Campus - nº 413, ano 44

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SEGURANÇA

TRANSPORTE

TECNOLOGIA

CIDADE VIGIADA Sistema de videomonitoramento no DF é ampliado com o objetivo de reduzir a criminalidade

CONDUÇÃO CLANDESTINA Precariedade e baixo número de ônibus levam ao uso de veículos piratas por passageiros do DF

E-SPORTS Cresce o número de campeonatos e atletas que se dedicam aos esportes eletrônicos no Brasil

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Campus BRASÍLIA, 3 A 16 DE JUNHO DE 2014

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NÚMERO 413 ANO 44

Tainá Farfan

NÃO VAI TER COVA Falta de áreas para sepultamentos dá vida útil de até 20 anos aos cemitérios no DF

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Campus

Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

Carta da Editora

Recorte Bruna Furlani

Karla Beatriz Não é difícil perceber que a vida nos grandes centros merece cuidados especiais e, no Distrito Federal, a situação não é muito diferente. A cidade tem passado por mudanças significativas e influenciado diretamente no cotidiano de seus cidadãos. O crescimento acelerado, a falta de um planejamento real, cenas de violências diárias, transporte precário e relações conflituosas tornam o dia a dia mais perigoso, caótico e com muitas perdas físicas, econômicas e emocionais. Como destaque desta edição, temos a matéria sobre a instalação de câmeras para monitorar o dia a dia das Regiões Administrativas do DF. Este sistema visa minimizar a insegurança que é mostrada como rotina dos moradores no DF por todos os veículos de comunicação, sejam pelos constantes assaltos, sequestros re-

lâmpagos dentre outros exemplos de violência. Existe ainda resistência das pessoas na instalação das câmeras de segurança. A matéria de capa mostra que a morte é um problema social, econômico, cultural e de infraestrutura por ausência de planejamento e novas áreas para sepultamentos. Ainda sobre o tema, temos a doação de corpos para pesquisa, que é uma solução viável, mas esbarra, constantemente, na burocracia do processo e carência de doadores. Burocracia, processos longos e debates também são retratados nas matérias sobre a alienação parental, como um problema presente em 80% dos casos de separações e nas mudanças propostas para o pagamento do auxilio reclusão no Brasil que prevê alteração da família do presidiário para os da vítima de violência.

Memória A edição 306 do jornal Campus, de julho de 2006, trouxe a reportagem Transporte ilegal desafia fiscalização, escrita por Taline Barros. O texto conta que devido à falta de ônibus, desorganização dos horários e deficiência do transporte público no Distrito Federal, muitas pessoas acabavam optando pelo transporte pirata.

À época, dados do DF-Trans apontavam que mais de três mil carros circulavam pelo Plano Piloto e Entorno todos dias, e até policiais Militares estariam envolvidos no mercado ilegal. A reportagem apontou dificuldades de fiscalização, impunidade aos motoristas e problemas na aplicação de multas, pois, geralmente, as placas dos automóveis eram clonadas.

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Campus

Segundo Secretaria de Turismo do DF, até o início de junho, serão instaladas 1.219 placas com película de proteção contra pichações. Sendo duas categorias: placas de localização e com informações históricas em três idiomas. Ao todo foi investido cerca de R$ 1,2 milhão

Ombudskivinna

Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor. Jhésycka Vasconcelos é aluna do 7º semestre da FAC.

Jhésycka Vasconcelos Do impresso ao Facebook, a equipe do Campus certifica a versatilidade com a qual trabalha. Criar uma página nas redes sociais pode não ser tão irreverente, mas é algo que precisava ser feito. E no estímulo da polivalência inerente ao jornalismo, os editores também mostraram disposição em fazer uma edição com um ótimo visual. No entanto, há descuidos de publicações anteriores que precisam vir à tona: deslizes gramaticais não são aceitáveis a esta altura do campeonato. Deixo o aviso e o pedido por uma revisão mais cautelosa. Na edição 412, as pautas indicam, predominantemente, problemas da cidade bem apurados pelos repórteres. A perda de um sonho, Em estado ter-

minal e Nem tão exclusivas assim são provas de que banalidades podem gerar desdobramentos de grande interesse público. Já Corretores inseguros e A realidade atrás dos palcos tratam de temas que perderam força pela burocratização do texto. A investigação dos problemas enfrentados pelos músicos sobre contratos com o governo é profunda, mas o excesso de aspas quase omite o trabalho de apuração e torna o texto meramente declaratório. O perfil Já nascemos pobres conta uma história instigante, mas que merecia uma foto da personagem. A página de fotorreportagem decepciona mais uma vez. Vamos queimar as fitas, o pá não tem o mínimo da festividade que o título e a história sugerem.

Editora-chefe: Karla Beatriz Secretária de redação: Lara Silvério Editores: Isabela Resende, Mariana Pedroza, Luana Melody, Raquel Franco e Thomas Gonçalves Repórteres: Camila Curado, Fernando Henrique, Gustavo Garcia, Henrique Arcoverde, Iago Garcia, Janaína Bolonezi, Jéssica Martins, Paula Braga, Pedro Alves, Raila Spindola, Rômulo Andrade, Taise Borges e Thais Carneiro Fotorrepórter: Laís Sinício Editora de arte e foto: Beatriz Fidelis Fotógrafos: Bruna Chaves, Bruna Furlani, Tainá Farfan e Victor Pires Diagramadores: Isabela Resende, Mariana Pedroza, Luana Melody, Raquel Franco e Thomas Gonçalves

Unidos pela preservação cultural e Na trilha do esquecimento fazem bons resgates históricos e diagnósticos dos lugares citados nas reportagens. Dieta para o bolso não traz muitas novidades sobre os preços dos alimentos sem lactose e glúten, mas evidencia a questão com bons dados e depoimentos. Por fim, Cigarro, não te quero mais destaca uma terapia em grupo ofertada pelo hospital universitário que, em meio a tantos desmandos relatados nas outras reportagens, constitui-se como umas das únicas matérias que carrega certa positividade. Neste caso, a máxima de que “boas notícias não são notícias”pode ser deixada de lado.

Projeto Gráfico: Hermano Araújo, Nadjara Martins, Beatriz Fidelis, Jéssica Martins e Karla Beatriz Colaborador: Caio Mota Professor: Sérgio de Sá Jornalista: José Luiz da Silva Monitores: Eduardo Barretto e Washington Luiz Gráfica: Palavra Comunicação Tiragem: 4 mil exemplares Contato: 61 3107-6498 / 6501 Endereço: Universidade de Brasília, campus universitário Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília/DF. Faculdade de Comunicação, Instituto Central de Ciências - Ala Norte CEP: 70 910-900


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CIDADE

SEM PLANOS PARA OS MORTOS

Taina Farfan

Previsão é de que os seis cemitérios do DF vão ficar lotados em uma média de 12 anos Paula Braga

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a década de 1970, o sete anos. Com uma média de prefeito Odorico Pa- três sepultamentos por dia, o raguaçu vivia a saga de cemitério de Sobradinho é o encontrar um defunto para que deve durar mais: cerca de inaugurar o cemitério da cidade 20 anos. O cálculo já leva em fictícia de Sucupira, na novela conta a possibilidade de reaO Bem-Amado. O personagem proveitamento dos locais com decide pagar um matador de sepulturas abandonadas e dos aluguel para ter alguém enter- jazigos nas áreas social e de inrado no cemitério, que per- digentes, que são reutilizados manece o restante da novela normalmente. Segundo o coordenador de vazio. Essa ficção, porém, está Assuntos Funelonge da realirários da Secredade do Distritaria de Estado de to Federal. Justiça, Direitos De acordo com dados da É o número médio de Humanos e Cidadania (Sejus), empresa Campo da Esperança sepultamentos mensais Lamartine Me– responsável nos seis cemitérios do DF deiros, uma das alternativas para pela administração dos cemitérios do DF solucionar a falta de espaço desde 2002 – a previsão é de nos cemitérios é a promoção que as seis áreas destinadas aos de uma mudança cultural na sepultamentos na região te- maneira como os mortos são nham capacidade para durar, tratados atualmente. em média, pouco mais de 12 anos. “Em breve teremos a neNo cemitério do Gama, por cessidade de modernizar a exemplo, o prazo de vida útil forma como sepultamos nosem relação à demanda diária sos entes queridos. Com a área de enterros é de apenas mais que temos disponível atualmente,

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não podemos mais nos dar ao luxo de ter um espaço de dois metros por um para cada indivíduo que falece”, alerta Medeiros. “Hoje, existem outras formas de decomposição dos corpos além da ação de organismos presentes na terra. Uma delas é a cremação”, completa. Atualmente, o Distrito Federal não conta com um crematório. O local mais próximo que oferece o serviço fica na cidade de Valparaíso de Goiás – cerca de 40km distante do centro da capital federal. Porém, tornar a cremação a principal opção para dar fim aos mortos pode esbarrar em algumas crenças religiosas. Segundo o padre Wesley Macedo, da arquidiocese de Brasília, a religião católica, por exemplo, recomenda o sepultamento dos corpos devido à crença. “O ritual de respeito aos mortos é essencialmente religioso. Apesar de não existir uma proibição à prática da cremação dentro da fé católica, o Código de Direito Canônico

ENTERROS PELO MUNDO Na China, país mais populoso do mundo, algumas cidades oferecem programas de subsídio para as famílias que desejam cremar os mortos e jogar as cinzas ao mar. Outro exemplo, no Japão, as cinzas dos corpos cremados são armazenadas em urnas colocadas em cemitérios verticais. E no cemitério de Recoleta, na Argentina, os caixões são empilhados verticalmente e permanecem expostos. Na Espanha, uma dupla de designers criou uma urna biodegradável, cuja proposta é que as cinzas sejam enterradas juntamente com uma semente, a qual dará origem a uma árvore. A ideia já chegou ao Brasil: em Pernambuco, a empresa de serviços funerários Grupo Vila já oferece o serviço. “É uma forma de perpetuar a lembrança através do cultivo de uma nova vida”, afirma o gerente regional do grupo, Guilherme Lithg.

