Campus - nº 419, ano 44

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Campus BRASÍLIA, 18 DE NOVEMBRO A 1° DE DEZEMBRO DE 2014

NÚMERO 419 ANO 44

MESMO ILÍCITO, COMÉRCIO EM ÔNIBUS CONTINUA Lei em vigor há 12 anos proíbe a venda de produtos dentro de transportes coletivos no Distrito Federal. No entanto, motoristas, cobradores e passageiros permanecem passivos e incentivam a prática| páginas 4 e 5

ESPORTE

O PREÇO DO TRIATLO Apesar de ser uma modalidade cara, número de triatletas cresce em função da renda brasiliense

ESPORTE

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Isabella Campedelli

ECONOMIA

NOVAS MARCAS EM BRASÍLIA A cidade se consolida como a terceira melhor do país para abertura de franquias

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CULTURA

CINEMA BRASILEIRO EM FOCO Investimento financeiro e mudança de visão ajudam a aumentar público dos filmes nacionais

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Antes visto apenas como lazer, o frisbee virou esporte e ganha adeptos na capital federal, como Thiago Camilo e Gabriel Pedruco

COMIDA AFRICANA NÃO TEM ESPAÇO NO DISTRITO FEDERAL 5 ED FINAL FINAL-Campus 2-2014.indd 1

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Carta do Editor Muitos estudantes escolhem o jornalismo por pensar que podem mudar o mundo. O glamour, no entanto, acaba quando vemos que as coisas não são simples. Jornalista tem que correr contra o tempo, nunca errar, nem desistir quando encontra portas fechadas. Busca apresentar a realidade ao público. Essa realidade está presente, por exemplo, na vida das pessoas que convivem com o comércio ilegal que acontece dentro dos ônibus (páginas 4 e 5). Novas tecnologias facilitam o acesso à informação e somos obrigados a nos reinventar constantemente. O Campus é nossa experimentação e nos faz buscar coisas diferentes. Como o Ultimate Frisbee, esporte inovador que ganha adeptos na capital e alça voos ainda mais altos (7). Não conseguimos disputar com os grandes veículos em velocidade e recursos, por isso devemos estar sempre atentos. Um dos méritos desta edição foi perceber o mercado promissor apresentado em Bra-

What the foca? sília. O aumento na abertura de franquias (12), o surgimento de empresas comandadas por jovens (10) e o coworking (11) comprovam essa teoria. O jornalismo está no nosso sangue. O papel e a caneta são complementos do nosso corpo. Vemos oportunidade até longe de casa e com os olhos cerrados. Caso da fotorreportagem feita em Assaí, interior do Paraná, que retratou a rotina da cidade com maior número proporcional de japoneses do Brasil (16). Os jornalistas da vida real não são os heróis narrados nos filmes exibidos em cineclubes, ainda com muita procura na capital (15). Porém, continuamos abrindo portas e correndo contra o tempo para informar a população. Essa turma se despede de Campus com a sensação de dever cumprido. Pode até não mudar o mundo, mas transformou cada um de nós.

Breno Damascena editor-chefe

Memória Em 1985, a edição número 83 do Campus trouxe a reportagem de Cynthia Rosa sobre a inauguração do cineclube Glauber Rocha. Uma iniciativa do Instituto Nacional do Livro (INL) "a todos os interessados em cinema e tudo o que este pode oferecer". Na época, o movimento cineclubista passou por dificuldades para sobreviver e teve que se reinventar: o novo local ofereceu cursos de cinema, além das sessões diárias. Na programa-

ção, os organizadores investiram na exibição de longas metragens estrangeiros, cedidos pelas embaixadas, sem deixar de lado os nacionais. Na edição 419 do Campus o assunto é retomado, mas dessa vez com ênfase na resistência dos cineclubes, no ambiente universitário (15). A internet, ao mesmo tempo que facilitou o acessos aos filmes, também contribuiu para que grupos sentissem necessidade de se reunir para compartilhar experiências e debater o conteúdo audiovi-sual nas faculdades.

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Alunos do Campus e professores na produção do quinto e último jornal do semestre. Todos em clima de despedida

Ombudskivinna A edição 418 do Campus mostra uma maturidade jornalística e um jornal convidativo. Os alunos escolheram pautas diferenciadas, com instinto investigativo e capazes de prender o leitor em cada nova linha. Outro ponto positivo é que, pela primeira vez neste semestre, não precisarei apontar novamente erros de rios, til deslocado, fontes diferentes ou mesmo excesso de fotos de bonecos. Aprenderam que os detalhes fazem parte do trabalho jornalístico. Um belo texto pode não se tornar atrativo se construído com excesso de erros. Peço que a turma se volte neste momento para a escolha

Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor

dos títulos, que muitas vezes são questionados por seus leitores, como aconteceu em uma rede social. Aceitem as críticas dos colegas, dos leitores, entre outros, como direcionadores para um bom trabalho. Acreditar que apenas o chefe ou professor tem algo a ensinar é clichê e um tanto vazio. Aprendam com as críticas e continuem buscando se envolver mais com as pautas, para que elas não sejam meio de obter nota para aprovação. É perceptível ao leitor quando o repórter teve real vontade em pautar, entrevistar, escrever o texto. Com todos estes pontos destaco a matéria sobre a compra de atestados médicos. Apesar de não ser

nenhuma novidade, mostrou o envolvimento dos autores em todas as etapas da construção da matéria. Este texto mostrou que uma pauta pode ser feita e refeita diversas vezes, mas com um processo de apuração diferenciado. Aproveito para ressaltar as matérias sobre a readaptação profissional de professores e os casos de suicídios em determinada comunidade. Estas pautas mostram problemas sociais e de comportamento que influenciam diretamente o processo de formação individual.

Karla Beatriz Barbosa aluna do 7º semestre de jornalismo da UnB

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editor-chefe: Breno Damascena Secretária de redação: Tainá Andrade Editor de arte e foto: Rudá Moreira Editores: Carolyna Paiva, Carolyne Cardoso, Jamile Racanicci, Luisa Marini, Mariana Machado e Vitor Sales Repórteres: Beatriz Pataro, Glaucia Machado, Isabella Campedelli, Ivana Carolina, Juliana Perissê, Lucas Ludgero, Luiza Garonce, Marília Nestor, Mayara Subtil, Melina Fleury,

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Beatriz Chaves

Nara Menezes, Tamara Montijo e Walter Carlos Fotógrafos: Eduardo Carvalho, Gustavo Schuabb, Júlia Lugon e Bruna Araújo Diagramadores: Carolyna Paiva, Carolyne Cardoso, Jamile Racanicci, Luisa Marini, Mariana Machado e Vitor Sales Projeto Gráfico: Breno Damascena, Bruna Lima, Isabella Campedelli, Lucas Ludgero e Rudá Moreira Jornalista: José Luiz Silva

Professores: Sérgio de Sá e Ana Carolina Kalume Monitores: Isabela Resende e Jéssica Martins Gráfica: Colorprint Tiragem: 4 mil exemplares Contato: 61 3107-6498 / 6501 Endereço: Universidade de Brasília, campus universitário Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília/ DF. Faculdade de Comunicação, Instituto Central de Ciências - Ala Norte | CEP: 70 910-900

Acesse o Campus Online pelo leitor de QR Code do seu smartphone ou tablet

www.campus.fac.unb.br

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INFRAESTRUTURA

SEM PREVISÃO DE MUDANÇA Por falta de estrutura prevista em lei, Conselho Tutelar do Lago Sul improvisa atendimento a crianças e adolescentes Nara Menezes

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riado em 2009, o Conselho Tutelar do Lago Sul está até hoje em espaço provisório cedido pela Administração Regional. No começo usada como almoxarifado, a pequena sala com espaço para apenas seis mesas não comporta os nove funcionários da equipe – cinco conselheiros e quatro servidores administrativos. O problema mais grave, segundo o conselheiro tutelar Paulo Storni, é a inexistência de espaço reservado para o atendimento de casos delicados como denúncias de violência física ou sexual. De acordo com a resolução 139 do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), a estrutura mínima adequada seria de quatro salas, determinação distante da realidade. Storni relata que, “para realizar os atendimentos, por vezes é necessário solicitar que toda a equipe se retire da sala para que o conselheiro colha o depoimento da criança, proporcionando ao depoente o maior grau de segurança possível”. Ainda assim, o ambiente não é propício e, muitas vezes, não se estabelece

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Bruna Lima

um grau de conforto suficiente ao denunciante. Em momentos de reunião apenas entre os conselheiros ou do setor administrativo também se solicita que parte dos funcionários aguarde na área externa do local. A Subsecretaria de Proteção da Criança e do Adolescente (Subproteca), ligada à Secretaria de Estado da Criança (Secriança), é res-ponsável pelo suporte técnico, e administrativo para o funcionamento adequado dos conselhos tutelares. Rosilene Lopes, coordenadora da Subproteca, assegura que, nos dois últimos anos, 38 dos 40 conselhos tutelares do Distrito Federal receberam estrutura adequada ao seu funcionamento, e os únicos dois que não foram atendidos foram o da Asa Norte e o do Lago Sul. Hélio Alcântara, da Subproteca, responsável pelos trâmites referentes aos espaços físicos, garante que o primeiro já possui espaço alugado para seu uso, e está passando por reformas para garantir a acessibilidade. O caso do Lago Sul, porém, é o único em que ainda não está prevista a realocação, pois, segundo

