Livro do VerdeSinos

Page 1

Resultados das pesquisas cientĂ­ficas



Uwe Horst Schulz organizador

Projeto

Resultados das pesquisas científicas 1ª Edição

São Leopoldo C5 News-Press 2013


S388p SCHULZ, Uwe Horst(organizador). Projeto VerdeSinos: resultados das pesquisas científicas / Uwe Horst Schulz[et al.]. - São Leopoldo, RS: C5 News-Press, 2013. 88 p.: il. ; color; 23 cm.

ISBN - 978-85-66589-01-6 1.Ecossistema – Bacia do Rio dos Sinos. 2. Fauna – Bacia do Rio dos Sinos. 3. Flora – Bacia do Rio dos Sinos. I. Albrecht, Mariana. II. Becker Júnior, Castor. III. Costa, L. J.. IV. Crossetti, Luciane. V. Fagundes, M. V.. VI. Leal, M. E.. VII. Malabarba, Jaiana. VIII. Maltchik, Leonardo. IX. Mauhs, Julian. X. Moraes, Aline. XI. Moura, R. G.. XII. Nabinger, Viviane. XIII. Oliveira, J. M.. XIV. Peresin, Denise. XV. Pinheiro, Cíntia Cardoso. XVI. Stenert, Cristina. XVII. Viegas, Gustavo. XVIII. Vieira, Marcus Lanner. 1. Título.

CDD: 570 CDU: 57.02

Projeto VerdeSinos Recomposição da Mata Ciliar na Bacia do Rio dos Sinos (Programa Petrobras Ambiental - Seleção Pública 2008)

Entidade patrocinada Fundação Universitária para o Desenvolvimento do Ensino e da Pesquisa - FUNDEPE Nestor Pilz - Presidente Coordenação geral Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS Uwe Horst Schulz Coordenação de Mobilização Social Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos - COMITESINOS Viviane Nabinger Débora Cristina da Silva Gestor do projeto na Petrobras Luiz Flávio Gonçalves de Magalhães

Projeto VerdeSinos - Resultados das pesquisas Científicas Projeto gráfico, edição e diagramação C5 NEWS-PRESS LTDA-ME Castor Becker Júnior jornalista Reg Prof. 8862 - DRT/RS Ilustração Silvana Santos Impressão Gráfica Portão-São Leopoldo/RS TIRAGEM - 1.000 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


Sumário Mobilização Social Biomonitoramento Ecologia de macroinvertebrados aquáticos Efeitos da degradação da mata ciliar sobre a biodiversidade do fitoplâncton na Bacia do Rio dos Sinos Ecologia de Peixes Conversão de ecossistemas (1985-2010) e impacto do desmatamento de florestas ciliares na diversidade de árvores e arbustos na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos Diversidade de rola-bostas (Coleopera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) em florestas ripárias da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, no Sul do Brasil Vegetação da Bacia do Rio dos Sinos

8 18 24 38 48 56 62 72


Introdução Castor Becker Júnior* O Projeto VerdeSinos segue duas características que formam a essência da identidade do Comitesinos1. Uma delas nascida junto com o Comitê de Bacia, nos idos dos anos 80, que é a premissa da mobilização social em tudo o que é feito ou decidido dentro da entidade. Ou seja, nada é discutido sem que a plenária não tenha tido a chance de se aprofundar o máximo possível sobre o assunto, com a tradução de dados técnicos para uma linguagem acessível aos representantes de toda a comunidade, de modo que os debates e as proposições ganhem em consistência de ideias. A outra característica vem a reboque da primeira, mas ganhou corpo a partir do Projeto Peixe Dourado2, em 2001: trata-se da busca constante de se aliar pesquisa científica com ações práticas imediatas. Isso democratizando o mais rápido possível os resultados dos estudos para toda a comunidade da região. O que provocou um imenso salto de qualidade na rede multiplicadora dentro do Programa Permanente de Educação Ambiental (PPEA) da Bacia, mantido pelo Comitesinos. E formou uma massa de onde saiu boa parte dos voluntários envolvidos com o Projeto Monalisa3, que veio em 2004, e que continuaram também no VerdeSinos. O CHAMADO AO VERDESINOS Foi o Projeto Monalisa que deu ao Comitesinos (e, a partir dele, a toda a comunidade da região) os elementos que chamaram à cena o VerdeSinos: depois de mapear mais de 3 mil quilômetros de cursos d´água na região, com a participação direta de cerca de 350 pessoas nas saídas de campo em 23 municípios, ficou claro que a ausência de mata ciliar era o segundo impacto ambiental mais presente na região. E não só se passou a saber o quanto estava faltando, mas onde eram os pontos carentes de vegetação ribeirinha. Porém, a essa altura já se sabia também que o meio ambiente é dinâmico: não adianta retirar uma amostra de água, analisá-la e achar que dali a um tempo aquele ainda vai continuar sendo o retrato do rio. Veio então, em 2007, o Projeto Dourado, que serviu para completar as pesquisas com a espécie bandeira da primeira iniciativa e dar um novo fôlego e novos elementos para os professores e demais multiplicadores das escolas-pólo de Educação Ambiental na região. Desta vez, todos aprenderam a monitorar suas águas a partir de uma equação que considera as espécies de animais encontradas em cada trecho. A qualidade da água passou a ser medida pela quantidade de larvas, insetos e pequenos crustáceos, os chamados macrobentos. Com tanto à mão, o passo seguinte foi iniciar uma estratégia com relação ao problema da mata ciliar, que preservasse um acordo feito com os proprietário rurais da região à época das saídas de campo do Monalisa: que os dados apurados não serviriam para ações de fiscalização. Mais do que isso, que as parcerias para recuperação de áreas ribeirinhas seria apenas pela adesão voluntária dos proprietários. E contrapartida seria o apoio com mudas, material para cercas, apoio técnicos e de voluntários para o plantio.

(*) Jornalista, assessor de imprensa do Comitesinos (1) Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, criado em 17 de março de 1988, pelo Decreto Estadual nº 32.774, alterado pelo Decreto Estadual nº 39.114/98. Foi o primeiro Comitê de Bacia do Brasil, entidade reconhecida como órgão de governo e o parlamento das águas para a comunidade da Bacia, com 40% de suas vagas preenchidas por usuários da água, 40% por representantes da comunidade e 20% por órgãos de governo. (2) O Projeto Peixe Dourado foi um projeto do Comitesinos, em convênio entre a Unisinos e o Ministério do Meio Ambiente, que se iniciou em 2001, envolvendo professores e alunos a partir de 12 escolas-pólo espalhadas pela Bacia do Sinos. A iniciativa aliou pesquisa científica e educação ambiental, a partir de estudos do peixe que lhe emprestou o nome. O projeto teve mais uma etapa entre em 2007 e 2009, dessa vez com o nome de Projeto Dourado. Apesar de terminadas as etapas de patrocínio e pesquisas, as ações de educação ambiental continuam até hoje, com apoio de prefeituras (que mantém as escolas-pólo) e outras entidades da região. (3) Monalisa é a sigla do Projeto Identificação dos Pontos de Impacto da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos - Retirada e Devolução de Água. Também iniciativa do Comitesinos e com recursos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e Unisinos, entre 2004 e 2006 mapeou e descreveu mais de 8 mil pontos de impactos ambientais na Bacia do Sinos.

6


O PILOTO Foi então que o VerdeSinos começou a tomar forma com um projeto piloto montado a partir de 2007. O início dos trabalhos foi um levantamento dos meios existentes na região para o fornecimento de mudas, mourões e arames, quais seriam os possíveis parceiros para uma adesão voluntária e cedência de terreno para recuperação e quais os meios para manter a máquina funcionando. Já com vistas a um programa permanente na região. Aí foram essenciais as participações das prefeituras, sindicatos rurais e da Emater, na indicação e conversações com os primeiros produtores que aceitaram a ideia. Também foi importante a disposição dos centros ambientais para o fornecimento de mudas e, de novo, as turmas do Projeto Dourado, nas primeiras mobilizações. Mas o divisor de águas de tudo foi a parceria, a partir de 2008 do Ministério Público do Estado (MP), através da então recém-criada Rede Ambiental do Rio dos Sinos. Pelo convênio assinado com o Comitesinos, o MP não só direcionaria para as ações de recuperação de mata ciliar os recursos de ações de compensação ambiental, como daria respaldo legal à iniciativa. Isso viabilizou o trabalho junto aos produtores que não precisariam de uma hora para outra recuperar toda a faixa exigida pelo Código Florestal em suas terras – algumas pequenas e com área de produção ou criação de animais consolidada há mais de 100 anos. Tudo pelo entendimento, pelo MP, de que a adesão voluntária e a participação ativa nas ações do VerdeSinos eram indicativos de que a recuperação seria gradativa e chegaria, senão agora, um pouco mais tarde, aos parâmetros exigidos por lei. Em contrapartida, além da mobilização de voluntários, entidades, empresas e produtores para juntar os meios e direcioná-los para onde ocorreriam as ações de reflorestamento, a ação teria também um esforço na busca de alternativas para diminuir os impactos econômicos da recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas propriedades rurais. Sobretudo nas pequenas, que são esmagadora maioria na região. A partir daí se começou a discutir temas como agroflorestas, culturas alternativas e outras saídas experimentadas em outros pontos do Estado. PATROCÍNIO Até que em 2008 a iniciativa foi aprovada em uma seleção pública de projetos do Programa Petrobras Ambiental e ganhou oficialmente o nome de Projeto VerdeSinos. O resultado foi o patrocínio de R$ 1,3 milhão para um cronograma que teve como meta a recuperação e conservação de 330 hectares de mata ciliar na região. Isso consolidando uma rede de recursos que inclui a construção de estufas, fornecimento de ferramentas, treinamento de pessoal e outras frentes. Além do financiamento da pesquisa, com sete estudos científicos, a cargo de 20 pesquisadores, que trabalharam em 12 pontos diferentes em três arroios da Bacia do Sinos: Padilha, Areia e Chuvisqueiro. As pesquisas tiveram foco na diversidade vegetal, peixes, larvas, insetos aquáticos e terrestres e fitoplâncton. Grosso modo, o objetivo foi chegar a uma equação que respondesse até que ponto cada largura de faixa de mata ciliar mantém ou recupera a vida aquática e terrestre em cada local. E aí um dado curioso que espelha o comprometimento do público envolvido nas ações do Comitesinos ao longo dos anos de parceria com a Unisinos (desde a criação do Comitê de Bacia, a universidade abriga a sede cada instituição em seu campus): alguns dos pesquisadores do VerdeSinos, que participaram como doutorandos ou mestrandos dos trabalhos, já haviam participado como acadêmicos do curso de Biologia em projetos anteriores, como o Monalisa e o Peixe Dourado. Durante o tempo do VerdeSinos também não se perdeu de vista o objetivo de transformar a ação em programa permanente. E aí, se por um lado o patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental garantiu fôlego para se ir costurando novas parcerias, ele também ampliou enormemente a vitrine das ações. O que vem credenciando a sustentabilidade perante empresas e instituições que estão aderindo à iniciativa. Isso já começa a apresentar reflexos, como o apoio ao Subprojeto Rio da Ilha e os preparativos do Subprojeto Arroio Portão. Ambos construídos a partir do VerdeSinos e partindo para ações de recuperação também no leito dos cursos d´água. Então, se toda essa trajetória serviu para ensinar a comunidade a se aproximar de suas águas, a esta altura dos acontecimentos já ficou claro que ela nunca mais vai se afastar delas. 7


Mobilização Social Viviane Nabinger*1 SÍNTESE DOS RESULTADOS E DA DISCUSSÃO Importância e diretrizes O presente capítulo trata do envolvimento da população que vive e trabalha na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos para o alcance de melhorias da qualidade e da quantidade das águas da malha hídrica local. Embora os impactos causados aos corpos d´água pelas ações antrópicas sejam, na sua grande maioria, de alta severidade e já de conhecimento de grande parte das pessoas que fazem uso do recurso natural água, a definição de estratégias capazes de produzir ganho ambiental ainda é pouco expressiva. Arte: SILVANA SANTOS

O projeto VerdeSinos, que tem o objetivo de restaurar e conservar a mata ciliar dos corpos de água da bacia Sinos como forma de contribuir para a estabilização (boa manutenção) das estruturas dos corpos de água, manutenção das espécies que povoam tais áreas e contribuir para a melhoria da qualidade e quantidade do sistema hídrico local, tem comprovado a eficiência e a eficácia de metodologias que priorizam as relações pessoais e institucionais como o esteio de qualquer ganho a ser almejado. Na esfera ambiental, contar com o comprometimento dos indivíduos é fator decisivo para o sucesso dos projetos elaborados. O VerdeSinos teve sua concepção calcada na definição de duas diretrizes consideradas imprescindíveis: a da sustentação técnica para a restauração da mata ciliar e a da cooperação mútua entre instituições e entidades com atuação na bacia Sinos visando, por ambas diretrizes, o ganho ambiental. O conhecimento disponível sobre métodos e práticas de restauração de vegetação ripária suplantou possíveis desafios para a composição de estratégias voltadas ao plantio, na sua abrangência que compreende espécies adequadas, adensamento, cuidados e monitoramento. O ponto nevrálgico do processo planejado, que trata das relações e compromissos institucionais, foi previamente identificado, porque permearam iniciativas já executadas. Há de se fazer a distinção entre o alcance do apoio institucional e a do envolvimento institucional. É usual instituições e entidades, quando requisitadas a manifestar apoio, formalizar tal posição. Diferentemente, a busca do engajamento efetivo, que se traduz em compromissos men(*) Secretária-executiva do Comitesinos e coordenadora de Mobilização Social do Projeto VerdeSinos (1) Com agradecimento à secretária adminsitrativa do Comitesinos, Débora Cristina da Silva, que fez a tabulação de resultados

8


suráveis, estabelece uma relação que exige compreensão clara e plena dos objetivos almejados e etapas programadas. Apoio x envolvimento A elaboração do VerdeSinos não ocorreu ocasionalmente, pela seleção pública de projetos para o Programa Petrobras Ambiental. Ela foi precedida de um experimento que testou, de forma cuidadosa, a capacidade de envolver e comprometer as instituições que já vinham atuando na restauração da mata ciliar da bacia Sinos, ainda que de forma rudimentar pela pouca disponibilidade de recursos materiais, humanos e logística. Tal experimento comprovou a viabilidade da construção de parcerias, pelo engajamento, inicialmente de pessoas pavimentando o caminho institucional, concretizado pelas adesões formais que constituíram, posteriormente, a proposta apresentada pela Fundepe à Petrobras. Era do conhecimento prévio dos formuladores do projeto o empenho a ser destinado à qualificação das equipes representativas das entidades partícipes do VerdeSinos, da mesma forma que havia a percepção da necessidade de se eleger representações nas localidades (municípios), uma espécie de âncora local, para as articulações institucionais que a proposta metodológica exigiria. A identificação da ocorrência de três instituições oficiais em praticamente todos os municípios da bacia, a saber, Prefeitura Municipal, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e escritórios da Emater, definiu, como estratégia de agrupamento, a base de articulação oficial do projeto na instância local. As relações institucionais na dimensão regional nem sempre se reproduzem harmoniosamente na esfera municipal e vice-versa. A percepção sobre como avançar nestas relações, local e regional, foi tarefa implementada a partir da execução do projeto. Unidade âncora Além das relações institucionais na esfera municipal, o olhar sobre a capacidade de, individualmente, cada entidade se relacionar com o seu próprio público alvo, mereceu o olhar atento dos formuladores e executores do VerdeSinos. O mapeamento dos arranjos institucionais possíveis para a mobilização e participação social foi prerrogativa para a etapa de qualificação de cada grupo de entidades responsáveis pelo desenvolvimento do processo. A agenda construída para a capacitação foi executada sequencialmente, tendo a Emater como precursora desta iniciativa. O encontro de técnicos dos escritórios da Emater com atuação na bacia Sinos, que integram a Regional Sinos, a Regional Paranhana e a Regional Santo Antonio, ocorreu logo após os coordenadores do VerdeSinos adequarem a liberação dos recursos financeiros pela Petrobras com o cronograma físico de execução, dando o ponta pé inicial para as ações de mobilização e participação social. Participaram técnicos da Emater dos escritórios dos municípios de: Sapucaia do Sul, Araricá, Caraá, Estância Velha, Igrejinha, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Parobé, Portão, Presidente Lucena, Riozinho, Rolante, Santo Antônio da Patrulha, São Leopoldo, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Três Coroas, além das respectivas Regionais do Paranhana, de Santo Antonio, dos Sinos e Imprensa/Emater, além da Rede Ambiental do Rio dos Sinos do Ministério Público Material de apoio contendo informações sobre o VerdeSinos foi oferecido para servir de ferramenta auxiliar aos técnicos da Emater que atuariam tanto na composição da equipe local de articulação e mobilização social, como diretamente com os produtores, pela condição de assistência técnica já ofertada a esses pela entidade. Na seqüência, a capacitação se deu com as representações das prefeituras municipais, através de secretarias municipais específicas, Centros Ambientais ou coordenadores do Dourado (figuras 1 e 2). Observa-se que tais representações são todas dos quadros das administrações públicas municipais, diferenciadas, apenas, pelos cargos e funções exercidas. Também é importante esclarecer que os coordenadores do Dourado são os responsáveis pela condução da política de educação ambiental associada ao gerenciamento dos recursos hídricos, coordenada pelo respectivo comitê de bacia, o Comitesinos.

9


Estiveram presentes no evento de capacitação, representantes dos Centros Ambientais de Novo Hamburgo, Sapiranga, Igrejinha, Coordenadores do Dourado de Estância Velha, Esteio, Campo Bom, Igrejinha, Parobé, Santo Antônio da Patrulha, Sapucaia, Estação Ecologia de Estância Velha, Escola Hermínia Marques, as Faculdades de Taquara (Faccat), prefeituras de Araricá, Caraá, Igrejinha, Novo Hamburgo, Portão, Santo Antônio da Patrulha, Três Coroas e Rede Ambiental do Rio dos Sinos do Ministério Público.

Figura 1 e 2. Capacitação para representantes das prefeituras, lotados em secretarias específicas, centros ambientais e coordenadoras locais do Projeto Dourado

O terceiro encontro de capacitação foi com os representantes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, compondo, desta forma, o arranjo institucional para a constituição dos núcleos de articulação nos municípios. Participaram do evento representantes dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais dos municípios de Canela, Caraá, Glorinha, Igrejinha, Novo Hamburgo (que é formado ainda pelos municípios de São Leopoldo e Sapucaia do Sul), Rolante, Santa Maria do Herval, Santo Antônio da Patrulha, Sapiranga, Taquara, Três Coroas. Ainda, representantes dos Municípios de Caraá e de Santo Antônio da Patrulha, além da Rede Ambiental do Rio dos Sinos do Ministério Público. Os conteúdos trabalhados nas capacitações foram ministrados por profissionais do Comitesinos, da Unisinos, da Emater, da empresa de consultoria HK e da Promotoria de Justiça da Comarca de Taquara, na condição de coordenação da Rede Ambiental do Rio dos Sinos. É necessário destacar que a participação e a atuação da Rede Ambiental do Rio dos Sinos seguem as diretrizes do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, conforme informa-

10

“O planejamento estratégico do Ministério Público elegeu o tema meio ambiente preservado como um dos focos prioritários de ação e indicou que uma das formas de fazê-lo seria através da proteção dos recursos hídricos. Para concretizar tal meta, o Programa de Atuação Integrada por Bacias Hidrográficas pretende promover a articulação regional entre Promotorias de Justiça, Poder Público e a sociedade civil, favorecendo a construção de uma agenda ambiental positiva, voltada ao enfrentamento dos problemas que atingem não apenas uma comunidade, mas toda a bacia hidrográfica. A partir de diagnósticos ambientais realizados se pode identificar áreas onde a atuação será prioritária, assim como os temas de origem/resultados comuns. A racionalização permitirá mais efetividade e garantirá a unidade de atuação em problemas diagnosticados regionalmente. A atuação institucional dar-se-á através das Redes Ambientais, reunião de todas as Promotorias de Justiça com atribuições ambientais existentes em cada uma das bacias hidrográficas do Estado, objetivando articular a ação do Ministério Público, trocar informações, planejar e avaliar as ações executadas. A atuação prioritária será no sentido de promover a restauração dos corredores ecológicos, a implementação plena das Unidades de Conservação, a implantação de reservas legais, a racionalização do uso das águas superficiais/subterrâneas, bem como o enfrentamento de questões como o tratamento de resíduos sólidos e o saneamento, entre outras.”


ções disponíveis no site institucional www.mp.rs.gov.br: Na bacia Sinos, a Rede Ambiental colocou em prática tais diretrizes a partir do estabelecimento da parceria com o Comitesinos, para firmar cooperação na busca de ganhos ambientais através da restauração da mata ciliar, reconstituindo corredores ecológicos. A presença da Rede Ambiental foi decisiva para a definição da metodologia de engajamento dos proprietários das áreas de restauração e, no caso das áreas públicas, dos próprios prefeitos municipais. A possibilidade de se dispor de uma coordenação regional do Ministério Público para a bacia Sinos não freou a intenção de se envolver cada Promotor de Justiça das Comarcas localizadas na respectiva bacia hidrográfica. A necessidade de compreensão dos propósitos e métodos aplicados no VerdeSinos pelos Promotores também foi considerada estratégica e, a partir de tal análise, foi realizada reunião de capacitação. O encontro com os Promotores seguiu a mesma dinâmica adotada para a capacitação dos técnicos da Emater, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Municípios, oferecendo as informações metodológicas do VerdeSinos e sugestão de procedimentos aplicáveis pelas Promotorias de Justiça, visando a adesão de proprietários de áreas ao projeto. Participaram do evento Promotores das Comarcas de Três Coroas, Parobé, Sapiranga (responsável por Sapiranga, Araricá e Nova Hartz), Portão (responsável por Portão e Capela de Santana), Dois Irmãos (responsável por Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval) e Taquara (responsável por Taquara, Rolante e Riozinho). Apesar da iniciativa de o Ministério Público instituir o Programa de Atuação Integrada por Bacias Hidrográficas (Rede Regional) com vistas à articulação regional entre Promotorias de Justiça, Poder Público e a sociedade civil, favorecendo a construção de uma agenda ambiental positiva, a implementação plena do Programa exigirá tempo e muita compreensão por parte dos próprios Promotores de Justiça. O acúmulo de trabalho e compromissos frente às inúmeras demandas locais, a autonomia de seus atos, e o exercício histórico de independência podem ser fatores para a não adesão de todos os Promotores de Justiça ao VerdeSinos até a atual fase de sua implementação. A etapa de capacitação dos representantes das instituições mais diretamente associadas à execução das ações de restauração da mata ciliar não resultou, e nem se esperava que resultassem, na imediata apropriação dos conteúdos e procedimentos a serem aplicados para o desenvolvimento dos trabalhos. Ela foi considerada uma etapa de iniciação, precedendo à etapa das práticas (figuras 3 e 4).

Figura 3 e 4. A etapa de capacitação dos representantes de entidades ligadas à execução das ações de campo foi considerada uma etapa de iniciação

Foi na execução das atividades práticas que cada agente responsável por dar andamento às ações do VerdeSinos se deparou com as primeiras dificuldades do processo. A primeira, a da organização de uma agenda coletiva, comum entre as três instituições formadoras da âncora local (Prefeitura, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Emater), além das entidades potencialmente parceiras de cada localidade. Apesar da estratégia de participação no VerdeSinos, testada pelo projeto piloto, seja de simplificada compreensão, sua execução abarca procedimentos sensivelmente complexos porque 11


distribui responsabilidades e compromissos entre entidades, exige uma operação sistêmica e conta com a vontade e possibilidades daqueles que respondem pelas entidades e instituições. A orientação de estimular a liberdade para que cada grupo local ousasse na criação de métodos de mobilização, articulação e organização, sem se desviar, no entanto, das metas a serem alcançadas, ao invés de animar o trabalho local, freou a iniciativa. O caminho para superar tal entrave foi a da realização de encontros, nos municípios, agendados e conduzidos pelos coordenadores do projeto. A ação efetiva da restauração da mata ciliar, precedida da identificação das áreas impactadas, quantificação e qualificação das demandas específicas de cada propriedade (quantidades e variedades de mudas, quantidades de mourões, arames, grampos), foi executada na unidade municipal, seguindo um calendário construído pelas âncoras locais, e acompanhada pelos coordenadores do projeto. O acompanhamento da evolução do processo de mobilização e participação social para a restauração da mata ciliar pode ser demonstrado por gráficos, elaborados a partir da organização do processo nas suas diferentes etapas: a primeira, que trata do envolvimento dos representantes das entidades diretamente comprometidas com a execução do VerdeSinos, particularmente na fase da capacitação. Neste aspecto, foram selecionadas das listas de presenças apenas as participações dos representantes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, da EMATER/ASCAR e das Prefeituras Municipais, privilegiando, desta forma, as entidades que compõem as âncoras municipais. As atividades de capacitação ocorreram de maio a outubro de 2010.

A segunda, aquela que demonstra a capacidade de envolvimento de novos parceiros e atores, a partir das ações de mobilização executadas na formação de multiplicadores. No VerdeSinos, são considerados multiplicadores os professores, gestores ambientais, lideranças comunitárias, crianças e jovens, jornalistas, membros do comitê de bacia, além dos Promotores de Justiça, técnicos agrônomos e auxiliares. O período do levantamento das informações é de dezembro de 2009 a junho de 2012. Observa-se que a meta do projeto foi de atingir e envolver 658 multiplicadores durante toda a sua execução (período de 2 anos), índice superado pelo alcance de 1902 multiplicadores no VerdeSinos (período de 2 anos e 6 meses). A formação de multiplicadores, porque bem executada, obteve como resposta o envolvimento de um número muito expressivo de pessoas capacitadas, mobilizadas e empregadas nas ações efetivas de restauração da mata ciliar, considerando todas as suas fases preliminares que resultam no plantio propriamente dito. Deve-se considerar que as necessidades de envolvimento de pessoal se dão tanto na identificação das áreas a serem restauradas, identificação dos proprietários,

12


convencimento dos mesmos para a adesão voluntária ao projeto, preenchimento da ficha cadastral da propriedade com levantamento técnico das necessidades (mudas, mourões, arame, grampos), como para a construção de cercas e plantio. Todos estes procedimentos exigiram envolvimento de pessoal, arregimentado pela mobilização e participação social.

A meta de envolvimento de 831 pessoas das comunidades nesta etapa foi significativamente superada. Até junho de 2012, 6142 pessoas estiveram comprometidas com a execução do VerdeSinos. Todas as atividades que compreenderam o processo de mobilização e participação social, consubstanciados na educação ambiental através das capacitações executadas, tiveram como objetivo específico criar os meios favoráveis para a restauração e conservação da mata ciliar na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos.

13


Embora muitas iniciativas tenham brotado das capacitações conduzidas pela coordenação do projeto, novas ações de grande amplitude foram resultado das atividades desenvolvidas pelas estruturas locais associadas ao VerdeSinos. Os Centros Ambientais tiveram papel fundamental na multiplicação dos procedimentos de capacitação para o envolvimento das comunidades. A estratégia de realizar eventos regionais de educação ambiental, no formato de seminários, com o propósito de animar o coletivo dos agentes responsáveis pelo envolvimento das comunidades, além de oportunizar o relato sobre o avanço dos trabalhos nas unidades municipais, atingiu resultados altamente positivos. Aproximou os setores ainda distantes, ofereceu espaço para troca de experiência e superação de entraves, e reafirmou as práticas a serem adotadas para o alcance das metas de restauração e conservação. O alcance das metas relacionadas às áreas de mata ciliar restauradas e conservadas é o indicador mais objetivo estabelecido no projeto, e traduz, subjetivamente, o sucesso dos demais indicadores. Se, por um lado, é a atividade mais fácil de ser executada, quando compreendida simplesmente como abertura de cavas, plantio de mudas e cuidados para o seu desenvolvimento (rega, controle de pragas, limpeza de entorno), ela corresponde ao encerramento de um processo. Quando se chega na situação do plantio, é porque todo o resto já foi superado: identificação do proprietário, adesão ao projeto, viabilidade de área, demandas da propriedade, alcance dos meios matérias, assessoria técnica, logística. O avanço, portanto, das estratégias de mobilização social é que dará a sustentação para o alcance da meta de restauração. O gráfico elaborado indica, ao longo do tempo, a evolução da mobilização social, enfatizando as ações geradoras de multiplicadores e da participação de atores diretamente envolvidas com o VerdeSinos. Ao mesmo tempo, aponta os avanços alcançados pela inclusão de áreas para restauração. A síntese dos resultados, apresentada na lateral direita do gráfico, permite a avaliação sobre o somatório dos resultados já alcançados e os indicadores de meta pretendidos pela execução do projeto. As estratégias aplicadas para o envolvimento das comunidades locais não se limitaram ao atendimento das metas propostas no VerdeSinos. Também se traduziram na construção de oportunidades para a adesão de novas parcerias, notadamente do setor industrial, através da oferta de meios para a execução da restauração da mata ciliar. A aproximação com empreendedores da região se deu, inicialmente, com o propósito de associar ao projeto deveres resultantes de licenciamentos ambientais, em particular aqueles que traziam como condicionantes a obrigatoriedade de reposição florestal.

14


De forma muito simplista, pode-se afirmar que o VerdeSinos propiciou a aproximação de dois setores, ambos com obrigações a cumprir, sendo, de um lado, o produtor rural e prefeituras, na correspondente responsabilidade de manter e restaurar a mata ciliar, e de outro, o empreendedor, na de reposição florestal condicionada às licenças ambientais. A convergência das obrigações a serem cumpridas estabeleceu um patamar de cooperação mútua, cujo maior resultado é o ganho ambiental. Tal aproximação se efetivou a partir da conversão das obrigações de reposição florestal dos empreendedores em meios materiais e logística necessários para a restauração das matas ciliares, mas que podem ser dimensionados financeiramente. O cálculo aplicado se baseia no valor financeiro de plantio de uma muda, multiplicado pelo número de mudas a serem plantadas, definidas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Roessler (Fepam) e/ou Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas (Defap), de acordo com o empreendimento (dimensão, impacto) a ser licenciado. O VerdeSinos já contabilizou valores financeiros significativos provenientes das conversões de licenciamentos, embora não existe operação financeira (repasse de recursos financeiros direto) no processo. O procedimento aplicado é o de calcular o quanto corresponde financeiramente o atendimento dos condicionantes de reposição florestal dos licenciamentos, de acordo com o número de mudas a serem plantadas. A partir desta definição, é elaborada a planilha das necessidades materiais e de logística para a execução efetiva dos plantios nas propriedades selecionadas. Na seqüência, o empreendedor fornece aos proprietários das áreas e prefeituras os materiais específicos para a ação efetiva de restauração, dentro do limite de valores financeiros correspondentes aos condicionantes de licenciamento do respectivo empreendimento. Todos os procedimentos que envolvem a convergência de obrigações das partes, com fornecimento dos materiais, são registrados detalhadamente, compondo um banco de dados e informações que permitem o acompanhamento de todo o processo e identificação das áreas/proprietários beneficiados. O gráfico abaixo oferece o demonstrativo dos recursos financeiros acumulados pela execução do VerdeSinos, sua origem e a aplicação dos mesmos nas diferentes ações e atividades que compõem o projeto. Destaca-se a capacidade de o projeto capitanear recursos financeiros pelas parcerias estabelecidas. No VerdeSinos, a soma dos valores provenientes das parcerias ultrapassaram os valores originalmente assegurados pela Petrobras.

