Campus - nº 412, ano 44

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TRÂNSITO

CULTURA

HISTÓRIA

PISTA OCUPADA Distrito Federal registra 716 multas diárias por tráfego em faixas exclusivas para ônibus

CADÊ O CACHÊ? Informalidade de contratos na Secretaria de Cultura do DF causa problemas a artistas locais

ANHANGUERA ABANDONADA Caminho trilhado pelos primeiros exploradores do Centro-Oeste sofre com má conservação

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Campus BRASÍLIA, 20 DE MAIO A 2 DE JUNHO

A CASA CAIU

A cada dia, mais de um imóvel vai a leilão no DF devido à inadimplência condominial

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NÚMERO 412 ANO 44

Isabela Resende


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Campus

Brasília, 20 de maio a 2 de junho 2014

Carta do Editor

Recorte

Pedro Alves

Thaís Carneiro

A matéria de capa desta edição do Campus traz dados alarmantes: a cada dia 1,5 imóvel é leiloado no Distrito Federal devido à falta de pagamento da taxa de condomínio. Ou seja, a cada mês, 45 famílias são obrigadas a vender a casa própria por preços mais baixos que os de mercado. Tudo para quitar dívidas que correspondem a uma fração do valor do imóvel. O texto traz ainda personagens que expressam o sacrifício do sonho do imóvel particular. Também é alarmante que, diariamente, 716 motoristas sejam multados por invadir as cinco faixas exclusivas de ônibus espalhadas pelo DF. Os condutores afirmam que precisam utilizá-las para chegar a tempo ou para não ficar horas presos nos engarrafamentos das principais vias. Os motoristas de ônibus e autoridades condenam a infração. No atual caos que vive o

trânsito do DF, a única certeza é que a insatisfação é geral. Outras pessoas que vivem situação difícil são os artistas contratados pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal (Secult). Eles realizam apresentações em festivais organizados pelo governo, mas, na hora de receber o cachê, são surpreendidos. Os artistas ganham valores menores que o combinado e não conseguem respostas quando reivindicam os direitos. O descaso também ocorre em produtoras de eventos que, às vezes, cancelam e não ressarcem os ingressos comprados pelo público. Este Campus fala ainda sobre história, saúde, economia, cultura, festas portuguesas, e sobre uma “louca” que deixou tudo para cuidar de 245 gatos. Não há desculpa para não ler, tem jornal para todos os gostos. Obrigado e boa leitura!

Memória A edição 65 do jornal Campus, de setembro de 1984, trouxe a reportagem Cigarro: império da fumaça com três matérias escritas por Luiz Carlos Queiroz, Aldalberto Passos e Lêda Sampaio sobre a comercialização da mercadoria retratada pela maior exportadora mundial de fumo naquele ano, Grupo Souza Cruz.

Os textos também destacam a diminuição nos lucros devido à alta nos impostos, queda de mercado do produto e aumento das vendas de cigarros picados. Além disso, uma das matérias ressalta o projeto de lei criado pelo deputado Agostinho Rodrigues que, preocupado com a preservação "da cultura e dos valores nacionais", pediu a obrigatoriedade da colocação de estampas que faziam alusão à história do Brasil nos maços de cigarro.

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Campus

Em 24 de maio comemora-se o Dia do Vestibulando. Giovana Duran Gonçalves ,19 anos, dedica-se há três anos ao cursinho pré-vestibular para passar em Medicina. “Estudo normalmente sete horas por dia. Dependendo da matéria, fico até mais tempo"

Ombudskvinna* Jhésycka Vasconcelos Antes de iniciar a avaliação da edição 411 do Campus, não custa lembrar da reportagem sobre orelhões publicada no último jornal que conquistou as páginas dos noticiários na semana passada. Para os iniciantes, a glória do agendamento da mídia é difícil de esquecer. Mas a edição 411 trata de alguns temas de modo tão trivial que, apesar da importância que carregam, passam despercebidos pelos olhos do leitor. É o caso de Psicologia longe das escolas e de Crianças acima do peso. Alguns leitores fizeram críticas aos títulos das reportagens. Não fosse o projeto editorial que prevê a elaboração de títulos ousados, o apontamento seria pertinente. Mas algumas frases nomeiam bem as matérias que seguem. Fechadas, não para balanço e Medo do que vem depois da curva

têm dados que sustentam bem as histórias contadas. O relato de um assalto na estrada instiga o leitor a ir até o final da reportagem. Para manter o equilíbrio do jornal, as páginas de perfil e fotorreportagem aproveitaram bem os formatos. Em Sob as pontes que ninguém vê, é notável a melhoria na qualidade das fotos e das legendas. Já em Trabalho indispensável, os perfis foram bem elaborados, mas ficaram pequenos. Às vezes, beneficiar boas histórias com mais espaço não gera culpa. O aspecto qualitativo é muito mais importante que o quantitativo. Vítimas esbarram nas falhas da lei

começa com dados que poderiam esperar um pouco mais para aparecer e dar lugar aos relatos. Os repórteres fizeram uso inteligente do quadro ao publicar uma breve entrevista com Maria da Penha. Discussão de gênero também faz bom uso do espaço. No entanto, a escolha aleatória das aspas destacadas na página 12 deixam o leitor confuso. Pedras no caminho, Comércio versus arte e Estudantes nas urnas cumpriram bem o papel. A última matéria — sobre as eleições do DCE — talvez merecesse as primeiras páginas. O Campus não é pautado por agendamento político, mas com eleições por perto, existem temas que poderiam ceder lugar.

*Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor. Jhésycka Vasconcelos é aluna do 7º semestre da FAC.

Editor-chefe: Pedro Alves Secretária de redação: Bruna Furlani Editores: Bruna Chaves, Iago Garcia, Paula Braga, Raquel Franco e Victor Pires Repórteres: Beatriz Fidelis, Camila Curado, Gustavo Debastiani, Henrique Arcoverde, Janaina Bolonezi, Jéssica Martins, Karla Beatriz, Luana Melody Brasil, Mariana Pedroza, Raila Spindola, Tainá Farfan, Taise Borges, Thomas Gonçalves Fotorrepórter: Rômulo Andrade Editora de arte e foto: Isabela Resende Fotógrafos: Fernando Jordão, Laís Sinício, Lara Silvério, Thaís Carneiro e Thomas Gonçalves Diagramadores: Bruna Chaves, Iago Garcia, Paula Braga, Raquel Franco

e Victor Pires Projeto Gráfico: Hermano Araújo, Nadjara Martins, Beatriz Fidelis, Jéssica Martins e Karla Beatriz Colaboradores: Bárbara Andrade e Gleydson Lima Professores: Sérgio de Sá Jornalista: José Luiz da Silva Monitores: Eduardo Barretto e Washington Luiz Gráfica: Palavra Comunicação Tiragem: 4 mil exemplares Contato: 61 3107-6498 / 6501 Endereço: Universidade de Brasília, campus universitário Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília/DF. Faculdade de Comunicação, Instituto Central de Ciências - Ala Norte CEP: 70 910-900


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INADIMPLÊNCIA

A PERDA DE UM SONHO

Falta de pagamento da taxa de condomínio é responsável pelo leilão de mais de um imóvel por dia no Distrito Federal Karla Beatriz

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m grupo de pessoas in- abril ante 7,1% em março, teressadas está reunido segundo Pesquisa de Endino Tribunal de Justiça vidamento e Inadimplência do Distrito Federal e Territó- do Consumidor (Peic), dirios (TJDFT) para arrematar vulgada em 29 de abril pela os imóveis disponíveis em mais Confederação Nacional do um leilão. Somente no último Comércio de Bens, Serviços mês de abril, esta cena se repe- e Turismo (CNC). Apesar tiu pelo menos 24 vezes e o mo- disso, o atraso das cotas contivo: dívidas com condomínio. dominiais apresentou cresciDe acordo com dados do Sin- mento e o acúmulo chega ao dicato dos Condomínios Resi- período médio de 15 meses, denciais e Comerciais do Distri- aumentando o número de to Federal (Sindicondomínio/ pagamentos que acabam em DF), no primeiro trimestre de soluções judiciais. 2014 o índice de inadimplênO aposentado José Lima cia nos condomínios atingiu a também perdeu seu imóvel máxima de 14%. O Gama foi por excesso de dívidas. Após a Região Administrativa que se aposentar, ele se separou, apresentou maior índice, se- a renda ficou menor e não guida por Cruzeiro, com 12%, teve como quitar os débitos. e Brasília, 8,5%. “Na época, ainda tentei pagar O panorama mostra a re- alguns meses, mas logo fialidade de muitos brasilienses. cou inviável. Tentei vender o Em poucos meses se veem sem apartamento, mas não consegui a tão sonhada casa própria comprador. E um tempo depois, por causa do acúmulo de dí- recebi uma notificação judicial vidas e à falta de conhecimento falando que meu imóvel ia ser das penalidades trazidas pela leiloado. Fiquei atônito.” inadimplência. “Fiquei sem Segundo o diretor de Cochão. Não conseguia imaginar municação Social do Sindiconque tudo que construí em 21 domínio José Nazareno Martins anos acabou em poucos minu- a desorganização financeira afeta tos. Me senti frustrada e sem diretamente o pagamento das rumo”, diz com a voz embargada taxas condominiais e a gestão. a pedagoga “A inadimMaria Ferplência ocorre Após três meses nandes, de 55 principalmenanos. Há sete consecutivos sem pagar te nos meses anos, Maria o condomínio, o síndico d e feria d o s entrou para a pode fazer um acordo com p r o l o n g a estatística que devido o morador ou ingressar dos, aponta que, a viagens. As com ação na Justiça em média, pessoas têm 1,5 imóvel muitas prioripor dia vai a leilão no Dis- dades. Elas se endividam, em trito Federal devido a ações especial, para adquirir bens dumovidas por condomínios. ráveis, como veículos e rouA dificuldade das famí- pas”, explica. lias em pagar contas atrasadas A síndica Nara Cunha afirapresentou recuo de 6,9% em ma que o prédio que adminis-

