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15ª edição da Revista Camisa 13 é quase uma versão especial. Desde que Sérgio Sette Câmara assumiu a presidência do Atlético, ele tem sido alvo de muitas críticas. E muitas deles têm embsamento.
Fizemos uma retrospectiva de decisões equivocadas tomadas pelo Sette Câmara, e que fazem o Atlético não colher os melhores resultados atualmente. Se dentro de campo o time não passa confiança ao torcedor, fora das quatro linhas muito menos. O discurso de austeridade não caiu bem para os torcedores, que questionam o investimento feito em jogadores que pouco agregaram tecnicamente. Sette Câmara até explica que alguns chegaram sem custo ao clube, mas esquece que o Atlético é quem arca com os salários deles. Além disso, a instabilidade de técnicos e diretores de futebol que não conseguem se firmar no clube tem gerado sucessivos "nãos" recebidos pelo Atlético de comandantes. Só este ano já foram quatro recusas. Enfim, esperamos apenas que o Atlético aprenda com os erros. Somente! Boa leitura!
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1 de dezembro de 2017. Esse dia ficará para sempre marcado na história do Atlético. Trata-se da data da eleição presidencial que nomeou Sérgio Sette Câmara como mandatário máximo do clube.
Os primeiros discursos foram em tom de redução de custos, redução de empréstimos e aumento na receita, que passaria a ter como foco a venda de jogadores. A ideia do Sérgio Sette Câmara era montar um elenco jovem, visando a valorização do atleta e uma negociação futura. No papel a ideia não é ruim. Há várias formas de um jogador valorizar-se, é verdade, mas a principal delas é dentro de campo. Boas atuações, títulos, convocações para a seleção nacional. Tudo isso agrega valor à "marca" do atleta. Isso somado a pouca idade é sinônimo de uma boa negociação. E claro, grandes atuações de um jogador podem ser convertidas em grandes resultados dentro de campo. Tudo perfeito na teoria. Porém, faltou o presidente capacitar o clube, colocando-o à par do seu planejamento. Aproveito o início do texto para avisar que, você que está acostumado a ler textos mais informativos na Revista Camisa 13, alguns embasados em estatísticas, verá nesta edição uma leitura um pouco diferente, mais opinativa. Vamos lá! Sérgio Sette Câmara está em seu segundo ano de mandato, mas o pouco tempo não é mais empecilho para muitas críticas, protestos das torcidas e até mesmo a união das principais torcidas organizadas do clube, que decidiram não entrar em campo na partida contra o Avaí, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro deste ano. Um ano e cinco meses já seriam o suficiente para colocar em prática o seu projeto, até bom na teoria. O que faltou, então? A Revista Camisa 13 levantou alguns pontos que acreditamos explicarem o fiasco da gestão do Sérgio Sette Câmara. Alexandre Gallo Em fevereiro de 2018 o presidente Sette Câmara deu uma declaração em que soltou a seguinte frase: "Olha eu falando de futebol. Logo eu que não gosto de falar de futebol". A declaração não foi bem vista pelos torcedores do Atlético, que já não avaliavam bem o trabalho do Alexandre Gallo, escolhido para ser o diretor de futebol do clube. E, com essa frase, Sette Câmara deixava claro que era Gallo quem cuidava do carro-chefe do clube. O presidente de um clube de fato não tem obrigação de entender de futebol, mas deve-se delegar bem a função, uma vez que, como se fala no marketing, este é o produto estrela de qualquer clube. A primeira medida do Sette Câmara após a eleição presidencial foi nomear Alexandre Gallo para ser o homem de confiança do futebol. Sem experiência na função, Alexandre Gallo não desempenhou bem o seu papel e foi 4
muito criticado pelos torcedores. Surgiram boatos até mesmo de certo problema de relacionamento com alguns jogadores, além da permanência de Gallo como diretor de futebol possivelmente ter gerado um atrito entre Sérgio Sette Câmara e Alexandre Kalil, ex-presidente e atualmente conselheiro do clube. Alexandre Gallo foi o responsável pelas 18 contratações realizadas pelo Atlético em 2018. Acertos? Sim, houveram, mas houve mais nomes questionados que vangloriados. Outro questionamento foi o tempo de contrato para alguns nomes, como o atacante Denílson, por exemplo. Com passagem sem muito destaque por Fluminense e São Paulo, Denílson vinha de uma temporada razoável pelo Vitória. Mas isso não foi empecilho para o Atlético desembolsar cerca de 300 mil euros pelo atacante, que assinou por 5 anos com o clube. Outras contratações também geraram muitos questionamentos dos torcedores, como o lateral-direito Samuel Xavier e os zagueiros Juninho e Martín Rea. Muito pressionado e já sem o respaldo da diretoria, Alexandre Gallo acabou sendo demitido no dia 30 de outubro do ano passado. Apesar de não ter mais o profissional Alexandre Gallo, o Atlético ainda colhe os frutos do trabalho dele. Inclusive, após a derrota para o Palmeiras, o lateral-direito Marcos Rocha, hoje na equipe paulista, deixou isso bem claro na entrevista à rádio 98FM. "Tenho primeiro que respeitar todos os meus antigos companheiros (que ainda estão no Atlético), mas o Alexandre Gallo chegou querendo fazer uma revolução, e hoje o Atlético está colhendo os frutos da liberdade que deu para ele".
