Campus - nº 408, ano 43

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INTERIOR

EM EXTINÇÃO Com cada vez menos jovens, povoado de Baunilha (GO) é um retrato das comunidades rurais brasileiras

TRÂNSITO

TRANSPORTE IRREGULAR Utilizados de maneira clandestina no Distrito Federal, mototáxis aguardam regulamentação

ESPORTE

REDES INTERNACIONAIS Jogadores de vôlei buscam melhores oportunidades e participam de competições fora do Brasil

BRASÍLIA, 26 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2013

NÚMERO 408 ANO 43

CAMPUS Camila Menezes

HOMENS NA MIRA Comum em mulheres, câncer de mama também atinge o sexo masculino. Há preconceito e despreparo no atendimento


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Brasília, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2013

CAMPUS

Carta do Editor

Recorte

Alessandra Azevedo

Johnatan Reis

Foram nove edições publicadas por duas turmas, mais de 90 dias de trabalho e 74 páginas escritas. Contas fechadas, o Campus chega ao último número do semestre. O que ainda não chega a lugar algum é a regulamentação da atividade dos mototáxis. Há 18 anos no Distrito Federal, e ainda clandestinos, eles procuram espaço no trânsito e nas leis brasilienses. A matéria da página 7 mostra que faltam fiscalização e segurança, mas sobra indiferença. Há descaso também nos relacionamentos modernos ou é apenas choque de gerações? A página 8 fala de aplicativos de celular criados com a finalidade de formar casais, mesmo que só por um dia. “Esse eu quero. Esse não é bonito o suficiente. Esse talvez dê para o gasto.’’ Algumas avaliações – baseadas unicamente na aparência – e cliques depois, surge uma relação em potencial. Seja para conhecer gente nova ou para fins de trabalho, é difícil pensar em um mundo sem internet. Imagine um lugar desconectado, que não tenha wifi, 3G ou celular. Não é preciso voltar ao passado para conhecê-lo – fica

logo ali, a 400 km de Brasília. Além de um único orelhão, duas igrejas, uma escola e um mercado resumem o povoado de Baunilha, em Goiás. A matéria das páginas 4 e 5 explica por que o número de jovens diminui significativamente a cada contagem. Baunilha está com a data de validade expirando? Os jogadores de vôlei brasileiros também não estão satisfeitos com as condições oferecidas em casa. A matéria da página 6 mostra que eles procuram – e encontram – oportunidades melhores em outros países. Valorização dos novos talentos e salários mais altos motivam os atletas a enfrentar desafios no exterior. Já a matéria da página 3 traz histórias de pessoas que se superam em outro aspecto. Homens que tiveram câncer de mama provam que a doença não escolhe o alvo de acordo com o gênero. Além do desconhecimento, é visível o despreparo da sociedade e dos profissionais da saúde em lidar com o problema quando ele é voltado ao sexo masculino.

Memória O Campus número 306, de julho de 2006, trouxe a matéria Transporte ilegal desafia fiscalização. A repórter Taline Barros lançou luz à questão, que, à época, causava divergências entre o Detran e o DFTrans, impasse entre juristas e um acidente grave por semana. A reportagem destacou a deficiência do transporte público, uma das causas da ilegalidade. Além disso, foi

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exposta uma questão ética. Conta a repórter: “Fiscais do Detran e DFTrans asseguram que 70% dos motoristas pegos são policiais militares”.

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

No primeiro semestre de 1993, a última edição do Campus trazia a fotografia da equipe – o que se repetiu algumas vezes mas cessou enigmaticamente ainda nos anos 90. A turma B, mais de 15 anos depois, resgata o costume

Ombudskvinna

Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor

Nathalia Zôrzo Professores desafinados apresenta excelente pauta e variedade de fontes – apesar de o repórter não considerar a opinião de algum aluno da EMB. O problema da reportagem é a forma confusa e um tanto burocrática como foi redigida. Uma solução para tornar o texto mais claro é apresentar no lead um exemplo prático de como seria ter aulas com um professor de música que nem sequer sabe tocar o instrumento que ensina. Há tempos a ombudskvinna não lia um nariz de cera como o que aparece em Financiamento sem fronteiras. Mas o texto fica melhor nos parágrafos que se seguem. Se diferencia em dois aspectos: apresenta uma ideia inusitada e conta quase que exclusivamente Editora-chefe: Alessandra Azevedo Secretário de redação: Eduardo Barretto Editores: Jéssica Gotlib, Jhésycka Vasconcelos, Laura Tizzo e Washington Luiz Diretor de arte e fotografia: Thiago Amâncio Repórteres: Caroline Bchara, Emily Almeida, Gabriel Lopes, Jéssica Moura e Marina Carlos