15


O APOIO DA PETROBRAS É muito comum se ouvir falar que as ações na área ambiental não são implementadas pela falta de apoios, tanto institucional quanto financeiro. A execução do VerdeSinos, entre outras tantas iniciativas coordenadas politicamente pelo Comitesinos, é a demonstração incontestável de que há muitas oportunidades de se trabalhar na área ambiental. Se o tema não encontra espaço e recursos financeiros nas agendas governamentais, inúmeras são as possibilidades criadas pelo setor privado e até mesmo pelo setor público. Exemplos como os de editais públicos de seleção de projetos são oportunidades para o desenvolvimento de ações. A Petrobras tem, sistematicamente, aberto bienalmente processos para seleção de projetos, privilegiadamente nas áreas sócio-ambientais. Os selecionados passam a dispor dos meios financeiros necessários para o alcance das metas estabelecidas, além do apoio institucional. A análise feita pelos coordenadores do VerdeSinos sobre a iniciativa da Petrobras expõe questões anteriores à execução do projeto propriamente dito. Isto porque, a relação dos conteúdos/temas e o formato de apresentação das proposições, critérios estabelecidos pela Petrobras para o processo seletivo, já impõem a concepção e formulação de propostas muito bem estruturadas, onde o problema a ser solucionado deve estar claramente definido e os caminhos para o encontro das soluções, também. Quem se candidata à Seleção Pública de Projetos do Programa Petrobras Ambiental traz para si o desafio de aprender ou exercitar, mais uma vez, a organizar todo o processo que evidencia a relação problema X solução. Embutidos nesta relação encontram-se metas a serem atingidas, etapas a serem cumpridas, o planejamento de cronogramas físicos que definem a evolução das etapas ao longo do tempo, e memórias de cálculo do custo unitário de cada passo a ser dado e seus somatórios, formando uma matriz que deverá funcionar como uma grande engrenagem. Vencer toda essa trajetória é um ritual de aprendizagem que tende não apenas à obtenção dos apoios às ações desejadas, mas a qualificar equipes para o próprio planejamento das instituições proponentes, bem como para concorrer às Seleções Públicas que são divulgadas. O significado de receber apoio institucional e financeiro para o desenvolvimento de ações na área ambiental ultrapassa a barreira da obtenção de meios para resolver determinado problema, dimensionado em um projeto específico. É, antes de tudo, a criação de oportunidades para um movimento continuado, que prevê começo, meio e fim, no qual se desenvolvem estratégias de sustentabilidade de todo um processo, para além de seu tempo de execução. No VerdeSinos, além de a Petrobras propiciar a execução de todas as atividades planejadas para o alcance de metas estabelecidas, ofereceu as condições para a consolidação da aproximação institucional de atores estratégicos, o exercício da ação compartilhada, o aprimoramento de metodologias que prevêem a mobilização e a participação de setores da sociedade, ampliando a capacidade de convergência de novos apoiadores. É imprescindível destacar que o custeio da logística e de pessoal, normalmente gargalos das instituições, foi decisivo para a evolução positiva de todo o projeto. Hoje, o VerdeSinos já é, muitas vezes, identificado como um movimento com vida própria, ultrapassando os domínios de seus coordenadores, executores e parceiros. É certo que possui sua identidade, criada com a finalidade de ser conhecido e reconhecido, a partir da criação de uma logo que traduz seus propósitos. O peixe dourado, ícone de mobilização da comunidade, anseia pela melhoria da qualidade das águas para a sua permanência na região, condição a ser alcançada com auxílio da recomposição da mata ciliar. Tal mensagem foi traduzida na logo criada. A produção de material de comunicação visual e informes apresentando os objetivos do projeto, seu patrocinador e apoiadores, ampliou a capacidade de oferecer visibilidade às iniciativas para a obtenção das adesões ao projeto, tanto dos proprietários das áreas impactadas quanto das Prefeituras Municipais. E, talvez o mais importante, é que a simples apresentação da logo do VerdeSinos já encurta os caminhos para a obtenção de novos parceiros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegar à conclusão sobre uma etapa de um projeto que, pela sua evolução positiva e engajamento da sociedade e setores produtivos já é reconhecido como processo capaz de transformar

16


as relações, antes divergentes, em atitudes convergentes, na busca de um ganho ambiental para toda a comunidade da bacia Sinos seria como tirar o doce da boca de uma criança. É certo que o VerdeSinos não irá parar. Ele está apenas começando dentro da potencialidade que foi estruturada para sua continuidade. Nesta primeira etapa, pôde-se aplicar, avaliar e aprimorar a metodologia da participação social, por adesão voluntária, tanto na cedência de áreas para restauração quanto no fornecimento dos meios para isso. O caminho foi de construção, muitas descobertas e, sem qualquer sobra de dúvida, de que todos os setores que utilizam as águas da bacia Sinos querem atuar em um projeto “bacana”, positivo nos seus resultados ambientais. É incontestável, diante do que se aprendeu nesta etapa do VerdeSinos, sobre a vontade e a potencialidade do voluntariado. E, tentando traduzir o significado da palavra voluntariado, a deixa é muito simples: vista a camiseta e venha conosco plantar. Muitos foram os que pegaram literalmente na enxada para aperfeiçoar a cova para depositar mudas, das mais variadas espécies, nativas da região e, sempre que possível, as mais apropriadas para o tipo de solo e clima. Muitos outros aprenderam a construir cercas, esticando perfeitamente o arame para impedir que o gado avançasse sobre o plantio recém realizado. E, como em todo o encerramento dos mutirões de voluntariado para a restauração da mata ciliar da bacia Sinos, há sempre uma grande confraternização.

17


Biomonitoramento Cristina Stenert e Luciane Oliveira Crossetti* HISTÓRICO As alterações ambientais originadas pela expansão agrícola e urbana têm gerado preocupação com a disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos (Callisto et al., 2001). Os métodos de avaliação da qualidade da água dos ecossistemas aquáticos estão baseados principalmente em variáveis físicas, químicas e microbiológicas. Desde a década de 70, pesquisadores vêm argumentando que essas metodologias não são suficientes para atender aos múltiplos usos da água, por refletirem a condição da qualidade da água somente no momento da coleta (Karr, 1998; Arias et al., 2007). Historicamente, desde a metade do século 19 relatos sobre certas relações de alguns organismos com a pureza e poluição da água já haviam sido feitas (Kolenati). Contudo, Kolkwitz & Marsson (1902, 1908 e 1909 apud Santra) estabeleceram relações mais claras entre os organismos e a poluição da água a partir do sistema sapróbico, mais tarde revisto por Sládecék (1973) que o definiu como um sistema de organismos aquáticos (micróbios, plantas e animais) indicando através de sua presença e atividade vital a diferença entre os níveis de qualidade da água, pureza ou poluição. Métodos biológicos têm substituído ou complementado estas medidas de avaliação das condições de um rio um corpo d’água. Qualquer tipo de estresse pelo qual passa um ecossistema aquático é refletido nos organismos, populações e comunidades, que são os componentes fundamentais do ecossistema (Tundisi e Matsumura-Tundisi, 2008). Programas de “biomonitoramento” utilizam respostas biológicas para avaliar mudanças ambientais principalmente originadas por impactos humanos (Rosenberg e Resh, 1993; Loyola e Brunkow, 1998). A partir disto, a biota aquática começou a ser utilizada como uma ferramenta importante na busca de informações sobre a integridade e qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos. GRUPOS UTILIZADOS Macroinvertebrados Existe uma ampla variedade de organismos utilizados como bioindicadores: bactérias, protozoários, algas, macrófitas, macroinvertebrados e peixes. Os macroinvertebrados bentônicos e peixes têm sido considerados bons bioindicadores da qualidade da água devido a uma série de vantagens, tais como (Plafkin et al., 1989; Rosenberg e Resh, 1993; Araújo, 1998; Bozetti e Schulz, 2004): 1) tamanho relativamente grande; 2) ciclo de vida suficientemente longo para detectar alterações ambientais nos ecossistemas aquáticos, facilitando a análise das mudanças temporais e integrando os efeitos da exposição prolongada por descargas intermitentes ou concentrações variáveis de poluentes; 3) apresentam uma vantagem de refletir as condições existentes antes da coleta de amostras, enquanto que os métodos tradicionais oferecem somente a característica da água do momento da coleta; 4) alta diversidade biológica, proporcionando um amplo gradiente de tolerância frente aos diferentes graus de contaminação da água. A comunidade de macroinvertebrados aquáticos é um dos grupos mais utilizados na avaliação da qualidade da água, já que respondem de forma diferente ao grau de contaminação e alteração dos ecossistemas aquáticos (Resh, 2007). Nesse sentido, os macroinvertebrados são classificados de acordo com seu grau de tolerância e sensibilidade à contaminação da água. Por exemplo, enquanto insetos aquáticos das ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera são mais sensíveis à poluição orgânica, anelídeos, moluscos e larvas de Diptera são mais tolerantes (*) Professoras do Programa de Pós Graduação em Biologia, C2, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil

18


a esse tipo de poluição. Vários países utilizam sistematicamente os macroinvertebrados aquáticos e peixes na avaliação da qualidade da água, inclusive no Brasil (Hellawell, 1986; Metcalfe, 1989; Barbour et al., 1999; Galdean et al. 2000; Mebane et al., 2003; Moretti e Callisto 2005). No Brasil, a CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo) utiliza os macroinvertebrados bentônicos como monitores biológicos contínuos da qualidade da água de rios e reservatórios do Estado de São Paulo. Através de várias medidas bioindicadoras, a comunidade de macroinvertebrados pode refletir a qualidade da água. Medidas de riqueza (número de espécies ou táxons), abundância relativa (táxons dominantes), bem como, a utilização de índices de diversidade (índices de Shannon-Wiener e de Simpson), índices de similaridade (índices de Jaccard e Morisita), índices bióticos (valores de tolerância pré-estabelecidos para famílias, gêneros e espécies) e índices tróficos (porcentagem de indivíduos de diferentes grupos tróficos funcionais) são ferramentas importantes para programas de biomonitoramento que utilizam os macroinvertebrados (Resh e Jackson, 1993). De forma geral, essas medidas refletem a “saúde” do ecossistema aquático. Os índices bióticos vêm substituindo progressivamente as medidas de diversidade e, através deles, o uso de técnicas qualitativas na bioindicação se renovam. Esses índices bióticos são expressões numéricas que combinam uma medida quantitativa da diversidade das espécies com informações qualitativas da sensibilidade ecológica dos indivíduos ou táxons em relação a um determinado grau de poluição (Czerniawska-Kusza, 2005). A comunidade de macroinvertebrados pode ser utilizada no biomonitoramento da qualidade da água através da aplicação de índices bióticos (Duran, 2006), na qual os táxons recebem valores pré-estabelecidos de acordo com seu grau de tolerância e sensibilidade à contaminação da água. A partir do Sistema Sapróbico de Kolkwitz & Marsson (1908), vários índices bióticos utilizando os macroinvertebrados aquáticos foram desenvolvidos ao redor do mundo como, por exemplo, o “Biological Monitoring Working Party Score System” - BMWP (ARMITAGE et al., 1983) e o “Family Biotic Index” - FBI (HILSENHOFF, 1987). Esses dois índices já foram testados e adaptados em vários países do mundo, inclusive no Brasil, como é o caso do índice BMWP, adaptado para a bacia hidrográfica do Rio das Velhas, MG (Junqueira & Campos, 1998) e para a bacia do Rio Meia Ponte, GO (Monteiro et al., 2008). Fitoplâncton A comunidade fitoplanctônica é amplamente sabida como excelente indicadora de estado ecológico de ambientes aquáticos por responderem prontamente às alterações ambientais. Os diferentes grupos do fitoplâncton dispõem em sua heterogeneidade funcional de atributos indispensáveis para seu sucesso ecológico, fornecendo importantes informações sobre os ambientes e sua limnologia. São, portanto, indispensáveis ao monitoramento e manejo desses ecossistemas. O uso de espécies do fitoplâncton como bioindicadores tem uma longa história (Padisák et al., 2006), sendo que o uso da classificação funcional das espécies a partir de semelhanças morfológicas, fisiológicas e ecológicas em grupos funcionais (Reynolds et al., 2002) tem sido uma ferramenta recente muito utilizada para este fim (Padisák et al., 2009), devido ao seu poder de bioindicação, explanatório e preditivo demonstrado por muitos estudos pelo mundo todo (ex. Kruk et al., 2002; McIntire et al., 2007; Wilhelm e Adrian, 2008; Padisák et al., 2009).. No Brasil, muitos estudos aplicaram a abordagem dos grupos funcionais sensu Reynolds, corroborando sua eficiência preditiva também em ambientes tropicais e subtropicais brasileiros (ex. Melo e Huszar, 2000; Marinho e Huszar, 2002; Crossetti e Bicudo, 2008a, 2008b; Soares et al., 2007; Bovo-Scomparin e Train, 2008; Souza et al., 2008). No estado do Rio Grande do Sul apenas Becker e colaboradores (2008, 2009) exploraram o poder preditivo do fitoplâncton para um reservatório de abastecimento de água no município de Caxias do Sul. Um passo além ao uso eficiente dos grupos funcionais do fitoplâncton como ferramenta descritiva foi o desenvolvimento recente de índices para estimar a qualidade de água utilizando o fitoplâncton (Padisák et al., 2006; Nõges et al., 2010). Estas ferramentas têm sido utilizadas em monitoramentos em seus países de origem e já foram também aplicadas no Brasil na qualificação 19


do status ecológico de ecossistemas lênticos tropicais e subtropicais (Crossetti e Bicudo, 2008a; Becker et al., 2009, Crossetti et al., 2012). Além do amplo uso do potencial bioindicador do fitoplâncton no monitoramento de ecossistemas aquáticos em muitos países do mundo, existe ainda a necessidade do monitoramento desta comunidade com vistas especialmente aos múltiplos usos da água. A legislação brasileira, através da Portaria n° 2914 de 12 de dezembro de 2011, dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, exigindo o monitoramento de atributos (identificação de gêneros, densidade e toxinas) de Cyanobacteria, uma classe de algas com representantes potencialmente tóxicos. Peixes O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos investigou as respostas da ictiofauna em vários projetos de recuperação da vegetação ciliar no estado de Virginia através de Índices de Biointegridade (IBI) e de um protocolo da avaliação visual (Stream Visual Assessment Protocoll SVAP; Teels et al., 2006). Esse estudo demonstrou que uma melhor qualidade da água foi verificada a partir de um ano depois da finalização do projeto de recuperação. Enquanto todos os IBI e condições estruturais em trechos recuperados mostravam tendências positivas durante o período de investigação, os trechos de referência sem recuperação permaneceram iguais ou pioravam. Vários protocolos utilizando a ictiofauna já foram desenvolvidos e testados no Brasil (Araújo, 1998; Araújo et al., 2003; Bozetti & Schulz, 2004). Por exemplo, Costa (2007) desenvolveu um Índice de Integridade Biológica que responde significativamente aos impactos detectados na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, no Sul do Brasil. DELINEAMENTO AMOSTRAL O estudo foi realizado no curso superior da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos em uma paisagem de matriz agrícola. Foram selecionadas quatro áreas ripárias com diferentes situações da vegetação, distantes entre si por no mínimo 1 km, em três arroios de segunda ordem, sendo estes o arroio Padilha (município de Taquara), o arroio Areia e o arroio Chuvisqueiro (município de Rolante), totalizando doze áreas amostrais (Figura 1). Atualmente o uso da terra no entorno das áreas selecionadas é predominantemente representado por pequenas propriedades com cultivos variados, produção de gado leiteiro, silvicultura e piscicultura (Schulz, et al., 2006). As áreas em cada um dos arroios foram caracterizadas por no mínimo 100 m de comprimento representando as quatro situações da largura da vegetação arbórea na faixa ripária, sendo estas: fragmentos de vegetação com mais de 40 m de largura, em ambas as margens do arroio (Área 1); fragmentos de vegetação ripária representados por faixas entre 15 e 30 m de largura em ambas as Figura 1: Mapa da localização das áreas amostradas, com a disposição geográfica dos arroios e das áreas amostrais, em fragmentos ripários com diferentes situações de conservação na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, RS. Os símbolos representam as áreas amostrais: : Faixa ripária com mais de 40 m; ▲: Faixa ripária entre 15 m e 30 m de largura; ■: Faixa ripária entre 5 m e 15 m de largura; e ●: Faixa ripária com menos de 5 m de largura.

20


margens do arroio (Área 2); fragmentos de vegetação ripária representados por faixas entre 5 e 15 m de largura em ambas as margens do arroio (Área 3); e fragmentos de vegetação ripária representados por faixas com até 5 m de largura em ambas as margens do arroio (Área 4) (Figura 2).

Figura 2: Detalhe do delineamento amostral utilizado em cada arroio estudado na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES-DE-SOUZA, C.; MENEZES, M; HUSZAR; V.L.M. 2006. Phytoplankton composition and functional groups in a tropical humic coastal lagoon, Brazil. Acta Botanica Brasliensis, 20: 701–708. BECKER, V.; HUSZAR, V.L.M.; CROSSETTI, L.O. 2009. Responses of phytoplankton functional groups to mixing regime in a deep subtropical reservoir. Hydrobiologia, 628:137–151. BECKER, V.; HUSZAR, V.L.M.; NASELLI-FLORES, L.; PADISÁK, J. 2008. Phytoplankton equilibrium phases during thermal stratification in a deep subtropical water supply reservoir. Freshwater Biology, 53: 952–963. BORGES, P.A.F.; TRAIN, S.; RODRIGUES, L.C. 2008. Spatial and temporal variation of phytoplankton in two subtropical Brazilian reservoirs. Hydrobiologia, 607: 63–74. BOVO-SCOMPARIN; V. M.; TRAIN, S. 2008. Long-term variability of the phytoplankton community in an isolated floodplain lake of the Ivinhema River State Park, Brazil. Hydrobiologia, 610: 331– 344. CALLISTO, M.; MORETTI, M.; GOULART, M. 2001. Macroinvertebrados bentônicos como ferramenta para avaliar a saúde dos riachos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos 1: 71-82 CROSSETTI, L.O.; BICUDO, C.E.M. 2005. Structural and functional phytoplankton responses to nutrient impoverishment in mesocosms placed in a shallow eutrophic reservoir (Garças Pond), São Paulo, Brazil. Hydrobiologia, 541: 71–85. CROSSETTI, L.O.; BICUDO, C.E.M. 2008a. Phytoplankton as a monitoring tool in a tropical urban shallow reservoir (Garças Pond): the assemblage index. Hydrobiologia, 610: 161-173. CROSSETTI, L.O.; BICUDO, C.E.M. 2008b. Adaptations in phytoplankton life strategies to imposed change in a shallow urban tropical eutrophic reservoir, Garças Reservoir, over 8 years. Hydrobiologia, 614: 91-105.. CROSSETTI, L.O.; BECKER, V.; CARDOSO, L.S.; RODRIGUES, L.H.R.; COSTA, L.S.; MOTTA-MARQUES, D. 2012. Is phytoplankton functional classification a suitable tool to investigate spatial heterogeneity in a subtropical shallow lake? Limnologica (accepted). 21


CZERNIAWSKA-KUSZA, I. 2005. Comparing modifield biological monitoring working party score system and several biological indices based on macroinvertebrates for water-quality assessment. Limnologica 35: 169-176. DURAN, M. 2006. Monitoring water quality using benthic macroinvertebrates and physicochemical parameters of Behzat stream in Turkey. Polish Journal of Environmental studies 5: 709-717. FONSECA, B. M.; BICUDO, C.E.M. 2008. Phytoplankton seasonal variation in a shallow stratified eutrophic reservoir (Garcas Pond, Brazil). Hydrobiologia 600: 267–282. GALDEAN, N.; CALLISTO, M.; BARBOSA, FAR. 2000. Lotic ecosystems of Serra do Cipó, southeast Brazil. Water quality and a tentative classification based on the benthic macroinvertebrate community. Aquatic Ecosystem Health & Management 3: 545-552. HAJNAL, É.; PADISÁK, J. 2008. Analysis of long-term ecological status of Lake Balaton based on the ALMOBAL phytoplankton database. Hydrobiologia, 599: 227–237. HILSENHOFF, WL. 1987. An improved biotic index of organic stream pollution. Great Lakes Entomology 20: 31-39. HUSZAR, V.L.; REYNOLDS, C,S, 1997. Phytoplankton periodicity and sequences of dominance in an Amazonian flood-plain lake (Lago Batata, Pará, Brazil): Responses to gradual environmental change. Hydrobiologia, 346: 169–181. HUSZAR, V.L.M.; KRUK, C.; CARACO, N. 2003. Steady state of phytoplankton assemblage of phytoplankton in four temperate lakes (NE USA). Hydrobiologia, 502: 97–109. HUSZAR, V.L.M.; SILVA, L.H.S; MARINHO, M.; DOMINGOS, P.; SANT’ANNA, C, 2000. Cyanoprokaryote assemblages in eight productive tropical Brazilian waters. Hydrobiologia, 424: 67–77. JUNQUEIRA, MV.; CAMPOS, SCM. 1998. Adaptation of the BMWP for water quality evaluation to Rio das Velhas watershed (Minas Gerais, Brazil). Acta Limnologica Brasiliensia 10: 125-135. KOLKWITZ, R.; MARSSON, M. 1908. Ökologie der pflanzlichen Saprobien. Berichte der Deutsche Botanischen Gesellschaft 26: 505-519. KRUK, C.; MAZZEO, N.; LACEROT, G.; REYNOLDS, C.S. 2002.Classification schemes for phytoplankton: A local validation of a functional approach to the analysis of species temporal replacement. Journal of Plankton Research, 24: 901–912. LOPES, M.R.M.; BICUDO, C.E.M.; FERRAGUT, C. 2005. Short term spatial and temporal variation of phytoplankton in a shallow tropical oligotrophic reservoir, southeast Brazil. Hydrobiologia, 542 (1): 235-247. MARINHO, M.M.; HUSZAR, V.L.M. 2002. Nutrient availability and physical conditions as controlling factors of phytoplankton composition and biomass in a tropical reservoir (southeastern Brazil). Archiv für Hydrobiologie, 153 (3): 443-468. MCINTIRE, C.D.; LARSON, G.L.; TRUITT, R.E. 2007. Seasonal and interannual variability in the taxonomic composition and production dynamics of phytoplankton assemblages in Crater Lake, Oregon. Hydrobiologia, 574:179–204. MELO, S.; HUSZAR, V.L.M. 2000. Phytoplankton in an Amazonian floo-plain lake (Lago Batata, Brasil): Diel variation and species strategies. Journal of Plankton Research, 22(1): 63–76. MISCHKE, U.; NIXDORF, B. 2003. Equilibrium phase conditions in shallow German lakes: how Cyanoprokaryota species establish a steady state phase in late summer. Hydrobiologia, 502: 123-132. MONTEIRO, TR.; OLIVEIRA, LG.; GODOY, BS. 2008. Biomonitoramento da qualidade de água utilizando macroinvertebrados bentônicos: adaptação do índice biótico BMWP à Bacia do Rio Meia Ponte-GO. Oecologia Brasiliensis 12: 553-563 MOURA, A.N.; BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C.; DANTAS, Ê.W.; TOLEDO ARRUDA NETO, J.D. 2007. Phytoplanktonic associations: A tool to understanding dominance events in a tropical Brazilian reservoir. Acta Botanica Brasiliensis, 21: 641–648. NIXDORF, B.; MISCHKE, U.; RÜCKER, J. 2003. Phytoplankton assemblages and steady state in deep and shallow eutrophic lakes: an approach to differenciate the habitat properties of

22


Oscillatoriales. Hydrobiologia, 502: 111-121. NÕGES, P.; MISCHKE, U.; LAUGASTE, R.; SOLIMINI, A.G. 2012. Analysis of changes over 44 years in the phytoplankton of Lake Võrtsjärv (Estonia): the effect of nutrients, climate and the investigator on phytoplankton-based water quality indices. Hydrobiologia,646:33–48. PADISÁK, J.; REYNOLDS, C.S. 1998. Selection of phytoplankton associations in Lake Balaton, Hungary, in response to eutrophicatioon and restoration measures, with special reference to cyanoprokaryotes. Hydrobiologia, 384: 41–53. PADISÁK, J.; CROSSETTI, L.O.; NASELLI-FLORES, L. 2009. Use and misuse in the application of the phytoplankton functional classification: a critical review with updates. Hydrobiologia, 621: 1-19. PADISÁK,J.; BORICS, G.; GRIGORSZKY, I.; SORÓCZKI-PINTÉR, E. 2006. Use of phytoplankton assemblages for monitoring ecological status of lakes within the Water Framework Directive: the assemblage index. Hydrobiologia, 553:1–14. RESH, VH. 2007. Multinational, freshwater biomonitoring programs in the developing world: Lessons learned from African and Southeast Asian river surveys. Environmental Management 39: 737-748. REYNOLDS, C.S.; HUSZAR, V.L.M.; KRUK, C.; NASELLI-FLORES, L.; MELO, S. 2002. Towards a functional classification of the freshwater pytoplankton. Journal of Plankton Research, 24(5): 417-428. ROMO, S.; VILLENA, M.J. 2005. Phytoplankton strategies and diversity under different nutrient levels and planktivorous fish densities in a shallow Mediterranean lake. Journal of Plankton Research, 27: 1273–1286 ROSA, Z.M.; MIRANDA-KIESSLICH, A.L. 1988. O gênero Pediastrum Meyern (Chlorococcales - Hydrodictyaceae) do sistema lagunar da região litoral do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, 38: 149-169. ROSENBERG, D.M.; RESH, V.H. 1993. Freshwater biomonitoring and benthic macroinvertebrates. New York: Chapman & Hall, 488 p. SANTRA, S.C. 1994. Ecology: based and applied. New Delhi, Md. Publications, 250p. SLÁDECÉK, A. 1973. System of Water Quality From the Biological Point of View. Archiv fur Hydrobiologie Beihefte, Ergebnisse der Limnologie, 218p. SOARES, M.C.S.; HUSZAR, V.L.M.; ROLAND, F. 2007. Phytoplankton dynamics in two tropical rivers with different degrees of human impact (Southeast Brazil). River Research and Applications, 23: 698–714. SOUZA, M.B.G.; BARROS, C.F.A.; BARBOSA, F.A.R.: HAJNAL, É.; PADISÁK, J. 2008. The role of atelomixis in phytoplankton assemblages’ replacement in Dom Helvécio Lake, SouthEast Brazil. Hidrobiologia, 607: 211–224. TUNDISI, J.G.; MATSUMURA-TUNDISI, T. 2008. Limnologia. São Paulo, Oficina de Textos, 2008. 631p. WILHELM, S.; ADRIAN, R. 2008. Impact of summer warming on the thermal characteristics of a polymictic lake and consequences for oxygen, nutrients and phytoplankton. Freshwater Biology, 53: 226–237.