Sem espaço desde 2009, o conselheiro tutelar Storni trabalha em sala improvisada da Administração

Alcântara, há um local provável, mas o contrato de aluguel ainda não foi formulado. Ele afirma ainda que, devido ao período final de mandato do governador do DF, a liberação de recursos tornou-se incerta e, portanto, não há estimativa de quando será firmado contrato que determina o novo local de funcionamento do Conselho Tutelar. Storni, conselheiro do Lago Sul desde 2009, questiona a credibilidade da declara-

ção da Subproteca. Segundo ele, “desde 2009, é dito que já há um local previsto para o funcionamento do Conselho, mas até hoje não sabemos quando será feita a transferência”. Durante esses cinco anos, a principal justificativa dada ao Conselho sobre a dificuldade de encontrar um local definitivo são os preços abusivos da região, já que um ambiente comercial adequado ao funcionamento pode ser alugado por mensalidades em torno de R$ 20 mil. O impasse em que se encontra hoje o Conselho Tutelar do Lago Sul já foi a realidade de muitos outros conselhos do DF, como o caso do de Santa Maria, que, em outubro de 2013, teve o direito ao funcionamento com estrutura adequada garantido por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, após ação civil pública proposta pelo Ministério Público.

No caso citado acima a relatora do processo baseou-se em artigos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente que garantem prioridade absoluta à proteção da criança e do adolescente. Até o presente momento, entretanto, o Conselho Tutelar do Lago Sul não se encontra plenamente apto a atender a estas prioridades.

PARA SABER MAIS Os Conselhos Tutelares são órgãos autônomos, com o papel de zelar pelos direitos das crianças e adolescentes. Não têm poder punitivo mas podem encaminhar casos para o sistema judiciário e requisitar o atendimento de necessidades básicas, como o direito à vaga no sistema educacional ou na saúde pública. Para denunciar casos de violência ou negligência infantil, basta ligar para o Disque 100 ou para o número (61) 3234-8555.

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COMÉRCIO

SOLIDÁRIOS CONTRA A LEI

Mesmo proibida, venda de produtos dentro de ônibus é tolerada por motoristas, cobradores e passageiros, que preferem ajudar Lucas Ludgero Mayara Subtil

Eduardo Carvalho

S

ão três ônibus, um microônibus e a vontade de oferecer e mostrar para outras pessoas a chance que teve. É preciso ter jogo de cintura para convencer o motorista e depois os passageiros de que o trabalho é sério. “Boa tarde, pessoal... Eu não ouvi... Vou repetir: boa tarde, pessoal!”. É de maneira efusiva e espontânea que Danilo Leal, 25, inicia o trabalho diário dentro dos coletivos em Taguatinga Norte. Na mochila que carrega ao lado do corpo estão os kits confeccionados na clínica de recuperação Manassés. A venda de uma caneta, uma cartela de adesivos e uma lanterna a R$ 3 foi a forma que a instituição encontrou para manter a ajuda que oferece a dependentes químicos há mais de 16 anos. O rapaz acredita que a venda no transporte público é a melhor maneira de divulgar o trabalho da casa. No entanto, nem sempre é possível pagar o valor da passagem e ele precisa contar com a boa vontade dos motoristas que, mesmo burlando a lei, se solidarizam com a ação de jovens como Danilo. “Primeiro converso com o motorista para deixar divulgar o trabalho. Se ele não deixa, amém. Eu pago a passagem caso tenha o dinheiro. É todo dia assim”, conta o jovem. A solidariedade é confirmada por um motorista de ônibus, que preferiu não ser identificado e exerce a profissão há 38 anos: “Se o pessoal precisa, eu não vou impedir eles de ganhar o dinheiro”. O funcionário da empresa Piracicabana explica que sabe da ilegalidade do

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Marcos Rodrigues comercializa guloseimas dentro dos ônibus há três meses como forma de complementar a renda familiar

comércio dentro do coletivo, mas faz pela boa vontade: “A gente finge que não está vendo e deixa”. Ele acredita, ainda, que as empresas de transporte público não são prejudicadas e não entende o porquê da proibição nos coletivos. Marcelo Dias, 31, também da casa de recuperação Manassés, conta que também sabe da ilegalidade e entende a posição dos motoristas que permitem a entrada dos comerciantes nos

ônibus: “A maioria deixa que a gente faça o nosso trabalho porque sabe da luta, eles têm família também. Eu acho bem louvável a atitude dos motoristas”, afirma o ex-dependente químico, que reside na casa de recuperação há sete anos. Marcelo acredita que alguns motoristas se sensibilizam com o trabalho da instituição mesmo com o risco de serem pegos infringindo a lei: “A gente respeita os motoristas, pois sabe-

mos que é proibido. Mas só deles abrirem as portas para nós já é motivo de gratidão maior”. E não é apenas esse tipo de comércio que acontece diariamente no transporte público do DF. Marcos Rodrigues, por exemplo, vende guloseimas, água e refrigerante há três meses como forma de complementar a renda familiar: “Os passageiros adoram comprar na mão da gente. É mais cômodo para eles”, explica o

vendedor. Para Marcos, apesar de proibido, o comércio no interior dos coletivos é uma boa alternativa para quem anda de ônibus: “É mais barato. Na hora que eles precisam nós estamos lá”, conta. Além do trabalho de Marcos e dos membros da Manassés, é comum encontrar nos coletivos pessoas que não vendem produtos, mas a palavra de Deus ou o talento por meio da música ou do humor.

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OPINIÃO AMBÍGUA

Entre os passageiros, as opiniões se dividem, mas a possibilidade de ajudar o outro de alguma maneira, mais uma vez, está presente. É o que conta Raimundo Bezerra Neto. O pedreiro acredita que o trabalho é íntegro e por isso deve continuar: “Se a pessoa está ali trabalhando de forma honesta, eu não vejo problema algum, para mim tudo bem”, conta o trabalhador. Para a professora Luciana Nascimento nem todo tipo de comércio é bem vindo: “Às vezes eles impedem o trânsito dentro do transporte, ficam no meio. Eu não gosto disso e é chato”, explica. Sobre quem vende seus produtos e ao mesmo tempo evangeliza, como é o caso dos integrantes da Manassés, a professora não se importa: “Como eu sou evangélica, a tendência é achar bom. Nesse ponto do evangelismo dentro do ônibus eu não sou contra, até porque eles não se excedem, não falam alto, não obrigam ninguém a ouvir”, diz Luciana. Há 12 anos, a lei distrital 3.106/2002 proíbe o comércio nos ônibus que circulam no Distrito Federal. Mas quem utiliza diariamente o transporte público sabe que o dia a dia mostra o contrário. A boa vontade dos motoristas e cobrado-

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“Se o pessoal precisa, eu não vou impedir eles de ganhar o dinheiro. A gente finge que não está vendo e deixa” Motorista da empresa Piracicabana

Mayara Subtil

Há quatro meses, Danilo Leal vende, dentro dos coletivos de Taguatinga Norte, os produtos que mantêm a casa de recuperação Manassés

res em ajudar os comerciantes passa por cima da lei, que parece só ter validade no papel. Para o cobrador da empresa Pioneira Francisco Varlei, os que podem sair prejudicados são aqueles que têm comér- cio fixo na Rodoviária do Plano Piloto, uma vez que é mais cômo-

do para os passageiros comprar dentro do transporte. Entretanto, afirma não ser contra esse tipo de negócio: “Nós não somos pagos para fiscalizar. Não obrigamos ninguém a descer do ônibus”, conta Francisco Varlei. Já o programador Renan Oliveira acredita que a venda

nos transportes públicos seria uma boa alternativa quando o passageiro não pode mais sair do coletivo para comprar “Acho bacana essa forma de trabalho, inclusive pela comodidade que o passageiro tem. Bate a fome e, como você já está dentro do cole-

DIVERGÊNCIAS

transporte público do Distrito Federal conta hoje com uma empresa pública, a Transporte Coletivo de Brasília (TCB), e cinco particulares: Piracicabana, Pioneira, Urbi, Marechal e São José. Todas afirmam que orientam os motoristas e cobradores a não permitir o comércio dentro dos coletivos. A Secretaria de Transportes do Distrito Federal (STDF), por meio da Subsecretaria de Fiscalização (Sufisa), explicou, em nota, que exige que as operadoras de transporte evitem a prática nos coletivos. A assessoria de comunicação que atende as empresas privadas de ônibus do DF informou, entretanto, que não se faz nenhum tipo de fiscalização para coibir o comércio nos coletivos. Segundo a assessoria, as câmeras instaladas no transporte público são para garantir maior segurança aos usuários, não para fiscalizar o comércio. Afirma, ainda, que não existe nenhum caso em que o motorista tenha sido punido por permitir a entrada de comerciantes. Questionados sobre a possibilidade de regulamentação da profissão desses comerciantes, a Subsecretaria de Fiscalização (Sufisa) da Secretaria de Transportes do Distrito Federal (STDF) informou que a única forma de regularizar essa situação seria passar por alteração da legislação vigente. Além disso, o órgão explica que, caso haja desobediência por parte do passageiro que pratica a irregularidade, o motorista e o cobrador podem pedir auxílio policial para solucionar o problema. O Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal afirma que não recebe nenhuma orientação quanto ao comércio dentro dos ônibus. Entre os funcionários, as opiniões contradizem o que é informado pelas empresas e pela assessoria. Alguns motoristas afirmam que permitem e outros que não.