com fontes internacionais. No entanto, o fato de o site ser acusado de fraude deveria, no mínimo, aparecer no sutiã e não apenas no sétimo parágrafo do texto – quando o leitor já está deslumbrado com a possibilidade de viajar de graça para o exterior. Quedas e prejuízos apresenta lead convidativo e personagens que ilustram bem o conteúdo. No entanto, não deu certo a ideia de encerrar o texto fazendo referência a uma declaração que aparece no abre. O efeito é interessante, mas a maneira como foi construído o último parágrafo, não. Sotaques, sobrenomes e imigrações gaúchas não têm nada a ver com a falta de luz no PAD. Além disso, dados da CEB que aparecem no

sutiã precisam ser creditados, da mesma forma em que ocorre no subtítulo de O grupo mais exposto, com informações do Datasus. Faz de conta levado a sério é a típica matéria relatório; sem valor notícia e sem graça. Lavouras na cidade é igualmente tediosa e a impressão é de que o texto não passou por revisão alguma. A palavra “urbana” aparece três vezes no mesmo parágrafo, o espaçamento entre caracteres está incorreto em três ocasiões, falta vírgula em alguns lugares e sobra em outros. Emater foi escrito com letra minúscula no sétimo parágrafo e a palavra “fomentar” ganhou um “r” a mais no dicionário brasileiro.

Fotógrafos: Hermano Araújo, Johnatan Reis e Nívea Ribeiro Colaboração: Camila Menezes Projeto Gráfico: Beatriz Ferraz, Hermano Araújo, Marianna Nascimento e Nadjara Martins Professores: Sérgio de Sá e Solano Nascimento Monitoras: Marianna Nascimento e Nadjara Martins Jornalista: José Luiz Silva

Gráfica: Palavra Comunicação Tiragem: 4 mil exemplares Contato: 61 3107-6498 / 6501 E-mail: campus@unb.br Endereço: Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Instituto Central de Ciências - Ala Norte (Minhocão), Brasília, Distrito Federal CEP: 70.910-900


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SAÚDE

NÃO É SÓ COISA DE MULHER Um em cada cem casos de câncer de mama se desenvolve em homens. Doença ainda é conhecida como exclusividade feminina

Marina Carlos

F

requente em pessoas do sexo feminino, com 13.225 mortes no ano de 2011, o câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no Brasil. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que o diagnóstico não é exclusivo das mulheres. No mesmo ano, 120 casos foram registrados em homens, com idade entre 50 e 70 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em cada cem casos de câncer de mama no Brasil, um é desenvolvido em homens. Para a presidente da SBM do Distrito Federal, Fernanda Salum, a doença é rara, mas merece atenção. “É recomendado que homens que encontrem qualquer tipo de alteração no peito procurem um mastologista”, alerta a médica.

O câncer masculino tem características parecidas com o de mulheres. No entanto, não há testes, como a mamografia, que previnam a doença neles. O autoexame é a única maneira de perceber qualquer alteração. “Geralmente, o homem acaba sentindo algo diferente e vai ao médico. É necessário ficar atento em nódulos que apareçam’’, explica o oncologista clínico Rafael Kaliks. Foi o caso de Walter Gomes, de 74 anos, que em 2003 sofreu com a doença. Ao trocar de roupa, ele percebeu que havia um caroço embaixo do peito e mostrou para a mulher. “Imediatamente procuramos um médico. Eu só pedia a Deus para que nada acontecesse ao meu marido”, conta Dilma Gomes, mulher de Walter. A família realizou os priMarina Carlos

Curado do câncer de mama, Walter Gomes passou por tratamentos semelhantes aos utilizados em mulheres. Foram cinco anos usando medicamentos contra a doença

meiros exames no Hospital de Base e continuou o tratamento em São Paulo. Quando descobriu a raridade do câncer, Dilma procurou o melhor especialista na área: “Há 10 anos a doença era ainda mais rara. Meus filhos logo organizaram a operação do pai fora daqui”. Após trinta dias da cirurgia, Walter retornou a Brasília e fez quatro meses de quimioterapia e radioterapia em uma clínica especializada do DF. “Ele reagiu muito bem ao tratamento, não caiu cabelo nem sobrancelha. A vida dele era normal, íamos ao shopping e passeávamos como qualquer casal”, recorda Dilma. A presidente da SBM explica que o tratamento em homens é semelhante ao das mulheres. “Uma diferença é que o homem geralmente, no período de hormonioterapia (fase final do tratamento), usam mais hormônios que as mulheres”, ressalta Salum. Após passar cinco anos tomando a mesma medicação, Walter lembra que, no último aniversário, pediu a Deus que ele pudesse comemorar mais “uma dúzia de idade”. “Os médicos diziam que meu marido era um homem de muita fé, a gente sabia que ele sairia daquela situação”, diz Dilma. Ela conta ainda que as pessoas não acreditam que a doença possa afetar homens. “Até hoje onde eu chego é uma surpresa. Sempre me perguntam como é possível. Por isso, faço questão de contar a história para alertar a todos”, explica. A falta de informação não ocorre só entre os leigos. Dentro do ambiente hospita-

