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Faça o favor
* Fernanda Lira
Essa história nasce de um episódio envolvendo uma mulher de uns 60 anos e uma outra, bem mais jovem, mas adulta.
A mais velha estava à frente de sua barraca num evento. Exausta, estava visivelmente trabalhando ali havia dias. Cabelos grisalhos, sua idade era notória. Seu cansaço também. Ela o confidenciou com a mulher do caixa, possivelmente a dona ou gerente da barraca que vendia lanches, ao pedir a gentileza de emprestar um dos dois banquinhos plásticos que estavam ao lado da comerciante, para descansar um pouco, apenas. A negativa foi imediata.
Segundo a comerciante, os tais assentos eram reservados a pessoas da equipe quando quisessem descansar.
A mulher, sem ver outros assentos disponíveis no local, lotado por causa da chuva, insistiu. “É só pra dar uma descansada”, disse ela, que acompanhava uma pessoa que estava ali comprando um lanche. “Devolvo na hora, caso alguém da sua equipe precisar usar antes de eu sair para continuar meu trabalho”, garantiu.
Não teve jeito. Pedido negado com veemência e frieza. A mulher então disse pra a comerciante: “Nossa, que mesquinharia! Você poderia estar fazendo algo legal. Sendo gentil, mas não.”
Com o recuo da chuva, bancos foram vagando e a mulher pode finalmente sentar e descansar num dos assentos destinados aos comensais. Não ficou muito ali. Afinal, tinha que continuar o seu trabalho.
Durante todo esse tempo. Ninguém ocupou os dois banquinhos do lado do caixa. Eles continuaram ali, inúteis e disponíveis.
Dias depois, o acompanhante da mulher, que assistiu ao fato, comentou com ela o assunto. “Você agora será lembrada por aquela comerciante como uma chata que a chamou de mesquinha.”
A mulher então argumentou: “Aquela comerciante poderia estar sendo lembrada como uma mulher gentil, que tem empatia pelas pessoas. E sororidade** também.” (**empatia de gênero, de uma mulher com a outra que estava ali cansada e a trabalho).
“Mas estamos lembrando dela e do seu estabelecimento, como um local onde as pessoas preferem dizer não, mesmo podendo dizer sim diante de um pedido de ajuda”, acrescentou a mulher.
“Mas para ela você será tomada por uma chata que a chamou de mesquinha”, insistiu o homem.
A mulher tentou explicar a ele que se a com- erciante não conseguia perceber sua mesquinhez, coube a alguém, no caso ela, lhe alertar. E que talvez a comerciante possa ser melhor com numa outra situação, quando alguém lhe pedir um favor que está a seu alcance.
A mulher então, pensou que seu acompanhante poderia estar duvidando da capacidade da comerciante em receber uma crítica de modo a aproveitar para rever suas atitudes. Afinal, nem todo mundo é tapado nem leva uma crítica para o lado pessoal, ainda mais quando representa uma empresa. Muita gente aproveita os dissabores de uma crítica para rever seus conceitos e tornar-se alguém melhor no mundo.
Moral da história:
Não perca a oportunidade de ser gentil. Ainda mais quando você tem o poder de decidir.
Aproveite críticas e reclamações para repensar suas atitudes.
Se você não quiser ser taxado de chato, calese.
Um bom comerciante é gentil sempre que pode, mesmo quando isso não lhe rende uma venda imediata.
* jornalista paulistana que adora o interior