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tivo, assim que aparece uma pessoa vendendo bala e água já compramos na hora. Até pelo preço também, por ser mais barato”, relata. Ao contrário da professora Luciana, Renan Oliveira não é a favor da evangelização que alguns comerciantes fazem durante o trabalho nos transportes coletivos. “A venda de produtos e lanches é legal, mas as pregações religiosas não, justamente por alguns quererem impor suas crenças espirituais aos passageiros, cobradores e motorista. Não temos obrigação de ouvir e nem de aceitar isso”, explica o jovem. Para o operador de telemarketing Sérgio Maia, a opinião de Renan é válida. Ele relata que, muitas vezes “os pregadores”, como os chama, são invasivos: “Eles falam em um tom muito apelativo, pedem para que a gente bata palma ao Senhor. E quem é ateu, como fica?”.

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TRANSPORTE

DE CARONA É MAIS LEGAL Apesar do risco e da ilegalidade, caronas coletivas entre Brasília e Goiânia atraem usuários pelo conforto e os preços mais atraentes

Beatriz Pataro

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ara as pessoas que fazem o trecho BrasíliaGoiânia com frequência, há uma alternativa aos tradicionais meios de locomoção: as caronas coletivas. O preço é estipulado pelo motorista do carro que oferece a modalidade de transporte e, geralmente, custa R$ 25. Essa quantia corresponde à metade do valor da passagem do ônibus interestadual. Atraída pelo baixo custo, a estudante de Direito da Universidade de Brasília (UnB) Débora Letícia recorre à carona desde que se mudou para estudar na capital. Débora Letícia diz que o serviço é mais vantajoso em diversos aspectos. “O tempo de viagem é menor, tenho mais conforto, pois sou deixada na porta de casa e, além disso, pago mais barato.” A estudante conheceu essa modalidade através de uma amiga que indicou um grupo no Facebook, responsável pela organização e logística dos usuários no transporte interestadual. Débora Letícia utiliza a comunidade “Eu vou pra GYN BSB de carona” para achar

motoristas que fornecem esse meio de transporte. Atualmente, com 5.920 participantes, esse é o grupo de maior visibilidade na rede social. Composto predominantemente por jovens, a rede também pode oferecer riscos aos usuários. Segundo o especialista em transporte da Universidade de Brasília e coordenador da pesquisa Carona Solidária, Pastor Willy Gonzales, isso pode ser um ponto de risco, pois a população jovem é a que mais aparece nas estatísticas de acidentes. “Consumo de bebidas, alta velocidade, manobras arriscadas são mais frequentes nessa faixa etária”, afirma. Os fundadores da comunidade online, Kazutoyo Suga e Gino Bertollucci, monitoram as conversas como forma de controle e fiscalização dos participantes do sistema de carona coletivo, além de aprovarem a solicitação dos interessados em participar. Segundo ele, Bertollucci afirma que nunca ouviu falar de crimes decorridos da prática de caronas coletivas entre Brasília e Goiânia. “O grupo é cem por cento seguro.

Os problemas são sempre pontuais e como moderador estou sempre disposto a melhorar, ouvindo e banindo membros que agem com máfé, pois é um grupo onde todos saem ganhando.” O estudante Carlos Roberto vai para Goiânia semanalmente e oferece caronas no Facebook. Como prevenção, antes de aceitar o pedido de carona, analisa o perfil da pessoa na rede social, como forma de minimizar os riscos que a prática pode acarretar. “Quando não conseguia ter muitas informações sobre a pessoa, ao invés de buscá-la em casa, pedia para que ela me encontrasse em algum lugar público.” Apesar do baixo custo, as caronas envolvem alguns perigos por se tratar de um acordo informal, que na prática não possui responsáveis legais. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a partir do momento em que se cobra qualquer quantia para ser feito o trajeto, a responsabilidade se torna objetiva, pois configura o contrato de transporte. Neste

caso, o motorista tem que arcar com qualquer prejuízo às pessoas transportadas e aos respectivos pertences e valores levados por elas. De acordo com o advogado Jésio Sialho, a prática caracteriza transporte ilegal de passageiros. O motorista assume responsabilidades civis quando recebe pela carona. O ato acarreta penas previstas na lei de transportes, consideradas graves. Caso a carona seja oferecida de forma gratuita não gera qualquer responsabilidade para quem presta a modalidade, a não ser em caso de culpa. MONOPÓLIO A Viação Araguarina, conhecida pela realização do trajeto entre Brasília e Goiânia, é a única que tem permissão para transportar passageiros nesta rota. O monopólio acarreta prejuízos para o usuário, como a cobrança de preços sem concorrência e os horários estabelecidos pela companhia de saída e chegada dos ônibus. Por dia, saem 19 ônibus de Brasília para Goiânia, a cada hora.

Porém, nos finais de semana, quando o serviço é mais procurado, a demanda é maior que a oferta. Companhia que possui maior espaço físico nas rodoviárias interestaduais de Brasília e de Goiânia, também é uma das que apresentam menor número de atendentes. Na maioria das vezes, há apenas um funcionário no balcão para venda de bilhetes. Testada pelo Campus, a opção de compra pelo site não funciona e a operação não é concluída por erro na página. A aluna de Comunicação Social Vitória Beatriz passou a optar pelas caronas coletivas, pois perdeu a viagem por não conseguir comprar as passagens ou não encontrar mais vagas. Ela costuma ir para Goiânia todas as sextasfeiras, mas, mesmo chegando com horas de antecedência, não consegue comprar passagem. “Quando chego na rodoviária, as filas são imensas e há apenas um atendente na recepção. Em média, fico uma hora na fila, e espero, no mínimo, mais duas horas para o embarque.” Arte: Melina Fleury

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DÁ LICENÇA?

UP!

Isabella Campedelli

Isabella Campedelli

Quem nunca jogou frisbee com a família, com os amigos, na praia, no parque, para brincar com o cachorro? Além do lazer que proporciona, o disco também é instrumento de modalidades esportivas, entre elas, o Ultimate Frisbee. O crescimento do número de praticantes é sutil, mas ocorre inclusive no DF, onde foi impulsionado neste semestre pela criação da matéria de Prática Desportiva (PD) da Universidade de Brasília (UnB) e a organização do maior campeonato já sediado no DF. O Ultimate Frisbee é um esporte coletivo de pouco contato, que mistura fundamentos de diferentes esportes, principalmente a pontuação do futebol americano e a marcação do basquete. Esse é o único esporte que não tem árbitros e em que existe uma categoria de equipes mistas. Todo o jogo é baseado em um código de honra e respeito mútuo. Além disso, as regras dependem do fairplay e são propícias para o crescimento pessoal, pois levam os participantes a pensar e atuar em equipe. Os discos chegaram ao Brasil no final dos anos 1980 e o Ultimate Frisbee, como esporte, na década de 1990. Em Brasília, a atividade ganhou expressão considerável neste semestre, com o esforço do professor Felipe Rodrigues e de alunos da Faculdade de Educação Física da UnB. Até agosto deste ano, apenas dois grupos praticavam o esporte em Brasília. Hoje, a cidade conta com mais um, graças à criação da turma de Prática Desportiva na UnB.

Jogador Henrique Vieira recebe o disco. Movimento se chama “panqueca”

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O disco está no ar Os dois primeiros grupos se reúnem semanalmente, sempre aos domingos, na Esplanada dos Ministérios, às 10h, e no campo sintético da Candangolândia, às 17h. As aulas de PD são realizadas, segundas e quartas, às 19h, e os estudantes aprendem técnicas de passe e marcação. “A PD tem 22 alunos inscritos, mas somos uma turma muito aberta e eles sempre trazem amigos interessados. Com isso, já tivemos dias com 48 pessoas jogando”, conta o professor. Segundo ele, o grande diferencial do esporte é ter o lazer como principal finalidade: “O pessoal vem para jogar e se divertir, e até em competições mais sérias a diversão é mais importante do que fazer do torneio um espetáculo.” Em Brasília, o I Festival de Ultimate Frisbee UnB será realizado no dia 23 de novembro e é o maior evento que a cidade já teve. O evento contará com a participação de pessoas que nunca tiveram contato com o esporte, aumentando a possibilidade de trazer novos jogadores à modalidade. “As incrições são individuais e acompanham uma ficha declaratória sobre o nível de habilidade e conhecimento do esporte. Nós, da organização mesclamos o nível dos jogadores de acordo com as informações presentes na ficha”, explica a aluna do curso de Educação Física da UnB e integrante do comitê organizador do campeonato, Larisse Costa. Quem joga pela primeira vez se surpreende, é o que relata Gabriel Pedruco, que participou de seu primeiro jogo no dia em que conversou com o Campus: “Subestimei bastante o esporte. Eu achei que era mais parado, mas a gente corre muito”. Isso porque quem não está com o disco precisa ficar livre e receber o passe. Durante o ataque, ao receber o disco, o jogador não pode andar e um de seus pés deve ficar fixo. Ele tem dez segundos para fazer o passe para seus companheiros, e quem faz essa contagem é a pessoa do outro time que está na defesa. Pela regra, apenas um oponente pode marcar o jogador que está com o disco. Defensores gritam: “Um, dois, três!...” pressionando o ataque. E quando o disco é lançado, ouve-se pelo campo: “Up!”. São marcadores avisando o time que o disco está no ar. O jogo tem dois tempos. O primeiro, até uma das equipes completar nove pontos e o segundo, até 17. Para pontuar, um dos sete integrantes do time precisa pegar o disco dentro da end zone, área localizada na extremidade do campo. Quem tem mais experiência procura novos horizontes para competir. É o caso de Bárbara Beutel, que joga há mais de dois anos e participou do pan-

