seus recursos divididos para oportunizar mais projetos. Segundo a coordenadora do PPEA, Viviane Nabinger, o objetivo das ações do programa é sempre a ação prática. “Para o Comitesinos, a Educação Ambiental é válida quando deixa de ser apenas teoria e passa a ter um resultado efetivo”, resume. 40
Desafio cumprido
O recurso para a Oficina de Projetos foi oriundo do patrocínio da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap S/A) para o PPEA, em um convênio que envolve o Comitesinos e a Unisinos. Para o trabalho, os professores das escolas polo do Dourado tiveram assessoramento constante com reuniões, visitas a campo em cada município e suporte na execução do programa de ações e da prestação de contas. A metodologia se baseou nas regras dos editais do Programa Petrobras Socioambiental, considerados os mais exigentes do mercado. A oficina começou em 2013 sob a batuta do professor Paulo Fernando de Almeida Saul. O trabalho teve continuidade com professor Fernando Soares (foto maior), que prosseguiu com as aulas e o acompanhamento dos projetos. “Os professores toparam sair de sua zona de conforto e encarar a responsabilidade de administrar um recurso financeiro cada um. Tendo que justificar, planejar e executar sua aplicação e depois fechar a prestação de contas com todas as regras de um projeto de captação de recursos. Isso é louvável”, comentou Soares, satisfeito com os resultados do trabalho. Confira os projetos u
Taquara
Em Taquara, a falta de um drone não foi obstáculo para os estudantes da Escola Municipal Antônio Martins Rangel conseguirem uma vista aérea do distrito de Olhos D´água, interior do município. Eles colocaram a câmera em uma pandorga e foram a campo para mapear o saneamento rural da localidade. O projeto Cartografia Social e Mapeamento em Saneamento Ambiental abrangeu
jovens de 11 a 14 anos, que lançaram um olhar sobre as condições das propriedades rurais e propuseram soluções aos moradores locais. Conforme a coordenadora local do Projeto Dourado, Sabrina Dinorá Santos do Amaral, o material produzido gerou uma cartilha para a formação de agentes para monitoramento das nascentes e poços no distrito.
Santo Antônio da Patrulha Em Santo Antônio da Patrulha, o projeto colocado em prática foi a implantação do Centro de Educação Ambiental de Santo Antônio (Ceeasa), na localidade de Esquina dos Morros. A iniciativa teve apoio da prefeitura e o Ceeasa foi criado na área de seis hectares da Fundação Educacional Agrícola (Feasa). A coordenadora do Dourado no município, Márcia Santos, conta que, além de uma sala exclusiva para Educação Ambiental, o Ceeasa conta com uma trilha ecológica, com roteiros conforme o tema a ser abordado e tipo de público (estudantes, idosos ou outras pessoas). O espaço envolve arroio, pontos com erosão, vegetação diversificada e outros itens a serem trabalhados.
Sapiranga Fotos: Arquivo escolas
Portão Em Portão, o foco foi a criação de um inventário das árvores nativas existentes no município. As espécies integraram uma votação, e a população portonense escolheu a corticeira do banhado como árvore símbolo do município. A seleção foi entre dez árvores nobres, das espécies mais encontradas na pesquisa. A lista teve Angico, Canjerana, Carvalho Brasileiro, Cedro, Figueira, Grápia, Jerivá, Louro Pardo
e Umbu. O projeto Situação da Cobertura Vegetal Arbórea Nativa e dos Aspectos Ambientais Relevantes do Município resultou ainda em uma cartilha sobre a flora nativa local. Conforme a coordenadora local do Dourado, Marisa Braga, o inventário foi realizado com apoio da Unisinos, através de se curso de Ciências Biológicas, e servirá também para a identificação de áreas de preservação permanente (APPs).
Sapucaia do Sul A revitalização de um trecho de margem do Arroio José Joaquim foi o projeto desenvolvido em Sapucaia do Sul. Segundo a coordenadora local, Loreni Aparecida Santos, já com vistas a replicar a iniciativa em outros pontos do município. A ação teve mapeamento e reconhecimento das área recuperada, que contou com mutirões envolvendo alunos do Projeto Dourado e entidades do município. A ação teve plantio de mudas e cercamento de área nos moldes das ações do Projeto VerdeSinos.
A instalação de uma pequena central para compostagem de restos de podas urbanas. Esse foi o projeto coordenado pela professora Cátia Beatriz Appolo no Centro Municipal de Estudos Ambientais (Cemeam) de Sapiranga. Além de dar destinação adequada para os restos de galhos de árvores e outros detritos vegetais, a proposta foi tornar o local um laboratório a mais para Educação Ambiental no município, com estudantes e comunidade aprendendo a fazer compostagem (foto) e utilizar o material como adubo orgânico.
Igrejinha Já no Centro de Educação Ambiental Augusto Kampff (Ceaak), em Igrejinha, o esforço foi pela qualificação dos professores de Educação Ambiental do município. “Reforçamos a importância dos professores promoverem atividades em campo e utilizarem uma metodologia que realmente faça os alunos sentirem-se como parte de um sistema hídrico”, resumiu a coordenadora local, Carla Anelize Pilger. 41
Escolas polo - CARAÁ
Avanços de quem faz acontecer C
araá aderiu ao Peixe Dourado em 2002. Vinte e dois alunos na condição de monitores e multiplicadores, no frio de julho, deram a largada ao projeto de Educação Ambiental que é hoje referência quando se fala em preservação do Rio dos Sinos. A professora Eunice Conceição dos Santos assumiu a coordenação do projeto no município e hoje comemora: “Apesar das dificuldades encontradas, fizemos acontecer.” Os problemas do início do projeto já estão distantes da memória. Mas as emoções de avançar a cada dia em direção ao objetivo proposto estão vivas. Eunice lembra de uma das primeiras ações – a gravação do programa RBS Comunidade, com a parceria do município de Santo Antônio da Patrulha. “Mesmo com pouca experiência, os coordenadores dos dois municípios conseguiram mobilizar, além dos monitores, as autoridades locais e a comunidade escolar.” Foi uma primeira amostra da força do grupo que se reunia uma vez por semana em uma sala da Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Gomes, na localidade de Passo Osvaldo Cruz. Turma que hoje pode comemorar a entrada na etapa 6 do projeto Conhecendo e Divulgando as Águas e os Banhados do Meu Município, com os estudantes indo a campo para identificar os impactos ambientais em suas comunidades. Mas até chegar a esse marco, literalmente, muita 42
água correu da nascente do Sinos até a foz no Jacuí. Em 2004, a festa do 16.º aniversário do Comitesinos foi em Caraá, reunindo representações de todos os municípios participantes do projeto. Às margens do Sinos, monitores viram mergulhadores surgirem das águas trazendo nas mãos uma garrafa com o lema do projeto: “Todos somos responsáveis pelo Rio que temos e por transformá-lo no Rio que queremos”. Foi assim o lançamento do Mutirão da Responsabilidade. E o dia 17 de março entrou para o calendário como o Dia Estadual de Preservação e Conscientização do Rio dos Sinos. Data instituída a partir de projeto de lei de autoria da então deputada Floriza dos Santos. Outros momentos surpreendentes fizeram parte da trajetória do projeto em Caraá. Eunice lembra o dia em que soltaram peixes dourados em diversos trechos do Rio dos Sinos. “Foi marcante.” Os monitores conseguiram formar uma caravana formada por professores, alunos e autoridades locais para acompanhar a ação realizada em 2005. São 13 anos de muitas saídas de socialização sempre buscando a Mobilização Social – Educação Ambiental. Exposições, participações em feiras, congressos, seminários fizeram parte das ações de divulgação do projeto que, somente em Caraá, plantou sementes em 250 alunos que multiplicaram o conhecimento na comunidade.
