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Leituras

Por Dina Teixeira, Gabinete de Comunicação e Relações Externas da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução Como amante das palavras e da escrita, os livros sempre estiveram presentes nas estantes lá de casa. Os seus enredos umas vezes mais românticos, outras vezes mais dramáticos, fizeram-me, desde cedo, sonhar e dar asas à imaginação. Deixo, aqui, duas sugestões de livros com histórias marcantes.

SIDDHARTHA de Hermann Hesse

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Este romance filosófico foi escrito por Hermann Hesse, vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 1946. O livro “Siddhartha” destaca a paixão do autor pela crença, religião, cultura e filosofia orientais, sendo inspirado na vida de Sidarta Gautama, fundador do budismo.

A personagem principal, Siddhartha, é um fiel seguidor dos ensinamentos de Buda. Aspirando alcançar a sabedoria e a verdadeira felicidade, torna-se um asceta e segue, por caminhos vários, à procura do seu propósito de vida.

O seu percurso é marcado por algumas oscilações, desde as tentações amorosas até aos momentos de autorreflexão. Todavia, Siddhartha consegue sempre erguer-se e escolher o caminho certo na busca da sua essência. E é esta capacidade de resiliência e de superação do ser humano, na procura de um sentido maior para a sua existência, que é absolutamente admirável neste enredo.

AMOR DE PERDIÇÃO de Camilo Castelo Branco

Do grande escritor Camilo Castelo Branco nasce o “Amor de Perdição”, uma obra-prima que tem tanto de romântica, como de trágica.

Nesta novela passional assistimos à troca de correspondência entre Simão e Teresa, numa linguagem romântica, que nos prende a cada página. Mas nem todas as histórias têm finais felizes. As personagens não tardam a perceber que o seu amor é proibido, uma fatalidade do destino que os conduzirá ao drama e à tragédia.

Para além da amálgama de sentimentos, podemos ainda encontrar marcas de populismo, preconceito e ironia, que fazem desta uma narrativa equilibrada. O estilo de escrita pode parecer complexo, mas a verdade é que, pela sua história, este clássico da literatura portuguesa merece toda a nossa atenção. : :

São muitos os produtos que fazem já parte da tradição portuguesa. São produtos que cruzam gerações e que se distinguem pela qualidade de excelência. Neste espaço, desvendamos todos os segredos dos produtos com história, desde as suas origens até ao seu processo de fabrico.

PASTILHAS GORILA: A ADOÇAR PORTUGAL DESDE 1975

Texto Dina Teixeira / Fotografia Rui Santos Jorge assista ao vídeo em www.osae.pt

Começa mais um dia que promete ser cheio. Cheio de aventura, é certo. Pelas 10h30 iniciamos viagem. O GPS marca a Rua das Vagens, n.º 56, apartado 18, em Mem Martins, local da sede da Lusiteca, desde 15 de janeiro de 1968. Meia hora depois, um letreiro enorme dá sinal de que chegamos ao nosso destino. Da chaminé vê-se o fumo a sair incessantemente. Tudo indica que a produção está em andamento – a produção das pastilhas Gorila. Chegou o momento de conhecermos todos os segredos destas pastilhas que, desde 1975, nos fazem viver cada momento com ainda mais doçura.

Caminhamos até à receção. Os símbolos da marca multiplicam-se pelas paredes. E, ali, bem à nossa frente, em jeito de exposição, estão os irresistíveis doces da Lusiteca, que há muito fazem as delícias de pequenos e graúdos. Há guloseimas para todos os gostos: caramelos, rebuçados, pastilhas. É o verdadeiro paraíso. Decidimos escolher a tradicional pastilha Gorila com açúcar. Uns optam pelas de menta, outros preferem as de banana. Saboreamos. De repente, faz-se silêncio na sala. É um sabor autêntico. Um sabor que nos faz viajar no tempo, até às memórias da nossa infância. O sorriso estampado no rosto espelha a felicidade da alma. É assumido. Somos fãs das pastilhas Gorila. Fãs daquela pequena monopeça que, secretamente, nos faz reviver, em segundos, momentos que marcam toda a nossa história.