americano de 2013, realizado em Águas de Lindóia (SP). “Pela internet, eu fui atrás do pessoal que joga em São Paulo, eles foram ajudando de longe, até que uma das meninas me convidou para jogar no seu time no pan. Como hoje não tem muita concorrência, joga quem quer e pode pagar”, conta Bárbara. Apesar do clima competitivo, Luciano Armando dos Santos, que também participou do panamericano do ano passado, afirma que o espírito do esporte permanece: “O jogo é levado mais a sério, mas nos quatro dias de competição eu não vi uma briga. Sempre que não há um acordo, o ponto volta e o jogo continua tranquilamente”. Ultimate no Brasil O estado com mais tradição no esporte é São Paulo. A Federação Paulista de Disco ainda é a única do país e representa o Brasil em questões internacionais. O número de federados demonstra o crescimento do esporte: em 2006 eram 150 associados e, atualmente, são cerca de 300. A Federação Paulista trabalha captando recursos e realizando campeonatos que movem equipes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. Aqui do DF, por enquanto, nenhuma equipe formada foi jogar em suas competições, apenas atletas avulsos. “Os federados fazem a inscrição individualmente e a Federação os agrupa em equipes de acordo com seu nível técnico para participar dos diferentes campeonatos”, explica o presidente da federação, Roberto Hucke. No âmbito internacional, Hucke afirma que hoje existem esforços para tornar o Ultimate Frisbee um esporte olímpico, mantendo a não arbitragem convencional: “Os árbitros são os próprios jogadores. E queremos manter isso porque é um diferencial e uma característica marcante do esporte”.

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ESPORTE

Luiza Garonce

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Renda per capita e funcionalismo público são os principais fatores

ocê já imaginou pedalar até São Paulo? E que tal uma corrida a Pirenópolis? Pode parecer absurdo, mas essas são as distâncias aproximadas que a servidora pública Débora Gonçalves percorre de bicicleta e correndo, respectivamente, em um mês. A atleta é corredora há 20 anos e começou a praticar triatlo, em 2012, para diversificar o treinamento. Hoje dedica seis dias por semana ao esporte. Assim como ela, muitos brasilienses ingressam na modalidade para testar os próprios limites, ou mesmo para experimentar algo novo, e acabam incorporando-o à rotina de vida. Atualmente, o número de pessoas, no Distrito Federal, filiadas à Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) é 47,4% maior que o de 12 anos atrás. “Esse valor tem crescido e a expectativa é que atinja um recorde de adesão no ano que vem”, comenta o diretor técnico da CBTri, Marco Antônio La Porta. Paralelamente a esse crescimento, há cerca de dez anos, surgiram no DF as primeiras assessorias esportivas, empresas especializadas em treinos de modalidades outdoor – esportes praticados ao ar livre, como corrida, ciclismo e natação. Ao oferecer acompanhamento profissional para quem deseja atingir alta performance sem desequilibrar a rotina e a qualidade de vida, as assessorias tornaram-se grandes responsáveis pela inserção de novos atletas no triatlo. A Ápice Treinamento Multiesportivo trabalha com o esporte há sete anos e, em

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QUEM QUER SER

2014, contabiliza 37 triatletas em comparação a quatro de 2008, número quase cinco vezes maior. De acordo com o treinador e sócio Cláudio José Arruda, a diferença é expressiva e tende a aumentar. Na Aptidão Esportiva, o número atual é seis vezes o de 2010, quando foi inaugurada. Para o ex-campeão mundial de triatlo Leandro Macedo, o aumento da adesão devese, especialmente, à opção por um estilo de vida diferenciado: “Brasília já não forma mais tantos triatletas profissionais, mas há cada vez mais amadores”. De acordo com Marco La Porta, aspectos organizacionais e culturais da capital contribuem para esse crescimento, como espaços amplos para correr e pedalar, cultura desportiva e o hábito da população de utilizar espaços públicos. “É a melhor cidade para treinar triatlo no país”, afirma. Aos finais de semana, é comum que as assessorias esportivas promovam treinos coletivos no Parque da Cidade ou no Autódromo Internacional Nelson Piquet, especialmente os

de transição – que intercalam duas modalidades. “Em Brasília você tem a vantagem de sair de casa correndo ou pedalando, ao passo que, em outras cidades, teria que pegar o carro até um local para treino”, diz Leandro Macedo. OS CUSTOS DO LAZER Apesar de unir modalidades outdoor, o esporte obtém adesão maior nas classes alta e média, porque demanda altos investimentos e requer dedicação extrema de quem o pratica. De acordo com o proprietário da Aptidão, o triatleta Bruno Ryker, a renda per capita de Brasília acaba por facilitar a expansão do esporte. Não por acaso, a maioria daqueles que treinam em assessorias esportivas são servidores públicos ou donos de empresa. “Quem tem uma vida profissional estável e pode fazer o próprio horário consegue se dedicar mais e comprar materiais melhores, que fazem diferença no desempe-

Um dos locais preferidos para treinamento é o Parque

nho”, explica o atleta profissional Leandro Macedo. Uma bicicleta de alta performance pode chegar a R$ 35 mil e os equipamentos de cada modalidade somam cerca de R$ 4 mil. Além do in-

vestimento inicial, há despesas mensais com assessoria esportiva, nutricionista, manutenção de equipamentos e suplementos energéticos. Eventualmente, consultas médicas e sessões de fisiote-

Nas assessorias, os atletas passam por avaliações física e cardíaca, recebem planilhas semanais de treinos de acordo com suas necessidades, seus objetivos e do tempo que têm disponível. Nelas, há acompanhamento regular de treinadores e, em algumas assessorias, assistência de nutricionistas, fisioterapeutas e até de psicólogos. A maioria destas empresas não possui espaço físico próprio para treinos e faz parcerias com clubes para uso das piscinas. A Feira dos Importados é um dos locais em que as pessoas procuram equipamentos para triatlo

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R UM TRIATLETA?

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ores de crescimento do número de amadores do triatlo em Brasília Fotos: Bruna Lima

nto é o Parque da Cidade. O ambiente permite pedalar, correr e ainda treinar em academias próximas

rapia somam-se aos gastos. A funcionária pública Débora Gonçalves utiliza cerca de 10% do salário com o esporte. Em contrapartida às despesas, o mercado evoluiu tanto em informação disponível Arte: Eduardo Carvalho

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quanto em atendimento técnico especializado, o que estimulou o crescimento da adesão. “Hoje o intercâmbio informativo é incomparável ao da minha época, quando precisávamos ir a outros países para saber o que havia de novo”, comenta Leandro Macedo. “Sem contar na quantidade muito superior de profissionais capacitados para orientar e treinar atletas”. Segundo ele, na época em que competia profissionalmente, nos anos 1990, não havia técnicos específicos de triatlo e, por isso, treinava cada da modalidade com um profissional diferente: “Cada um me sugava ao máximo e não havia comunicação efetiva

entre eles para que eu pudesse exercitar a transição das modalidades”. O acesso a equipamentos modernos também está mais fácil. Hoje, é possível encontrar lojas especializadas em shoppings, em feiras e até nas ruas. “Já existem equipamentos nacionais de qualidade e empresas estrangeiras com representação no Brasil. Os amadores conseguem adquirir materiais melhores do que eu jamais tive na minha carreira”, comenta Leandro. Mesmo assim, os preços são pouco atraentes. “Você até encontra o que precisa, mas muito mais caro do que no exterior”, afirma Débora Gonçalves. COMPETIÇÕES VALEM OURO Responsáveis por manter a prática da modalidade aquecida, as frequentes provas também pesam no bolso. As inscrições das provas da MKS Esportes, principal organizadora de triatlos em Brasília, custam cerca de R$ 150 e as das etapas do Circuito Nacional Sesc Triathlon, que passa anualmente pela capital, variam entre R$ 50 e R$ 150, a depender do percurso escolhido. O Ironman, umas das provas mais famosas de endurance no mundo, pode chegar até a US$ 550 (cerca de R$ 1,4 mil) e o meio Ironman, US$ 400 (R$ 1.020), sem contar as despesas com passagens aéreas e hospedagem quando as provas não ocorrem na capital federal. Para o triatleta amador Jeconias Rosendo Júnior, os benefícios justificam todo o investimento. Após superar a obesidade, ele aderiu ao es-