Estudantes fazem a soltura de alevinos de dourados no Rio dos Sinos, em 2005
Acima, formação de multiplicadores de Educação Ambiental em 2008 e, abaixo, estudantes no Rio dos Sinos durante a etapa local da Celebração das Águas
Fotos: Arquivo escolas
Estudantes no Mutirão da Responsabilidade, em 2004, usando a primeira camiseta do, na época, Projeto Peixe Dourado
No envolvimento, a força da comunidade
Acima, estudantes participam de oficinas de Educação Ambiental nas escolas
O Projeto Dourado em Caraá, município de 7.312 habitantes (dados IBGE/2010), envolveu estudantes, de 5.ª a 8.ª séries. Foram eles os responsáveis por multiplicarem os conhecimentos para seus familiares e vizinhos, aos poucos envolvendo toda a comunidade no processo de conscientização sobre a importância de preservar a Bacia do Rio dos Sinos. Assim, o grupo inicial de 22 pessoas se multiplicou. Outros estudantes vieram e novas sementes foram plantadas. A cada ano ações foram incorporadas ao projeto no município, sempre mantendo o foco no objetivo inicial: “Chamar a atenção da população da bacia hidrográfica para a necessidade da sua participação no projeto
de gerenciamento das águas do Rio dos Sinos e seus formadores usando o peixe dourado como bandeira.” Das salas de aula do Ensino Fundamental, o Dourado chegou à Faculdade Federal de Rio Grande (Furg). A coordenadora do projeto Eunice Conceição dos Santos relatou a riqueza do trabalho desenvolvido, os obstáculos superados e os sucessos na monografia de conclusão do curso de Pedagogia. A Formação de multiplicadores também fez parte de trabalho de conclusão de curso de um colega de trabalho, que era monitor na Escola Carlos Gomes. Ações que somadas à abertura de espaço no jornal local para divulgar o projeto mostram a força do Dourado na região. 43
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Escolas polo - SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA
Comunidade arregaça as mangas A
jornada iniciada por Santo Antônio da Patrulha no ano de 2002, ao aderir ao Projeto Dourado, fez a comunidade arregaçar as mangas e deixar os discursos sem ação no passado. A coordenação do trabalho coube à professora Márcia Maria Oliveira dos Santos, que chamou a comunidade a participar junto com os alunos da escola polo, a EMEF José Inácio Machado Ramos, na localidade de Serraria Velha. A educação ambiental saiu do âmbito da sala de aula, quando moradores do entorno da escola e simpatizantes do processo resolveram participar dos mutirões de limpeza das margens do Rio dos Sinos e de seus afluentes. O trabalho de conscientização sobre a importância de preservar a biota do Rio dos Sinos conta com ferramentas diversas. Oficinas com jogos e brincadeiras, teatros, palestras e apresentações musicais envolvendo os mais variados temas ambientais são levados a outras escolas, entidades e eventos do município. As ações trabalhadas dentro da sala de aula de forma interdisciplinar periodicamente são compartilhadas com toda a sociedade. Ao fazer uma avaliação desses 13 anos do Dourado em Santo Antônio Patrulha, Márcia acredita que a formato do projeto local tem ajudado no resgate e conservação do ecossistema da bacia do Sinos. “A partir do trabalho nas escolas, 46
podemos encontrar o caminho para o objetivo”, afirma. E o resultado já pode ser sentido. As atividades ajudaram a amenizar um pouco os impactos ambientais na região onde a escola sede do Dourado está inserida. Com um trabalho sério e contínuo, todas as atividades têm sido marcantes, na visão da coordenadora, pois fazem com que os participantes reflitam e busquem soluções para minimizar os problemas ambientais existentes no município. Mas, nos últimos anos, o Ecosinos – Encontro das Comunidades Escolares da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos do Município de Santo Antônio da Patrulha vem se destacando. No evento, as instituições são convidadas a mostrar as ações realizadas em relação à Educação Ambiental e Rio dos Sinos por meio de apresentação artística e exposição de trabalhos. O primeiro Ecosinos ocorreu na localidade de Evaristo e o segundo, na localidade de Arroio Madeira, somando 900 pessoas envolvidas. São nas exposições que a comunidade pode ter acesso à grandeza do trabalho realizado. Nesse sentido, chegou-se a montar uma mostra do Projeto Peixe Dourado no Museu Antropológico Caldas Júnior, em 2005. A ideia é que toda a comunidade e visitantes pudessem acompanhar as ações realizadas pelos monitores na escola, localidade e na cidade ao longo do projeto em Santo Antônio da Patrulha.
Divulgação do trabalho é importante para motivar a comunidade
Fotos: Arquivo escolas
Plantio de mudas junto ao Arroio da Conquista
Qualidade da água pela coleta de macroinvertebrados (acima) é um dos conhecimentos repassados pelos professores, depois das oficinas ambientais (abaixo)
Treze anos monitorando impactos ambientais
Muitas ações envolvendo os monitores e a comunidade imprimiram sua marca na trajetória do Peixe Dourado em Santo Antônio da Patrulha, envolvendo 17.536 pessoas diretamente. São 13 anos monitorando os impactos ambientais em áreas do entorno do Arroio Serraria Velha e do Rio dos Sinos no município, inclusive com o controle do volume de chuvas e nível do arroio. Para garantir a recomposição da mata ciliar, até um viveiro de mudas nativas foi montado na EMEF José Inácio Machado Ramos. Em 2010, a sede do projeto passou para a EMEF Manoel Machado dos Santos, continuando a professora Márcia Maria Oliveira dos Santos na coordenação geral. O primeiro passo foi a adesão ao VerdeSinos e Conhecendo e Divulgando as águas e Banhados do meu Município. A ação previa o plantio de árvores nativas às margens do Arroio Conquista, no Monjolo, e do Arroio Data, em Catanduva Grande. Os monitores também atuam nas atividades ambientais propostas pelas secretarias municipais da Agricultura e Meio Ambiente e da Educação, que envolvem a recomposição da mata ciliar nos principais arroios das três bacias do município – Sinos, Gravataí e Litoral Médio/Lagoa dos Barros. O Dourado mudou de sede (foi para a EMEF Manoel Machado dos Santos, na localidade de Arroio da Madeira) e parcerias foram feitas, entre elas com a Emater, Apae, Corsan, Defesa Civil e Polo Universitário Santo Antônio, mostrando o crescimento do projeto no município.
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Escolas polo - TAQUARA
ma apresentação cultural na Festa do Peixe de Olhos D’água marcou a entrada de novos monitores no Projeto Peixe Dourado, em Taquara, no ano de 2013. A coreografia embalada pela Cantiga de Rio e Remo, de Apparicio Silva Rillo e José Gonzaga Lewis Bicca, e o esquete sobre as classes do Rio segundo Conama 357/2005, teve como proposta chamar à comunidade a participar das ações e ajudar a preservar os recursos hídricos de forma integrada. Afinal, depois de dois anos sem sede e desenvolvido de forma descentralizada, o projeto voltou a ter um polo, desta vez na EMEF Antônio Martins Rangel, no Distrito de Rio da Ilha, na localidade de Olhos D’água. E uma nova realidade começou a se desenhar no município quando se fala em preservação da bacia do Sinos. O Dourado inspirou a criação de programas junto à rede de educação pública com a proposta de aproximar a comunidade do projeto. O Rio do Nosso Bairro, Cartografia Social e Mapeamento para Saneamento Ambiental de Olhos D’água, Projeto Com-Vida, especificamente na EMEF Antônio Martins Rangel, são algumas das ações que passaram a ser desenvolvidas. Agora coordenado pela professora Sabrina Dinorá Santos do Amaral, o Projeto Dourado iniciou-se em Taquara em 2008, liderado pela professora Melissa Wilches. Na época, 50
a EMEF Emílio Leichtweis, do distrito de Fazenda Fialho, foi a escolhida para ser a sede do projeto, que contou com monitores muito atuantes na localidade. Mas em 2010, as atividades passaram a ser desenvolvidas de forma descentralizada. A Emílio Leichtveis deixou de ser polo do projeto e a figura do monitor foi extinta, retornando somente em 2013. Mas Melissa guarda carinhosamente na memória o empenho de seus monitores ao criar atividades de sensibilização para envolver os demais alunos da escola no cuidado com a água. Desde a adesão de Taquara ao Dourado já se vão sete anos. Período em que a comunidade foi brindada com inúmeras ações com a proposta de garantir a sustentabilidade dos mananciais de água da região. Trabalhos que envolveram diretamente pelo menos 500 professores e 3 mil alunos de todos os níveis de ensino – Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos). Essa turma é a protagonista do Dourado em Taquara e tem garantido o repasse das informações à comunidade. Entre as ações que participam, a professora Sabrina destaca, por sua abrangência, o projeto Conhecendo e Divulgando as Águas do meu Município; Celebração das Águas, Boas Práticas do meu Município; e as oficinas de construção do plano de bacia, dentre as atividades do Programa Permanente de Educação Ambiental.