23


Ecologia de macroinvertebrados aquáticos Aline Moraes¹, Cristina Stenert² e Leonardo Maltchik² Os macroinvertebrados são organismos aquáticos pequenos que vivem nos ecossistemas aquáticos (água doce e marinho) em diversos hábitats, como o sedimento, a coluna d’água, as raízes de plantas aquáticas, pedras, galhos e folhas (APHA 1989). Os macroinvertebrados estão representados por espécies de várias categorias taxonômicas, como por exemplo, platelmintos, anelídeos, moluscos, crustáceos, aracnídeos e insetos aquáticos (Figura 1). Esses organismos vêm sendo amplamente estudados no mundo devido ao seu papel no funcionamento e no diagnóstico da qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos (Rosenberg & Resh 1993).

a)

b)

c)

d) e)

Figura 1. Exemplos da diversidade de grupos taxonômicos que representam os macroinvertebrados aquáticos: a) Anelídeos: Glossiphoniidae (Hirudinea) b) Moluscos: Hydrobiidae (Gastropoda); c) Crustáceos: Conchostraca (Branchiopoda); d) Aracnídeos: Hydracarina; e) Insetos: Belostomatidae

Muitos autores vêm destacando a importância da comunidade de macroinvertebrados no funcionamento dos ecossistemas aquáticos (Rosenberg & Resh 1993, Esteves 1998, Boulton & Jenkins 1998, Richter 2000, Lino et al. 2004). Dentre as suas funções ecológicas, os macroinvertebrados: 1) participam dos processos de decomposição da matéria orgânica (folhas, troncos de madeira e outros organismos aquáticos); 2) facilitam a liberação de nutrientes do sedimento para a coluna d’água com seus movimentos (os organismos remexem ou escavam o sedimento, acelerando a ciclagem de nutrientes); 3) são a base alimentar para muitas espécies de peixes e aves aquáticas. INSETOS AQUÁTICOS Os insetos aquáticos representam mais de 50% da composição de macroinvertebrados, desempenhando um papel central nas redes tróficas dos ecossistemas aquáticos (Richter 2000) (Figura 2). Essa grande representatividade deve-se principalmente às adaptações morfológicas e fisiológicas desses organismos, como por exemplo, resistência dos ovos, dieta variada nos diferentes estágios de vida e a presença de asas que facilitam a dispersão, o acesso ao alimento e a fuga dos predadores (Ruppert & Barnes 1996). Estima-se que existam aproximadamente 45.000 espécies de insetos aquáticos no mundo todo, representadas principalmente pelas ordens Diptera, Coleoptera, Trichoptera, Odonata, Hemiptera e Ephemeroptera (Brönmark & Hansson 1998, Giller & Malmqvist 1998 ). Os insetos aquáticos podem apresentar metamorfose simples ou completa. A metamorfose simples é dividida em três estágios (ovo, ninfa e adulto) e a completa em quatro estágios (ovo, larva, pupa e adulto). Na metamorfose simples, as ninfas são muito semelhantes aos adultos, como é (1) Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. (2) Professor(a) do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

24


a)

b)

c)

Figura 2. Alguns representantes de famílias de insetos aquáticos: a) Syrphidae; b) Coenagrionidae; c) Calamoceratidae; d) Pleidae

d)

o caso das ordens Ephemeroptera, Odonata e Hemiptera. Na metamorfose completa, os estágios imaturos (larva e pupa) são muito diferentes do estágio adulto, caracterizando as ordens Diptera, Coleoptera e Trichoptera (Borror & Delong 1969, Brönmark & Hansson 1998) (Figura 3). A maioria dos insetos aquáticos vive parte da vida nos ecossistemas aquáticos (estágios imaturos) e parte nos ecossistemas terrestres (estágio adulto) (Lino et al. 2004) (Figura 3). Entretanto, hemípteros e alguns coleópteros, por exemplo, vivem nos ecossistemas aquáticos durante todo o seu ciclo de vida (Brönmark & Hansson 1998) (Figura 3).

a)

b)

c) d)

Figura 3. Estágios imaturos: a) larva (Trichoptera) e b) pupa (Diptera); estágio adulto: c) Coleoptera, e d) Hemiptera

CRUSTÁCEOS A diversidade de crustáceos é alta nos ecossistemas aquáticos. Os microcrustáceos estão representados por três grupos principais: Cladocera, Copepoda e Ostracoda (Rocha & Güntzel 1999). Os Cladocera ou pulgas d’água apresentam hábito bentônico ou planctônico. Enquanto as espécies bentônicas raspam a matéria orgânica da superfície de plantas, as espécies planctônicas são filtradoras, alimentando-se de algas, bactérias e partículas em suspensão (Rocha & Güntzel 1999). Os copépodes são, na grande maioria, planctônicos, podendo ser filtradores (ordem Calanoida) ou predadores (ordem Cyclopoida). Os Ostracoda (Figura 4) são bastante abundantes em áreas úmidas, e podem ser encontrados no sedimento, na vegetação litoral ou em plantas aquáticas. Alimentam-se de algas, matéria orgânica depositada no sedimento ou de perifíton aderido à superfície de plantas. Os macrocrustáceos mais freqüentemente encontrados nas áreas úmidas são os decápodos dulcícolas: camarões (Palaemonidae), caranguejos (braquiúros e aeglídeos) e lagostins (Parastacidae), e os anfípodos da família Dogielinotidae (Rocha 2003) (Figura 5). Os representantes de Amphipoda habitam normalmente a vegetação litoral de lagoas e constituem uma importante fonte de alimento para peixes. Os representantes de Decapoda são em geral onívoros e bentônicos, e constituem um dos grupos de invertebrados de maior tamanho e ocorrência em áreas úmidas dulcícolas (Magalhães 1999). 25


Figura 4. Representante de Ostracoda

Figura 5. Dogielinotidae

ÁCAROS Os ácaros aquáticos constituem um grupo bastante diversificado que pode ser encontrado nas mais diferentes classes de áreas úmidas, desde rios, lagoas e lagos até represas e arrozais. O hábitat preferecial dos ácaros aquáticos é a região litoral das áreas úmidas, próximo a plantas flutuantes e submersas (Figura 6). As famílias Limnocharidae e Hydrachnidae podem apresentar formas parasitas e de vida livre (Forneris 1999). O ciclo de vida dos ácaros aquáticos é complexo, compreendendo as fases de ovo, larva, ninfa e adulto. No estágio larval, estes organismos podem parasitar larvas de insetos de diversas ordens, principalmente de Hemiptera, Diptera e Coleoptera. Figura 6. Ácaros aquáticos (Hydracarina) encontrados em áreas úmidas

ANELÍDEOS Os oligoquetas e hirudíneos (sanguessugas) caracterizam-se pela sua alta densidade em áreas úmidas. São muito importantes na dinâmica de nutrientes, com participação ativa na decomposição da matéria orgânica. Os anelídeos se alimentam de algas e de todo tipo de detritos, sedimentos e vegetais (Lino et al. 2004). As famílias Tubificidae e Naididae são os representantes mais abundantes que compõem a fauna de oligoquetas aquáticos de lagos brasileiros (Figura 7). Os tubificídeos conseguem sobreviver em condições de baixa concentração de oxigênio devido à presença de pigmentos semelhantes à hemoglobina. Essa característica favorece sua predominância em ecossistemas com alta poluição orgânica. Enquanto os tubificídeos vivem preferencialmente no sedimento, os naidídeos se encontram freqüentemente na vegetação submersa (Lino et al. 2004). Figura 7. A família Tubificidae representa, geralmente, a maior biomassa bentônica em substratos lodosos, argilosos ou arenosos

Os hirudíneos ou sanguessugas são freqüentes em áreas úmidas com grande quantidade de plantas aquáticas, podendo viver próximos ao sedimento ou na vegetação submersa (Lino et al. 2004) (Figura 8). Esses animais são predadores ou ectoparasitas hematófagos de vertebrados. A hirudina é uma substância anticoagulante de importância farmacêutica produzida pelas glândulas das sanguessugas.

a)

b)

Figura 8. Hirudíneos: a) família Glossiphoniidae; b) família Hirudinidae, com destaque para a disposição dos olhos

26


MOLUSCOS Os moluscos de água doce estão representados principalmente pelos gastrópodos e bivalves. Os gastrópodos estão entre os organismos mais importantes das áreas úmidas, tanto pela diversidade de espécies como pelo volume de biomassa (Simone 1999). Alimentam-se de algas perifíticas e detritos aderidos aos substratos aquáticos. Os gastrópodos também são muito estudados em pesquisas médico-sanitárias, pois muitas espécies são vetores de doenças parasitárias, como por exemplo, a esquistossomose, doença transmitida por um verme que utiliza os caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiro intermediário (Figura 9). No Brasil, os bivalves de água doce estão representados principalmente por três famílias: Mycetopodidae, Hyriidae e Sphaeriidae, sendo que esta última apresenta certo endemismo na região sul do país (Avelar 1999) (Figura 10). Os bivalves são organismos filtradores, que se alimentam de algas microscópicas, bactérias e detritos suspensos na água, vivendo enterrados em fundos lodosos ou areno-lodosos de áreas úmidas lóticas e lênticas. Atualmente, todas as espécies de bivalves de água doce estão ameaçadas devido à poluição e destruição dos mananciais.

Figura 10. Sphaeriidae

Figura 9. Planorbidae

PLATELMINTOS TUBELÁRIOS Os turbelários são platelmintos de vida livre e, dentro deste grupo, os tricladidos dulciaqüícolas são muito abundantes em áreas úmidas. Esses platelmintos desempenham papel como predadores, alimentando-se de outros invertebrados, tais como larvas de insetos, crustáceos e oligoquetas. A competição pelo alimento é um dos principais fatores que determina a distribuição e abundância das espécies de turbelários nos ecossistemas aquáticos (Reynoldson & Bellamy 1971). Por serem sensíveis à luz, as formas de água doce podem freqüentemente ser encontradas aderidas às macrófitas ou na parte inferior de pedras em reservatórios, rios e lagos. As espécies com dieta alimentar muito restrita são mais sensíveis às alterações ambientais do que aquelas que se alimentam de várias fontes (vegetal e/ou animal). De acordo com a natureza do alimento e seu modo de captura (relacionado ao tipo de aparelho bucal), os macroinvertebrados podem ser classificados em diferentes grupos tróficos funcionais (Cummins 1973, Allan 1995, Merritt & Cummins 1996, Callisto et al. 2001, Callisto & Gonçalves Jr. 2002, Lino et al. 2004): 1) coletores (alimentam-se de matéria orgânica dissolvida na água ou no substrato): de acordo com o seu mecanismo de alimentação podem ser detritívoros, filtradores, coletores e catadores; as famílias Baetidae e Caenidae (Ephemeroptera) (Figura 11) são exemplos deste grupo trófico funcional;

Figura 11. Náiade de Caenidae

2) raspadores (alimentam-se de material preso ao substrato, como o perifíton, que é formado por algas aderidas a um substrato): podem ser raspadores de superfície mineral ou orgânica, como por exemplo, as famílias Ampullaridae (Figura 12) e Planorbidae (Gastropoda); Figura 12. Ampullaridae

27


3) fragmentadores (alimentam-se de matéria orgânica particulada grossa, formada por fragmentos vegetais maiores, como folhas): podem ser herbívoros, detritívoros ou minadores; as famílias Tipulidae (Diptera) (Figura 13) e Calamoceratidae (Trichoptera) (Figura 14) são exemplos de macroinvertebrados fragmentadores;

Figura 13. Tipulidae

Figura 14. Casinha de Calamoceratidae

4) predadores (alimentam-se de organismos vivos): engolem as presas inteiras ou aos pedaços; os hemípteros (Figura 15), as náiades de todas as famílias de Odonata (Figura 16), as famílias Gyrinidae (Coleoptera) e Tabanidae (Diptera) são alguns exemplos de predadores. A maior parte dos hemípteros se alimenta de matéria orgânica líquida, sendo bastante freqüentes em ecossistemas lênticos com vegetação aquática abundante;

Figuras 15 e 16. Representantes de predadores das famílias Gerridae e Aeshnidae

5) parasitas (alimentam-se de organismos vivos): vivem interna ou externamente no corpo de outros organismos vivos; os hirudíneos são exemplos de organismos ectoparasitas (Figura 17). Algumas famílias de macroinvertebrados podem ter representantes de diferentes grupos

Figura 17. Representante de Glossiphoniidae

tróficos, como é o caso das larvas da família Chironomidae (Diptera), que podem ser coletores (Figura 18a), raspadores, fragmentadores e predadores (Figura 18b), consumindo uma ampla variedade de alimentos (algas, detritos, macrófitas, animais, etc).

Figura 18. Representante das subfamílias: a) Chironominae (coletor) e b) Tanypodinae (predador)

28


A composição e a diversidade de grupos tróficos funcionais são indicadores da disponibilidade dos recursos alimentares e da diversidade de hábitats de um ecossistema aquático (Merritt & Cummins 1996). Os grupos tróficos funcionais são freqüentemente usados em estudos de impacto ambiental em ecossistemas aquáticos (Silveira 2004). Por exemplo, com a retirada da mata ciliar e assoreamento do leito de um rio, alterações na abundância de determinados grupos são esperadas em função da maior ou menor disponibilidade de determinada fonte de alimento. Após o desmatamento da mata ciliar de um rio, macroinvertebrados coletores e filtradores se tornam mais abundantes pela maior entrada de matéria orgânica suspensa causada pela erosão das margens e assoreamento do rio. Em arroios, a relação do aumento da complexidade estrutural do substrato com a riqueza de macroinvertebrados se mostra positivamente significativa (Hart, 1978; O’Connor, 1991). Entretanto, a comunidade de macroinvertebrados aquáticos pode ser estruturada por processos no nível de escalas espaciais múltiplas (Minshall 1988; Poff 1997; Heino et al. 2003; Ligeiro et al. 2010), sendo que os padrões ecológicos observados dentro de uma comunidade local tende a ser diferente dos padrões observados em áreas maiores, como paisagens ou regiões (Crist et al. 2003). Por essa razão, a estrutura da comunidade de macroinvertebrados em arroios tem sido associada com variáveis em escalas a nível local e regional (Heino et al. 2003; Robson et al. 2005; Ligeiro et al. 2010). Muitos estudos têm mostrado que a maior fonte de variação na riqueza e densidade de táxons de macroinvertebrados está entre as unidades amostrais, como, por exemplo, amostras de Surber (Boyero & Bailey, 2001; Li et al, 2001;. Boyero, 2003; Heino et al., 2004; Townsend et al, 2004), amostras individuais de pedras (Downes et al, 1993) ou substratos artificiais, como tijolos (Downes et al, 2000). Encontrar padrões em outras escalas espaciais é mais variável, no entanto, alguns estudos demonstraram variações significativas entre corredeiras (Downes et al, 1993; Boyero, 2003). OBJETIVOS • Caracterizar a fauna de macroinvertebrados aquáticos em trechos de arroios de cabeceira da Bacia do Rio dos Sinos quanto à riqueza, abundância, composição e grupos tróficos funcionais; • Avaliar o efeito da condição de vegetação ripária na diversidade, composição, grupos tróficos funcionais e na qualidade da água, através do índice biótico de famílias (IBF), utilizando a fauna de macroinvertebrados aquáticos. MATERIAL E MÉTODOS Amostragem e identificação de macroinvertebrados aquáticos Em cada arroio (Padilha, Areia e Chuvisqueiro), foram analisados dois trechos com diferenças na área de vegetação ripária, ou seja, duas classificações diferentes de conservação da vegetação ripária. Cada classificação teve três réplicas, uma para cada arroio, sendo totalizados seis pontos de amostragem. Em cada ponto, foram coletadas 18 amostras aleatórias dentro de um trecho de aproximadamente 100 metros em diferentes habitats do arroio (pedra, seixo e folhiço) localizados em corredeiras e remansos (Figura 22). As amostras foram coletadas em dois momentos, no inverno de 2010 e verão de 2011. No total, 216 amostras foram coletadas ao longo dos três arroios entre as diferentes classificações de conservação da floresta ripária. Os diferentes pontos de amostragem foram classificados em: trecho 1 (vegetação ripária conservada, com largura acima de 30 m em cada lado do arroio; e trecho 2 (vegetação ripária não conservada, com largura entre 0 e 5 m) - Figura 23. Cada ponto de amostragem teve uma extensão de vegetação ripária rio acima de aproximadamente 1 km de extensão ao longo do arroio e uma distância mínima de 3 km entre o outro ponto a ser analisado.

29


Figura 22. Esquema com a representação da extensão de um ponto de amostragem e habitats onde os macroinvertebrados foram amostrados.

Figura 23. a) Trecho 1 apresentando vegetação ripária conservada; b) Trecho 2 apresentando ausência dessa vegetação.

Em cada ocasião de amostragem, os macroinvertebrados foram coletados através de um puçá aquático (frame dip-net) de 30cm de largura e malha de 250μm nos remansos e um amostrador tipo Surber, também com malha de 250μm nas corredeiras. As amostras foram fixadas in situ com álcool 80% e levadas ao laboratório. No laboratório, as amostras de macroinvertebrados foram lavadas com o auxílio de peneiras com malhas de 0,25 mm de diâmetro. Os macroinvertebrados foram triados e identificados a nível de família com auxílio de estereomicroscópio e acondicionados em tubetes de vidro com etanol a 80%. A identificação foi realizada através de bibliografias especializadas (Lopretto & Tell, 1995; Merritt & Cummins, 1996; Fernández & Dominguez, 2001). As amostras foram armazenadas no Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. AS MEDIDAS BIOINDICADORAS O índice “IBF” (Índice Biótico de Famílias) foi usado em nosso estudo. Ele foi desenvolvido por Hilsenhoff (1988) e os táxons sensíveis recebem valores mais baixos. Este índice considera, além do dado qualitativo, o dado quantitativo, pois leva em consideração a abundância das famílias. Além disso, o índice de diversidade de Shannon -Wiener (H’) foi utilizado. Ele considera tanto o número de espécies (riqueza) como a abundância de indivíduos (equitabilidade). Foi realizada uma análise de correlação simples entre os índices. Para analisar as diferenças da composição e dos grupos tróficos de macroinvertebrados entre as condições de vegetação ripária foram utilizadas Análises de Variância Multivariada Permutacional (Permanova), com distância Euclidiana, 1000 permutações e um nível de significância de (p<0,05). Uma análise de Espécies Indicadoras foi realizada para a composição dos trechos 1 e 2. Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa estatístico R versão 2.11.1.

30


RESULTADOS Um total de 31.125 indivíduos e 71 famílias de macroinvertebrados foi encontrado. A família mais abundante foi Chironomidae (4.696), seguida de Elmidae (3.880) e Hydrobiidae (3.763). Grande parte das famílias (31) esteve presente em 100% dos pontos analisados. No trecho 1, a família dominante foi Chironomidae, representando 15.79% do total de indivíduos, e no trecho 2, a família dominante foi Hydrobiidae com 19.62% do total de indivíduos. A maioria das famílias pertenceu ao grupo trófico dos predadores (27), seguido pelos raspadores (15), pelos coletores (12), pelos fragmentadores (8) e pelos filtradores (5) (Tabela 1). Tabela 1. Abundância, freqüência, dominância e grupos tróficos das famílias de macroinvertebrados encontrados nos pontos 1 e 4 dos arroios Padilha, Areia e Chuvisqueiro durante inverno de 2010 e verão de 2011. Famílias

Abundância

Aeglidae Ampullaridae Ancylidae Aeshnidae Baetidae Belostomatidae Blephariceridae Caenidae Calamoceratidae Calopterygidae Ceratopogonidae Chironomidae Coenagrionidae Corduliidae Corydalidae Culicidae Dixidae Dogielinotidae Dryopidae Dugesiidae Dytiscidae Ecnomidae Elmidae Empididae Ephidridae Gerridae Glossossomatidae Gomphidae Gripopterygidae Gyrinidae Haliplidae Hebridae Helicopsychidae Helotrephidae Hydracarina Hydrobiidae Hydrobiosidae

61 105 11 2 2666 118 5 362 233 32 71 4696 72 4 83 2 1 12 3 56 8 7 3880 80 1 1 777 86 1230 38 1 1 284 41 31 3763 38

Freqüência (%) Trecho 1

Trecho 2

100 66.67 66.67 33.33 100 100 66.67 100 100 100 100 100 66.67 0 100 33.33 0 100 33.33 100 33.33 66.67 100.00 100.00 0.00 0.00 100.00 100.00 100.00 100.00 33.33 33.33 100.00 66.67 66.67 100.00 100.00

100 100 66.67 0. 100 66.67 33.33 100 100 100 100 100 100 66.67 100 33.33 33.33 33.33 33.33 100 33.33 0 100.00 100.00 33.33 33.33 100.00 100.00 100.00 100.00 0.00 0.00 66.67 33.33 100.00 100.00 33.33

Dominância (%)

Grupos tróficos

Trecho 1 Trecho 2

0.22 0.24 0.05 0.02 8.29 0.55 0.02 2.56 1.58 0.10 0.43 15.79 0.37 0.00 0.15 0.01 0.00 0.08 0.02 0.17 0.03 0.05 10.30 0.32 0.00 0.00 2.65 0.24 5.71 0.12 0.01 0.01 0.19 0.31 0.08 1.58 0.28

0.18 0.41 0.03 0 8.76 0.26 0.01 0.17 0.15 0.10 0.08 14.58 0.13 0.02 0.35 0.01 0.01 0.01 0.01 0.19 0.02 0 14.01 0.22 0.01 0.01 2.39 0.30 2.69 0.12 0.00 0.00 1.43 0.01 0.11 19.62 0.01

ND raspadores raspadores predadores coletores predadores raspadores raspadores fragmentadores predadores coletores coletores predadores predadores predadores coletores coletores fragmentadores ND predadores predadores ND raspadores/coletores predadores fragmentadores coletores raspadores predadores fragmentadores predadores fragmentadores predadores raspadores predadores predadores raspadores predadores

u

31


Hydrophilidae Hydropsychidae Hydroptilidae Leptoceridae Leptohyphidae Leptophlebiidae Libellulidae Lymnaeidae Lutrochidae Megapodagrionidae Mesoveliidae Naucoridae Noteridae Notonectidae Odontoceridae Palaemonidae Perilestidae Perlidae Philopotamidae Physidae Planorbidae Pleidae Polycentropodidae Psephenidae Psychodidae Pyralidae Simullidae Sphaeriidae Staphylinidae Tabanidae Tipulidae Veliidae NEMATODA OLIGOCHAETA

22 1788 520 2046 3378 1293 21 179 1 6 4 88 2 6 34 9 23 680 315 6 15 6 70 210 4 82 700 222 1 2 84 155 22 269

66.67 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 0.00 66.67 33.33 100.00 33.33 33.33 33.33 0.00 100.00 100.00 66.67 33.33 100.00 100.00 100.00 100.00 33.33 66.67 100.00 100.00 0.00 33.33 66.67 100.00 66.67 100.00

100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 33.33 33.33 33.33 100.00 0.00 66.67 66.67 33.33 100.00 100.00 100.00 66.67 100.00 33.33 66.67 100.00 33.33 100.00 100.00 100.00 33.33 33.33 100.00 100.00 100.00 100.00

0.05 4.22 2.82 12.20 13.33 4.46 0.06 0.94 0.00 0.04 0.02 0.38 0.02 0.02 0.05 0.00 0.12 1.72 0.33 0.02 0.08 0.04 0.35 0.85 0.02 0.13 2.60 0.48 0.00 0.01 0.17 0.89 0.08 0.95

0.09 6.84 0.85 2.54 9.08 3.91 0.07 0.31 0.01 0.01 0.01 0.22 0.00 0.02 0.15 0.05 0.04 2.52 1.50 0.02 0.03 0.01 0.14 0.55 0.01 0.36 2.00 0.88 0.01 0.01 0.34 0.22 0.07 0.80

ND = Não Definido

coletores filtradores coletores fragmentadores coletores raspadores predadores raspadores ND predadores predadores predadores predadores predadores raspadores fragmentadores predadores predadores filtradores raspadores raspadores predadores filtradores raspadores coletores fragmentadores filtradores filtradores ND raspadores predadores predadores predadores coletores

A composição de macroinvertebrados entre os trechos 1 e 2 foi diferente (F=1.718, R2=0.300, P<0.05). Segundo a Análise de Espécies Indicadoras, as famílias Calamoceratidae (P=0.092) e Ceratopogonidae (P=0.097) foram as famílias mais indicativas do trecho 1 e as famílias Corydalidae (P=0.097) e Perlidae (P=0.099) foram as mais indicativas do trecho 2. Houve uma notável diferença entre a porcentagem dos grupos tróficos no trecho 1 (coletores= 46.75%; fragmentadores= 19.86%; raspadores= 19.01%; filtradores= 8.03%; predadores= 6.34%) e no trecho 2 (coletores= 41.35%; raspadores= 36.10%; filtradores= 11.37%; fragmentadores = 5.82%; predadores=5.36%) (Figuras 24 e 25).

32


Figura 24. Gráfico com a proporção dos grupos tróficos encontrados no trecho 1 durante inverno de 2010 e verão de 2011.

O IBF apresentou um padrão de mudança de uma qualidade da água de boa (escore de 4,26 a 5), ou seja, com alguma poluição orgânica, no trecho 1 para uma qualidade aceitável (escore de 5,01 a 5,75), ou seja, com baixa poluição orgânica, no trecho 2. O índice de diversidade de Shannon -Wiener (H’) também se mostrou maior em todos os pontos do trecho 1 em comparação com o trecho 2 (Tabela 2). Houve uma correlação negativa significativa (r=-0,761) entre a diversidade de Shannon e o IBF, ou seja, quanto melhor a qualidade da água, maior a diversidade de Shannon (Figura 26).

Figura 25. Gráfico com a proporção dos grupos tróficos encontrados no trecho 2 durante inverno de 2010 e verão de 2011.

Tabela 2. Resultado dos índices IBF e H’ nos trechos 1 e 2 dos arroios Padilha, Areia e Chuvisqueiro. Arroios Padilha Areia Chuvisqueiro

Trecho IBF 1 2 1 2 1 2

4.97 5.54 4.71 5.16 4.72 5.61

H’ 2.81 2.77 2.72 2.60 2.84 2.38

Arroios: 1 – Padilha trecho 1 2 – Padilha trecho 2 3 – Areia trecho 1 4 – Areia trecho 2 5 – Chuvisqueiro trecho 1 6 – Chuvisqueiro trecho 2

Figura 26. Variação dos índices IBF e H’ nos trechos 1 e 2 dos arroios analisados na Bacia do Rio dos Sinos durante inverno de 2010 e verão de 2011.

33


CONSIDERAÇÕES FINAIS A composição de macroinvertebrados diferiu de forma significativa entre os pontos mais conservados e menos conservados. Além das famílias que ocorreram nos pontos com vegetação ripária conservada serem diferentes das famílias dos pontos com vegetação ripária quase ausente, os grupos tróficos presentes nesses pontos não foram equivalentes. Nos pontos mais conservados, os fragmentadores estavam mais presentes, reduzindo sua abundância nos pontos impactados. Isso porque os fragmentadores alimentam-se de fragmentos vegetais maiores, que são mais abundantes nos locais com vegetação ripária conservada. Já nos pontos impactados, houve uma maior incidência de macroinvertebrados raspadores. A ausência vegetação ripária favorece uma maior incidência de luz que gera um aumento na produção primária (conseqüente aumento de raspadores) e uma redução no aporte de material alóctone (redução de fragmentadores). Segundo Vannote et al (1980), as características funcionais e estruturais dos sistemas lóticos variam com as mudanças longitudinais do rio. Nos arroios de cabeceira onde a vegetação ripária é abundante, os grupos funcionais de macroinvertebrados não são os mesmos que a jusante, onde a largura do rio aumenta e a quantidade de vegetação ripária reduz. A jusante, a tendência é que haja uma diminuição da porcentagem de predadores, uma considerável diminuição de fragmentadores e um considerável aumento de raspadores, assim como observado no presente estudo. Esta modificação dos grupos tróficos indica o efeito da ausência da vegetação ripária nos trechos estudados, já que outros fatores de estrutura, como ordem do rio e diversidade de habitats dentro do arroio não variam. A avaliação do índice biótico pôde mostrar diferenças na qualidade da água entre os pontos. Os resultados do biótico de famílias (IBF) apresentou um padrão de mudança na qualidade da água entre os pontos com vegetação ripária conservada e impactada já que o índice considera relação das abundâncias relativas das famílias com o número total de indivíduos encontrados. A utilização de dados quantitativos, utilizando a abundância dos indivíduos, são poderosos na detecção de um impacto, principalmente quando suspeitarmos que as potenciais diferenças entre os ambientes são pequenas. Os resultados encontrados evidenciam a importância da conservação da vegetação ripária para a melhoria da qualidade de água dos arroios de cabeceira da Bacia do Rio dos Sinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLAN, J. D. 1995. Stream ecology. Structure and function of running waters. London, Chapman & Hall. APHA. 1989. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Washington, American Public Health Association. AVELAR, W. E. P. 1999. Moluscos Bivalves. In: D. ISMAEL; W.C. VALENTI; T. MATSUMURA TUNDISI & O. ROCHA (eds). Biodiversidade do Estado de São Paulo. Invertebrados de água doce. São Paulo, FAPESP. BATZER, D. P.; PALIK, B. J. & BUECH, R. 2004. Relationships between environmental characteris tics and macroinvertebrate communities in seasonal woodland ponds of Minnesota. J. N. Am. Benthol. Soc. 23: 50-68. BATZER, D. P. & WISSINGER, A. S. 1996. Ecology of insect communities in nontidial wetlands. Annu. Rev. Entomol. 41:75-100. BORROR, D. J. & DELONG, D. M. 1969. Introdução ao Estudo dos Insetos. Rio de Janeiro, USAID e Edgar Blucher Ltda. BOULTON, A. J. & JENKINS, K. M. 1998. Flood regimes and invertebrate communities in floodplain wetlands. In: W. D. Williams. (ed.). Wetlands in a Dry Land: Understanding for Management. Canberra, Biodiversity Group. BOYERO L. 2003. Multiscale patterns of spatial variation in stream macroinvertebrate communities. Ecological Research 18:365–379. BOYERO, L. & BAILEY, R. C. 2001. Organization of macroinvertebrate communities at a hierarchy of spatial scales in a tropical stream. Hydrobiologia 464: 219–225.

34


BRÖNMARK, C. & HANSSON, L. A. 1998. The biology of lakes and ponds. Oxford, Oxford University Press. CALLISTO, M. & GONÇALVES Jr., J. F. 2002. A vida nas águas das montanhas. Ciência Hoje 31:68-71. CALLISTO, M., MORENO, P. & BARBOSA, F. A. R. 2001. Habitat diversity and benthic functional trophic groups at Serra do Cipó, Southeast Brazil. Revista Brasileira de Biologia 61(2): 259-266. CRIST, T. O., VEECH, J. A, GERING, J. C. & SUMMERVILLE, K. S. 2003. Partitioning species diversity across landscapes and regions: a hierarchical analysis of α, β and γ diversity. The American Naturalist 162:734–743. CUMMINS, K. W. 1973. Trophic relations of aquatic insects. Annual Review of Entomology 18:183-206. DOWNES, B. J., HINDELL, J. S. & BOND, N. R. 2000. What’s in a site? Variation in lotic macroinvertebrate density and diversity in a spatially replicated experiment. Austral Ecology 25:128–139. DOWNES, B. J., LAKE P. S. & SCHREIBER E. S. G. 1993. Spatial variation in the distribui tion of stream invertebrates: implications of patchiness for models of community organization. Freshwater Biology 30:119–132. ESTEVES, F. A. 1998. Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro, Interciência. FERNÁNDEZ, H. R. & DOMÍNGUEZ, E. 2001. Guía para la Determinación de los Artrópodos Bentónicos Sudamericanos. Argentina, Universidad Nacional de Tucumán. FORNERIS, L. 1999. Ácaros. In: D. ISMAEL, W.C. VALENTINI, T. MATSUMURA-TUNDISI & O. ROCHA (eds.). Biodiversidade do estado de São Paulo, Brasil: invertebrados de água doce. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), São Paulo. FRIDAY, L. E. 1987. The diversity of macroinvertebrate and macrophyte communities in ponds. Freshwater Biology 18(1):87-104. GALDEAN, N., CALLISTO, M., BARBOSA, F. A. R. & ROCHA, L. A., 2000, Lotic ecosystems of Serra do Cipó, Southeast Brazil: water quality and a tentative classification based on the benthic macroinvertebrate community. Journal of Aquatic Ecosystem Health & Restoration 3:545-552. GILLER, P. S. & MALMQVIST, B. 1998. The Biology of Streams and Rivers. New York, Oxford University Press. HART, D. D. 1978. Diversity in stream insects: regulation by rock size and microspatial complexity. Verhandlungen des Internationalen Verein Limnologie 20:1376-1381. HEINO, J. 2000. Lentic macroinvertebrate assemblage structure along gradients in spatial heterogeneity, habitat size and water chemistry. Hydrobiologia 418:229–242. HEINO, J., LOUHI, P. & MUOTKA, T. 2004. Identifying the scales of variability in stream macroinvertebrate abundance, functional composition and assemblage structure. Freshwater Biology 49:1230–1239. HEINO, J, MUOTKA, T & PAAVOLA, R. 2003. Determinants of macroinvertebrate diversity in headwater streams: regional and local influences. The Journal of Animal Ecology 72:425–434 HELLAWELL, J.M. 1986. Biological indicators of freshwater pollution and environmental management. In: K. Mellanby (ed). Pollution Monitoring Series. London, Elsevier Applied Science Publishers. LI, J., HERLIHY, A., GERTH, W. & KAUFMANN, P. 2001. Variability in stream macroinvertebrates at multiple spatial scales. Freshwater Biology 46:87–97. LIGEIRO, R., MELO, A S. & CALLISTO, M. 2010. Spatial scale and the diversity of macroinvertebrates in a Neotropical catchment. Freshwater Biology 55(2):424-435. LINO, F., FOSSATI, O., APAZA R. & GOTILLA, E. 2004. Macroinvertebrados de las lagunas. In: M. POULLY, S. BECK, M. MORAES R. & C. IBAÑEZ (eds.) Diversidad Biológica en la Llanura de Inundación del Río Mamoré. Importancia Ecológica de la Dinámica Fluvial. Patiño, Santa Cruz, Centro de Ecología Simón I. 35


LOPRETTO, E. C. & TELL, G. 1995. Ecosistemas de Aguas Continentales: Metodologías para su Estudio. La Prata, Ediciones Sur. MAGALHAES, C. 1999. Diversity and abundance of decapods crustaceans in the rio Tahuamanu and rio Manuripi basins. In: B. CHERNOFF & P.W. WILLlNK (eds). A Biological Assessment of the Aquatic Ecossystems of the Upper Rio Orthon Basin, Pando, Bolivia. Washington, D.C., Conservation International (RAP Bulletin of Biological Assessment 15). MERRITT, R. W. & CUMMINS, K. W. 1996. An Introduction to the Aquatic Insects of North America. 3 ed. Iowa, Kendall/Hunt Publishing Company. METCALFE, J. L., 1989. Biological water quality assessment of running waters based on macroinvertebrates communities: history and present status in Europe. Environmental Pollution, 60:101- 139. MINSHALL G. W. 1988. Stream ecosystem theory: a global perspective. Journal of the North American Benthological Society 7:263–288. MORETTI, J. L. & CALLISTO, M. 2005. Biomonitoring of benthic macroinvertebrate in the middle Doce River watershed. Acta Limnologica Brasiliensi 17(3):268-282. O’CONNOR, N A. 1991. The effects of habitat complexity on the macroinvertebrate colonising wood substrates in a lowland stream. Oecologia 85:504-512. ORR, B. K. & RESH, V. H. 1992. Influence of Myriophyllum aquaticum cover on Anopheles mosquito abundance, oviposition, and larval microhabitat. Oecologia 90:474–482. POFF, N. L. 1997. Landscape filters and species traits: towards mechanistic understanding and prediction in stream ecology. Journal of the North American Benthological Society 16:391–409. RESH, V. H. & JACKSON, J. K. 1993. Rapid approaches to biomonitoring using benthic macroinvertebrates. In: D. M. ROSENBERG, & RESH V. H. (eds). Freshwater biomonitoring and benthicmacroinvertebrates. New York, Chapman & Hall. REYNOLDSON, T. B. & BELLAMY, L. F. 1971. The establishment of interspecific competition in Field populations with na example of competition between Polycelis Níger (Mull.) and P. tenuis (Ilima) (Turbellaria, Tricladida). In: P. J. DEN BOER & G. R. GRADWELL (eds). Dynamics of Populations. The Netherlands, Center for Agricultural Publishing and Documentation. RICHTER, K. O. 2000. Macroinvertebrate distribution, abundance, and habitat use. In: A. L. AZOUS, & R. R. HORNER (eds). Wetlands and urbanization. Implications for the future. Washington, Lewis Publishers. ROBSON, B. J., HOGAN, M. & FORRESTER, T. 2005. Hierarchical patterns of invertebrate assemblage structure in stony upland streams change with time and flow permanence. Freshwater Biology 50: 944–953 ROCHA, O. & GÜNTZEL, A. M. 1999. Crustáceos branquiópodos. In: D. ISMAEL, W. C. VALENTI, T. MATSUMURA-TUNDISI & O. ROCHA (eds). Biodiversidade do estado de São Paulo, Brasil. Invertebrados de Água doce. São Paulo, FAPESP. ROCHA, O. 2003. Avaliação do estado de conhecimento da diversidade biológica do Brasil: Águas Doces. Brasília, Ministério do Meio Ambiente. ROSENBERG, D. M. & RESH, V. H. 1993. Freshwater Biomonitoring and Benthic Macroinvertebrate. New York, Chapman and Hall. RUPPERT, E. E & BARNES, R. D. 1996. Zoologia dos Invertebrados. São Paulo, Editora Roca. SILVEIRA, M. P. 2004. Aplicação do biomonitoramento para avaliação da qualidade da água em rios. Jaguariúna, São Paulo, Embrapa. SIMONE, L. R. L. 1999. Moluscos Gastrópodos. In: D. ISMAEL; W. C. VALENTI; T. MATSUMURA-TUNDISI & O. ROCHA (eds). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. São Paulo, FAPESP. STERNBERG, K. 1994. Niche specialization in dragonflies. Avances in Odonatology 6:177-198.