lar também é comum encontrar profissionais que ainda não sabem lidar com o câncer de mama masculino. “É constrangedor chegar para fazer um exame de mama e a recepcionista se assustar por ser um homem”, conta Geraldo Dias, aposentado de 74 anos que teve um nódulo encontrado no peito há um ano e meio. Para José Bines, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o que faltam são médicos e profissionais preparados para a situação. “Apesar de raro, é necessário dar formação às pessoas para lidarem corretamente com este tipo de paciente”, afirma o oncologista clínico. A técnica de enfermagem Evangela Ferreira, que trabalha há cinco anos no setor de mastologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), diz que os profissionais da área não recebem nenhum tipo de treinamento. “Não sabemos como lidar com um paciente homem que tenha a doença”, reconhece. Ela ressalta que seria importante capacitar os funcionários para que eles não façam comentários inadequados. “Nós não podemos falar ‘nossa, essa doença pode afetar o sexo masculino’. É desconfortável para o paciente.” Geraldo diz que ao descobrir o nódulo imaginou que poderia ser câncer. “Minha mãe morreu de câncer de mama. Por isso, com medo, procurei ajuda.” De acordo com Rafael Kaliks, aproximadamente 20% dos homens que desenvolveram a doença tinham parentes com o mesmo câncer. A presidente da SBM aler-

CAMPANHAS Depois do outubro dedicado às mulheres, o novembro azul chama a atenção para a saúde do homem. No entanto, em meio às campanhas governamentais de prevenção de doenças, ainda não existem aquelas que divulguem o câncer de mama masculino. A presidente da SBM afirma que, pela raridade, a doença não é uma preocupação de saúde pública, mas acrescenta que o alerta é válido. Bines, do Inca, complementa: “Para que campanhas fossem feitas pelo governo, esse câncer deveria estar no mínimo entre uma das principais causas de mortes em homens e a realidade atual não é esta.” ta: “Toda pessoa que teve um homem na família com a doença deve ficar de olho. Por ser raro, pode ser genético”. No dia 11 de novembro, Geraldo fez a cirurgia de retirada do nódulo e aguarda o resultado dos exames. “A gente acha que só mulher pode ter isso, não tomamos cuidado. É preciso acabar com esse tabu”, reforça o paciente.


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BAUNILHA

O LUGAR ENTRE PA

Sem acesso ao estilo de vida que caracteriza as cidades, po

Emily Almeida (texto) e Johnatan Reis (fotos) Enviados especiais

É

apenas uma rua o espaço que determina o povoado de Baunilha. Em frente à pequena mercearia, uma mesa de sinuca e um telefone público – o único da região – movimentam o lugar. A alguns passos dali, a escola e duas igrejas – uma protestante e uma católica – ajudam a saber que se trata de uma comunidade rural. O silêncio da rua só é quebrado quando algum vaqueiro atravessa o gado para levá-lo ao pasto. Ou pelo trânsito dos turistas para a pesca esportiva no Lago da Serra da Mesa, para o qual o povoado é caminho. Nesse lugar, que pertence ao município de Niquelândia (GO) e está a 400km de Brasília, vivem 30 famílias, que tiveram ao menos duas gerações criadas e crescidas ali. Cristiane Martins de Freitas, 27 anos, é neta do primeiro homem a construir casa no local onde havia ramos de baunilha do cerrado. Cristiane lembra que ela e sua irmã Jocilene, 26, costumavam brincar com as várias crianças da vizinhança. Hoje em dia, porém, esta cena se torna rara. Nos três dias que a reportagem passou em Baunilha, nenhuma criança foi vista se divertindo na rua. Um quadro repetido em muitas comunidades rurais do país, Baunilha tende a desaparecer. “Eu fico me perguntando como vai ser daqui a alguns anos. Porque a maioria dos jovens já foi embora. E as crianças não vão querer continuar aqui”, constata Cristiane. Ela saiu aos 19 anos, após concluir