ENTERROS PELO MUNDO

Maior do DF, Campo da Esperança vê no modelo “cemitério parque” – caixões enterrados – uma alternativa para aumentar o tempo de vida útil do espaço

recomenda fortemente que os corpos sejam enterrados”, explica Wesley. De acordo com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo, a destinação de novas áreas para cemitérios seria possível, mas os terrenos mais apropriados para as instalações já estão tomados por edifícios e outras iniciativas imobiliárias. “A falta de espaço nos cemitérios é uma questão relevante e a falta de soluções mostra o descaso do governo com a vida urbana. Apesar de termos uma cidade planejada, não prevemos problemas óbvios. Hoje, a destinação de áreas para cemitérios não é uma prioridade”, afirma o especialista. A área destinada aos seis cemitérios (Asa Sul, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Gama e Planaltina) totaliza mais de 2,4 quilômetros quadrados, o que corresponde a 4,3% da área total do Distrito Federal. Segundo Lamartine Medeiros, uma comissão formada por membros das secretarias de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania; Desenvolvimento Social e Transferência de Renda; Saúde e do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) deve dar início, nos próximos meses, a uma série de reuniões de trabalho com o objetivo de estabelecer um plano de ação para os cemitérios

das regiões administrativas. A comissão também deve discutir a criação de uma Central de Óbitos, organização que será responsável por centralizar todas as informações e serviços públicos relacionados ao tema. “Um relatório completo deve ser apresentado ainda ao final deste ano”, prevê Medeiros. PROBLEMA RECORRENTE NO DF Esta não é a primeira vez que a capacidade dos cemitérios da região é discutida. Em 2002, segundo a Campo da Esperança, a previsão de esgotamento do cemitério da Asa Sul, por exemplo, era de dez meses. Ainda segundo a empresa, para aumentar a capacidade da área destinada aos sepultamentos, o modelo de cemitério-parque (que dá prioridade para a colocação de apenas uma placa de mármore ou granito sobre o solo, sem a presença de túmulos) foi adotado em alguns locais. Em 2008, supostas irregularidades no modo de ampliação da capacidade dos cemitérios, como a retirada de ossadas sem comunicar os familiares e o sepultamento de corpos de indigentes e da área social em uma única vala, foram um dos fatores que desencadearam a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por parte do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a conhecida “CPI dos Ossos”.


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CIDADE

SAI DA MINHA VAGA, SAI PRA LÁ

Veículos abandonados no Plano Piloto incomodam moradores e causam problemas de segurança e saúde Taise Borges e Thaís Carneiro

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m todo Plano Piloto, entre 50 e 60 carros estão abandonados nas áreas residenciais ou vias públicas – uma média de dois a três carros por quadra. Os dados são do Departamento de Trânsito do Distrito Federal, o Detran/DF. Como tentativa de resolver o problema, no dia 19 de maio, foi sancionada uma lei no DF que trata da remoção de veículos abandonados ou estacionados em local indevido ou abusivo. O texto deve ser regulamentado em até 90 dias pelo Poder Executivo. O pátio do Detran, no entanto, não tem mais espaço para abrigar carros apreendidos. Por isso, a operação que remove carcaças e veículos das ruas está parada desde 2012. A lei sancionada considera veículo estacionado de forma indevida ou abusiva aquele que permanece por 30 dias em um mesmo local, em via pública, parque ou estacionamento público gratuito. Quando o carro apresenta sinais exteriores de inutilização provocada por acidente ou abandono, o dono do carro pode ser advertido depois que o veículo permanece por 48 horas no mesmo local. Donos de reboques não atrelados a um veículo trator também podem ser notificados depois de 48 horas do carro parado. O proprietário deve retirar o veículo em até 24 horas quando o carro estacionado constituir grave perturbação

ao trânsito e risco aos motoristas, ou quando se tratar de um veículo publicitário que fique no mesmo lugar sem a presença de um condutor. O carro pode ser retirado imediatamente pelo Detran se manifestada a intenção do proprietário de abandonar o veículo. Em todas as situações, o poder público fica autorizado a cobrar do proprietário os custos de remoção e recolhimento. Todos os veículos apreendidos nas ruas são levados para o pátio do Detran, no Setor de Grandes Áreas Norte

(SGAN), atrás do Autódromo Internacional Nelson Piquet. O problema é que o pátio, atualmente, não possui mais espaço para receber as carcaças. Na última “Operação Sucata”, coordenada pela Administração de Brasília em parceira com o Detran e a Polícia Militar, foram recolhidos 37 veículos na Asa Norte e 16 na Asa Sul. Em 37 ações realizadas no DF, foram recolhidos, no total, 422 veículos e sucatas. De acordo com Celeste Gliosci, chefe da Assessoria de Atendimento à Comunidade da Administração de Brasília, o mapeamento

dos carros abandonados continua sendo feito, mas não há data programada para a próxima operação, já que nem as administrações regionais nem o Detran, possuem capacidade para acomodar as sucatas. “O projeto está parado. Porém, continuamos recebendo as demandas da comunidade e mapeando os locais onde existem veículos abandonados”, afirma a assessora. De acordo com a Administração de Brasília, responsável por fazer o levantamento dos abandonos de veículos na capital após reclamações Victor Pires

O pátio do Detran, no Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN), sofre com limitações no espaço físico e não tem condições de acomodar mais sucatas e carros apreendidos

da população, atualmente, os veículos retirados das ruas são os que oferecem riscos à segurança da população. “Os inquilinos informam que os carros que ocupam vagas em prédios residenciais e comerciais estão ocupados por moradores de rua e usuários de drogas”, explica Gliosci. Para a assessora, a situação se complica no período chuvoso, quando os carros oferecem riscos à saúde das pessoas. “Os veículos acumulam água e, com o tempo, viram foco de mosquitos da dengue. Os moradores também são obrigados a conviver com a sujeira e mau cheiro dos automóveis”, relata. O Guará é a região administrativa que lidera o ranking de carros abandonados em vias ou estacionamentos públicos do Distrito Federal: foram apreendidos 82 automóveis em quatro operações do Detran. Em seguida, vem Ceilândia, com 60 veículos apreendidos e a Cidade Estrutural, com 32 sucatas recolhidas. Em ambas as cidades foram feitas três ações. O Código de Trânsito Brasileiro não trata do abandono de veículos em vias públicas. Segundo a advogada Karla Dias de Oliveira, a legislação está defasada e não define um período de tempo específico para que o proprietário retire o veículo. “Juridicamente, não há nenhuma lei que determine um período temporal para a regularização do caso”, explica a advogada.


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LATAS VELHAS Não é difícil encontrar carros abandonados nas quadras do Plano Piloto e moradores insatisfeitos com a presença dos veículos. As reclamações são várias: os carros ocupam vagas em estacionamentos apertados, tornam-se focos de mosquito da dengue e abrigos para moradores de rua. O Campus foi às ruas e trouxe alguns exemplos. Victor Pires

ACIDENTADO Quem passa pelo Palio prata estacionado no bloco K da quadra 406 Sul não imagina que, há dois anos, ele permanece no mesmo local. “O carro é novo, mas os donos não o querem mais. Ele se envolveu em um acidente e precisa de muitos reparos, na suspensão, na parte elétrica. Ia ficar caro para arrumar. Acharam mais fácil deixar ele aí”, explica o zelador do prédio, Lorival Caetano. Os donos moravam no bloco L, cujo porteiro, Luís Freitas, já tentou resolver o problema: “Sei que se mudaram para o Sudoeste. Há algumas semanas, tentei falar de novo com eles pelo número de telefone que deixaram. Ninguém atendeu. Devem ter trocado de celular”. Victor Pires

ANTIGO NO PRÉDIO Na quadra 312 da Asa Sul, um Fusca de cor verde já desbotada pelo tempo não sai do lugar há mais de dez anos. “Esse Fusca chegou aqui antes de mim, que já moro no prédio há oito anos”, brinca um dos moradores do bloco H, onde está parado o veículo, e que preferiu não se identificar. De acordo com Felipe Bernardes, síndico do prédio, “muita gente já reclamou do espaço ocupado pelo carro há tanto tempo”. Como os apartamentos estão em reforma, Celso Camargo, dono do carro, não está morando mais na quadra onde abandonou o veículo: “Não vou tirá-lo de lá. Se quiserem, podem reclamar com o Detran”.

Victor Pires

FORA DA LEI No estacionamento entre os blocos I e J da quadra 407 Norte, um Siena ocupa uma das poucas vagas à sombra das árvores. “Ele está aí há uns quatro anos, pelo menos, e atrapalha demais. O espaço aqui é pequeno e dividido entre os moradores dos blocos e o pessoal do comércio. Muita gente já reclamou, mas o Detran ainda não deu um jeito nesse carro!”, reclama Hiroaki Kida, morador do bloco I. A presença do veículo também não agrada Sandoval Júnior, síndico do bloco J: “Muita gente já reclamou para mim, mas ninguém sabe quem é o dono desse carro. Se descobrir, me conte!”, brinca. A vaga em que o Siena está parado há tantos anos também é ilegal: de frente a uma rampa para usuários de cadeira de rodas.