Fotos: Arquivo escolas
A coreografia das águas U
Sede: depois de três anos funcionando de forma descentralizada, o Dourado ganhou nova escola polo em 2013
Conhecer e monitorar as águas do município (esquerda), além de entender como funcionam seus divisores (abaixo) faz parte do aprendizado repassado a estudantes e agentes multiplicadores
Sete anos de ações locais
“Propiciar inserção da Educação Ambiental no currículo escolar, por meio de atividades de reflexão e ação disseminando a noção de bacia hidrográfica e valorizando seus usos e cuidados.” A frase sintetiza o propósito da atuação da professora Sabrina Dinorá Santos do Amaral como coordenadora do Projeto Dourado, em Taquara. E já pode comemorar quer pelo grande envolvimento da comunidade, como na implantação de projetos locais. Inspirado na proposta do Dourado, Taquara criou “O Rio do Nosso Bairro”, ação que ocorre anualmente, de 17 de março, Dia do Rio dos Sinos e aniversário do Comitesinos, a 4 de abril, Dia do Rio Paranhana. De acordo Sabrina, a ideia é estimular que mais escolas do município assumam corresponsabilidades no cuidado com a gestão sustentável das águas. Também com base no Dourado nasceu o Com-Vida (Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da EMEF Antônio Martins Rangel. Os monitores do Dourado ajudam no diagnóstico da realidade da escola para construir coletivamente um projeto de intervenção na realidade, através da Agenda 21 na escola. 51
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Escolas polo - TRÊS COROAS
Diferentes formas de sensibilizar P elo menos 3 mil estudantes da rede pública municipal, da pré-escola ao 9º ano do Ensino Fundamental, e 220 professores foram envolvidos diretamente pelo Projeto Dourado em Três Coroas. Embora existam registros de mutirões pelo Rio Paranhana (afluente do Sinos) desde o início dos anos 2000, o marco inicial das ações do Dourado no município é o Projeto Monalisa, em 2005. A ideia foi plantada pela professora de biologia Eliane Aparecida Martins dos Santos após contato, via Secretaria Municipal de Meio Ambiente, com as propostas educativas e multiplicadoras do Comitesinos. Eliane assumiu, então, a coordenação do Dourado em Três Coroas, tendo como polo a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Marechal Cândido Rondon, no bairro Vila Nova. E não tardou para a comunidade ser chamada a compreender o processo de preservação e conhecer as belezas da Bacia do Sinos e da sub-bacia do Rio Paranhana, que corta o município. Para a professora, o Mutirão da Sustentabilidade, em 2007, no Parque da Oktoberfest em Igrejinha, mostrou a força do Dourado pelo número de pessoas envolvidas e os temas abordados, sem contar a integração de alunos e professores dos vários municípios integrantes da Bacia do Sinos. “Foi o evento que mais me chamou a atenção”, confessa Eliane. A Celebração das Águas, em 2012 e 2013, foi outro marco na trajetória do projeto em Três Coroas. 54
A forma diversificada de sensibilizar a população sobre a necessidade de preservar os recursos hídricos da região também é apontada como diferencial pela coordenadora. Entra muitas lembranças, cita o encontro na Comunidade da Colônia Fraga, em Caraá, que reuniu escolares dos municípios integrante do projeto. No ano seguinte, ocorreu a descida de bote, caiaques e caíques pelos afluentes do Sinos, com a chegada dos grupos em pontos estratégicos, até a foz do próprio rio. As ações acabam sempre envolvendo toda a comunidade escolar. Mas Eliane destaca uma participação maior sempre no primeiro semestre em função dos preparativos da Semana do Meio Ambiente, que ocorre no início do mês de junho. As atividades ocupam o Centro de Cultura, Ginásio Municipal e o saguão da prefeitura, onde são montadas maquetes representativas de um rio em movimento. A população do município é convidada a visitar as exposições e a assistir aos trabalhos de palco. Inclusive, há visitas guiadas para estudantes das demais escolas do município. Na avaliação de Eliane, todo esse trabalho é resultado do Dourado Multiplicadores, que formou monitores ecológicos que repassam o aprendizado para a comunidade, estudantes e professores. No curso foram explicados basicamente os bioindicadores de qualidade da água que passaram a ser analisados a partir dos macroinvertebrados.
Mutirão pelo Rio dos Sinos em 2001, já no tom do Projeto Dourado, que viria anos depois (acima e abaixo)
mil 3 s o n e Pelo m e 220 s e t n a estud a rede d s e r o s profes a foram c i l b ú p lo dos pe i v l o v en do Doura
Cadeia de ações para garantir a sustentabilidade do rio Um longo caminho ainda precisa ser trilhado em busca da preservação da biota da Bacia do Rio dos Sinos. A coordenadora do Projeto Dourado em Três Coroas, Eliane Aparecida Martins dos Santos, entende que o respaldo dado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) facilita a aceitação de propostas de atividades por parte dos profissionais da educação e dá credibilidade junto à comunidade. Uma influência que, na sua avaliação, está presente nas ações de outros grupos ambientais do município. Paralelo ao Dourado, Eliane destaca o trabalho realizado há vários anos na EMEF Marechal Cândido Rondon chamado Horta Escolar e Coleta Seletiva. A ideia é ensinar a separar os resíduos sólidos. Para isso, a criança leva para a escola parte do lixo
doméstico e aprende a selecioná-lo em tambores coloridos, previamente pintados por eles. O material acumulado é separado e vendido a um reciclador credenciado, gerando renda para a manutenção do projeto. “O trabalho em âmbito escolar teve como motivador o Dourado”, ressalta Eliane . Segundo ela, o grupo participante da iniciativa mergulha em outros projetos realizados pelo Comitesinos, como foi o Monalisa e como são hoje a Celebração das Águas e o Projeto VerdeSinos. Tendo como uma das principais missões multiplicar o conhecimento para a população leiga.
Fotos: Arquivo escolas
Celebração das Águas: uma das ações que contam com presença maciça da Educação Ambiental
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Escolas polo - IGREJINHA
A união do conhecimento e do lúdico “ Peixe Dourado cuide de nossas águas.” A peça de teatro apresentada na Feira do Livro de Igrejinha em 2005 foi uma das muitas ações desenvolvidas com a proposta de sensibilizar a comunidade para a importância de cuidar dos recursos hídricos do município. A montagem levada ao palco por participantes do Projeto Dourado percorreu as escolas locais, multiplicando os conhecimentos adquiridos no programa de Educação Ambiental, iniciado em 2002, sob a coordenação da professora Tatiana Brito Teixeira, com sede na EMEF Bairro Moinho. Já são 12 anos de história e muitas mudanças ocorreram. Atualmente, o projeto é desenvolvido no Centro de Educação Ambiental Augusto Kampff, para onde mudou em 2005, na época sob a coordenação da professora Carla Anelize Pilger, que saiu em 2007 e retornou em 2013. E além da peça de teatro, o grupo ampliou suas ferramentas de mobilização da comunidade. As informações coletadas no trabalho de monitoramento da bacia hidrográfica foram compartilhadas por meio de CD e folhetos impressos. Carla conta que a participação no projeto Monalisa oportunizou conhecimentos aprofundados sobre a realidade hídrica de Igrejinha. Com esses dados coletados em saídas a campo, o grupo lançou um CD com as informações e imagens dos arroios do município que foi distribuído para todas as escolas locais 58
para ser usado em sala de aula. Também resultou desse trabalho um folheto explicativo. Outra ação desenvolvida pelos participantes do Dourado refere-se à análise dos bioindicadores do Rio Paranhana e de outros recursos hídricos de Igrejinha, feita até hoje durante os atendimentos no Centro de Educação Ambiental. A professora mestre Natália Soares orienta o trabalho, que reúne inclusive seus alunos do curso técnico e universitário. A divulgação dos resultados encontrados é o ponto de partida para chamar a comunidade a cuidar dos mananciais de água do município. A Praça Dona Luísa e seu entorno serviram e servem de cenário para muitas ações. Se no palco ficavam as apresentações de teatro, dança e música, na rua haviam pedágios informativos, como ocorreu na programação alusiva ao Dia do Rio Paranhana, afluente do Rio dos Sinos. Para a professora Carla, a importância do Dourado é informar e multiplicar conhecimento para amenizar as ações antrópicas que tem exercido influência sobre a conservação dos ecossistemas aquáticos. Nesse sentido, em Igrejinha, já somam mais de 5 mil pessoas envolvidas no processo de aprendizado. E ressalta que os coordenadores têm a missão de “sensibilizar as comunidades da necessidade de desenvolver e adequar métodos para garantir a quantidade e qualidade da água bem como a sustentabilidade.”