o ensino médio, para cursar biomedicina em Niquelândia. Hoje, ela e a irmã moram no Distrito Federal e só voltam ao povoado nos feriados e fins de semana, para visitar os pais. Jocilene, fisioterapeuta, teme pelo futuro do lugar. “Eu não queria que acabasse. Nasci e fui criada aqui.” O caminho das duas irmãs parece ser o destino comum da juventude da região. Josiane Nunes de Farias tem 15 anos e conta que aguarda apenas concluir o ensino básico para ir morar com o irmão, que cresceu no povoado e hoje trabalha em uma empresa de mineração em Niquelândia. “Ninguém da minha idade planeja ficar por aqui. Aqui não tem estudo, e estudo é tudo, né?”, diz. Josiane faz o ensino médio em povoado próximo, Indaianópolis. Durante as tardes, ela trabalha de balconista na Mercearia Martins. Para se divertir, as opções são os forrós ocasionais na própria mercearia ou churrascos na casa de vizinhos. A adolescente sabe que o futuro de Baunilha é incerto. “É uma pena porque construí aqui a minha história.” A proximidade com os vizinhos, mesmo com a longa distância entre uma casa e outra, permite que Josiane possa conversar um pouco com todos que chegam à mercearia. “É o que ajuda o tempo a passar mais rápido”, diz. No final do dia, ela volta de moto para o sítio em que vive com os pais, o avô e os tios, a poucos quilômetros dali. Josiane concluiu o ensino

fundamental na Escola Municipal Quirino Pereira dos Santos, que ainda hoje é a única presença do Estado para os moradores. O espaço da escola serve de base para campanhas de vacinação e eventuais consultas médicas, para as eleições, para reuniões com autoridades. O resto do povoado é formado por pequenas casas, sítios mais afastados e um ou outro pequeno comércio (um bar, por exemplo). Divani Ribeiro Pereira, 60 anos, trabalha na escola desde 1985, quando chegou ao vilarejo. Ela se aposentou do cargo de professora há dois anos e atualmente é coordenadora da merenda. “Hoje, tem 69 alunos aqui. Mas já houve época que eram mais de 200.” Devido à queda crescente de alunos matriculados, a prefeitura de Niquelândia ameaçou fechar a escola há dois anos e deixar apenas o colégio de Indianópolis. Mas os moradores se manifestaram e impediram o fechamento. A redução é consequência do êxodo de jovens no povoado. Os que cresceram ali não criam mais seus filhos nas regiões, mas nas cidades para onde vão estudar e trabalhar. Sem perspectivas na comunidade rural, eles só pensam retornar quando se aposentarem. Na década de 1970, quando surgiam as primeiras casas em Baunilha, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou 1,3 milhão de pessoas morando na zona rural de Goiás. Em 2010, esse número era de 583 mil. Uma queda de 56%. No Brasil, esse nú-

Na casa feita de adobe, a quilômet Ao lado, há uma pequena p

mero foi de 38,9 milhões para 29,8 milhões. O que representa uma redução de 29,5% da população rural. “Aqui agora só tem velho. Os meninos saem para estudar e os filhos puxam os pais para fora”, lamenta Divani. Para o presidente da Associação de Produtores Rurais de Baunilha, Ciredes Martins Arruda, 57 anos, a saída dos jovens é um problema para a economia local, baseada na agricultura familiar, na produção de milho, mandioca e também de leite. “Às vezes, a gente precisa de, pelo menos, 15 pessoas para o serviço na roça comunitária e só tem cinco para trabalhar.”

Para manter os jovens na terra, o Ministério do Desenvolvimento Agrário aposta em medidas federais específicas. Como a linha de crédito especial do Programa Nacional de Agricultura Familiar Jovem (Pronaf Jovem) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego no Campo (Pronatec Campo). Baunilha, contudo, ainda espera receber esses benefícios. Paulo Rogério Mansan, mestre em sociologia rural pela Universidade Federal de Campina Grande, acredita que as ações não são suficientes para conter a migração e o envelhecimento do campo. “Não há políticas realmente estrutu-


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ASSADO E PRESENTE

ovoado a 400 km de Brasília sofre com o êxodo de jovens

Memórias preservadas

tros de distância dos vizinhos, vive Lourenço Martins. plantação de milho, mantida pelo senhor de 87 anos

rantes para atrair a juventude. Problemas como saneamento, saúde, formas de lazer, cultura e em especial geração de renda não são pensados”, explica. O êxodo rural foi discutido entre governo e movimentos sociais do campo no ano passado, durante o 1º Seminário Nacional da Juventude Rural e Políticas Públicas, em Brasília. Mansan representou a Pastoral da Juventude Rural no evento, e explica que a saída dos jovens do campo vem da incapacidade dos assentamentos e das propriedades de absorvê-los. Segundo ele, esses jovens, filhos de assentados e agricultores, perdem o vínculo com a terra.

