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COIMBRA RECEBE PRIMEIRO CAMPEONATO DE IMPROVISO

Com pouco mais de um ano de existência, o Coimbra Impro é o primeiro, e único, grupo da região Centro na área do teatro de improviso. A ideia passa por expandir este género performativo e, sobretudo, dar a conhecer o mundo fascinante do improviso.

Ao longo do último ano, a companhia tem despertado muito interesse junto do público e conta já com cerca de 35 elementos. Com sede na Casa das Caldeiras, em Coimbra, já realizou vários espectáculos e o público é também elemento fundamental para a sua concretização.

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No próximo mês de Abril decorre, pela primeira vez, o Campeonato de Improviso de Coimbra, que vai contar com várias equipas nacionais. Organizado pelo grupo Coimbra Impro, que iniciou a sua actividade em Janeiro do ano transacto e é dirigido pelo actor e encenador brasileiro Zeca Carvalho, a competição vai reunir várias equipas que irão competir pelo domínio da cidade através de vários jogos improvisados.

“O campeonato consiste numa competição entre equipas pré-formadas de improvisadores, que vão assumir algumas identidades para o espectáculo. Essas identidades são aquelas mais comuns entre os grupos de Coimbra. Estamos a falar, por exemplo, das pessoas que andam de trotinete, dos estudantes de capas negras, dos professores, dos taxistas, dos ‘dealer’ do Jardim da Sereia, das velhinhas do autocarro, entre outros”, anunciou Zeca Carvalho.

Com duração de dois a três minutos em cada cena, o público vai ter um papel fundamental na competição, pois cabe a ele votar e escolher qual a equipa que tem o melhor desempenho. Além disso, parte também da plateia sugestões de temas e palavras aleatórias a que os improvisadores terão de responder da melhor forma. No final será atribuí- da uma pontuação a cada grupo. O grupo vencedor conquista os três pontos, enquanto que a equipa derrotada angaria um ponto, caso haja um empate ganha dois pontos cada um. Os pontos vão acumulando e no final da competição a equipa que conquistar mais pontuação vence a prova.

Expandir e atrair novos públicos

O primeiro dia desta iniciativa decorrerá a 1 de Abril e vai acontecer todos os sábados até 3 de Junho em várias salas de Coimbra. A sua sede na Casa das Caldeiras, o Grémio Operário e o aletiê A Fábrica serão alguns dos locais que servirão de palco para o 1.º Campeonato de Improviso de Coimbra.

Segundo o mentor do projecto, Zeca Carvalho, a necessidade de percorrer várias salas da cidade passa pela “expansão do projecto e uma forma de tentar falar com públicos diferentes”. O responsável pretende chegar ao público universitário, considerando-o o mais difícil de conquistar.

“Nós temos aqui uma predominância de pessoas de 20 a 30 anos e de 50 para cima. É muito difícil que haja pessoas entre os 30 e 50 anos, porque na sua maioria essas pessoas trabalham fora de Coimbra e, por isso, é raro que haja esse escalão aqui. Nós já temos um público mais velho e mais maduro. Falta-nos atingir o público universitário com o qual o ‘stand-up comedy’ já dialoga, mas a impro não e nós acreditamos que tem muito a oferecer para esse público universitário”, reforça.

A competição está prevista que dure os dois meses, mas devido à grande afluência de inscrições é possível que se prolongue mais algumas semanas.

“Estamos muito surpresos com a adesão ao campeonato. Temos um gupo de Sinta e um de Lisboa interessados em participar e ainda o grupo Ervilha no Topo do Bolo, que é o primeiro grupo de improviso do Porto. Assim, em princípio, vamos ter no nosso campeonato grupos de Sintra, Lisboa, Porto e Coimbra”, revelou Zeca Carvalho.

A médio prazo, a Coimbra Impro pretende encenar espectáculos em inglês, não só para que possa ser compreendido por turistas estrangeiros, mas também para eventuais apresentações internacionais, bem como em espanhol, face à comunidade de latino-americanos e espanhóis existente em Coimbra.