A partir da Escola Polo (acima), o Projeto Dourado irradia conhecimento e motivação para professores, alunos e comunidade arregaçarem as mangas para olhar de perto e preservar suas águas
Portfólio de ações em várias frentes
Fotos: Arquivo escolas
Celebração das águas, batizado do barco Martim Pescador, em 2003, Romaria das Águas, Comemorações do Dia do Rio Paranhana foram marcantes na consolidação do Projeto Dourado em Igrejinha. A comunidade participou e mostrou-se disponível para participar de mutirões de limpeza, como ocorreu em 2007, nas margens do Arroio Kampff, seguida de entrega de panfletos. Para a coordenadora do projeto, professora Carla Anelize Pilger, o envolvimento da comunidade foi de extrema importância para o sucesso das ações desenvolvidas nesses 12 anos de Dourado no município. Reconhece também o empenho dos alunos e dos professores, constantemente participando de cursos de reciclagem. Qualificação que garantiu a elaboração de ações atrativas para sensibilizar a comunidade. Em 2006, os monitores montaram uma Tenda Ambiental na Feira Municipal do Livro, reunindo jogos, histórias e apresentação de dança. Participação da Ação Global do Sesi 2013 também está no portfólio da turma do Dourado. Ações que mantiveram a unidade do projeto em Igrejinha, apesar da mudança de coordenadores ao longo dos anos. Além de Tatiana Brito Teixeira (20022003) e Carla Anelize Pilger (2005 a 2007/2013 a 2014), coordenaram o projeto Terezinha Rosane Schwarz (2004), Carla Hax Hartleben (2008 a 2011) e Ana Karina Konrath (2012). 59
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Escolas polo - PAROBÉ
Comunidade engajada na luta “ O Projeto Peixe Dourado é considerado uma espécie de elite da educação ambiental em Parobé.” A frase do professor Juarez dos Santos, coordenador do programa desenvolvido sob a tutela do Comitesinos no município, reflete a grande aceitação do trabalho pela comunidade, que desde 2002, mostra-se engajada nas ações de recuperação e preservação da biota do Rio dos Sinos. Os indicadores usados pelo biólogo são a grande procura por vagas no projeto e os convites para a realização de palestras nas demais escolas do município. A prova viva de que em Parobé o Dourado rompeu os muros da escola é o envolvimento da população no mapeamento e montagem da maquete dos arroios Funil e Pé de Galinha, elaborados em parceria com a Emater. “Nas manhãs de sábado, pessoas da comunidade apareciam para auxiliar nas saídas de campo”, conta a professora Sabrina Dinorá Santos do Amaral, responsável pela implantação do projeto em Parobé. A EMEF Padre Afonso Kist, no Distrito de Santa Cristina do Pinhal, foi a escolhida para ser a sede do Dourado a partir das ações realizadas no balneário distante 800 metros da escola. Muitas outras ações chamaram a atenção da comunidade e a levaram a conhecer o rio e seus afluentes. De 2002 a 2004, o projeto Dourado apresentava
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na Semana do Meio Ambiente, nos sábados à noite, um grande espetáculo no barracão católico da comunidade. Um musical que se iniciou timidamente, valendo como ingresso uma sacola de lixo reciclável, com a proposta de evitar que o mesmo fosse parar no Rio dos Sinos. E já na primeira edição contou com a presença maciça da comunidade. Sabrina, que coordenou os trabalhos em dois períodos – 2001/2004 e 2006/2012 – destaca ainda o Mutirão da Responsabilidade. O trabalho compreendia a visita dos monitores do Dourado a inúmeros pontos de corpos hídricos do município, elegendo o ponto crítico das águas de Parobé. Após, era realizado um grande evento para apresentar o local e viabilizar novas perspectivas para tal. Participaram desta ação cerca de 1,2 mil jovens das séries finais do Ensino Fundamental, de todas as 23 escolas do município. Outra ação que mostrou a credibilidade do Projeto Peixe Dourado em Parobé foi a “Nossa Água”. A programação desenvolvida pela EMEF Padre Afonso Kist na Semana Interamericana da Água, em 2003 e 2004, contava com um ciclo de atividades sobre o tema. Período que a escola abria as portas para os estudantes das outras instituições de ensino. Em 2004, a procura foi tão grande que foi necessário estender a programação para duas semanas.
Desde o lançamento do Projeto Dourado no município (no topo, à direita), em 2001, a iniciativa já envolveu mais de 3 mil estudantes e 240 professores em atividades diversas para motivar a comunidade a partir da escola Fotos: Arquivo escolas
Muito além do Dourado Aproximar a comunidade do Rio dos Sinos tem sido o mote do Projeto Dourado em Parobé. As ações desenvolvidas ao longo dos 13 anos, coordenadas pelos professores Sabrina Dinorá Santos do Amaral, Irlei Bastos e, atualmente, Juarez dos Santos, sempre chamaram a população a entender e conhecer os recursos hídricos do município. Trazendo para a população a sensação de pertencimento. Ao longo de sua trajetória no município, o Dourado já envolveu diretamente 3.120 alunos, da pré-escola ao 9.º ano do ensino fundamental, e 240 professores. O programa de educação ambiental do Comitesinos também inspirou muitas ações locais, como o concurso Quinzena dos Rios, desenvolvido de 2009 a 2012.
Entre os trabalhos, Santos destaca o Coletivo Jovem do Rio Grande do Sul, que se juntou ao Dourado, com sede no Espaço Socioambiental, da localidade de Poço Fundo. Esse grupo assumiu a função de multiplicar a forma de análise de qualidade da água por meio de macroinvertebrados e apoiou financeiramente fóruns de Educação Ambiental no município. Os grupos do Com-Vidas - Comissão de Qualidade de Vida nas Escolas também teve o apoio da forma de trabalho do Projeto Dourado para a realização de diagnósticos e análise das condições ambientais da escola e da comunidade escolar. São trabalhos integrados com foco na sustentabilidade da biota do Sinos. 63
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Escolas polo - SAPIRANGA
Duas fases do mesmo projeto A
Celebração das Águas é considerada uma das principais ações agregadoras da comunidade de Sapiranga ao Projeto Dourado. O ritual consolidou-se em 2009 como o maior evento aberto do projeto por mobilizar a população do município, além de representações das escolas e religiosos. A ação que começa com a coleta de água para análise, bênção e devolução ao rio teve sua primeira edição em 2008, marcando a retomada do programa suspenso em 2004. Assim, a trajetória visando a uma Educação Ambiental de qualidade com foco na preservação da Bacia do Rio dos Sinos no município pode ser dividida em duas fases. A primeira começou em 1998 na EMEF Dr. Décio Gomes Pereira, com coordenação do professor Maurício Moreira Rosa. Foi o educador que incluiu na rotina dos estudantes da instituição de ensino as nove ações iniciais do Dourado. A segunda fase veio depois da pausa 66
de quatro anos, em uma iniciativa da professora Andréa Diana Oberherr hoje diretora de Meio Ambiente, com incentivo, na época, da então diretora Liane Reichert Klein.. Em 2015, sete anos após o retorno e contando os dois anos iniciais, já são cerca de 8 mil pessoas envolvidas diretamente. A reativação do programa de educação ambiental foi marcada pela capacitação dos multiplicadores, a maioria professores municipais. E a primeira ação da nova fase do projeto deixou raízes profundas nos participantes. Os educadores que ainda atuam na rede municipal continuam incluindo educação ambiental em seu trabalho em sala de aula, além de multiplicarem os conhecimentos e estarem atentos às questões ambientais do município. Cátia Beatriz Appolo, que assumiu a coordenação do projeto em 2013, foi uma das participantes do curso em 2008 e reconhece o aprendizado como um importante impul-
A Celebração das Águas é uma das principais ações agregadoras da comunidade sapiranguense (acima, à esquerda)...
sionador da sua trajetória profissional. “Meu foco é auxiliar no processo de formação de multiplicadores dos conhecimentos necessários para a atuação efetiva em prol do resgate e conservação”, observa Cátia. O trabalho segue com capacitações, oficinas, palestras, saídas de campo com os alunos e professores, levantamentos e exposições. Além da Celebração das Águas, o plantio de mudas em via pública em apoio ao VerdeSinos tem encontrado grande aceitação dos moradores do município, sensibilizados pela causa de garantir a preservação do meio ambiente. Esse grupo adulto, formado basicamente por professores, é o responsável pelos projetos ambientais nas suas respectivas escolas. Já o grupo mirim participa dos projetos desenvolvidos no próprio Centro Municipal de Estudos Ambientais (CEMEAM), polo do Dourado em Sapiranga.