Laís Sinício

tra no Guará apresenta 22% de inadimplentes, o que coloca em risco as contas do condomínio. “Equilibrar as contas tem se tornado um desafio. Muitas pessoas não sabem das consequências reais destes atrasos”, explica. Ela ressalta que outro fator que contribui para o atraso dos pagamentos é a multa de, no máximo, 2% ao mês, com juros de 1%, além da não inclusão do nome em cadastros de devedores. “As pessoas escolhem pagar contas que dão problemas mais rápidos, como cheque especial, cartão e escola dos filhos”, completa. Para a advogada Amanda Freitas, as ações na Justiça para cobrança das cotas atrasadas estão crescendo e não são um caminho rápido. O processo pode durar anos até a data que os inadimplentes recebem o montante do arremate, abatidos os valores devidos e os custos judiciais. “O condomínio postula uma condenação do devedor a pagar seu débito, mas antes oportuniza a quitação do montante. Nesta fase de execução, não sendo feito o pagamento, o imóvel irá a leilão”, explica. Recentemente foram aprovadas na Câmara dos Deputados mudanças no Novo Código Civil que buscam acelerar o processo de cobrança na Justiça, inclusive na imediata penhora do imóvel após 12 meses de inadimplência. O Código Civil espera aprovação no Senado e sanção da presidente da República.

O TJDFT é o órgão responsável por leiloar os imóveis de moradores inadimplentes. Somente durante o mês de abril, pelo menos 24 imóveis foram leiloados

BATIDO O MARTELO “Tive que encontrar uma solução rápida para ter um novo lugar para morar. Só recebi o dinheiro dois anos após o leilão”, conta Maria Fernandes. Antiga moradora do Guará, ela se mudou para uma casa emprestada por amigos, em Planaltina, com quatro filhos. De acordo com a advogada Amanda Freitas, o processo é demorado, mas a desocupação do imóvel é rápida. “Em até 45 dias após o leilão o morador é notificado por um oficial de Justiça sobre a data que o imóvel deve estar desocupado”, explica. Ainda completa que, em casos extremos, é usada força policial para a conclusão desta etapa do processo. Perder sua referência de lar e não ter dinheiro para recomeçar é o que aflige quem passa por um processo de penhora. “Não podia fazer planos, nem procurar uma nova residência”, declara José

Lima. Maria complementa: “Só voltei a sorrir quando li o despacho informando que o processo estava concluso. Aquela palavra era minha ‘alforria’ de um pesadelo.”

PROCESSO O síndico pode ingressar com ação de cobrança na Justiça caso o morador não pague os débitos. A decisão judicial estipula o prazo de 24 horas para que o devedor pague a dívida. Caso não haja o pagamento, o imóvel é leiloado em menos de um ano. Após o arremate, as dívidas são pagas e a devolução dos valores restantes ao morador pode demorar até dois anos.


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HISTÓRIA

NA TRILHA DO ESQUECIMENTO Estradas reais remanescentes dos primeiros exploradores do Centro-Oeste padecem com a falta de preservação Thomas Gonçalves (texto, fotos e ilustração) Enviado especial

T

rechos esquecidos, omissão pública e muitas lendas. Assim encontra-se o Caminho do Anhanguera, traçado por Bartolomeu Bueno da Silva em busca de ouro em Goiás no século XVIII. Neste ano, comemora-se o 120º aniversário da Expedição Cruls, iniciativa que determinou as linhas gerais do quadrilátero que delimita Brasília, mas pouco se fala do legado deixado pelos primeiros exploradores do Centro-Oeste depois dos índios. A estrada real – via pela qual o ouro deveria seguir rumo a Portugal – passava por Brazlândia e Sobradinho. Segundo Maria Nigliacio, arqueóloga da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Distrito Federal (Iphan-DF), foram identificados dez sítios arqueológicos relacionados a esses caminhos, porém não há, por ora, iniciativa de tombamento. Mas, a partir deste ano, o governo distrital iniciará uma série de projetos para proteger diferentes patrimônios históricos. Maria alega que a ideia é, eventualmente, iniciar proteção dos trechos re-

manescentes da estrada real encontrados no Parque Nacional. MUITOS CAMINHOS, UMA DIREÇÃO Bartolomeu Bueno da Silva herdou do pai o nome, o apelido, Anhanguera, e a vontade de desbravar o sertão. Expulso de Minas Gerais após a Guerra dos Emboabas, Bueno da Silva resolveu seguir os passos do pai, que, em 1682, havia descoberto ouro no rio Vermelho, afluente do Araguaia. Bueno da Silva partiu de Santana do Parnaíba em 1722, aproveitando trilhas indígenas. E chegou, três anos depois, ao rio Vermelho, onde encontrou ouro e fundou a Vila Boa de Goiás. “Quando Anhanguera encontra cinco veios auríferos em rios diferentes, passa a ser superintendente de minas”, explica o historiador Gustavo Chauvet. Gradualmente, povoados surgiram na trilha do ouro, como Pirenópolis, Corumbá, Abadiânia e Formosa. O primeiro caminho de Anhanguera passava por Luziânia e Planaltina, antes de rumar a oeste. O trecho de São Paulo tornou-se a SP-330. Nesse caminho foi inaugurada a primeira estrada real para escoar ouro de Goiás. Com a che-

gada de pessoas e o crescimento da produção, abriu-se nova estrada real rumo a Salvador, capital da colônia. Essa foi a principal rota entre sertão e litoral. TRILHAS DO PASSADO Percorrer antigos caminhos coloniais não é fácil. Parte do traçado foi interrompida ou se perdeu dentro de propriedades rurais. Mesmo à época, muitos caminhos não passavam de trilhas de terra batida. Para completar, a tradição oral considera muita trilha como “estrada real”. Antolinda Borges, diretora do Museu de Arte Sacra de Goiás Velho, explica não haver consenso sobre a denominação dessas vias: “Cada um chama de uma coisa – ‘trilha do ouro’, ‘estrada real’, ‘estrada colonial’ etc.” Trechos das principais estradas do período encontram-se asfaltados. É o caso da BR-070 e da BR-040. A tecnologia permite transpor obstáculos que, antes, precisavam ser desviados. Assim, as rodovias não seguem exatamente o traçado original. Além disso, estradas secundárias ligavam arraiais a vilas, sendo que, até recente-

mente, algumas ainda eram a principal via de comunicação de distritos. É o caso de Alexânia e Abadiânia, municípios próximos ao DF. Alexânia originou-se no povoado de Santo Antônio do Olho-d’Água. O centro histórico bem preservado esconde passado difícil da região. Com a construção de Brasília e a abertura da BR-060, prefeituras mudaram a sede para ficarem próximas à rodovia – às vezes, sem considerar o impacto na população. Armando Neves, professor aposentado da UnB e morador da região, diz que os efeitos da mudança de sede da prefeitura eram visíveis. “Quando cheguei, isto era nada, arrancavam telhas de casas para vender. Não havia dinheiro, tudo era feito à base de troca.” Situação semelhante encontra-se em Abadiânia Velha. Cravada em vale a 18km da prefeitura, o povoado era destino de devotos de Nossa Senhora de Abadia. O descaso com a região antecede a construção da BR-060. A igreja original, razão de existência da vila, foi demolida em inícios do século XX. Hoje, há outra no lugar, com estilo arquitetônico moderno que destoa do casario colonial. Neusa Diniz, subprefeita do distrito,

reclama da falta de condições: “Aqui ficou decadente por muitos anos, quase acabou”. A precariedade não se limita a casas de taipa mal conservadas – algumas danificadas por chuvas recentes. O distrito não tem saneamento básico e os moradores dependem de caixa d’água para ter o que beber. Tanto em Abadiânia Velha quanto em Olhos-d’Água, há consenso: os municípios precisavam aproximar-se da BR-060, que se tornou a principal rota comercial, superando a antiga estrada de terra dos bandeirantes. A maneira como fizeram, porém, foi errada, abandonando-se o povoado original e quase extinguindo modo tradicional de vida. Em ambas as cidades, não há planos de tombamento nem para a antiga Estrada do Ouro, nem para o conjunto arquitetônico colonial. ÚLTIMA VIAGEM PRO SERTÃO Pela preservação, três cidades da antiga estrada real se destacam: Corumbá, Goiás e Pirenópolis.


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Aquecida pelo turismo promovido por habitantes de Brasília, salta à vista a conservação de Pirenópolis. Antigo entroncamento de estradas, a cidade foi importante posto comercial. Não à toa, trechos da estrada real na região receberam calçamento em pedra. Na fazenda Bonsucesso, parte da via calçada foi preservada. O proprietário, Valdoir Curado, alega não receber ajuda da prefeitura para manter a relíquia: “Por enquanto, ninguém veio falar com a gente”. Goiás, cidade que marcou o início da conquista do Oeste, também guarda muito do período colonial. É ali que a estrada real começava e ainda pode ser visto muito de seu calçamento original. Curiosamente, há incertezas sobre o fundador. Não se sabe ao certo onde Anhanguera foi enterrado e em que local residiu.