A Mercearia Martins é parada obrigatória para os turistas que vão para o Lago da Serra da Mesa. O proprietário Belarmino Martins Pereira conta que recebe pessoas de Brasília, Goiânia, Anápolis, São Paulo e de Niquelândia, município ao qual o povoado pertence. “Eu sou mais conhecido que nota de um real”, brinca Belarmino – ou Belo, como é apelidado. Com 54 anos, Belarmino construiu a mercearia quando tinha 36. Ele conta que veio para o povoado ainda criança com o pai, Luís Martins Pereira, nascido em 1926. No início da década de 1970, Luís construiu a primeira casa no vilarejo. Foi ele quem ajudou a levantar a única escola do lugar. Belarmino revela que seu tio Lourenço é o guardião da memória local. “Pode perguntar para ele que ele sabe de como tudo foi aqui”, diz. Aos 87 anos, Lourenço Martins Pereira é o morador mais velho do povoado. Em sua casa, atrás de muitas porteiras, ele explica que já havia pessoas morando em fazendas próximas, antes da fundação de Baunilha, há quase 50 anos. Ao relembrar a história da região, Lourenço tem como principal referência a data de seu casamento: “Casei com 22 anos, em 1950. Em 57, a mulher morreu. Ela pediu para ser enterrada aqui. Luís ainda não tinha chegado”. Conversando um pouco mais com Lourenço, percebe-

mos que aquele pequeno povoado guarda um pedaço da história do Brasil. Na região, os bandeirantes exploraram ouro e outros minérios no rio Traíra, afluente do rio Maranhão, enquanto muitos alimentos eram produzidos nas grandes fazendas. “O povo daqui mesmo mexia com roça. Era cativeiro”, conta. Por “cativeiro”, Lourenço se refere ao sistema escravocrata, cuja abolição em 13 de maio de 1888 ainda não havia se consolidado em todo o país. “Esse serviço todo foram os escravos que fizeram. Ninguém estudava. Por um acaso, alguém sabia assinar o nome. Comecei a trabalhar e não ganhava nada, nem bem para comer.” As tradições preservadas e as ansiedades da modernidade formam o pequeno vilarejo numa fenda entre o presente o passado. Os jovens estão divididos. Jocilene e Cristiane ainda hoje participam de festas tradicionais, como a cavalgada e a Folia de Reis, que passam por Baunilha e arrastam os mais entusiasmados. Da mesma forma como antes levavam o avô e o tio-avô das irmãs, Luis e Lourenço. Os dois iam e voltavam. As duas foram para Brasília, onde vivem novas histórias, outras tradições. Só querem voltar ao povoado no futuro distante, quando estiverem cansadas do ritmo da cidade grande. Antes disso, Baunilha tenta sobreviver.

Acima, três gerações de crescidos em Baunilha. Josiane Nunes de Fárias, adolescente que trabalha como balconista na Mercearia Martins. Depois, Belarmino Martins Pereira, dono da mercearia. E, em seguida, Lourenço Martins Pereira, morador mais velho do povoado


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ESPORTE

A GRANDE SACADA

Sem espaço na Superliga de vôlei, jovens deixam o Distrito Federal para disputar campeonatos em outros países Caroline Bchara

S

e no mundo do basquete o sonho é ir para os Estados Unidos disputar a NBA (National Basketball Association), para os que vivem do voleibol jogar no Brasil já figura entre as principais ambições. Em competição constante com as ligas russa e italiana no que diz respeito ao campeonato nacional mais forte do mundo, a Superliga (primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Voleibol) repatriou, em 2009, os principais atletas do país – que atuavam em equipes estrangeiras – e passou a atrair a atenção de jogadores de nível internacional. O fortalecimento do campeonato trouxe grandes nomes para o cenário brasileiro, mas tornou mais difícil o acesso de jovens com menos experiência na modalidade ao principal torneio adulto entre clubes do país. Luiz Perotto, atleta brasiliense que defende as cores do Al-Wakrah Sport Club, no Qatar, acredita que jogar no exterior é, hoje, a melhor opção para os jovens que procuram um desenvolvimento no voleibol. “No Brasil, muitos jogadores estão sem espaço, principalmente os mais novos e menos experientes”, completa Perotto. Em situação semelhante à do compatriota, Djalma Moreira iniciou a carreira profissional no vôlei de Brasília há dois anos e hoje defende o Al-Shamal Sport Club, também no Qatar. “Os times de elite do Brasil contratam apenas profissionais experientes”, lamenta o jogador. “Poderiam abrir mais vagas para jovens atletas, assim o país revelaria vários novos talentos.”

Moreira optou por jogar no Qatar pela diferença na qualidade de vida oferecida pela equipe, em comparação com a que estava acostumado no Brasil. Assim que chegou ao país árabe, recebeu um carro para utilizar durante o período de contrato e um apartamento, que divide com outro jogador da equipe. A estrutura para fisioterapia e recuperação de atletas lesionados também pesou na decisão. “O país tem um hospital apenas para atletas e, em caso de necessidade de cirurgia, o clube se dispõe a ajudar com os gastos”, conta o jogador. E o salário também estimula – ele recebe, no Qatar, o triplo do que ganhava para jogar no Brasil. Apesar de a Liga Qatariana de Voleibol não ter o mesmo nível técnico da Superliga brasileira, o investimento no esporte torna possível a evolução. Sem tradição de disputar grandes campeonatos, como os Jogos Olímpicos, o país árabe busca técnicos experientes que possam trabalhar o talento dos jovens atletas dentro do campeonato nacional. Arthur Rinaldi, também atleta de Brasília, viu na chance de jogar por um clube do Qatar a oportunidade de se profissionalizar no vôlei. Mas, diferentemente de Perotto e Moreira, não conseguiu fechar contrato no país. “Temos bastante dificuldade em conquistar o cenário aqui (no Brasil). Às vezes é preciso sair de casa para ser visto em casa”, ressalta o atleta. Com uma bagagem de 40 anos dedicados às categorias de base, Jeronimo Perdomo – atual técnico da seleção de