Fotos: Arquivo escolas
... que é um motivador a mais para todas as outras ações pelo Rio dos Sinos
Recursos hídricos na pauta local
Coleta de sementes para reflorestamento
O Peixe Dourado chegou a Sapiranga em duas fases, sempre impulsionado pela crença de seus coordenadores na excelência do projeto idealizado pelo Comitesinos. Outros trabalhos voltados à educação ambiental e, consequente preservação dos ecossistemas da bacia do Rio dos Sinos, vieram orientados pela instituição. Os integrantes do Polo de Sapiranga participam, além do Verde Sinos, do Conhecendo e Divulgando as Águas e Banhados do Meu Município, que inspirou o projeto local de capacitação de professores em recursos hídricos. A iniciativa municipal teve o propósito de levar
ao conhecimento da população informações sobre a malha hídrica e áreas de banhados existentes no território de Sapiranga. O primeiro curso ocorreu em março de 2012 e certificou 30 pessoas, após aulas teóricas, práticas e saídas de campo dentro e fora da cidade. Nesses oito anos da segunda fase do Dourado, projetos foram criados, ações desenvolvidas, muitas pessoas passaram e muitas ficaram ligadas ao Dourado por sua força motivadora e criadora. Destaca-se o apoio da administração pública municipal e dos profissionais que fizeram e fazem parte dos 10 anos de trabalho do CEMEAM. 67
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Escolas polo - CAMPO BOM
Ações que se multiplicam Conhecendo a biodiversidade
“O
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lha o Dourado que bateu no espinhel...”. A Cantiga do Rio e Remo ainda emociona a professora Margarida Telles da Cruz, coordenadora do Projeto Dourado, em Campo Bom. A música de Apparicio Silva Rillo e José Gonzaga Lewis Bicca acompanhou o desfile cívico da EMEF 25 de Julho, no ano de 2002. O projeto, no município, iniciou-se em julho e, em setembro, professores usando a camiseta da iniciativa e alunos vestidos de peixes, representando a piracema, levaram um barco para a Avenida Brasil. “Foi emocionante.” Muitos outros eventos vieram e reuniram centenas de pessoas, mostrando que o projeto ultrapassava os muros da escola. “Aos poucos fui me dando conta que era uma ação que chamava a atenção de todas as pessoas”, conta Margarida. Assim, o Peixe Dourado abriu caminhos para muitas conquistas em Campo Bom.
Os outros projetos desenvolvidos na escola estão de certa forma ligados a esse “cordão umbilical”. Manter um ecossistema vivo e garantir a qualidade de vida das gerações futuras é multidisciplinar. Uma caminhada iniciada há 13 anos e que em 2013 já somava aproximadamente 40 mil alunos envolvidos. Cada curva do Rio dos Sinos conta um pouco da história das conquistas desses estudantes, que fazem a Educação Ambiental acontecer, alçando voos muito além da bacia Sinos e divulgando ações simples, mas sustentáveis. Crianças a partir dos 3 anos de idade até jovens do Ensino Médio são parte ativa do processo, que acaba envolvendo toda a comunidade, como o Mutirão de Limpeza do Rio dos Sinos, em parceria com a coordenação de Novo Hamburgo, e do Arroio Schmidt, com o auxílio de empresa local. As ações contemplam ainda pedágio de distribuição de fôl-
deres e mudas, plantio, e participação nas festas municipais, como a do Sapato e a da Vida. A paixão despertada pela causa levou a outros dois grandes projetos: Conhecendo os Banhados e o Eco Web. O primeiro tem a proposta de sensibilizar estudantes sobre a importância dos banhados para manter o ecossistema saudável. O lúdico faz parte das ações, incluindo montagem do esquete Banhado em Perigo, 2007, e participação no programa Patrola (RBS-TV, em 2009), na matéria Do Lixo ao Luxo. Depois, em 2010, alunos e monitores gravaram o filme institucional do BNDES Faces do Desenvolvimento – Cooperativa de Limpeza Urbana. Já o Eco Web alia tecnologia de informação e comunicação à sustentabilidade. O projeto envolve alunos com dificuldades de aprendizagem e portadores de necessidades educativas especiais, que usam a tecnologia no aprendizado sobre o ecossistema.
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Monitoramento de impactos ambientais Um banhado em perigo - teatro para aprender e ensinar
Fotos: Arquivo escolas
Tecnologias facilitando o aprendizado em ações reconhecidas até no exterior
Prêmios para quem fez mais que a lição de casa As duas ações locais, “filhas” do Projeto Dourado, já contam com um respeitável portfólio de prêmios, inclusive fora do País. O Conhecendo os Banhados levou os prêmios Dpaschoal – Programa Reciclando numa Boa (2006) e Prêmio Ford de Conservação Ambiental, na categoria Prêmio Meio Ambiente nas Escolas (2008). Em 2010, veio o Prêmio ANA (da Agencia Nacional das Águas) na categoria Ensino. Dois anos depois, a OMO/ Unilever reconheceu a EMEF 25 de Julho pelas Boas Práticas do Brincar e Aprender pela Experiência, na categoria Aqui se Aprende pela Experiência. Já o Projeto Eco Web foi reconhecido internacionalmente, com o prêmio internacional Microsoft-Brasil 2012, entregue na República Tcheca. O trabalho conquistou o 1.º Lugar na Categoria Inovação em Comunidade e 2.º Lugar na Categoria Aprendizagem Além da Sala de Aula, único premiado da América Latina. Em 2013, foi finalista no mesmo Prêmio, em Barcelona. O Eco Web arrematou ainda o prêmio Novas Formas de Aprender e Empreender, na categoria Inovar na escola, do Instituto Claro (2011) e o Prêmio Professores do Brasil, na categoria Educação Digital Articulada ao Currículo (2013). Em 2014, o Eco Web ainda venceu o Circuito de onde vem e para onde vão as coisas, da rede Edukatu (da ONG Instituto Akatu, de São Paulo/SP). 71
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Escolas polo - NOVO HAMBURGO
A reconciliação da comunidade com seu rio U
Fotos: Arquivo escolas
m menino pescava com o avô em um rio limpo, até que em vez de um enorme peixe traz, no anzol, lixo. O argumento é da peça de teatro apresentada pelos alunos da EMEF Profa. Helena Canho Sampaio na abertura do Projeto Peixe Dourado, em Novo Hamburgo, no ano de 2001. Desde então, a luta pela preservação da biota do Rio dos Sinos iniciada sob a coordenação da professora Jandira Gehner já envolveu mais de 20 mil pessoas diretamente. Inicialmente, compreendia alunos da 4.ª e 5.ª série. Em 2014, o projeto estendeu-se à educação infantil (4 anos). Atualmente, mais seis escolas, sendo duas estaduais, atuam como multiplicadoras. São 14 anos de projeto que garantiu, entre outros avanços quando se fala em preservação do meio ambiente, a reconciliação da comunidade do Loteamento Integração com o rio. O Peixe Dourado conseguiu transmutar a realidade de conflito com o meio ambiente em respeito. “O meu desejo é que meus alunos tenham qualidade de vida”, conta a professora bióloga Márcia Rocha Souza, que assumiu a coordenação do projeto em 2014 e deu continuidade à missão de fazer com que os estudantes entendessem o processo de formação do bairro. Essa foi a forma encontrada para despertar o sentimento de pertencimento e preservação do Sinos nesse grupo massacrado por suas águas. Para 74
isso, foi a campo mostrar os animais da mata ciliar, as árvores nativas, as plantas não convencionais. “Assim, consegui despertar nos estudantes o carinho pelo ambiente onde vivem.” Muitas outras ações fazem parte do trabalho de sensibilização do Dourado no incansável movimento para garantir um rio saudável às futuras gerações. Momentos inesquecíveis não faltam à memória de quem acompanha essa trajetória. Entre eles, na fase inicial do projeto, a recepção de aproximadamente 500 pessoas, uma representação de cada município do Dourado, na escola. Momento de celebração com romaria até o Balneário da Figueira, com culto ecumênico e participação do músico Mauro Harff. Outras celebrações envolvendo toda a comunidade ficaram na memória afetiva de quem vivenciou de perto o dia a dia do projeto. A Romaria das Águas, em 2002, reuniu os moradores que colocaram a imagem de Nossa Senhora Aparecida em um barco. Em 2010, destaque para a celebração no Sítio dos Melo, em Lomba Grande, na localidade de São Jacó, marcando o lançamento do VerdeSinos, com foco na recuperação da mata ciliar. Mais um dia de festa e celebração pelas conquistas, com o encontro das escolas multiplicadoras, parceiros do Verde Sinos, secretarias municipais, representantes do Comitesinos e instituições religiosas.
Mais de 20 mil pessoas já foram envolvidas na defesa do ecossistema do Rio dos Sinos no município
A força mobilizadora do comprometimento O Projeto Dourado em Novo Hamburgo tem sua força no comprometimento das coordenadoras, que acreditam na importância de preservar o meio ambiente. Jandira Gehner, depois Flávia Rosecler Nerbas, Inês Mauri, Simone Gomes e, atualmente, Márcia Rocha multiplicaram conhecimento e chamaram a comunidade a participar. Muitos mutirões envolvendo a Defesa Civil, secretarias do Meio Ambiente e da Educação, escoteiros e a própria comunidade do Loteamento Integração foram desenvolvidos ao longo desses 14 anos do projeto, dez deles tendo Jandira à frente. Entre as ações que envolveram todos do entorno da escola está a recuperação da mata ciliar do Balneário da Figueira, Balneário Vitor Mateus Teixeira e Arroio da Manteiga, na Vila das Flores. A importância da separação dos resíduos também entrou no rol de ações do projeto. Os estudantes confeccionaram adesivos e colocaram em baldinhos para entregar aos moradores. O polo de Novo Hamburgo também participou de outros projetos ligados ao Comitesinos, como “Melhoria de Qualidade de Vida”, Monalisa e VerdeSinos. Ainda atuou em mutirões de limpeza do Rio dos Sinos em Novo Hamburgo, Nova Santa Rita, Esteio, Igrejinha e Parobé. “Um trabalho que vai além das ações, favorece o conhecimento de atitudes importantes para a conservação dos recursos naturais”, observa Márcia.