Parte disso deve-se ao período final da vida de Bueno da Silva. Excluído do poder pela administração pombalina, o bandeirante teria morrido pobre e esquecido. Se não há certeza sobre o túmulo de Anhanguera, o mesmo não se pode dizer de Chico Mineiro. Acredita-se que a personagem de famosa música caipira foi morta em Ouro Fino, antigo povoado da época da corrida do ouro próximo a Goiás. Da aldeia, restam apenas ruínas da antiga igreja, em meio ao mato alto, dentro de propriedade à beira da estrada. A região foi alvo de invasão de sem-terra há 17 anos, sendo ocupada por 36 famílias. Muitas prosperaram, como é o caso de Francisco Ferreira, que tem pickup Strada vermelha nova e 700 cabeças de gado. “O governo tem muito pra melhorar aqui”, ressalva.

O centro de Olhos-d’Água ainda preserva parte do casario de taipa original

QUEM SABE FAZ A HORA Quem percorre o Caminho do Anhanguera pode encontrar surpresas. Uma delas é Armando Neves, português admitido como professor de filosofia da UnB pouco após chegar no Rio de Janeiro com sua esposa, a brasileira e também professora Laís Neves, em 1967. Ambos foram contratados após mais de 200 professores da UnB demitirem-se em protesto ao AI-1 . No ano seguinte, Neves testemunhou a invasão militar ao campus. Como representante do departamento de filosofia no conselho deliberativo, chocou-se ao ver a falta de preocupação de seus colegas com a situação da UnB, colocando em pauta temas irrelevantes enquanto tanques ocupavam a universidade e um aluno havia sido alvejado. Inconformado, resignou seu cargo de representante de departamento e aproximou-se da resistência estudantil. Compôs comissão de professores para ir ao Congresso reclamar. Não demorou para receber carta de demissão do vice-reitor, José Carlos Azevedo, em 1972. Neves resolveu então isolar-se com a esposa em Olhos-d’Água, onde havia comprado terreno logo que chegou a Brasília. Sensibilizados pela precariedade do povoado devido à mudança da prefeitura, criaram a Feira do Troca, que neste ano chega à sua 84ª edição. A experiência repercutiu tanto que o casal foi personagem de Carlos Drummond de Andrade em crônica do Jornal do Brasil de 21 de janeiro de 1975. Apenas nos anos 1980 Neves foi reintegrado à UnB, mas, desiludido, não ficou muito, e logo se aposentou. Preferiu trocar o docência pela tranquilidade do interior.

Em Pirenópolis, é possível encontrar trechos de estrada real com calçamento de pedra

Pouco restou do povoado de Ouro Fino, como as ruínas da igreja local

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ECONOMIA

DIETA PARA O BOLSO

Alimentos sem lactose e glúten custam pelo menos o dobro dos comuns e pesam no orçamento do consumidor Beatriz Fidelis

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stá cada dia mais caro comer no Brasil. “O grupo de alimentação e bebidas foi o maior responsável pelo aumento da inflação no último mês de abril, causa de 57% da alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15”, explica o economista Estêvão Pinheiro. Apesar do aumento geral no valor da comida no país, há pessoas que pagam mais caro sempre, independentemente da inflação. Rosana Castells, que não pode consumir o glúten, sofre com altos preços. “O alimento que eu posso comer é umas três, quatro vezes mais caro que o normal que vende no supermercado”, conta. “Eu pago 40 reais num produto que normalmente se paga uns 10”, relata Mirian Nereci, que não pode ingerir lactose. A plataforma digital SpecialGourmets analisou o impacto do valor destes produtos. Segundo o estudo, os sem glúten custam em torno de 138% mais caro que os equivalentes com glúten. E o Distrito Federal é o terceiro, entre as unidades da federação analisadas, com a maior diferença: 147%. O preço dos alimentos com restrições pesa no orçamento de alimentação. Suzi Piccolo, consumidora dos produtos tanto sem lactose quanto sem

Thaís Carneiro

Lojas especializadas da capital oferecem diversos produtos adaptados, mas os preços ainda são mais altos do que os de alimentos comuns

glúten, diz que teve de se adaptar. “Como fica entre o dobro e o triplo do valor, eu substituí algumas coisas. Ao invés de leite, tomo suco, e da manteiga, uso geleias”, conta. A maior parte dos produtos disponíveis hoje é importado, por isso os altos preços. “Aqui eu vendo um biscoito que é de uma empresa alemã, mas é produzido na Itália, com tecnologia italiana e embalado no Reino Unido. Imagina quanto custa trazer um produto desses pra cá”, explica Maria Eugênia Cardoso, proprietária de uma das lojas de produtos naturais mais antigas de Brasília, a Mel do Sol, há 28 anos na cidade. Os produtos fabricados no

Brasil, alternativa aos importados, não têm a mesma capacidade de armazenamento dos estrangeiros (precisam ser guardados em geladeiras e duram em média apenas uma semana após abertos) e utilizam matéria-prima importada, o que os encarece. CARO, MAS DESEJADO Apesar da diferença de duas a quatro vezes a mais no valor de produtos sem glúten e sem lactose em relação aos comuns, esse mercado tem crescido no Brasil. “Esses alimentos vêm apresentando destaque, pela crescente demanda”, pondera Estêvão Pinheiro. Pesquisas mostram que o setor de alimentação saudável

(alimentos e bebidas diet, light, sem glúten, sem lactose, naturais e orgânicos) foi um dos vetores para o crescimento do setor alimentício apresentado pelo país nos últimos dez anos. Segundo a organização Gluten Free Brasil, o segmento cresceu 35% apenas em 2010. A perspectiva é que haja 40% de crescimento este ano. Cerca de 40% da população brasileira tem intolerância à lactose e uma a cada cem pessoas no mundo é celíaca (tem intolerância ao glúten). No Brasil, são quase 2 milhões de pessoas, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil (Fenacelbra). De acordo com a equipe da Elos Nutrição, consultório nutricional, o aumento da disponibilidade de alimentos que contêm glúten e lactose faz as pessoas os consumirem mais cedo e com maior frequência. Isso pode causar rejeição no organismo. Outro motivo é a busca pela perda de peso e melhor qualidade de vida. De acordo com a linha da nutrição que defende o tratamento de doenças por meio da mudança do tipo de alimentação, glúten e lactose podem causar problemas como desequilíbrio gastrointestinal e ganho de peso. Para quem não tem sensibilidade, retirar esses componen-

Confira algumas diferenças de preço entre produtos comuns (P.C.) e produtos adaptados, sem glúten ou lactose (P.A.):

Queijo (kg)

P.C. R$ 25 a R$ 43 P.A. R$ 78 a R$ 105

Leite (l)

R$ 2,70 a R$ 4 R$ 4,50 a R$ 5

tes da dieta pode gerar melhoras de sintomas como dor de cabeça, fadiga, imunidade baixa, depressão e outros. “Há melhora na digestão, na evacuação e de problemas ligados à artrite, cardiorrespiratórios e de imunidade”, informa o nutricionista Júlio Aquino. Maria Eugênia, da Mel do Sol, explica que em média 60% a 70% das vendas de sua loja são de produtos sem glúten. “Barrou o dietético, barrou o integral, a soja também caiu muito porque é tão alergênica quanto o leite de vaca”, conta a proprietária, que também é celíaca e tem alergia à proteína do leite. O aumento na procura por esse tipo de alimento também fez com que restaurantes se adaptassem. A pizzaria Baco, por exemplo, tem opções destinadas a celíacos e a creperia Crepe Au Chocolat desenvolveu um cardápio sem lactose. A popularização é benéfica para quem não pode ingerir essas substâncias. “Aumentou muito a variedade. Esses produtos americanos, logo no início não tinha no mercado”, relembra Rosana Castells, diagnosticada com doença celíaca há quatro anos. “Você vê que as pessoas estão consumindo mais, até pela questão da saúde”, observa Suzi Piccolo, que cortou o leite há cinco anos e o glúten há três. Bárbara Andrade

Iogurte (un.) Pão de forma (pct.) Farinha (kg) Macarrão (pct.) Biscoito (pct.) R$ 1,70 a R$ 5,50 R$ 6,00 a R$ 8

R$ 4,00 a R$ 6 R$ 14 (média)

R$ 3 a R$ 5 R$ 4 a R$ 35

R$ 1,90 a R$ 5,50 R$ 9 a R$ 20

R$ 2 a R$ 3,20 R$ 5 a R$ 20


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Brasília,2020dedemaio maioaa202 junho 2014 Brasília, dede junho dede 2014

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ESCAPE DA ROTINA - PERFIL

JÁ NASCEMOS POBRES

Mulher transforma a própria casa em gatil e passa por dificuldades financeiras Janaina Bolonezi e Raila Spindola

