Autores de Viana do Castelo

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Autores

da cidade de viana do castelo




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Autores

da cidade de viana do castelo 3


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eúnem-se nesta exposição 16 autores vianenses, uns por nascimento outros por adopção, que, enquanto vivos, muito contribuíram para elevar e projectar o nome da cidade de Viana do Castelo. A diversidade dos géneros literários e das áreas temáticas de interesse dos autores aqui representados, ilustra o quanto esta cidade é rica e plural na área da cultura, e evidencia até a influência que pode exercer no acto criativo. Do conjunto de autores já falecidos, mostramos nesta exposição parte da imensa riqueza cultural e intelectual que, desde sempre, marcou a cidade de Viana do Castelo. A obra deixada por muitos destes autores, figuras de relevo na sociedade vianense, constitui nos dias de hoje uma herança de que todos nos podemos e devemos orgulhar. São vianenses como estes que dão corpo a uma cidade com as características ímpares como a nossa, construída na base de valores culturais que a individualizam e a tornam num elemento unificador e, ao mesmo tempo, congregante de todos os que a ela estão ligados. Por estas razões aqui estão alguns dos autores que, de forma despretensiosa e por amor à cultura, contribuíram para elevar o conhecimento da nossa cidade, divulgando-a. Por isso, aqui, os queremos distinguir e homenagear. E estes, não porque sejam os mais significativos ou representativos, mas porque as limitações de espaço assim obrigaram.


Pedro Barbosa 1522(?) — 1606 Jurisconsulto

António Machado Vilas Boas, P.e 1673 — 1741 Historiador

Pedro de Almeida Couraça, P.e 16?? – 17?? Historiador

João Castelão Pereira, P.e 1642 – 1722 Historiador

Autores

da cidade de viana do castelo

Guiomar da Silva 1665 – ? Poetisa e escritora

Manuel Pinto de Vilalobos 16?? – 1734 Engenheiro militar e mestre

António Lúcio do Porto Pedroso 1695 – 1776 Memorialista

Frei Pedro de Jesus Maria José 1705 – 1654 Cronista franciscano

Frei João de Ascenção Neiva 1787 – 1861

Carmelita descalço, teólogo dogmático (adquiriu fama de santo)

Miguel Roque dos Reis Lemos 1831 – 1897

Historiador, poeta, professor e jornalista P.08

José Caldas 1842 – 1932 Escritor e jornalista

Sebastião Pereira da Cunha 1850 – 1896 Escritor

João Caetano da Silva Campos 1852 – 1929 Jornalista e escritor P.10

Luís de Figueiredo da Guerra 1853 – 1931 Historiador

Bernardo Silva 1866 – 1987 Jornalista e publicista

Manuel Francisco de Miranda, P.e 1866 – 1921 Professor e latinista


P.12

João da Rocha, o “Frei” 1868 – 1921

José Crespo 1902 – 1992

Poeta, historiador, ensaísta

Abúndio da Silva 1874 – 1914

P.22

Rodrigo Fontinha 1875 – 1950

P.24

Jornalista e escritor

Alfredo Reguengo 1909 – 1980

Júlio de Lemos 1878 – 1960

Manuel Baptista da Silva 1910 – 1999 Poeta P.26

Poetisa e memorialista

Cláudio Basto 1886 – 1945

Manuel Enes Pereira 1912 – 1988

Filólogo e etnógrafo

Folclorista

Ernesto Sardinha 1888 – 1950

Luciano Afonso dos Santos, Cón. 1913 – 1992

Oficial militar, jornalista e poeta

Professor e arqueólogo

Mendes Carneiro 1892 – 1955

Álvaro Salema 1914 – 1991

Professor, poeta e escritor

Professor e crítico literário

Leandro Quintas Neves 1895 – 1972

Maria Augusta d’Alpuim 1915 – 2008

P.20

P.28

Poeta

Abel Viana 1896 – 1964

A. de Almeida Fernandes 1917 – 2002

Professor e Arqueólogo

Professor e investigador

Francisco Cyrne de Castro 1899 – 1980

Francisco Pitta 1917 – 1997

Político e Investigador de assuntos históricos

Professor e escritor

Severino Costa 1899 – 1990

Pires Moreira 1917 – 1999

Jornalista

Jornalista e escritor

Artur Maciel 1900 – 1977

José Luís Branco 1917 – 2010 Professor e escritor

Escritor e Jornalista

Maria da Conceição Couto Viana 1900 – 1989 Poetisa

Artur Alvarães 1924 – 2018 Professor e escritor P.36

P.30

Maria Manuela Couto Viana 1919 – 1983 Escritora

Amadeu Rodrigues Torres 1924 – 2012 Poeta, escritor e linguista

Júlio Evangelista 1927 – 2005 Poeta e escritor

Afonso do Paço 1929 – 2004 Jornalista

Carlindo Vieira, P.e 1929 – 2017 Escritor

Sara Tiago 1933 – 2015

Professora e escritora

Manuel Vale, P.e 1933 – 1989 Professor e investigador

Álvaro Feijó 1916 – 1941

Arqueólogo e Etnógrafo

António Manuel Couto Viana 1923 – 2010 Poeta, contista, dramaturgo, ensaísta e memorialista

Escritora e memorialista

Etnógrafo

Afonso do Paço, Ten. Cor. 1895 – 1968

P.34

Maria Emília Sena de Vasconcelos 1912 – 2003

Arqueólogo

Amadeu Costa 1920 – 1999 Memorialista

Poeta

Escritor e jornalista

P.18

José Rosa de Araújo 1906 – 1992

António de Cardiellos 1875 – 1953

Tomás Simões Viana 1884 – 1946

P.32

Investigador e memorialista

Poeta e escritor

P.16

Pedro Homem de Melo 1904 – 1984

Escritor

Poeta e folclorista

Professor e político

P.14

Ruben A. 1920 – 1975

Médico e escritor

P.38

Luís Miguel Rocha 1976 – 2015 Escritor


José

caldas (1842 – 1932)

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scritor e jornalista. Frequentou o Liceu de Viana do Castelo de 1855 até 1858, e de seguida foi aluno de António Basílio Tavares Leitão e do Padre Severino Zamith, mestres a quem, mais tarde, dedica algumas das páginas do seu livro Os Humildes (1900). Apesar de não possuir diplomas, aprendera o latim e o grego, e adquirira uma vasta cultura que se vem a reflectir na obra literária que publica, em trabalhos de crítica e de investigação histórica demonstrativos das suas brilhantes capacidades intelectuais e do seu grande talento como escritor. Com apenas 15 anos, enquanto cuidava do irmão António Carlos que veio a falecer, José Caldas fez a tradução do romance histórico Margarida Pusterla, de César Cantu, que virá a ser editada anos mais tarde. Nos finais de 1859, deixa as aulas de António Basílio sentindose preparado para começar a escrever, vindo a estrear-se na imprensa local em 1860. Em 1861, devido às dificuldades económicas, concorre para um modesto lugar de amanuense na Repartição de Fazenda de Viana, vindo a reformar-se, passados 30 anos, como Inspector. Um dos primeiros trabalhos na Fazenda de Viana foi o de entregar aos frades expulsos dos conventos religiosos nacionalizados em 1834, as miseráveis reformas que o Estado lhes atribuíra. Desse contacto estabelece uma forte relação com os frades egressos, e principalmente com Frei José de S. Tomé, o primeiro biografado na sua obra Os Humildes. A partir daqui José Caldas interessou-se pelas atrocidades cometidas aos conventos do Alto Minho, assunto a que dedica com brilhantismo diversas páginas da História de um Fogo-Morto (1903 e 1919). Mais tarde, nas Cartas de um Vencido (1911) desmontou todos os argumentos invocados pelo ministro Joaquim António de Aguiar para impor a D. Pedro IV a extinção das ordens religiosas. Após 1872, José Caldas entusiasma-se com os estudos históricos e o prestígio alcançado mereceu-lhe o convite do Arcebispo de Braga, D. Crisóstomo Amorim Pessoa, para escrever um estudo crítico-biográfico de D. Frei bartolomeu dos Mártires e da sociedade do seu tempo, que aceita, pedindo até licença sem vencimento para o realizar. Mas, passado apenas um ano do contrato estabelecido, o Arcebispo exigiu a publicação da obra já escrita mas José Caldas recusou, e sem este rendimento viu-se obrigado a retomar o lugar na Repartição de Fazenda, optando por pedir transferência para o Porto. A Academia de Ciências reconhecendo o valor da investigação feita, acabou por facilitar os meios para a conclusão da obra que veio a ser editada com o título D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1922).