36


TOWNSEND, C. R., DOWNES, B. J., PEACOCK, K. & ARBUCKLE, C. J. 2004. Scale and the detection of land-use effects on morphology, vegetation and macroinvertebrate communities of grassland streams. Freshwater Biology 49:448–462. VANNOTE, R. L., MINSHALL, G. W., CUMMINS, K. W., SEDELL, J. R. & CUSHING, C. E. 1980. The river continuum concept. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences 37:130–137. WEATHERHEAD, M. A. & JAMES, M. R. 2001. Distribution of macroinvertebrates in relation to physical and biological variables in the littoral zone of nine New Zealand lakes. Hydrobiologia 462:115–129.

37


Efeitos da degradação da mata ciliar sobre a biodiversidade do fitoplâncton na Bacia do Rio dos Sinos Luciane Oliveira Crossetti¹, Denise Peresin2, Jaiana Malabarba3 INTRODUÇÃO O fitoplâncton é definido como um coletivo de microrganismos fotossintéticos adaptados a viver parcialmente ou continuamente na região aberta dos mares, dos lagos (incluindo reservatórios), lagoas e águas de rios e arroios, onde contribuirá com uma parte ou a maior parte do carbono orgânico disponível para cadeias alimentares pelágicas (Reynolds, 2006). Dentre os organismos aquáticos, a comunidade fitoplanctônica destaca-se não só por ser a base das cadeias tróficas nos ecossistemas aquáticos em geral, mas também por apresentar propriedades capazes de indicarem eficientemente alterações ambientais, sejam elas naturais ou antrópicas. As microalgas planctônicas desenvolveram estratégias para ocuparem habitats em diferentes condições ambientais, o que permitiu utilizá-las, eventualmente, como bioindicadores de qualidade ambiental. Por viverem em suspensão, esta comunidade responde rapidamente a distúrbios, que provocam mudanças na sua estrutura e dinâmica. As alterações nos sistemas aquáticos podem ocorrer em função de diversas situações como, por exemplo, descarte de efluentes, ocupação desordenada das áreas de margem, fragmentação de habitats, inserção de espécies exóticas, supressão da vegetação ciliar, entre outras, refletindo-se na estruturação desta comunidade. Segundo Padisák et al. (2006), o uso de espécies ou gêneros de algas planctônicas para a determinação da qualidade da água já tem uma longa história. O uso de microalgas como descritoras ambientais tem sido discutido há mais de 100 anos, sendo que o primeiro sistema indicador foi publicado em Kolkwitz & Marsson em 1908 (Kitner e Poulíčková, 2003). Trabalhos abordando a comunidade algal em ambientes lóticos (rios ou riachos) e suas relações com parâmetros ambientais foram descritos no mundo inteiro (ex. O’Farrell, 1993; Reynolds, Descy e Padisák, 1994; O’Farrell, 1994; Tavernini, Pierobon, Viaroli, 2011). No Brasil, destacam-se os estudos com abordagem taxonômica (Bittencourt-Oliveira e Castro, 1993; Bittencourt-Oliveira, 1993a, b; Mendes-Câmara et al., 200; Soares et al., 2007), estudos sobre a estrutura e dinâmica do fitoplâncton (Train e Rodrigues, 1998; Train e Rodrigues, 2001; Soares, Huszar e Roland, 2007) e estudos com diatomáceas epilíticas e suas respostas aos gradientes ambientais (Lobo et al., 2004; Lobo et al., 2010). As abordagens relacionadas à diversidade especificamente são restritos, destacando-se os estudos de Bittencourt-Oliveira (2002) e Borges et al. (2003). Grande parte dos estudos em ecossistemas lóticos são realizados com algas perifíticas. Historicamente, o fitoplâncton de ambientes lóticos tem recebido menos atenção em estudos limnológicos (Rodrigues, Torgan e Schwarzbold, 2007), embora alguns já tenham demonstrado que ambas as assembléias de fitoplâncton e perifíton são bioindicadores apropriados para grandes rios (Kireta et al., 2012). Os fatores reguladores do desenvolvimento do fitoplâncton em ambientes lóticos são os mesmos fatores físicos (luz, temperatura), químicos (troca de gases, nutrientes inorgânicos, íons) e bióticos (por exemplo, herbivoria) considerados para lagos e reservatórios, diferindo, porém, quanto às respostas a esses fatores ambientais, devido ao fluxo unidirecional a que estão submetidos (Silva, Train e Rodrigues, 2001). A sobrevivência das algas suspensas em ambientes com fluxo unidirecional se dá devido a mecanismos de retenção da água (‘storage zones’) que mantêm os inóculos e promovem o reforço das populações à jusante (Reynolds, 1994). Nestas zonas, onde o tempo de retenção da água é maior a biomassa das microalgas é inversamente correlacionada (¹) Profa do Programa de Pós Graduação em Biologia, C2, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (²) Discente do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (3) Graduanda do Curso de Ciências Biológicas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil

38


com as taxas de descarga e turbidez, e positivamente com nutrientes (Reynolds, Descy e Padisák, 1994). Considerando-se os padrões de riqueza e diversidade em ecossistemas lóticos, grandes rios tendem a apresentar maior riqueza que pequenos arroios, aparentemente devido à maior área e à maior diversidade de hábitat (Allan & Castillo, 2007). Algumas teorias postulam que, da cabeceira à foz do rio, existe um aumento gradual de tamanho, acompanhado de gradiente biológico (heterotrófico à autotrófico) ao longo do aumento de incidência luminosa, temperatura e sais dissolvidos na água (Teoria do Rio Contínuo, Vanotte et al., 1980). Em relação à presença da vegetação ripária, sua supressão tende a aumentar a quantidade de nutrientes na água, acelerando muitas vezes o processo de eutrofização, levando à redução da riqueza e diversidade do fitoplâncton ou, algumas vezes, aumentando a riqueza de espécies indicadoras de ambientes com maiores cargas de nutrientes. Em áreas com muita vegetação ripária, pode haver também redução de riqueza e diversidade devido ao sombreamento limitante ao crescimento do fitoplâncton. Mudanças de carga de nutrientes provocadas pelo desmatamento de até 50% de florestas ripárias podem potencializar a eutrofização nos corpos d’água de bacias hidrográficas e provavelmente aumentar a frequência de florações de algas (Perry et al., 1999). Alguns estudos já mencionaram a influência da mata ciliar na qualidade de água e a consequente resposta da comunidade fitoplanctônica (Naiman, Décamps e McClain., 2005; Dudgeon, 2008). A influência de diferentes usos da terra sobre a comunidade de diatomáceas em rios tropicais e temperados (Vázquez, Aké-Castillo e Fávila, 2011; Gabel, Wehr e Truhn, 2012) já foi observada, sendo que o aumento na proporção de N e P em comparação ao Si, pode resultar no declínio das diatomáceas (Conley e Malone, 1992; Cugier et al, 2005). Assim, sabendo-se da importância e da influência da vegetação ripária sobre a dinâmica dos ecossistemas lóticos e, consequentemente sobre as comunidades biológicas, estudos que enfoquem estes temas contribuindo para a geração de conhecimento em ecossistemas lóticos subtropicais são de interesse para fins de manejo e preservação. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do gradiente de preservação da mata ciliar sobre a biodiversidade do fitoplâncton em arroios da Bacia do Rio dos Sinos (RS). MATERIAL E MÉTODOS Análises Abióticas Foram medidos in situ, na sub-superfície da água dos arroios estudados, os valores de pH (pH), oxigênio dissolvido (OD), temperatura da água (Temp. H2O), condutividade (Cond), potencial redox (ORP), sólidos totais dissolvidos (STD) e turbidez (Turb), com o auxílio da sonda multiparâmetros; velocidade da água (Vel. H2O), utilizando o equipamento Flow Mate; largura do arroio (Larg. arroio) no ponto amostrado. Amostras de água foram coletadas na sub-superfície para análise, em laboratório, de ortofosfato (SRP), fósforo total (PT), nitrogênio total (NT), nitrogênio orgânico (NO), amônia (N-NH3-), nitrito (N-NO2-) (Eaton et al., 2005) e nitrato (N-NO3-) (Método do Salicilato). No período do verão foram incluídas as análises de fósforo orgânico (PO), clorofila a (Cloa) e sílica (Si) (APHA et al. 2005). A carga dos nutrientes fósforo e nitrogênio foi estimada na primeira semana em julho 2012, bem como foi estimada a vazão (Bain & Stevenson, 1999). A carga foi calculada pelo modelo “avarage sample load” (Li et al. 2003): L= K (C * Q), onde L = carga, K = período temporal (neste caso, 1 dia), C = concentração e Q = vazão. Análises Biológicas As amostras para determinação da composição florística da comunidade fitoplanctônica foram coletadas com rede de plâncton (40 passadas manuais) e fixadas com solução aquosa de formalina a 3-5% e armazenadas em frascos plásticos (Figura 1). O exame do material foi realizado usando um microscópio óptico binocular, com aumento de 400 x ou 1000 x, quando necessário. Os organismos foram identificados com o auxílio de bibliografia especializada em nível de específico ou infraespecífico. 39


A análise quantitativa da comunidade fitoplanctônica foi realizada com amostras coletadas na sub-superfície da água (ca. de 10 cm abaixo da lâmina d’água), em cada ponto selecionado, utilizando frascos plásticos. As amostras foram fixadas com solução de lugol acético a 1% (Figura 2). A quantificação do fitoplâncton foi realizada em microscópio invertido (aumento de 400 x) conforme Utermöhl (1958) e o tempo de sedimentação seguiu Lund et al. (1958), que definiu 4 h para cada centímetro de altura da câmara de sedimentação. A biomassa foi calculada através do produto da densidade dos organismos (Ros, 1979) e do biovolume que foi calculado tomando como base o(s) sólido(s) geométrico(s) que mais se aproxima(m) da forma celular, isolado ou combinados, segundo Sun & Liu (2003) e Hillebrand et al. (1999). Para a identificação de diatomáceas, o material coletado foi clarificado conforme a descrição Técnica de Müller-Melches & Fernando (1956), sem a adição de ácido sulfúrico. As lâminas permanentes foram montadas utilizando Naphrax, que é uma resina com índice de refração de 1.65. As lâminas foram examinadas em microscópio óptico, com aumento de 400 x e 1000 x (Figura 3). A identificação de diatomáceas foi realizada com auxílio de bibliografia específica.

Figura 1 . Coleta com rede de plâncton

Figura 2 . Amostragens qualitativas (com rede de plâncton) e quantitativa (frasco) do fitoplâncton

Figura 3. Lâminas permanentes e metodologia de identificação de diatomáceas

A partir dos dados gerados, a riqueza de espécies foi estimada com base no número de espécies encontradas. RESULTADOS As análises físico-químicas da água evidenciaram maiores valores de temperatura, condutividade, sólidos totais dissolvidos e turbidez nos pontos com mata ripária ciliar menos preservada, tanto no inverno quanto no verão (Tabela 1). No geral, observou-se o aumento nas cargas de nutrientes (P e N) ao longo dos pontos menos preservados em todos os arroios estudados (Figuras 4 e 5).

40


Tabela 1. Valores mínimos, máximos, média e desvio padrão (n = 3) das variáveis abióticas em função do gradiente de preservação da mata (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), no inverno e verão, na Bacia do Rio dos Sinos. INVERNO Variáveis/Pontos

1

2

VERÃO 3

4

1

10,0 - 12,2 11,0 - 12,6 11,4 - 12,8 12,0 - 13,3 21,6 - 24,2 Temp H2O (°C) (11,2; ± 1,2) (11,9; ± 0,8) (12,0; ± 0,7) (12,7; ± 0,7) (22,8; ± 1,3) 12,7 15,1 12,2 14,7 12,1 15,4 12,0 13,5 7,7 - 9,3 OD (mg.L-1) (14,1; ± 1,2) (13,7; ± 1,3) (13,8; ± 1,6) (12,8; ± 0,8) (8,7; ± 0,9) 0,036 - 0,046 0,037 - 0,052 0,039 - 0,057 0,044 - 0,061 0,040 - 0048 Cond (ms.cm-1) (0,040; ± 0,006) (0,043; ± 0,008) (0,045; ± 0,010) (0,053; ± 0,009) (0,044; ± 0,004) 0,023 - 0,030 0,024 - 0,034 0,025 - 0,037 0,029 - 0,040 0,026 - 0,031 STD (g.L-1) (0,026; ± 0,004) (0,028; ± 0,006) (0,029; ± 0,007) (0,035; ± 0,006) (0,028; ± 0,003) 7,1 - 8,4 7,2 - 7,5 7,2 - 7,6 7,2 - 7,5 7,1 - 7,2 pH (7,5; ± 0,7) (7,3; ± 0,2) (7,4; ± 0,2) (7,4; ± 0,2) (7,2; ± 0,1) 2,4 - 10,1 3,0 - 8,0 3,0 - 8,0 4,0 - 11,3 0,3 - 12,2 Turb (NTU) (6,6; ± 3,9) (4,7; ± 2,8) (4,7; ± 2,8) (7,7; ± 3,7) (5,9; ± 6,0) 0,26 - 0,38 0,30 - 0,40 0,16 - 0,22 0,17 - 0,22 0,22 - 0,35 Larg. arroio (m) (0,32; ± 0,06) (0,34; ± 0,05) (0,19; ± 0,03) (0,20; ± 0,03) (0,31; ± 0,08) 9 - 80 3 - 80 4 - 40 15 - 50 20 - 60 -1 SRP (µg.L ) (39; ± 37) (34; ± 40) (25; ± 19) (31; ± 19) (37; ± 21) 110 – 190 100 - 180 130 - 200 110 - 190 27 - 37 PT (µg.L-1) (147; ± 40) (140; ± 40) (173; ± 38) (140; ± 44) (33; ± 6) 1 - 6,2 PO (µg.L-1) (4; ± 3) 450 - 560 400 - 750 350 – 820 370 – 520 200 – 540 -1 N-NO3 (µg.L ) (503; ± 55) (527; ± 194) (513; ± 266) (420; ± 87) (326,7; ± 185,8) 1,2 - 2,3 0,3 - 3,4 0,1 - 2,5 2,2 - 3,4 10 – 13 N-NO2- (ug.L-1) (1,7; ± 0,6) (2,0; ± 1,6) (1,2; ± 1,2) (2,7; ± 0,6) (11; ± 2) 90 110 80 140 80 220 70 150 230 - 420 N-NH3- (µg.L-1) (103; ± 12) (107; ± 31) (147; ± 70) (120; ± 44) (320; ± 95) 100 - 300 80 - 530 160 - 270 100 – 250 270 - 1.900 NO (µg.L-1) (200; ± 100) (283; ± 228) (220; ± 56) (197; ± 84) (850; ± 911) 380 - 450 120 - 650 430 – 660 140 - 770 610 - 2.210 NT (µg.L-1) (403; ± 40) (443; ± 284) (563; ± 119) (547; ± 353) (1.170; ± 902) 562 671 500 – 833 430 1.041 512 593 440 - 863 NID (µg.L-1) (608; ± 56) (635; ± 175) (661; ± 332) (543; ± 44) (658; ± 212) 4,83 - 7,24 Si (mg.L-1) (6,2; ± 1,2)

2

3

4

22,8 - 24,4 22,2 - 24,5 22,9 - 24,6 (23,8; ± 0,9) (23,6; ± 1,3) (23,8; ± 0,9) 7,3 - 8,1 7,5 - 7,6 7,2 - 8,6 (7,7; ± 0,4) (7,5; ± 0,0) (7,8; ± 0,7) 0,040 - 0,053 0,044 - 0,057 0,045 - 0,065 (0,047; ± 0,007) (0,049; ±0,007) (0,053; ± 0,011) 0,026 - 0,035 0,029 - 0,037 0,030 - 0,042 (0,031; ± 0,005) (0,032; ± 0,005) (0,034; ± 0,007) 7,0 - 7,6 7,0 - 7,7 7,1 - 7,6 (7,3; ± 0,3) (7,3; ± 0,3) (7,3; ± 0,3) 1,3 - 12,4 0,4 - 14,5 0,5 - 14,3 (6,1; ± 5,7) (6,3; ± 7,3) (6,3; ± 7,2) 0,18 - 0,41 0,07 - 0,42 0,26 - 0,38 (0,26; ± 0,13) (0,28; ± 0,18) (0,30; ± 0,07) 30 - 30 30 - 60 20 - 40 (30; ± 0) (43; ± 15) (30; ± 10) 23 - 38 34 - 66 23 - 33 (31; ± 8) (45; ± 18) (27; ± 5) 1 - 8,1 1 - 4,5 1 - 6,3 (4; ± 4) (3; ± 2) (3; ± 3) 200 - 560 200 – 900 200 - 220 (320,0; ± 207,8) (443,3; ± 395,8) (206,7; ± 11,5) 10 – 12 10 - 10 10 – 14 (11; ± 1) (10; ± 0) (11; ± 2) 300 - 1.420 420 - 1.460 190 - 1.570 (763; ± 584) (793; ± 579) (740; ± 731) 120 - 2.480 150 - 360 140 - 770 (1.043; ± 1.556) (273; ± 110) (437; ± 317) 690 - 4.260 780 - 1.610 600 - 2.340 (1.897; ± 2.047) (1.067; ± 471) (1.213; ± 977) 780 - 1.992 660 - 2.370 400 - 1.804 (1.094; 789) (1.247; ± 973) (958; ± 745) 6,43 - 8,29 6,71 - 9,32 6,80 - 8,57 (7,2; ± 1,0) (7,8; ± 1,4) (7,5; ± 0,9)

Figura 4. Valores de carga de fósforo (kg/d) nos arroios estudados em função do gradiente de preservação da mata ciliar (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), em julho de 2012.

Figura 5. Valores de carga de nitrogênio (kg/d) nos arroios estudados em função do gradiente de preservação da mata ciliar (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), em julho de 2012.

41


Foram identificadas ao longo do estudo, 151 táxons distribuídos em 9 classes taxonômicas. Bacillariophyceae foi a classe que apresentou maior percentual de contribuição para biomassa total (84%) em todos os pontos e independente da estação do ano, com exceção do ponto 3 no verão, onde Zygnemaphyceae destacou-se (64%). Considerando-se o gradiente de preservação da vegetação ripária, os pontos menos preservados sempre apresentaram maior diversidade de classes contribuindo para a biomassa total (Figura 6). A biomassa do fitoplâncton apresentou maiores valores no verão, especialmente nos ponto nos pontos menos preservados no inverno (0,041 mm³.L-1).

Figura 6. Biomassa relativa (%) das classes fitoplanctônicas em função do gradiente de preservação da mata ciliar (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), no inverno e verão, na Bacia do Rio dos Sinos.

O ponto menos preservado apresentou os maiores valores de riqueza de espécies, chegando a apresentar 22 espécies no verão. A menor amplitude da riqueza de espécies ocorreu no ponto mais preservado em ambas as estações do ano (Figuras 7 e 8).

Figura 7. Variação da riqueza de espécies (n° de táxons) (medianas, quartis, n = 3) em função do gradiente de preservação da mata ciliar (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), no inverno e verão, na Bacia do Rio dos Sinos.

Figura 8. Riqueza média de espécies (n° de táxons) em função do gradiente de preservação da mata ciliar (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), no inverno e verão, na Bacia do Rio dos Sinos.

42


Dentre as espécies identificadas, 25 contribuíram com pelo menos aproximadamente 70% da biomassa total em um dos pontos ao longo do período de estudo (Tabela 2). As espécies descritoras ambientais pertenceram a seis classes fitoplanctônicas, destacando-se a maior ocorrência das espécies de Bacillariophyceae, seguido de espécies de Euglenophyceae. Cocconeis placentula var. acuta, Encyonema sp., Gomphonema parvulum e Ulnaria ulna não demonstraram preferência por ponto amostral em função do gradiente de preservação da vegetação ripária uma vez que foram descritoras em todos os pontos, em ambas as estações do ano. Pinnularia cf. subgibba, Surirella splendida e Euglena sp. foram descritoras somente nos pontos menos preservado no inverno enquanto Peridinium sp. foi importante no verão. Nenhuma espécie foi descritora apenas nos pontos mais preservados, embora algumas tenham ocorrido exclusivamente no inverno (Fragilaria fragilarioides e Staurodesmus sp.) e no verão (Coenocystis sp. e Closterium moniliferum). Tabela 2. Biomassa relativa (%) das espécies descritoras em função do gradiente de preservação da mata (1 = área mais preservada; 4 = área menos preservada), no inverno e verão, na Bacia do Rio dos Sinos. Espécies descritoras/Ponto Bacillariophyceae Amphipleura lindheimeri Grunow Cocconeis placentula (Ehrenb.)var.acuta Meister Cyclotella sp. Encyonema minutum (Hilse) Mann Encyonema sp. Fragilaria fragilarioides (Grunow) Cholnoky Gomphonema parvulum (Kützing) Kützing Hydrosera whampoensis (Schwarz) Deby Melosira varians Agardh Nitzschia amphibia Grunow Pinnularia cf. divergens Smith Pinnularia cf. subgibba Krammer Pinullaria sp. Surirella splendida (Ehrenberg) Kützing Ulnaria ulna Nitzsch Chlorophyceae Coenocystis sp. Oocystis lacustris Chodat Cyanophyceae Aphanocapsa delicatissima West & West Dinophyceae Peridinium sp. Euglenophyceae Euglena sp. Phacusl ongicauda (Ehrenberg) Dujardin Phacus pleuronectes (Müller)Dujardin Trachelomonas volvocina Ehrenberg Zygnemaphyceae Closterium moniliferum (Bory) Ehrenberg Staurodesmus sp. Contribuição biomassa total (%)

INVERNO 2 3 4 1 0,9 7,4 11,2 6,2 7,0 7,6 19,8 2,7 3,0 0,4 0,8 0,4 3,2 0,3 5,1 3,3 2,9 3,3 1,7 0,5 0,7 6,3 1,1 7,2 0,5 5,5 0,9 9,8 12,4 16,7 7,7 2,6 1,3 0,4 1,4 5,8 3,9 3,2 20,6 8,4 6,4 1,2 5,8 45,5 30,9 31,5 15,2 11,9 1,7 1,1 1,6 0,3 3,1 1,4 0,8 1

0,8 0,4 0,8 87

0,8 71

9,1 0,2

1,0

0,4 80

1,2 73

VERÃO 2 3 4 8,5 1,7 10,7 18,8 11,3 12,6 0,6 2,4

1,4 0,2

2,1 1,8

2,5

3,7

0,6

0,5 0,3 0,9

8,6 7,6 1,6

0,8

2,7

1,4 0,4 3,4 0,5 12,6 2,2 0,4

2,5 1,9 8,9 1,1

0,3

5,6

4,0

0,7 0,2 1,3 1,0

15,0 13,6 60,2 0,0 81

70

87

68

DISCUSSÃO A degradação dos corpos d’água é uma das questões mais importantes a ser trabalhada pelos meios científico, político e social na atualidade. A deterioração e escassez deste bem estão entre um dos mais sérios problemas no mundo atual, estando diretamente relacionados aos processos desordenados de desenvolvimento e descaracterização de paisagens naturais, tais como a supressão de áreas florestais e, especialmente, da vegetação ripária. Áreas ripárias desempenham importantes funções ambientais, tais como: filtração física da água e remoção de sedimentos e metais pesados, estabilização do leito e retenção de processos erosivos, retenção de nutrientes, regulação das condições de luz e temperatura do ambiente aquático, provisão de matéria orgânica para consumidores aquáticos, provisão de corredores ecológicos para dispersão de plantas e animais, dentre outros (Hauer & Lamberti, 2007). A supressão ou remoção da vegetação ripária modifica propriedades físicas e químicas do ambiente aquático, promovendo alterações nos habitats naturais de muitos organismos que vivem nestes locais. Dessa forma, a mata ripária é de extrema importância para a conservação e manutenção da biodiversidade destes ecossistemas (Figura 9). No presente estudo isso foi evidenciado especialmente pelos 43


maiores valores de cargas dos nutrientes fósforo e nitrogênio nos pontos onde a mata ciliar estava menos preservada, indicando o impacto gerado na qualidade da água dos arroios estudados.

Figura 9. Esquema do efeito da degradação da mata ciliar sobre o fitoplâncton Luz, nutrientes e temperatura estão entre os fatores que influenciam a variação sazonal da abundância do fitoplâncton em ecossistemas lóticos. Além disso, a manutenção do fluxo da água tem papel importante para a estrutura desta comunidade em rios e arroios. Incapaz de manter populações em rios e arroios com fluxos muito rápidos de água, o fitoplâncton pode se tornar abundante diante de movimentação mais lenta da água nestes ambientes e em ambientes do entorno onde as taxas de duplicação excedem as perdas a jusante pelas correntes (Reynolds, 2006; Allan & Castillo, 2007). Nesse sentido, as espécies de rios e arroios investem em crescimento rápido e na habilidade de sobreviver em sistemas turbulentos, com flutuações de luz (Reynolds et al., 1994). Os efeitos da degradação da vegetação ripária nos arroios estudados parecem ter refletido nos padrões de biodiversidade do fitoplâncton. A maior diversidade de classes fitoplanctônicas e os maiores valores de riqueza de espécies observados nos pontos menos preservados podem estar associados a fatores relacionados à descaracterização das margens dos arroios estudados e à ausência de mata ripária, tais como a maior quantidade de nutrientes disponíveis na água, a maior luminosidade nestes pontos e chegada de luz até a superfície da lâmina d’água, o aumento da largura dos arroios e redução da velocidade de corrente e o aumento da temperatura da água nos pontos sem vegetação ciliar. Todos estes fatores tendem a favorecer o desenvolvimento e o recrutamento de várias espécies de microalgas planctônicas. Tipicamente, a perda da vegetação ripária é acompanhada pela erosão das margens, deposição de sedimentos, água mais quente e alteração das redes tróficas (Allan & Castillo, 2007). Ressalta-se, contudo que, as espécies registradas como descritoras nos pontos onde a vegetação ripária esteve degradada são comumente relatadas como indicadoras de ambientes eutróficos, como é o caso de Gomphonema parvulum (Patrick & Reimer, 1975, Soares et al., 2007), Surirella splendida (Lecoint et al., 2003) e Euglena sp. (Reynolds et al., 2002) e ou não apresentam preferência por locais mais ou menos eutrofizados, como é o caso de Ulnaria ulna (Lecoint et al., 2003) e Cocconeis placentula var. acuta (Schneck et al., 2007). Diatomáceas, particularmente as cêntricas, têm sido registradas dominando a composição do fitoplâncton de rios em vários estudos (Allan & Castillo, 2007). De uma forma geral, existe uma tendência de que algas verdes da ordem Chlorococcales sejam relativamente numerosas nas porções médias e superiores dos arroios e rios enquanto diatomáceas (usualmente as cêntricas) frequentemente dominariam rio abaixo (Reynolds, 1994). No presente estudo, Bacillariophyceae

44


foi a classe que mais contribuiu tanto em número de espécies quanto em biomassa em todos os trechos dos arroios estudados, embora os pontos com vegetação ripária degradada tenham apresentado maior diversidade de outras classes, especialmente Chlorophyceae. No verão no ponto 3, Zygnemaphyceae destacou-se pela contribuição de Closterium moniliferum. Em rios tropicais, desmídias já foram citadas apresentando maior número de espécies, enquanto as diatomáceas dominaram em biomassa (Rojo et al., 1994).

Figura 10. Cocconeis placentula var. lineata (a – b); Cocconeis placentula var. acuta (c – d); Encyonema cf. lunatum (e); Encyonema minutum. (f); Nitzchia amphibia (g) Gomphonema parvulum (h).