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uando anda pela vizinhança onde mora em Valparaíso de Goiás, Maria de Fátima Ferreira é reconhecida por todos. A figura de cabelos brancos, roupas velhas e passos lentos pode não parecer chamativa à primeira vista, mas não é Fátima quem atrai olhares e comentários. Carregando sempre um gato diferente nas mãos, a senhora de 62 anos já não se incomoda mais em ser vista como louca. Fátima abriga, hoje, 245 gatos abandonados em casa e vive na esperança de proporcionar uma vida digna a cada um deles. Na rua onde mora Fátima, um casarão se destaca em meio à simplicidade das outras residências, mas a casa construída por ela e pelo ex-marido já não é mais onde vive. Hoje, um pequeno portão ao lado dá acesso ao barraco de fundo em que reside, onde é inevitável não sentir o cheiro forte de urina. O quintal possui quatro baias que abrigam mais de duas centenas de animais. Apesar de mantido o mais limpo possível, o cheiro já está impregnado no ambiente. O barraco de quatro cômodos em que Maria de Fátima vive já tem quase todo espaço tomado por remédios, alimentos e outros produtos para gatos. O quarto foi transformado em um berçário para recém-nascidos, enquanto Fátima dorme no sofá da sala e a cama serve como guarda-roupa. Quem assiste à vida da mulher conhecida como Louca dos Gatos não imagina a história por trás do rótulo. Nascida no interior de Portugal em uma família humilde de oito filhos, Maria de Fátima foi criada pelos avós. Porém, o maior sonho sempre foi vir para o Brasil. “Quando falava isso para o meu avô ele dizia que o Brasil era uma terra sem lei e que eu nem pensasse nisso”, conta. Sem paciência para aguardar o aniversário de 21 anos – idade mínima para deixar o país na época – Fátima, aos 18 anos, se mudou para Angola, então colônia de Portugal. Viveu cerca de um ano e meio em Luanda, capital do país, e casou-se com um português com o intuito de vir para o Brasil e fugir dos conflitos que aconteciam na luta pela independência de Angola. “Eu não o

amava, mas vi no casamento uma oportunidade”, explica Fátima. “Foi a melhor decisão. Muitos portugueses foram assassinados e nunca mais conseguimos entrar em contato com os nossos amigos.” Mesmo com brigas, Fátima viveu com o exmarido, com quem teve três filhos, por 13 anos. “Quando sentávamos à mesa para as refeições eu dizia para as crianças agradecerem a Deus pelo alimento e ele ria da situação na frente de todos”, narra. “Na separação ele se recusou a me dar qualquer coisa, inclusive parte do valor da casa que ajudei a construir em Valparaíso.” S e m p r e m u i t o espiritualizada, Fátima se especializou em esoterismo, tarô, astrologia, numerologia etc. Conhecida pelo trabalho, foi convidada a atender em Copacabana, Rio de Janeiro, onde morou por um ano e meio. “Sou apaixonada pelo mar e consegui juntar bastante dinheiro, tive joias caras”, lembra. Durante esse período, os filhos de Fátima moravam com o pai em Valparaíso de Goiás, quando se envolveram com as drogas e o crime, o que tirou a vida de um deles. O problema familiar a fez sentir a obrigação de regressar à cidade. Voltando a Brasília, Maria de Fátima usou o dinheiro ganho no Rio de Janeiro para ajudar os filhos e alugar uma casa grande no Guará, com espaço para continuar

os atendimentos. Foi nessa época que deu início aos resgates de gatos de rua. “Chegou a certo ponto que eu tinha 20 gatos e eles ficavam soltos. Já sabia que isso ia dar problema com os vizinhos”, conta Fátima. “Um dia, três deles se reuniram e disseram que não aguentavam mais conviver com os gatos, que ou me livrava deles ou denunciariam para a vigilância sanitária.” Decidida a não abandonar os animais, Maria de Fátima viu como única opção voltar a viver em Valparaíso de Goiás, mesmo sabendo que perderia a clientela. Mudou-se, então, para um lote cedido pelo ex-marido ao lado do casarão que construíram juntos e que hoje é moradia de seus dois filhos. Nasceu ali o Gatil Luz Violeta. Desde então, Maria de Fátima dedica a vida exclusivamente aos gatos que resgata e abriga. Sem renda fixa, vive da ajuda financeira do filho mais novo e de doações de poucas pessoas que se sensibilizam com a causa. Segundo ela, a maioria não ajuda por acreditar que gatos não precisam de resgate e que se adaptam bem às ruas. “Até mesmo alguns voluntários acham que eu não deveria aceitar todos os gatos deixados aqui, mas os que estão lá fora não são melhores que os daqui de dentro. O que eu preciso é de recursos e não de parar com os resgates”, argumenta. Adoentada, dormindo cerca de três horas por dia e sem tempo para cuidar de si, o desejo atual de Fátima é conseguir dinheiro suficiente para continuar reformando o gatil e contratar funcionários. “Quero ficar na áre a administrativa e descansar, mas aqui, sozinha, dormir por muitas horas é quase a sentença de morte para alguns deles, principalmente os filhotes”, desabafa. “Quero que todos eles consigam um dono. Por mais que eu os ame, qualquer lugar vai ser melhor do que este.” Bárbara

Andrad

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Para adotar e conhecer o trabalho: facebook.com/gatiluzvioleta


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CIDADES

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UNIDOS PELA PRESER

Moradores e frequentadores do Mercado Sul se articulam para co Gustavo Debastiani e Luana Melody Brasil

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s fachadas multicoloridas des servem de estímulo para a Embora sejam poucos, chamam a atenção preservação do lugar. há artistas que conseguiram de quem chega às “Não diria que estamos comprar as lojas onde traQSB 12 e 13 d e Taguatin- ameaçados, mas transformar o balham. É o caso de Viviane ga. Em meio a uma paisagem beco em patrimônio cultural é Monteiro, de 33 anos. Ela está – cada ano mais – tomada por um escudo contra a industria- no Mercado há três anos, altos prédios, a região co- lização e verticalização. O que quando comprou a loja onde nhecida como Mercado Sul, fazemos aqui é resistência, po- mora e cria móveis artesanais com seus singelos sobrados, deria ser em outro lugar, mas feitos de materiais recicláveis, é um oásis na cidade-satélite. é aqui que faz sentido”, acre- como paletes. Preocupados com a ver- dita Farid Abdelnour, 33 anos, Mesmo sendo favorável à ticalização imobiliária, mo- morador do Beco e dono de mobilização pelo registro do radores e frequentadores empresa de produção audiovi- lugar, Viviane está de mudando Beco dos Artistas, quadra sual e design de marcas. ça, pois quer morar num local 13 do Mercado que considera mais Sul, organizam tranqüilo. Ela vai deimovimento pelo xar a loja para ser registro do lugar alugada. “Gosto muicomo patrimônio to daqui, só que o histórico e cultural do descaso da AdminisDistrito Federal. Para tração de Taguatinga eles, a medida seré grande. Não quero Viviane Monteiro, artesã no Mercado Sul viria como garantia que minha filha cresda continuidade das ça nesse ambiente”, atividades culturais do espaço e, A articulação do movimen- lamenta a mãe de Beatriz, de também, da permanência dos to para registrar o Mercado dez anos. moradores que vivem de alu- como patrimônio cultural coA artesã reclama dos gruguel no local. meçou após rumores de que o pos que frequentam o beco ao O Beco é habitado por cer- proprietário de mais da me- lado, quadra 12, onde há conca de 50 pessoas ligadas à pro- tade dos 60 imóveis do local sumo de drogas. “Quem passa dução cultural. Ali moram e estava sendo assediado por e vê esse pessoal acha que são trabalham músicos, grafiteiros, grandes empreiteiras. Há o moradores daqui, então tem costureiras, poetas e artesãos. temor de que as construtoras bastante preconceito. Desde Além disso, o local abriga ba- tenham interesse em transfor- que vim pra cá já fui várias res e empresas de informática. mar o local em um complexo vezes à administração e até à Entre as atividades que de condomínios. Procuradoria Geral da Repúa comunidade desempenha “O dono dos imóveis não vê blica, mas a polícia só esteve no Mercado Sul, está a Eco- com bons olhos o movimento aqui uma vez, há poucos meFeira de artesanatos – uma das artístico, porque tem morado- ses. Querem vencer a gente fontes de renda e momento res que invadiram as casas e pelo cansaço, já vi muitos code confraternização dos mo- nós não nos colocamos contra legas irem embora”, indigna-se. radores e frequentadores, que essas ocupações”, explica a deEm resposta ao Campus, ocorre em um sábado de cada signer gráfica Nara Oliveira. a assessoria da Administramês e foi realizada oito vezes. Procurado pelo Campus, ção Regional de Taguatinga Na feira, há teatro de ma- o dono majoritário dos imó- se limitou a informar que está mulengos, capoeira, samba de veis do Mercado Sul não foi ciente da reivindicação dos roda, artesanato, dança de encontrado. Segundo os mo- moradores por segurança e coco – importada do folclore radores, ele só aparece no lo- preservação do espaço físico pernambucano –, entre outras cal para recolher o dinheiro do Mercado e “está estudando manifestações culturais desen- dos aluguéis, que variam de o melhor para a população”. volvidas no Beco. Essas ativida- R$ 400 a R$ 1 mil ao mês. Os moradores, contudo,

"Querem vencer a gente pelo cansaço, já vi muitos colegas irem embora"

Beco dos Artistas, no Mercado Sul. Por meio do registro, população pretende preservar as manifestaçõe construtoras desalojem os atuais moradores e artesãos do espaço

Existem duas maneiras de resguardar um patrimônio cultural. Se ele f terial, passa pelo processo de tombamento. Já se for uma manifestação cultur um bem imaterial, logo, passa pelo trâmite de registro. Os processos são iguais. A diferença é que um vai para o livro de tomba deve-se fazer um inventário, mostrando o valor histórico daquele lugar ou Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é registrado”, exemplifica o histori Artístico e Cultural (Suphac), vinculada à Secretaria de Cultura do Distrito F “A maioria dos tombamentos e registros é de comunidades que se reu documentos que comprovam o interesse popular e a importância de preser de bens imateriais resguarda a continuidade da manifestação cultural, imped dicional ou da atividade artística, como as que existem no Mercado Sul.


