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CONSIDERAÇÕES FINAIS

caracterizações projetadas da paisagem também exercem influência sobre a apropriação espacial.

É possível estabelecer diversas relações – muitas vezes contraditórias – entre o espaço de Brasília e a construção de conceitos de cunho urbano. Como fruto do pensamento moderno, a capital questiona, a partir de sua forma física imbuída de ideais sociais, preceitos norteadores e trajetória histórica, paradigmas estruturantes do espaço tradicional comum nas demais experiências mundo afora. Materialmente, o espaço construído exige adaptação por parte dos usuários na tentativa de reproduzir atividades coletivas sob uma realidade física diversa do usual, reconfigurando a forma como a mesma é realizada. A partir desse ponto de vista, é comum o entendimento no qual a cidade não possui a espacialidade bem habituada para que as dinâmicas sociais, já tão estabelecidas, se tornem fenômenos e que a força das

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As questões da monumentalidade, cruzamento intencional de fluxos em determinadas áreas e setorização das funcionalidades urbanas, por exemplo, direcionam o uso da materialidade em questão, pois a cidade foi concebida a partir de ideias projetuais bem definidas. Nesse contexto, a compreensão do conceito da escala presente na construção do Plano Piloto é fundamental e muito influi.

A consolidação de um espaço urbano único historicamente, com exploração das intenções modernas, torna-se uma novidade quando se trata da vivência. É justo tratar das reconfigurações do espaço estabelecidas a partir dos indivíduos, onde o construído se adapta ao vivenciado e se relaciona com questões também presentes no ambiente projetado. Contradiz a forma da ocupação tradicional pois a mesma não cabe no ambiente inédito, exigindo assim que se reconfigure. Ao mesmo tempo, contradiz (em partes) o movimento das cidades contemporâneas de descentralização de funções essenciais da vivência coletiva, com a força social e ideológica presente na sua centralidade.

Como ponto mais visível da macro experiência de Brasília, o centro da cidade, presente na Plataforma Rodoviária e na centralidade cívico-monumental da Esplanada dos Ministérios, evidencia todas as questões abordadas por este texto. Em um processo contínuo e extremamente recente, as diversas distâncias presentes na sociedade encontram oportunidade para a interação e troca, ao construírem – a partir de seus encontros – a paisagem urbana mais pura da modernidade planejada. Muito se discute sobre o espaço e sua tradição nas vivências dispõe de um período de tempo muito curto para qualquer afirmação definitiva. O fato é que a Plataforma se reconstrói a cada dia e reconfigura os padrões urbanos planejados na teoria, com a vivência prática.

Eu sempre repeti que essa plataforma rodoviária era o traço de união da metrópole, da capital (...) Então eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive fora e converge para a rodoviária. (...) Isso tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente.

(Costa L. , 1987)

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