Figura 11 . Synedra goulardii (a); Fragilaria fragilarioides (b); Cymbella tumida (c); Gomphonema cf. mexicanum (d); Surirella sp. (e); Melosira varians (f) Pleurosira sp. (g)

CONSIDERAÇÕES FINAIS A descaracterização das margens dos rios e arroios está entre os mais sérios impactos gerados em bacias hidrográficas no país. Os padrões de uso da terra e a presença humana através de toda a bacia hidrográfica frequentemente servem como bons indicadores da condição do ecossistema aquáticos, embora bioindicadores ambientais possam ser capazes de apontar a qualidade nestes ambientes. É o caso do fitoplâncton no presente estudo, que demonstrou os efeitos da ausência da vegetação ripária sobre sua riqueza, especialmente com ocorrência de espécies indicadoras de ambientes degradados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLAN, JD.; CASTILLO, M.M. 2007. Stream Ecology: structure and function of running waters. 2nd ed. Netherlands, Springer, 436 p. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C.; CASTRO, A.A.J. 1993. Ficoflórula do rio Tibagi, estado do Paraná, Brasil.: III. Gênero Closterium (Zygnemaphyceae). Semina, Ciências Biológicas e daSaúde, 14: 74-85. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C. 1993b. Ficoflórula do rio Tibagi, estado do Paraná, Brasil.: III.Actinotaenium, Cosmarium e Staurodesmus (Zygnemaphyceae). Semina, Ciências Biológicas e da Saúde, 14: 86-95. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C. 2002. A comunidade fitoplanctônica do rio Tibagi: uma abordagem preliminar de sua diversidade. In: Medri ME, Bianchini E, Shibatta OA, Pimenta JA (eds.) 2002. A bacia do Rio Tibagi. Londrina, Editora da FUEL, p. 373-402. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C. 1993a.Ficoflórula do rio Tibagi, estado do Paraná, Brasil.: I. Desmídeas, filamentosas e gêneros Gonatozygon, Penium, Pleurotaenium e Tetmemorus (Zygnemaphyceae). Semina, Ciências Biológicas e da Saúde, 14: 61-73. 45


BORGES, P.A.F.; RODRIGUES, L.C.; PAGIORO, T.A.; TRAIN, S. 2003. Spatial variation of phytoplankton and some abiotic variables in the Pirapó River -PR (Brazil) in August 1999: a preliminary study. Acta Scientiarum: Biological Sciences, 25: 1-8. BAIN, M.B.; STEVENSON, N. J. 1999, Aquatic habitat assessment: common methods. Betesda Maryland, AFS books. 224 p. CONLEY, D.J., MALONE, T.C. 1992. Annual cycle of dissolved silicate in Chesapeake Bay: implications for the production and fate of phytoplankton biomass. Marine Ecology progress series, 81: 121-128. CUGIER, P.; BILLEN, G.; GUILLAUD, J.F.; GARNIER, J.; MÉNESGUEN, A. 2005. Modelling theeutrophication of the Seine Bight (France) under historical, present and future riverine nutrient loading. Journal of Hydrology, 304: 381-396. DUDGEON, D. 2008.Tropical Stream Ecology.Elsevier Academic Press, 370p. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA). 2005. Standard methods for the examination of water & wastewater. 21st edition, Eaton, A.D., Clesceri, L.S., Rice, E.W., Greenberg, A.E., Franson, M.A.H.,Washington, APHA, 1600 p. HAUER, F.R.; LAMBERTI, G.A. 2007. Methods in stream ecology. London, Elsevier Academic Press, 896 p. HILLEBRAND, H. 1999.Biovolume calculation for pelagic and benthic microalgae. Journal of Phycology, 35: 408–424. KARR, J.R. 1998. Rivers as sentinels: using the biology of rivers to guide landscape management. In: Naiman RJ, Bilby RE (eds.), River Ecology and Management: lessons from the Pacific Coastal Ecorregion. New York, Springer-Verlag, 502-528 p. KIRETA, A.R.; REAVIE, E.D.; SGRO, G.V.; ANGRADI, T.R.; BOLGRIEN, D.W.; HILL, B.H.; JICHA, T.M. 2012. Planktonic and periphytic diatoms as indicators os stress on great rivers of the United States: Testing water quality and disturbance models. Ecological Indicators,13: 222-231. KITNER, M.; POULÍČKOVÁ, A. 2003. Littoral diatoms as indicators for the eutrophication of shallow lakes. Hydrobiologia, 506–509: 519–524. LECOINTE, C.; COSTE, M.; PRYGIEL, J. 1993. “Omnidia”: software for taxonomy, calculation of diatom index and inventories management. Hydrobiologia, 260/770: 509-513. LI H.-E.; WEI LEE, J.; CAI, M. 2003. Nutrient load estimation methods for rivers. International Journal of Sediment Research, 18 (4): 346-351. LOBO, E.A; CALLEGARO, V.L.M; HERMANY, G.; BES, D.; WETZEL, C.A.; OLIVEIRA, M.A. 2004. Use of epilithic diatoms as bioindicators from lotic systems in southern Brazil, with special emphasis on eutrophication. Acta Limnol.Bras.,16(1): 25-40. LOBO, E.A.; WETZEL, C.E.; ECTOR, L.; KATOH, K.; BLANCO, S.; MAYAMA, S. 2010. Response of epilithic diatom communities to environmental gradients in subtropical temperate Brazilian rivers. Limnetica, 29(2): 323-340. LUND, J.W.H.; KIPLING C; LECREN, E.D. 1958.The inverted microscope method of estimating algal number and statistical basis of estimating by counting.Hydrobiologia,11: 143–170. MENDES-CÂMARA, F.M.; MOURA, A.N.; BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C. 2002. Ficoflórula planctônica do Rio Parnaíba, Estado do Piauí – Brasil. Rev. Nordestina, 16: 3-21. MULLER-MELCHERS, F.C.; FERRANDO, H. 1956. Téccnicas para el Estudio de las Diatomeas. Bol. Inst. Oceanogr., 6(1-2): 93-138. NAIMAN, R.J.; DÉCAMPS, H.; MCCLAIN, M.E. 2005. Riparian Ecology, Conservation, and Management of Streamside Communities. San Diego, Elsevier Academic Press, 430 p. O’FARREL, I. 1993. Phytoplankton ecology and limnology of the Salado River (Buenos Aires, Argentina). Hydrobiologia, 271(3): 169-178. O’FARRELL, I. 1994. Comparative analysis of the phytoplankton of fifteen lowland fluvial systems of the River Plate Basin (Argentina). Hydrobiologia, 289: 109-117 PADISÁK, J.; BORICS, G.; GRIGORSZKY, I.; SORÓCZKI-PINTÉR, E. 2006. Use of phytoplankton assemblages for monitoring ecological status of lakes within the Water Framework Directive: the assemblage index. Hydrobiologia, 553: 1-14.

46


PATRICK, R.; REIMER, C.W. 1975. The Diatoms of the United States exclusive of Alaska and Hawaii,Volume 2 Part 1.Academy of Natural Sciences of Philadelphia Monograph 13,214 p. PERRY, C.D.; VELLIDIS, G.; LOWRANCE, R.; THOMAS, D.L. 1999. Watershed-scale water quality impacts of riparian forest management. Journal of Water Resources Planning and Management, 125 (3):117-125. REYNOLDS, C.S.; DESCY, J.P.; PADISÁK, J. 1994. Are phytoplankton dynamics in rivers so different from those in shallow lakes? Hydrobiologia, 289: 1–7. REYNOLDS, C.S.; HUSZAR, V.; KRUK, C.; NASELLI-FLORES, L.; MELO, S. 2002. Towards afunctional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24(5): 417-428. REYNOLDS, C.S. 2006. Ecology of phytoplankton. Cambridge, Cambridge University Press, 535 p.

RODRIGUES, S.C.; TORGAN, L.; SCHWARZBOLD, A. 2007. Composição e variação sazonal da riqueza do fitoplâncton na foz de rios do delta do Jacuí, RS, Brasil. Acta Bot. Bras., 21(3): 707-721. ROJO, C.; COBELAS, M.; ARAUZO, M. 1994. An elementary, structural analysis of river phytoplankton. Hydrobiologia, 289: 43-55. ROS J. 1979. Práticas de Ecologia. Barcelona, Editorial Omega. 181 p. SCHNECK, F.; TORGAN, L.C.; SCHWARZBOLD, A. 2007. Diatomáceas epilíticas em riacho de altitude no sul do Brasil. Rodriguésia, 59 (2): 325-338. 2008 SILVA, C.A.; TRAIN, S.; RODRIGUES, L.C. 2001. Estrutura e dinâmica da comunidade fitoplanctônica a jusante e montante do reservatório de Corumbá, Caldas Novas, Estado de Goiás, Brasil. Acta Scientiarum, 23(2): 283-290. SOARES, M.C.S., HUZSAR, V.L.M.; ROLAND, F. 2007. Phytoplankton dynamics in two tropical rivers with different degrees of human impact (Southeast Brazil). River.Res. Applic., 23: 698–714. SUN, J.; LIU, D. 2003. Geometric models for calculating cell biovolume and surface area for phytoplankton. Journal of Plankton Research, 25: 1331-1346. TAVERNINI, S.; PIEROBON, E.; VIAROLI, P. 2011. Physical factors and dissolved reactive silica affect phytoplankton community structure and dynamics in a lowland eutrophic river (Po River, Italy). Hydrobiologia, 669: 213–225.

TRAIN, S.; RODRIGUES, L.C. 1998. Temporal fluctuations of the phytoplankton community of the Baía River, in the Upper Paraná River floodplain, MatoGrosso do Sul, Brazil. Hydrobiologia, 361(1): 125-134.

TUNDISI, J.G.; TUNDISI, T.M. 2008. Limnologia. São Paulo,Oficina de Textos, 632 p. UTERMÖHL, H. 1958. ZurVervollkommung der quantitativen.Phytoplankton-Methodik. Mitteilun gen der InternationalenVereinigungfür Limnologie, 9: 1–38. VANOTTE, R.L.; MINSHALL, G.W.; CUMMINS, K.W.; SEDELL, J.R.; CUSHING, C.E. 1980. The River Continuum Concept. Canadian Journal Fisher Aquatic Science, 37: 130-137. VÁZQUEZ, G.; AKÉ-CASTILLO, J.A.; FAVILA, M.E. 2011. Algal assemblages and their relationship with water quality in tropical Mexican streams with different land uses. Hydrobiologia, 667:173–189.

47


Ecologia de Peixes Uwe Horst Schulz¹, Mariana Albrecht2 e Mateus Evangelista Leal3 INTRODUÇÃO O Brasil é um dos países com a maior diversidade de peixes de água doce do mundo Estimase um total de 2.600 espécies diferentes (Buckup & Menezes, 2003; Reis et al., 2003). Esta fauna é composta de espécies de grande porte, como os bagres amazônicos (exemplo o Paraíba do gênero Brachyplatystoma com um comprimento total de 3,6 m e 200 kg; www.fishbase.org), até peixes minúsculos com o cascudinho Paratocinclus de 2 cm (Slobodian et al., no prelo) No Rio Grande do Sul foram catalogadas aproximadamente 450 espécies. Somente na bacia do Rio dos Sinos existem pelo menos 102 espécies. Uma das maiores delas é o dourado, Salminus brasiliensis, o peixe símbolo da bacia. Esta espécie pode atingir mais do que 20 kg no rio Paraná, mas no Sinos indivíduos com mais do que 8 kg são muito raros. Peixes menores encontram-se em pequenos corpos de água, nos arroios e nos banhados da bacia. No ecossistema aquático, os peixes são os organismos mais conhecidos. Os nossos antecedentes já conheceram as migrações dos peixes de piracema. Este conhecimento era necessário para a sobrevivência humana, que dependia pelo menos parcialmente da pesca que fornecia uma quantia importante da proteína. Existem relatos antigos que constam que em poucas horas “foi capturado suficiente para carregar uma carroça inteira.” Hoje estas quantidades imensas não existem mais. Principalmente em regiões de desenvolvimento econômico acelerado a fauna de peixes diminuiu em número de espécies e abundância dos indivíduos. A construção de barragens, retificações e canalizações de cursos de água, introdução de espécies exóticas, poluição industrial e municipal e a diminuição da cobertura de vegetação demandaram seu tributo (Fig. 1 e Fig. 2). Exemplos de impactos no Rio dos Sinos: Figura 1. A canalização do leito na área urbana de São Leopoldo. A vegetação é removida, os barrancos transformados em muros de concreto.

Figura 2. Um barco descarregando areia em um atracadouro que teve a vegetação ciliar retirada e um forte vazamento de combustível (1) Professor do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. (2) Mestranda do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. (3) Doutorando do Programa de Pós Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

48


Atualmente, a lista vermelha nacional das espécies ameaçadas inclui 134 espécies de peixes (Rosa & Lima, 2008). A perda da diversidade aquática normalmente é um processo lento, pouco visível. Grandes mortandades de peixes com as de outubro 2006 na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos chamam atenção ao estado lamentável de muitos cursos de água (Fig. 3). Mas as menores mortalidades, que ocorrem numa escala pequena e localizada, não são percebidas e nem registradas. Os impactos crônicos frequentemente não matam peixes adultos, mas os estágios mais sensíveis: ovos, larvas e alevinos. E como não existem registros históricos completos da fauna de peixes, não sabemos, quanto nos já perdemos. BIOMONITORAMENTO ESPECÍFICO DO GRUPO Peixes ocorrem em quase todos os corpos hídricos. A quantidade das espécies existentes, a composição da fauna e a abundância dos indivíduos refletem a qualidade ambiental do sistema onde vivem. Estudos na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos mostram que os mananciais mais mal tratados são os arroios urbanos. Estes foram canalizados, frequentemente correndo em baixo do asfalto e dos prédios. Degeneraram em valas de esgoto (Fig. 4). Nestes sistemas peixes não existem mais. Por outro lado existem trechos de arroios em con- Figura 3. Mortandade ocorrida em 2006 dições quase naturais. São localizados nas encostas nas partes altas da bacia, onde descem da Serra Gaúcha. Aqui a qualidade da água ainda é boa, embora alguns já carregam esgoto orgânico, por que nascem no alto da Figura 4. O Arroio João serra e recebem dejetos líquidos dos municípios. Correia Por serem indicadores da qualidade ambiental em São os peixes são usados para quantificar impactos sobre Leopoldo foi o sistema aquático. Existem vários índices que podem transformaser estabelecidos avaliando a fauna existente em um do em uma determinado local. Um conceito mais recente é o Ín- vala esgoto. dice da Integridade Biológica (IIB). Este índice atriEm vez de sanear os bui escores à ocorrência e abundância das espécies. O problemas, método é detalhado no Box 1 (página seguinte). Neste o arroio foi estudo o IIB foi usado para investigar, se o estado da tapado de conservação da mata ciliar influencia a composição da concreto. fauna de peixes. MÉTODO DE CAPTURA O trecho de coleta foi delimitado com redes de espera, formando uma área de aproximadamente 700m². Dentro desta área foram realizadas três passadas de pesca elétrica. A pesca elétrica é em um método muito eficaz para a coleta de peixes em riachos. É possível amostrar diferentes micro-habitats e com isto coletar diferentes espécies e classes de tamanho. O equipamento da pesca compreende um gerador de corrente contínua máxima de 10 A e tensão de 750V (EFKO 7000, Alemanha; Fig. 5), uma placa de alumínio, um puçá elétrico e um puçá de apoio. A placa e o puçá elétrico são conectados ao gerador através de cabos, a placa fica próxima ao gerador, porém submersa dentro do arroio. O puçá elétrico fica sobre o comando do pescador principal. Quando o gerador é ligado um campo elétrico é formado. O pólo positivo é o puçá elétrico e o negativo é a placa de alumínio. Figura 5. Gerador de Com o puçá dentro da água este campo se fecha, a eletricidade cau- pesca elétrica 49


sa uma contração muscular involuntária nos peixes, o que faz com que eles nadem de encontro ao pólo positivo, ou seja, para o puçá. O raio de ação do puçá é de aproximadamente um metro. Quando o peixe cai no puçá elétrico o pescador principal passa para o puçá de apoio. De lá ele é passado para um balde. Para realização da pesca são necessárias cinco pessoas: o pescador principal, o pescador secundário, uma pessoa que carrega o balde com os peixes coletados, uma pessoa para carregar o cabo do puçá elétrico e alguém para controlar a chave de segurança do gerador. Todas as pessoas que envolvidas devem estar devidamente isoladas Figura 6. A equipe pescando com macacões e luvas de borracha (Fig. 5 e 6). O Índice de Integridade Biológica (IIB) A idéia principal de um Índice de Integridade Biológica (IIB) é comparar a composição da fauna de uma situação não impactada, que serve como referência, com a de situações impactadas. A tabela 1 em baixo demonstra as métricas avaliadas. Por exemplo: A riqueza corresponde ao número das espécies presentes. Este valor tende a diminuir em situações impactadas. A equitabilidade reflete o padrão da distribuição das espécies. É mais alta, quando todas as espécies ocorrem em números iguais. Em situações impactadas, somente uma ou duas espécies dominam e as outras estão presentes em poucos indivíduos. Os Cyprinidontiformes (barrigudinhos) são indicadores de poluição, enquanto a presença de carnívoros é um sinal bom. Em situações impactadas diminuem as espécies de fundo, enquanto as da coluna da água mostram a tendência de aumentar. Os levantamentos de peixes realizados entre Agosto e Setembro de 2010 e Janeiro e Março de 2011 foram utilizadas para investigar, se a diminuição da mata ciliar influencia o IIB. Como referência foi utilizada uma condição ótima hipotética atribuindo os melhores e piores valores encontrados em nossas amostras para cada métrica (COSTA & SCHULZ, 2010; PINTO & ARAÚJO, 2007). Um sistema de escores de 1 a 10 foi aplicado para todas as métricas. Para o cálculo dos escores das métricas cujo valor diminui conforme a perturbação aumenta, foi utilizado o melhor valor como referência. Por exemplo, se o melhor valor da riqueza foi de 26 espécies e o ponto der amostragem apresentou riqueza total de 14 a fórmula é a seguinte: [(14/26)x10]=5,38. Para as métricas cujo valor aumenta conforme a perturbação aumente foi utilizado o menor valor da referência. Por exemplo, se o menor valor para número de espécies da coluna d’água é 9 e o ponto apresentou 5 a fórmula é a seguinte: {10-[(5/9)x10]}=4,44. Ao final do processo, os escores de todas as métricas foram adicionados para cada ponto. Estas somas podem variar entre 0 e 80. Um ponto com uma soma maior do que 61 é considerado BOM, entre 41 e 60 MODERADAMENTE IMPACTADO e IMPACTADO com uma soma inferior a 40 pontos (COSTA & SCHULZ, 2010). Tabela 1: Métricas utilizadas nos pontos de coleta do Projeto VerdeSinos.

50

Métricas utilizadas para os pontos de coleta do Projeto VerdeSinos

Em situações impactadas

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.

Riqueza Total Número de espécies de coluna d’água Número de espécies bentônicas Número de espécies intolerantes % de indivíduos de Cyprinodontiformes Equitabilidade (Shannon/log riqueza) % de indivíduos onívoros % de indivíduos carnívoros

diminui aumenta diminui diminui aumenta diminui aumenta diminui


Foram realizadas duas campanhas de coleta a primeira foi no inverno de 2011 (agosto a setembro). A segunda foi no verão de 2011 (janeiro a março). Todos os peixes capturados foram anestesiados e fixados em formalina 10%. Em laboratório os peixes foram identificados até o nível de espécie com auxílio de bibliografia especializada (BERTACO & LUCENA, 2004; LEAL, 2007; RODRIGUES & REIS, 2008; BERTACO & LUCENA, 2010; Tabela 1). RESULTADOS As espécies capturadas Durantes as campanhas de coletas foram capturados 11409 indivíduos pertencentes a 36 espécies. A Tabela 2 mostra a lista das espécies com suas respectivas abundâncias. Tabela 2. Lista das espécies de peixes Ordem Família Espécie Inverno Verão Nome popular Characiformes Characidae Pseudocorynopoma doriae 1 0

Lambari Borboleta

Astyanax laticeps

40

30

Lambari

Astyanax henseli

133

368

Lambari

Astyanax jacuhiensis 0 3

Lambari do Rabo Amarelo

Astyanax sp.

10

8

Lambari

Bryconamericus iheringii

806

1176 Lambari

Cyanocharax alburnus

49

212

Lambari

Hyphessobrycon luetkenii

44

18

Lambari

Oligosarcus robustus

0

4

Branca

Characidium orientale

59

33

Canivete

Crenuchidae

Characidium pterostictum

596

943

Canivete

Cyprinodontiformes Poeciliidae

Phalloceros caudimaculatus

3

10

Barrigudinho

Gymnotiformes

Gymnotidae

Gymnotus carapo

1

0

Tuvira

Sternopygidae

Eigenmannia virescens

0

1

Tuvira

Perciformes

Cichlidae

Australoheros facetus

6

3

Cará

Cichlasoma portalegrense

1

0

Cará

Crenicichla punctata

117

217

Joana

Gymnogeophagus labiatus

154

163

Cará

Gymnogeophagus rhabdotus

4

0

Cará

Siluriformes

Heptapterus mustelinus

521

758

Jundiá Cobra

Heptapteridae

Pimelodella australis

2

0

Mandi

Rhamdella eriarcha

149

228

Mandi

Rhamdia quelen

86

97

Jundiá

Ancistrus brevipinnis

337

429

Cascudo

Hemiancistrus punctulatus

246

227

Cascudo

Hisonotus sp.

24

36

Cascudo

Rineloricaria cadeae

28

44

Violinha

Rineloricaria malabarbai

398

731

Violinha

Rineloricaria microlepidogaster

842

648

Violinha

Loricariidae

u 51


Rineloricaria spn.

1

0

Violinha

Pseudopimelodidae Microglanis cottoides

7

6

Bagrinho

Trichomycteridae

44

28

Candiru

Scleronema minutum

Trichomycterus sp.

151

138

Candiru

Synbranchiformes

Synbranchus marmoratus

24

38

Muçum

A fauna de peixes é típica das cabeceiras. É composta de espécies de pequeno porte. Os peixes mais abundantes que ocorrem na coluna da água são da família de Characidae, que são popularmente conhecidos como lambaris. Esta família ocorre em toda America do Sul nos mais diversos habitats. A maioria alimenta-se de larvas de insetos e pedaços de vegetais. Os lambaris mais comuns pertencem às espécies Bryconamericus iheringii (Fig. 7), Hyphessobrycon luetkenii (Fig. 8) e Astyanax henseli (Fig. 9). Podem atingir o comprimento máximo de 12 cm. Formam cardumes com muitos indivíduos que se posicionam na coluna d’água ou na superfície. O segundo grupo típico são os cascudos da família Loricariidae. Distribuem-se desde a América Central até a América do Sul. São os peixes característicos de arroios de cabeceiras, pois são extremamente adaptados a estes ambientes com fortes correntezas, possuem o corpo achatado e a boca transformada em uma ventosa. Geralmente vivem aderidos ao substrato rochoso, alimentam-se de larvas de insetos, do material raspado das rochas e muitas vezes acabam ingerindo também grandes quantidades de substrato arenoso/lodoso. Nas cabeceiras da bacia do Rio dos Sinos este grupo é representado principalmente por indivíduos das espécies Ancistrus brevipinnis (Fig. 10), Hemiancistrus punctulatus, Rineloricaria microlepidogaster e Rineloricaria cadae (Fig. 11). Algumas destas espécies podem atingir até 19 cm de comprimento total. Peixes pertencentes à família Cichlidae também são frequentemente encontrados nos arroios de cabeceira. Conhecidos como carás, são peixes muito coloridos, com escamas peroladas e diferentes padrões de listras. Podem atingir até 18 cm de comprimento e alimentam-se principalmente de larvas de insetos e material vegetal. As principais espécies são Gymnogeophagus labiatus (Fig. 12), Gymnogeophagus rhabdotus e Australoherus facetum.

52

Figura 7. Bryconamericus iheringii

Figura 8. Hyphessobrycon luetkenii

Figura 9. Astyanax henseli

Figura 10. Ancistrus brevipinnis

Figura 11. Rineloricaria cadae

Figura 12. Gymnogeophagus labiatus


A joana também faz parte da família Cichlidae. Diferente dos carás ela alimenta-se principalmente de outros peixes e por isso é considerada um dos grandes predadores destes ambientes. As joanas procuram sua presas ativamente. Nos arroios de cabeceira apenas uma espécie é conhecida, Crenicichla lepidota (Fig. 13) que pode alcançar até 25 cm.

Figura 13. Crenicichla lepidota

Arte: CARLOS EDUARDO DA SILVA VIEIRA

Figura 14. Distribuição dos peixes nos microhabitats. As corredeiras e o poços são habitados por espécies distintas

53


A INTEGRIDADE BIOLÓGICA A tabela 2 mostra os valores de referência para o cálculo dos escores do IIB. Estes resultados já mostram, que o nível de impacto nos arroios investigados não atinge níveis superiores. Na pior situação foram encontradas ainda 14 espécies. Arroios altamente impactados em áreas urbanas, por exemplo, abrigam entre zero e cinco espécies. Peixes bentônicos, intolerantes a poluição e carnívoros foram presentes em todos os locais amostrados.

Métricas do IIB

Melhor Valor Pior Valor

-

Riqueza Total

26

14

+

Número de espécies de coluna d’água

4

9

-

Número de espécies bentônicas

19

7

-

Número de espécies intolerantes

22

10

+

% de indivíduos de Cyprinodontiformes

0

0,41

-

Equitabilidade (Shannon/log riqueza)

0,82

0,62

+

% de indivíduos onívoros

60,7

84,3

-

% de indivíduos carnívoros

7,4

1,2

Tabela 2: Valores de referência para o cálculo do IIB, com os melhores e piores valores encontrados entre todos os pontos de coleta. (-) = métricas cujo valor diminui conforme a degradação aumenta; (+) métricas cujo valor aumenta conforme a degradação aumenta.

Os escores do IIB por ponto de amostragem são apresentados na figura 20. Ao contrário do esperado os valores do IIB não são influenciados pelo padrão da diminuição da largura da mata ciliar ao longo dos mananciais. Esperou-se os maiores escores para os pontos com a maior faixa da mata ciliar (mata > 30m). Os valores da figura 15 mostram uma tendência ao contrário. Os pontos mais preservados receberam escores menores e os pontos com a menor faixa da mata ciliar os mais altos. Este resultado significa, que na escala espacial deste estudo, a diminuição da largura da mata ciliar não é uma variável ambiental que influencia a composição da fauna de peixes negativamente. Os valores do IIB aumentam ao longo dos arroios por que recebem as águas dos tributários. Estes aumentam a vazão, e, consequentemente, a largura e profundidade. O tamanho dos habitats e a diversidade estrutural aumentam também. Isto faz, que a quantidade das espécies presentes e o número dos individuas aumenta. Existe espaço e alimento suficiente para sustentar uma maior diversidade de peixes. O aumento dos impactos ambientais ao longo dos arroios investigados não são suficientemente forte para compensar este efeito. Todos os arroios na área de estudo mantêm uma estrutura natural sem barragens ou canalizações. Maiores lançamentos de esgotos não foram detectados.

Figura 15. O Índice da Integridade Biológica nos quatro arroios investigados

54


CONSIDERAÇÕES FINAIS A fauna de peixes nos arroios investigados encontra-se ainda em condições pouco impactados. A estrutura original dos cursos de água é natural, existem as sequências de poços – corredeiras – poços. A qualidade da água não é fortemente influenciada por lançamentos de esgoto. A largura da mata ciliar não teve efeitos medíveis sobre a integridade biológica da fauna de peixes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTACO, V. A. & LUCENA, C. A. S. 2004. Two New Species of Astyanax (Ostariophysi: Characi-formes: Characidae) from Eastern Brazil, with a Synopsis of The Astyanax scabripinnis Species Complex. Neotropical Ichthyology. 4(1):53-60. BERTACO, V. A. & LUCENA, C. A. S. 2010. Redescription of Astyanax obscurus (Hensel, 1870) and A. laticeps (Cope, 1894) (Teleostei: Characidae): Two valid freshwater species originally described from rivers of Southern Brazil. Neotropical Ichthyology. 8(1): 7-20. COSTA, P. F. & SCHULZ, U. H. 2010. The fish community as an indicator of biotic integrity of the streams in the Sinos River basin, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 70, no. 4 (suppl.), p. 1195-1205. LEAL, M. E. 2007. Guia ilustrado dos peixes da bacia do Rio dos Sinos. Trabalho de Conclusão de Curso de Biologia, UNISINOS, 140p. PINTO, B. C. T. & ARAÚJO, F. G. 2007. Assessing of biotic integrity of the fish community in a heavily impacted segment of a tropical river in Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology, vol. 3, p. 489-502. RODRIGUES, M.S. & REIS, R. E. 2008. Taxonomic Review of Rineloricaria (Loricariidae: Loricariinae) from the Laguna dos Patos drainage, Southern Brazil, with descriptions of two new species and recognition of two species groups. Copeia. 2:333-349 ROSA, R. S. & LIMA, F. C. T. 2008. Os peixes brasileiros ameaçados de extinção, pp 8 - 286. In: Monteiro, A. B. M, G. M. Drummond & A. P. Paglia (Eds.) Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG : Fundação Biodiversitas, 2: 1420p. SLOBODIAN, V.; LEHMANN, P. & REIS, R. (no prelo). Paratocinclus minor, the smallest known suckermouth catfish (Loricariidae, Hypopotomatinae) from the rio Tapajós basin, Brazil. Neotropical Ichthyology

55


Conversão de ecossistemas (1985-2010) e impacto do desmatamento de florestas ciliares na diversidade de árvores e arbustos na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos Juliano Morales de Oliveira1, Rafael Gomes de Moura2, Lucélia Jacques da Costa2, Cíntia Cardoso Pinheiro3, Marcus Lanner Vieira3 e Marina Vergara Fagundes4 INTRODUÇÃO Os ecossistemas naturais provêm direta ou indiretamente grande parte dos recursos naturais e serviços ambientais que sustentam nosso modo de vida, como alimentos e matérias-primas diversas, purificação do ar e das águas. Diversos estudos observacionais e experimentais mostram que a diversidade de espécies favorece o funcionamento dos ecossistemas. Embora as explicações causais para este fenômeno sejam tema atual de debate e pesquisa, postula-se que uma alta riqueza de espécies permite uma maior diversidade de funções ecológicas, e que funções similares sejam desempenhadas por várias espécies, aumentando a produtividade e estabilidade do sistema frente a distúrbios e alterações ambientais (Daily 1997; Sekercioglu 2010). A extensa conversão de ecossistemas naturais (eg. florestas, campos e rios) em ecossistemas antrópicos, criados ou fortemente determinados pela ação humana (eg. cidades, lavouras, pastagens e reservatórios de represas), é um dos principais impactos da espécie humana no planeta (Vitousek 1994). A conversão de ecossistemas naturais causa redução e alteração da distribuição espacial das áreas de habitat das espécies que os compõe, restringindo sua ocorrência em remanescentes de habitat menores e isolados por uma matriz diferente da original. Um habitat reduzido e fragmentado torna as espécies mais susceptíveis à extinção, principalmente por diminuir o tamanho e o fluxo gênico das populações, levando à perda de biodiversidade e conseqüente alteração do funcionamento dos ecossistemas (Fahrig 2003; Hunter & Gibbs 2007). O bioma Mata Atlântica é reconhecido globalmente por sua biodiversidade singular, expressa pela alta riqueza e endemismo de espécies (Myers et al. 2000; Silva & Casteleti 2003), mas também pelo intenso e histórico processo de fragmentação (Dean 1995; Câmara 2003; Campanili & Prochnow 2006) que levou à redução de 90% de sua cobertura original e conseqüentes ameaças à existência das espécies e ecossistemas (SOS Mata Atlântica & INPE 2008; Ribeiro et al. 2009). A bacia hidrográfica do Rio Dos Sinos (BHRS) está inserida no extremo sul deste bioma, refletindo em pequena escala o quadro de sua rica e ameaçada biodiversidade (FEPAM 2009; Cappelatti & Schmitt. 2009). Este capítulo apresenta dois estudos avaliando o processo histórico de fragmentação dos ecossistemas na BHRS nos últimos 25 anos e seu impacto na riqueza de espécies arbóreas em florestas ciliares. CONVERSÃO DE ECOSSISTEMAS Para visualizar as mudanças na distribuição dos ecossistemas naturais e antrópicos ocorridas na BHRS num período recente de 25 anos, foram utilizadas imagens de satélite (LANDSAT 5) de 1986 e 2010. Com uso técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, foram definidos sete tipos de ecossistemas: aquático, área úmida, silvicultura, agricultura, urbano, floresta e campo (tabela 1). As imagens mapeando a distribuição das manchas desses ecossistemas em cada ano foram analisadas quanto ao grau de fragmentação e conectividade e então comparadas para revelar as principais tendências de conversão de ecossistemas (figura 1). O índice de ocupação mostra que atualmente as áreas de campo ocupam a maior parte da (1) Prof. do Programa de Pós Graduação em Biologia, C2, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (2) Doutorando do Progr. de Pós Graduação em Biologia, C2, Univ. do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (3) Mestrando do Progr. de Pós Graduação em Biologia, C2, Univ. do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (4) Graduanda do curso de Biologia, C2, Univ. do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil

56


bacia do Rio dos Sinos, seguido por áreas de mata e áreas úmidas (tabela 2). A ocupação pela agricultura aumentou consideravelmente, enquanto a ocupação por áreas úmidas diminuiu (tabela 2). O índice de fragmentação foi muito mais elevado na classe mata, superando grandemente os valores de outras classes em 2010 (tabela 2). O índice de coesão mostra que atualmente campo, silvicultura, mata e áreas úmidas são as menos conectadas, em detrimento das áreas urbanas, que mostraram valores altíssimos, evidenciando assim a conectividade entre áreas desta classe na paisagem (tabela 2). O trecho inferior da bacia do rio dos Sinos tem como principais alterações a diminuição das áreas úmidas e o avanço das áreas urbanas (figura 2).