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ERVAÇÃO CULTURAL

ra conservar cultura e história locais, além do próprio espaço físico Fernando Henrique

manifestações culturais do local, além de impedir que

ainda não formalizaram o pedido de registro junto à Secretaria de Cultura do DF, nem ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O motivo é o receio de que, caso aprovado, o registro valorize a região. Isso pode levar ao aumento no valor dos aluguéis pagos pelos moradores. “Muitos artistas vivem de aluguel. Então, será que não vai significar o nosso fim? Porque a galera não vai poder continuar aqui se ficar muito caro”, analisa Nara Oliveira, que também é favorável ao registro. Ela ainda destaca que é necessário analisar as implicações da política para ela não acarretar possíveis prejuízos à comunidade. Esperançosa, Nara acredita que o Beco dos Artistas pode acabar recebendo investimento público para preservar a saúde financeira da comunidade local e para melhorias estruturais, se for efetivamente registrado como patrimônio cultural.

ral. Se ele for um prédio ou outro tipo de construção, portanto um bem maação cultural, como uma feira de rua ou uma festa tradicional, é considerado

o de tombamentos e o outro para o livro de registros. Mas, para os dois casos le lugar ou manifestação cultural. “O Cine Brasília é tombado, enquanto o a o historiador Luciano Antunes, da Subsecretaria do Patrimônio Histórico, o Distrito Federal. que se reuniram, trouxeram abaixo-assinados, matérias de jornais e outros a de preservar o bem, observa Luciano. Ele também esclarece que o registro ural, impedindo que outros interesses prejudiquem a realização da festa trado Sul.

"Poucos tombamentos e registros foram feitos por iniciativa do governo" Luciano Antunes, historiador da Secretaria de Cultura do DF

Fernando Henrique

Administração do Templo Budista conseguiu reunir mil assinaturas em petição digital. Entre o envio do pedido de tombamento e a conclusão dos trâmites, podem transcorrer até cinco anos

NO TEMPLO BUDISTA, PROCESSO MAIS ADIANTADO

C

ompletado um ano desde o último registro de bem imaterial feito pelo Governo do Distrito Federal, que foi o da centenária Festa do Divino Espírito Santo de Planaltina, a administração do Templo Budista Terra Pura, localizado na quadra 315 Sul, entrou com o pedido – junto à Secretaria de Cultura do DF – de tombamento do espaço religioso e registro das manifestações culturais. A solicitação foi feita na primeira quinzena de maio. Luciano Antunes, da

Secretaria de Cultura do DF, pontua que o processo está em análise e acrescenta que não há precedentes de registro e tombamento simultâneos. A medida visa à manutenção da arquitetura do Templo e das manifestações culturais realizadas pela administração, caso da quermesse que acontece nos finais de semana de agosto, anualmente, desde a década de 1970. Além disso, o tombamento garantiria recursos públicos para a preservação do centro religioso, uma réplica dos templos japoneses.

Apesar de já ser dona do terreno onde o templo funciona, que foi doado pelo presidente Juscelino Kubitschek no início da década de 1960, a administração quer garantir também que a área nunca seja retomada pelo GDF. O projeto de tombamento já conta com o apoio de mil pessoas que assinaram uma petição digital para o tombamento do Templo. O processo de tornar o lugar um patrimônio histórico e cultural do DF pode levar até cinco anos para ser concluído.


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EMPREGO

CORRETORES INSEGUROS Vendedores de planos de saúde sofrem com a falta de legislação trabalhista que regule e normatize a profissão

Camila Curado

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m 1998, foi sancionada a Lei 9.656 e, pela primeira vez, o ramo de saúde privada passou a ser regulamentado por completo. Dois anos depois, surgiu a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para regular as operadoras do setor e, desde então, tem se mostrado cada vez mais atuante na atualização de coberturas por parte das operadoras e na aplicação de penalidades em casos de fraudes e descumprimento da lei. Apesar dos avanços no mercado, que buscam atender aos direitos do consumidor, um personagem importante dessa história ficou esquecido: o corretor de seguro saúde. Tão fundamentais na intermediação da relação entre clientes e operadoras, esses vendedores não possuem um amparo legal para exercer a atividade, vigente no mercado desde o primeiro governo de Getúlio Vargas, na década de 1930. De lá para cá, pouca coisa mudou para o corretor. Esse profissional continua batendo de porta em porta, com uma pasta na qual carrega tabelas de preços dos diferentes planos para as mais variadas idades. A maioria trabalha para todas as operadoras que, em Brasília, são coordenadas por quatro principais por quatro administradoras de benefícios: QualiCorp, Aliança Administradora, PrevQuali e Unifocus. E é preciso gastar muito a sola do sapato para conquistar novos clientes e angariar vendas, pois a profissão não possui um salário fixo. Reynaldo Donizete, corretor há 25 anos, confessa que, mesmo a comissão recebida pelas vendas sendo suficiente,

Thaís Carneiro

Segundo Reynaldo Donizete, corretor há mais de 20 anos, o aumento no preço dos planos de saúde e a queda das comissões têm dificultado as vendas

buscou outro emprego com renda fixa há três anos para ter carteira assinada, previdência social e outros direitos trabalhistas. No início da carreira, ele ganhava uma porcentagem em cima das seis primeiras parcelas do valor do plano pago pelo cliente. Atualmente, Donizete, assim como a maio-

ria, ganha apenas o montante integral de uma mensalidade por cada plano vendido. Com essa diminuição, alguns corretores sentem-se desestimulados. Na área de vendas de planos de saúde há quase 60 anos, Acelino da Silva Soares se queixa da dificuldade em vender atualmente e do

pouco apoio e incentivo financeiro por parte das operadoras. “Cansei de dar lucro para as empresas e não ver o meu. Não se tem condições de trabalhar, porque você gasta mais gasolina do que fatura. Eu estou parando”, afirma o corretor de 76 anos. Na tentativa de aumentar as vendas, Soares começou a panfletar este ano, mas sem conseguir obter o resultado esperado. A queda da comissão se justifica pelos altos custos das seguradoras com as exigências cada vez maiores por parte da ANS e com as diversificadas coberturas dos planos. Segundo Charles Lindberg, gerente comercial da administradora PrevQuali e corretor de seguros há 16 anos, de toda a receita arrecadada pelas operadoras, 93% são gastos com despesas dos consumidores, e esse resultado era de 70% no passado. “Com isso, a parte sacrificada é a dos corretores. Mas mesmo assim a comissão em saúde é a mais alta no segmento de seguros”, compara. LUCRATIVO, MAS CRUEL Apesar das dificuldades encontradas no cotidiano da profissão, a venda de seguro saúde pode ser atrativa, mas é preciso muita persistência e anos de mercado. Um corretor com alguma experiência, consegue receber até R$ 5 mil em um único dia. Contudo, a falta de regulamentação e a não exigência de um curso preparatório ou técnico abrem brechas para fraudes em diversos níveis. Para Lindberg, os principais erros cometidos pelos corretores advêm do desconhecimento da legislação.

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) normatiza e fiscaliza o mercado de seguros de vida, capitalização, previdência e demais ramos, o que não implica saúde. Para essas áreas, o corretor tem a possibilidade de ser habilitado por meio da Escola Nacional de Seguros. Já em relação aos planos de saúde, não há um curso profissionalizante. Por isso, segundo o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros (Sincor), Dorival Alves de Sousa, a instituição não tem controle sobre o trabalho desses profissionais. “Quando ele [o corretor] tem a Susep e vende saúde, podemos até verificar o grau de prejuízo diante da reclamação. Mas fica difícil para nós. Eu tenho como julgar aqui de forma administrativa e encaminhá-lo para a Susep para aplicação de penalidades administrativas ou pecuniárias através de multas. Mas não existe esse elo de ligação do Sindicato dos Corretores com a ANS. São mundos diferentes”, explica. A ANS aplica punições às operadoras em casos de infrações ou descumprimento da lei. Contudo, a agência deixa claro que não tem nenhuma ingerência sobre o corretor e que não pode interferir nessa área, pois sua relação se limita às prestadoras de serviço na defesa dos interesses do consumidor. Para a entidade, cabem à Susep e às próprias operadoras as devidas sanções aos corretores. Esse passe de bola demonstra a fragilidade do mercado desses profissionais, que não possuem Código de Ética nem regulamentação.


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TABAGISMO

CIGARRO, NÃO TE QUERO MAIS Unidades públicas de saúde promovem terapias em grupo e oferecem medicamentos gratuitos para os que desejam parar de fumar Taise Borges

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studo divulgado pelo Ministério da Saúde em abril deste ano revelou redução do número de fumantes: em 2006, 15,7% da população brasileira fumava, enquanto que, em 2013, o índice foi de 11,3%. No Distrito Federal, os números são ainda mais expressivos. Há oito anos, 22% dos moradores fumavam. Hoje, essa porcentagem é de 10,7%. Além da lei antifumo sancionada em 2011 e do aumento da taxa tributária que elevou o preço do cigarro, outra medida explica a redução do índice: a ampliação do número de centros na rede pública de saúde que oferecem apoio psicológico aos que desejam parar de fumar. No DF, existem pouco mais de 70 centros públicos dedicados ao acompanhamento psicológico de fumantes e ex-fumantes. Todos possuem médicos aptos a receitar medicamentos que a rede pública oferece gratuitamente, como adesivos e pastilhas de goma que repõem nicotina e antidepressivos. Os centros fazem parte do Programa de Controle do Tabagismo do DF. Segundo o coordenador do programa, Celso Antônio Rodrigues da Silva, a razão para a queda da taxa de fumantes na capital está no número de centros de apoio: “A quantidade de centros explica o decréscimo da taxa. Com o tratamento, o paciente aceita que é dependente da nicotina e que deve lutar contra ela”. O tratamento na maioria dos centros é dividido em quatro semanas. Na primeira reu-