TORNEIOS DA CAPITAL MKS Esportes Copa Brasília de Triathlon: prova anual composta por cinco etapas - três percursos de short triatlo (0,75km de natação, 20km de ciclismo, 5km de corrida), um médio (1km de natação, 30km de ciclismo, 8km de corrida) e um olímpico (1,5km de natação, 40km de ciclismo, 10km de corrida). Brasília Triathlon Endurance: prova anual de mesmo percurso do meio Ironman (1,9km de nado, 90km de ciclismo e 21 km de corrida). A última edição, em setembro de 2014, alcançou recorde de adesão em 10 anos. Sesc Esportes O Circuito Nacional Sesc Triathlon passa em Brasília anualmente desde 2005. A competição reúne sete etapas realizadas em cidades diferentes e oferece duas possibilidades de percurso: triatlo olímpico (1,5km de natação, 40km de ciclismo, 10km de corrida) e short triatlo (0,75km de natação, 20km de ciclismo, 5km de corrida). Ironman Uma das provas de endurance mais difíceis e tradicionais do mundo, o Ironman teve sua primeira edição em 1978. O Ironman 70.3, popularmente conhecido como meio Iron, foi criado em 1995. Em Brasília foram realizados duas desta prova: em 2006 e 2007. Nos seis anos seguintes, o Ironman 70.3 foi sediado em Florianópolis e, em abril de 2014, voltou para a capital. Percurso Ironman: 3,8km de nado, 180km de ciclismo e 42,195km de corrida. Percurso Ironman 70.3 (meio Iron): 1,9km de nado, 90km de ciclismo e 21 km de corrida.

Leandro Macedo não abre mão da qualidade de vida através do esporte. Sócio da assessoria esportiva Top Sports, treina atletas que estão começando

porte como estilo de vida e compete desde 2012, três anos após mudar seu cotidiano. “Eu poderia ter gastado a mesma quantia com consultas médicas e remédios, mas optei pelo triatlo e ganhei qualidade de vida”. Como forma de disseminar os benefícios que adquiriu,

Jec, como é conhecido, lançou-se no desafio de completar quatro meio Ironman e dois Ironman em 2014. “O que me motivou foi mostrar ser possível conciliar trabalho, família e vida social com o esporte”. Em novembro, ele participou do último Ironman do ano, em Fortaleza.

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EMPREENDEDORISMO

AGENTES TRANSFORMADORES

Preocupados com a sociedade, jovens criam ações para promover melhorias em nível nacional e global Fotos: Bruna Lima

Na Aiesec, Jonathan Volpato lidera projeto que promove intercâmbios de estágio para universitários aptos a ensinar línguas

Marília Nestor

O

estudante Jonathan Volpato, 21, resolveu mudar o mundo. Em 2012, encontrou uma alternativa para atingir o objetivo: a Aeisec - organização sem fins lucrativos que busca desenvolver líderes por meio de intercâmbios. Tempos antes, tentou ter uma experiência profissional fora do país, mas foi reprovado por falta de pré-requisitos. Foi quando o convidaram a ser membro do grupo, a fim de poder se aperfeiçoar para a experiência. “Deu certo e sou um jovem líder hoje”, relata. Com os mesmos propósitos, instituições de jovens locais e internacionais buscam causar impacto a sua maneira, como a Global Shapers Community, com empreendedorismo social, e a Marco Zero, com redes de contatos locais. O que mais chamou a atenção de Jonathan foram as oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional: “Dentro da organização, você possui inúmeras possibilidades

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de gerir times, além do sistema pautado em autoavaliação para ajudar a compreender quais fraquezas pessoais devem ser trabalhadas e que forças podem ajudar a alcançar metas”. A organização da qual participa está presente em 124 países e possui mais de 86 mil voluntários entre 18 a 30 anos. Atualmente, o estudante pretende participar das eleições do corpo executivo da Aiesec em Brasília e, “quem sabe, tentar cargos na Aiesec Brasil e na internacional, na Suíça”, confessa. Mesmo sem poder se postular a esses postos, por falta de disponibilidade, a ambição não o deixou parar. Em setembro, ele se tornou membro da Global Shapers, rede criada pelo Fórum Econômico Mundial para prospectar e desenvolver as ideias da juventude. Jonathan explica que a organização funciona por meio de sedes locais, chamadas hubs, cujos membros, voluntários de 20 a 30 anos, apresentam projetos de impactos sociais em níveis nacionais ou internacionais.

Assim como ele, o estudante Pedro Rebelo se identificou com o propósito e se tornou um "shaper" em janeiro. “A instituição me ajudou a ver que cada indivíduo possui grande potencial para fazer a diferença em sua comunidade e que existem mais pessoas que pensam em construir um lugar melhor para se viver”, ressalta. Há um ano em Brasília, a Global Shapers foi fundada em julho de 2011 e possui reconhecimento fora do país. Pedro percebeu isso quando foi à Emerge, conferência que acontece anualmente na Said Business School em Oxford, Inglaterra, com foco em empreendedorismo social: “Houve uma recepção direcionada exclusivamente para os shapers, em que o diretor da escola destacou que, pelo nosso perfil, há um grande potencial na instituição e é exatamente esse o tipo de pessoa que ele procura”. UMA NOVA INSTITUIÇÃO O estudante Iúri Honda tem a mesma ideologia de Pedro e Jonathan, mas sentiu falta de

algo mais concreto em Brasília. Após ver o avô sofrer várias complicações de uma queda, Iúri percebeu quão pequena era a preocupação com o mercado da terceira idade. Então, foi a um evento em São Paulo para alavancar o projeto pessoal Audarium, voltado a soluções tecnológicas de prevenção e diminuição dos danos causado por quedas em idosos. “Quando estava em São Paulo, perguntei por uma pessoa qualificada para certo trabalho e me deram os contatos de uma em Brasília”, diz Iúri. ”Fiquei indignado porque não teria conseguido esse número na minha própria cidade por uma simples falta de rede.” Ele e o amigo Marcelo Lopes, envolvidos com a grandeza do evento e a decepção da falta de iniciativas desse tipo na capital do país, tiveram a ideia do Marco Zero. Assim como a Aiesec e a Global Shapers, o projeto não apresenta fins lucrativos. A diferença, no en-

tanto, é que o impacto provém da troca de contatos entre o mercado de empreendedorismo e os alunos da Universidade de Brasília, onde estudam. Com palestras, workshops e eventos, o objetivo do Marco Zero é criar uma rede, no Distrito Federal, para que os projetos consigam atingir aqueles que realmente estejam preocupados em gerar transformações no mundo. “A ideia é que as pessoas se encontrem, tanto para projetos internos quanto para outros, com palestrantes, por exemplo”, afirma. Os próximos passos dos jovens são levar a iniciativa para outras universidades, como as de Goiânia, e promover visitas a empresas de empreendedorismo no DF. “Em pouco tempo, chegamos à proporção que gostaríamos, mas não esperávamos. Agora precisamos fazer planejamentos mais concretos, para crescermos sem prejudicar todo o projeto”, complementa Iúri.

Em reunião do Marco Zero, integrantes discutem metas pessoais e prospectam pela iniciativa em conjunto

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INOVAÇÃO

LUGAR PARA CHAMAR DE SEU Pelo menos oito empresas começaram a oferecer o serviço de coworking em Brasília nos últimos doze meses. Principais clientes são jovens empreendedores Walter Carlos

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essoas em frente a computadores e até mesmo o bom e velho papel e caneta se alinham em compridas bancadas pontilhadas com cadeiras pretas. Todos estão compenetrados no trabalho que realizam. Esse poderia ser o cenário de uma grande empresa, mas é o local de trabalho de várias. Essa é base do coworking, termo em inglês que define a prática nascida em solo norte-americano em que vários empreendimentos de menor porte se juntam para trabalhar em um local maior, fazendo o rateio de custos com móveis, luz, água, telefone, internet e limpeza. Muitos negócios estreantes no mercado têm dificuldades de pagar todos esses gastos, em função do caixa pequeno e muitas vezes limitado pelos custos necessários para tirar a iniciativa do papel, como alvará e taxas da junta comercial. Em Brasília, das dez empresas que oferecem coworking localizadas pelo Campus, oito têm menos de um ano de funcionamento. Novos negócios procuram esses ambientes na capital principalmente para escapar dos caros aluguéis cobrados no Plano Piloto. A fim de baixar os custos e manter a vantagem de estar no centro da cidade, os espaços de coworking ficam em áreas como o Setor de Autarquias Sul, os setores bancários Norte e Sul e o Setor de Rádio e TV Norte. A mensalidade da locação de uma sala comercial de até 60m² nesses setores da cidade pode chegar a R$ 5 mil, sem contar os outros custos. Já em uma estação individual de coworking,