“estabelece uma forte relação com os frades egressos, e principalmente com Frei José de S. Tomé, o primeiro biografado na sua obra Os Humildes. A partir daqui José Caldas interessou-se pelas atrocidades cometidas aos conventos do Alto Minho,

Em 1910, o governo republicano vai nomeá-lo Director Geral dos Cultos, cargo que, a seu pedido, vem a renunciar em 1916. Em 1911, foi ainda designado para ocupar o lugar de Ministro Plenipotenciário em Roma, que não assumiu em virtude do desgosto causado pela morte da filha. Depois de ter abandonado as funções burocráticas na Fazenda (1892), José Caldas passou a dedicar-se por inteiro à escrita. Para além dos livros já referidos publicou ainda: Os Jesuítas e a Sua Influência na Actual Sociedade Portuguesa: meio de a conjurar (1901); Oitenta Anos de Constitucionalismo outorgado (1905); Benigna Verba (1907); Fora da Terra (1911); A Corja Negra (1914); História da Origem e Estabelecimento da Bula de Cruzada em Portugal (1923); e Vinte Cartas de Camilo (1923). Apesar do seu espírito truculento e cáustico, José Caldas conseguiu grande prestígio através da obra publicada.

assunto a que dedica com brilhantismo diversas páginas da História de um Fogo-Morto (1903 e 1919)”

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Luís de

FIGUEIREDO DA GUERRA (1853 – 1931)

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istoriador. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra (1879) começou por exercer a advocacia na sua cidade natal (Viana do Castelo) mas, pouco tempo depois (1890), ingressou na magistratura judicial. Foi delegado do procurador régio e depois juiz nas comarcas de Sesimbra, Ponte da Barca, Santiago do Cacém, Boticas, Vila Nova de Cerveira, Esposende, Monção e Sertã, aposentando-se, como juiz de primeira classe, em 1925. Sempre muito ligado à sua cidade, foi o primeiro director da Biblioteca e Museu Municipais (1888), e ainda chegou a ser professor, durante algum tempo, no Liceu de Viana do Castelo. A Figueiredo da Guerra devem-se importantes trabalhos de investigação histórica, em particular da história local, tendo publicado numerosos estudos no âmbito da arqueologia, heráldica, genealogia e bibliófilia, muitos deles, dispersos por inúmeras publicações periódicas. Escreveu imenso sobre as localidades onde exerceu a magistratura, mas foi, sobretudo, à região de Viana que mais se dedicou, deixando um conjunto de significativos e valiosos trabalhos. Colaborou nas obras: Portugal Antigo e Moderno: Dicionário..., de Augusto Soares de Azevedo de Pinho Leal, 1872-1890, e A Arte e a Natureza em Portugal, 1902-1908. Escreveu nas revistas: Boletim de Arquitectura e Archeologia; Pero Gallego (1882); O Occidente (1886); O Archeólogo Portuguez; Revista de Guimarães (1990); O Instituto (1921; 1925; 1926; 1927; 1928; e 1930); Portugalia (1899-1903); Archivo Histórico Portuguez (1907 a 1910); Límia (1910-1912); Limiana (1912); Lusa (1917 a 1924); Anais das Bibliotecas e Arquivos (1920 a 1924); Santa Luzia (1926 a 1929); Gente Minhota (1926); Portucale (1928 e 1929); Ilustração Moderna (1928 e 1929). Há também inúmeros artigos seus, no domínio da historiografia local, em quase todos os jornais da região, devendo salientar-se o A Aurora do Lima pela assiduidade da colaboração que manteve entre 1876 e 1930.


“Escreveu imenso sobre as localidades onde exerceu a magistratura, mas foi, sobretudo, à região de Viana que mais se dedicou,

deixando um conjunto de significativos e valiosos trabalhos.”

Luís de Figueiredo da Guerra organizou Viana 20 de Agosto (número único comemorativo das Festas de N.ª S.ª da Agonia em 1886), e fundou e dirigiu o Archivo Viannense,(1891-1895) onde publicou alguns estudos sobre "história, archeologia e bellas artes", além da transcrição de vários documentos relativos ao concelho de Viana do Castelo. Para a elaboração da sua obra, Figueiredo da Guerra reuniu numerosos manuscritos que coleccionou, entre os quais pergaminhos que remontam aos séculos XIV a XVI, além de outros documentos manuscritos em papel e livros de extintos conventos da região vianense, que actualmente se conservam em fundo próprio no Arquivo Municipal de Viana do Castelo. Foi sócio de diversas instituições culturais e científicas, e da obra publicada salientamse: Syllabário para Aprender a Ler Hebraico, 1876; Apontamentos de Geographia, 1876; Celtiberos, 1877; Esboço Histórico: Vianna do Castello, 1878; Guia do Caminho de Ferro do Minho: de Nine a Valença, 1879; Archivo Viannense : Estudos e Notas, 1895; Exposição de Arte Ornamental do Districto de Vianna em 1896, 1898; Manual do Brazão, 1902; Notícia do Concelho de Boticas, 1911; Guia de Vianna do Castello, 1923; A Capella de Santo Abdão na Correlhã, 1924; Torres Solarengas do Alto Minho, 1925; A Estatua Calaica do Museu de Arte Regional em Vianna do Castello, 1926; Castelos do Distrito de Viana, 1926; Viana e Caminha, 1929.

