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O COMPROMISSO INABALÁVEL DE JOSÉ REDONDO COM A FAMÍLIA, O LICOR BEIRÃO E O RUGBY

José Redondo tem, desde a morte do seu pai, José Carranca Redondo, a responsabilidade de ser o guardião da marca Licor Beirão, uma verdadeira tradição portuguesa. Vê a empresa como um elemento da família, um legado que merece ser preservado e transmitido às próximas gerações. O amor de José Redondo pelo Licor Beirão é evidente, mas ele também tem uma grande paixão pelo rugby, tendo fundado o Rugby Club Lousã em 1973. Com o compromisso inabalável com a sua família e com o seu negócio, José Redondo é um verdadeiro exemplo do espírito empreendedor.

LINO VINHAL/JOANA ALVIM

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Campeão das Províncias [CP]: Como é que surgiu o rugby na sua vida?

José Redondo [JR]: Em 1962, tive meu primeiro contacto com rugby na Académica de Coimbra, onde joguei até 1974. Depois de servir no Ultramar durante o serviço militar, regressei para jogar novamente na Associação Académica. Nessa época, ajudei a fundar o Rugby Club de Coimbra, um clube social com a missão de unir todos os jogadores de rugby da região central, e também fundei o Comité de Rugby do Centro. Joguei mais dois anos na associação académica antes de tentar trazer o rugby para a Lousã, a minha terra natal. Mas na época foi muito difícil, já que a modalidade era pouco conhecida e pouco divulgada pela comunicação social.

Em 1973, depois de dois anos de tentativas, resolvi reduzir a minha carga horária como CEO para dar aulas de educação física numa escola preparatória. Lembro-me de que no meu primeiro ano como professor, mostrei uma bola de rugby para um grupo de 20 e poucos alunos, e eles riram-se de mim. Mas eu expliquei-lhes os princípios básicos da modalidade e comecei a treinar com eles num terreno que eu possuía próximo à escola preparatória. Nesse ano, fundei o clube de rugby da Lousã, que tinha uma característica curiosa: o primeiro presidente do clube tinha apenas 14 anos, e eu era o presidente da Assembleia Geral.

Após três anos, formámos a primeira equipa de juvenis, e após cinco anos, a equipa de juniores. Somente após oito anos, com os jogadores que começaram como juvenis e juniores, conseguimos formar a primeira equipa de seniores.

[CP]: Este ano o clube celebra 50 anos e afirmou-se como uma referência do Rugby Nacional.

[JR]: Há meio século que competimos e desafiamos os maiores do rugby nacional. Durante esse período, estivemos presentes na primeira divisão por 22 vezes, enquanto nas outras temporadas competimos na segunda divisão. Neste ano, em que celebramos o 50.º aniversário do nosso clube, estamos no Top 10 da divisão de honra, actualmente em 8.º lugar. É importante salientar que apenas dois clubes da província - Académica e CDUP - se juntam a nós no Top 10, enquanto os restantes sete são clubes de Lisboa, o que evidencia as dificuldades de se manter no topo do rugby português. É um grande orgulho para uma pequena vila de apenas 10 mil habitantes ter uma equipa sénior que requer um mínimo de 40 jogadores e ainda assim conseguir manter-se na divisão de honra.

[CP]: Para além do Rugby é também apaixonado por o que faz.

[JR]: Com certeza. Comecei a trabalhar muito cedo e sempre fui muito próximo do meu pai, quase como irmãos. Ele tinha uma visão do mundo incrível e a empresa da família tinha vários negócios. Até aos anos 80, o Licor Beirão, que era administrado pela minha mãe, representava apenas cerca de 10% do volume de negócios, pois o meu pai tinha começado por fazer publicidade colando cartazes nas paredes, o que tornou a empresa numa das maiores de afixação de cartazes em Portugal desde 1940. Em 1958, foi aprovada uma lei que proibia a afixação de cartazes fora das áreas urbanas. Na época, havia seis ou sete empresas no país que se dedicavam à colocação de cartazes. Todas desistiram e tiveram medo de lutar, mas o meu pai não. Ele foi o único que continuou a afixar cartazes e, como resultado, foi levado a tribunal 93 vezes.

O Licor Beirão é fabricado na Quinta do Meiral, na Lousã. Com mais de 12 hectares, parte das plantas e sementes aromáticas utilizadas no fabrico são ali produzidas.

Apenas perdeu a primeira vez, e ele costumava dizer que só perdeu dessa vez porque se fez acompanhar de advogado. Ele era um homem extraordinariamente inteligente. Tinha uma visão para o negócio fantástica e isso foi uma grande escola e um enorme desafio.

[CP]: Para além do Licor Beirão e da afixação de cartazes a que mais se dedicavam?