A escolha mais questionada feita pelo Sette Câmara foi a de nomear Alexandre Gallo para ser diretor de futebol do Atlético - Foto: Bruno Cantini/Atlético
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Processos No dia 26 de setembro do último ano, Sette Câmara surpreendeu ao processar alguns torcedores que estavam o criticando de forma mais áspera nas redes sociais. Um dos acionados foi o torcedor Kaio Felipe, que fez a seguinte publicação no Twitter no dia 12 de maio: "Eu vou falar pela 84****77 parem de xingar o presidente (sic)", escreveu o torcedor. No texto original, ao invés dos asteriscos, Kaio colocou o número do telefone celular do presidente atleticano. Ainda no ano passado, em entrevista ao portal UOL Esporte, Alexandre Atheniense, advogado do Sérgio Sette Câmara, explicou sobre a ação contra os torcedores. "Acionamos aqueles que vazaram informações da sua esfera privada na internet e causando danos incomensuráveis. Não queremos polemizar a situação que é o presidente contra caras da torcida. É o caso de uma esfera privada dele. Minutos depois do jogo do Atlético ter terminado, vazou (o número dele). Deu-se início a uma série de excessos de liberdade de expressão. Um cidadão se viu acuado por ser vítima de outro cidadão", disse. O episódio gerou brincadeiras dos torcedores nas redes sociais, mas também muitas críticas por parte da torcida. Sette Câmara foi avaliado por alguns como "antipático" e "arrogante". A reportagem tentou contato com o torcedor Kaio Felipe, mas ele preferiu não responder às perguntas. Série B da Libertadores Fora da Copa Libertadores em 2018, o Atlético tinha a Copa Sul-Americana como a única oportunidade de uma conquista internacional. Entretanto, o clube não valorizou a competição e, com um time completamente reserva, foi eliminado ainda na primeira fase pelo San Lorenzo/ARG. A eliminação não agradou a torcida que direcionou xingamentos à diretoria após o duelo. Pior, Sérgio Sette Câmara deu uma entrevista após a partida menosprezando a Copa Sul-Americana e desvalorizando as conquistas da Copa Conmebol. "A Copa Sul-Americana é a segunda divisão da Libertadores da América. É assim que enxergo. Se ela tivesse esse valor muito grande, as duas copas que o Atlético ganhou da Conmebol teriam mais valor do que na verdade têm. E olha que, naquela época, quem classificava não era o nono, o décimo. Era o segundo e o terceiro do Campeonato Brasileiro. A Sul-Americana, além de pagar pouco, ela tem pouco valor, você vê pelos próprios públicos que vêm comparecendo, se comparado com públicos da Libertadores. Entendemos que é um campeonato que poderia ser interessante se tivéssemos passado com essa equipe alternativa. Muito provavelmente iríamos continuar com essa equipe alternativa", disse o 6
presidente em entrevista ao canal Fox Sports. Questionado sobre as críticas após a eliminação da Copa Libertadores, Sette Câmara disse em tom prepotente. "Esses que estão protestando aí serão os mesmos que vão gritar meu nome quando nós formos campeões e vão dizer que eu estava certo. Como, aliás, já vem acontecendo em algumas situações. Quando lá no início, eu comecei a fazer uma filosofia do bom e barato, comecei a colocar as contas em dia, e hoje o que eu tenho ouvido por aí é que o nosso time está sim muito bem, está jogando bem. Nós apostamos num treinador jovem, que está implantando uma filosofia interessante, e os resultados vão vir em médio e longo prazo. Esses torcedores são imediatistas, a gente entende que a paixão fala mais alto do que a razão, mas estou aqui para