Coimbra já precisava do teatro de improviso

Zeca Carvalho é o responsável pelo grupo Coimbra Impro. Actor, improvisador, encenador, professor, tem mais de 40 anos de carreira e participou em dezenas de produções de cinema e televisão no Brasil, de onde é natural.

Em 2018 veio para Portugal, viver em Coimbra, e foi fazer um pós-doutoramento em Lisboa. Foi a partir daí que começou a ter contacto com a realidade portuguesa, centrada em grupos das zonas de Lisboa e Porto. No final voltou ao Brasil e regressou, dois anos mais tarde, em finais de 2021, decidido a desenvolver aquela área na região Centro do nosso país, fixando-se em Coimbra.

“Quando saí de Portugal

O Campeonato de Improviso vai ter grupos de Sintra, Lisboa, Porto e Coimbra disse aos grupos, que na época eram só de Lisboa, que voltaria para implementar a impro na região Centro. Todos me apoiaram na altura e hoje estão comigo nessa missão”, refere o director do grupo.

O nome Coimbra Impro surge com a intenção de colocar a região no panorama do teatro de improviso.

“Dei ao grupo o nome de Coimbra Impro exactamente para podermos marcar uma posição aqui como sendo o primeiro grupo de improvisação de Coimbra”, notou Zeca Carvalho.

O projecto da Coimbra Impro passa por desenvolver três modalidades diferentes de espectáculo: uma competitiva, outra com cenas curtas e médias demonstrativas: e uma de formato longo, autoral, totalmente inventado pelos improvisadores.

O actor explica que durante a sua estadia em Portugal se apercebeu que o teatro de improviso não era muito conhecido e que por vezes até era confundido com outras artes contemporâneas. “Eu percebi que havia uma oportunidade de fazer com que o público do Centro conhecesse o teatro de improviso. É um género teatral, um estilo performativo que é muito celebrado no mundo inteiro e, no entanto, aqui não havia conhecimento sobre isso. Ao contrário, por exemplo, da ‘stand up comedy’ que muitas vezes é confundida com o teatro de improvisação e que não tem nenhuma relação”.

No seu início admite que não foi fácil atrair pessoas para o grupo, pelo facto de não haver uma referência sobre o que seria o teatro de improviso. “As pessoas não sabiam que era porque isso não era feito aqui, então as pessoas mergulharam num projecto que elas não sabiam o que era, com um resultado que elas não entendiam que poderia vir a ser. O que eu fiz num primeiro momento foi procurar fazer com que os ensaios fossem muito divertidos, gostassem, quisessem estar presentes, quisessem sair, beber juntas, conhecer, fazer amizade, estarem próximas, um espaço de acolhimento em que a diversidade era mais do que bem- vinda”. Com o objectivo de mostrar o que é este género performativo, a companhia Coimbra Impro tem vindo a crescer a passos largos e hoje procura fazer com que o público conimbricense compreenda o que é o teatro de improviso.

“Este estilo está muito mais relacionado com a diversão, o entretenimento, a energia da plateia, a vibração do público e a troca constante com os performers. Os nossos espectáculos mudam a cada momento por conta do público”, enfatiza Zeca Carvalho.

Campe O Das Prov Ncias 23 De Mar O De 2023

Coimbra Assinala 10 Anos Que Foi Classificada Pela Unesco

Rua Da Sofia Patrim Nio Mundial Ainda Por Recuperar

LUÍS SANTOS*

Coimbra tem ainda um local icónico da cidade por recuperar e que está classificada há 10 anos pela UNESCO. Trata-se da Rua da Sofia, que juntamente com a Universidade e a Alta integra o Património Mundial da Humanidade.

Na apresentação do programa comemorativo dos 10 anos da classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da UNESCO, a necessidade de requalificação da Rua da Sofia foi um aspecto abordado pelo presidente da Câmara, mas atirou essa desiderato para quando terminarem as obras do MetroBus, o que acontecerá lá para 2025.