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João

da rocha o “frei” (1868 – 1921)

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oeta, historiador, ensaísta e contista, João da Rocha, o Frei, designação sintética dos ilustres apelidos que lhe conferiam o nome completo de João Loureiro da Rocha Páris Barbosa e Vasconcelos, e das preocupações de sobrenatural que, à época, o absorviam, iniciou os seus estudos, destinando--se à carreira das armas. Fez o curso do Colégio Militar e assentou praça em infantaria, como voluntário, a 16 de Julho de 1886, tendo sido promovido a 1.º sargento aspirante nesse mês. Posteriormente, fez o curso matemático-filosófico para as armas superiores, na Universidade de Coimbra, entrando para a Escola do Exército, onde, por não conseguir vencer a Equitação, teve de abandonar a arma de artelharia, e por não poder ser isentado do picadeiro, teve de passar para a de infantaria. João da Rocha foi promovido a alferes para o regimento de infantaria n.º 19, em 12 de Dezembro de 1896. Pouco tempo esteve ao serviço, passando à inactividade temporária, por licença ilimitada, de que se apresentou em 1 de Abril de 1916, passando à reserva em 21 de Outubro do mesmo ano. Apesar de ter sido chamado a prestar serviço activo, de 17 de Novembro de 1917 a 2 de Junho de 1918, em infantaria 2, e na Farmácia Central do Exército desde 3 de Junho de 1918, foi mandado apresentar-se na Presidência da República, em 4 de Outubro de 1919, onde ficou em serviço como secretário particular de António José de Almeida. Tendo em conta a rigidez de princípios e a acentuada bondade de sentimentos, acrescendo a aptidão natural de ser artista e erudito, João da Rocha nunca poderia ser um bom militar. O seu anseio era a soledade contemplativa, meditar, sonhar; o seu trabalho predilecto era o estudo e a investigação. A vida era-lhe agradável entre livros e documentos ou entre árvores e flores.

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Para além de ter colaboração dispersa por várias publicações, João da Rocha fundou e dirigiu o jornal Fôlha de Viana e a revista Límia. Foi também professor do liceu e presidente do Instituto Histórico do Minho. Publicou os seguinte títulos: Nossa Senhora do Lar (1900), livro de poesia, cuja receita foi aplicada a auxiliar o cofre da Real Associação Humanitária de Socorros Mútuos Barcelinense (Barcelinhos); Memórias de um Médium (1900); Angustias (1901), livro de contos; A Família de Bento Barbosa de Barros, capitão-mor de Vila-Cova-à-Coelheira – Notas genealógicas (1903), de colaboração com o irmão, mas fora do mercado; A Guerra Peninsular (1908), com ilustrações de Álvaro V. Lemos, folheto de propaganda editado pela “Liga de Instrução de Vianna-do-Castelo”; Homens e Árvores (1908), discurso, impresso, proferido em 25 de Outubro de 1908, na Avenida de Camões, Viana do Castelo, numa “Festa da Árvore”; Portugal e as Invasões Francesas (1909), discurso, impresso, proferido em Caminha, na sessão comemorativa centenário da brilhante defesa que o povo dessa vila opôs à invasão de Soult; A Lenda de Sagres – Observações a um opúsculo do mesmo título, de J. Tomé da Silva (1915), com o pseudónimo de “João Ninguém”; A Lenda Infantista – Observações a um estudo do Sr. Dr. Teófilo Braga (1915), separata de artigos publicados na “Fôlha de Viana”; 1416-1916 – Celebração do Quinto Centenário da Abertura do Caminho marítimo da Europa à Índia (1916); 5.º Centenário da Abertura do Caminho marítimo da Europa à Índia – 1416-1916 – I. Um Centenário que passa – II. Para além do Bojador (1916); Frei Gonçalo Velho (1916); O Descobrimento da Terra-Alta – 1416-1916 – Estudo apresentado em 9 de Março de 1916 (Coimbra: Imprensa da Universidade); A nossa Terra e a nossa Gente (1917), conferência, impressa, de propaganda patriótica, realizada no Centro Republicano Evolucionista.


“O seu anseio era a soledade contemplativa, meditar, sonhar; o seu trabalho predilecto era o estudo e a investigação.

A vida era-lhe agradável entre livros e documentos ou entre árvores e flores.”

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Júlio

DE LEMOS

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(1878 – 1960)

scritor e jornalista. Fez os estudos em Viana do Castelo e após breve passagem pelo Seminário Diocesano de Braga (1898-1899) foi nomeado professor da Escola Normal da mesma cidade. Em 1901 foi colocado como Secretário da Câmara de Paredes de Coura e, de 1911 a 1938, na Câmara de Viana do Castelo, onde organizou os arquivos municipais daquelas duas localidades e deixou bem patentes as suas qualidades de investigador, o seu dinamismo e a sua cultura. Colaborou, desde muito novo, em numerosos jornais e revistas portuguesas e espanholas e foi director das revistas literárias Myosótis e Limiana, e de alguns números únicos, entre os quais, Consagração, comemorativo da criação da comarca de Coura (1906) e Pró-Viana, comemorativo das Festas de Nossa Senhora da Agonia (1921 e 1922). Estudioso da vida e obra de figuras de relevo da cultura da região, assim como de documentos com ela relacionados, Júlio de Lemos actualizou os Anais Municipais de Ponte de Lima (1938), a partir do manuscrito deixado inédito por seu avô paterno, o professor e investigador Miguel Roque dos Reys Lemos (1831-1897). Da sua obra literária sobressaem os livros de contos Campesinas (1903) e Ares da Montanha (1956) muito imbuídos de um regionalismo rústico próprio das gentes e da sua província natal, muito elogiados por Trindade Coelho, que considerou seu mestre e a quem dedicou vários trabalhos. Além das obras de que é autor, Júlio de Lemos colaborou em diversos almanaques e prefaciou variadíssimas obras. Fundador do Instituto Histórico do Minho, instituição cultural de que viria a ser secretário perpétuo e principal responsável pelo desenvolvimento de diversas actividades de grande impacto na vida cultural vianense e de aproximação e intercâmbio de intelectuais do Minho e da Galiza, Júlio de Lemos foi também sócio do Instituto de Coimbra, das Sociedades de Geografia de Lisboa e de Madrid, da Academia de Ciências de Portugal, da Academia Literária de Lisboa, do Retiro Literário Português do Rio de Janeiro, da Real Academia Galega, da Corunha, do Seminário de Estudos Galegos, de Compostela, da Academia de Estudios Histórico-Sociales, de Valladolid, da Asociación de Escritores y Artistas Españoles, de Madrid, da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, do Círculo Camiliano de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Escritores. 14

“Da sua obra literária sobressaem os livros de contos Campesinas (1903) e Ares da Montanha (1956) muito imbuídos de um regionalismo rústico próprio das gentes e da sua província natal,

muito elogiados por Trindade Coelho, que considerou seu mestre e a quem dedicou vários trabalhos.”


Foi condecorado com a Medalha Rosalia de Castro (instituída pelo governo espanhol em 1916). Das obras publicadas, destacam-se: O Morgadinho (joguete cómico), 1897 (de colaboração com Amadeu Cunha e Óscar Pratt); Arte: os livros do Sr. Alberto Pinheiro, 1898 (de colaboração com Paulo Osório); Misérias da carne (novela), 1899; Lábios em prece... (versos), 1899; Campesinas: quadros do Minho (contos),1903; Memória (elegia),1905; Trindade Coelho e a sua influência na literatura contista de Portugal,1910; Aos soldados: alocução na 1ª Grande Guerra,1917; Limianismo, 1924; Pequeno dicionário luso-brasileiro de vozes de animais: onomatopeias e definições, 1946; Os secretários da Câmara de Viana desde o Século XV até à actualidade, 1946; Viana dos meus amores, 1948; Trindade Coelho: o maior dos contistas portugueses, 1949; Elogio do contista Trindade Coelho, 1949; A alma religiosa de Junqueiro, 1950; Ares da montanha (contos), 1956, Trindade Coelho: mestre de civismo, 1957; Trindade Coelho era um crente, 1958; O pensamento religioso de Trindade Coelho, 1958; António Feijó e os novos escritores, 1959; António Feijó e as suas “Bailatas”, 1960; A Biblioteca, o Museu e o Arquivo de Viana do Castelo, 1978 (edição póstuma).