nião, os pacientes entendem a origem da dependência pelo cigarro e os efeitos da droga no organismo. No segundo encontro, aprendem a lidar com os efeitos da síndrome de abstinência – insônia, irritabilidade, depressão. Lições para vencer os obstáculos e permanecer abstinente são transmitidas na terceira reunião, enquanto os benefícios da vida sem cigarro são discutidos no quarto e último encontro. Em 2013, ao todo, 4.783 pessoas começaram o tratamento das quatro sessões nas unidades de apoio do DF. Na quarta sessão, 3.256 estavam abstinentes, ou seja, 68% não fumavam há um mês. Nelson Pereira espera pertencer à estatística do final deste ano. O taxista começou a fumar aos 12 anos e, hoje, aos 53, iniciou o tratamento em um dos centros de saúde de Ta-

guatinga. “Eu achava bonito ver meus pais enrolarem o fumo na palha. Naquela época, não sabia a quantidade de problemas que o cigarro ia me trazer”, lembra Nelson, fazendo referência à bronquite que desenvolveu em decorrência do vício. REFERÊNCIA NACIONAL A sala 8 do Anexo II do Hospital Universitário de Brasília (HUB) fica pequena para a quantidade de pacientes que a ocupam nas manhãs de quarta-feira. Cerca de 40 pessoas de todo Distrito Federal procuram, toda semana, orientações no Programa de Controle do Tabagismo da unidade. Em um ano, 90% dos fumantes que recorreram ao tratamento no HUB abandonaram o cigarro. O percentual de sucesso tornou o modelo referência nacional segundo

a médica Eliane Duarte, responsável pelo programa. O diferencial do método desenvolvido no HUB é que não existe uma turma fixa durante o mês, o que evita filas de espera. O tratamento também não dura apenas quatro semanas: os pacientes podem frequentar as reuniões pelo tempo que quiserem. O modelo também inclui terapia em grupo que, de acordo com Eliane, corresponde a uma porcentagem entre 80% e 90% do sucesso do tratamento. Durante o bate-papo, a médica analisa estatísticas do vício: “Uma cartela tem 20 cigarros. Se uma pessoa fuma, por dois anos, uma cartela por dia, ela fumará 14.600 cigarros. Imaginem em 20 anos”, contabiliza. Gláucia Campos frequenta as reuniões do HUB há doze meses e, em maio de 2014, completa um ano sem Laís Sinício

Gláucia Campos, Maria da Saúde e Cristina Maria Oliveira procuraram a terapia de grupo do HUB para conseguirem abandonar o cigarro

fumar. Para abandonar o vício de 30 anos, não foram necessários medicamentos para reposição de nicotina. Bastou a ela frequentar as reuniões no hospital. “Em minha adolescência, era bonito fumar. Minhas colegas todas fumavam. A sociedade impôs que fumássemos e, hoje, impõe que a gente pare”, explica Gláucia. Maria da Saúde está, desde o início do ano, sem cigarro. Ela mora em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do DF. Todas as quartas, acorda às quatro horas da manhã para chegar ao HUB às oito. Maria começou a fumar aos 15 anos por influência do marido, com quem se casou aos 14. Segundo ela, as reuniões são momentos para compartilhar truques para diminuir o desejo pelo cigarro: “Tem gente que come cenoura, semente de abóbora. Também tem quem apele para o santo protetor. De qualquer forma, tem que ter muita força de vontade para parar”. O pneumologista José Rodrigues Vieira lembra que o tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde a principal causa de morte evitável do planeta e que, no Brasil, 90% das pessoas que desenvolvem câncer de pulmão – o mais letal do mundo – são fumantes. “Dos 10% restantes, 1/3 são fumantes passivos, que convivem em casa ou no trabalho, com pessoas viciadas em cigarro”, explica o médico. Em todo mundo, ainda existem 1,2 bilhão de fumantes.


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CULTURA

A REALIDADE ATRÁS DOS PALCOS Músicos enfrentam problemas com a falta de formalidade ao fechar contratos com a Secretaria de Cultura

Laís Sinício

Jéssica Martins e Mariana Pedroza

A

s histórias que rondam os bastidores do cenário musical brasiliense se repetem como um disco furado. O fato é que músicos se sentem inseguros ao denunciar abusos por conta da informalidade da carreira profissional, principalmente ao fecharem acordo de trabalho. Contratos no papel e com rubricas de ambas as partes são raridade em eventos produzidos pelo Governo do Distrito Federal (GDF). É que tudo acontece por telefone, do convite para tocar em shows na cidade ao acerto do valor do cachê. Segundo relatos de artistas experientes, há anos o problema do pagamento de cachês se repete. No entanto, desde janeiro de 2014, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal adotou um novo sistema, a Siscult, a fim de amenizar estes impasses financeiros. Os músicos que querem participar de eventos organizados pelo GDF devem se registrar no sistema online e enviar toda a documentação que comprove sua experiência profissional. Quanto mais shows feitos fora de Brasília, CDs e DVDs gravados e prêmios ganhos forem anexados ao cadastro, maior a quantidade de pontos do artista na tabela de cachês. Apesar de o novo sistema ter passado por um período de testes nos últimos quatro meses, houve falhas quanto ao repasse dos cachês prometidos para os músicos. Gabriela Ramalho (nome fictício) é cantora profissional há 16 anos e teve problemas com o poder público inúmeras vezes. Em

março deste ano ela fez um show na Torre de TV no dia do encerramento da Semana da Mulher e viveu momentos de dor de cabeça dias depois, quando foi informada sobre o real valor que receberia. O produtor da cantora foi chamado para pegar a nota de empenho – papel com dados sobre o dia do show e o valor que será pago para o artista – na Secretaria de Cultura e se deparou com o equívoco. Ele procurou pelos responsáveis e exigiu uma explicação para o ocorrido, mas a resposta recebida não foi satisfatória. “Falaram para o meu produtor que o sistema podia ter sofrido um problema e aí confundiram o preço do cachê”, relembra Gabriela. Na tabela da Siscult – disponível para download no site da Secretaria de Cultura – é possível conferir que o cachê de Gabriela é R$ 8 mil, valor diferente dos R$ 5 mil que ela vai receber. A própria cantora dirigiu-se ao órgão para reivindicar seus direitos e procurou pelo funcionário responsável pelo erro, mas “além de não me atenderem e de fugirem do problema, me prometeram que eu faria em breve pequenos shows para cobrir o prejuízo de R$ 3 mil que eu tive. Até hoje não fui chamada para mais nada”. A última tentativa de contato foi feita por e-mail, na esperança de receber uma resposta oficial porém, mais uma vez, Gabriela foi ignorada durante uma conversa em que ressaltava os anos de experiência no meio musical. De acordo com o presidente do Sindicato dos Músicos do Distrito Federal, Lourin

O músico, produtor cultural e Delegado de Cultura na II e III Conferência Nacional de Cultura, Cacá Silva questiona a forma que a secretaria escolhe as bandas para eventos da cidade

Roosevelt, o não cumprimento no pagamento dos cachês se deve ao fato de não existir o hábito de assinar um contrato de prestação de serviços. Roosevelt comenta ainda que o erro é mais comum do que se imagina porque “99% dos acordos são feitos por telefone. A secretaria não se dispõe a fazer nada por escrito e depois, quando acontece um problema desses, é a palavra do músico contra a do governo”. O próprio presidente do sindicato agendou três reuniões para esclarecer a situação com o alto escalão do órgão, mas nenhum dos encontros aconteceu porque “ou eles estavam em outra reunião, ou as secretárias inventavam outra desculpa para a gente”. Procurado pela reportagem para explicar tais problemas, o subsecretário da Unidade Administrativa da Secretaria de Cultura, Alexandre Rangel, deixou claro que o novo sistema adotado foi feito para facilitar e valorizar ainda mais os artistas da cidade. Quando perguntado sobre o

porquê da falha no pagamento do cachê da cantora que conversou com o Campus, ele argumentou que a proposta feita para ela se apresentar em mais shows não é válida e fere os regulamentos do edital da Siscult. Além disso, mesmo sendo informado pela reportagem de que uma artista reinvidicou seus direitos, o subsecretário argumentou que ela deveria ter procurado a secretaria para que eles abrissem um processo investigativo e reouvessem o resto do dinheiro. Não obstante, Rangel defendeu que os erros financeiros ocorridos antes da adoção do novo sistema são comuns “porque era manual. E tudo que é feito manual a gente erra, né?”. Segundo o presidente do Sindicato dos Músicos, “a secretaria se esquiva dizendo que não pode contratar porque ela repassa essas atividades para uma empresa terceirizada e esta empresa não cumpre com o acordado. Como é do interesse deles não assinar esses papéis, a secreta-

ria fecha os olhos para o que acontece”. Do outro lado do cabo de guerra, Rangel explica que o músico recebe a nota de empenho antes da realização de qualquer show, justamente para evitar erros contratuais e que “o artista não deve subir num palco antes de assinar esse termo. Porque aí ele fica sem os direitos dele”. Apesar da argumentação do subsecretário, Roosevelt deixa claro que a nota de empenho não é entregue antes do show e que “ela não atende à legislação trabalhista porque não tem nada a ver com uma contratação. Na verdade a nota de empenho é só um papel burocrático de uso deles [Secretaria de Cultura] e do governo. E, se a gente for parar para investigar, é aí que podem acontecer os desvios de verba.” Para evitar novos problemas no pagamento dos cachês, o Sindicato dos Músicos entrou em contato com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e com o Ministério do Trabalho para


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Segundo o Código de Defesa do Consumidor,