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Arte de Walter Carlos sobre foto de Rudá Moreira

o valor mensal fica em média R$ 1,5 mil. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), adotar o esquema pode reduzir em até 60% o custo mensal da locação de espaços privados e gastos com o mobiliário de escritório. Rodrigo Régis, um dos sócios da empresa de tecnologia Foxsis, cliente do espaço de coworking 4legal há quatro meses, indaga: “Quando iríamos ter isso tudo se fizéssemos nosso próprio espaço?”. Régis se refere ao conforto trazido por ar condicionado, cafeteira, wifi, sala de reuniões e auditório no fim do corredor, tudo muito limpo e funcionando 24 horas por dia. O diferencial do coworking em relação a outros modelos de escritório é que, além da vantagem financeira, o ambiente é favorável à troca de experiências, à formação de parcerias e à realização de negócios entre os próprios usuários do serviço. “Outra empresa daqui tinha um projeto de sistema engavetado. Quando souberam da gente, acabaram retomandoo e nos colocando nele”, conta Daniel Sousa, o segundo sócio da Foxsis. “É ótimo para quem está começando. As empresas que dividem o espaço acabam contratando umas às outras quando precisam de serviços que elas mesmas não oferecem”, diz o advogado e sócio da 4legal Fernando Santiago. Ele comenta que terceirizou toda a área de tecnologia para a Foxsis. “Aqui, nós sempre estimulamos nossos clientes a participar de eventos e compartilhar

Endereço Postal Locais funcionam como endereço para entrega de correspondência

Estação de co working Quem aluga o espaço tem direito a usar recursos como wi-fi, telefonia, copa, banheiros, computadores e impressoras. Alguns locais oferecem até serviço de despachante

suas experiências por meio de palestras”, explica. Mesmo recente, o coworking sofre ajustes em cada novo local onde chega. Fernando Santiago comenta que a adaptação do serviço para o mercado brasiliense não foi fácil. Acostumado a locais de coworking em Londres e em São Paulo, onde morou anteriormente, Santiago via um grande número de advogados usando o serviço. Em Brasília, tentou montar um coworking voltado para profissionais do Direito. Porém, eles não viam a iniciativa como uma oportunidade de cooperação e se sentiam ameaçados pela concorrência. Então, remodelou o negócio e hoje atende a clientes seletos, tomando o cuidado de não reunir empresas que oferecem serviços iguais.

Sala Privativa Para trabalhar com privacidade. São mais caros que ambientes coletivos, mas a sala pode ser personalizada

Endereço Fiscal e Comercial Para empresas sem sede fixa, o endereço serve para criação de CNPJ, emissão de notas fiscais, outras questões legais e identificação em sites e cartões de visita

Apesar de alguns ambientes de coworking como a 4legal serem mais rígidos na seleção de clientes, ambientes que não aderem a essa regra também existem. O Celebrate Center opera em unidades no Liberty Mall e no Aeroporto Juscelino Kubitschek. A maior parte dos clientes fica em uma grande sala sem lugar marcado: eles se sentam em um dos espaços vazios e pagam pelas horas que passam ali. Também podem assinar um banco de horas, que varia entre pacotes mensais até um plano semestral. Funcionando de maneira similar, o Espaço Multiplicidade, localizado na SCRN 702/703, conta com um pequeno labirinto de mesas em um local amplo, onde se revezam cerca de 80 clientes nos períodos de manhã, tarde e noite.

Salas de Reunião e Auditório Infraestrutura para reuniões, conferências ou cursos. Alugados para necessidades pontuais. A cobrança é feita por hora.

Escritório Virtual É a junção do endereço comercial e fiscal com o uso de serviços como sala de reunião, telefonia e caixa postal, mas sem espaço para trabalho coletivo

Espaços como esses são ainda uma novidade no mundo. Apesar de o termo coworking existir desde 1999, a terceira edição do Global Coworking Survey (pesquisa mundial sobre o assunto), lançada este ano pela revista online referência no assunto Deskmag aponta que existiam cerca de 2,5 mil locais de coworking no mundo em 2013. De todos eles, cerca de 40% tinham menos de um ano de funcionamento. No Brasil, o mercado para empresas deste ramo é mais consolidado em capitais como Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Nessas cidades, concentram-se quase todos dos mais de 100 espaços de coworking registrados na página nacional co-workingbrasil.org, site com intuito de mapear esse tipo de negócio no país.

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ECONOMIA

CAPITAL PROMISSORA Pesquisa mostra que Brasília é a terceira melhor cidade do Brasil para a abertura de franquias Tamara Montijo

Julia Lugon

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epois de um tempo zembro deste ano. Segundo em que grandes reLeonardo, a rede pretende des de franquias não abrir duas lojas até o fim de vingavam no mercado bra2014 e 65 lojas no total. “A insiliense e encerravam suas tenção é realmente expandir atividades, a capital federal o negócio em Brasília pelos volta a ser um ótimo mercapróximos cinco anos, com lodo para o modelo de negócio. jas em quase todos os bairros e A recém-chegada das paletas cidades-satélites”. mexicanas, picolés artesanais No entanto, é importante recheados, e a futura reaberlembrar que não basta trazer tura da rede Dunkin’ Donuts, uma franquia para a cidade em dezembro de 2014, são e torcer para que ela dê cerexemplos de que a cidade se to. Mesmo com o mercado tornou um excelente mercaaquecido, o consumidor brado para franqueadores. siliense é exigente. A clienteSegundo a consultoria espela da cidade é ávida por nocializada Rizzo Franchividades e aprecia empresas se, Brasília é atualmente o que prestam serviços com terceiro melhor mercado qualidade. “Para se instalar para abertura de franquias As paletas mexicanas, picolés artesanais, chegaram ao Brasil há pouco tempo e já conquistaram os consumidores na região, a franqueadora no Brasil, perdendo apenas tem que dispor de um mix de para São Paulo e Rio de Ja- mostra o quanto o mercado zer um lanche rápido na rua e as oportunidades. produtos sofisticados e com neiro. Em 2013, havia 13.581 está aquecido. No dia 20 de opta, inconscientemente, por A primeira loja da rede alta qualidade, além de ter lojas franqueadas em todo o agosto, abriu a primeira loja uma marca franqueada. “Sem será inaugurada na quadra um atendimento ao cliente Distrito Federal e, em 2014, a em Brasília e já possui três perceber eu acabo sempre 404 da Asa Sul e tem pre- com padrão de excelência”, capital ocupa a quinta posição unidades operando. Daniela comendo em uma marca de visão de abertura para de- relata Daniela Ponso. em quantidade de franquias Ponso, responsável pelo re- franquia. Acho que porque a no país, segundo a Associa- lacionamento com os fran- gente já conhece o produto NÃO FOI DE PRIMEIRA ção Brasileira de Franchising queados da rede, explica que e sabe o que vai encontrar.” Redes de grandes marcas já tentaram se instalar no Brasil, sem sucesso. (ABF). De acordo com o di- o DF tem a quarta maior Outro exemplo que o mercaretor da Brasília Expo Fran- população e a maior renda per do de franquias está favoráDepois de uma reestruturação, voltaram e conquistaram espaço no mercado. quias, maior feira de franquias capita do país, por isso a rede vel no DF é a rede norte-amedo Centro-Oeste, o que facilita escolheu a capital para fazer ricana de cafeterias Dunkin’ Subway − Na década de 1990, a empresa tentou se instalar no Brasil como parte do seu pla- Donuts que, depois de encera prosperidade “maior unidade do Subway do mundo". A empreitada não deu certo, pois ia no de expansão. rar suas atividades em 2005, desse mercado contra o modelo da rede, que era de unidades pequenas. Em 2002, a Subway “O estado possui reabre a sua primeira loja do no cenário braCorporation trouxe novamente a rede para o Brasil, dessa vez respeitando o crescimento da país na capital federal. Os mosiliense é o cresformato original. Hoje, a franquia possui 840 lojas no País. cimento da po- Lojas franqueadas em economia acima tivos são parecidos com os da da média nacio- rede Helado Monterrey, mas, pulação, a renda Pizza Hut − A rede não chegou a sair do país, mas, depois de fechar alguBrasília em 2013 nal, isso é bom além do potencial consumo, per capita, que é a mas unidades, teve de repensar seu posicionamento. A principal mudança está para o comércio”. Leonardo Oliva, represenmaior do país, a relacionada ao comportamento de consumo dos brasileiros - já que o foco era As redes de franquias tam- tante da marca no Brasil, diz fácil locomoção pela cidade e a venda de pizza no almoço, habito que não é compartilhado pela maior parte a distribuição domiciliar, que bém representam comodi- ter escolhido Brasília para da população. acaba separando o público dade para o cliente e por isso reiniciar seu negócio porque é são uma ótima opção de ne- o local em que as outras redes com perfis parecidos. Dunkin' Donuts − A rede saiu do Brasil em 2005 por um erro de posiA recém-chegada da rede gócio. Roberta Siqueira tra- de franquias do grupo estão cionamento da marca. Aqui, a marca sempre foi vista como uma doceria de Helado Monterrey, fran- balha no Setor de Autarquias inseridas e, por esse motivo, um produto só, no entanto, a loja é mundialmente conhecida como cafeteria. quia de paletas mexicanas, Sul e sempre que precisa fa- conhecem melhor o mercado

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GASTRONOMIA

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FOME DE ÁFRICA

Brasília ainda não encontra o sabor do continente em restaurantes. Africanos que aqui vivem sentem saudade do gosto de casa Juliana Perissê

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ara quem conhece e sente falta da comida africana negra, é difícil morar em Brasília. Fora do Nordeste e, em especial, longe de Salvador, a gastronomia da África Negra (ou subsaariana), ao sul do Deserto do Saara, é escassa. Brasília, com cerca de 10 mil bares e restaurantes, carece de estabelecimentos específicos dessa culinária e decepciona africanos e amantes da comida. Desvalorização e desconhecimento da cultura afro, ausência de insumos para o preparo da comida e racismo são algumas das razões para tal carência. Guilherme Lobão, jornalista especialista em cultura e gastronomia e atual integrante da equipe da revista Veja Brasília, afirma que restaurantes africanos são mais raros porque é uma culinária muito étnica, que depende dos insumos locais. “Meu trabalho é exatamente procurar restaurantes em Brasília, já fui a vários lugares, mas, até hoje, não achei um específico de comida africana. Aqui, até onde eu conheço, não existe.” Lobão ressalta que, em Brasília, é possível encontrar restaurantes de comida árabe, cultura predominante da África Branca (ou África do Norte). Como exemplo, ele fala do Laziz Delícias Árabes, que faz uso de especiarias egípcias.