José Manuel Silva reconhece que a Rua da Sofia, “apesar do seu enorme potencial, tem grandes necessidades, merece e precisa de ser requalificada”. “Irá sê-lo assim que terminarem as obras do MetroBus”, prometeu o presidente da Câmara, num calendário que irá coincidir com ano de eleições autárquicas.

“A Rua da Sofia vai ser modificada, requalificada, dignificada. Queremos também trabalhar para que o Património Mundial da Rua da Sofia se possa abrir mais à comunidade e as próprias entidades que gerem e são donas desse património também estão interessadas”, referiu.

À margem da apresentação do programa comemorativo dos 10 anos da classificação da UNESCO, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra esclareceu que as obras do MetroBus deverão ocorrer no final de 2024 ou início de 2025, altura em que deverá avançar a intervenção na Rua da Sofia, que “ficou para último”.

Depois do “papel extraordinário da Universidade de Coimbra na reabilitação do património universitário” e do investimento da Câmara Municipal na Alta, José Manuel Silva admitiu que “falta o vértice do triângulo”.

“A Rua da Sofia, a partir do momento em que o MetroBus esteja a funcionar, pode ser requalificada em termos de mobilidade e de trân- sito, que irá naturalmente diminuir. Os seus passeios serão alargados e poderemos ter uma outra vivência da Rua da Sofia”, informou. No seu entender, é ainda essencial que todos trabalhem “para abrir os Colégios que são Património Mundial”. “Nós temos um património mundial lindíssimo, riquíssimo, que a maioria das pessoas não conhece e o património mundial está fechado ao mundo. Nós não podemos continuar a aceitar que isso seja normal, porque é uma contradição”, concluiu.

José Manuel Silva evidenciou, ainda, que, nos últimos anos, a Câmara Municipal de Coimbra tem-se empenhado na requalificação da Alta, onde tem havido “um grande investimento” e “algumas polémicas de permeio”. “Mas as obras têm avançado, esse património tem sido requalificado e está a ser embelezado, para que nós nos orgulhemos cada vez mais dele. Cumprimos o que é a nossa obrigação como património Mundial, que é cuidar desse património, respeitando naturalmente a história e a cultura da nossa cidade e desse mesmo património” - disse.

O autarca aludiu às “múltiplas obras” realizadas, entre as quais a requalificação do Largo da Sé Velha e das ruas adjacentes, do Largo de São Salvador e do Pátio da Inquisição. “Foram vários milhões de euros despendidos pela Câmara nesta requalificação do património”, frisou. (*) com Lusa

“CINCO JÓIAS” ABREM PROGRAMA COMEMORATIVO A

apresentação, ontem, do livro “Cinco Jóias” abriu as comemorações do 10.º aniversário da classificação de Coimbra - Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, com iniciativas que vão decorrer até Novembro.

A obra apresentada esta quarta-feira foi coordenada pelos académicos João Gouveia Monteiro e Maria Leonor Cruz Pontes, revisita a Biblioteca Joanina, a Capela de São Miguel e o seu órgão barroco, o Jardim Botânico e o Museu Nacional de Machado de Castro. No prefácio, João Gouveia Monteiro salienta que os textos não são uma “repetição” do que já se sabia sobre aqueles equipamentos, mas sim “um estudo rigoroso e actualizado sobre cada um daqueles cinco temas, assinado por especialistas de indiscutível competência e reputação”.

Sete Col Gios Numa S Rua

ARua da Sofia é uma via larga e direita, construída na primeira metade do séc. XVI, numa altura em que aflorava o Renascimento em Coimbra, e seguiu o modelo da universitária Rue de Sorbonne, em Paris, embora duplicando as suas dimensões de comprimento e largura.

O plano inicial idealizado por Frei Brás de Barros baseava-se na construção de um campus universitário em linha, em que os diferentes colégios se dispunham sequencialmente de um dos lados da rua, e do outro lado seriam edificados habitação e comércio, que serviriam de apoio à universidade.