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Cláudio

BASTO (1886 – 1945)

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ilólogo e etnógrafo. Fez os estudos primários e o curso geral dos liceus em Viana do Castelo e o curso complementar em Braga. Na Faculdade de Medicina do Porto concluiu o Curso Médico-Cirúrgico apresentando a tese Alma doente: a génese da Psicastenia que publicou em 1912. Preferiu a docência à medicina tendo iniciado a carreira docente, em 1911, no Liceu de Viana do Castelo e, nesta cidade, foi também professor da Escola Normal (1916-1918) e da Escola Comercial e Industrial Nun´Álvares (1916-1922). Exerceu o cargo de Inspector Interino Escolar e o de Médico Escolar do Liceu. Em 1929, passou a leccionar na Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia, e, em 1930, na Escola Industrial Faria de Guimarães, do Porto. Cláudio Basto vai afirmar-se como importante filólogo e etnógrafo. Começa por publicar os seus primeiros trabalhos no jornal A Aurora do Lima, mantendo colaboração assídua com A Folha de Viana, O Minho, O Povo e a Gazeta de Viana. Escreveu importantes trabalhos sobre tradições populares, área da etnografia que o apaixonou e a que se dedicou, tendo publicado muitos textos sobre medicina popular, linguagem popular, teatro, traje, crenças e folclore. Aqui, destaque para a valiosa contribuição para o estudo das variantes do traje que publicou, em 1930, em livro intitulado Traje à Vianesa. Fundou e ajudou a criar várias revistas de entre as quais se destacam: Beliscos, Límia, Nova Silva, Lusa e Portvcale. A sua colaboração estende-se a inúmeras revistas, como por exemplo: Revista de Cultura (Rio de Janeiro), Nós (Orense), Revista Lusitana, Revista de Guimarães, Arquivo Nacional de Ex-Libris, Terra Portuguesa, Alma Nova, Instituto, Arquivo Literário, Língua Portuguesa, Portugal Médico, Tríptico, Gente Minhota, A Águia e Revista de Portugal.

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“Escreveu importantes trabalhos sobre tradições populares, área da etnografia que o apaixonou e a que se dedicou, tendo publicado muitos textos sobre medicina popular, linguagem popular, teatro, traje, crenças e folclore.

Aqui, destaque para a valiosa contribuição para o estudo das variantes do traje que publicou, em 1930, em livro intitulado Traje à Vianesa.” Vianesa.”

A vasta produção literária e científica de Cláudio Basto nas diferentes áreas a que se dedicou, impossibilita que se faça aqui uma referência completa, pois, estão inventariados mais de 250 trabalhos publicados. No entanto, salientam-se: Falas e Tradições do Distrito de Viana do Castelo (1910 e 1911); Conto de Natal (1911); Nótulas ao Novo Dicionário (1913, 1914 e 1915); A Linguagem de Fialho (1917); Três Cartas de Camilo (1917); A Mulher do Minho (1924); O Doutor Diabo (1928); Os Gestos com a Cabeça (1928); Traje à Vianesa (1930) e Os Nomes Cale e Portucale (1940). Cláudio Basto pertenceu à Academia de Ciências de Lisboa (Classe de Letras), foi sócio do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, de Lisboa, e o seu nome surge também ligado a diversas instituições estrangeiras. Em homenagem a Cláudio Basto a Câmara Municipal de Viana do Castelo atribuiu o seu nome a uma das ruas da cidade e mandou colocar um busto em frente ao antigo Liceu.

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Ten. Cor.

Afonso do paço (1895 – 1968)

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rqueólogo e etnógrafo. Concluída a instrução primária, de 1908 a 1915 fez os estudos liceais em Viana do Castelo e em Braga, e matriculou-se no curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.Assentou praça no Exército, em 15 de Maio de 1917, seguindo para França, em 26 de Setembro, integrado no Corpo Expedicionário Português como aspirante a oficial miliciano de infantaria. Combateu na batalha de La Lys, em 9 de Abril de 1918, sendo feito prisioneiro e levado para os campos de concentração na Alemanha. Libertado em 28 de Dezembro, regressou a Portugal em Janeiro de 1919 e, até 1921, serviu como oficial na Guarda Nacional Republicana, na Companhia de Metralhadoras, tendo sido ajudante de campo do Coronel Francisco António Baptista e do General Ernesto Vieira da Rocha. Em 1924, passou para a Administração Militar e, em 1925, foi professor provisório do Colégio Militar. Concluiu a sua carreira militar, reformando-se no posto de tenente-coronel, a poucos dias de poder ser promovido à patente superior. Afonso do Paço salientou-se pela sua valorosa acção em campanha e, além de ter recebido diversos louvores, foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª classe e as medalhas de prata de bons serviços, com palma; de comportamento exemplar; do C.E.P. e da Vitória, e recebeu o grau de Cavaleiro da Ordem de Avis.

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“Escritor multifacetado, Afonso do Paço desenvolveu uma profícua actividade literária e científica no domínio da História, da Arqueologia, da Etnografia, da Filologia, da Epistolografia, da Reportagem e do Turismo.”

Escritor multifacetado, Afonso do Paço desenvolveu uma profícua actividade literária e científica no domínio da História, da Arqueologia, da Etnografia, da Filologia, da Epistolografia, da Reportagem e do Turismo. Mas foi sobretudo como arqueólogo e etnógrafo que se distinguiu, deixando publicados numerosos trabalhos, muitos deles dispersos por diversas revistas nacionais e estrangeiras. Das suas importantes investigações arqueológicas, registe-se as que levou a efeito no campo de Aljubarrota e que puseram a descoberto uma série de fossos e covas de lobo, imprescindíveis para a explicação científica da vitória do exército português sobre o castelhano, em 14 de Agosto de 1385. Também, pelo seu interesse científico, são de referir as escavações arqueológicas que, entre outras, realizou nas seguintes estações: Castro de Vila Nova de S. Pedro, Grutas de Alapraia, Citânia de Sanfins, Lapa da Bugalheira, Montes Claros, Castelo da Lousa, Vila Romana de Cardilius em Torres Novas. Afonso do Paço tomou parte em numerosos congressos de arqueologia, no país e no estrangeiro, e veio a tornar-se membro de várias sociedades científicas. Colaborou na imprensa periódica, principalmente no “Diário de Lisboa” e “Novidades”, e como destacado arqueólogo e etnógrafo que foi, Afonso do Paço deixou-nos uma extensa e rica bibliografia na área da arqueologia publicada em revistas da especialidade e particularmente sobre a Pré-história, o período Castrejo e o Medieval e, neste caso, foi pioneiro ao nível da arqueologia militar com as escavações que realizou no campo de Aljubarrota. A sua investigação etnográfica proporcionou-lhe, também, importantes e numerosos trabalhos neste domínio. 19


Abel

VIANA (1896 – 1964)

“Abel Viana acabou por sobressair e atingir notoriedade como investigador ao nível da Etnografia e da Antropologia mas foi, sobretudo, a Arqueologia que o apaixonou, destacando-se como um dos expoentes nacionais nesta área onde ao longo da vida desenvolveu importante investigação.”