Prato típico: frango e vegetais ao curry, purê de banana e mandioca assada

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Fotos: Mariana Machado

O angolano Agostinho Pereira, estudante de Engenharia de Redes de Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), mora na capital há cerca de cinco anos e não conhece nenhum restaurante com comida africana típica da área subsaariana. Essa ausência, para ele, mostra uma desvalorização da gastronomia típica de seu continente natal. “Fora o calor humano, a comida é a coisa que mais me faz falta”, diz ele. Agostinho explica que, devido à colonização na África, a culinária do continente é diversa. O angolano conhece, além da gastronomia de seu país, a da República Democrática do Congo. Para ele, as comidas dos dois países são similares pelo uso de moamba de ginguba moída (espécie de cozido que leva amendoim moído), de óleo de palma como tempero e pela presença de verduras, geralmente folhagens. No Distrito Federal, existem restaurantes que, apesar de não serem específicos de gastronomia africana negra, possuem influências da região. Natasha Franco nasceu em Angola, morou na África do Sul e é chef do restaurante A Tribo, especializado em comida natural e orgânica. Ela explica que os pratos sul-africanos têm influências da Índia e, por isso, o restaurante faz grande utilização de temperos como açafrão, coentro em pó, gengibre, alho e cominho em pó. Natasha afirma que as comidas na África do Sul, por ser um país mais frio, são,

geralmente, assadas. Por isso, no A Tribo, as batatas doce e as abóboras vão ao forno. Segundo ela, o sul-africano também gosta de misturar doce e salgado. Para adocicar o frango ao molho curry, prato servido diariamente, os fregueses, em geral, comem purê de banana-da-terra. O chutney (condimento de sabor agridoce) de manga também é um dos acompanhamentos para as comidas salgadas. Outro restaurante que possui influência da culinária da África Negra é o Ilê, em funcionamento há oito anos. O nome do estabelecimento, que significa “casa”, vem do iorubá, uma das línguas africanas, pertencente à família nigero-congolesa. Paulo Maurício, chef e proprietário do restaurante, aponta como exemplos de pratos com fortes influências africanas a moqueca baiana, o bobó de camarão e a moqueca feita na folha de bananeira. “Em muitos pratos, nós usamos o dendê e pimentas variadas, típicos ingredientes africanos. A comida africana é cheia de temperos e sabores.” Segundo o chef Paulo Maurício, a carência de restaurantes específicos de culinária africana pode ser explicada pela falta de promoção de intercâmbio cultural, pelas embaixadas da África. Para ele, as pessoas não têm muito conhecimento sobre a comida afro. “Outras embaixadas fazem eventos para trocas culturais, mas nunca vi as embaixadas africanas fazerem.” A presidente do Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Cidade e autora do livro Gula d’África – O sabor africano na mesa brasileira,

Natasha Franco, chef do restaurante A Tribo, explica que a comida sul-africana tem influências da Índia em seus temperos O curry ou caril é uma mistura de especiarias muito utilizada na culinária de países como Índia e Tailândia. O “pó-de-caril” é feito à base de pó de açafrão-da-terra, cardamomo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz moscada, cravinho, pimenta e canela.

Flávia Portela, acredita que a falta de conhecimento sobre a cultura afro pode ser a justificativa para a escassez de tais restaurantes. “Você não valoriza o que não conhece. Nós não tivemos educação a respeito dessa cultura e não temos conhecimento.” O livro, de 2008, foi feito, segundo ela, para mostrar a influência da comida africana no Brasil. Nele, são apresentadas receitas de pra-

tos tipicamente de origem afro incorporados à gastronomia nacional, como caruru, vatapá, abará, acarajé e bobó. Flávia Portela acredita também que essa ausência de conhecimento sobre a cultura africana se deve ao preconceito com os negros. Visando promover e potencializar a identidade cultural, social e econômica da raça negra, o Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Cidade realiza, anualmente, o festival Cara e Cultura Negra, com oficinas, palestras, exposições, entre outras atividades. Neste ano, o programa será realizado entre os dias 20 e 30 de novembro, em celebração ao Dia Nacional da Consciência Negra.

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CULTURA

VALOR NACIONAL

Mudança de produção e incentivos financeiros ajudam no aumento de público que vê filmes brasileiros Ivana Carolina

Julia Lugon

A

história de que bra- nema brasileiro e também um sileiro não assiste a progresso na divulgação desfilmes nacionais vem ses filmes e nas estratégias de sendo modificada. Luana de mercado”, afirma o diretor. Albuquerque, 23 anos, é seSobre os espectadores, Vicretária e prefere as produções digal explica: “tem o público do Brasil. “Meu gosto mudou, clássico que assiste a uma proagora virou hábito assistir dução cinematográfica brasiobras brasileiras, porque mu- leira do passado e não podedaram muito de um período mos esquecer das produções pra cá. Eles estão melhores, anteriores que eram muito os temas abordados estão fa- ricas. O outro é o televisivo, zendo parte do cotidiano. E que assiste ao filme como se também vejo para valorizar a estivesse vendo televisão”. cultura do país”, conta. Dentro desse público que O número de espectadores, prestigia a produção nacional lançamentos e salas ocupadas está o aposentado José Joapor obras nacionais reflete quim Moreira, 72 anos. “Asuma mudança de hábito dos sim que tenho um tempinho brasileiros, assim como o de eu gosto de assistir um filme Luana. Segundo projeção da brasileiro e a gente tem que Agência Nacional do Cinema valorizar o artista brasileiro, (Ancine), neste ano devem ser em vez de procurar um filme lançados 136 filmes nacionais, do exterior. Prefiro um filme sendo 81 no segundo semestre, brasileiro porque estou pressete a mais em relação a 2013. tigiando o cineasta brasileiro.” O Brasil ocupa o 10º merAlém da valorização do cado mundial em número de cinema nacional pelos esespectadores, segundo o Ob- pectadores, houve um cresservatório Europeu do Audio- cimento de incentivos pevisual. No ano passado 27,7 las empresas privadas como milhões de pessoas assistiram ocorre no Projeta Brasil, que às películas nacionais, o que é um dia reservado para a exirepresenta uma bição de apenas marca recorde filmes nacionais em 20 anos, de com ingressos acordo com o a baixo custo. Salas com filmes Anuário EstaTambém há estístico do Cine- brasileiros no primeiro tímulos federais ma Brasileiro de como o Fundo semestre de 2014 2013, realizado Setorial do Aupela Ancine. diovisual (FSA). Atualmente, a sociedade No dia 10 de novembro aprova mais o cinema brasi- aconteceu a 15ª edição do leiro. É o que acredita o pro- Projeta Brasil. O evento reufessor do curso de Comuni- niu 38 longas com a expeccação Social da Universidade tativa de superar o número Católica de Brasília (UCB) de espectadores da edição e cineasta Alex Vidigal. “Há anterior, que foi de 143 mil uma melhor aceitação do ci- pessoas. De acordo com a di-

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Público compra ingressos para filmes nacionais na 15ª edição do Projeto Brasil, em Brasília

retora de marketing da Rede Cinemark, Bettina Boklis, toda a renda arrecadada no Projeta Brasil é revertida para programas de incentivo e apoio ao cinema nacional. “A iniciativa é realizada com o apoio de toda a cadeia produtiva do cinema brasileiro, especialmente dos distribuidores”, afirma a diretora. Bettina Boklis acredita que o público que assiste a produção nacional tende a aumentar, porque: “A cada ano observamos que o cinema brasileiro eleva o seu padrão de qualidade e alcança um maior número de espectadores. A produção nacional está crescendo e a variedade de títulos disponíveis otimiza a oferta de novos conteúdos ao público”. Segundo o consultor de projetos culturais Diogo de Amorim Quintaneiro, “as po-

líticas públicas de fomento à produção audiovisual em geral estão em crescimento por todo o país. O cinema é o ramo da economia criativa que teve o maior crescimento no Brasil, nos últimos anos. Há uma preocupação crescente de governos estaduais e municipais em lançar editais de incentivo às produções audiovisuais, além de fortalecer o setor, participando diretamente da cadeia produtiva”. Para Quintaneiro, o FSA se configura como o principal mecanismo de financiamento público para a economia audiovisual do país, com orçamento vigente para o ano de 2014 na casa dos R$ 400 milhões. O FSA tem uma área de investimento muito abrangente, financiando desde a produção, distribuição e exibição, até a infraestrutura

dos serviços. “O crescimento da produção cinematográfica no país está ocorrendo, sem dúvida, graças aos programas de financiamento público. Políticas importantes estão sendo desenvolvidas em todo o Brasil, permitindo que estados fora do eixo Rio-São Paulo produzam cada vez mais e entrem no mercado, ainda que as desigualdades existam”, afirma o consultor. Além disso, Diogo Quintaneiro complementa que: “A diversidade da nossa produção trouxe mais respeito ao cinema nacional, por parte do público, que hoje encontra nas produções do Brasil aquilo que é do seu gosto, sem muita dificuldade. Como o crescimento de público é natural, também, deve ser o crescimento do número de produções cinematográficas nacionais no mercado”.