Pouco depois, somos recebidos por Gonçalo Brandão, Diretor de Operações da Lusiteca. Começa por explicar que “as pastilhas Gorila já existem há 45 anos. A Lusiteca, em 1968, era uma empresa de embalamento de produtos alimentares. Contudo, a certa altura, os fundadores viram que havia este nicho de mercado nas pastilhas elásticas para crianças e, por isso, decidiram explorá-lo, criando as pastilhas Gorila, em 1975”. Mas não percamos mais tempo. É altura de visitarmos o espaço onde toda a história começou.

A entrada na fábrica não se faz sem, antes, se cumprir uma regra essencial: o uso de fato de proteção. Devidamente equipados, seguimos à descoberta dos métodos de fabrico das icónicas pastilhas Gorila. Abre-se a porta. De imediato, sentimos o adocicado aroma das delícias aqui fabricadas. Uma fragrância frutal que se estende a todas as salas e que nos acompanha ao longo de toda a visita. Passo a passo, aumentam os olhares curiosos de quem não quer perder pitada do que por aqui se passa.

Descemos a escadaria. Entre curvas e contracurvas, chegamos finalmente à tão esperada linha Gorila. É notório o ambiente de trabalho. Por todo o lado ecoa o forte som mecânico das imparáveis máquinas. O fabrico prossegue a um ritmo acelerado. No local presenciamos o olhar atento dos profissionais que, entre outras tarefas, são responsáveis pela colocação de bobines, pela reposição de materiais e pelo empacotamento. Diz-nos Gonçalo Brandão que são 97 os funcionários da Lusiteca: 10 na manutenção, 15 na área comercial, 50 na fábrica e os restantes integram os diversos departamentos da empresa. Porém, a pandemia da COVID-19 levou a toda uma nova organização empresarial. De 50, os funcionários dedicados à produção passaram a ser 30. Os horários são rotativos. E a máscara, essa, tornou-se o principal acessório de quem aqui trabalha. Em jeito de desabafo, admite: “Existem preocupações com os nossos funcionários e com as suas famílias, mas, felizmente, tudo tem corrido pelo melhor”.

No entanto, é na faturação que mais se sentem os efeitos da pandemia. As quebras rondam os 40 por cento. Conforme indica o Diretor de Operações, “vendemos nas grandes superfícies e temos o chamado canal mais tradicional: os quiosques, as pastelarias e os cafés. E como toda a gente sabe, durante muitos meses, todas essas superfícies estiveram fechadas”. Todavia, apesar de o negócio ter sido afetado, “conseguimos manter a empresa relativamente estável, através da redução de custos e da utilização de apoios estatais”, afirma. Num tom que reflete alguma esperança, adianta: “Tradicionalmente, a última fase do ano é aquela em que se vende mais, por causa do inverno, do halloween e do natal. Então, estamos expectantes para ver o que vai acontecer, estamos preparados para o futuro”.

Prosseguimos caminho pela linha Gorila, atentos a todos os pormenores do processo de fabrico. Num procedimento que parece orquestrado, prepara-se um contentor de Super Gorila de banana com destino à Tanzânia. É aqui que a magia acontece. Uma magia que é feita com quatro ingredientes: o açúcar, a glucose, a goma e a essência. O processo de produção demora cerca de 50 minutos. Tudo começa na primeira sala, onde estão os depósitos com as matérias primas, ligados às misturadoras. Nestas máquinas fazem-se massas até 250 quilos, o que corresponde a 50 mil pastilhas. Após, mais ou menos, 20 minutos, o trabalho da misturadora está concluído. O aroma é indescritível. Deixa qualquer um encantado. Com cerca de 60 ºC, a massa, polvilhada de talco, é retirada para um carrinho e é transportada até às mesas de arrefecimento. Os 250 quilos de massa são agora divididos em pequenas proporções de 10 quilos, que ficam a arrefecer durante cerca de 20 minutos. De seguida, dirigimo-nos então para a segunda sala, onde está a extrusora. É esta a máquina que vai transformar a massa em forma de cordão e continuar