Tabela 1. Metodologia utilizada para analisar as imagens de satélite

Figura 1. Recorte do trecho inferior da bacia do Rio dos Sinos, onde observa-se o aumento da urbanização e diminuição das áreas úmidas.

Tabela 2: Ocupação, fragmentação e conectividade de ecossistemas na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos em 1986 e 2010.

57


Figura 2: Avanço das áreas urbanas e diminuição das áreas úmidas em função do aumento das áreas de agricultura e urbanização

INFLUÊNCIA DO DESMATAMENTO NA DIVERSIDADE DA VEGETAÇÃO DE FLORESTAS CILIARES Para avaliar o impacto da fragmentação na diversidade da vegetação florestal foram realizados levantamentos da composição e abundância de espécies arbóreas e arbustivas em florestas ciliares de três arroios da BHRS (Padilha, Areia e Chuvisqueiro). Em cada arroio foram selecionados quatro pontos de amostragem, variando segundo a largura do remanescente de floresta (considerando ambas as margens): 100m ou mais, 40 m, 30 m e 10 m (figura 3). Em cada um dos 12 pontos foram estabelecidas parcelas amostrais circulares de 100 m2, uma a cada 10 m de distância do arroio em direção à borda do fragmento (até um máximo de cinco parcelas), onde cada árvore ou arbusto com diâmetro do tronco à altura do peito maior que 3 cm foi identificado ao nível de espécie, medido o diâmetro do tronco e estimado a altura. Para cada ponto de cada arroio foram calculados parâmetros de estrutura (densidade, altura e diâmetro) e diversidade (índices de riqueza e diversidade de espécies), que foram comparados através de testes estatísticos para verificar a existência de diferenças significativas entre pontos (Pillar & Orlóci 1996). Segue a descrição dos parâmetros avaliados: - Densidade média:

Ip

Dp =

Np

, onde I é o número indivíduos do ponto (p)

e N o número de parcelas amostrais. - Altura média: A p  ∑

Ap

, onde A são as alturas dos indivíduos.

Ip

- Diâmetro médio: L p  ∑

Lp

Ip

, onde L é são os diâmetros dos troncos dos indivíduos.

- Índice de riqueza de Margalef: R p  e LN o logaritmo natural.

S p −1

L N D p 

, onde Sp é o número de espécies

 Dip

 Dip N  ×L D D  p  p

- Índice de diversidade de Shannon: H p  −∑ 

58

  , onde i são as espécies.  


Figura 3. Esquema do desenho amostral utilizado em cada arroio para avaliar a composição e abundância de espécies arbóreas e arbustivas segundo a largura da floresta ciliar.

100 m 40 m

30 m 10 m

No total foram amostrados 890 indivíduos, pertencentes a 89 espécies distribuídas em 68 gêneros e 33 famílias. A lista florística completa é apresentada no capítulo Vegetação da Bacia do Rio dos Sinos, nas páginas 77 a 83. Três espécies tiveram destacada ocorrência e abundância em todos os arroios e níveis de largura da floresta ciliar: Nectandra megapotamica (canela-merda), Allophylus edulis (chal-chal) e Cupania vernalis (camboatá-vermelho). Essas espécies são comumente encontradas como dominantes em florestas secundárias no sul da Mata Atlântica (Sobral et al 2006).

Figura 4: Variação dos parâmetros de estrutura (densidade, altura e diâmetro) e diversidade (riqueza de Margalef e diversidade de Shannon) em função da largura dos remanescentes de florestas ciliares em três arroios da bacia hidrográfica do rio dos Sinos. Testes estatísticos indicam que houve diferença significativa para o conjunto dos parâmetros de diversidade, mas não para os de estrutura.

59


Segundo os testes estatísticos, a estrutura das florestas não mostrou diferença significativa entre pontos com diferentes larguras de floresta ciliar. Possivelmente, a similaridade estrutural indica que dentro de um mesmo nível de largura de floresta foram amostrados pontos em diferentes estágios de sucessão ecológica. Por outro lado, a redução da largura da floresta foi acompanhada de uma redução significativa dos índices de riqueza e diversidade, indicando um forte processo de extinção local de espécies em função da redução da área de hábitat (figura 4). Medidas de restauração que visem o aumento da largura dos fragmentos de floresta ciliar devem ter um impacto positivo na retenção da diversidade de árvores e arbustos, especialmente quando a largura do fragmento atingir cerca de 40m. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados deste estudo mostram que as florestas, embora ocupem uma área significativa na BHRS, estão muito fragmentadas. Possivelmente o aumento do índice de fragmentação nos últimos 25 anos tenha sido causado por atividades como agricultura, urbanização e silvicultura, atividades que apresentaram maiores porcentagens de ocupação e menores índices de fragmentação em 2010 quando comparados a 1986. O aumento sútil de áreas ocupadas por florestas pode ser entendido como um aumento no trecho superior da BHRS, principalmente em áreas de conservação. Quanto à diversidade da vegetação arbórea, observa-se que embora não existam diferenças significativas entre diferentes larguras de floresta ciliar, uma redução significativa de diversidade e riqueza das espécies é encontrada à medida que a largura da floresta diminui. Neste caso, é preciso ter o máximo de cautela no que se refere à substituição de áreas de floresta ciliar para atividades como agricultura, silvicultura, pastagens, construções, uma vez que a redução da largura da floresta pode levar à extinção local de espécies devido à perda de habitat. Florestas ciliares mais largas são capazes de abrigar maior diversidade de espécies de árvores, tornar os ambientes mais produtivos, capazes de capturar mais carbono atmosférico, elevar as taxas decomposição e trazer consequências positivas para toda a comunidade biótica destes ambientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPANILI, M.; PROCHNOW, M. 2006. Mata Atlântica – uma rede pela floresta. Brasília, DF: RMA. CAPPELATTI, L., SCHMITT, J. L. 2009. Caracterização da flora arbórea de um fragmento urbano de floresta estacional semidecidual no Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Botânica 60: 341-354 São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas. DAILY, G. C. 1997. Nature’s Services: Societal Dependence On Natural Ecosystems. Island Press: Washington. 412p. DEAN, W. 1995. With Broadax and Firebrand: The Destruction of the Brazilian Atlantic Forest. University of California Press, Berkeley. FAHRIG, L. 2003. Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annu. Rev. Ecol. Evol. Syst. 34, 487–515. FEPAM. 2009. Qualidade Ambiental. Região Hidrográfica do Guaíba. http://www.fepam.rs.gov. br/qualidade/guaiba.asp. (acessado em 12/12/2012). GALINDO-LEAL, C. & I.G. CÂMARA. 2003. Atlantic forest hotspots status: an overview. In: C. Galindo-Leal & I. de G. Câmara (eds.). The Atlantic Forest of South America: biodiversity status, threats, and outlook. pp. 3-11. Island Press, Washington, D.C. HUNTER, M. L. Jr., and J. P. GIBBS. 2007. Fundamentals of conservation biology. 3rd edition. Blackwell, Malden, Massachusetts. MYERS N, et al. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853–858. PILLAR, V.D.; ORLÓCI, L. 1996. On randomization testing in vegetation science: multifactor comparisons of relevé groups. Journal of Vegetation Science, v.7, p. 585-592. RIBEIRO, M. C. et al. 2009. Brazilian Atlantic forest: how much is left and how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological Conservation, 142: 1141-1153.

60


SEKERCIOGLU, C. H. 2010. Ecosystems functions and services. In: Navjot S. Sodhi e Paul R. Ehrlich (ed.). Conservation Biology for All. Oxford University Press: Oxford. pp. 45-67. SILVA, J.M.C & C.H.M. CASTELETI. 2003. Status of the biodiversity of the Atlantic Forest of Brazil. In: C. Galindo-Leal & I.G. Câmara (eds.). The Atlantic Forest of South America: biodiversity status, trends, and outlook. pp. 43-59. Center for Applied Biodiversity Science e Island Press, Washington, D.C. SOBRAL, M., JERENKOW, J. A. 2006. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul, Brasil. São Carlos: Rima: Novo Ambiente. 350 p. SOS MATA ATLÂNTICA and INPE. 2008. Atlas da Mata Atlântica. Base de dados eletrônica http://www.sosmatatlantica.org.br/index.php?section=atlas&action=atlas. Fundação S.O.S. Mata Atlântica, São Paulo, BR. (acessado em 13/12/2012). VITOUSEK, P, M. (1994). Beyond Global Warming: Ecology and Global Change. Ecology. Vol. 75.7: 19861-1876.

61


Diversidade de rola-bostas (Coleopera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) em florestas ripárias da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, no Sul do Brasil Cristina Stenert¹ e Gustavo Viegas²

INTRODUÇÃO Características gerais Os rola-bostas ou escaravelhos (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) são um grupo de insetos globalmente distribuídos, com sua maior diversidade em florestas tropicais e savanas (Hanski & Cambefort, 1991). Estes besouros compreendem em torno de 6.000 espécies em 234 gêneros distribuídas globalmente, principalmente nas regiões tropicais (Halffter & Matthews, 1966; Hanski & Cambefort, 1991). Para a região Neotropical existe o registro de mais de 1.250 espécies em 70 gêneros (Hanski & Cambefort, 1991), enquanto que no território brasileiro, estão registradas 768 espécies de 49 gêneros conhecidos, das quais 61 são espécies ainda não descritas, e apenas 391 são seguramente identificáveis (Vaz-de-Mello, 2000). Deste montante, 107 espécies estão inventariadas para a região deste estudo (Silva, 2011). Contudo, ainda faltam informações para os escaravelhos em muitas regiões do Brasil (Vaz-de-Mello, 2000; Hernández & Vaz-deMello, 2009; Silva, 2011), em especial no bioma Mata Atlântica (Vaz-de-Mello, 2000; Hernández 2002; Endres et al., 2005; 2007; Hernández & Vaz-de-Mello, 2009). Nesse sentido, estudos mais abrangentes da taxonomia, biologia e ecologia deste grupo são extremamente necessários. Grandes coprófagos, as espécies de rola-bostas utilizam matéria orgânica em decomposição como alimento, tais como frutos podres, carniça e, principalmente, fezes (Hanski & Cambefort, 1991), aproveitando o material mais fibroso para o ninho de suas larvas (Halffter & Matthews, 1966; Halffter & Edmonds, 1982). Os rola-bostas têm desenvolvido diferentes estratégias de nidificação, cada qual com implicações para as funções ecológicas. As espécies paracoprídeas (“tuneleiras”) enterram a bola do recurso para a ninhada dentro de túneis imediatamente abaixo da fonte do alimento (Lumaret et al., 1992). As espécies telecoprídeas (“roladoras”) fazem bolas com as excretas e as rolam para locais distantes da fonte do recurso e de outros besouros, escondendo-as no solo (Lumaret et al., 1992). As espécies endocoprídeas (“residentes”) nidificam e criam seus juvenis dentro da massa fecal (vivem e se alimentam no interior da excreta) (Hanski & Cambefort, 1991; Lumaret et al., 1992; Nichols et al., 2008). Funções ecológicas Os rola-bostas são importantes organismos decompositores, envolvidos em alguns papéischave para o funcionamento do ecossistema, tais como ciclagem de nutrientes, aeração do solo, polinização e bioturbação (realocação e mistura de partículas de sedimento por animais ou plantas) (Estrada et al., 1998; Vulinec, 2002; Andresen & Feer, 2005; Nichols et al., 2008). A atividade dos rola-bostas altera a composição microbiana presente no recurso, o que contribui para uma maior mineralização de nutrientes inorgânicos que são mais facilmente volatilizados, principalmente o nitrogênio (Nichols et al., 2008). Além disso, estes besouros realizam o controle biológico de diversos parasitas de vertebrados que realizam postura nas fezes utilizadas como recurso de nidificação, bem como realizam a dispersão secundária de sementes de diversas espécies de plantas florestais (Halffter & Edmonds, 1982; Andresen, 2002; 2003; Nichols et al., 2008), auxiliando no processo sucessional. Neste sentido, os Scarabaeinae desempenham uma importante função na dinâmica de nutrientes em diferentes tipos de ecossistemas (Halffter & Matthews, 1966; Hanski & Cambefort, 1991), e podem inclusive ser usados para contribuir em estudos de recuperação e restauração de áreas degradadas. (¹)Profa do programa de Pós Graduação em Biologia, C2, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil (²) Mestrando do Progr. de Pós Graduação em Biologia, C2, Univ. do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo Brasil

62


Bioindicadores Os rola-bostas são influenciados tanto por fatores microclimáticos (temperatura, intensidade de luz, umidade; Hanski & Cambefort, 1991; Nichols et al., 2008), como pela perda ou redução da disponibilidade das fezes utilizadas como recurso alimentar (Davis & Philips, 2009). Devido a sua dependência das fezes de vertebrados, a comunidade destes besouros é afetada pelas mudanças na comunidade de mamíferos (Estrada et al., 1999), que são da mesma forma influenciados por efeitos sinergéticos da modificação da floresta, fragmentação e elevadas pressões de caça (Nichols et al., 2007). A fragmentação das áreas de floresta, bem como a transformação destes ecossistemas em áreas de pastagem, podem causar uma perda na diversidade de espécies e alterar drasticamente a estrutura da comunidade (Favila & Halffter, 1997). Por isso, os rola-bostas são indicadores eficientes e peças-chave importantes no funcionamento dos ecossistemas (Qie et al., 2011) por serem sensíveis às modificações e à fragmentação em ecossistemas florestais (Halffter & Favila, 1993; Halffter & Arellano, 2002; Davis & Philips, 2005; Nichols et al., 2007; Gardner et al., 2008; Hernández & Vaz-de-Mello, 2009), e às alterações nas comunidades de mamíferos (Estrada et al., 1999; Nichols et al., 2009). Nesse sentido, os rola-bostas podem ajudar a avaliar e monitorar o estado de conservação de áreas-alvo (Halffter & Favila, 1993). Devido à alta sensibilidade dos rola-bostas a vários tipos de atividades humanas e distúrbios do hábitat, é importante que se tenha o entendimento das funções ecológicas desempenhadas por essa comunidade para manejos futuros destes serviços ecossistêmicos (Nichols et al., 2008). Além disso, considerando que existem poucos estudos sobre a utilização de Scarabaeinae como bioindicadores da qualidade ambiental no sul do Brasil (e. g., Silva et al., 2008; Lopes et al., 2011; Silva, 2011), este trabalho teve como objetivo principal verificar a ocorrência de determinadas espécies de Scarabaeinae nas diferentes situações de conservação da vegetação ciliar na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, no Sul do Brasil, no sentido de utilizá-las como indicadoras da qualidade dos hábitats onde ocorrem. MATERIAL E MÉTODOS Amostragem e Identificação de Scarabaeinae Os escaravelhos foram coletados em cada área amostral ao longo de um ciclo anual (outubro de 2010 a julho de 2011), com uma amostragem por estação climática. As amostragens de primavera ocorreram entre outubro e novembro de 2010, as de verão em janeiro de 2011, as de outono em maio e junho de 2011 e as de inverno em julho de 2011. A amostragem de indivíduos foi realizada através de armadilhas de queda (pitfall trap), método bastante comum para amostragem de invertebrados ativos sobre o solo (Southwood, 1994), e considerada a melhor técnica disponível para amostrar um conjunto de espécies em uma única área (Loreal, 1992) (Figura 1). As armadilhas de queda foram confeccionadas utilizando potes plásticos com 30 cm de diâmetro e 20 cm de profundidade, enterradas no solo até a linha da borda e protegida por uma cúpula de plástico, suspensas por palitos a uma altura aproximada de 10 cm, e onde foram fixadas sob cada uma destas tampas, um de dois tipos de iscas: fezes humanas e carne suína em decomposição (Figura 1). As iscas eram compostas de aproximadamente 30 g de um dos dois substratos, envoltos por um tecido do tipo “voal” e atados com um barbante, que também era usado para suspender a isca no centro da cúpula de proteção. A escolha de fezes humanas como isca foi feita pelo fato

Figura 1. Armadilhas de queda (pitfall trap) utilizadas para amostragem dos besouros rola-bostas.

63


dos invertebrados coprófagos serem atraídos principalmente por este tipo de fezes (Gardner et al., 2008). No interior destas armadilhas foram adicionados 300 ml de uma solução de água e detergente neutro a 2% (o detergente reduz a tensão superficial da água e faz com que os insetos capturados afundem). As armadilhas permaneceram ativas por 72 horas. Em cada uma das áreas selecionadas, foi colocado um bloco amostral com oito armadilhas. Este bloco amostral era composto por quatro armadilhas iscadas com fezes e afastadas 10 m entre si ao longo de um gradiente de distância da margem do arroio, e quatro armadilhas iscadas com carne suína em decomposição 40 m afastadas das primeiras, acompanhando o mesmo gradiente de distância da margem do arroio, compreendendo ambientes de mata e campo conforme a disposição destes ambientes nas áreas selecionadas (Figura 2) Figura 2. Desenho amostral em cada área selecionada, detalhando a disposição das armadilhas de rola-bostas.

Os rola-bostas coletados foram secos a 40oC em estufa por 48 horas e preservados em mantas entomológicas. Os escaravelhos foram identificados ao nível específico sempre que possível, visto que há poucos trabalhos para a região onde o estudo foi realizado. Foi montada uma coleção em duplicata, previamente identificada ao nível genérico através do uso de chave dicotômica para os gêneros de Scarabaeinae neotropicais (Vaz-de-Mello et al., 2011). Uma destas coleções foi enviada para o Instituto de Biociências da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), tombados na coleção de Scarabaeoidea desta Universidade, e identificada pelo Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello. A outra coleção permaneceu no Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos, pertencente à Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e foi utilizada como referência para a identificação dos demais indivíduos coletados. ANÁLISE DE DADOS Para a análise da frequência das espécies deste estudo, os rola-bostas foram classificados como constantes (100% das áreas amostrais), frequentes (99%-50%), esporádicos (49%-10%) e ocasionais (9%-1%) (Stenert et al., 2004). Quanto à dominância, os besouros foram classificados em dominantes (100%-50%), abundantes (49%-30%), comuns (29%-10%), ocasionais (9%-1%) e raros (<1%) nos ecossistemas ripários ao longo do período estudado (McCullought & Jackson, 1985). Seguindo a classificação de guildas funcionais para as espécies encontradas na região do estudo, compilado de diversos autores por Silva (2011), os besouros amostrados foram classificados em endocoprídeos (“residentes”), paracoprídeos (“tuneleiros”) e telecoprídeos (“roladores”), de acordo com o número de espécies e indivíduos. RESULTADOS Um total de 1.289 indivíduos, distribuídos em 29 espécies de 11 gêneros e 6 tribos da subfamília Scarabaeinae foi coletado neste estudo (Tabela 1). As espécies classificadas como paracoprídeos (58,6% do total de espécies) e telecoprídeos (34,5%) predominaram nas áreas estudadas, enquanto que os endocoprídeos estiveram representados por apenas duas espécies nesse estudo (Tabela 2). Em relação ao número de indivíduos, 50,9% dos rola-bostas amostrados eram paracoprídeos, 48,8% eram telecoprídeos e apenas 0,3% eram endocoprídeos. Em relação à freqüência das espécies, 11 espécies (38%) foram classificadas como frequentes no estudo, 11 espécies (38%) foram classificadas como esporádicas, e sete (24%) como ocasionais. Nenhuma espécie foi classificada como constante neste estudo. Quanto à dominância das

64


espécies (Tabela 2), cinco espécies (17,3%) foram comuns no estudo, nove espécies (31%) foram consideradas ocasionais, e 13 espécies (44,8%) foram classificadas como raras. Nenhuma espécie foi considerada dominante ou abundante neste estudo (Tabela 2). Espécies

Área 1

Uroxys sp. - 1 - Canthon aff. chalybaeus 4 26 1 Canthon latipes 7 98 5 Canthon aff. luctuosus 3 21 4 Canthon oliverioi - - - Canthon mutabilis - - - Canthon aff. podagricus - - 1 Canthon aff. quinquemaculatus - - - Deltochilum brasiliense 1 3 1 Deltochilum morbillosum - 8 9 Paracanthon sp. - 181 28 Canthidium aff. breve - 1 - Canthidium dispar - - 1 Canthidium moestum - 1 - Canthidium aff. trinodosum 14 14 58 Canthidium sp.1 10 25 17 Canthidium sp.2 - - - Dichotomius aff. affinis 2 3 5 Dichotomius assifer - 1 2 Dichotomius nisus - - 1 Dichotomius aff. sericeus - 2 31 Ontherus sulcator - - - Ontherus sp. - - - Eurysternus sp. 1 1 - Eurysternus parallelus - 2 - Onthophagus catharinensis 1 - 2 Coprophanaeus milon - - - Coprophanaeus saphirinus 14 29 4 Sucophanaeus menelas - - -

Área 2 - 1 1 1 - - - - - 7 - - 1 - 25 8 1 - 5 - 2 2 - - - 10 - 4 -

- 23 19 1 - - - 1 - 3 - - 7 2 17 28 - - 3 - 11 2 - - - 19 - 17 -

Área 3

2 - 21 38 4 2 - - - 1 - - - - - 2 1 - 4 1 6 5 - 1 - - 16 3 30 31 3 26 - - 6 5 4 2 - - 29 5 - - - - - - - - 2 2 - - 1 - - -

- 29 5 - - - - 2 - - - 2 - - 2 9 - - - - - - - - - - - 2 -

- 12 - 1 - 1 - - - - - - 7 - 3 21 - 1 - - 1 1 - - - - - 1 -

Área 4 - - - 6 11 - 1 - - - - - 1 2 - 2 12 1 - - - - - - - - - - - - - - - 1 - - - - - - - 8 - - - 1 21 1 - - - - - - - - 2 - - 1 - -

Tabela 1: Total de indivíduos das espécies de Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) coletados entre os ambientes estudados (Área 1: vegetação ripária com largura maior que 40 m em ambas as margens; Área 2: vegetação ripária com largura entre 15 m e 30 m; Área 3: vegetação ripária com largura entre 5 m e 15 m; Área 4: vegetação ripária com largura menor que 5 m). Os traços substituem os zeros onde não houve registro.

A composição de espécies de rola-bostas foi diferente entre as áreas com distintas condições de conservação da vegetação ripária. A maior variação na composição de espécies ocorreu entre a área mais conservada e a mais alterada em relação à vegetação ciliar. Algumas espécies foram mais freqüentes e abundantes nas áreas com faixa ripária mais conservada, tais como Paracanthon sp. e Canthon aff. luctuosus relacionadas à Área 1, e Dichotomius assifer mais relacionada aos ambientes com faixa ripária de largura entre 15 e 30 m (Área 2). Por outro lado, Dichotomius nisus, Ontherus sulcator, Canthon aff. podagricus e Canthon mutabilis estiveram mais associadas às áreas com faixa ripária menor do que 5 m de largura (Área 4) - Tabela 1. Entre os gêneros da tribo Canthonini, Canthon (Figura 3a - d) apresentou o maior número de espécies, correspondendo a 28,8% dos indivíduos amostrados. Deltochilum foi representado por duas espécies: D. brasiliense e D. morbillosum (Figura 3e). O gênero representou aproximadamente 3% dos rola-bostas coletados neste estudo, estando presentes somente na primavera e no verão. Paracanthon (Figura 3f) foi representado por apenas uma espécie que ocorreu o ano todo e foi a mais abundante do estudo, com 17,7% do total de indivíduos coletados (Tabela 2). 65


Espécies

Freqüência (%)

Dominância (%)

Uroxys sp. Canthon aff. chalybaeus Canthon latipes Canthon aff. luctuosus Canthon oliverioi Canthon mutabilis Canthon aff. podagricus Canthon aff. quinquemaculatus Deltochilum brasiliense Deltochilum morbillosum Paracanthon sp. Canthidium aff. breve Canthidium dispar Canthidium moestum Canthidium aff. trinodosum Canthidium sp.1 Canthidium sp.2 Dichotomius aff. affinis Dichotomius assifer Dichotomius nisus Dichotomius aff. sericeus Ontherus sulcator Ontherus sp. Eurysternus sp. Eurysternus parallelus Onthophagus catharinensis Coprophanaeus milon Coprophanaeus saphirinus Sucophanaeus menelas

25 91,67 75 50 8,33 25 25 33,33 33,33 50 33,33 25 33,33 33,33 75 83,33 8,33 50 50 16,67 58,33 41,67 8,33 16,67 16,67 50 8,33 66,67 8,33

0,23 13,34 11,02 2,4 0,08 0,31 1,16 0,47 0,47 2,48 17,07 0,31 1,24 1,71 15,05 11,48 0,08 1,71 1,32 0,7 6,28 2,09 0,08 0,16 0,16 2,79 0,16 5,59 0,08

Guilda Funcional Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Telecopride Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde Endocopride Endocopride Paracopríde Paracopríde Paracopríde Paracopríde

Tabela 2. Frequência e dominância de besouros coletados ao longo de um ciclo anual (outubro de 2010 a agosto de 2011) em fragmentos ripários com diferentes situações de conservação na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, RS, e suas respectivas guildas funcionais.

Figura 3. Representantes das espécies da tribo Canthonini coletados neste estudo: a) Canthon aff. podagricus; b) Canthon aff. chalybaeus; c) Canthon aff. quinquemaculatus; d) Canthon mutabilis; e) Deltochilum morbillosum; f) Paracanthon sp.

66


Entre os gêneros de Coprini, Canthidium (Figura 4a - c) foi representado por seis espécies, e correspondeu a 29,9% dos indivíduos coletados no estudo. Esse gênero esteve presente em todas as estações do ano. Canthidium foi o gênero mais abundante durante o inverno, representando 55,1% da fauna de Scarabaeinae amostrada neste período. Dichotomius (Figura 4d - e) correspondeu a 10% dos indivíduos amostrados distribuídos em quatro espécies. Dichotomius ocorreu ao longo de todo ano, sendo mais abundante no verão. Ontherus (Figura 4f) foi representado por 2,2% dos indivíduos amostrados, e foi encontrado apenas na primavera e no verão.

Figura 4. Representantes das espécies da tribo Coprini coletados neste estudo: a) Canthidium dispar; b) Canthidium aff. trinodosum; c) Canthidium moestum; d) Dichotomius assifer; e) Dichotomius aff. sericeus; f) Ontherus sulcator

Eurysternus (Oniticellini) (Figura 5a) representou apenas 0,3% dos besouros coletados, e ocorreu exclusivamente na primavera e no verão. Onthophagus catharinensis (Onthophagini) (Figura 5b) foi a única espécie deste gênero, correspondendo a 2,8% dos indivíduos coletados. Essa espécie também ocorreu apenas na primavera e no verão. Coprophanaeus (Phanaeini) (Figura 5c) correspondeu a 5,7% dos indivíduos coletados, e foi representado por apenas duas espécies: C. saphirinus, que foi bastante abundante na primavera, e C. milon, com apenas dois indivíduos coletados no verão. O gênero não foi registrado no outono e inverno. Além destas duas espécies, Phanaeini também foi representada por Sucophanaeus menelas (Figura 5d), porém esta com apenas um indivíduo coletado.