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CULTURA

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NO ESCURINHO DO CINEMA Espaços de integração, cineclubes da UnB resistem ao tempo. Prática também ocorre em universidades privadas Glaucia Machado

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relógio marca 12h30, hora em que as cadeiras azuis de uma sala na Casa da Cultura da América Latina (CAL) começam a ser ocupadas. Alguns segundos depois, o projetor é ligado, as luzes são apagadas e as cortinas amarelo vibrante perdem a cor. A história de João de Santo Cristo, dirigida pelo cineasta René Sampaio, em Faroeste caboclo, passa a atrair todos os olhares. O silêncio toma conta do espaço. Nas últimas fileiras, um rapaz abre a marmita de forma a evitar qualquer barulho. Um senhor entra na sala, percebe que já viu o filme e decide sair, quase se desculpando. Outras três pessoas chegam após o início da exibição. É assim que costumam ser as terças e quintas-feiras no CineCAL. Com uma programação variada e alternativa, o cineclube da instituição ligada à Universidade de Brasília (UnB) existe há seis anos. Em todo o Distrito Federal, estima-se que tenham 50 práticas como essa, segundo a cineclubista e integrante da União dos Cineclubes do DF e Entorno Ana Arruda. Desse total, pelo menos nove em universidades. Mesmo com filmes cada vez mais acessíveis e a possibilidade de assistir online, grupos que buscam promover o cinema continuam a ser formados, nos últimos anos, em instituições de ensino superior. O último a iniciar as atividades foi o FACinema, organizado por alunos de Comunicação da UnB. Criado no final de outubro, mais de um ano depois da interrup-

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Eduardo Carvalho

ção do Cineclube FAC, ele tem uma ideia semelhante do CineCAL: receber todos. Não é preciso ter vínculo com a universidade ou com o mundo audiovisual para participar dos encontros. É o caso também do CineBeijoca e do Cineclube UnB Gama, que abriram suas portas em 2011. De acordo com o professor da Faculdade de Comunicação da UnB Mauro Giuntini, existe agora um movimento de revitalização dos cineclubes, principalmente no Brasil. “Se por um lado tem muito conteúdo audiovisual disponível, por outro lado a solidão também aumentou. O próprio hábito de ir ao cinema está em declínio”, avalia Giuntini. Assim, conforme o professor, hoje a prática cineclubista dá oportunidade para as pessoas se juntarem de novo, terem um contato físico. Essa é uma das propostas do recém-inaugurado FACinema. “Você não precisa sair da faculdade para aproveitar e pode chamar amigos para se juntar a você”, diz a estudante Luíza Chaves, uma das organizadoras. Para Euler Soares, membro da equipe de produção do CineCAL, a atividade desenvolvida no Setor Comercial Sul é de fácil acesso, pois a porta fica sempre aberta. “A gente tem apenas uma cortina. Então, a pessoa que quiser entrar pode fazer isso o momento que quiser, não tem obrigação de assistir o filme todo.” Euler destaca, ainda, que antes de cada sessão é feita uma síntese da obra e há sempre algum produtor disponível para uma

Em funcionamento no anfiteatro 9, o FACinema é cineclube mais novo da UnB, criado no final de outubro

conversa mais informal. O estudante de Audiovisual Murilo Abreu acredita que os cineclubes nascem com a ideia de compartilhamento. “Não é só apreciar, é discutir cinema.” Ele já frequentou vários espaços culturais em Brasília, mas o único em que permaneceu por mais tempo foi o CineBeijoca, no Memorial Darcy Ribeiro. Sua relação com os filmes começou bem cedo, na infância, quando a mãe o levava para ver obras dos estúdios de Walt Disney. A um semestre de concluir o curso, Murilo considera que a parte mais significativa da formação de um estudante é o caminho trilhado sozinho. Nesse sentido, segundo ele, os grupos de discussão que frequentou foram muito importantes. Lorena Figueiredo, formada em Publicidade e Propaganda e Audiovisual, conta que a atividade ajuda a expandir conhecimentos e conhecer pessoas de diversos cursos com visões diferentes.

Em alguns casos, a prática chega a ser expandida. No CineBeijoca, por exemplo, os debates ganharam força e deram origem à revista Negativo. Para trabalhar na segunda edição do material impresso, o Beijoca teve que interromper as sessões

por um tempo, mas promete retornar no próximo ano. A professora de filosofia da UnB e umas das coordenadoras do projeto, Raquel Imanishi, explica que a revista nasceu de algumas projeções e mostras realizadas.

EM OUTRAS INSTITUIÇÕES No é só na universidade pública que os cineclubes recebem espaço. Criado em 2010, o Cine Club Unip, da Universidade Paulista, acontece todas as sextas-feiras, no horário de almoço. Para os alunos, uma possibilidade de descontrair em meio à rotina. Larissa Hamú, estudante de Direito, participou dos encontros cerca de 20 vezes. “Gosto dos filmes, pois além de entreter acrescentam de forma positiva. São sobre temas que vivenciamos no cotidiano, como relação de pais e filhos e homofobia”, diz. Também há iniciativas semelhantes na Universidade Católica de Brasília (UCB), no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), na Faculdade JK e nas Faculdades Integradas da União Pioneira de Integração Social (Upis). A produtora cultural e cineclubista Ana Arruda destaca que a prática precisa ter regularidade, com sessões pelo menos uma vez por mês. Ressalta, ainda, que para fazer um cineclube é preciso enxergar o cinema como paixão e ter vontade de compartilhar com outras pessoas.

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FOTORREPORTAGEM

SUSHI PARANAENSE Melina Fleury

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magine uma cidade brasileira que mesmo após a globalização ainda mantém grande influência da colonização japonesa em sua arquitetura, ruas, parques e tradições. Assim é Assaí (ou, em japonês, Asahi: sol nascente), pequena cidade no norte Paraná, que, com pouco mais de 16 mil habitantes, possui aproximadamente 12,3% de sua população formada por japoneses e descendentes. Proporcionalmente, é a cidade brasileira com maior número de nipônicos. Atualmente, está sendo construído o primeiro castelo nipônico do país, que será o Memorial da Imigração Japonesa de Assaí, em homenagem aos colonizadores da cidade. A religião oriental também se mantém forte na região: o sino do templo budista foi doado pelo governo japonês. Outra colaboradora importante na história da cidade é Geni Gochi, que criou o Grupo de Dança Keshin há 29 anos, no qual ensina a dança japonesa a alunos de todas as idades na tentativa de preservar essa tradição. A região possui quatro escolas japonesas, que ensinam a escrita, a dança e os costumes para alunos de seis a 80 anos. Há 64 anos, as escolas realizam o festival Tenrankai, para expor os trabalhos dos alunos. Ainda no festival, é servido nagashi somen, macarrão tradicional de festividades japonesas. O festival mostra diversas gerações reunidas pelo mesmo propósito: manter a tradição. “Não tem como negar a raça, todo mundo vai olhar para minha cara e chamar de japa mesmo”, brinca Norio Shimada, membro da Liga de Associações Culturais de Assaí – (Laca).

Os ideogramas japoneses mostram, logo na entrada da cidade, a O Memorial da Imigração Japonesa de Assaí começou a ser construído grande presença da cultura japonesa na região em 2008, em homenagem ao centenário da imigração no país

O nagashi somen é tradição nos festivais japoneses. O macarrão de arroz, branco e comprido, escorre em meio à água fria por um pedaço de bambu e tem que ser pego pelas pessoas usando o hashi

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Dirce Fussuma e Fujie Massuda ensaiam com Geni Gochi (centro) para o Grupo de Dança Koshin. Elas mantém a tradição viva. O tipo de roupa usada depende da ocasião e da celebração

O sino do templo budista foi doado pelo governo japonês. Ele soa apenas na virada do Ano Novo ou quando alguém da religião morre

A dança tradicional japonesa é cara. Segundo Geni Gochi, as performances são acompanhadas de leques e sombrinhas, que não saem por menos de R$ 100

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