vôlei de Brasília e técnico de referência da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) – não acredita que falte espaço para os jovens atletas no cenário nacional. “Espaço há, desde que o jogador, na verdade, apresente condições de jogo”, frisa. Outro motivo apontado como estímulo para a ida dos jovens ao exterior é o número reduzido de patrocinadores da modalidade no Brasil, o que gera certa insegurança por parte dos atletas. “Hoje, muitos times estão acabando por falta de patrocínio”, lamenta Perotto. Como exemplos mais recentes, os casos das equipes de Florianópolis (SC) – tetracampeã da Superliga – e de Araçatuba (SP) – campeã paulista em 2010 –, que se viram fora do principal campeonato nacional justamente por terem perdido seus patrocinadores.

Devido à escassez de anunciantes no voleibol, Perdomo acredita que se torna difícil para o jovem brasileiro conseguir um bom time dentro do país. “É mais fácil ir para o exterior. Inclusive, eles (jovens atletas) são olhados, muitas vezes, por jogarem lá fora”, aponta o técnico. FEMININO A migração de atletas brasileiros para times do exterior não acontece somente no universo dos campeonatos masculinos. Um exemplo disso é Linia Marques, que deixou o país pela primeira vez em 2011 e hoje joga pelo Ekuba Volley, time da série B italiana que conta com outras duas jogadoras brasileiras. “O que me fez ir para a Itália foi a estrutura que eles oferecem aos atletas. O país apoia o vôlei, incentiva e, acima de tudo, valo-

riza os jogadores”, justifica a brasiliense. A atleta de 23 anos nunca chegou a disputar uma Superliga nacional. Defendeu o Distrito Federal em cinco edições do Campeonato Brasileiro de Seleções de Voleibol, nas categorias infanto-juvenil e juvenil. Em termos de série B, acredita que no Brasil ainda faltam estrutura e incentivo para manter os atletas em atuação no país. A CBV criou, há dois anos, a Superliga B, com o objetivo de aumentar o número de competições de alto nível no Brasil. O campeonato classifica os dois primeiros colocados para a disputa da série A, no ano seguinte. Novidade anunciada pela CBV no último dia 12 de novembro, o torneio será disputado pela primeira vez por equipes femininas em 2014. Arquivo Pessoal

Djalma Moreira, que joga com a camisa número 9, saiu de Brasília para competir na liga do Qatar


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DIREÇÃO Hermano Araújo

VOU DE MOTOTÁXI

Transporte de passageiros em motos funciona de forma irregular. Cerca de quatro mil mototaxistas fazem condução no Distrito Federal Jéssica Moura

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o ponto de mototáxi mais antigo de Sobradinho, há 11 anos, o ronco dos motores das motocicletas se confunde com o barulho quase ininterrupto do telefone tocando. Na linha, estão clientes apressados que precisam chegar aos seus destinos com rapidez. Iara Milhomem, estudante, recorre todas as semanas aos mototaxistas para ir à faculdade ou fazer compras. Ela telefonou para o ponto de mototáxi: uma sala com cadeiras, um telefone e um quadro onde estão dispostos os nomes dos mototaxistas responsáveis por atender os próximos chamados. Para a estudante, optar pelo mototáxi “é uma questão de economia e de praticidade, pois o motociclista para na porta de casa e anda mais rápido pela cidade.’’ O que ela não sabe é que esse meio de transporte alternativo opera de modo irregular no DF, pois ainda não foi regulamentado pelo Governo do Distrito Federal. O Código Brasileiro de Trânsito proíbe o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. A infração é considerada média e os mototaxistas flagrados em atividade podem ser multados e ter a moto retida. O professor da Universidade de Brasília e presidente do Instituto de Se-