Figura 5. Demais espécies com alguma representatividade neste trabalho: a) Eurysternus parallelus(Oniticellini); b) Onthophagus catharinensis (Onthophagini); c) Coprophanaeus saphirinus (Phanaeini); d) Sucophanaeus menelas (Phanaeini)

67


CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre as espécies coletadas neste estudo e que ocorreram também em outros trabalhos desenvolvidos em diferentes latitudes do território brasileiro, as mais representativas foram Canthidium trinodosum, Canthon latipes, Dichotomius assifer (Hernández & Vaz-de-Mello, 2009; Silva, 2011), Canthon chalybaeus, Canthon aff. luctuosus, Canthon quinquemaculatus, Ontherus sulcator (Silva, 2011), Canthon mutabilis (Silva et al., 2010), Deltochilum brasiliense, D. morbillosum (Hernández & Vaz-de-Mello, 2009), Dichotomius aff. sericeus (Silva et al., 2010; Endres et al., 2007), Dichotomius nisus (Endres et al., 2007), Eurysternus parallelus, Onthophagus catharinensis e Sulcophanaeus menelas (Lopes et al., 2011). Esse resultado indica que ao menos 15 das 29 espécies encontradas neste estudo apresentam uma ampla distribuição geográfica. A extensa distribuição geográfica de algumas espécies facilita comparações entre áreas distintas, podendo contribuir em planos de manejo e atividades conservacionistas nas mais diferentes regiões. Além disso, conforme discutido por Escobar et al. (2006), a evolução destes besouros na região Neotropical ocorreu principalmente a partir de espécies de ecossistemas florestais, principalmente em florestas tropicais, sendo que algumas espécies acabaram invadindo áreas de maiores altitudes, com consequentemente menores temperaturas (Hanski & Cambefort, 1991; Halffter & Arellano, 2002). Nesse sentido, espera-se que em regiões de maiores latitudes, a fauna seja representada por um subconjunto das espécies de florestas tropicais. Um importante fator que pode ter influenciado a presença das diferentes guildas destes besouros nas áreas estudadas é o fato das mesmas terem sido estabelecidas em zonas ripárias que apresentam grandes variações no fluxo de água, com alagamentos ocasionais das margens, bem como a composição edáfica diferenciada de áreas livres de inundação (Barlow et al., 2010). Uma vez que estes insetos são ativos na superfície do solo e nidificam em galerias subterrâneas ou no interior do recurso, estas áreas são locais de risco para os Scarabaeinae, o que leva a fauna destes besouros a ocupar locais mais altos, principalmente espécies telecoprídeas. Espécies paracoprídeas são influenciadas por características ambientais que afetam o processo de escavação, enquanto que espécies telecoprídeas e endocoprídeas são muito afetadas pela umidade superficial do solo, pois a umidade influencia diretamente a velocidade de ressecamento do recurso alimentar (Hanski & Cambefort, 1991). No presente estudo, poucos foram os registros de espécies amostradas nas armadilhas mais próximas ao arroio. Este fato, bem como a presença de campos adjacentes em muitas das áreas estudadas, podem ter influenciado o grande número de espécies e indivíduos de paracoprídeos representados neste estudo. A composição de Scarabaeinae variou entre os ambientes com diferentes condições de conservação da vegetação ripária. Silva et al. (2008), estudando ambiente de borda de fragmentos florestais, verificaram uma composição de espécies distinta entre os ambientes de campo e mata, com uma abundância crescente do campo para o interior da mata na região do Pampa sul brasileiro (aproximadamente na mesma latitude em que foi conduzido este trabalho). Lopes et al. (2011) estudando estes mesmos tipos de gradiente entre campo e mata, porém em Floresta Ombrófila Mista, no Paraná, encontraram baixa similaridade, com grandes diferenças no padrão de distribuição da composição de espécies para cada ambiente. Apesar de não termos estudado diretamente o efeito de borda neste trabalho, podemos inferir que fragmentos mais estreitos possuem condições microclimáticas bastante similares aos ambientes de borda de florestas (Primack & Rodrigues, 2002), o que pode explicar parcialmente as mudanças na composição da fauna de Scarabaeinae entre os ambientes com diferentes larguras ripárias. De acordo com Navarrete & Halffter, (2008), conforme a floresta contínua é fragmentada ou aberta em seu interior, as espécies de rola-bosta exclusivamente residentes de florestas desaparecem e são substituídas por outras que podem tolerar altas temperaturas e alta exposição à luz solar. A comunidade como um todo variou entre os ambientes, com mudanças principalmente na frequência das espécies conforme as modificações na vegetação ripária entre as áreas estudadas. Assim, apesar de a composição de Scarabaeinae refletir as mudanças estruturais do ambiente, direcionar a atenção para estas espécies que mais fortemente representam estas mudanças da composição em relação às mudanças na estrutura do hábitat, pode facilitar as observações em trabalhos futuros, principalmente de manejo adaptativo e análises da qualidade do ambiente.

68


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRESEN, E. 2002. Dung beetles in a Central Amazonian rainforest and their ecological role assecondary seed dispersers. Ecological Entomology. 27:257-270. ANDRESEN, E. 2003. Effect of forest fragmentation on dung beetle communities and functional consequences for plant regeneration. Ecography. 26:87-97. BARLOW, J.; LOUZADA, J.; PARRY, L.; HERNÁNDEZ, M.I.M.; HAWES, J.; PERES C.A.; VAZ-DE-MELLO, F.Z.; GARDNER, T.A. 2010. Improving the design and management of forest stripsin human-dominated tropical landscapes: a field test on Amazonian dung beetles. Journal of Applied Ecology. 47:779-788. BENSON, T.J.; DINSMORE, J.J.; HOHMAN, W.L. 2007. Responses of Plants and Arthropods to Burning and Disking of Riparian Habitats. Journal of Wildlife Management. 71(6):1949-1957. BORROR, D.J.; DELONG, D.M. 1969. Introdução ao Estudo dos Insetos. Rio de Janeiro, USAID e Edgar Blucher Ltda., 654p. ENDRES, A.A.; HERNÁNDEZ, M.I.M.; CREÃO-DUARTE, A.J. 2005. Considerações sobre Coprophanaeus ensifer (Germar) (Coleoptera, Scarabaeidae) em um remanescente de Mata Atlântica no Estado da Paraíba, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia. 49(3):427-429. ENDRES, A.A.; CREÃO-DUARTE, A.J.; HERNÁNDEZ, M.I.M. 2007. Diversidade de Scarabaeidaes. str. (Coleoptera) da Reserva Biológica Guaribas, Mamanguape, Paraíba, Brasil: uma comparação entre Mata Atlântica e Tabuleiro Nordestino. Revista Brasileira de Entomologia. 51(1):67- 1. ERWIN, T.L. 1982. Tropical forests: their richness in Coleoptera and other arthropod species. The Coleopterist’s Bulletin. 36:74-75. ESCOBAR, F.; LOBO, J.M.; HALFFTER, G. 2006. Assessing the origin of Neotropical mountain dung beetle assemblages (Scarabaeidae: Scarabaeinae): the comparative influence of vertical and horizontal colonization. Journal of Biogeography. 33:1793-1803. FITTKAU, E.J.; KLINGE, H. 1973. On biomass and trophic structure of the Central Amazonian rain forest ecosystem. Biotropica. 5:2-14. GARDNER, T.A.; HERNÁNDEZ, M.I.M.; BARLOW, J.; PERES, C.A. 2008. Understanding the Biobiversity Consequencesof Habitat changes: the Value of Secondary and Plantation Forest for Neotropical Dung Beetles. Journal of Applied Ecology. 45:883-893. GODFRAY, H.C.J.; LEWIS, O.T.; MEMMOTT, J. 1999. Studying insect diversity in the tropics. Philosophical Transactions of the Royal Society of London Biological. 354:1811-1824. HALFFTER, G.; MATTHEWS, E.G. 1966. The natural history of dung beetles of the subfamily Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae). Folia Entomológica Mexicana, 12/14:1-312. HALFFTER, G.; EDMONDS, W.D. 1982. The nesting behavior of dung beetles (Scarabaeinae): An ecological and evolutive approach. Man and the Biosphere Program UNESCO., 177 p. HALFFTER, G. 1991. Historical and ecological factors determining the geographical distribution of beetles (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae). Folia Entomológica Mexicana. 82:195-238. HALFFTER, G.; ARELLANO, L. 2002. Response of Beetle Diversity to Uman-Induced in a Tropical Landscape. Biotropica. 34:144-154. HANSKI, I.; CAMBEFORT, I. 1991. Dung Beetle Ecology. Princeton University Press, 520 p. HERNÁNDEZ, M.I.M. 2002. The night and day of dung beetles (Coleoptera, Scarabaeidae) in the Serra do Japi, Brazil: elytra colour related to daily activity. Revista Brasileira de Entomologia. 46(4):597-600. HERNÁNDEZ, M.I.M. 2007. Besouros Escarabeíneos (Coleoptera: Scarabaeidae) da caatinga paraibana, Brasil. Oecologia Brasiliensis. 11(3):356-364. HERNÁNDEZ, M.I.M.; VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2009. Seasonal and spatial variation of coprophagous Scarabaeidae s. str. (Coleoptera) species richness in areas of Atlantic Forest of the state of São Paulo, Brazil. Revista Brasileira de Entomologia. 53(4):607-613. 69


JANZEN, D.H. 1983. Insects at carrion and dung. Costa Rican Natural History (ed. D.H. Janzen). University of Chicago Press, Chicago, IL. KLEIN, B.C. 1989. Effects of Forest Fragmentation on Dung and Carrion Beetle Communities in Central Amazonia. Ecology. 70(6):1715-1725. LOPES, J.; KORASAKI, V.; CATELLI, L.L.; MARÇAL, V.V.M.; NUNES, M.P.B.P. 2011. A comparison of dung beetle assemblage structure (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) between an Atlantic forest fragment and adjacent abandoned pasture in Paraná, Brazil. Zoologia. 28(1):72-79. LOREAL, M. 1992. Species abundance patterns and the structure of ground-beetle communities. Annales Zoologici Fennici. 28:49-56. LUMARET, J.P.; KADIRI, N.; BERTRAND, M. 1992. Changes in Resources: Consequences for the Dynamics of Dung Beetle Communities. Journal of Applied Ecology. 29(2):349-356. MAIN, B.Y. 1987. Persistence of invertebrates in small areas: Case studies of trapdoor spiders in Western Australia. In: D.A. SAUNDERS; ARNOLD, G.W.; BURBIDGE, A.A.; HOPKINS, A.J.M. (ed.). Nature Conservation: The Role of Remnants of Native Vegetation. Surrey Beatty, Chipping Norton. p. 29-39. MCCULLOUGHT, J.D.; JACKSON, D.W. 1985. Composition and productivity of the benthic macroinvertebrate community of subtropical reservoir. International Review Gesamten Hydrobiology. 70:221-235. MILLER, J.C. 1993. Insect natural history, multi-species interactions and biodiversity in ecosystems. Biodiversity and Conservation. 2:233-241. NICHOLS, E.; LARSEN, T.; SPECTOR, S.; DAVIS, A.L.; ESCOBAR, F.; FLAVIA, M.E.; VULINEC, K. 2007. Global Dung Beetle Response to Tropical Forest Modification and Fragmentation: A Quantitative Literature Review and Meta-Analysis. Biological Conservation. 137:1-19. NICHOLS, E.; SPECTOR, S.; LOUZADA, J.; LARSEN, T.; AMEZQUITA, S.; FAVILA, M.E. 2008. Ecological functions and ecosystem services provided by Scarabaeinae dung beetles. Biological Conservation. 141:1461-1474. RIOS, R.I.; HERNÁNDEZ, M.I.M. 1993. Avaliação do tamanho do corpo de insetos em três famílias de Coleoptera: Scarabaeidae, Elateridae e Hydrophilidae. Revista Brasileira de Biologia. 53(1):37- 41. RUPPERT, E.E. FOX, R.S.; BARNES, R.D. 2005. Zoologia dos Invertebrados. São Paulo. Roca Press, 873 p. SILVA, F.A.B.; HERNÁNDEZ, M.I.M.; IDE, S.; MOURA, R.C. 2007. Comunidade de escarabeíneos (Coleoptera, Scarabaeidae) copro-necrófagos da região de Brejo Novo, Caruaru, Pernambuco, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia. 51(2):228-233. SILVA, F.A.B.; COSTA, C.M.Q.; MOURA, R.C.; FARIAS, A.I. 2010. Study of the dung beetle (Coleoptera: Scarabaeidae) community at two sites: Atlantic Forest and Clear-Cut, Pernambuco, Brazil. Environmental Entomology. 39(2):359-367. SILVA, P.G.; GARCIA, M.A.R.; VIDAL, M.B. 2008. Besouros copro-necrófagos (Coleoptera: Scarabaeidae stricto sensu) coletados em ecótono natural de campo e mata em Bagé, RS. Ciência e Natura, UFSM. 30(2):71-91. SILVA, P.G. 2011. Espécies de Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) de fragmentos florestais com diferentes níveis de alteração em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado: Universidade Federal de Santa Maria. SOUTHWOOD, T.R.E. 1994. Ecological Methods: With Particular Reference to the Study of Insect Populations. London. Chapman & Hall STENERT, C., SANTOS, E.M. & MALTCHIK, L. 2004. Levantamento da diversidade de macroinvertebrados em áreas úmidas do Rio Grande do Sul (Brasil). Acta Biologica Leopoldensia. 26:229-244. VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2000. Estado atual de conhecimento dos Scarabaeidae s. str. (Coleoptera: Scarabaeoidea) do Brasil. In: F. Martín-Piera; J.J. Morrone & A. Melic (eds.), Hacia un Proyecto CyTED para el Inventario y Estimación de la Diversidad Entomológica en Iberoa-

70


mĂŠrica. PrIBES. SEA, Zaragoza. p. 183-195. VAZ-DE-MELLO, F.Z.; EDMONDS, W.D.; OCAMPO, F.C.; SCHOOLMEESTERS, P. 2011. A multilingual key to the genera and subgenera of the subfamily Scarabaeinae of the New World (Coleoptera: Scarabaeidae). Zootaxa. 2854:1-73. WALL, D.H.; MOORE, J.C. 1999. Interactions underground - Soil biodiversity, mutualism, and ecosystem processes. Bioscience. 49:109-117. WATTS, C.H.; DIDHAM, R.K. 2006. Influences of Habitat Isolation on Invertebrate Colonization of Sporadanthus ferrugineus in a Mined Peat Bog. Restoration Ecology. 14(3):12-419.

71


Vegetação da Bacia do Rio dos Sinos Julian Mauhs* Quando a gente se desloca de um município para outro, passando por trechos que ainda preservam um pouco da paisagem natural, é possível observar diferentes tipos de vegetações. Se nos propuséssemos a viajar pela Bacia do Rio dos Sinos, de ponta a ponta, poderíamos distinguir pelos menos cinco tipos básicos de comunidades vegetais. São eles: os banhados, as florestas de galeria, as florestas contínuas, os capões e os campos. Para a maioria dos observadores, bastaria saber reconhecer estas classes de vegetação. Mas para aqueles que pretendem conhecer as semelhanças e diferenças entre uma floresta da parte baixa da Bacia e uma floresta que ocorre próximo das nascentes, por exemplo, é preciso avançar no processo de classificação. Nesta viagem, um observador mais atento poderia se dar por conta de que a vegetação tem um papel importante na identidade da paisagem. Assim, os municípios do trecho superior têm comunidades vegetais mais semelhantes entre si, do que com as dos trechos médio e inferior1. No Brasil, o IBGE (1992) estabeleceu um sistema de classificação da vegetação, baseado em conceitos e nomenclaturas usados internacionalmente, de maneira que os tipos de vegetação assim classificados e descritos pudessem ser correlacionados. No Rio Grande do Sul, a vegetação foi mapeada e caracterizada neste sistema por Teixeira et al. (1986), e mais recentemente foi revisada pela Fundação Zoobotânica, sendo ajustada ao território do Estado numa escala melhor detalhada. Estas serão as bases para o presente texto. O objetivo deste capítulo é apresentar a classificação da vegetação da Bacia do Sinos, de maneira que o leitor possa tomar contato com os nomes técnicos e as características que definem cada classe. Esperamos que esta breve introdução ao tema sirva de subsídio para quem quiser se aventurar na busca do conhecimento sobre a flora, seja através da bibliografia especializada, seja em consultas a especialistas, seja ainda em incursões ao mundo real e palpável dos banhados, campos e florestas. A Bacia do Rio dos Sinos é uma das menores do Estado, em território, mas congrega uma riqueza de espécies vegetais desproporcional ao seu tamanho. Isto se deve à sua posição geográfica, que lhe conferiu uma grande variação altitudinal e climática. Nas partes mais altas da Bacia facilmente encontramos altitudes acima dos 700 metros, enquanto no trecho final do Rio dos Sinos, a altitude é inferior a 20 metros. Nestes extremos, não raro se observam diferenças superiores a 5ºC na temperatura e, embora a pluviosidade seja mais ou menos uniforme, o quadrante nordeste da Bacia geralmente recebe mais chuvas do que o restante. Uma vez que a vegetação está em dependência direta das condições climáticas e edáficas, as diferenças mencionadas se refletem na cobertura vegetal. De maneira geral, o clima e o solo de todo o território da Bacia oferecem plenas condições para o estabelecimento de vegetação do tipo florestal. Ela cobriria, originalmente, a maior parte da Bacia. Alguns trechos, em função de limitações do solo, apresentam vegetação herbácea ou arbustiva. Isto acontece onde a camada de solo tem pouca profundidade, ou quando o solo é encharcado. A maior parte da Bacia do Rio dos Sinos é abrangida pelo Domínio da Mata Atlântica (Bra(*) Biólogo, da empresa Biota Soluções Ambientais (1) O trecho superior abrange boa parte dos municípios de Caraá, Santo Antônio da Patrulha, Riozinho, Rolante, e uma pequena parte de Osório, na região da Encosta da Serra Geral; de São Francisco de Paula e Canela, e uma pequena parte de Gramado, na região das Hortênsias. O trecho médio abrange os municípios de Taquara, Três Coroas, Igrejinha, Parobé, Nova Hartz, Araricá e Sapiranga, nas regiões conhecidas como Vale do Paranhana e Vale do Sinos. Abrange partes menores de Glorinha, Gravataí e Santa Maria do Herval. O trecho inferior abrange os municípios de Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Portão, Estância Velha, Sapucaia, Nova Santa Rita, Esteio e Canoas. Abrange partes menores de Gravataí, Cachoeirinha, Dois Irmãos, Ivoti, São Sebastião do Caí e Capela de Santana. Informações extraídas do Almanaque Rio dos Sinos (Becker Junior, 2011).

72


sil, 2006), conforme pode ser visto na figura 1. O Domínio da Mata Atlântica é definido pela Lei Federal 11.428/2006, e no Rio Grande do Sul abrange, além da Floresta Ombrófila Densa (ou seja, a Mata Atlântica stricto sensu), também a Floresta Ombrófila Mista, as Florestas Estacionais (decidual e semidecidual) e as Formações Pioneiras. A despeito de toda controvérsia que a área de abrangência da Mata Atlântica suscita entre os interessados no tema, é fato que várias espécies tipicamente tropicais avançam para o interior da Bacia do Sinos2. REGIÕES FITOECOLÓGICAS DA BACIA DO RIO DOS SINOS O sistema de classificação da vegetação utilizado no Brasil está baseado em critérios fisionômicos e climáticos. Sendo assim, uma região fitoecológica delimita um tipo de vegetação dominada por formas biológicas características (árvores, por exemplo), submetidas a um mesmo clima (IBGE 1992). Na Bacia do Rio dos Sinos, ocorrem as regiões fitoecológicas da Floresta Estacional Semidecidual, da Floresta Ombrófila Mista e da Estepe. No trecho final da Bacia ocorre o contato da Floresta Estacional com uma região de Savana. Por resultar numa interpenetração de dois sistemas florísticos, um florestal e outro herbáceoarbustivo, é denominada como Área de Tensão Ecológica. Existe ainda outro tipo de vegetação na Bacia do Sinos, que cobre solos formados mais recentemente na história geológica da região, por isso denominada de Formações Pioneiras. No caso em foco, são os banhados do curso inferior do Rio dos Sinos, a jusante de Campo Bom3.

Figura 1. Vegetação da Bacia do Rio dos Sinos, segundo o sistema de classificação da vegetação brasileira (IBGE, 2002) e do mapa simplificado de vegetação do Rio Grande do Sul (FZB, 2013). Abreviaturas: FESD – Floresta Estacional Semidecidual; FOM – Floresta Ombrófila Mista; E – estepe gramíneo-lenhosa; FE/Sa – contato Floresta Estacional com formações savânicas; FP – Formações Pioneiras. A linha tracejada marca o limite entre os Domínios da Mata Atlântica (à direita da linha) e do Pampa (à esquerda da linha), segundo o mapa de aplicação da Lei Federal 11.428/2006. Indicações da nascente, da foz e de algumas sedes municipais: N – nascente (considerando a posição da cascata, no município de Caraá); F – foz (desembocadura do Rio dos Sinos no Rio Jacuí); 1 – Caraá; 2 – Rolante; 3 – São Francisco de Paula; 4 – Canela; 5 – Igrejinha; 6 – Taquara; 7 – Campo Bom; 8 – Novo Hamburgo; 9 – São Leopoldo; 10 – Canoas. (2) Importantes estudos sobre a migração das espécies tropicais para a região Sul do Brasil foram conduzidos por Rambo (1950, 1951a, 1961) e Klein (1975, 1985). Para a Bacia do Sinos, Molz (2004) demonstrou a ocorrência de espécies tipicamente tropicais em um remanescente de floresta no município de Araricá. (3) Na verdade, banhados ocorrem também nos trechos médio e superior do Rio dos Sinos, entre Sapiranga e Santo Antônio da Patrulha, mas na escala utilizada na figura 1 não são mapeáveis.

73


A vegetação predominante na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos é a Floresta Estacional Semidecidual (Teixeira et al. 1986). Ela ocuparia originalmente toda a região central da Bacia, equivalendo a mais da metade da área total. Esta floresta tem sua área de abrangência fortemente associada ao clima, caracterizado por estações distintas, daí o nome “estacional”. Quando se diz que uma região geográfica está submetida ao efeito de diferentes estações, em se tratando do tema vegetação, geralmente se está referindo à ocorrência de uma estação chuvosa e outra seca. No caso da região da Bacia do Rio dos Sinos, no entanto, a diferenciação se dá pela ocorrência de um período com temperaturas mais baixas. As chuvas tendem a ser bem distribuídas ao longo do ano, de modo que a estacionalidade se deve à média da temperatura dos meses mais frios, inferior a 15oC (Nimer, 1990). Neste período, as árvores são submetidas a um processo denominado “seca fisiológica”, que provoca a queda de folhas em algumas espécies, o que caracteriza a floresta estacional (Veloso & Goes Filho, 1982; Teixeira et al., 1986). O epíteto “semidecidual” se deve à proporção de árvores caducifólias que compõem a Floresta Estacional. No sistema de classificação da vegetação brasileira (IBGE, 1992) convencionou-se que, na Floresta Estacional Semidecidual, entre 20 a 50% das árvores do estrato emergente são caducifólias4. O estrato emergente é composto pelas árvores mais altas, que se elevam acima do estrato arbóreo contínuo. As principais espécies emergentes, na Floresta Estacional da Bacia do Sinos, são: a grápia (Apuleia leiocarpa), o angico (Parapiptadenia rigida), o louro-pardo (Cordia trichotoma), o cedro (Cedrela fissilis), o açoita-cavalo (Luehea divaricata), a cangerana (Cabralea canjerana), a timbaúva (Enterolobium contortisiliquum) e a cabreúva (Myrocarpus frondosus).

Figuras 2 e 3. A Floresta Estacional Semidecidual se caracteriza pela queda foliar pronunciada, pelo menos em parte do estrato arbóreo. As imagens acima mostram a diferença na fisionomia de um mesmo fragmento florestal, nas estações de verão e de inverno.

Algumas destas espécies são caducifólias, outras são perenifólias (isto é, mantém a folhagem o ano todo), e não raro é possível ver árvores caducifólias perdendo apenas parte das folhas no inverno. O registro do comportamento fisiológico das plantas, notado externamente pelos fenômenos de queda foliar, brotação, florescimento e frutificação, é uma parte do estudo da botânica, denominada fenologia. Trata-se de um tema muito interessante, e que contribui para o entendimento de muitas relações do tipo planta-planta e planta-animal. Quando se estuda a fenologia de uma de uma floresta, ou mesmo de uma única espécie de planta, deve-se embasar as conclusões em observações de longa duração (cinco anos ou mais), e não apenas em observações momentâneas ou ocasionais. Caso contrário, pode-se generalizar um comportamento influenciado por algum episódio extremo, como uma estiagem ou período de chuvas destoantes das médias históricas, por exemplo. A maioria das árvores emergentes tem madeira de boa qualidade, e tiveram as populações muito reduzidas a partir do início da colonização européia. Algumas delas se tornaram raras na região (p. ex., grápia e cabreúva), e a falta destas espécies nas florestas remanescentes prejudica o reconhecimento do efeito da estacionalidade. Abaixo das copas das espécies emergentes, o es(4) Os índices a diferenciam da floresta estacional decidual, caracterizada por um percentual maior (acima de 50%) de árvores caducifólias no estrato superior.

74


trato arbóreo contínuo da Floresta Estacional Semidecidual não apresenta decidualidade notável. As árvores nesta camada da floresta certamente perdem boa parte da folhagem no período desfavorável, mas renovam constantemente as folhas. Na medida em que folhas velhas caem, novas folhas estão crescendo, e as copas estão sempre verdes. Mesmo assim, quem se propuser a visitar o interior da Floresta Estacional nas estações de verão e de inverno, vai perceber diferenças marcantes. Enquanto no verão o sub-bosque é vigoroso e denso, no inverno as arvoretas e subarbustos parecem reduzir consideravelmente seu viço. As principais espécies que formam o estrato arbóreo contínuo da Floresta Estacional da Bacia do Sinos são: canela-preta (Nectandra megapotamica), canela-ferrugem (Nectandra oppositifolia), canela-guaicá (Ocotea puberula), camboatá-branco (Matayba elaeagnoides), camboatá-vermelho (Cupania vernalis), branquilho (Sebastiania commersoniana), tanheiro (Alchornea triplinervia), chal-chal (Allophylus edulis), aroeira-braba (Lithraea brasiliensis), pessegueiro-brabo (Prunus myrtifolia), cocão (Erythroxylum argentinum), cincho (Sorocea bonplandii), maria-mole (Guapira opposita), catiguá (Trichilia clausenii), e ainda muitas outras, como as pertencentes à família das Mirtáceas. Este é um bom grupo de espécies com que o iniciante no estudo da flora da Bacia poderia se ocupar. Elas ocorrem em quase todas as comunidades florestais na Bacia do Sinos, seja nas encostas da Serra, seja nas terras planas e baixas. Ocorrem até mesmo na região Floresta Ombrófila Mista. A Floresta Ombrófila Mista é facilmente reconhecida pela presença do elemento que lhe é emblemático: a araucária. Antigamente este tipo de floresta era chamado de Floresta de Araucária, mas o termo se mostrou inapropriado porque, na verdade, existem muitas outras árvores na comunidade florestal, além do pinheiro. Daí a necessidade do termo “mista”, que indica se tratar de uma floresta que “mistura” espécies latifoliadas e aciculifoliadas5. A Floresta Ombrófila Mista, na Bacia do Sinos, situa-se nas cotas altimétricas mais elevadas, em torno dos 800 m, numa faixa que vai de São Francisco de Paula até Gramado. Embora esteja também submetida a temperaturas baixas durante alguns meses do ano, o estrato emergente desta floresta é dominado pela araucária, portanto, é perenifólio. A fisionomia da floresta não se altera ao longo do ano, como ocorre na Floresta Estacional. A ocorrência da Floresta Ombrófila Mista no território da Bacia do Sinos eleva consideravelmente a diversidade, não apenas da flora, mas também da fauna. Por se tratar de uma comunidade que ocorre sob um clima mais frio e úmido, o grupo das samambaias é bastante rico. Entre as espécies arbóreas, além de reunir boa parte das pertencentes à Floresta Estacional, a araucária traz consigo uma série de espécies companheiras (Rambo, 1951 b). A fauna por sua vez, tem na semente da araucária, o pinhão, um importante sustento numa época de escassez de frutos e sementes. Em um estudo do comportamento de mamíferos de médio porte, Rosa et al. (2007) verificaram que algumas espécies exploram o limite da Floresta Ombrófila Mista com a Floresta Estacional Semidecidual, se beneficiando dos recursos existentes em ambas as florestas. Para além da Floresta Ombrófila Mista, ocorre a região da Estepe gramíneolenhosa, compondo parte dos Campos de Cima da Serra. É uma região de planalto, rica em turfeiras e pequenos cursos d’água. Trata-se de um ecossistema campestre, no qual dominam gramíneas (Poáceas), tiriricas (Ciperáceas), compostas (Asteráceas), leguminosas (Fabáceas) e um grande número de outras espécies de porte herbáceo ou subarbustivo. As turfeiras são bastante comuns nesta região de campos. São depressões úmidas, características pela presença de Sphagnum, um gênero de musgo. O Sphagnum acaba formando como que esponjas, retendo água das chuvas e liberando-a aos poucos para os pequenos córregos que partem destas depressões. Ocasionalmente ocorrem florestas de galeria, capões, ou ainda de árvores isoladas em meio ao campo. A própria araucária pode ocorrer isoladamente, pois viceja muito bem a sol pleno e, muitas vezes, cria no seu entorno as condições para o desenvolvimento de vegetação arbustiva. (5) Latifoliadas, literalmente, significa “folhas largas”, e refere-se às Angiospermas que compõem a floresta. Aciculifoliadas significa “folhas em forma de acículas”, e refere-se às Gimnospermas (Coníferas). No caso da Floresta Ombrófila Mista, as espécies aciculifoliadas são apenas duas: a araucária (Araucaria angustifolia) e o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii).

75


Estas pequenas ilhas de vegetação lenhosa podem, com o tempo, dar início aos capões. São espécies comuns nestes locais, além da própria araucária: casca-d’anta (Drimys brasiliensis), bugre (Lithraea brasiliensis), camboins (Myrceugenia spp), são-joão (Berberis laurina), goiaba-serrana (Acca sellowiana), canela-lageana (Ocotea pulchella) e pau-sabão (Quillaja brasiliensis). No outro extremo da Bacia, no curso inferior do Rio dos Sinos, os terrenos ondulados das coxilhas e morros areníticos pertencem à região de contato Floresta Estacional / Savana. A fisionomia da paisagem nesta Área de Tensão Ecológica é a de coxilhas revestidas por campo, e por florestas mais ou menos confinadas aos talvegues, isto é, às linhas de drenagem entre uma coxilha e outra. Florestas podem ocorrer também na forma de capões, criando um enigma até hoje pouco entendido pelos botânicos: sendo o solo e o clima exatamente iguais, por que a floresta interrompe abruptamente, para dar lugar ao campo? Nesta região também ocorrem os morros areníticos testemunhos, sendo os Morros de Sapucaia6 e das Cabras os mais conhecidos. Estes morros têm, nas encostas, a mesma Floresta Estacional já descrita, embora o porte da floresta tenda a diminuir na medida em que “sobe” o morro. No topo, a flora destes morros é um deleite para o botânico, que pode encontrar ali espécies adaptadas aos afloramentos rochosos. Dentre elas, algumas espécies ocorrem exclusivamente nestes locais e em nenhuma outra parte da Bacia. É o caso, por exemplo, da orquídea Codonorchis canisioi Mansf., e de uma pequena flor muito ornamental, Angelonia integerrima Sprengel. A área das Formações Pioneiras corresponde às planícies de inundação do Rio dos Sinos, no seu curso inferior, principalmente a jusante de São Leopoldo. Nesta região, a dinâmica do rio, no período geológico do Quaternário, cunhou um ambiente novo, formado pelo depósito de sedimentos. A vegetação é formada por uma variedade de formas biológicas, desde herbáceas até arbóreas, dependendo do tipo de solo (Teixeira et al., 1986), e se organizam em diferentes comu-

Figura 4. Interior de um trecho de floresta estacional bem conservada.