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rofessor e arqueólogo. Após concluir o Curso do Magistério Primário Elementar (1917) iniciou a sua carreira docente na Escola Primária Central, em Viana do Castelo, passan-do depois a leccionar (1919-1933) nas freguesias de Anais e Arcozelo (Ponte de Lima), Fradelos (Famalicão), Lanhelas (Caminha), Viana do Castelo, Seixas (Caminha) e Carreço (Viana do Castelo). O exercício das funções de Inspector e Director Escolar levaram-no posteriormente a fixar-se no Algarve (1933-1938), tendo desempenhado esses cargos com reconhecida competência distinguida através da condecoração com o oficialato da Instrução Pública pelo Chefe de Estado, em 8 de Março de 1934. Mudando-se depois para Setúbal onde passou a exercer os mesmos cargos, a partir de 1939 transferiu-se para Beja como adjunto do Director Escolar, e aí fixou residência e viveu os últimos 25 anos da sua vida.


A par de uma carreira distinta e exemplar como professor e pedagogo, Abel Viana acabou por sobressair e atingir notoriedade como investigador ao nível da Etnografia e da Antropologia mas foi, sobretudo, a Arqueologia que o apaixonou, destacando-se como um dos expoentes nacionais nesta área onde ao longo da vida desenvolveu importante investigação. Os estudos que realizou ao nível da arqueologia foram fortemente incentivados pelos do Colégio Português de La Guardia (Espanha), caso de Luisier, Jalhay e Silva Tavares. As campanhas arqueológicas e os trabalhos de investigação que realizou incidiram essencialmente em Viana do Castelo (Carreço, Afife, Areosa e outras localidades), e estenderam-se também à região do Vouga, Elvas, Baixo Alentejo e Algarve. O espólio arqueológico descoberto e estudado por Abel Viana nas suas campanhas de investigação, pode hoje ser apreciado nos museus de Viana do Castelo, Beja, Lagos, Faro e Elvas, embora também esteja depositado noutros organismos oficiais como privados. Da extensa obra publicada, referência para os títulos: Notas históricas, arqueológicas e etnográficas do Alto Minho (1930); Vocabulário minhoto (1930); Origem e evolução histórica de Beja (1944); Citânia de Santa Luzia (1955); Algumas noções elementares de arqueologia prática (1962); A sua vida devotada ao estudo e à investigação permitiu-lhe exercer diversos cargos de que se destacam: Director do Museu Regional de Viana do Castelo (1932-1933); Delegado do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia de Faro (1933-1939) e Secretário Geral do Centro de Estudos do Baixo Alentejo. Destaque também para o facto de ter sido o fundador do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia de Lisboa, e de ter pertencido a diversas sociedades e academias científicas. Abel Viana teve reconhecimento nacional pelos seus méritos e pela excelência com que desenvolveu os seus trabalhos, tendo por isso recebido diversas homenagens póstumas. De salientar, a atribuição do seu nome à designada rampa da ponte (1965) pela Câmara Municipal que, também o distinguiu com o título honorífico de “Cidadão de Mérito” (1996) da cidade de Viana do Castelo.

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Pedro

homem de melo (1904 – 1984)

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oeta, professor e folclorista. Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo, de seu nome completo, nasceu na freguesia de Cedofeita, no Porto. Após a implantação da República, seu pai, o escritor António Homem de Melo (Toy), que pertenceu ao círculo íntimo do poeta António Nobre, acompanhou o rei D. Manuel II e a corte ao exílio, tendo levado com ele a mãe e os irmãos. Regressados do exílio, permaneceram dois anos na Quinta de Cabanas, em Afife, Viana do Castelo, longe das grandes convulsões da época e de qualquer convívio social. Envolto nesse isolamento, Pedro Homem de Melo cedo se habituou a contemplar a paisagem que o rodeava, servindo-lhe de inspiração para os primeiros versos. Completou o ensino primário em Águeda, para onde a família se mudou e continuou a guardar o mesmo “luto rigoroso” pela monarquia, na Casa do Adro, à data pertencente aos pais. Já em Lisboa, e aos quinze anos, Pedro Homem de Melo concluiu o curso liceal, cidade onde os seus pais fixaram residência para mais facilmente cuidarem da educação dos filhos. Pedro Homem de Melo iniciou a sua formação superior no curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, acabando por se licenciar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1926. Apesar de ter iniciado a sua carreira como advogado e exercendo as funções de subdelegado do Procurador da República, optou posteriormente pela actividade docente vindo a leccionar na Escola Industrial e Comercial de Águeda como professor provisório de Inglês.

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“Pedro Homem de Melo publicou o seu primeiro livro, Caravela no Mar, em 1934, deixando 29 livros de poesia e uns poucos de prosa, o que significa o legado de uma vasta obra poética, “eivada de um lirismo puro e pagão, claramente influenciada por António Botto e Frederico García Lorca”, que mereceu os mais importantes prémios literários da época (Antero de Quental, 1934; Casimiro Dantas, 1968; Nacional de Poesia, 1972) e os maiores elogios da crítica.”

Sendo seu desejo deslocar-se para o Porto, concorreu a professor do 8.º grupo do Ensino Técnico Profissional, acabando por ser colocado, em Dezembro de 1931, na Escola Comercial Oliveira Martins como professor provisório. No ano seguinte, passou à categoria de professor agregado e regeu as disciplinas de Francês, Inglês e Geografia. Depois de passar por professor efectivo na Escola Industrial e Comercial Gabriel Pereira, de Évora, dedicou-se ao ensino de Português nas escolas técnicas Mouzinho da Silveira, onde chegou a director, e Infante D. Henrique, ambas no Porto, até à data da sua aposentação. Foi autor e co-autor de vários livros para o ensino secundário, como antologias da língua portuguesa e histórias da literatura portuguesa. Poeta da Presença, colaborou também nas revistas Altura (1945) e Prisma (1936-1941) e, ainda, no semanário Mundo Literário (1936-1941). Pedro Homem de Melo publicou o seu primeiro livro, Caravela no Mar, em 1934, deixando 29 livros de poesia e uns poucos de prosa, o que significa o legado de uma vasta obra poética, “eivada de um lirismo puro e pagão, claramente influenciada por António Botto e Frederico García Lorca”, que mereceu os mais importantes prémios literários da época (Antero de Quental, 1934; Casimiro Dantas, 1968; Nacional de Poesia, 1972) e os maiores elogios da crítica. Daí, permanecerem até hoje muito populares os seus poemas Povo que Lavas no Rio e Havemos de Ir a Viana, imortalizados pela voz de Amália Rodrigues, e O Rapaz da Camisola Verde interpretado também por Amália Rodrigues, Frei Hermano da Câmara e Sérgio Godinho. Entusiástico e estudioso do folclore português, dedicou a este assunto diversos ensaios como A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português, Danças Portuguesas e Danças de Portugal, além de um programa na RTP. Nesse âmbito, chegou a criar e a patrocinar alguns ranchos folclóricos do Minho e colaborou com o Orfeão Universitário do Porto no âmbito de recolhas etnográficas para os seus grupos folclóricos. 23


José Rosa

DE ARAÚJO (1906 – 1992)