Victor Pires

FALTA DINHEIRO Coberto por fezes de pombo, o Gurgel parado na quadra 306 da Asa Sul pertence ao filho de Wanderley Antônio Moy, síndico do bloco D. Segundo ele, o carro nunca foi retirado do local por falta de recursos financeiros. “Já falei com meu filho várias vezes, mas ele não tem dinheiro para retirar o veículo”, explica Wanderley. “Vou levá-lo à oficina hoje”, argumenta Caio Vargas, o dono do carro, que aparece na foto ao lado. A quantidade de locais ocupados por carros abandonados é reclamação recorrente na quadra. A ocupação obriga os inquilinos a estacionarem longe dos prédios, o que facilita assaltos. “A escassez de vagas é notória. Muitas vezes, temos que estacionar sobre as calçadas porque falta espaço”, relata Lucilene Silva, moradora do bloco D. Bruna Chaves

INSEGURANÇA A situação se agrava na quadra 403/4 Norte. Além da falta de vagas nos estacionamentos, os residentes convivem com a sujeira e falta de segurança, já que os veículos abandonados servem de abrigo a moradores de rua e usuários de drogas. Um dos problemas é a Parati estacionado no bloco C. De acordo com Mirtz Caldas, síndica do prédio, o dono já foi acionado várias vezes e promete solucionar o problema mas, até hoje, o carro continua no mesmo lugar. “As pessoas reclamam muito. O que posso fazer é ir atrás de um posicionamento dos proprietários e cobrar uma resolução. Tenho feito isso, mas ainda não tive sucesso”, relata a síndica. Segundo morador que não quis se identificar, “o carro pertence ao diretório do PT. Várias emissoras de televisão já tentaram retirá-lo mas, em três anos, ninguém nunca conseguiu”.

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UNB

CONTRIBUIÇÃO PÓSTUMA

Faltam doadores de corpos para ensino de anatomia no país. Universidade de Brasília encontra na conservação e no reaproveitamento solução para o problema

Janaina Bolonezi

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ual será o destino do seu corpo após a morte? Se servir como objeto de estudo não foi a resposta, fique tranquilo, você não está sozinho nisso. No Brasil a doação de corpos para estudos de anatomia é ainda hoje tratada como um tabu. O preconceito prejudica o aprendizado de milhares de estudantes em todo o país, já que a maior parte das faculdades brasileiras recebem somente corpos não reclamados, muitas vezes não suficientes para educar todos profissionais de saúde da maneira adequada. Porém, a Universidade de Brasília (UnB) vive hoje uma condição diferenciada das demais do país. De acordo com a coordenadora da área de morfologia da Faculdade de Medicina, Jussara Rocha, a UnB, ainda que com poucos doadores, não sofre com a falta de material biológico por ter a melhor organização do país na área. Apoiada em legislações, a universidade consegue organizar todo seu acervo de material anatômico de maneira com que seja utilizado por mais tempo e reaproveitado o máximo possível para ensino. “A situação da Universidade de Brasília hoje é única no Brasil, talvez na América Latina. Seguimos sempre a regra dos três R’s da sustentabilidade (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Atualmente nosso material atende mais de 100 mil alunos de todos os níveis escolares do DF, com itinerâncias do Museu de Anatomia”, explica. O trabalho de conservação das peças realizado na Faculdade de Medicina é de extrema importância para essa realidade. Existem hoje materiais com mais de 30 anos, em perfeito estado e que podem ser estuda-

dos normalmente. Mas Jussara Rocha explica que os métodos poderiam ser melhores. “Temos peças únicas que deveriam passar pelo procedimento de plastinação. Porém, ainda não temos um laboratório específico para realizar o método”, conta. A plastinação é uma técnica que substitui líquidos corporais por resinas elásticas de silicone, criando peças quase plasticas que conservam todos os detalhes por tempo indeterminado. Além da organização da Universidade de Brasília, a condição de conforto quanto a quantidade de material biológico para estudo se deve também a um outro fator principal. O Distrito Federal é a única unidade da federação com regulamentação própria para entrega de corpos, o que facilita o envio dos materiais as faculdades de saúde do DF. No Distrito Federal a entrega de cadáveres para estudos é regulamentada por uma portaria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que, desde 2012, define e coordena a utilização e entrega de corpos e partes às faculdades de medicina e outras faculdades de ciências da saúde. A decisão, única no país, facilita a chegada do material para estudo, já que todos os corpos, doados ou não reclamados, são entregues diretamente pelo MPDFT. As regras da portaria também contribuem para a diminuição do problema de falta de peças anatômicas nas faculdades, uma vez que havendo dificuldades em se obter partes do corpo humano para ensino as instituições podem solicitar intervenção do MPDFT. Entretanto, mesmo com cenário animador em compa-

ração ao resto do país, o Distrito Federal sofre ainda com a falta de doadores de corpos. Com a Lei 8.501/92, que determina que corpos de pessoas que morreram de causas naturais não reclamados em trinta dias podem ser destinados a ensino e pesquisa, o MPDFT consegue encaminhar cadáveres às universidades. Mas existem dois problemas principais nisto: o baixo número de corpos não reclamados para entrega e a falta de diversidade desses. Os cadáveres são, em sua maioria, de homens adultos e, mesmo com todas as facilidades promovidas pela portaria, a falta de opção é um problema somente solucionado com doações. “Aqui na UnB o recebimento de corpos de mulheres e crianças é raro. O mais curioso é que está comprovado que as mulheres são as mais propicias à doação de seus corpos para universidades, enquanto os homens são mais receosos”, explica Jussara Rocha. As doações de corpos para estudos no Brasil são hoje quase inexistentes e esse fato tem explicação. Falta de informação, burocracia, restrições religiosas e receio de desrespeito aos mortos são as principais causas para que o número de doadores seja tão baixo, e, na maioria das vezes, informal. “Falta transparência por parte das universidades para incentivar a população. Não existe uma política de doação no Brasil. As pessoas não sabem o que acontece com o corpo dentro da universidade e não têm confiança. É como se o trabalho feito aqui não pudesse ser dito a ninguém”, lamenta Jussara Rocha.

A IMPORTÂNCIA DE DOAR Com objetivo de incentivar a população à doação, a Sociedade Brasileira de Anatomia disponibilizou no website oficial um comunicado no qual esclarece a importância da utilização de corpos reais na formação de profissionais de saúde. “Com o grande aumento de faculdades e a progressiva diminuição do número de corpos não reclamados, estamos enfrentando grande dificuldade em obter peças anatômicas para o ensino. É claro que dispomos hoje de vários programas computacionais e modelos anatômicos que ajudam no ensino da anatomia. Entretanto, ainda não se inventou nada superior ao corpo humano real”, diz o comunicado. Sem cadáveres, estudantes de todo o país são obrigados a estudar anatomia utilizando modelos e bonecos. Para Felipe Prestes, estudante de medicina da UnB, o fato de profissionais de saúde se formarem sem terem tido contato com corpos reais é perigoso. “Como estudante na área

da saúde acho imprescindível o uso de corpos reais no estudo, principalmente pelo fato dos moldes não explorarem as sutis diferenças anatômicas de pessoa para pessoa. Isso é muito importante para o estudo anatômico e patológico”, explica. Mas não é que as pessoas não entendam a importância da doação. Algumas já venceram as barreiras do preconceito e são doadores declarados. É o caso de Aldair Fernando. “Sou doador de órgãos há muitos anos e deixei claro com minha família meu desejo de que, o que não possa ser aproveitado do meu corpo, seja entregue a alguma universidade”, conta. No Brasil, todo cidadão tem direito a doar seu corpo, para isso o desejo deve ser registrado em cartório, informado a família e ao Ministério Público. “Talvez seja o ato mais nobre a ser feito, doar um corpo morto para que seja possível ensinar a vida”, comenta Jussara. Victor Pires

O Laboratório de Preservação e Conservação de Material Anatômico da UnB armazena partes do corpo humano doadas à instituição


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ESCAPE DA ROTINA

LOTAÇÃO MÁXIMA O Campus acompanhou viagens da linha 366.1, a mais sobrecarregada do DF

Gustavo Debastiani

Bruna Chaves

O

s passageiros do metrô sentido Samambaia começam a se aglomerar diante do vagão logo após o fechamento das portas. A próxima parada, às 18h40, será na movimentada estação Furnas, dois pontos antes do terminal. Com o rosto colado a uma das portas do vagão, um senhor de camiseta vermelha, por volta dos 40 anos, aguarda o sinal sonoro de abertura das saídas como um nadador espera pelo disparo da corneta que inicia os 50m nado livre. O toque dispara. Os que querem descer do metrô se espremem em direção à saída. Em passinhos apertados, o homem de vermelho mantém o nariz na mesma linha da junção das portas. Assim que elas começam a se abrir, o suficiente para uma pessoa de 1,68m e 74kg passar pela fenda formada, o senhor coloca o pé de apoio para fora do vagão. Assim como ele, outras 300 pessoas vão desembarcar nos próximos minutos. Fora do metrô, o passageiro de blusa vermelha tem duas opções para chegar à plataforma superior da estação. A primeira e mais confortável delas é pegar a escada rolante a sua frente. A segunda é mais breve e consiste em contornar a escada mecânica e subir 50 degraus, na corrida, até o andar de cima. O homem escolhe a alternativa mais rápida. Ao completar os dois lances de escada e passar pelas roletas, o sujeito de camisa vermelha está em primeiro lugar na disputa para deixar Furnas. A correria do homem tem justificativa. Ele quer, se não sentar, pelo menos conseguir um bom lugar em pé no primeiro micro-ônibus que aparecer da linha 366.1, a mais lotada do Distrito Federal e que faz integração com o metrô. De acordo com o Transporte Urbano