[JR]: O meu pai era um

“Até aos anos 80, a venda do Licor Beirão era apenas uma pequena parte do volume de negócios”

“O meu pai acreditava no poder da publicidade como forma de vender produtos” empreendedor nato. Ele tinha ideias e eu era encarregado de executá-las. Ele era persistente, teimoso e um lutador incansável. Graças à sua perseverança, tornamo-nos líderes em Portugal na afixação de cartazes e iniciamos a produção de outdoors, inicialmente feitos de madeira e mais tarde de fibra de vidro. No entanto, a nossa indústria de fibra de vidro não se limitou apenas à produção de outdoors. Começámos a fabricar barcos, depósitos e muitos outros produtos, até que surgiu a ideia de produzir sinalização rodoviária. Na época, eram necessários seis homens para colocar um único sinal de trânsito. Foi então que o meu pai teve a ideia de produzir sinais de fibra de vidro, muito mais leves. Criámos a maior fábrica de fibra de vidro do país e produzimos milhares de sinais de trânsito para todas as câmaras municipais do país. Chegámos a vender seis mil sinais de trânsito para a Câmara de Lisboa. No entanto, a produção de sinalização exigia uma indústria de serigrafia, por isso criámos a primeira serigrafia nos anos 50. Depois, a sinalização rodoviária exigia material reflector e só existia uma fábrica no mundo que produzia esse material, a 3M Minesotta. O meu pai que não falava uma palavra de inglês foi aos Estados Unidos para aprender e um ano depois estávamos a produzir material reflector na nossa própria fábrica.

[CP]: Como é que nasce o Licor Beirão? Foi o seu pai que criou este produto?

[JR]: Não. O meu pai começou a trabalhar aos 12 anos numa pequena fábrica de licores na Lousã, onde trabalhou durante muitos anos. O elixir que mais tarde se tornou conhecido como “Licor Beirão” já era produzido e vendido numa farmácia local como remédio para problemas de estômago no final do século XIX. Quando a lei proibiu a venda de bebidas alcoólicas em farmácias, a produção do licor poderia ter terminado. No entanto, a sua continuidade foi garantida por um caixeiro-viajante, comerciante de vinhos do Porto, que se apaixonou pela filha do farmacêutico e deci-

“A questão do Metro é muito complexa e representa uma das minhas derrotas na vida” diu assumir a produção do licor nessa pequena fábrica local. Mais tarde, o meu pai trabalhou como vendedor da marca de máquinas de escrever Remington mas quando começou a Segunda Guerra Mundial a produção foi interrompida em todo o mundo, e o meu pai decidiu comprar a fábrica de licores e casar-se com a minha mãe para cuidar da produção enquanto ele continuava com outros negócios. Até aos anos 80, a venda do Licor Beirão era apenas uma pequena parte do volume de negócios, mas o meu pai começou a promover o licor com publicidade, colando ele próprio os cartazes nos postes, degraus e paredes.

[CP]: Foram uns visionários em marketing e publicidade?

[JR]: O meu pai acreditava no poder da publicidade como forma de vender produtos. Em 2005, ele foi agraciado pela Associação Portuguesa dos Anunciantes como o melhor profissional de marketing do século 20, em reconhecimento por ter antecipado muitas das aos sábados entre as 11 e as 12 horas tendências publicitárias da época e por ter criado diversas inovações no sector. Com a chegada do meu filho Daniel, o Licor Beirão deu um grande salto. Ele propôs a colocação de uma tenda na Queima das Fitas, onde criámos a bebida Caipirão e conseguimos atingir um grande público.

[CP]: O Licor Beirão continua a ser uma empresa familiar?

[JR]: As pessoas olham para a nossa empresa como uma multinacional, mas não é, continua a ser uma empresa familiar, mantém essa característica que faço de tudo para que não se perca. Concorremos com grandes multinacionais e estamos a conseguir bater o pé a todas elas.

[CP]: É um lousanense fiel, foi lá que nasceu. Pretende sair de lá algum dia? Mas não sai antes de chegar o Metro.

[JR]: A questão do Metro é muito complexa e representa uma das minhas derrotas na vida. Embora tenha tido muitas vitórias, esta foi uma das excepções. O que me incomoda e considero inaceitável é que a construção do Metro ocorreu após um investimento de 10 milhões de euros na renovação dos carris. Apesar de não ser fã do Ministro Pedro Nuno Santos, eu tinha esperanças de que ele renovasse a linha da Lousã, e pareceu-me que estava a progredir nessa direcção. É bom que tenhamos noção que sem uma linha ficamos sem ligação à rede ferroviária nacional para um futuro transporte de mercadorias

[CP]: O caminho que o país leva assusta-o?

[JR]: A actual situação da democracia é preocupante, e parece que estamos a repetir alguns dos problemas e erros enfrentados durante a primeira ou a segunda República. Embora façamos parte da Europa, que nos acaba por proteger, o meu receio é que possamos seguir o mesmo caminho de países como a Venezuela e acabar a ser governados por ditadores democratas.

QUINTA-FEIRA, 20 DE ABRIL 2023

20 DE ABRIL DE 2023 s a ú d e

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