“As pastilhas Gorila já existem há 45 anos. A Lusiteca, em 1968, era uma empresa de embalamento de produtos alimentares. Contudo, a certa altura, os fundadores viram que havia este nicho de mercado nas pastilhas elásticas para crianças e, por isso, decidiram explorá-lo, criando as pastilhas Gorila, em 1975”

GONÇALO BRANDÃO

o seu processo de arrefecimento, através de um túnel de frio, onde os termómetros estão a 9.1 ºC. Já endurecida, a massa segue para a envolvedora para ser cortada na sua forma original. As pastilhas são depois embrulhadas com o cromo e o papel referente ao seu sabor. Neste caso, é o sabor a banana que assume os comandos da fábrica. Posteriormente, vão para a formadora de tabuleiros, cujo contador permite colocar, automaticamente, em cada caixa, 24 sticks de cinco unidades cada. Num próximo passo, é aplicado o carimbo com a indicação do lote e da validade que, por sinal, nunca é inferior a dois anos. Os pacotes são envolvidos em papel celofane e, à partida, estão prontos. Mas, na verdade, não. Lembra-nos o Diretor de Operações de que ainda há uma etapa muito importante: a passagem pelo detetor de metais, um parâmetro de segurança que é rigorosamente cumprido. Agora sim. Estão quase, quase prontas para ir para o mercado. Falta apenas o empacotamento et voilá! Assim se fazem as pastilhas Super Gorila! À conversa com Gonçalo Brandão percebemos que o processo de fabrico de uma Super Gorila

Gonçalo Brandão,

Diretor de Operações

“É essencial mantermo-nos fiéis a nós próprios, aos nossos produtos, porque não queremos imitar ninguém.”

GONÇALO BRANDÃO

(6,4 gramas) não difere muito em relação ao da Gorila (5 gramas). Afirma ainda que, durante estes 45 anos, “não houve muitas alterações ao processo, até porque a maioria das máquinas têm cerca de 40 anos”. São máquinas que já fazem parte da história da fábrica.

Maravilhados com as várias técnicas e procedimentos de fabrico, nada nos passa despercebido. Nem mesmo os fatores que contribuem para a autenticidade da marca Gorila. São quatro. Comecemos pelo seu formato monopeça. “A pastilha individual é cada vez menos comum no mercado e é isso o que a torna tão única”, diz o Diretor de Operações. O segundo fator relaciona-se com a pastilha açucarada. “Apesar de a tendência, na área da alimentar, passar, cada vez mais, por pastilhas sem açúcar e de a Lusiteca também trabalhar nesse segmento, nós mantemo-nos fiéis ao produto das pastilhas Gorila, porque não queremos deixar de oferecer o produto que sempre oferecemos e do qual as pessoas tanto gostam”, acrescenta. O terceiro fator prende-se com a sua fórmula, completamente diferente das restantes existentes no mercado. Desconfia-se que é o segredo mais bem guardado da fábrica. “Com o passar dos anos, houve a necessidade de alguns ajustes à fórmula, por vários motivos. Primeiro, porque as matérias-primas evoluem e nós temos a necessidade de evoluir também a pastilha. Depois, por requisitos específicos dos mercados, uma vez que a fórmula nem sempre é igual para todos os mercados, tendo em conta as exigências de determinados clientes. E estamos ainda num processo que consiste em continuar a aperfeiçoar”, admite. O último, e não menos importante, fator de identidade são os cromos. Estes pequenos bilhetes são “uma forma de a marca interagir com os consumidores”, assume. Uma coisa é certa: esta é uma tradição que a marca quer manter. E os fãs agradecem. Foram já muitas as coleções de cromos da marca, mas a que ficou mais famosa foi, sem dúvida, a de aeronáutica. “Hoje em dia, a coleção de cromos que temos é a dos Gorilojis, em que o Gorila aparece a fazer 60 expressões dos principais emojis, que são uma linguagem universal utilizada diariamente e que está muito relacionado com esta era digital em que estamos e com o target que queremos alcançar”, explica. Por tudo isto e muito mais, a pastilha Gorila tem, na fábrica, um cantinho muito especial. A missão é preservá-la. E ainda bem. Ou se partiriam, certamente, muitos corações.