Lara Silvério

pedir apoio e “uma fisca- da denúncia feita, o resultado GDF – destinado para eventos lização rígida contra a falta nada satisfatório decepcionou como o Carnaval, aniversário de contrato e de uma forma- o músico. “Lamento ter a im- de Brasília e réveillon – e pelização do serviço do músi- pressão de que todos compac- las emendas parlamentares, co”, comenta Roosevelt. tuam com as ações do atual responsável por eventos meOutro alvo de críticas governo”, queixa-se Cacá. nores. A fim de facilitar o mados artistas locais é o revezaDurante uma conversa nejo da verba, foram criadas mento proposto no Decreto por telefone com um gestor cinco categorias de evento em 34.577, publicado no Diário da secretaria, a preocupação Brasília que vão desde o show Oficial em agosto de 2013. Ele da DJ Fabiana (nome fictício) de pequeno porte até os medetermina que a Siscult alter- transparece logo na primei- gaeventos. Para os shows com ne os músicos entre os even- ra pergunta: “Eu não vou ser menor público, a secretaria tos de acordo com o estilo prejudicada no rodízio?”. A estipula um gasto entre R$ 33 de música e da relevância de dúvida surgiu enquanto Fa- mil e R$ 100 mil para cobrir cada um no cenário cultural biana informava que não po- os cachês e a infraestrutura. da cidade. Cacá Silva, funda- deria tocar no evento para o Já para os maiores eventos, dor de uma banda com expectativa de brasiliense, comenta mais de cem mil que, mesmo o soros valores "A secretaria não se dispõe a pessoas, teio sendo eletrônico, ficam entre R$ 1 e há interferência de R$ 3 milhões. fazer nada por escrito ” terceiros no procesApesar da alta Lourin Roosevelt so porque não justiverba do órgão e do fica “alguns artistas investimento feito Presidente do Sindicato dos Músicos na lista da Siscult se na cultura local, o apresentarem três vezes segui- qual fora convidada uma hora músico Felipe Portilho fica redas, enquanto outros ainda não antes. Em trechos do diálo- ceoso quando é chamado para fizeram ao menos um show. O go, a DJ afirma que não lhe tocar em eventos pequenos da decreto que propõe a inclu- informaram sobre o local do cidade. Segundo ele, a pouca são de artistas na verdade evento no qual deveria se divulgação não atrai público e está excluindo.” apresentar e, por isso, teve não agrega valor cultural para Em meio à onda de mú- que perguntar o lugar pelo a região. “Uma vez fiz um show sicos insatisfeitos, Cacá foi menos três vezes. O gestor na antiga rodoferroviária e não além de uma simples reclama- explicou que houve atraso tinha praticamente ninguém. ção na Secretaria de Cultura e no comunicado pois foi um O dinheiro pra bancar aquilo resolveu tomar medidas mais evento organizado em cima ali veio dessas emendas parlaseveras. Ele entrou com uma da hora, mas, na verdade, mentares e eles gastaram uma ação no Ministério Público “todos os comunicados são nota pra uma coisa sem sentido Distrito Federal e Terri- feitos com uma semana de do”, comenta Portilho. Confirtórios (MPDFT) para obter antecedência”. mando a teoria do músico, respostas sobre a forma como Na contramão dos proble- Lourin Roosevelt alega, em o rodízio de artistas era con- mas enfrentados por alguns tom irônico, que a distribuiduzido. Dentre os questiona- artistas está a verba que a ção das verbas parlamentares mentos, estava o porquê de Secretaria de Cultura recebe “fica 50% com o próprio paralguns músicos serem privile- todos os anos. O orçamen- lamentar, 20% com a secregiados em detrimento do es- to da instituição depende taria, 30% com a produtora e o quecimento de outros. Apesar dos recursos repassados pelo resto com o músico”.

o ressarcimento deve ser feito imediatamente e com abatimento proporcional do valor gasto.

Há um ano, Pedro Ferreira e Luísa Barbosa aguardam ressarcimento de ingressos comprados para um festival de música

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SETOR PRIVADO

O PÚBLICO TAMBÉM É LESADO NO CENÁRIO MUSICAL DO DF Órgãos de esfera pública não estão sozinhos quando se trata de problemas com verba, no âmbito privado também ocorrem erros semelhantes. Porém, produtoras particulares têm que lidar primeiramente com o público. Após quase três anos de espera, Rita Frazão tem a oportunidade de ir ao show da banda NX Zero, da qual é fã desde 2006. O anúncio do festival Circuito Brasília - Infinito Em Comum, foi feito dois meses antes da data escolhida para o evento, 10 de maio do ano passado. Com a promessa de ser um evento com shows de bandas da cidade e de outros estados, os ingressos começam a ser vendidos e são feitas publicações em redes sociais para divulgar o acontecimento. Até então, tudo certo para o show acontecer. Três dias antes da apresentação, uma das bandas lança uma nota de cancelamento do evento devido ao descumprimento do contrato assinado pela produtora RocketRock Produções. No mesmo dia, fãs querem reaver o dinheiro do ingresso, entre elas a estudante Beatriz Sousa, que efetuou a compra junto com uma amiga. “Compramos o ingresso no dia primeiro de abril e depois ficamos ansiosas contando os dias. O nosso bom-dia no colégio era: ‘Faltam x dias’. E assim foi até o dia em que ficamos informadas do cancelamento repentino.” A produtora anuncia que, apesar do cancelamento com uma das atrações, o festival vai acontecer com os outros artistas anunciados. Um dos representantes da produtora afirma que, após o festival em maio, outro show será produzido para trazer a banda que cancelou a participação. Sendo assim, aqueles que compraram o bilhete de entrada para o evento podem guardálo após a primeira apresentação e exibi-lo também na nova data. Chega o dia 10 de maio e o público ainda está disposto a ir ao evento, mesmo sem uma das bandas. Porém, horas antes do início do show, todo o festival é cancelado. Com isso, quem havia comprado ingresso se manifesta nas redes sociais, entra em contato com representantes da produtora por telefone e e-mail. Logo, são avisados que serão ressarcidos. O que segundo o Código de Defesa do Consumidor, deve ser feito imediatamente e com abatimento proporcional do valor gasto. Um ano se passou e Luísa Barbosa ainda não recebeu o dinheiro de volta. Entrou em contato por telefone com a produtora e mesmo assim não conseguiu reaver a quantia paga pelo bilhete. Além de telefonar e não ter o ressarcimento, o instrutor de artes orientais Pedro Ferreira entrou no Juizado de Pequenas Causas:“Ele (produtor do evento) não compareceu no dia da audiência”. A estudante Hellora Fonseca é uma das poucas que conseguiu o dinheiro de volta, mas a quantia não foi devolvida pela produtora do show e sim pela rede de lojas que estava encarregada de vender os ingressos. “Processei a loja”, conta. A reportagem entrou em contato com representantes da produtora, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.


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CIDADE

EM ESTADO TERMINAL

Trabalhadores de empresas de ônibus de Brasília sofrem com condições precárias em garagem da Asa Norte Tainá Farfan

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otoristas dos milhares de carros que passam diariamente pela rua que liga a W3 Norte à Epia, no Setor de Terminais Norte (STN), parecem não perceber o amontoado de ônibus parados ou entrando e saindo de uma área de terra vermelha, ao lado do supermercado Atacadão. Talvez se incomodem vez ou outra com os gigantes do trânsito parados na pista direita, atrapalhando o fluxo do tráfego. Porém, dificilmente o cidadão comum sabe que naquela área o problema é muito maior. Sem refeitório, água, banheiro, piso ou qualquer outra característica que represente estrutura mínima e digna de trabalho, funcionários de três empresas de ônibus de Brasília são obrigados a parar no que hoje é chamado Terminal da Asa Norte (TAN). "Vocês não têm ideia do que a gente passa aqui", diz Nora Ney, cobradora há 18 anos. Sheldon Pires, cobrador há três anos, conta algumas das dificuldades do dia-a-dia: "Aqui, além de não ter banheiro, não tem bebedouro. Tem apenas um garrafão que não sabemos da onde vem a água". A água vem da torneira de um posto e é colocada em um galão "coberto" por lama, não é filtrada e cada funcionário tem que ter seu próprio copo, porque não há copos descartáveis. Já a falta de banheiro prejudica ainda mais as mulheres. "Se não escondo atrás dos ônibus no mato, tenho que ir ao supermercado", revela a cobradora Daniela Flores. A falta de asfalto é

outro problema: "Quando não é poeira, é chuva e lama." A única lanchonete do terminal foi improvisada em um trailer por Lúcia Queiroz e o irmão Naldo, pois não há energia, água ou esgoto. "Eu trago tudo pronto de casa e só frito", conta a dona, que vende lanches há oito anos no local. Como assiste de perto os "perrengues" dos funcionários com a falta de estrutura, ela denuncia: "Quando chove, atola e quem paga o guincho são os motoristas. Se quebra retrovisor ou para-brisa, por exemplo, são os motoristas que pagam. E eles têm medo de reclamar porque podem ser demitidos. É um absurdo." Dos 29 terminais distribuídos entre as cidades do Distrito Federal, este, localizado quase em frente à entrada do novo bairro Noroeste, é o que possui estrutura mais precária. "Eu passo por outros terminais e esse com certeza é o pior", revela o motorista Marco Antônio Nascimento. E o problema não é recente: "Esse terminal é provisório desde que começou a linha W3 Norte", complementa. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Transportes do DF, o Setor de Terminais Norte recebeu esse nome justamente por prever um grande terminal rodoviário, que integraria várias regiões do Distrito Federal. A princípio, seria construído onde hoje está o Shopping Boulevard, mas a área foi vendida ao setor privado em governos anteriores. Só de uma das empresas que utilizam o terminal,

120 ônibus passam pelo local entre as 7h e 18h50. O fiscal de uma delas, que não quis se identificar, conta que há motoristas que esperam de três a quatro horas no terminal entre uma viagem e outra. "O encarregado geral, meu chefe, falou, há mais ou menos 30 dias, que tem previsão para melhorar, mas não falou a data", diz. A Secretaria de Transportes declarou que o projeto de construção do TAN está sendo licitado e tem prazo de 18 meses para conclusão da primeira etapa, após assinatura do contrato.