fazer um Atlético melhor, eles podem ter certeza que nós não estamos fazendo bobagem, eu tenho que trabalhar pensando com aquela filosofia de quem administra o clube e quer montar um time bom no presente e melhor ainda no futuro. Nós estamos fazendo isso, investindo em jovens atletas, e montando um time muito interessante para esse ano, a despeito da falta de dinheiro, das dificuldades todas que enfrentamos. Eu vejo o nosso time como um time que está em quinto ou sexto hoje no Campeonato Brasileiro e que antes da Copa, com absoluta certeza, ele vai estar entre os três primeiros, dentro da sequência de jogos que nós temos aqui. E com o apoio dessa massa, os jogos que vamos ter com América, Cruzeiro, Fluminense, Ceará e Flamengo, nós podemos fazer uma pontuação muito alta e beliscar alguns jogos fora, o que certamente vai fazer com que a gente chegue na parada da Copa talvez ocupando a primeira, a segunda, no máximo, a terceira posição", disse o presidente em entrevista ao canal Fox Sports Mais uma vez, as declarações do presidente do Atlético não foram bem-vista pelos torcedores, que demonstraram sua insatisfação com a gestão do Sette Câmara nas redes sociais, no estádio e em protestos realizados na sede do clube e na Cidade do Galo. Este ano, após uma campanha pífia na Copa Libertadores, o Atlético foi eliminado ainda na fase de grupos e o prêmio de consolação é entrar na segunda fase da Copa SulAmericana. Qual será a postura da diretoria desta vez? Coleção de "não" Desde a demissão de Oswaldo de Oliveira, em fevereiro do ano passado, o Atlético tem encontrado bastante dificuldade para seduzir um técnico com o seu projeto. Em 2018, o Atlético tinha duas opções disponíveis no mercado: Cuca e Felipão. O primeiro, com grande história no clube, foi pioneiro na procura da diretoria, entretanto, devido a um compromisso já acordado com o canal SporTV, o comandante poderia assumir à equipe somente após a Copa do Mundo. Sem acordo com Cuca, o Atlético procurou Felipão, mas também não houve entendimento nas conversas. Em julho, Felipão acertou o seu retorno ao Palmeiras e 7
Cuca assinou contrato com o Santos. Abel Braga, à época no Fluminense, e Levir Culpi, então no Gamba Osaka/JAP, foram outros nomes procurados e que recusaram o clube no momento. A dificuldade para acertar com um nome fez com que Thiago Larghi, antes analista de desempenho, seguisse no comando do time como técnico interino. O bom rendimento da equipe, somado a dificuldade em acertar com outro treinador, fizeram com que o Atlético efetivasse Larghi na função. O namoro durou apenas oito meses. Em outubro do último ano, Thiago Larghi foi demitido e o Atlético acertou o retorno de Levir Culpi ao clube. Agora desempregado, Levir chegava para a sua quinta passagem pelo Galo, e para realizar um longo trabalho, segundo Sette Câmara. "Fechamos um contrato que vai se iniciar agora (em outubro de 2018) e vai até o final de 2019. Eu efetivamente espero que vá até o final do meu primeiro mandato", disse o presidente atleticano na apresentação de Levir Culpi. Entretanto, o relacionamento durou apenas seis meses e Levir Culpi já deixou o Atlético. Há quem diga que um dos motivos do treinador não ter sucesso nesta passagem pelo clube foram alguns problemas de relacionamento entre Luiz Matter, auxiliar do comandante, e jogadores e funcionários do Galo. Novamente, após demitir um técnico o Atlético vem encontrando dificuldade para acertar com um sucessor. O primeiro nome procurado pelo Galo a vazar na mídia foi o Tiago Nunes, atualmente no Athletico-PR.