gurança no Trânsito, David Lima, explica que, nesse caso, cabe ao Detran fiscalizar o serviço de mototáxi. Jonas Araújo é um dos mototaxistas que trabalha em Sobradinho. Ele conta que “a fiscalização não pega tanto no pé. Circulamos em todos os lugares’’. Além disso, não são coibidos de atuar nas cidades-satélites. O Campus entrou em contato com o Detran, mas o órgão informou que não se pronunciaria sobre o assunto. Os primeiros mototáxis começaram a circular ilegalmente nas ruas do DF em 1995, nas cidades de Planaltina e do Gama. De acordo com dados da Associação Nacional de Mototaxistas e Motofrentistas, cerca de quatro mil profissionais estão distribuídos em quase todas as regiões administrativas, predominantemente em Sobradinho e São Sebastião. Só nessa última, há pelo menos 18 pontos de mototáxi. O professor David Lima destaca que a “deterioração do transporte público’’, principalmente em áreas afastadas do Plano Piloto, somada à “ineficiência do estado em fiscalizar práticas irregulares no transporte de passageiros’’, abrem espaço para que o mototáxi se consolide no DF. Outro motivo para a expan-

são do setor foi a proibição de transporte de passageiros em vans. Por vezes, o mototáxi tem que suprir a falta dos serviços públicos nas comunidades onde atuam. O mototaxista Gilberto Nascimento conta que em um acidente, um passageiro caiu no chão e fraturou o pé. A ambulância demorou a chegar e pessoas ligaram para o ponto de mototáxi. “Coloquei ele na garupa da moto e levei para o hospital’’, lembra. Para resolver a ilegalidade do serviço, uma proposta de Projeto de Lei foi elaborada em conjunto pelo Sindicato dos Mototaxistas (SindMototáxi), pela Subsecretaria de Transportes (Sutransp), e pelo deputado Cristiano Araújo (PTB-DF). O projeto ainda precisa ser aprovada na Câmara Legislativa do DF. Para o presidente do SindMototáxi, Luiz Carlos Galvão, com a regulamentação “a categoria vai ganhar dignidade, pois, por enquanto, os mototaxistas trabalham de modo clandestino e sem direitos trabalhistas.’’ LEGISLAÇÃO A profissão de mototaxista foi reconhecida pela Constituição brasileira em 2009, a partir da sanção do Projeto de Lei 203/2001. A lei

12.009/09 deu aos municípios e ao Distrito Federal a tarefa de regulamentar o serviço de mototáxi. Pesquisa realizada em 2011 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que em mais de três mil dos quase seis mil municípios brasileiros o mototáxi já foi regulamentado (ver quadro). O subsecretário de Transportes, Ronaldo Persiano, está receoso com a regulamentação do serviço no DF “A subsecretaria não tinha interesse de que o mototáxi rodasse, pois o considera um veículo perigoso. Mas não podemos negar a realidade de que esse serviço é explorado no DF.’’ Além da lei federal, em 2010, o Conselho Nacional de Trânsito editou duas resoluções que orientavam a atuação dos mototaxistas. Entre outras medidas, as normas especificavam itens básicos de segurança para condutores e motos. Marcos da Silva, mototaxista há 15 anos em Sobradinho, segue algumas das regras. A moto de Marcos é equipada com alças de segurança para os passageiros, proteção de escapamento e corta-pipa. A comerciante Cristianne Borges é uma das clientes regulares de Marcos. Há seis

anos ela usa o mototáxi, o qual considera uma alternativa mais rápida e econômica para chegar ao trabalho. A passagem de R$3 cobrada pelos mototaxistas é mais barata do que a tarifa do ônibus. Para andar nas motos, Cristianne comprou o próprio capacete. “Acho pouco higiênico usar o mesmo capacete que os outros passageiros’’, ressalta. Apesar do medo de dirigir, a comerciante afirma que a liberdade, a velocidade, o vento no rosto, e o frio da barriga são atrativos extras na corrida de mototáxi.

Mototaxistas 3.079 municípios oferecem serviços de mototáxi Cerca de 5 mil mototaxistas atuam em Belém, a capital com mais profissionais na área Cerca de 4 mil profissionais atuam no DF e 2 mil são sindicalizados


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PAQUERA

ELA SÓ PENSA EM BEIJAR Nova geração desenvolve hábitos inovadores na busca por parceiros e revoluciona o modo de se relacionar

Gabriel Lopes

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izer que a internet e as demais novas tecnologias influenciaram intensamente o modo de as pessoas interagirem já se tornou redundância. Contudo, quando essa relação é feita a partir da geração Y – jovens nascidos entre 1980 e 1995 –, tal análise nos permite enxergar efeitos mais interessantes. Exemplo disso é a febre de aplicativos de geolocalização que surge para ressignificar o antiquado termo “paquera’’. Tinder, Grindr, Bang with Friends e Hot or Not são apenas algumas das várias plataformas que contribuem para mudar o modo como os jovens têm se relacionado. Segundo a psicóloga Nathália Leão, especialista em adolescência e juventude, os novos softwares, que chocam alguns usuários mais velhos devido à “banalização’’ dos relacionamentos humanos, devem ser compreendidos de forma natural e intrínseca às gerações recentes. “Quando falamos de geração Y, temos como epicentro motivacional a tecnologia. É um grupo que, sem exceção, é pautado por um novo ritmo de mundo. Com isso, tudo referente a essas pessoas ganha um ar diferenciado, e com os relacionamentos não seria diferente. É um movimento natural da geração’’, explica. Para a especialista, aplicativos como o Bang with Friends refletem a necessidade de um novo modelo de busca romântica e sexual. “Do mesmo jeito que um indivíduo de 50 anos se escandaliza ao escutar sobre um programa