A única saída da cidade para Norte era, até então, no traçado medieval através da estreita Rua Direita, frequentemente inundada pelo rio Mondego. Quando a Rua da Sofia é aberta passa a ser um eixo fundamental do crescimento de Coimbra.

Na Rua da Sofia foram erguidos sete colégios, com as suas igrejas: os colégios do Carmo, da Graça, de São Pedro, de São Tomás, de São Bernardo e de São Boaventura e, ainda, o Colégio das Artes. Convivia com estes edifícios o Convento de São Domingos, o Palácio da Inquisição, e mais tarde a Igreja de Santa Justa, templo já setecentista.

O Colégio do Carmo foi construído a partir de 1540, tendo a igreja ficado concluída em 1597 e o claustro em 1600. Dos edifícios quinhentistas e seiscentistas subsiste apenas uma parte, bem como a igreja, sendo o conjunto hoje ocupado pela Ordem Terceira de S. Francisco, que lhe introduziu consideráveis alterações no século XIX.

O Colégio da Graça foi fundado em 1543 e incorporado na

A recuperação da Rua da Sofia ficou para último lugar na valorização do Património Mundial de Coimbra

Universidade em 1549, recebendo então um projecto da autoria do arquitecto Diogo de Castilho, que aqui estabeleceu o esquema dos restantes colégios de Coimbra, integrando um erudito receituário de modelos clássicos. O edifício foi ocupado por um quartel militar, já retirado, mas cuja permanência implicou uma série de construções modernas, desvirtuando as características arquitectónicas e as funcionalidades originais.

Os Colégios de São Pedro e São Tomás possuem actualmente valências muito diversas, sendo este último a sede do Palácio da Justiça, depois de ter servido como moradia nobre; o seu portal principal, riscado igualmente por Castilho, está no Museu Machado de Castro.

Do Colégio de São Boaventura resta a igreja, sem afectação ao culto, e hoje propriedade par- ticular. O que resta do Colégio de S. Bernardo, particularmente os claustros, está ocupado por casas particulares, embora parte da cerca pertença à Câmara. O Colégio das Artes encontra-se em recuperação, integrando um Centro de Artes Visuais.

O Convento de São Domingos, edifício quinhentista destinado a substituir a primitiva casa fundada pelas infantas D. Branca e D. Teresa no século XII, é hoje um espaço inteiramente descaracterizado, onde funcionam galerias comerciais. Este imponente edifício foi traçado pelo arquitecto e engenheiro militar Isidoro de Almeida, introduzindo alterações importantes em relação ao modelo castilhano, embora a igreja nunca chegasse a ser terminada.

(*) Dados coligidos de http://www.monumentos.gov.pt/

Na apresentação do programa comemorativo (disponível em uc.pt/10unesco), o reitor da Universidade de Coimbra recordou que está concluída a intervenção de parte do Colégio da Graça. “Andamos há anos a tentar conseguir ficar com o resto do Colégio da Graça, que está na posse do Ministério da Defesa, para requalificação. Com algumas mudanças nos ministérios e nas pessoas que tomam decisões, não tem sido fácil, mas quero acreditar que dentro de algum tempo, não muito, consigamos ter o Colégio da Graça connosco e ficar com o Polo 0 completo”, referiu. Amílcar Falcão lembrou, ainda, que o Paço das Escolas e a Biblioteca Joanina têm vindo a ser alvo de obras de preservação, concluindo que “já se fez bastante”, embora ainda haja “bastante mais para fazer”. No programa comemorativo destaca-se o Concerto do 10.º Aniversário da Classificação UNESCO, intitulado “No Princípio Era o Fado”, que terá lugar a 22 de Maio, no Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra, bem como um debate, no dia 5 de Junho, que tem como tema central a Canção de Coimbra. O Colóquio Internacional - Gestão Sustentável de Bens do Património Mundial, no dia 21 de Junho, e o IV Encontro Nacional Universidade e Cultura, no dia 16 de Novembro, também mereceram referência do vice-reitor Delfim Leão.

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