Sem previsão de melhoras na linha 366.1, os passageiros precisam enfretar, todos os dias, superlotação, atrasos e assaltos, enquanto autoridades acusam entre si a responsabilidade pela precariedade do serviço

do DF (DFTrans), 13,6 mil pessoas utilizam a 366.1 diariamente nas 171 viagens feitas pelos veículos da linha, que é circular e liga a 2ª Avenida de Samambaia Sul à 1ª de Samambaia Norte. Para não ter a capacidade sempre extrapolada, a 366.1 precisaria de, no mínimo, 244 saídas diárias. O embarque no coletivo é feito em uma parada a 20m da estação Furnas. Naquele horário, às 18h45, o veículo já chega cheio. Desta vez, o corredor de 40 anos não é mais o primeiro colocado. Outras 22 pessoas ocupam todos os assentos do micro-ônibus. Há ainda poucos passageiros em pé. A capacidade confortável do veículo é de 32 pessoas: dez em pé, além dos sentados. O esforço do homem de vermelho, contudo, não foi em vão. Conquista espaço nobre nos horários de pico: aos fundos do coletivo, próximo à saída e

encostado nas barras de apoio para quem quer descer com segurança. Enquanto o Usain Bolt do transporte público se acomoda no coletivo da linha 366.1, os demais rapidinhos na saída do metrô chegam ao primeiro micro-ônibus que vai sair do ponto de integração. Mais uma vez, um aglomerado de 30 pessoas se forma em frente às portas. A diferença é que estas são muito mais estreitas do que aquelas do metrô. Nem todos vão conseguir embarcar. Alguns já desistem para pegar o próximo micro-ônibus, que deve passar em até 6min. Mas há aqueles que querem chegar logo em casa, tomar banho e assistir à TV. Estes insistem em embarcar no primeiro transporte e se submetem a mais momentos de compactação de corpos. Enquanto um usuário passa pela roleta, os que estão fora do coletivo se movimentam como pinguins. Alguns estufam o peito, com a mochila nas costas,

na tentativa de ganhar a disputa ombro a ombro. Dentro do micro-ônibus que já comporta 40 pessoas, oito a mais que a capacidade ideal, a cobradora orienta os passageiros.“Pessoal, vamos afastando pra dar espaço pros que vão entrar.” Indignada, uma mulher responde. “Afastar pra onde, moça? Tem pra onde ir não”, reclama. Como duas espátulas empurrando para dentro um usuário que está no degrau mais baixo do coletivo, as portas de acesso vagarosamente se fecham. No ar quente e úmido do interior, contam-se 53 pessoas, além do motorista e da cobradora, quando o veículo começa a andar. Os semblantes estressados, com testas brilhosas de suor, são características comuns a quase todos. O corredor estreito, com largura de 60cm, chega a ter três pessoas enfileiradas. Nessa situação, a costu-

reira Solange Nascimento, 55, parece tranquila. “Já estou acostumada, todo dia é assim”, conforma-se. Solange é interrompida por gritos. “Para! Para, motorista! A mulher tá descendo ainda”, berra uma passageira preocupada com a senhora que é quase imprensada pelas portas ao desembarcar. A cobradora alerta: “Quem quiser descer tem que ir pra porta antes de chegar no ponto”. A resposta gera burburinho de passageiros descontentes. Na 366.1, não são raras as discussões entre passageiros e rodoviários. “Tenho três crianças pequenas. Esses motoristas dirigem muito mal. Fazem as curvas de qualquer jeito, freiam em cima da hora. Eu faço barraco mesmo”, afirma Cinara Machado, 35, que costuma utilizar a 366.1 às 13h e às 18h30, quando leva e busca os filhos da escola. Em tempos de campanhas contra assédio sexual em transporte público, “encoxar” alguém na 366.1 é inevitável. Nota-se, porém, preocupação dos passageiros em não tirar proveito da situação. À medida que o coletivo transbordando de gente vence os pontos de ônibus, assentos ficam vagos. É nítida a satisfação no rosto de quem consegue se sentar e dobrar as pernas por, pelo menos, 15min. Já a caminho do terminal, às 19h27, o coletivo se esvazia. Os passageiros restantes descem. Juarez Pires, 51, encarregado pela organização da 366.1, recebe o veículo. Felizmente, naquela viagem o coletivo não foi assaltado, como é comum, segundo Juarez. Seis minutos depois, o mesmo veículo voltará às ruas. Enquanto isso, os passageiros da última viagem chegam em casa para descansar. Amanhã, será mais um dia de 366.1, a linha mais lotada do DF.


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CULTURA

LUZES DA RIBALTA APAGADAS

Não há previsão para a reabertura do Teatro Nacional. Apesar de uma reforma ser necessária há muito tempo, a cena cultural de Brasília já contabiliza prejuízos Iago Garcia e Henrique Arcoverde

Bruna Chaves

D

on Henrichs, três anos, pede ao pai: “Papai, me leva para assistir à peça da Peppa Pig?”. Pedro Henrichs resolve atender ao pedido do filho. Ao chegar à bilheteria do Teatro Nacional Cláudio Santoro, espanta-se com a notícia: “O espetáculo não é aqui, meu senhor, mas sim no teatro da Universidade Paulista (UniP), na 913 Sul”, informa o funcionário do local. Desavisado, Henrichs tinha “certeza” de que o espetáculo seria no Teatro Nacional, por se tratar “de uma grande peça, de nível nacional”. Mas o que Pedro não sabia era que o teatro localizado no Eixo Monumental está fechado para reforma desde o dia 2 de fevereiro. A medida foi imposta pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e pelo Corpo de Bombeiros. Os órgãos defendem a reforma de adequação do teatro às exigências de segurança e acessibilidade. Contudo, a obra não possui previsão para início, e a população e os produtores começam a sentir a lacuna cultural e econômica que o fechamento do teatro deixa. A indústria teatral sente dificuldades. É o caso da Deca Produções, especializada em trazer peças de teatro de outros estados para Brasília. Segundo André Deca, presidente da empresa, o prejuízo econômico é imenso. “No mês de abril deixei de trazer duas peças para a cidade. Os diretores queriam trabalhar na Sala Villa-Lobos, uma vez que já estão ambientados com ela. O Teatro Unip não é tão conhecido pelo pessoal de fora.”

Sinais de falta de manutenção são encontrados por todos os lados no Teatro Nacional, como as poltronas da Sala Villa-Lobos. A expectativa é de que a licitação para reformas seja aberta ainda em 2014, segundo a Secretaria de Cultura do Distrito Federal

Segundo o produtor, Brasília é carente em espaços culturais públicos, e sem o Cláudio Santoro fica difícil encontrar um local viável e à altura. A alternativa encontrada por Deca e seus colegas produtores foi a sala de Teatro Unip. Desde fevereiro, é lá que são apresentadas as maiores peças teatrais da cidade. A perda espacial é nítida: enquanto a Sala Villa-Lobos tem 1.307 lugares, a da Unip oferece apenas 508. Entretanto, não é apenas o tamanho que gera desconforto entre artistas e produ-

tores. A companhia de teatro Melhores do Mundo ficou em cartaz por quase dois meses no Teatro Unip e a experiência não foi das melhores. É o que garante Adriano Siri, integrante do grupo. “Tivemos tempos difíceis na Unip. Além de problemas técnicos com luz e bilheteria, um episódio triste e inédito aconteceu. Uma de nossas sessões foi cancelada porque a cortina, que é elétrica, não abriu no dia do espetáculo. Ficamos muito envergonhados.” Além do fato citado, o grupo passou por outra situação

incomum. Geralmente, os Melhores do Mundo se apresentam no Teatro Nacional, suas temporadas são apresentadas em um único final de semana, e têm o espaço de três meses entre uma e outra. Porém, a última delas durou oito finais de semana. Foram quase 20 apresentações e, segundo Siri, é o preço que se paga pela reforma do teatro. “Foi a alternativa que encontramos para atingir o mesmo número de espectadores de sempre, e também arcar com as despesas de nossa produção”, justifica o ator.

MEDO DE UM “NOVO” CINE BRASÍLIA Ieda Gabriel é atriz e revela seu medo: de que aconteça com o Teatro Nacional o mesmo que aconteceu com o Cine Brasília. Fechado em maio de 2012 para reforma, o Cine Brasília deveria ter sido reinaugurado em setembro do mesmo ano, para a realização do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Porém, o que se viu foram desgastantes atrasos nas obras do último cinema de rua da cidade. No final das contas, mais de um ano após o prazo


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inicial, a obra foi entregue e a 46ª edição do Festival aconteceu no “novo” local. “Nós ficamos 16 meses sem aquela que considero uma de minhas casas. Não quero que aconteça o mesmo com o Teatro Nacional”, lamenta a atriz. Mesmo assim, o temor de Ieda deve se confirmar. Sendo otimista em ano de eleições, a atriz poderá assistir a um grande espetáculo no local daqui a dois anos. Procurada pela reportagem do Campus, a Secretaria de Cultura, responsável pelo Teatro Nacional, respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, os questionamentos não só de apaixonados pela arte como Ieda, bem como os de produtores como Deca e artistas como Siri. “Não há previsão para início das obras ou reabertura do

local para apresentações. Nossa expectativa é abrir a licitação ainda em 2014.” No dia 30 de abril deste ano, a pasta recebeu da empresa Acunha Solé Engenharia Ltda. o projeto executivo de restauro do teatro. Contratado ainda em 2013, o projeto foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Porém, a secretaria ainda não elaborou edital de licitação para as obras do local e, quando realizado, seguirá para a Procuradoria Geral do Distrito Federal para análise. A expectativa é que todo o restauro tenha investimento de R$150 milhões e as obras durem 18 meses. Assim, é difícil prever quando Pedro Henrichs poderá levar seu filho ao Teatro Nacional para assistir a uma peça.