De acordo com a Secretaria de Transportes, "enquanto não houver terminal rodoviário na região, cabe aos empresários dar a seus funcionários um espaço digno".

A reportagem tentou entrar em contato com as empresas São José, Marechal e URBI, mas os responsáveis não estavam presentes nas empresas para falar sobre o assunto.

Trabalho Escravo O governo brasileiro assina convenções da Organização Nacional do Trabalho que preveem condições estruturais adequadas, além de existirem regras do Ministério do Trabalho e Emprego que também asseguram essa obrigação. A advogada especialista em direito do trabalho Thailine Lustosa ressalta que estrutura trabalhista como essa é análoga ao do trabalho escravo. "O funcionário pode procurar um advogado, entrar com representação no Ministério Público do Trabalho e abrir procedimento investigatório. Pode, ainda, entrar com danos morais ou contra a própria empresa, porque é licitação pública." De acordo com a advogada, o ministério não divulga identidade da pessoa que faz a denúncia, ponto importante para esses trabalhadores que temem demissão caso reivindiquem seus direitos. "Trata-se de segurança e ������������� saúde do trabalhador", conclui.

Os motoristas são obrigados a estacionar os ônibus em chão de terra. Mas antes disso devem desviar do esgoto que passa no meio da garagem

Lara Silvério

Funcionários não possuem coleta seletiva e improvisam um lixão no local.

Nora Ney não esconde o incômodo. ”Dois homens já me viram indo ao banheiro no mato. É difícil esconder, né?”


Campus

Brasília, 20 de maio a 2 de junho de 2014

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TRÂNSITO

NEM TÃO EXCLUSIVAS ASSIM Dados de órgãos fiscalizadores mostram que os ônibus raramente estão sozinhos nas faixas destinadas a eles

Henrique Arcoverde

E

m Brasília, dezenove horas. Ao mesmo tempo em que o locutor da Voz do Brasil cumprimenta o ouvinte do rádio, 140 mil veículos trafegam na EPTG. O engarrafamento na via é inevitável. A tentação em pegar a faixa livre da esquerda toma conta do motorista. Trata-se, no entanto, de uma pista exclusiva para ônibus, táxis e escolares, e trafegar por ela pode acarretar em multa grave. Muitos motoristas, contudo, preferem arriscar. Pelo menos é o que indicam os dados do Detran e do Departamento de Estradas e Rodagem (DER): desde que as faixas exclusivas começaram a ser inauguradas, no final de 2011, os órgãos aplicaram uma média de 716 multas diárias a motoristas que transitam de maneira irregular nos cinco trechos restritos do Distrito federal – EPTG, EPNB, W3 Sul e Norte e Setor Policial. É o caso do engenheiro agrônomo Victor Oliveira, que, mesmo já tendo sido multado duas vezes, continua a dirigir nas faixas exclusivas. “Nos horários de pico os engarrafamentos são muito grandes. Se não usar, eu demoro mais de duas horas para chegar em casa”. Para o especialista em transportes Paulo Cesar Marques, parte do problema está na mentalidade dos motoristas de carros, que por serem maioria acreditam que têm mais direitos do que os outros veículos. “Quando o motorista vê uma pista vazia, ele acha um abuso o fato de não poder usar aquele espaço. Então, ele usa mesmo estando sujeito a uma penalização."

Fernando Jordão

Veículos transitam na faixa da esquerda na EPTG: multa neste caso é considerada grave e custa R$ 127,67 ao bolso do motorista

Para Victor, outro problema foi a forma como as faixas restritas foram introduzidas. "Ao invés do GDF construir novas faixas para ônibus, usou pistas já existentes, em vias que sempre foram muito congestionadas e transformou em faixas exclusivas, aumentando ainda mais os engarrafamentos." Mas para Murilo Santos, superintendente de Trânsito do DER, responsável por fiscalizar a EPNB e a EPTG, a reclamação não justifica a conduta inadequada dos motoristas. "A pista exclusiva na EPTG foi construída especificamente para o trânsito de ônibus. Já na EPNB foi efetuada a pintura na faixa já existente, priorizando o transporte público sobre o individual, justamente para que ocorra essa migração dos usuários." Além de criticar o desrespeito das faixas exclusivas, o motorista de ônibus Edvaldo Santos reclama das imprudên-

cias dos condutores de carro. "Na hora dos engarrafamentos os carros acham que a pista está vazia e nem olham para ver se está vindo alguém. A gente nunca consegue desenvolver a velocidade da via porque senão causaria um acidente." Para o especialista Paulo Cesar Marques, uma das formas de se reduzir o número de multas em faixas exclusivas é dar mais publicidade a essas ocorrências. "Por não terem visibilidade na mídia, como as multas por dirigir alcoolizado ou de velocidade, o motorista que anda nas pistas restritas acha que vai ficar impune, que a penalidade não vai chegar na sua casa." Para tentar diminuir os congestionamentos na EPNB e evitar o uso das faixas exclusivas por veículos não autorizados, o DER planeja ampliar o número de pistas da via. Segundo o superintendente de Trânsito do DER Murilo Santos o processo está em fase de licitação. O especialista Pau-

lo César Marques, no entanto, não acredita que essa seja a melhor solução para resolver o desrespeito às faixas restritas. Para ele, o poder público precisa fazer campanhas para mudar o pensamento do motorista a respeito da divisão das vias. "O espaço deve ser equitativo à quantidade de pessoas e não à de veículos. Então, não é justo que o passageiro de ônibus tenha que esperar em um engarrafamento que é causado pelo excesso de carros, e não pelo excesso de ônibus." Procurado pelo Campus,

o Detran, responsável pela fiscalização das faixas da W3 Sul e Norte e Setor Policial, não disponibilizou nenhum funcionário para dar entrevista e não respondeu todas as perguntas feitas pela reportagem. Por meio de sua assessoria de imprensa, informou que, além da fiscalização, realiza ações educativas e de conscientização nas faixas das vias de sua responsabilidade. *Colaborou Gustavo Debastiani

Horário de funcionamento

Todos os dias e horários, com exceção da EPNB onde a faixa exclusiva é liberada nos fins de semana e feriados.

Quem pode utilizar

Ônibus, microônibus, táxi, ônibus fretado, veículo de transporte escolar e ônibus interestadual autorizado pelo DFTrans

O sistema de multas nas faixas exclusivas

A fiscalização é feita por meio de equipamentos eletrônicos (OCRs) e policiamento dos fiscais de trânsito do DER e do Detran. OCR é uma sigla em inglês que significa reconhecedor ótico de caracteres. Na prática, esse equipamento faz uma leitura das placas que circulam pela faixa, e registra aquelas que não condizem com as de veículos autorizados.

Tipos de multas

As multas podem variar de acordo com a posição da faixa exclusiva. No caso da EPTG, onde a pista restrita fica à esquerda da via, a infração é grave, com multa de R$ 127,67 e cinco pontos na carteira do motorista. Já no caso da EPNB, W3 Sul e Norte e Setor Policial, onde a faixa fica à direita, a violação é leve, com multa de R$ 53,20 e três pontos na carteira. Os ônibus que trafegam fora das pistas exclusivas também podem ser multados por fiscais de trânsito. A infração é considerada média, com multa de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira. A exceção é a faixa da EPTG, restrita apenas a ônibus que não fazem paradas dentro da via.


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Campus

Brasília, 20 de maio a 2 de junho 2014

VAMOS QUEIMAR AS FITAS, O PÁ Rômulo Andrade

Porto e Coimbra, Portugal – É hora de pegar o canudo e jogar o chapéu para o alto! Mas em Portugal, a forma de comemoração por ter concluído a faculdade é um pouco diferente. Regada a muita cerveja, a Queima das Fitas é um evento com mais de 80 anos de tradição, em que formandos promovem um desfile, chamado de cortejo, pelas ruas das cidades. É um verdadeiro carnaval ao ar livre. Cada curso decora um caminhão e os alunos desfilam distribuindo bebidas aos habitantes da cidade, molhando-se uns aos outros e celebrando o tão esperado momento. Vestidos com o traje acadêmico – bem formal, com direito a colete e gravata – os formandos vão em cima do caminhão, os calouros atrás, e os já formados na frente, enquanto familiares aplaudem, tiram fotos e participam da festa. Diversas cidades possuem a própria Queima das Fitas, mas as de Porto e Coimbra são as mais famosas. Neste ano, cerca de 200 mil pessoas participaram dos cinco dias de festa no Porto, segundo a Federação Académica do Porto (FAP)

A “queima” é o rito de passagem das pastas que os formandos utilizaram no último ano da faculdade para os alunos que irão se formar no ano seguinte. Cada pasta tem uma fita com a cor do curso Os caminhões são decorados com papel crepom em diversas cores. Cada curso cria um formato diferente. Normalmente utilizam armações de ferro, madeira e arame e, ao final, um júri elege o carro mais criativo e elaborado

Para dar sorte ao novo graduado, amigos e familiares têm o costume de dar três bengaladas na cartola do formando, seguidas de três beijos no rosto. Cada curso tem uma cor diferente no cortejo. Medicina, por exemplo, é amarela

Além da decoração festiva, os carros possuem mensagens de protesto relacionadas à política e à área de atuação do curso. Como é um evento social, os estudantes aproveitam o momento para tentar abrir os olhos de governantes e população


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