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studou as primeiras letras numa escola particular, a Escola do Vaz, passando depois para a Escola Central de Viana, onde foi aluno de Abel Viana e a quem, anos mais tarde, viria a ficar ligado dado o interesse pelas actividades arqueológicas. No Liceu de Viana fez os cursos complementares de Ciências e de Letras, e na Escola Comercial e Industrial os cursos de Escrituração e Desenho. Chegou a matricular-se no curso de Direito, que interrompeu para se tornar funcionário bancário. José Rosa de Araújo fundou e dirigiu a revista Alto Minho (1932-1935) que se publicou em Viana do Castelo. Com Leandro Quintas Neves e o Cón. Dr. Luciano Afonso dos Santos fundou a revista Arquivo do Alto Minho (1945-1986), e dirigiu desde a fundação a revista Arquivo de Ponte de Lima (1980-1986). Desempenhou as funções de delegado da Junta Nacional de Educação e de vogal da Comissão de Turismo de Viana do Castelo. José Rosa de Araújo foi um dos sócios fundadores da Fábrica de Louça da Meadela, e aí realizou diversos trabalhos artísticos, revelando-se também como pintor ceramista. No entanto, a sua actividade artística manifestou-se sobretudo na execução de desenhos à pena que publicou a ilustrar várias das suas obras e de outros autores como Abel Viana e C.F.C.Hawkes.


Publicou dezenas de trabalhos, sempre redigidos no melhor estilo literário, na sua maior parte dispersos por várias revistas como: Alto Minho (que fundou e dirigiu), Arquivo do Alto Minho (que foi um dos fundadores e co-director), Arquivo de Ponte de Lima (de que foi director), Arquivo de Beja, Cadernos Vianenses, Terra de Val de Vez, O Distrito de Braga, Mínia, Caminiana, Brigantia, Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris e Estudos Regionais. Colaborou igualmente em diversos jornais regionais: Notícias de Viana, A Aurora do Lima, Cardeal Saraiva, Notícias dos Arcos, Povo da Barca, O Caminhense e Falcão do Minho, e ainda nas páginas culturais dos diários O Comércio do Porto e Diário de Notícias. De referir, também, os vários suplementos destacáveis e páginas especiais em vários periódicos regionais que organizou como: “Do Que É Nosso Para Todos” e “Serão”, no Notícias de Viana; “Límica”, no A Aurora do Lima; “Limiana”, no Cardeal Saraiva, e “Caminiana”, no O Caminhense. Pertenceu à Associação de Arqueólogos Portugueses; Academia Portuguesa de Ex-Libris; Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnografia; Instituto Português de Heráldica; Instituto Português de Arqueologia, Etnografia e História; A.S.P.A.- Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural; Instituto Limiano; Instituto Cultural Galaico-Minhoto (sócio fundador e membro dos orgãos directivos); Centro de Estudos Regionais (sócio de mérito) e Academia Portuguesa de História (sócio correspondente). A Câmara Municipal de Ponte de Lima atribui-lhe em 1985 a medalha de prata, de mérito.

“José Rosa de Araújo fundou e dirigiu a revista Alto Minho (1932-1935) que se publicou em Viana do Castelo. Com Leandro Quintas Neves e o Cón. Dr. Luciano Afonso dos Santos fundou a revista Arquivo do Alto Minho (1945-1986), e dirigiu desde a fundação a revista Arquivo de Ponte de Lima (1980-1986).”

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Maria Emília

SENA DE VASCONCELOS (1912 – 2003)

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oetisa e memorialista, Maria Emília Sena de Vasconcelos nasceu em Lisboa, sendo filha do capitão de artilharia José Vicente da Silva Sena, de Elvas, antigo ajudante do Infante D. Afonso, e de D. Augusta de Belfort Cerqueira, do Rio de Janeiro. A partir de 1973, fixou residência em Viana do Castelo, terra de seu marido Francisco Luís de Vasconcelos Costa e Melo. Maria Emília Sena de Vasconcelos destacou-se, também, na divulgação de temas de carácter etnográfico com particular relevância para as questões relacionadas com o traje regional. Iniciou a sua actividade literária ainda jovem, obtendo diversos prémios em concursos e jogos florais no âmbito do conto, poesia lírica, sonetos e até teatro. O interesse pelo traje regional levou-a a dedicar-se ao estudo e divulgação do traje vianense, colaborando em inúmeras exposições, desfiles e outros eventos relacionados com esta temática, de que se destaca a Festa do Traje integrada na Romaria de Nossa Senhora da Agonia, em Viana do Castelo.

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Com colaboração dispersa por vários jornais locais de que se salientam A Aurora do Lima, O Vianense e Santa Luzia, entre muitos outros, possui, também, diversos trabalhos em publicações como o Roteiro de Viana e o Arquivo de Ponte de Lima. A sua maior colaboração surge, no entanto, nos Cadernos Vianenses, revista de cultura editada pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, onde publicou grande parte dos seus trabalhos. Entre as suas obras principais destacam-se: A História de Quase Todas (poesia), 1964; Caderno de Apontamentos (poesia), 1965; Croniquetas do Brasil, 1974; Breve Memorandum das Festas da Agonia, 1977; Casas de Viana Antiga (de colaboração), 1983; Minha Terra Mais Pequena (poesia), 1994; Acima dos Nevoeiros (poesia), 1994; A Importância das Meias no Lirismo, no Traje e na Vida do Alto Minho, 1996, Terra-Mãe dos Meus Avós, 1999, e Rimas da Minha Terceira Idade, 2001. Maria Emília Sena de Vasconcelos pertenceu à Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho e ao Centro de Estudos Regionais, de Viana do Castelo. Em 1996, a Câmara Municipal de Viana do Castelo, atribuiu-lhe a medalha de "cidadã de mérito".


“Maria Emília Sena de Vasconcelos destacou-se, também, na divulgação de temas de carácter etnográfico com particular relevância para as questões relacionadas com o traje regional.“

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Álvaro

Feijó (1916 – 1941)

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oeta. Fez os estudos secundários no Colégio Jesuíta de La Guardia, na vizinha Galiza (Espanha), inscrevendo-se depois na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Em 1941, com apenas vinte e quatro anos de idade viria a falecer, em Coimbra, vítima de doença. Este poeta vianense, de seu nome completo Álvaro de Castro Sousa Correia Feijó foi influenciado pela obra de seu tio-avô António Feijó (1859-1917), introdutor e cultor exímio do “Parnasianismo” francês no nosso país. Os Primeiros Versos de Álvaro Feijó que, segundo os críticos, “constituem a manifestação de um talento poético embrionário, caracterizada por um ensaio de versificação parnasiana”. Em Coimbra, o poeta tenta a definição do próprio caminho, conseguindo ultrapassar a influência do confessionalismo poético típico do romantismo, sendo um dos pioneiros do neo-realismo. Prova disso, é o legado poético que deixou onde os temas de mais fundas raízes na cultura e literatura portuguesas se irmanam a uma consciência social. Álvaro Feijó não foi apenas o continuador, noutro plano, das tradições poéticas da família, tendo em conta que nos poemas que se seguem ele acabou por evidenciar na sua obra uma lição de grande valor humano, apelando à reforma da sociedade.