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MELHOR DO QUE O SONETO A Orquestra Sinfônica mudou-se para o Pedro Calmon, que, segundo integrantes, é melhor do que a Villa-Lobos

Bruna Chaves

Bruna Chaves

Além do Pedro Calmon, a Sinfônica está prestes a fechar parcerias com outros locais

A Entrada do Teatro Nacional virada para o Eixo Monumental apresenta vários sinais de infiltração Bruna Chaves

Painel de Athos Bulcão no foyer da Sala Martins Pena apresenta deterioração

Orquestra Sinfônica de Brasília também foi afetada com o fechamento do Teatro Nacional, uma vez que fazia suas apresentações semanais no teatro. Mas com a reforma do local, era necessário encontrar uma nova casa para tocar. O diretor executivo, Marconi Scarinci, no entanto, é a favor de uma reforma do local. “É claro que é bom tocar no Teatro Nacional, é a nossa casa, mas o teatro precisava dessa reforma. A Sala Villa-Lobos tem uma das piores acústicas que já ouvi. Sem contar que as condições das salas de ensaio são insalubres. Elas vão melhorar depois dessa transformação.” Questionado sobre as outras reformas que o Claudio Santoro já passou, Scarinci foi taxativo. “Só serviram para maquiar os problemas, não resolveram as nossas necessidades.” A nova casa escolhida pela orquestra foi o Teatro Pedro Calmon, localizado no Setor Militar Urbano. Scarinci garante que a mudança não foi prejudicial para os concertos. “Nós fomos mui-

to bem recebidos pelo Exército Brasileiro, além do mais, o Pedro Calmon é um ótimo teatro, confortável, e a capacidade é de 1.200 lugares, parecida com a Villa-Lobos.” Para o diretor, a nova casa não atrapalhou o público da orquestra. “Continuamos com nossa programação normal de concertos toda terça-feira. O Claudio Santoro fica em uma área central, mas o Pedro Calmon também é muito fácil de chegar, dá pra vir de ônibus.” O funcionário público Carlos Motta, no entanto, não concorda com o diretor. Acostumado a acompanhar os concertos da orquestra na sala Villa-Lobos, Motta reclama: “Só fui uma vez no Pedro Calmon, ele é distante e não tem as facilidades de acesso do Claudio Santoro. Além do mais, não possui o mesmo charme”. Ao contrário de Scarinci, produtores de teatro da cidade não veem o Calmon como a melhor alternativa ao Teatro Nacional. Fernando Guimarães traz peças de teatro para Brasília há mais de 20 anos e afirma: “O Calmon real-

mente tem um espaço ótimo, mas possui uma grande desvantagem que é a localização. A rodoviária, localizada a poucos passos do Teatro Nacional, sempre foi um dos mais fáceis e famosos pontos de encontro da cidade”. O ator Adriano Siri ainda cita a dificuldade de se ter espetáculos frequentes em área militar. “Nós já nos apresentamos lá, e tivemos uma boa experiência. Mas sabemos que o teatro prioriza atrações sem fins lucrativos, e o Exército também possui um sistema rígido de aceitação de peças”, conclui Siri. Além do Teatro Pedro Calmon, a Orquestra Sinfônica de Brasília está prestes a fechar parcerias para se apresentar em outros locais. “Temos a possibilidade de ir ao Cine Brasília e, além disso, fechamos uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente para fazermos concertos ao ar livre em parques do DF”, explica Scarinci. Ele ainda enaltece a aproximação da orquestra com o público. “Temos que tocar onde o público está e mostrar a todos uma música de qualidade.”


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SEGURANÇA

SABIA QUE ESTOU TE FILMANDO?

Distrito Federal possui uma câmera para cada 8,4 mil habitantes e meta é chegar aos padrões londrinos de uma a cada 14 pessoas Fernando Jordão Victor Pire s

U

ma sociedade totalmente monitorada por câmeras. O fim da privacidade. A sensação de estar sendo constantemente vigiado pelo Grande Irmão (Big Brother, no original em inglês). O cenário imaginado em 1948 pelo escritor britânico George Orwell parece ter saltado das páginas do livro 1984 e invadido o mundo real: 65 anos após a publicação da referida obra, o Distrito Federal tem hoje uma câmera para cada grupo de 8.479 habitantes. Ao todo, estão instaladas no Distrito Federal 329 câmeras de videomonitoramento. Destas, 160 estão na área central de Brasília. Até o final do ano, o número de equipamentos deve chegar a 835, divididos em 17 regiões administrativas (vide mapa abaixo). Todos os aparelhos já foram comprados, ao custo de R$ 26 milhões, provenientes do Governo do Distrito Federal (GDF). De acordo com o subsecretário de Modernização de Tecnologia, da Secretaria de Segurança Pública, Celso Nenevê, a ideia de instalar um sistema de videomonitoramento no DF nasceu há dois anos, com o objetivo de reduzir a criminalidade. Segundo ele, no primeiro momento, os aparelhos serão mais utili-

zados na tentativa de resolução de crimes que já ocorreram. Mas, a médio prazo, os equipamentos passam a ter uma ação preventiva. “Depois de instaladas, as câmeras trazem problemas para quem comete uma ação delituosa. Nesse aspecto, elas têm um caráter preventivo e g e r a m r e d u ç ã o d a criminalidade”, explica. Nenevê garante que essa queda na incidência de delitos já tem ocorrido desde a instalação das primeiras câmeras, no início deste ano. “Ainda não conseguimos estimar quanto caiu, mas nós tínhamos, por exemplo, pontos que eram típicos de tráfico de drogas e que, com os equipamentos, deixaram de existir”. Segundo o subsecretário, a meta é reduzir a criminalidade de 30% a 50%, como aconteceu em outros países, a exemplo da Inglaterra, cuja capital tem uma câmera a cada 14 habitantes. O professor do curso de Segurança Pública da Universidade Católica de Brasília (UCB) e mestre em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação, Nelson Gonçalves Souza, concorda que as câmeras são, de fato, uma boa iniciativa para combater a criminalidade no Distrito Federal. Ele alerta, contudo, para a necessidade de um efetivo de policiais qualificados, capazes de dar uma solução imediata aos pro-

blemas vistos por meio dos equipamentos de vídeo. “No Brasil, é cada vez maior a aposta nesses sistemas. A crítica que se faz é que os sistemas de apoio (policiais e viaturas) ainda carecem de melhorias e otimizações para que possam utilizar as imagens geradas pelas câmeras de maneira adequada e oportuna”, avalia o especialista. CENTRAL DE CONTROLE As imagens das câmeras serão monitoradas no Centro Integrado de Controle e Comando (CICCR), onde trabalham representantes de todos os órgãos do GDF e de autarquias federais. No local, está instalado um gigantesco telão, composto por 55 telas de 55 polegadas, cada, onde é possível visualizar as filmagens.

Os vídeos são armazenados em servidores do centro, por um prazo de até três meses. Na construção do local, foram investidos R$ 160 milhões, sendo que, desse montante, R$ 70 milhões são oriundos do governo federal. Conforme Celso Nenevê, os equipamentos serão utilizados apenas na área da segurança pública. Por isso, segundo ele, não há necessidade legal de placas alertando a presença dos aparelhos. “Quando os objetivos dessas câmeras são específicos para o combate ao crime, não é preciso avisar ninguém”, comenta Nenevê. “Essas câmeras vão flagrar, por exemplo, pessoas se beijando na rua. Contudo, essas imagens jamais serão usadas. E se alguém usá-las, responde por crime. Dessa forma, o

operador que vai monitorar as filmagens tem que ser policial, porque a pena dele é muito maior. Ele tem perda de função pública”, completa. Nas ruas, alguns cidadãos parecem não se incomodar com uma possível invasão de privacidade. “Como as câmeras serão instaladas nas ruas, eu não as vejo invadindo a minha intimidade. Mas, mesmo que invadissem, eu acho que abriria mão de um pouco da privacidade em nome da segurança”, opina a gestora de recursos humanos Bruna Lima, duas vezes vítima de assaltos. Na era dos reality shows, a sociedade parece ter passado a gostar de ser vigiada. E essa inversão nem mesmo o profético George Orwell foi capaz de prever. Thomas Jefferson

A Secretaria de Segurança Pública pretende construir 21 Centros de Monitoramento Regionais (CMRs) nas principais regiões administrativas do DF. No momento, apenas três estão funcionando – Ceilândia, Samambaia e Taguatinga


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TRÂNSITO

TODOS OS DIAS É UM VAIVÉM População do Distrito Federal sofre com deficiência do transporte público e frota de micro-ônibus precisa ser renovada

Rômulo Andrade

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hegar atrasada no colégio ou até perder o dia de aula tem se tornado rotina na vida de Taynarah Souza, 19 anos, estudante do Centro 2 de Planaltina. E o motivo não é a falta de interesse da jovem, mas a precariedade e o baixo número de ônibus que a levam até a escola. Taynarah depende dos micro-ônibus que circulam internamente na cidade, e conta que, quando o veículo não está superlotado e não a deixam entrar, o tempo médio de espera na parada é de mais de 30 minutos. “Existem três ônibus que fazem a linha que eu pego. Além de estarem sempre muito cheios, têm muitas cadeiras e ferros de apoio danificados, mas o pior é quando o ônibus quebra no meio do caminho. Isso acontece pelo menos uma vez por semana”, conta. Esse é um simples exemplo do que está acontecendo em algumas cidades do Distrito Federal (DF), como Planaltina, Santa Maria e São Sebastião. Moradores, e principalmente estudantes, reclamam da falta de manutenção e, consequentemente, diminuição do número de ônibus. Na linha 67, que liga o Vale do Amanhecer à Planaltina, por exemplo, existem apenas dois veículos que fazem o trajeto. Segundo Maria de Fátima, 52 anos, é impossível subir no micro-ônibus em uma parada que esteja no meio do percurso. “Quem quer entrar tem que ir para a parada de onde o ônibus sai, que fica a mais de dois quilômetros de casa. O motorista nem para nos outros pontos de ônibus porque não cabe mais gente. Ir sentado é muito difícil!”, reclama.