Aprendizado de moblização por ações práticas em Novo Hamburgo abrange alunos desde a Educação Infantil 75
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Escolas polo - ESTÂNCIA VELHA
A força de uma grande aventura E
m Estância Velha, o Projeto Dourado foi muito além da sensibilização ambiental: aproximou as pessoas, deixou pais orgulhosos dos filhos e extrapolou as amarras do verbal, resultando em abraços calorosos há muito esquecidos. “Um aluno contou que sua mãe se preparou no trabalho para ouvi-lo na Rádio Estância e se emocionou orgulhosa”, relatou a professora Karen Ost, primeira coordenadora do projeto no município, ao mensurar um dos resultados do trabalho de divulgação do programa de Educação Ambiental na emissora local. Em 2001, ao aceitar coordenar o projeto, a professora de Ciências confessa que não sabia o quanto essa decisão abriria caminhos e transformaria a sua vida, a sua visão de mundo e a diferença que faria na vida de outras pessoas. A EMEF Selvino Ritter foi a escolhida para ser o polo do projeto, que começou a ser desenvolvido no município em 2002. As saídas de campo proporcionaram aventura e traziam para perto dos estudantes a tela pintada pela natureza. Um dia de sol era o sinal para a turma percorrer trilhas pelos arroios, desbravar a reserva florestal do município e morros ainda com a vegetação original. “Conhecemos o Rio dos Sinos, da nascente em Caraá à foz no Delta do Jacuí”, lembra Karen. Depois de 11 anos à frente do projeto, a ex-coordenadora passou o bastão para a professora Gilceane Nunes Marmitt, que entrou 78
2014 com a mesma ideia que sempre acompanhou todos os trabalhos desenvolvidos: “só se preserva o que se conhece”. Conhecer, reconhecer, sensibilizar, pesquisar e compreender as relações entre os elementos que compõem o meio ambiente continuam objetivos presentes no planejamento das ações.
MAPA No histórico do Dourado em Estância, estão momentos que resultaram no mapa dos arroios do município. A pesquisa se iniciou em 2005 e a repercussão foi tão grande na comunidade que os participantes do projeto foram convidados a apresentar o trabalho no Seminário de Educação de 2006, de Estância Velha. Outras ações envolvendo a comunidade chamaram a atenção para a necessidade de preservar o rio. Em uma delas, a Rádio Estância foi parceira, abrindo espaço para estudantes de todas as escolas deixarem mensagens sobre questões ambientais. A prefeitura ajudou na divulgação do projeto em outras escolas de Ensino Fundamental, Educação Infantil e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Portas foram abertas e o grupo foi conhecer uma estação de tratamento de água e outra de efluentes. Um trabalho que envolveu diretamente crianças e adolescentes com idades entre 4 e 14 anos de idade. Desses muitos seguem no projeto como multiplicadores dos ensinamentos do Dourado.
m da é l a o t Mui ização l i b i s sen tal , o n e i b am deixou o d a r Dou sos de o h l u g pais or lhos seus fi
Fotos: Arquivo escolas
Como em toda a região, os alunos do Dourado em Estância Velha são uma grande força mobilizadora para outros projetos de preservação e recuperação ambiental (imagens maiores)
É possível transformar atitudes Professores foram tiveram capacitação sobre os arroios do município (acima), para poderem levar os alunos a campo (abaixo)
Para Karen Ost, o segredo do Dourado é “acreditar que é possível sensibilizar pessoas e transformar suas atitudes”. A proposta do Projeto Dourado entusiasmou a comunidade. O empenho foi reconhecido. Em 2007, o grupo conquistou o segundo lugar no Projeto O Rio dos Sinos É Nosso, do Grupo Editorial Sinos. A disputa envolveu 86 escolas da Bacia do Sinos e o trabalho estanciense chegou ao Fórum Internacional de Educação Ambiental, no Rio de Janeiro. “E fomos painelistas!”, exclama Karen, em puro entusiasmo. Mas os prêmios maiores foram para a comunidade, que pôde ver a beleza do relógio do corpo humano e degustar um chá e tem-
perar o almoço com a marca Dourado e descobriu a importância de cuidar do lugar onde se vive. Criou-se até um grupo de estudo semanal. Hoje, 14 anos depois, todos as escolas municipais, da Educação Infantil a Ensino Fundamental, são atingidas diretamente pelo projeto, que neste 2014 passou a ser desenvolvido no Centro Municipal de Educação Ambiental Estação Ecologia. É nesse espaço que ocorrem oficinas diversificadas, como cozinha sustentável, reaproveitamento de resíduos sólidos, bem como se parte para as trilhas quem continuam levando crianças e adultos mais para perto de suas próprias águas e de sua consciência ambiental. 79
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Escolas polo - PORTÃO
Uma nova frente na educação Fotos: Arquivo escolas
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Projeto Dourado passou a integrar a realidade de Portão em 2013, abrindo uma nova frente em relação à Educação Ambiental. O trabalho coordenado pela pedagoga Marisa Braga já vem descortinando uma nova consciência em relação à natureza e seus ecossistemas. “Os alunos começaram a olhar o Arroio Portão com mais carinho”, conta a especialista em Gestão e Educação Ambiental. Os estudantes passaram a perceber que na margem do curso d´água há vida silvestre importante e que precisa de uma vegetação de qualidade. As saídas a campo são um motivador para os estudantes do 3.º ao 9.º ano do Ensino Fundamental. Nesses passeios, crianças e adolescentes têm a oportunidade de conhecer arroios, o rio, vegetação, podem comparar realidades e tirar suas próprias conclusões. A proposta educativa foi colocada em prática em 2013, com a primeira 82
coleta de água do Arroio Portão feita pelos alunos, com orientação do Conselho Municipal de Meio Ambiente, parceiro do projeto. Uma amostra de água foi levada a cada uma das escolas do município e colocadas em um local de boa visibilidade para a comunidade escolar refletir sobre sua importância. Daí, o trabalho iniciado em campo resultou em atividades na sala de aula sobre o tema água. A coleta de água surpreendeu os jovens monitores, principalmente quanto à diferença visível da qualidade da água do Arroio Portão, entre o aspecto límpido na nascente próxima ao morro em Estância Velha e a poluição com a qual passa pela cidade. Outra surpresa: o Arroio Preto, como é chamado pela população, tem água quase transparente, contrariando o aspecto de turbidez densa, às vezes escura visto, a partir das margens. A iniciativa local rendeu aos alunos envolvidos com o projeto, jun-
tamente com o Coletivo Educador Ambiental de Portão, um convite para participar da Celebração das Águas na EMEF Selvino Ritter, em Estância Velha. A adesão de Portão ao Projeto Dourado levou todas as escolas da rede de educação municipal a iniciarem atividades na sala de aula, mas com extensão na comunidade do entorno da escola. No primeiro ano de ações foram envolvidos diretamente 70 estudantes, pelo menos oito professores, incluindo supervisor escolar e diretor de escola, e 30 pessoas da comunidade. O Dourado em Portão reforça a importância do projeto ao replicar conhecimentos a partir de ações visando a preservar a Bacia Hidrográfica do Sinos. Um trabalho ainda no começo, mas que já resultou em saídas de conhecimento na mata local e trabalhos apresentados em feiras de ciências do município.
