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Quando o bem mostra o seu poder de atração
*Fernanda Lira
Quem me acompanha neste periódico já há quase duas décadas sabe que adoro ver TV. O tema desta matéria entra nesta seção porque, de fato, o que escolhemos como entretenimento para o nosso lazer, o nosso “momento sofá” faz muita diferença no nosso estado emocional.
Assistir a filmes, séries ou novelas com muita bandidagem, muita violência, muita traição e mau caratismo não faz bem. Mesmo que tenha uma “moral da história” no final, passar dias, meses, no caso das novelas, acompanhando situações violentas, mesquinhas, traiçoeiras, não tem nenhum efeito positivo na nossa vida.
O sucesso do bem – A novela “Vai na Fé”, que acabou de ser transmitida pela grade aberta da TV Glovo e agora só pode ser assistida no streaming da emissora, o GLoboplay, provou que uma trama onde a maioria é composta por gente do bem e os vilões pegam até que leve na maior parte do tempo, agrada muita, mas muita gente mesmo. Tanto que, mesmo em horário não considerado “nobre”, a novela reinou absoluta na grade da emissora.
Deus na medida e maneira certa – Um dos pontos mais evidentes da novela que ganhou o coração e a audiência dos brasileiros foi a religiosidade de seus principais núcleos. A família evangélica de Sol, a mocinha da trama, que também tinha mais de 40 anos, destronando a ideia de que uma protagonista tem que ser jovem, levou aos lares brasileiros mensagens contínuas de amor ao próximo, de não julgamento, de perdão e de tolerância, os principais preceitos cristãos. Sem cair no discurso apelativo, o pastor a quem todos recorrem no hora dos perrengues e dúvidas existenciais, é um sujeito ponderado, capaz de levar cada um a decidir por conta própria, sem ditar regras, como ocorre em muitas congregações religiosas pelo mundo afora, que insistem em proferir discursos discriminatórios e calcados na manipulação e na criação de comportamentos padrão, que nem sempre se adequam a cada pessoa.
Prática cristã – O postulado apresentado nos discursos das personagens também aparece em suas atitudes. Avessas à mentira (mas, muitas vezes incidindo nela, como ocorre em qualquer trama), Sol, mãe, filhas e o marido escolhem invariavelmente um comportamento baseado na retidão, na confiança, no apoio e amor ao próximo em vez de se deixarem levar por ataques de fúria, violência e revide.

Humor com amor – A face da benevolência, da generosidade e da inclusão também está presente nos núcleos e momentos encarregados de trazer momentos de humor aos capítulos. E isso é mais uma nuance do poder do bem em entreter e garantir a atenção de todos.
Inclusão em cena – Protagonizada e com uma grande quantidade de personagens negros, “Vai na Fé” também tratou com clareza e sem apelos a questão da discriminação racial, algo difícil de entender que ainda possa existir, mas infelizmente está presente na nossa realidade. Assim como mostrou a naturalidade das questões da sexualidade, onde rótulos saíram de cena para dar lugar ao entendimento de que para muitos é possível amar as pessoas sem as limitações do gênero.

Reflexo na vida – Assim como crianças, jovens e até mesmo adultos podem adotar comportamentos socialmente ameaçadores por influência de hábitos de lazer ancorados em situações violentas, não restam dúvidas de que tramas pautadas em traições por todos oa lados, mentiras e vilanias extremas influenciam nossas reações às mais banais ou mais complexas situações que temos que enfrentar, mesmo que não tenhamos consciência disso.
Nesse sentido, quando nos deixamos levar por um entretenimento com tantas nuances positivas e edificantes, como é o caso de “Vai na Fé”, nossas chances de agirmos de maneira mais serena, ponderada e de bem com a vida, conosco e com os outros, aumentam. E muito. Para nossa sorte, alívio e satisfação.
*jornalista paulistana que adora o interior