Em 2008, no governo de Bruna Furlani paga um real por Roberto Arruda, as vans que trecho e já poscirculavam pelo DF foram trosuem um horácadas por micro-ônibus, e estes rio combinado, o ficaram responsáveis por fazer que faz com que o transporte interno de cada eles não atrasem cidade. A empresa que ganhou mais com tanta a licitação para Planaltina foi a frequência. “TeCoopertran, e 40 novos veícunho o passe estulos foram colocados em circuladantil, mas gasção para atender as nove linhas. to dinheiro por De acordo com Lúcio Lima, dinão poder usar retor técnico do DFtrans, cada desse direito. É cooperativa é responsável pela melhor pagar manutenção e preservação dos do que não ter carros, e o DFtrans, até o início como frequentar do mês, tinha o papel de realias aulas”, afirma zar a fiscalização em todos âmo estudante. bitos, o que agora está a cargo Para Eduardo da Secretaria de Transportes Biavati, mestre do DF. “Todo ônibus tem uma Em 30 minutos de observação a reportagem de Campus contabilizou cinco micro-ônibus e 40 carros em Sociologia vida útil de sete anos, então até piratas na principal parada de Planaltina e consultor em 2015, os ônibus, na teoria, não manutenção defasada e diz que, PIRATAS FAZEM A FESTA educação e segurança para o teriam que ser trocados. Mas por estar há pouco tempo com A situação estava imprati- trânsito, o transporte clandesa falta de atenção das coopera- o dever de fiscalizar, existem al- cável para Lucas Almeida, 17 tino é problema crescente nas tivas faz com que os auditores guns lugares que não estão sen- anos, estudante do Centro de capitais brasileiras e a oferta do DFtrans recolham veículos do completamente atendidos Ensino Médio 01 de São Se- surge justamente pelo fato de que não estão em condições pelos auditores. Em contrapar- bastião. Desde o início do ano, o serviço público formal ser mínimas de segurança para cir- tida, por estar chegando o fim o garoto já conta com mais insuficiente. “A diferença enculação. O contrato com as co- da idade máxima permitida para de 20 faltas na escola devido tre a renda do brasileiro há operativas vão até 2018, então os micro-ônibus, a partir do fi- a escassez de transporte na 10 anos e a de agora é muito será necessária a renovação da nal do ano, uma operação será região. “A escola fica a mais notória. Estamos com mais difrota”, explica. montada para apreender todos de oito quilômetros de casa, nheiro para gastar e assim moDe acordo com a Secretaria que estiverem irregulares. então não dá para ele ir a pé. vimentar melhor a economia, de Transporte, há uma fiscaliJá o vice-presidente da Co- Ele acordava cedo e depois de mas o transporte público não zação periódica para que ônibus opertran, Ricardo dos Santos, umas duas horas, voltava pra acompanhou esse crescimennão circulem em más condições. diz que, em pontos perto do casa sem ter conseguido en- to”, afirma. Segundo Biavati, Uma vistoria obrigatória acon- Vale do Amanhecer, os ôni- trar no ônibus”, conta Cleusa a população muitas vezes não tece de quatro em quatro meses bus da cooperativa não podem dos Anjos, mãe de Lucas. Para tem a escolha de não pegar e concede um selo de circulação, entrar, pois são assaltados e conseguir chegar até a escola uma van ou “perua”, e se expor e se algum veículo for visto com apedrejados diariamente. “Na de forma mais rápida, e consi- ao risco de o motorista não eso selo vencido, ou até mesmo nossa garagem temos uma ofi- derada por Lucas, mais segura, tar em condições para dirigir, sem esse certificado, o carro é cina com dois turnos de me- ele se uniu a mais três amigos nem mesmo o carro ter pasapreendido. A empresa dona cânicos e lanterneiros, mas a e procuraram o transporte sado por triagem, mas certas do veículo tem três dias para ar- depredação é muito grande”. clandestino. Ao fazer uma es- situações ajudam a contribuir rumar o que não estiver dentro Hoje, circulam 36 ônibus da pécie de contrato para condu- para o crescimento da ilegalido padrão, e se o prazo não for cooperativa em Planaltina e, ção com um rapaz que possui dade. “A demanda aumentou, cumprido, é cobrada uma mul- segundo ele, em agosto deste um carro e faz o transporte na mas a oferta não, então ela tita diária. A secretaria reconhe- ano começará o processo de região há mais de dois anos, nha que ser atendida de outra ce que o transporte está com a renovação da frota. cada um do grupo de garotos forma”, completa.


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TECNOLOGIA

NÃO É BRINCADEIRA DE CRIANÇA Competições oferecem prêmios de milhares de reais e mudam o cenário do esporte eletrônico no Brasil Jéssica Martins e Raila Spindola

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resente no Brasil há cerca de uma década, os esportes eletrônicos – ou e-sports, como são mundialmente conhecidos – ganharam popularidade e força somente nos últimos dois anos. Só em 2014, campeonatos como a Intel Extreme Masters e o Circuito Brasileiro de League of Legends (CBLOL) contam com premiações de US$ 75 mil e R$ 100 mil, respectivamente, e investimentos de multinacionais. Os vencedores dos campeonatos são classificados para eventos maiores para competir com equipes de todo o mundo. Em agosto de 2011, a Valve Corporation – distribuidora e desenvolvedora de jogos eletrônicos americana – realizou o primeiro The International, campeonato mundial do jogo de estratégia em tempo real Dota 2. Na competição, 16 times são pessoalmente convidados para participar e o prêmio da primeira edição foi de US$ 1 milhão para a equipe vencedora. Apesar do valor oferecido no The International – que na edição de 2014 está com a cotação em US$ 6 milhões de dólares – foi League of Legends (LOL), da desenvolvedora Riot Games, que trouxe o esporte eletrônico para o cenário nacional com uma força nunca vista. Segundo o torcedor Felipe Bender, o investimento das empresas que desenvolvem os jogos faz toda a diferença. “A Riot viu o potencial do Brasil, investiu e o LOL começou a ficar popular. Com acessibilidade, consigo assistir a competições como o Campeonato Mundial de League of Legends”, explica Felipe.

Com servidor brasileiro lançado em fevereiro do ano passado, League of Legends, assim como Dota 2, é classificado dentro do gênero Moba (massive online battle arena ou, em tradução livre, batalha online massiva de arena). Baseado na formação de dois times com até cinco pessoas que variam de um jogo para o outro, no estilo Moba cada jogador controla um personagem com o objetivo de marcar pontos, destruir fortificações inimigas e matar os personagens do time adversário para vencer a partida. De acordo com Diniz “Gruntar” Albieri, narrador de competições de e-sports como a Intel Extreme Masters, o estilo de League of Legends tem características importantes para conseguir o número de adeptos que tem hoje. Para ele, a gratuidade do jogo incentiva novos jogadores a testarem, além de exigir pouco da capacidade do computador e dispensar o uso de uma máquina cara, o que no Brasil é essencial. “Não é um jogo difícil e, além disso, é em equipe, então você se diverte com os amigos. Esses aspectos atraem as pessoas”, argumenta Diniz. Os próprios ciberatletas brasileiros não perdem o mé-

rito ao mostrar o potencial do país em produzir bons jogadores da modalidade. Leonardo “Erasus Hitbox” Faria, com apenas 13 anos, faz parte de uma equipe semiprofissional, a Roaming Dragons. De acordo com ele, é possível disputar campeonatos, mas ainda é preciso esperar quatro anos para participar dos oficiais da Riot Games. “A idade mínima exigida é de 17 anos, mas estou pronto. Levei só dez meses para chegar ao nível diamante um”, conta Leonardo, orgulhoso, ao falar da colocação no segundo maior nível de jogador no ranking mundial de League of Legends. A partir da demanda vista, empresas voltadas para o trabalho com os e-sports se formaram no Brasil. Organizadoras de campeonatos nacionais e federações esportivas que treinam e gerenciam equipes são encontradas em grande número e com patrocínio de multinacionais do ramo eletrônico. Uma dessas federações é a RMA e-Sports, que começou o investimento na modalidade e se tornou uma empresa registrada para o campeonato brasileiro de 2012. “Hoje temos seis equipes, estamos em cinco jogos diferentes e todos os atletas foram esco-

“Você vibra, vê os momentos de tensão quando o seu time está em momentos decisivos e tem as jogadas de tirar o fôlego.” Caio Henrique de Medeiros, torcedor de League of Legends

Bruna Furlani

Leonardo Faria (direita), de 13 anos, precisa esperar completar 17 anos para participar de competições oficiais de League of Legends

lhidos a dedo”, conta Tiago Carvalho Sans, diretor geral da RMA. “Os jogadores são fixos, têm contratos assinados e precisam jogar por temporadas completas, não podem sair. Isso protege a RMA, o atleta e o patrocinador, que saberá quem representa a marca dele”. VIDEOGAME É COISA SÉRIA Para Francisco Marcelo Marques, coordenador do curso de Jogos Digitais do Centro Universitário Iesb, o mercado voltado para os jogos online tem um crescimento tanto no desenvolvimento de novos jogos quanto em competição. “Novas empresas são criadas todos os dias”, diz Francisco. “Os jogos eletrônicos construíram um

mercado no Brasil e têm espaço para os profissionais da área”. Lucas “Zang” da Mata, de 19 anos, é ciberatleta e hoje vive apenas do e-sport. Tendo competido várias vezes no exterior, hoje é pago por sessões de jogo onde treina com equipes que se preparam para campeonatos ou é convidado para substituir pessoas que, por algum motivo, não poderão comparecer aos campeonatos. As sessões de treino podem durar de dois a sete dias e Lucas recebe cerca de US$ 150 por sessões curtas. “Os responsáveis pelas equipes assistem aos jogos de alto nível e chamam o jogador para uma entrevista. Se for o que eles querem, você está dentro”, explica o jogador.