Nívea Ribeiro

Com filtros como localização, idade e sexo, a ferramenta Tinder mostra pessoas com perfis compatíveis que estão próximas aos usuários

que permite encontros casuais, um adolescente de 18 acharia incoerente dar voltas na praça observando os ‘brotos’ no coreto. Cada geração tem um perfil e cria mecanismos favoráveis a ele’’, complementa Nathália. Dados divulgados por Justin Matten, cofundador do Tinder, revelam que o aplicativo cresce mais de 140% ao mês no Brasil, devendo

ultrapassar a marca de 1 milhão de usuários muito em breve. Ao redor do mundo, a ideia já alavancou mais de 75 milhões de encontros e até mesmo algumas dezenas de casamentos. Usuária do Tinder, a estudante Gabriele Dias, 20 anos, acha a proposta divertida. “Muitas vezes passo horas passeando pelos perfis das pessoas, me distraindo e co-

Dicas da especialista Mariana Borges Evite enviar fotos muito íntimas. "Nunca sabemos de fato quem é a pessoa do outro lado, uma brincadeira pode virar algo traumático no futuro." Ao se encontrar com desconhecidos, procure saber se possuem amigos em comum. Caso não tenha referências do outro usuário, escolha um local de encontro público. Seja cauteloso ao fornecer dados como telefone, endereço e local de trabalho.

nhecendo coisas novas. Combina com a nossa geração, é bem despretensioso’’, conta a jovem. Porém, Gabriele é objetiva ao falar sobre seus reais motivos para ter uma conta na rede. “Eu quero beijar na boca, todo mundo quer. Claro, é possível fazer amizades, descobrir pessoas com gostos semelhantes. Mas todo mundo ali quer encontrar alguém interessante’’, opina. O social media Guto Dias explica que o sucesso dos programas ocorre da compilação dos verdadeiros instintos humanos. “Quando conhecemos alguém, a primeira coisa à qual nos atentamos é a aparência. Se existe compatibilidade, avançamos na interação. A partir daí, buscamos interesses compatíveis e, à medida que as coisas desenvolvem, percebemos o objetivo de cada um. É assim numa festa, é assim nos aplicativos’’, compara. Como em outras redes sociais, Guto defende que tais aplicativos não criam um novo modelo de vida, apenas expandem o presencial para o digital. “O que temos nos tablets e smartphones é apenas um braço do que já acontece na vida real. Esses softwares trazem mudanças, mas todas oriundas de nós mesmos. Não é a rede que pauta as pessoas, são estas quem criam e transformam a rede’’, pondera. Exemplo disso é o Grindr, que surgiu da dificuldade em ampliar redes de relacionamentos homossexuais. Aplicativo pioneiro na ideia de geolocalização, o programa trouxe alternativa de interação para o meio gay e impactou fortemente o segmento.

“Podemos dividir o meio gay como ‘Era pré-Grindr’ e ‘Era pós-Grindr’’’, brinca Mariana Borges, especialista em marketing digital. “A gente leva o assunto de forma descontraída, mas o fato é que essas tecnologias são mais sérias do que a gente imagina’’, pontua. “Aplicativos como o Grindr deram a muitos homossexuais a oportunidade de serem mais livres e se relacionarem mais. Longe de mim dizer que sem isso todos estariam sozinhos numa bolha, mas é algo que facilitou os processos de interação.’’ Com opinião semelhante à de Marina, Pedro Lima, 20 anos, afirma que os aplicativos de geolocalização quebraram barreiras entre os gays. “Percebo que, antes dessas tecnologias, fazer novos contatos no meio era mais complicado. Se você quisesse conhecer alguém era preciso ir a lugares definidamente homossexuais. Com os aplicativos, essa obrigatoriedade deixou de existir’’, explica Pedro. Multiconectado, ansioso, dono de linguagem própria, desapegado. Assim é rotulado o jovem de hoje e, consequentemente, seu modo de se relacionar. E para quem acha tudo isso muito revolucionário, o psicólogo Cláudio Luiz alerta: vem mais por aí. “Cada geração tem sua demanda e um modo diferente de suprila. A geração Y já tem dado suas respostas e, muito em breve, a próxima geração também começará a fazer barulho’’, ressalta.


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