Lições para aprender e compartilhar Aprender e compartilhar conhecimento fazem parte das ações desenvolvidas pelo Projeto Dourado em Portão. As professoras e representantes da comunidade participam mensalmente do Coletivo Educador Ambiental do município. Voltado à formação em Educação Ambiental, o Coletivo promove saídas de conhecimento e encontros de formação, que resultam em atividades com os alunos. Os estudantes participam das ações e continuam o trabalho em sala de aula, colocando a criatividade à prova. O que pôde ser conferido na Feira de Ciências do município de 2014, que contou com trabalhos com cunho ambiental. Alunos da EMEF Visconde de Mauá apresentaram estudos sobre os agentes poluidores da água na comunidade do entorno da EMEF. Visconde de Mauá. Este projeto foi classificado em 7º lugar nas Séries Finais entre todos
os concorrentes da América Latina na Mostratec 2014 Prêmio ABRIC - Associação Brasileira de Incentivo a Ciência - de Destaque em Iniciação cientifica. Estudantes da EMEF Vila Souza trabalharam A água que bebemos; e da EMEF Gonçalves Dias, Qualidade dos mananciais de água e sua influência na cobertura vegetal. O alerta veio da EMEF Vila São Jorge com Fique esperto! Preserve a água. Embora ainda inicial em Portão, o Dourado vem mobilizando a comunidade e os estudantes, que atuam no contraturno da escola. Chamados de monitores ecológicos, eles replicam as informações para a comunidade e para seus colegas de turma. Caso da turma do Dourado/Semeando da EMEF Antônio José de Fraga, cujas ações dos 23 monitores abrangem 300 alunos, 15 professores e 12 famílias - o que implica indiretamente 2 mil pessoas da comunidade.
Em apenas um ano de atividades no município, o Dourado já havia levado mais de uma centena de estudantes, professores e pessoas da comunidade para perto de suas águas
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Escolas polo - SÃO LEOPOLDO
A semente que volta a germinar
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Fotos: Arquivo escolas
Retorno: Projeto voltou à ativa em 2014, a partir da EMEF Santa Marta
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ma caminhada iniciada em 1989, com ações locais ocorrendo em paralelo com a movimentação do Comitesinos para consolidar a Educação Ambiental na região, levou à implantação do Projeto Peixe Dourado em São Leopoldo no ano de 2002. Trabalho que começou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Castor Alves, no bairro Vicentina, e acabou interrompido em 2004. Mas, foi retomado em 2014, tendo como polo a EMEF Santa Marta, no bairro Arroio da Manteiga. A iniciativa agora envolve alunos do 3º ao 9º anos, que passaram a atuar como multiplicadores, levando os conhecimentos adquiridos dentro da escola para a comunidade. Já se vão 13 anos desde que as 86
professoras Carla Filustek e Niandra Generoso deram início à trajetória do Dourado em São Leopoldo. Seguindo a proposta do Projeto, as duas educadoras iniciaram o trabalho com estudantes já com os olhos para fora da sala de aula, para disseminar o conhecimento para a comunidade. Chegou a haver um grande envolvimento dos alunos, com atividades lúdicas e saídas a campo para entenderem melhor a dinâmica das questões voltadas à sustentabilidade da Bacia do Rio dos Sinos. A ideia agora é retomar esse fôlego aproveitando o embalo do projeto Água Viva, que a prefeitura havia iniciado em 2013, na Escola Santa Marta. Segundo a professora Márcia Silvana Zimmer Scherer, que em 2014 coordenava o Núcleo Gestor de
Políticas da Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação (Smed), o Dourado retornou no momento em que a escola segue preparando uma ação global. O projeto Água Viva tem como objetivo reduzir os impactos da poluição no Loteamento Tancredo Neves e Vila Santa Marta, no bairro Arroio da Manteiga, e já apresenta alguns resultados positivos. Esse trabalho faz parte das ações junto à comunidade para mediação de conflitos na escola e da formação da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida. A partir de 2014, com o Dourado, a Santa Marta começou a intensificar as atividades de preservação das águas. Proposta que chegou a ter a coordenação da professora Sandra Grohe, até o final de 2014.
Memória: dois anos de intensas atividades no início dos anos 2000 deixaram marcas profundas o suficiente para inspirar o retorno dos trabalhos uma década depois
Antiga escola polo segue engajada Apesar da retomada do Dourado em São Leopoldo ter tido a mudança de polo para a EMEF Santa Marta, o jejum de 10 anos do projeto no município não secou a semente plantada na Castro Alves. A escola do bairro Vicentina continua engajada na proposta de Educação Ambiental focada nos recursos hídricos. Os professores trabalham questões ambientais por meio do Capileco, projeto desenvolvido pelo Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), que enfatiza o consumo sustentável da água. Conforme Márcia Silvana Zimmer Scherer, na verdade, o município possui um bom caldo de cultura para ações de Educação Ambiental. Desde o final
da década de 1980, o município vem criando espaços para projetos e propostas para integrar o currículo das escolas. Foi assim que, em 1994, nasceram as Hortas Escolares, desenvolvidas com o apoio dos clubes de serviços e Escola Agrícola. E, em 1996, mais dois projetos passaram a integrar o currículo da educação básica. A proposta pedagógica Valorizando as Expressões da Vida na Escola e o Projeto Conhecer e Preservar Arroios e Banhados, envolvendo escolas próximas a esses ecossistemas, mobilizando vários parceiros, como a União Protetora do Ambiente Natural (Upan), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Patrulha Ambiental (Patram). 87
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Escolas polo - SAPUCAIA DO SUL
Nos rituais, um chamado ao coração Sapucaia do Sul aderiu ao Dourado em 2002, tendo à frente a professora Maria Elisa Kayser, com sede na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Primo Vacchi, no bairro São Jorge. O trabalho era desenvolvido com um grupo de alunos no contraturno escolar e que multiplicava os conhecimentos para os demais estudantes da escola. Em 2008, o projeto começou a ser desenvolvido na Escola de Educação Ambiental, junto ao Aterro Sanitário Municipal, no bairro Novo Horizonte, com coordenação da professora Loreni Aparecida dos Santos. Em 13 anos de trabalho, já foram envolvidos mais de 16 mil alunos, entre Educação Infantil, séries iniciais, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Técnico, professores e pessoas da comunidade. Na Escola de Educação Ambiental, passaram a ser atendidos alunos de todas as escolas do município, inclusive de empresas, clubes de mães. A programação compreendia palestras, oficinas e trilhas ecológicas, com o objetivo de mostrar a importância dos banhados, mata ciliar e efeito de borda – o microclima que a mata propicia. A fonte de estudo era o Arroio Roncador, que apesar de pequeno desempenha um papel muito importante para mostrar a importân90
cia dos ecossistemas da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Hoje, o espaço abriga a Cooperativa de Sapucaia do Sul, a Cooprevive, e é usado como apoio para as práticas do Dourado, visando à sustentabilidade do meio ambiente. As atividades teóricas e de gerenciamento do projeto foram transferidas para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Sapucaia do Sul (Semmas). O Dourado conta ainda com uma sala chamada Espaço Ciência e Natureza, na Faculdade Equipe (FAE). A unidade tem material para estudar Zoologia, Botânica e Geologia. Nesses sete anos à frente do Dourado, Loreni percebeu que a ação com maior poder agregador do Projeto Dourado em Sapucaia do Sul é a Celebração das Águas. É um desses momentos em que a comunidade é chamada a ouvir e a entender a importância de manter o rio e, consequentemente, seus ecossistemas saudáveis. E o crescimento desse movimento pela sustentabilidade da bacia a entusiasma. Conforme a professora, em 2008 apenas a Igreja Católica participou da Celebração das Águas. “Na edição de 2013, já havíamos conseguido a adesão de representantes de diferentes religiões”, lembra, ressaltando que a cada ano o movimento cresce.