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“Em Coimbra, o poeta tenta a definição do próprio caminho, conseguindo ultrapassar a influência do confessionalismo poético típico do romantismo, sendo um dos pioneiros do neo-realismo. Prova disso, é o legado poético que deixou onde os temas de mais fundas raízes na cultura e literatura portuguesas se irmanam a uma consciência social.”

Editou em vida um único livro intitulado Corsário, em 1940, e publicou os seus versos no semanário O Diabo e em revistas como Sol Nascente, Altitude e Seara Nova. Companheiro no exercício poético de Políbio Gomes dos Santos, Joaquim Namorado e José João Cochofel, a sua poesia sofre a trágica influência da Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e da Segunda Grande Guerra. Não é por acaso que no Corsário, há um apelo fundamental à reforma da sociedade e à justiça social. No Diário de Bordo, livro que deixou incompleto devido à morte prematura na sequência de doença que o afligia, assiste-se a uma nova estratégia temática, com versos de sarcasmo intenso dirigidos à própria classe aristocrata, ridicularizada nos seus actos de uma vivência frívola, muito próxima de uma ironia ao nível queirosiano. Álvaro Feijó, dedicou-se também ao teatro, sendo-lhe conhecidos alguns esboços de peças, encontrados entre os seus manuscritos. Os Poemas de Álvaro Feijó, livro que reúne os Primeiros Versos, Corsário e o inacabado Diário de Bordo, com 1.ª edição, em 1941, em Coimbra, no Novo Cancioneiro, e prefácio de Armando Bacelar, conheceu mais quatro edições: uma em 1961, por João José Cochofel, na “Portugália Editora”; outra em 1978, na “Brasília Editora”; seguiu-se outra em 1989, fac-similada da 1ª, na “Caminho” e, por fim, em 2005, por seu irmão Rui Feijó, na “Evoramons Editores”, onde se alvitra a alegria que Álvaro Feijó sentiria “se pudesse saber que a sua poesia permanece no imaginário de várias gerações, que figura em todas as antologias responsáveis da poesia do tempo em que viveu e que continua a ser editado”.

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Maria Manuela

COUTO VIANA (1919 – 1983)

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scritora. Maria Manuela Couto Viana, desde muito nova, iniciou a sua actividade literária na imprensa local, nomeadamente no Notícias de Viana, de que seu pai era editor e redactor principal, assinando muitos dos textos aí publicados com o pseudónimo Maria de Lena (recordando o apelido espanhol da mãe: González de Lena y Carreño). Irmã dos escritores Maria Adelaide Couto Viana (1921-1990) e António Manuel Couto Viana (1923-2010), Maria Manuela publicou o seu primeiro livro em 1942, intitulado Raízes que não secam… (romance), sob a chancela do Grémio Nacional dos Editores e Livreiros. A sua publicação surgiu na sequência do prémio que recebera do concurso “Procurase um Romancista”, promovido por aquela instituição, por ter sido considerada pelo júri como merecedora do primeiro lugar “pelas indiscutíveis qualidades de imaginação, facilidade e estilo que o autor revela”. Colaborou assiduamente na revista de poesia Távola Redonda e, em 1950, editou o livro Menina Mansa e outras poesias. Em 1964, surgiu com novo livro de poemas intitulado Frauta Lonxana, em língua galega. Para as crianças escreveu a novela O Mundo dos Meninos Verdes, publicada em 1970, galardoada com o Prémio Nacional de Literatura Infantil, a peça de teatro Albaninha ou a Princesa que Guardava Patos, que embora não tenho sido dada à estampa foi por várias vezes posta em cena pelo Teatro do Gerifalto, e a novela O Jardim dos Gatos editada em 1981. Em 1973, publicou o livro de crónicas Bruxas, Feitiços, Defuntos, Aparições. O seu talento de desenhadora levou-a a conceber algumas capas de livros, ilustrações para jornais e revistas como foi o caso da Ocidente (Revista Portuguesa de Cultura) fundada por Álvaro Pinto. Entre 1976 e 1980, escreveu crónicas (ou estórias) no jornal A Rua, numa rubrica intitulada Encruzilhada(s), muitas das quias vieram a ser reunidas em volume, em 1979, com o mesmo título.


“Maria Manuela publicou o seu primeiro livro em 1942, intitulado Raízes que não secam… (romance), sob a chancela do Grémio Nacional dos Editores e Livreiros. A sua publicação surgiu na sequência do prémio que recebera do concurso “Procura-se um Romancista”, promovido por aquela instituição,

por ter sido considerada pelo júri como merecedora do primeiro lugar “pelas indiscutíveis qualidades de imaginação, facilidade e estilo que o autor revela”.

A par da sua actividade literária Maria Manuela Couto Viana distinguiu-se também como declamadora e participou em filmes portugueses. Na rádio, onde foi produtora e intérprete, manteve durante muitos anos no Emissor Regional do Norte um programa de turismo intitulado Viagens na Nossa Terra, e foi, também, directora artística do Teatro Radiofónico do S.N.I. (delegação portuense) tendo escrito e interpretado diversos textos. Em edição póstuma foi publicada, em 1993, a sua obra poética completa coligida pelo seu irmão António Manuel Couto Viana num volume intitulado A Poesia, de Maria Manuela Couto Viana. Deixou inéditos o texto Lourenço, Lourenço, Lourenço… (novela), e outros de teatro infantil para adultos e radiofónico, e crónicas dispersas por vários jornais.


Amadeu

COSTA (1920 – 1999)

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emorialista e estudioso das tradições locais de cariz etnográfico e folclórico. Amadeu Costa iniciou a sua actividade profissional como tipógrafo, ao mesmo tempo que frequentava o ensino técnico profissional na Escola Industrial e Comercial Nun’Álvares, em Viana do Castelo. Com 16 anos de idade, passou a trabalhar na Câmara Municipal de Viana do Castelo como dactilógrafo. Por razões de ordem política, em 1953, e após ter sido preso pela P.I.D.E., pediu licença ilimitada como funcionário administrativo, passando a acumular funções no serviço de contabilidade na Empresa Cinematográfica Vianense, Lda., a funcionar no Teatro Sá de Miranda, e que já vinha desempenhando há anos, com as de empregado de escritório na fábrica de louça da Meadela, de Jerónimo Pereira Campos & Filhos. Conheceu depois novo emprego nos escritórios da Auto Viação Cura e daqui mudou-se para a Auto Vianense, onde se manteve por 16 anos. A seu pedido, reingressou, em 1977, na Câmara Municipal, integrando o quadro de pessoal da secretaria. Destacado pela autarquia, veio também a exercer funções na Comissão Regional de Turismo do Alto Minho (Costa Verde) e, após a passagem do Teatro Sá de Miranda para a posse do município, as suas funções passaram a ser exercidas nesse local, que já lhe era familiar há muitos anos por aí ter trabalhado no serviço de contabilidade.

