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PARA PRESERVAR ÁRVORES DE GRANDE PORTE

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“Gigantes Verdes”. O termo refere-se a árvores de grande porte, com mais de 1,5 metros de perímetro de tronco, e deu origem a um projecto local de conservação da natureza. Teve início, em 2017, pelas mãos de João Gonçalo Soutinho aquando da sua candidatura a uma iniciativa lançada pelo Município da Lousada relacionada com a sustentabilidade e educação ambiental. O jovem revelou a sua intenção de mapear todas as árvores de grande dimensão do concelho e ganhou a bolsa. Desde então, nunca mais parou.

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“Oficialmente, o projecto ‘Gigantes Verdes’ iniciou-se em 2018. Nessa altura, comecei a mapear as árvores e a medi-las, com o intuito de perceber que importância têm para a biodiversidade, quantas existem, quais as espécies e respectivas dimensões. Desta forma, conseguimos saber quanto carbono cada uma delas tem”, explica João Soutinho, em declarações ao “Campeão das Províncias”. Pouco tempo depois, foi convidado pela autarquia para ser um prestador de serviços no que diz respeito à gestão deste tipo de árvores. Um trabalho que foi crescendo e que deu origem a outros projectos, nomeadamente, a Associação Verde.

“Durante este processo, identificámos 7.400 árvores de grande porte em todo o concelho. Neste momento, adicionámos mais 1.000 a essa contagem. (…) Na pandemia, comecei também a ver que muitas delas tinham desaparecido, sobretudo, por uma necessidade de rendimento dos próprios proprietários que cortavam as árvores para as vender ou para ter lenha para aquecerem as suas casas”, revela João Soutinho. Foi esta observação o ponto de partida para que o jovem procurasse por soluções que permitam salvaguardar os “gigantes verdes”.

O valor de cada árvore

As árvores de grande porte têm a capacidade de albergar um grande número de organismos, motivo pelo qual são tão importantes para o nosso ecossistema. Desta forma, quanto mais antiga é uma árvore,

Campe O Das Prov Ncias 20 De Abril De 2023

“Gigantes Verdes” são árvores de grande porte com 1,5 metros de perímetro maior é a probabilidade de ser usada como habitat por diversos seres vivos. A conclusão é da Associação Verde, que salienta que algumas espécies de árvores podem ser mais ricas do que outras. “Se compararmos um carvalho com 1 metro de diâmetro com outra qualquer árvore das mesma dimensão, vemos que o carvalho tem mais estruturas que permitem acolher os seres vivos. Isto é muito importante para a nossa qualidade de vida”, afirma João Soutinho.

Nesse sentido, a associação alerta para a importância de cuidar dos “gigantes verdes”, usando, para isso, mecanismos diferentes.

“Um deles tem a ver com pagamentos que tentamos fazer aos proprietários destas árvores, provenientes de projectos de compensação de carbono de empresas ou cidadãos. Neste caso, conseguimos uma parceria com os proprietários para que não cortem as suas árvores, sendo-lhes fornecido um pagamento anual que permite compensar o não abate”, sublinha o jovem.

Acrescenta ainda que, por enquanto, estas acções se mantêm por Lousada devido à contagem de “gigantes verdes” da região. “Enquanto não o conseguirmos fazer noutros sítios é difícil escalar o projecto. Estamos a criar as bases para crescer, mas queremos fazê-lo de forma sustentada e com os parceiros certos”, esclarece.

O que fazer para proteger?

Questionado acerca do trabalho desenvolvido pelas entidades competentes no que diz respeito à conservação das árvores de grande porte, João Soutinho é perentório: “O grande problema é que a maior parte destas árvores estão em território privado, isto é, mais de 90% das nossas florestas nacionais estão em terrenos privados, portanto, as entidades competentes não têm assim tanta capacidade de as salvaguardar”. No entanto, e de uma forma geral, o jovem considera que não são realizadas acções suficientes para demonstrar a importância dos “gigantes verdes”.

“Se ninguém der valor à preservação destas árvores, não vai ser o proprietário que tem os custos que o vai fazer. Não obstante, há casos de árvores em espaço urbano que desaparecem de um dia para o outro, muitas vezes porque é mais fácil cortá-las do que ter a despesa”, frisa João Soutinho. Lamenta, por isso, que nos esqueçamos que “estão ali décadas ou centenas de anos de uma árvore cujo papel é fundamental para a questão da biodiversidade e do clima”.

De olhos postos no futuro, o biólogo da Associação Verde não tem dúvidas de que “as gerações actuais estão mais atentas” a tudo o que envolve a natureza. Sendo o cuidar do ambiente um papel de toda a sociedade, a Verde oferece a possibilidade de uma subscrição mensal e/ou a opção de um donativo para que cada pessoa possa doar um montante que será directamente utilizado na preservação dos “gigantes verdes”.

“Estamos no bom caminho. Contudo, a velocidade ainda é muito lenta. A direcção está alinhada, mas falta-nos fazer muita coisa para passarmos a ter um impacto menos negativo sob o planeta”, conclui João Soutinho.

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