À medida que avançamos pelos corredores, multiplicam-se as caixas de cartão empilhadas. Gonçalo Brandão decide mostrar-nos algumas delas. Veem-se pastilhas Gorila a dobrar, a triplicar, a quadruplicar. Sinceramente, perdemos a conta. Ficamos totalmente derretidos com este autêntico festival de cores e sabores. Uns mais populares, outros nem tanto. Os mais tradicionais já todos conhecemos: a menta, o morango, a banana e o tutti-frutti. Sabores clássicos e únicos, que, há décadas, conquistam tudo e todos. “São as favoritas dos consumidores, tanto cá como noutros mercados”, confirma o Diretor de Operações. Por ali, espalhadas, estão ainda as pastilhas de maçã, laranja, melancia e cola-limão, não tão populares, mas nem por isso menos saborosas. Contudo, é na tropicalidade da manga e do maracujá que encontramos os sabores mais exóticos. A variedade é muita, mas o fabrico de novos sabores continua a ser uma das preocupações da empresa. “No início deste ano, previa-se o lançamento de novos sabores, mas, devido à quebra verificada no consumo, provocada pela pandemia, atrasámos o lançamento. Daremos seguimento assim que o mercado o permitir”, esclarece ainda.

Manter a tradição revela-se importante: “É essencial mantermo-nos fiéis a nós próprios, aos nossos produtos, porque não queremos imitar ninguém. Somos a Lusiteca, temos a nossa marca Gorila e queremos melhorá-la, mas mantendo sempre a sua personalidade”, indica Gonçalo Brandão. Porém, investir no progresso faz parte do negócio. E isso acontece não só com o lançamento de novos sabores, mas também com o lançamento de novos produtos: “Temos um departamento de desenvolvimento de produto, especializado nessa tarefa. É uma equipa relativamente jovem, que se foca naquilo que são os processos e na evolução ao nível fabril, para que nos possamos tornar mais eficientes e, assim, vir a desenvolver novos e melhores produtos”, desvenda. Conhecer o mercado e as necessidades dos consumidores é, assim, fundamental. Mas isso não basta. Outra importante estratégia é manter o contacto com os consumidores. E a empresa tem vindo a empenhar-se nesse sentido: “Temos muitas ações com escolas e atuamos nos mais diversos campos, sejam estes sociais, desportivos, entre outros”. Além disso, a utilização das redes sociais, Facebook e Instagram, tem permitido manter a interação entre a marca e os clientes. Percebemos que são muitos os desafios inerentes à conquista do público-alvo, designadamente num mercado em que a oferta de pastilhas elásticas é enorme e em que o consumo das mesmas não tem aumentado.

Terminado o processo de fabrico, as caixas são transportadas para o armazém e daí rumam aos seus destinos, seja em Portugal, seja no estrangeiro. Ficamos a saber que os principais mercados de exportação são Angola, Cabo Verde, Emirados Árabes Unidos e Tanzânia, embora se exporte também um pouco para toda a Europa, para os Estados Unidos da América e para o continente asiático. Revela-nos o Diretor de Operações que “a exportação ocorreu primeiro para os países de língua oficial portuguesa”, sendo que “Angola tem um significado muito especial e representa uma fatia interessante da faturação. Ainda hoje continua a ser o nosso principal mercado exportador”, acrescenta. Prestes a findar a nossa passagem pela fábrica, Gonçalo Brandão lembra-se de nos contar uma curiosidade. E de curiosidades gostamos nós. “Diz-se que, durante muito, muito tempo, em Angola, chamavam Gorila às pastilhas de todas as marcas”.

Conhecida a história do saboroso mundo das pastilhas Gorila, resta-nos torcer para que se continue a fabricar, por muitas mais décadas, os sabores que nos fazem crescer água na boca. Os sabores únicos que fazem parte do nosso imaginário, desde sempre. : :

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