Figura 5. Comunidades arbustivas são características das planícies inundáveis no curso inferior do Rio dos Sinos.

nidades, como brejos dominados por gramíneas (Poáceas) e tiriricas (Ciperáceas), comunidades arbustivas dominadas por sarandis (Cephalanyhus glabratus e Sebastiania schottiana) ou maricá (Mimosa bimucronata), ou ainda florestas de galeria. Um tipo particular de comunidade nesta região é o parque de corticeiras. Acontece em locais temporariamente alagados, onde se forma um ambiente de brejo. Sob forma esparsa distribuemse as corticeiras (Erythrina cristagalli), à moda de parque, isto é, como se tivessem sido plantadas a distâncias regulares. Estas comunidades foram praticamente extintas desta região, dando lugar às lavouras de arroz. A floresta de galeria que ocorre na área das Formações Pioneiras faz jus ao nome. Em nenhuma outra parte da Bacia ela está tão restrita à faixa marginal do rio quanto ali. É que o próprio fluxo do rio, no curso inferior, formou um cordão de terra mais alta e enxuta nas margens. Nestas condições, se estabelece uma floresta bem estruturada, embora com baixa riqueza de espécies. A floresta de galeria nesta parte da Bacia do Sinos é amplamente dominada pelo ingá-da-beira(6) O Morro de Sapucaia é também chamado como Morro do Chapéu, por causa da sua forma; todavia, segundo alguns estudiosos, o nome Morro do Chapéu pertence a um morro menor e pouco conhecido.

76


de-rio (Inga vera), cujas copas se projetam sobre o curso do rio, lembrando figueiras. A própria figueira (Ficus cestrifolia) ocorre com certa freqüência nesta floresta de galeria, mas o branquilho (Sebastiania commersoniana), o pau-d’arco (Guarea macrophylla) e o taquaruçu (Guadua trinii), são de longe as espécies mais comuns (Rambo, 1956). FLORA ARBÓREA NATIVA DA BACIA DO RIO DOS SINOS A lista de espécies apresentada abaixo foi elaborada com base no trabalho de Sobral & Jarenkow (2006) e em observações realizadas a campo, no território da Bacia do Sinos. Valiosos acréscimos e atualizações foram feitos por Rodney Schmidt e Martin Molz, além das informações constantes em suas dissertações de mestrado (Schmidt, 2008; Molz, 2004). São apresentados os nomes científicos, incluindo os nomes dos autores das espécies, e os nomes populares mais usados na região. Embora esteja focada nas espécies de porte arbóreo, foram incluídas algumas espécies de porte arbustivo e arborescente, dada a importância que têm nos estágios iniciais de regeneração ou no sub-bosque das florestas. A maioria das espécies distribui-se por boa parte da Bacia, mas algumas têm distribuição mais restrita, como acontece com as espécies exclusivas da floresta com araucária (Floresta Ombrófila Mista) e com espécies tipicamente atlânticas (Floresta Ombrófila Densa). FAMÍLIA

Nome científico (espécie e autor)

ANACARDIACEAE Lithraea brasiliensis March. Schinus engleri F.A.Barkley Schinus ferox Hassl. Schinus longifolia (Lindl.) Speg. Schinus molle L. Schinus polygamus (Cav.) Cabr. Schinus terebinthifolius Raddi ANNONACEAE Annona cacans Warm. Annona rugulosa (Schltdl.) H. Rainer Annona sylvatica A. St.-Hil. Duguetia lanceolata A.St.-Hil. Guatteria australis A. St.-Hil. APOCYNACEAE Aspidosperma australe Müll. Arg. Tabernaemontana catharinensis DC. AQUIFOLIACEAE Ilex brevicuspis Reissek Ilex dumosa Reissek Ilex microdonta Reissek Ilex paraguariensis A. St.-Hil. Ilex pseudobuxus Reissek Ilex theezans Mart. ex Reissek ARALIACEAE Aralia warmingiana (Marchal) J. Wen Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Palnch. Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin Oreopanax fulvus Marchal ARAUCARIACEAE Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze ARECACEAE Bactris setosa Mart. Butia odorata (Barb.Rodr.) Noblick & Lorenzi Butyagrus x nabonnandii (Prosch.) Vorster Euterpe edulis Mart. Geonoma gamiova Barb. Rodr.

Nome popular bugre, aroeira-braba aroeira-salso assobiadeira aroeira-vermelha,aroeira-mansa araticum-cagão,coração-de-boi araticum araticum-do-mato pindabuna, corticeira embiú guatambu catavento, jasmimcatavento caúna caúna caúna erva-mate caúna caúna cinamomo-do-mato pau-de-tamanco caixeta figueira-braba araucária, pinheiro-doparaná tucum butiazeiro (híbrido entre Butia e Syagrus) palmito, palmiteiro, jussara guaricana-de-folhalarga, rabo-de-peixe u

77


Geonoma schottiana Mart. guaricana Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman gerivá, coqueiro Trithrinax acanthocoma Drude carandá, carandaí, ibitiriá, buriti ASTERACEAE Baccharis dentata (Vell.) G. Barroso vassoura Baccharis dracunculifolia DC. vassoura, vassoura branca Baccharis semiserrata DC. vassoura Baccharis uncinella DC. vassoura Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabr. sucará Dasyphyllum tomentosum (Spreng.) Cabr. sucará Eupatorium polystachium DC. vassoura Gochnatia polymorpha (Less.) Cabr. cambará Kaunia rufescens (P.W. Lund ex DC.) R.M. King & H. Rob. Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme vassourão-branco Piptocarpha axilaris Baker canela-podre Vernonanthura discolor (Spreng.) H. Rob. vassourão BIGNONIACEAE Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. ipê-verde Handroanthus albus (Cham.) Mattos ipê-da-serra, ipê-branco Handroanthus pulcherrimus (Sandwith) S.O. Grose ipê-da-praia, ipê-amare lo Handroanthus umbellatus (Sond.) Mattos ipê-da-várzea Jacaranda micrantha Cham. caroba BORAGINACEAE Cordia americana (L.) Gottschling & J.E. Mill. guajuvira Cordia ecalyculata Vell. caxelinguezeira, maria preta Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. louro-pardo CACTACEAE Cereus hildmannianus K. Schum. tuna, mandacarú CANNABACEAE Celtis brasiliensis (Gradner) Planch. esporão-de-galo Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. esporão-de-galo, taleira Trema micrantha (L.) Blume crindiúva, grandiúva CARDIOPTERIDACEAE Citronella gongonha (Mart.) R.A. Howard congonha Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard congonha CARICACEAE Jacaratia spinosa (Aubl.) DC. jacaratiá, mamão-do mato, mamoeiro-do mato Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. mamoeiro-do-mato CELASTRACEAE Maytenus cassineformis Reissek coração-de-negro Maytenus evonymoides Reissek Maytenus dasyclada Mart. Maytenus floribunda Reissek Maytenus muelleri Schwacke espinheira-santa Schaefferia argentinensis Speg. CHRYSOBALANACEAE Hirtella hebeclada Moric. ex DC. uvá-de-facho, cinzeiro CLETHRACEAE Clethra uleana Sleumer caujuja-de-ule, guaperê, carne-de-vaca CLUSIACEAE Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi bacopari COMBRETACEAE Terminalia australisCambess. sarandi, amarilho CUNONIACEAE Lamanonia ternata Vell. guaperê Weinmannia paulliniifolia Pohl ex Ser. gramimunha CYATHEACEAE Alsophila setosa Kaulf. samambaiaçu Cyathea corcovadensis (Raddi) Domin Samambaiaçu, xaxim DICKSONIACEAE Dicksonia sellowiana Hook. xaxim EBENACEAE Diospyros inconstans Jacq. maria-preta, fruto-de jacú-macho ELAEOCARPACEAE Sloanea monosperma Vell. carrapicheira, sapope ma ERICACEAE Agarista eucalyptoides (Cham. & Schltdl.) G. Don criúva

u 78


ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum argentinum O.E. Schulz Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O.E. Schultz Erythroxylum deciduum A. St.-Hil. Erythroxylum microphyllum A. St.-Hil. Erythroxylum myrsinites Mart. ESCALLONIACEAE Escallonia bifida Link & Otto Escallonia megapotamica Spreng. EUPHORBIACEAE Acalypha gracilis Spreng. Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. Actinostemon concolor Spreng. Manihot grahamii Hook. Pachystroma longifolium (Nees) I.M. Johnst. Sapium glandulosum (L.) Morong Sebastiania argutidens Pax & K. Hoffm. Sebastiania brasiliensis Spreng. Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Smith & Downs Sebastiania schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. Sebastiania serrata (Klotzsch) Müll. Arg. Stillingia oppositifolia Baill. ex Müll.Arg. Tetrorchidium rubrivenium Poepp. & Endl. FABACEAE Albizia edwallii (Hoehne) Barneby & J. Grimes Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. Bauhinia forficata Link Calliandra tweediei Benth. Dalbergia frutescens (Vell.) Britton Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Erythrina cristagalli L. Erythrina falcata Benth. Inga marginata Willd. Inga sessilis (Vell.) Mart. Inga vera Willd. Inga virescens Benth. Lonchocarpus campestris Mart. ex Benth. Lonchocarpus nitidus (Vogel) Benth. Machaerium paraguariense Hassl. Machaerium stipitatum (DC.) Vogel Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze Mimosa incana (Spreng.) Benth. Mimosa scabrella Benth. Myrocarpus frondosus Allemão Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan Ormosia arborea (Vell.) Harms Senna corymbosa (Lam.) H.S. Irwin & Barneby Senna neglecta (Vogel) H.S. Irwin & Barneby Senna pendula (Willd.) H.S.Irwin & Barneby Sesbania punicea (Cav.) Benth. Sesbania virgata (Cav.) Pers. LAMIACEAE Aegiphila brachiata Vell. Aegiphila integrifolia (Jacq.) B.D. Jacks Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke LAURACEAE Aiouea saligna Meisn. Cinnamomum amoenum (Nees) Kosterm. Cinnamomum glaziovii (Mez) Kosterm.

cocão cocão cocão cocão cocão,fruta-de-pomba canudo-de-pito canudo-de-pito tanheiro, canela-barril laranjeira-do-mato mandiocão, mandiocãobrabo mata-olho leiteiro, pau-de-leite branquilho leiteirinho branquilho sarandi branquilho leiteirinho canemuçu, embirão angico-branco, paugambá grápia pata-de-vaca topete-de-cardeal rabo-de-bugio timbaúva corticeira-do-banhado corticeira-da-serra ingazeiro, ingá-feijão ingá-macaco, ingáferradura ingá-da-beira-de-rio ingá rabo-de-bugio rabo-de-bugio farinha-seca, canela-dobrejo farinha-seca maricá bracatinga cabreúva angico, angico-vermelho fedegoso cambaí-amarelo gaioleira tarumã canela canela canela-crespa

u

79


Cryptocarya aschersoniana Mez Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr. Nectandra grandiflora Nees Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Nectandra oppositifolia Nees Ocotea catharinensis Mez Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez Ocotea elegans Mez Ocotea indecora (Shott) Mez Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer Ocotea porosa (Nees) Barroso Ocotea puberula (Rich.) Nees Ocotea pulchella (Nees) Mez Ocotea silvestris Vatimo-Gil LOGANIACEAE Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. MALVACEAE Abutilon amoenum K.Schum. Guazuma ulmifolia Lam. Luehea divaricata Mart. & Zucc. Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns MELASTOMATACEAE Leandra barbinervis (Cham. ex Triana) Cogn. Leandra dasytricha (A.Gray) Cogn. Miconia cinerascens Miq. Miconia hyemalis A. St.-Hil. & Naudin ex Naudin Miconia sellowiana Naudin Miconia pusilliflora (DC.) Naud. Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn. MELIACEAE Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Cedrela fissilis Vell. Guarea macrophyla Vahl Trichilia catigua A. Juss. Trichilia claussenii C. DC. Trichilia elegans A. Juss. Trichilia lepidota Mart. Trichilia pallens C. DC. MONIMIACEAE Hennecartia omphalandra J. Poiss. Mollinedia elegans Tul. Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins MORACEAE Brosimum glaziovii Taub. Ficus adhatodifolia Schott Ficus cestrifolia Schott Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger, Lanjouw & Boer MYRTACEAE Acca sellowiana (O. Berg) Burret Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg Calyptranthes concinna DC. Calyptranthes grandiflora O. Berg Calyptranthes pileata D. Legrand Campomanesia rhombea O. Berg Campomanesia xanthocarpa O. Berg

80

canela-fogo canela canela canela-merda, canelafedorenta, canela-preta canela-ferrugem, canela-amarela canela-preta canela canela-bicha canela canela canela-sassafrás imbuia, canela-imbuia canela-guaicá canela-lageana canela anzol-de-lontra, saltamartinho embiru açoita-cavalo embiruçu pixirica pixirica pixirica pixirica pixirica pixirica quaresmeira canjerana cedro pau-d’arco, catiguá-morcego catiguá catiguá, catiguá-vermelho pau-de-ervilha cedrinho arco-de-peneira mata-olho-branco pau-ervilha pimenteira, capixim leiteiro figueira, figueira-depurga figueira-branca, figueirade-folha-miúda figueira, figueira-matapau tajuva cincho goiaba-da-serra murta guamirim guamirim guamirim guabiroba guabiroba

u


Eugenia bacopari D. Legrand guamirim-pimentão Eugenia hiemalis Cambess. guamirim-burro Eugenia involucrata DC. cerejeira-do-mato Eugenia multicostata D. Legrand araçá-piranga, pau alazão Eugenia oeidocarpa O. Berg guamirim Eugenia ramboi D. Legrand guamirim Eugenia rostrifolia D. Legrand batinga Eugenia rotundicosta D. Legrand uvaia Eugenia speciosa Cambess. guamirim Eugenia subterminalis DC. guamirim Eugenia uniflora L. pitanga, pitangueira Eugenia uruguayensis Cambess. guamirim Eugenia verticillata (Vell.) Angely guamirim Marlierea eugeniopsoides (D. Legrand & Kausel) D. Legrand guamirim Myrceugenia alpigena (DC.) Landrum conserva Myrceugenia cucullata D. Legrand Myrceugenia euosma (O.Berg) D. Legrand camboim Myrceugenia foveolata (O.Berg) Sobral Myrceugenia mesomischa (Burret) D. Legrand & Kausel Myrceugenia miersiana (Gardner) D. Legrand & Kausel guamirim Myrceugenia myrtoides O. Berg camboim-cinzento Myrceugenia oxysepala (Burret) D.Legrand & Kausel Myrcia brasiliensis Kiaersk. guamirim Myrcia glabra (O. Berg) D. Legrand uvá Myrcia hartwegiana (O.Berg) Kiaersk. guamirim Myrcia lajeana D. Legrand Myrcia multiflora (Lam.) DC. camboim, pedra-ume caá Myrcia oligantha O.Berg Myrcia palustris DC. pitangueira-do-mato, guamirim Myrcia selloi (Spreng.) N. Silveira guamirim Myrcianthes gigantea (D. Legrand) D. Legrand araçazeiro-do-mato Myrcianthes pungens (O. Berg) D. Legrand guabiju Myrciaria cuspidata O. Berg camboim Myrciaria floribunda (West ex Willd.) O. Berg Myrciaria delicatula (DC.) O. Berg camboim Myrciaria plinioides D. Legrand guamirim Myrciaria tenella (DC.) O. Berg camboim Myrrhinium atropurpureumSchott ferrinho Neomitranthes gemballae (D. Legrand) D. Legrand pau-ferro Psidium cattleianum Sabine araçá Siphoneugena reitzii D. Legrand camboim NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz maria-mole, maria-preta Pisonia zapallo Griseb. maria-mole OCHNACEAE Ouratea parviflora (DC.) Baill. garaparim-miúdo OPILIACEAE Agonandra excelsa Griseb. PICRAMNIACEAE Picramnia parvifolia Engl. quássia, cedrinho, pau amargo PHYLLANTHACEAE Hieronnyma alchornioides Allemão licurana Margaritaria nobilis L. sobragirana Phyllanthus sellowianus (Klotzsch) Müll. Arg. sarandi-vermelho PHYTOLACCACEAE Phytolacca dioica L. umbu Seguieria aculeata Jacq. limoeiro-do-mato PIPERACEAE Piper aduncum L. pariparoba POACEAE Chusquea meyeriana Rupr. ex Döll caará (Bambusoideae)

u

81


Chusquea tenella Nees Guadua tagoara (Nees) Kunth Guadua trinii (Nees) Rupr. Merostachys multiramea Hack. Merostachys speciosa Spreng. Merostachys skovortzovii Send. PODOCARPACEAE Podocarpus lambertii Klotzsch ex Endl. POLYGONACEAE Ruprechtia laxiflora Meisn. PRIMULACEAE Ardisia guianensis (Aubl.) Mez Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. Myrsine gardneriana DC. Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. Myrsine loefgrenii (Mez) Imkhan. Myrsine lorentziana (Mez) Arechav. Myrsine umbellata Mart. PROTEACEAE Roupala brasiliensis Klotzsch QUILLAJACEAE Quillaja brasiliensis (A. St.-Hil. & Tul.) Mart. RHAMNACEAE Colubrina glandulosa Perkins Rhamnus sphaerosperma Sw. Scutia buxifolia Reissek ROSACEAE Prunus myrtifolia (L.) Urb. RUBIACEAE Cephalanthus glabratus (Spreng.) K. Schum. Chomelia obtusa Cham. & Schltdl. Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) DC. Guettarda uruguensis Cham. & Schltdl. Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult. Psychotria brachyceras Müll. Arg. Psychotria carthagenensis Jacq. Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl. Psychotria suterella Müll. Arg. Randia ferox (Cham. & Schltdl.) DC. Rudgea parquioides (Cham.) Müll. Arg. RUTACEAE Esenbeckia grandiflora Mart. Pilocarpus pennatifolius Lem. Zanthoxylum caribaeum Lam. Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. Zanthoxylum petiolare A. St.-Hil. & Tul. Zanthoxylum rhoifoliumLam. SALICACEAE Azara uruguayensis (Speg.) Sleumer Banara parviflora (A. Gray) Benth. Banara tomentosa Clos Casearia decandra Jacq. Casearia obliqua Spreng. Casearia sylvestrisSw.

82

putinga, pitinga, taquari taquaruçu, tagoara, taboca taquaruçu, taquara-deespinho, taquara taquara-lisa, taquaramansa, taquara taquara taquara-lixa pinho-bravo marmeleiro-do-mato capororoca, capororo quinha capororoca capororocão capororoca capororoca capororoca capororoca-vermelha, capororocão carvalho-brasileiro pau-de-sabão, sabãode-soldado sobragi, sobrasil, saguari, falso-pau-ferro, sabiá-do-mato, socorujuva cangica, cangiqueira coronilha, canela-deespinho, espinho-detouro pessegueiro-brabo sarandi-branco viuvinha quina café-do-mato, cafeeirodo-mato veludo baga-de-macaco café-do-mato, cafeeirodo-mato café-do-mato, cafeeirodo-mato cafezinho-roxo pau-angélica, limoeirodo-mato grinalda cutia jaborandi mamica-de-cadela mamica-de-cadela mamica-de-cadela mamica-de-cadela amargoso farinha-seca guaçatunga guaçatunga chá-de-bugre u


Salix humboldtiana Willd. salseiro, salso Xylosma pseudosalzmannii Sleumer sucará SAPINDACEAE Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. & A. Juss.) Radlk. chal-chal Allophylus guaraniticus (A. St.-Hil.) Radlk. vacum, chal-chal Cupania vernalis Cambess. camboatá, camboatá vermelho Dodonaea viscosa Jacq. vassoura-vermelha Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco Matayba intermedia Radlk. camboatá-branco SAPOTACEAE Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler) Engl. aguaí Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. aguaí-vermelho Pouteria gardneriana (DC.) Radlk. aguaí, sarandi Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. sarandi-mata-olho Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D. Penn. coronilha, coronilha-da praia SIMAROUBACEAE Picrasma crenata (Vell.) Engl. pau-amargo SOLANACEAE Brunfelsia australis Benth. manacá Brunfelsia cuneifolia J.A.Schmidt manacá Cestrum bracteatum Link & Otto coerana Cestrum intermedium Sendtn. coerana Solanum compressum L.B. Sm. & Downs canema-mirim, coerana Solanum granulosoleprosum Dunal Solanum johannae Bitter Solanum mauritianum Scop. fumo-brabo Solanum pabstii L.B. Sm. & Downs canena, peloteira Solanum pseudoquina A. St.-Hil. coerana, guaxixim, canema Solanum reitzii L.B. Sm. & Downs canema Solanum sanctaecatharinae Dunal joá-manso Solanum variabile Mart. Vassobia breviflora (Sendt.) Hunz. esporão-de-galo STYRACACEAE Styrax acuminatus Pohl pau-de-remo Styrax leprosus Hook. & Arn. carne-de-vaca SYMPLOCACEAE Symplocos tenuifolia Brand Symplocos tetrandra (Mart.) Miq. Symplocos uniflora (Pohl) Benth. pau-de-canga THEACEAE Laplacea acutifolia (Wawra) Kobuski santa-rita, pau-de-san ta-rita THYMELAEACEAE Daphnopsis fasciculata (Meisn.) Nevling embira-branca Daphnopsis racemosa Griseb. embira URTICACEAE Boehmeria macrophylla Hornem. urtiga-mansa Cecropia glaziovii Snethl. embaúba Cecropia pachystachya Trécul embaúba Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini mata-pau Urera baccifera (L.) Gaudich. urtiga-braba Urera nitida (Vell.) P. Brack urtigão VERBENACEAE Citharexylum myrianthum Cham. tucaneira Citharexylum solanaceum Cham. Verbenoxylum reitzii (Moldenke) Tronc. tarumã

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR Existe boa bibliografia que trata sobre recuperação de florestas nativas, inclusive adaptadas para a realidade do Rio Grande do Sul e da Bacia do Sinos (Prefeitura Municipal de Rolante, 2010; Rio Grande do Sul, 2007). Desta forma, não é objetivo repetir informações a esse respeito, mas destacar o princípio básico que, acreditamos, poderia nortear o trabalho de recomposição de florestas nativas. A cobertura vegetal da Bacia do Rio dos Sinos é essencialmente florestal. Isto é de fundamental importância para o planejamento e prática das ações de recuperação de áreas desflorestadas e/ou degradadas. 83


A forte tendência natural para restabelecer florestas é um atributo em favor da recuperação da cobertura florestal, necessitando, na maioria das vezes, que a área alvo seja não mais do que resguardada das perturbações que ocasionaram a degradação. Isto equivale, na prática, a cercar a área alvo, impedindo o acesso de gado, geralmente o maior vilão contra o avanço do processo de regeneração natural. Mais raramente pode ser necessário empregar alguma forma de manejo, como o plantio de mudas arbóreas ou de técnicas de nucleação7 (Reis et al., 2003). É o que acontece, por exemplo, quando o banco de sementes está comprometido pelo uso agrícola intensivo e contínuo durante muitos anos, ou onde ocorreram processos erosivos. No decorrer do Projeto Verde Sinos, o acompanhamento de algumas áreas em processo de recuperação de mata ciliar mostrou que algumas espécies são mais versáteis do que outras. É o caso, por exemplo, da aroeira-mansa (Schinus terebithifolius), da guajuvira (Cordia americana), do chal-chal (Allophylus edulis), do araçá (Psidium cattleianum) e do açoita-cavalo (Luehea divaricata). Estas espécies suportam períodos de estiagem que a maioria das outras espécies utilizadas nos plantios não suporta. Isto acaba por selecionar algumas espécies, entre um grupo já limitado que geralmente está disponível nos viveiros comerciais. Assim, a tendência é que as áreas recuperadas acabem tendo uma composição de espécies muito parecida, independente da região em que o plantio é realizado. A observação da sucessão secundária, isto é, do processo natural e espontâneo em que a floresta volta a se instalar sobre áreas degradadas, indica as espécies pioneiras mais promissoras para promover a recuperação em cada região. Na Bacia do Sinos, as espécies que parecem desempenhar papel estratégico neste processo são: • o maricá (Mimosa bimucronata), nas áreas úmidas; • a crindiúva (Trema micrantha), nas áreas mais secas; • a pata-de-vaca (Bauhinia forficata), em situações intermediárias. Estas espécies têm crescimento rápido e são pouco longevas. Na medida em que formam um estrato arborescente, promovem o sombreamento necessário ao desenvolvimento das mudas de arvoretas e árvores secundárias, cujas sementes estão estocadas no solo (banco de sementes). As plantas pioneiras também disponibilizam abrigo para a fauna, incrementando o processo de chegada de sementes. A fauna e o vento trazem, dos fragmentos florestais existentes nas imediações, as sementes para colonizar o espaço em recuperação, enriquecendo a capoeira recém formada. O fato de serem espécies pouco longevas possibilita o emprego das espécies pioneiras na forma de plantio homogêneo, sem comprometer a diversidade desejada ao final do processo. Na medida em que o maricá ou a crindiúva se tornam senescentes, uma variada comunidade de árvores nativas já se desenvolveu sob suas copas, e estão em plenas condições de suportar as etapas seguintes da regeneração8. Se o estrato de plântulas e mudas de árvores nativas não se estabelecer espontaneamente, ou estiver acontecendo mais lentamente do que é desejável, então este é o momento de introduzir mudas produzidas em viveiros, pois o estrato arborescente das pioneiras fornece a cobertura ideal ao plantio. Neste caso, é recomendável que as espécies escolhidas e a proporção de cada uma delas sejam definidas com base em estudos da ecologia das florestas da região. Existe uma vantagem considerável em conduzir a regeneração natural de florestas nativas: deixa-se a natureza escolher as espécies e a proporção de cada uma no processo de recomposição da floresta, ao acaso ou em função das condições ambientais do local. De outra forma, ao se decidir previamente o que plantar, pode-se estar alterando a composição esperada para uma região. (7) A técnica de nucleação foi difundida pelo Prof. Ademir Reis, da Universidade Federal de Santa Catarina, e consiste em incrementar o surgimento de espécies arbóreas em determinados pontos da área em recuperação. Isto é conseguido dotando a área de poleiros, que estimulam o pouso de aves, trazendo sementes de espécies arbóreas; outra técnica é coletar solo e serapilheira no interior de florestas maduras, e enterrá-lo na área em recuperação, na expectativa de promover a germinação de espécies arbóreas. (8) O mesmo efeito pode ser alcançado com o uso da acácia-negra (Acacia mearnsii), que também fenece ao final de um período relativamente curto, promovendo a regeneração de uma comunidade florestal nativa sob suas copas. Seu emprego teria uma vantagem adicional, que é o fornecimento de lenha para o proprietário, se o mesmo se dispusesse a extraí-las sem interromper a regeneração natural. O uso da acácia para este fim foi preconizado pelo Padre Clemente Steffen, naturalista e professor da UNISINOS.

84


Para muita gente, o importante é repovoar os ambientes com árvores, pouco interessando as espécies que forem plantadas. Todavia, para aqueles que estiverem comprometidos com o processo de recomposição de ambientes naturais, pode tornar-se gratificante conduzir o processo com maior rigor técnico. Na medida em que se aprendem os nomes das plantas, seja o nome popular ou científico, e se entende o papel que cada uma desempenha no processo de regeneração, a percepção do observador se modifica. Ao reconhecer as plantas que compõem uma capoeira ou uma floresta, desperta uma nova concepção de beleza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER JUNIOR, C. (Org.); Programa de Pós-Graduação em Biologia/UNISINOS; Instituto Martin Pescador. 2011. Almanaque Rio dos Sinos. Novo Hamburgo: Grupo Editorial Sinos. BRASIL. Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Diário Oficial da União, de 26 de dezembro de 2006. FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL. Mapa Simplificado da Vegetação do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.fzb.rs.gov.br/novidades/images/10_vegetacao_unidades_150.pdf. Acesso em 15/Jan/2013. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 1992. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Série Manuais Técnicos em Geociências No. 1. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2004. Mapa de Vegetação do Brasil. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Cartas_e_Mapas/Mapas_Murais/vegetacao_pdf.zip. Acesso em: 25/maio/2009. KLEIN, R.M. 1975. Southern Brazilian Phytogeographic Features and the Probable Influence of Upper Quaternary Climatic Changes in the Floristic Distribution. Boletim Paranaense de Geociências 33: 67-88. KLEIN, R.M. 1985. Síntese ecológica da Floresta Estacional da Bacia do Jacuí e importância do reflorestamento com essências nativas (RS). Comum. Mus. Ci. PUCRS sér. Bot., 33: 25-48. MOLZ, M. 2004. Florística e estrutura do componente arbóreo de um remanescente florestal na bacia do rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 62 p. NIMER, E. 1990. Clima. In Geografia do Brasil: Região Sul. Instituto Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, v. 2, p. 151-187. PREFEITURA MUNICIPAL DE ROLANTE. 2010. Cartilha de recuperação e proteção das nascentes no contexto da Mata Atlântica: sub-bacias do rio Rolante, RS. Rolante: Editora do autor. RAMBO, B. 1950. A porta de Torres. An. Bot. Herb. Barb.Rod. v. 2, p. 9-20. RAMBO, B. 1951a. A imigração da selva higrófila no Rio Grande do Sul. Anais Botânicos do Herbário Barbosa Rodrigues 3(3): 185-232. RAMBO, B. 1951b. O elemento andino no pinhal riograndense. Anais Botânicos do Herbário Barbosa Rodrigues 3: 7-39. RAMBO, B. 1961. Migration routes of the south Brazilian rain forest. Pesquisas, Série Botânica 12: 5-54. RAMBO, B. 1956. A Fisionomia do Rio Grande do Sul: ensaio de monografia natural. 2 ed. Porto Ale gre: Livraria Selbach. REIS, A.; BECHARA, F.C.; ESPINDOLA, M.B.; VIEIRA, N.K.; SOUZA, L.L. 2003. Restauração de áreas degradadas: a nucleação como base para incrementar os processos sucessionais. Natureza e Conservação 1(1): 58-36. RIO GRANDE DO SUL. 2007. Diretrizes ambientais para restauração de matas ciliares. Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Departamento de Florestas e Áreas Protegidas. Porto Alegre: SEMA. ROSA, A.O.; MAUHS, J.; OLIVEIRA, V.T. 2007. Mamíferos de médio e grande porte do Parque 85


da Ferradura, Canela, Rio Grande do Sul. In: XI Reunião Acadêmica da Biologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. Resumos (CD-Rom). SCHMIDT, R. 2008. A tribo Bambuseae Nees (Poaceae, Bambusoideae) no Rio Grande do Sul. Dis sertação (Mestrado em Botânica), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 137 p.il. SOBRAL, M.; JARENKOW, J.A. (org.). 2006. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul, Brasil. Ed. RIMA e Novo Ambiente, São Carlos. 350p. TEIXEIRA, M.B., COURA NETO, A.B., PASTORE, U. & RANGEL FILHO, A.L.R. 1986. Vegetação. As regiões fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos. Estudo fitogeográfico. In Levantamento de recursos naturais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, v. 33, p.541-632. VELOSO, H.P.; GOES FILHO, L. 1982. Fitogeografia brasileira, classificação fisionômico-ecológica da vegetação neotropical. Boletim Técnico Projeto RADAMBRASIL, sér. Vegetação vol. 1: 1-80.

86




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.