O Atlético tentou o retorno do Cuca ano passado, mas não houve acordo com o treinador que, meses depois, acertou com o Santos - Foto: Bruno Cantini/Atlético
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Após Tiago Nunes definir que permaneceria no Athletico-PR, o Atlético foi atrás de Rogério Ceni, técnico do Fortaleza. O treinador decidiria o futuro após a final do Campeonato Cearense e assim o fez: segue no comando do Leão. Com duas tentativas sem sucesso, o Atlético ainda procuraria mais dois nomes: Jorge Sampaoli, atualmente no Santos, e o português Jorge Jesus, atualmente sem clube. Sem conseguir avançar com nenhum nome, Rodrigo Santana vai permanecendo a frente da equipe e conquistando bons resultados. Ou seja, o filme de 2018 se repete. Rui Costa, atual diretor de futebol do Atlético, está negociando com o colombiano Juan Carlos Osório, técnico do México na última Copa do Mundo, e ex-comandante da seleção paraguaia. Entretanto, assim como ocorreu com outros nomes, o Atlético encontra dificuldade para seduzir Osório com o seu projeto, além de um entrave salarial. Com isso, o colombiano segue estudando outras propostas que recebeu do futebol sul-americano e europeu. Cinco diretores Técnico não é o único cargo com muito rodízio no Atlético. Desde o falecimento de Eduardo Maluf, em junho de 2017, cinco diretores de futebol passaram pelo Atlético. O primeiro a assumir o cargo foi André Figueiredo, ainda na gestão do Daniel Nepomuceno. Muito criticado por supostos esquemas com empresários, além da suspeita de cobrar
Extremamente questionado, André Figueiredo não permaneceu por muito tempo como diretor de futebol do Atlético - Foto: Bruno Cantini/Atlético
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dinheiro de familiares para manter jovens nas categorias de base do Atlético, André Figueiredo perdeu prestígio é chegou a ser questionado até pelo Bernard, ex-jogador do clube e atualmente no Everton, da Inglaterra. "Grande parte da torcida, ou quase toda, não sabe nem da metade do que eu passei na base, mesmo assim, decidi voltar e ficar. E, a partir disso, que graças a Deus as coisas encaixaram, e Deus me abençoou grandemente", escreveu o ex-jogador alvinegro no Twitter. André Figueiredo era o coordenador das categorias de base do Atlético antes de se tornar o diretor de futebol do clube. Sem respaldo, voltou a exercer a função anterior antes de ser demitido. Com a saída do André Figueiredo, coube ao Domênico Bhering, diretor de comunicação do Atlético, assumir a função. Mas não foi por muito tempo, uma vez que houve a eleição presidencial e, após a nomeação de Sérgio Sette Câmara houve o anúncio de Alexandre Gallo para a função. Em outubro do ano passado, após a demissão de Alexandre Gallo, o Atlético nomeou Marques, antes coordenador das categorias de base, como diretor de futebol. Por ser ídolo da torcida, Marques também seria uma espécie de escudo para a diretoria. Sem experiência na função, Marques encontrou dificuldade para conduzir algumas negociações. A lenta busca de jogadores para posições carentes do elenco atleticano, como a lateral esquerda, por exemplo, fez com que Sette Câmara fosse em busca de outro nome para exercer o cargo. No dia 11 de abril o Atlético anunciou o acerto com o Rui Costa para ser o diretor de futebol do clube. Com isso, Marques foi remanejado para a função de gerente de futebol. Opinião Por muitas vezes faltou convicção à diretoria atleticana. Por muitas vezes ainda falta convicção para a diretoria atleticana. São erros sucessivos, às vezes até parecidos, demonstrando que não há aprendizado com equívocos anteriores. O exemplo mais claro que podemos dar diz respeito ao técnico do Atlético. Assim como em 2018, o clube até abre negociações e busca por um nome, mas com dificuldade para chegar a um acordo, mantêm quem está a frente do time com a alcunha de "interino por tempo indeterminado". A única diferença desta vez é que Rodrigo Santana já foi comunicado que fará parte da comissão técnica do próximo comandante, ou seja, não será o técnico do time. Mas, e se, assim como no ano passado, não chegarem a um acordo com nenhum nome? Com o "não" do Tiago Nunes e do Rogério Ceni, além de não conseguir avançar nas negociações com Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, o Atlético começa a ficar sem opções. Dos nomes desempregados, o único que agrada à diretoria é o de Juan Carlos Osório. 10
E se ele também disser "não"? Assim como Thiago Larghi, Rodrigo Santana inicia bem o seu trabalho à frente do Atlético. Diferente do Larghi, Rodrigo tem dois pontos a seu favor: 1- Ele trabalha há oito anos como técnico, ou seja, por mais que nunca tenha estado a frente de uma grande equipe, tem experiência na função. 2- Desta vez ele tem um diretor de futebol experiente e um gerente de futebol para lhe dar respaldo e lhe ajudar no dia a dia do clube. Imagino que, apesar dos bons resultados, não seja o momento ideal para Rodrigo Santana ser efetivado a frente do clube. Mas o que deve acontecer se o Osório não acertar com o Atlético? Rodrigo permanecerá durante a pausa da Copa América, o que o credencia a ser efetivado no segundo semestre. Como o próprio Rodrigo Santana disse na coletiva após a vitória do Atlético sobre o Ceará, será bom para o desenvolvimento dele trabalhar com um técnico experiente. Enfim, erros vão, erros voltam. O Atlético se transformou em uma máquina de moer técnicos, e nem sempre por culpa deles, mas por falta de planejamento e de convicção da diretoria. Quem será o próximo alvo?
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