Em 13 anos d e trabalh o, já fo ram envolv idos 1 6 mil al unos, da Educa ção Inf antil ao Ens ino Té cnico
Fotos: Arquivo escolas
Celebração das Águas (acima) é hoje a atividade de maior poder agregador do Dourado no município, que também teve um salto com a formação de multiplicadores em Educação Ambiental (direita)
Atividades no redemoinho do Dourado Em 2008, a pedagoga Loreni Aparecida dos Santos não sabia que mudaria sua vida ao pedir a transferência para a Escola de Educação Ambiental. Sem conhecimento em Biologia, de repente era a coordenadora do Projeto Dourado de Sapucaia do Sul. O primeiro passo foi participar do Curso de Formação de Multiplicadores oferecido pelo Comitesinos. Confessa que apesar das dificuldades, gostou muito e não parou mais de ler sobre peixes e todo o ecossistema aquático e
suas correlações. Em seguida veio o aprendizado sobre biomonitoramento, mais um momento marcante em sua trajetória. “Percebi, naquele momento, que seria prazeroso trabalhar com o sistema aquático.” E essa força trazida pelo Dourado inspirou projetos locais voltados à Educação Ambiental. Um deles foi o Curso de Formação de Professores teve uma única edição em 2009 e em 2010 retornou como atividade mensal oferecida aos professores da rede pública
municipal e estadual de educação. Envolvidos com o Dourado também participam do Coletivo Educador, do Pró-Sinos, no que se refere à formação de professores. Loreni também é coordenadora da Educação Ambiental nas obras de drenagem do Arroio José Joaquim do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O arroio e seus afluentes - Córrego das Lages, Córrego da Palmeira e Arroio São Jorge, formam a microbacia de Sapucaia do Sul, banhando 14 bairros. 91
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Escolas polo - ESTEIO
Fotos: Arquivo escolas
Só se ama aquilo que se conhece U
ma roda de chimarrão resgata um passado em que as mulheres lavavam roupa na sanga, enquanto as crianças brincavam com espigas de milho dentro de cestos de palha. Histórias como a ouvida durante um passeio à nascente do Rio dos Sinos em Caraá motivam a professora Iara Maria Costa Pacheco, coordenadora do Projeto Dourado em Esteio. “O que eu consigo fazer a partir dessas histórias me garantem os passos adiante à preservação e aos cuidados com o meio ambiente.” A EMEF Alberto Pasqualini foi selecionada em 2001 como polo do projeto no município. A localização entre dois arroios – o Esteio e o Sapucaia – faziam da escola o espaço adequado para trabalhar, junto à comunidade, mudanças de comportamento dentro do Projeto Práticas Inclusivas de Educação Ambiental. Uma população assolada pelas constantes enchentes acabou envolvida em um tra94
balho de sensibilização em busca da preservação da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Sementes gestadas, por Iara, na emoção de cada passeio em que a realidade das crianças lhe era apresentada sem rodeios. Conta que em uma Romaria das Águas, no Guaíba, os alunos lhe perguntaram: – Professora aquilo é o mar? “A partir dali segui a linha de Leonardo Boff, que diz ‘Só se ama aquilo que se conhece’. Então, vamos embora conhecer tudo.” Assim foi. Trilhas ecológicas com estudantes das escolas da rede municipal de educação passaram a integrar o calendário de atividades semanais. Saída às nascentes do Rio dos Sinos, ao Guaíba e, finalmente, à praia de Tramandaí compuseram o programa que envolveu cerca de 9.800 pessoas, incluindo a comunidade do entorno da escola. “Quando uma ação tinha começo, meio e fim, a população era chamada a participar.”
Ao longo desses 14 anos de Dourado foram envolvidas 23 escolas da rede municipal de educação, 11 particulares e nove estaduais, contemplando estudantes de todas as séries e de todos os bairros. Todos orientados por um professor referência. Muitas outras atividades entraram para o portfólio do projeto em Esteio, como Curso de Monitores Ecológicos, Agenda 21, visitas à estação de tratamento de efluentes e de água, cursos de agentes ambientais e Seminário Água para a Vida (2.ª edição). Mas o que mais mobilizou o grupo foi a participação na Expointer com a apresentação das Práticas de Educação Ambiental e dos projetos do Comitesinos – VerdeSinos, Dourado, Monalisa e Conhecendo e Divulgando as águas e banhados do meu município. Momento que reuniu mais de 170 municípios e a cada ano mais pessoas envolvidas.
As diversas atividades do Dourado em Esteio no decorrer dos anos têm levado estudantes da nascente à foz do Rio dos Sinos (acima), para daí aprenderem a juntar forças pelo meio ambiente (ao lado e abaixo)
O embrião de diversas iniciativas
O Projeto Peixe Dourado foi o embrião para muitos outros projetos locais dedicados à educação ambiental em Esteio. O grupo coordenado pela professora Iara Maria Costa Pacheco participou de outros projetos idealizados pelo Comitesinos, como o Conhecendo e Divulgando os Arroios e Banhados de seu Município, Monalisa e VerdeSinos. E os conhecimentos adquiridos foram repassados a programas desenvolvidos em âmbito municipal. Os participantes do Dourado são referência nas questões ambientais. Eles auxiliam no desenvolvimento de projetos das secretarias de Trânsito, Meio Ambiente, Educação e Esportes. Também atuam junto aos grupos de escoteiros e nas pastorais da igreja católica, participando da Romaria das Águas. Inclusive divulgam o trabalho nos cursos de graduação, como Biologia, Pedagogia e Técnico em Meio Ambiente. O respeito veio com os 14 anos dedicados à conservação da biota do Rio dos Sinos. A professora Iara entende que sua participação nesses anos de projeto pode ser mensurada pelo aprendizado transferido e efetivado pelo comprometimento das pessoas que passaram pelos seus ensinamentos. O seu exemplo à frente do projeto está visível no comportamento das pessoas, que para ela é sempre uma grata surpresa. 95
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Escolas polo - CANOAS
Sementes plantadas nos corações Q
uando o aluno chegou na sala e perguntou: “Professora do Peixe, quando a senhora vai voltar?”, Maria Helena Carriço Canto, coordenadora do Projeto Peixe Dourado em Canoas, de 2004 a 2012, soube que havia plantado uma boa semente. Depois de quatro anos afastada da escola, o menino lembrava o que ela ensinava. Maria Helena assumiu a coordenação das ações de Educação Ambiental propostas pelo Comitesinos já na época da Celebração das Águas. O despertar sobre a responsabilidade de educadora para com o meio ambiente veio com as palavras do irmão no culto no Colégio La Salle. Muitas outras oportunidades comprovaram que o Dourado despertou a comunidade para a necessidade de preservar a biota da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Canoas aderiu ao projeto em 2002, com a professora Iara Dahan (hoje falecida) coordenando as ações que tiveram
como sede inicial a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Carlos Drummond de Andrade, no bairro Guajuviras. Em 2009, Maria Helena começou a formar um novo grupo de trabalho reunindo estudantes das demais escolas parceiras. Tudo isso resultou em pelo menos 15 mil pessoas envolvidas diretamente no trabalho de preservação do Sinos nesses 13 anos do Dourado. Crianças e adolescentes passaram a conhecer a realidade ambiental do município a partir do documentário Conhecendo o Rio dos Sinos, produzido pelo Comitesinos, e saídas de campo para ter contato com o ecossistema da bacia hidrográfica. Os passeios incluíam visita guiada aos arroios, como o Araçá, Guajuviras, Brigadeira e Sapucaia. No Arroio Araçá, inclusive, foram registrados os pontos de descarte de lixo. Se para os estudantes as saídas de descobrimento eram uma aventu-
Crianças e adolescentes passaram a conhecer a realidade ambiental do município em saídas de campo 98
ra, para Maria Helena as ações mais marcantes tinham a ver com o compartilhamento dessa realidade. Uma das atividades do grupo era levar a água da nascente a instituições pré-agendadas. Conta que a acolhida nas escolas era sempre gratificante. O professor responsável pela turma fazia a apresentação do projeto e dos monitores. Uma lembrança emocionante vem da EMEF Arthur Oscar Jochims. Após a apresentação, as crianças cantaram saudando o Dourado e deixando a certeza de que o recado havia sido dado. Dinâmicas de sensibilização, palestras, oficinas, caminhadas, apresentação de teatro, cursos, inclusive de agricultura urbana, capacitaram monitores ecológicos e professores e mobilizaram a comunidade para avançar no trabalho de educação ambiental. Um trabalho que já soma 12 anos mudando a relação da população com o rio.
Caraá , Visita ao Rio dos Sinos em scente município onde está sua na
colas
Fotos: Arquivo es
A Celebração das Águas (topo) e oficinas de monitoramentos ambiental (acima) são algumas das atividades que têm enriquecido o aprendizado dos pequenos, tanto em sala de aula (direita) quanto em atividades ao ar livre (abaixo)
Turma inspiradora
Coordenadores, monitores e multiplicadores motivaram mais professores e membros da comunidade a aderirem ao Projeto Dourado. Maria Helena Carriço Canto, que comandou as ações no município por oito anos, conta que uma colega que fez pós-graduação em Educação Ambiental sempre dizia ser ela sua “musa inspiradora”. E o elogio rendeu uma parceria com a escola onde ela atuava, a EMEF Walter Perachi Barcellos. Com isso, seus alunos fizeram várias saídas a campo orientadas pelo Dourado e foram contemplados com palestras na Corsan. Assim como inspirou a adesão de mais escolas, o Dourado também estimulou a criação de projetos voltados à educação ambiental pelo município. A Semana do Meio Ambiente, em uma parceria com a Petrobras, passou a contar com três projetos: Conhecendo o rio que nos abastece, Caminho do lixo e Conhecendo os arroios do município. De todos os trabalhos desenvolvidos, palestras assistidas, Maria Helena guarda na lembrança a importância do Dourado ao alertar para a responsabilidade com o meio ambiente, principalmente arroios e rios. “Aprendi muito nessa caminhada”, reforça Maria Helena, lembrando das muitas atividades prazerosa, como a montagem de peças de teatro, desenvolvidas pelo projeto, que, na sua visão, ainda tem muito a resgatar. 99
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