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Bruna Furlani

O narrador Diniz “Gruntar” Albieri ganha hoje em torno de R$ 1,5 mil com os patrocínios das transmissões ao vivo que realiza, além do dinheiro extra pago nas competições que narra. Na opinião dele, ainda é pouco para quem vive com a esposa e o filho, mas que talvez a quantia fosse o suficiente se não tivesse uma família. “Estou arriscando em um futuro, hoje mal pago minhas contas, mas sonho com o dia em que viverei tranquilamente fazendo o que gosto”, desabafa. Tiago Carvalho Sans diz faltar suporte governamental para a modalidade e que, apesar de não ter existido dificuldade para registrar a empresa RMA e-Sports, não há nada na legislação brasileira em relação a uma empresa do gênero. “Foi necessário abri-la da mesma forma que é registrado um bingo, o que pode dificultar o acordo com o patrocinador. Formalizar a empresa ajuda nos negócios, assim os patrocinadores entendem que é seguro sair da mídia convencional para investir na gente”, explica. “O objetivo é de que no futuro as pessoas levem os filhos para participar dos campeonatos e torçam para as equipes.” De acordo com o Ministério do Esporte, não cabe ao poder público reconhecer qualquer entidade esportiva. “A Constituição Federal de 1988 estabelece que a prática esportiva é livre no país, assim como a organização em en-

tidades representativas”, diz a assessoria de imprensa. Para o advogado Vinicius Calixto, a organização de competições por entidades como federações e confederações é o que dará forças ao e-sport, por mais que as disputas que não promovam apostas sejam legalizadas. “A descentralização das competições nas lan houses não é interessante e é preciso que haja padronização das regras dos jogos”, argumenta. Na opinião do atleta Jonathan “Jow” Nascimento (Jow), de 20 anos, membro da equipe profissional Acezone Academy Red, o que ainda falta no esporte eletrônico são jogadores dispostos a competir para divulgar o cenário nacional e menos focados nas premiações de milhares de dólares. “Ainda é uma modalidade muito instável no Brasil, então precisamos de mais jogadores apaixonados e menos gananciosos”. A jogadora Débora “Yuuki” Abrantes, 23 anos, concorda com Jonathan e acredita que os frutos do esforço dos jogadores de hoje serão colhidos pelos próximos atletas da modalidade. Mas mesmo não reconhecido pela maioria da população, o esport continua visto pelos adeptos da modalidade como um esporte convencional. “Você vibra, vê os momentos de tensão quando o seu time está em momentos decisivos e tem as jogadas que são de tirar o fôlego”, conta o torce-

Thais Gomes, espectadora de competições de e-sports, acompanha os jogos com o objetivo de aprender novas técnicas com personagens do jogo que não conhece tão bem

dor Caio Henrique de Medeiros, que acompanha e-sports desde 2009 e torce para o time nacional CNB e-Sports Club e para o sul coreano SKT1. Thais Gomes, expectadora de competições de League of Legends, acompanha alguns jogos sem se preocupar com as equipes envolvidas e diz assistir e-sports em busca de aprendizado com quem é mais experiente. Além disso, acredita que as locuções também são um grande auxílio para aprender mais e manter o foco. “As narrações são tanto divertidas quanto explicativas. Eles têm conhecimento e, como em um jogo de xa-

drez, buscam prever como pode ser cada partida. Isso dá margem pra você pensar junto e não só ficar olhando e ouvindo”, explica Thais. O INÍCIO DA PARTIDA A primeira vez que se ouviu falar na grande mídia de competições de jogos eletrônicos no Brasil foi em 2007, com a chegada do famoso Counter Strike, o que popularizou os jogos do gênero FPS (first-person shooter, ou tiro em primeira pessoa). Motivo de polêmica na época de maior sucesso, o jogo caiu no desgosto de uma parcela da população por ser considerado muito violento.

2012

2013

10º WCG Brasil – Nacional de Counter Strike*

1º Intel Extreme Masters – Nacional de Starcraft

1º CBLOL – Nacional de League of Legends

Premiação total: Equipamentos de computador * Última edição com disputa de CS

Premiação total: US$ 21 mil

Premiação total: US$ 55 mil

2014 4º The International–Mundial de Dota 2

Premiação total: US$ 7 milhões ou mais

Caio Mota

2011

Counter Strike foi esquecido após diversos comentários negativos na mídia e em janeiro de 2008 foi recolhido pelo Procon das lojas do estado de Goiás com a afirmação de que era impróprio para consumo. De acordo com o atleta Jonathan “Jow” Nascimento, até mesmo disputas com aposta de dinheiro aconteciam na época da fama de Counter Strike, o que não ocorre com os jogos mais conhecidos atualmente. “Na maioria dos casos os campeonatos são organizados para divulgar a lan house e os prêmios são dados em dinheiro digital para ser usado no servidor do jogo.”


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PREVIDÊNCIA

QUEM MERECE AMPARO?

Auxílio-reclusão está em análise na Câmara dos Deputados. Mais de 90% apoiam o fim do benefício, contudo ainda há desconhecimento sobre o tema Camila Curado

A

única coisa boa que hora, distorcidas. Para ele, “o o Maranhão tem é erro das discussões é não saber o presídio de Pedri- nem o que é o auxílio-reclusão”. nhas.” A afirmação do deputado “Acho justo como qualquer Jair Bolsonaro (PP-RJ) deixa outro direito previdenciário”, bem clara a sua posição em re- afirma a professora de direito lação ao sistema carcerário no na Universidade de Brasília Brasil: para ele, o criminoso Cristina Zackseski que relemdeve encontrar, na cadeia, con- bra do principal objetivo do dições tão cruéis quanto ao cri- benefício: evitar a vitimização me que ele cometeu. reflexa. Isto é, os dependentes Por esse motivo, o deputa- ficam vulneráveis socialmente do se indigna quando o assunto quando o responsável finané auxílio-reclusão, benefício ceiro é preso e, portanto, o auconcedido à família do detento xílio é dado para impedir que que contribuía com a previ- a família integre na criminalidência social. Todavia, Bolso- dade também para conseguir naro não é totalmente contra meios de subsistência. o auxílio. Para ele, metade da renda recebida pelos depen- O BENEFÍCIO dentes do criminoso deveria O auxílio-reclusão é um ser destinada às vítimas. benefício da previdência social Em pesquisa realizada no concedido aos dependentes de portal da Câmara dos Deputa- detentos que contribuíam por dos sobre a Proposta de Emen- meio da carteira assinada ou da Constitude forma incional 304/13 dependente em análise, que Menos de 8% da com o Instipropõe o fim do tuto Nacioauxílio-reclusão população carcerária nal do Seguro e a criação de (INSS). da capital recebe Social benefício para O auxílio só é a vítima, 95% auxílio- reclusão pago para dedos brasileiros Baseado em dados da Secretaria pendentes de se posicionaram de Segurança Pública do DF e do segurados que contra o auxílio. Ministério da Previdência Social tenham um A enquete já é salário igual ou uma das cinco mais votadas no inferior a R$ 1.025,81. O cálcusite, com mais de 130 mil vo- lo do valor recebido é feito com tos, e teve as redes sociais como base na média dos salários de um impulsionador. contribuição do trabalhador. Juiz de Direito do Tribunal Há um desconhecimento da de Justiça do Distrito Federal e existência do auxílio-reclusão e Territórios (TJDFT), Márcio as poucas famílias que recebem Evangelista Ferreira da Silva necessitam do benefício. É o não se recorda de um movi- caso dos dependentes de Paulo mento tão forte contra o bene- Sérgio Régis Júnior, que trabafício nos seus mais de 50 anos lhava na construção do Estádio de existência, e acredita que o Mané Garrincha. Após ser preefeito viral da internet trouxe so, há um ano e quatro meses, a questão à tona, porém com a família se mantém graças ao informações incompletas e, por auxílio. Assim como a de Pau-

Tainá Farfan

Dos mais de 12 mil presos distribuídos nas seis unidades penitenciárias do DF, apenas os dependentes de 949 foram beneficiados pelo auxílio-reclusão até dezembro do ano passado

lo Sérgio, a de Diego Lima de Castro e de Talison do Nascimento, que também ajudavam no sustento do lar, e, por terem contribuído com o INSS, puderam deixar um amparo financeiro aos seus dependentes. SOBRE A PEC Em agosto de 2013, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC) elaborou a Proposta de Emenda Constitucional 304 transferindo o auxílio-reclusão para a vítima do crime. Para ela, a PEC é uma forma de amparar pessoas e famílias vitimizadas pela pobreza imposta e pela violência da criminalidade. “Meu foco número um se deu no seio de jovens que ficam órfãos do seu futuro quando o provedor da família é atingido”, declara. “O auxílio, para mim, é um estímulo [à criminalidade], com as exceções dos crimes não intencionais.” Por isso, ainda não se sabe se autores de delitos involuntários terão auxílio. A deputada Antônia Lúcia pre-

tende instalar uma Comissão Especial para analisar os pormenores da PEC. A proposta divide opiniões. O ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) afirma ser totalmente a favor da PEC. Para ele, o auxílio-reclusão “é uma medida social, mas injusta, porque não atende, principalmente, quem merecia a atenção do Estado, que foi a família vitimizada”. Fraga não vê o benefício como incentivo ao crime, mas acredita que seja uma forma de premiá-lo. Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) defende o auxílioreclusão por ser um direito da família: “A gente deveria trabalhar com os familiares dos detentos para que eles ajudassem na ressocialização, a repensar e interromper a trajetória criminosa e voltar para a sociedade”. Segundo Kokay, a PEC 304 “é um projeto pautado na vingança” que alimenta um sentimento de ódio, intolerância e vingança com as próprias mãos. Ela afirma que acabar com o auxílio

estenderia a pena para a família “como se estivesse dizendo que é um privilégio alguém ter um benefício para o qual contribui”. Márcio Evangelista, juiz de direito do TJDFT, é contra o fim do auxílio, por acreditar que transferir o benefício para a vítima não resolve a questão principal. “Deveriam ser construídas políticas públicas para atender os dois, e não deixar de atender um para atender o outro. Porque a família do preso normalmente já está numa situação de marginalidade, não criminal, mas marginalidade à parte da sociedade.” NEM LÁ NEM CÁ Antes da elaboração da PEC 304/13, mudanças no auxílioreclusão já eram discutidas na Câmara. Em junho do ano passado, o deputado André Moura (PSC-SE) propôs o Projeto de Lei 5.671 a fim de dividir e ratear o benefício previdenciário em partes iguais entre as famílias das vítimas e do detento.


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COMPORTAMENTO

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LARES DIVIDIDOS

Cerca de 80% dos filhos de pais separados no Brasil sofrem algum tipo de alienação parental Pedro Alves afastar os filhos do(a) excompanheiro(a). Isso pode deixar marcas tanto nos pais quanto nos filhos.” Analdino também acredita que o alto número nos casos se deve, principalmente, à cultura matriarcal que domina o país. “Hoje em dia, 81% das guardas unilaterais de menores ficam com as mães e só 12% são guardas compartilhadas. Se os pais tivessem o mesmo peso na criação dos filhos, os números de alienação parental seriam menores.” DISPUTA JUDICIAL Acusações de abuso sexual foram o pretexto para que o ex-marido de Raquel Lucena sequestrasse a filha do casal. Há cerca de dois anos, a menina, então com cinco anos de idade, foi passar férias com o ex-marido de Raquel em Manaus e não voltou mais para os cuidados da mãe, no Recife. “Ele acusou meu noivo de ter molestado a minha filha e então, desde agosto de 2012, só a vi duas vezes e falei por telefone em cinco ou seis ocasiões”. Apesar de ter iniciado diversas ações

Luana Melody Brasil

O

filho de José Nogueira (nome fictício) não quer ter contato com o pai. Aos 11 anos, o garoto não atende às ligações do genitor e recusa qualquer convite para passar uma temporada com José. A relação nem sempre foi complicada assim. Quando Nogueira separou-se da ex-esposa, ele ainda conseguiu manter uma boa relação com o filho por dois anos. A mãe se mudou com o menino para uma cidade do interior de Minas Gerais e, desde então, o pai se tornou um estranho para a criança. José acredita que a mãe do garoto é a principal responsável pelo afastamento dos dois: “Ela dificulta o nosso contato. Fala mal de mim e discute, na frente dele, meus assuntos financeiros e coisas que meu filho não deveria saber que acontecem”. A situação do filho de Nogueira é, em certo grau, parecida com a de outros 16 milhões de pessoas. Segundo dados da Associação de Pais e Mães Separados (APASE), 80% dos 20 milhões de filhos de casais separados no Brasil sofrem algum tipo de alienação parental. Ou seja, quando um dos genitores ou avós interfere na formação psicológica da criança a ponto de atrapalhar a relação dela com o pai ou a mãe, tornando-a hostil ou mesmo agressiva com um dos dois. Para Analdino Rodrigues, presidente da APASE, a alienação parental pode ter consequências graves às crianças. “Hoje em dia, há genitores que chegam a fazer falsas denúncias de abuso sexual para

jurídicas para reaver a filha, Raquel reclama do andamento dos processos. “Tomei e continuo tomando todas as medidas possíveis para tê-la de volta, mas nossa justiça não funciona. Hoje em dia, não tenho contato com a minha filha porque o pai dela não permite”, indigna-se. Problemas no andamento dos processos judiciais também ocorreram com o advogado Alexandre Brito. Ele alega que seu relacionamento com os filhos – uma menina de quatro anos e um menino de sete – foi dificultado pela mãe deles. “Fui impedido de falar com as crianças e de passar fins de semanas com eles. No ano passado, eu tinha a autorização judicial para passar o ano novo com os meninos, mas a mãe os levou e sumiu por mais de dez dias. Minha filha chorava por não me ver e meu filho se tornou uma criança extremamente insegura”, conta o advogado. Alexandre reclama principalmente da demora judicial na hora de exercer a lei. “Assim que iniciaram os atos de alienação, entrei com várias ações, uma de regulamentação de visita e uma cautelar de alienação parental, mas esses processos permanecem

praticamente parados há um ano, sem audiências e com diversas ordens descumpridas por parte da minha exesposa.” A Lei 12.318/2010 dispõe sobre a alienação parental e determina sanções que vão desde advertências à perda da guarda das crianças. Segundo o presidente da APASE, “a existência da lei já é um grande avanço. Em outros países, não existe uma legislação específica que trate do assunto. Os principais pontos são cobertos pela lei, mas o problema é que as pessoas não sabem da existência dela”. Segundo a promotora do Ministério Público do Distrito Federal, Maércia Mello, o grande número de casos é visível nos tribunais. “Não temos estatística, mas essas denúncias têm sido constantes em processos de divórcio e guarda de menores.” A promotora ainda aconselha aos pais que têm o relacionamento com os filhos abalado que procurem um advogado e entrem com uma ação judicial.

CONCEITO RESTRITO Os problemas na relação entre pais e filhos nem sempre são causados por apenas um dos genitores. É o que afirma a psicóloga Mariana Juras, que fez dissertação de mestrado sobre divórcios destrutivos. Ela acredita que o conceito de alienação parental é restritivo, pois muitas vezes os dois têm culpa. “Em um divórcio conflituoso, os pais se criticam mutuamente na frente dos filhos. A repulsa que a criança cria por um deles nem sempre é causada pelo outro genitor. Às vezes é porque o filho fica assustado com as reações nas brigas com o ex-cônjuge, ou então porque se identifica com aquele que sofre mais pela situação, com o que tinha mais contato. Os pais não estão errados em lutar pelos direitos, mas a forma truculenta como fazem isso acaba sendo mais prejudicial às crianças”, observa Mariana. Uma coisa, porém, é inegável: qualquer conflito entre os pais é bastante danoso aos filhos. “Toda a fundação familiar da criança é abalada e ela se vê dividida entre as duas pessoas em quem mais confiava”, afirma a psicóloga. De acordo com Mariana, “a melhor maneira para retomar o relacionamento com o filho é respeitar o desejo dele por distância, mas ao mesmo tempo mostrar interesse. Se ele não quer a presença do pai ou da mãe, eles devem se afastar mas de alguma forma se mostrarem presentes. O mais importante é que a criança saiba que os pais não desistiram dela”.


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DEDICAÇÃO PELOS ANIMAIS Laís Sinício O Abrigo Flora e Fauna é uma associação protetora de animais que há nove anos acolhe cães e gatos em situação de risco, vítimas de abandono e maus tratos. Orcilene Arruda, fundadora da ONG conta que o local é mantido graças a doações e, ao longo desses anos, várias dificuldades foram vividas e superadas. Para ela, hoje, o maior problema da associação é a falta de pessoas que se comprometam a trabalhar lá, remuneradamente ou não. A instituição cuida de cerca de 500 animais e tem apenas quatro empregados fixos, contando com ela. Para alimentá-los, o abrigo gasta mensalmente quatro toneladas de ração.

Orcilene, o ajudante José Aldo e mais duas diaristas cuidam diariamente dos 300 cachorros e 200 gatos espalhados pelos quatro hectares de extensão do Abrigo Fauna e Flora.

Segundo a fundadora, todos os dias pelo menos um animal chega ao abrigo. Alguns animais chegam muito machucados ou doentes. Por isso, a atenção dada a estes deve ser maior para que os danos não se tornem irreversíveis.

Todos os sábados, com ajuda de voluntários o abrigo realiza uma feira de adoções na comercial da 107 sul. Laura Tiago, 14 anos, adotou um novo integrante para sua família: “Já tem cachorro demais na rua, adotar é olhar para aqueles que ninguém olha muito”.


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