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Durante vários anos, o seu nome surgiu ligado à Romaria de Nossa Senhora d’Agonia como membro da comissão de festas, sendo responsável pela planificação de diversos cortejos etnográficos, alegóricos e histórico-alegóricos. O gosto pela decoração levou-o a participar também na organização de diversas exposições sobre temática etnográfica de âmbito local. Amadeu Costa participou em vários encontros e seminários abordando temas relacionados com trajes regionais, ourivesaria, gastronomia e usos e costumes do povo da região. Durante vários anos foi correspondente do jornal Diário de Lisboa e colaborador dos jornais regionais A Aurora do Lima, O Vianense e Notícias dos Arcos, entre outros. Muitos dos seus trabalhos surgem publicados nos Cadernos Vianenses, Roteiro de Viana e outras publicações editadas anualmente por comissões de festas das diversas freguesias do concelho de Viana do Castelo. Nos Cadernos Vianenses, editados pela Câmara Municipal, encontra-se a maior da sua colaboração. Aí publicou, sob o título genérico de “Coisas da Nossa Ribeira”, os seguintes trabalhos: Assalto ao Barco (1978); Ajudar a Bem Morrer (1979); A Escola do Cantinho (1979); Andar às Vozes ... (1980); O Senhor dos Passos da Matriz (1981); A Apanha do Azevinho - uma Velha Usança da Classe Piscatória da Foz do Lima (1989). Nessa mesma publicação escreveu ainda : Teatro Sá de Miranda (1985); O Traje Vermelho à Vianesa (1987); Em Viana Aconteceu... D. Garcia, Cantata Cénica (1994). Publicou, ainda, A Senhora da Consolação da Meadela (1987), e Ouro Popular Português, (1992) em colaboração com Manuel Rodrigues Freitas.


Amadeu Costa foi membro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo após o 25 de Abril de 1974 e Presidente da Comissão Municipal de Turismo. Foi nomeado “sócio de mérito” do Sport Clube Vianense pela diversa colaboração prestada, nomeadamente ao nível da natação como professor, condecorado com a “medalha de prata” pelo Instituto de Socorros a Náufragos, e com a “medalha de ouro” da cidade de Viana do Castelo pela Câmara Municipal.

“Durante vários anos, o seu nome surgiu ligado à Romaria de Nossa Senhora d’Agonia como membro da comissão de festas, sendo responsável pela planificação de diversos cortejos etnográficos, alegóricos e histórico-alegóricos.”

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António Manuel

COUTO VIANA (1923 – 2010)

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oeta, contista, dramaturgo, ensaísta e memorialista. António Manuel Couto Viana, o mais novo de três irmãos também escritores (Maria Manuela e Maria Adelaide), cresceu e viveu sempre ligado às artes e às letras. Publicou meia centena de livros de poesia e cerca de oitenta títulos de outros géneros literários, com relevo para os livros de ensaios e memórias. Passou a infância e juventude em Viana do Castelo, e, aos 23 anos mudou-se com a família para Lisboa. Aí, desde cedo dirigiu o seu interesse para o teatro, começando por colaborar como actor, cenógrafo e encenador no Teatro Estúdio do Salitre (1948-1950). Integrou a direcção do Teatro de Ensaio Monumental (1952) e foi empresário e director do Teatro Gerifalto (1956-1960), especializado em espectáculos infantis, e também da Companhia Nacional de Teatro (1961-1965). A sua actividade artística mereceu-lhe o Prémio Nacional António Pinheiro, por duas vezes, e o Prémio da Crítica. A sua estreia literária verificou-se em 1948 com o livro de poemas “O Avestruz Lírico”. Com David Mourão-Ferreira e Luiz de Macedo dirigiu as folhas de poesia “Távola Redonda” (1950-1954), a revista de cultura “Graal” (1956-1957), fazendo ainda parte do conselho de redacção da revista “Tempo Presente” (1959-1961). Além do teatro e da poesia, dedicou-se também à literatura infanto-juvenil, escrevendo e traduzindo livros, e dirigindo publicações como a revista “Camarada” (1949-1951). De referir que parte significativa da sua actividade teatral, tanto como actor, encenador e autor, orientou-se para as crianças. António Manuel Couto Viana via-se, em primeiro lugar, como poeta, mas o texto dramático, o ensaio, e mais recentemente o conto, que experimentara em jovem, marcaram a sua intensíssima produção literária. A sua obra poética figura nas principais antologias de língua portuguesa e espanhola, e poemas seus foram traduzidos para castelhano, inglês, francês, alemão, russo e chinês.


Foi galardoado com o Prémio Antero de Quental (1949 e 1969), o Prémio Luso-Galaico Valle-Inclan (1960), o Prémio Nacional de Poesia (1965), o Prémio da Academia de Ciências (1971), o Prémio de Literatura da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (1988) e o Prémio Camilo Pessanha (1992) da Fundação Oriente. De 1986 a 1988, viveu em Macau, onde exerceu funções docentes no Instituto Cultural. António Manuel Couto Viana fez, também, parte da Comissão de Leitura para a Educação e Bolsas, da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi agraciado com a Banda da Cruz de Mérito, Grã-Cruz da Falange Galega e Grande Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique. O Município de Viana do Castelo atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural e dedicou-lhe, a si e à sua família, uma sala na nova Biblioteca Municipal.

“Publicou meia centena de livros de poesia e cerca de oitenta títulos de outros géneros literários,

com relevo para os livros de ensaios e memórias.” 35


Amadeu

RODRIGUES TORRES (1924 – 2012)

“Amadeu Torres é autor de muitas poesias dispersas por folhas literárias e outras publicações do género, utilizando, por vezes, o pseudónimo de Castro Gil, sendo também de assinalar a sua intensa colaboração com trabalhos universitários e literários reveladores de grande erudição e cultura.”

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oeta em vernáculo e em latim, escritor e linguista. Frequentou os seminários de Braga e, em 1957, foi ordenado sacerdote, vindo a ser cónego da Sé de Braga. Amadeu Torres para além da licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, possuía a licenciatura e o doutoramento em Filologia Clássica pela Universidade de Lisboa. Em 1985 fez o concurso para professor associado e, em 1988, o de agregação para catedrático na área da linguística. Foi professor catedrático da Universidade Católica Portuguesa (Faculdade de Filosofia de Braga), onde foi responsável, durante muitos anos, pelas cadeiras de Sintaxe e Semântica do Português, e História da Língua Portuguesa, e professor catedrático convidado da Universidade do Minho onde leccionou Fonética e Morfologia do Português e História da Língua Portuguesa, e regeu, desde 1978 até 1995, a cadeira de Sintaxe e Semântica do Português. Amadeu Torres é autor de muitas poesias dispersas por folhas literárias e outras publicações do género, utilizando, por vezes, o pseudónimo de Castro Gil, sendo também de assinalar a sua intensa colaboração com trabalhos universitários e literários reveladores de grande erudição e cultura, em revistas como: Revista Portuguesa de Filosofia, Theologica, Humanitas, Euphrosyne, Diacrítica, Biblos, Didaskalia, Arquivos do Centro Cultural Português (Paris), Confluência (Rio de Janeiro), Anais (Academia Portuguesa da História), Revista Portuguesa de Humanidades, Anais (Academia das Ciências de Lisboa), Revista Portuguesa de Educação, Nova Renascença, Itinerarium, Hermes Americanus (USA), Bracara Augusta, Cenáculo, etc.; e em jornais, entre eles Novidades, O Comércio do Porto, Diário do Minho, Correio do Minho, Notícias de Viana, A Aurora do Lima, A Voz, Época, Diário Ilustrado, etc. Da sua carreira literária e como investigador ressaltam o Prémio Nacional em poesia heróica nos jogos florais da Emissora Nacional em 1948, com o poema - O Sonho de um Castelo; o Prémio Laranjo Coelho da Academia das Ciências de Lisboa, concedido em 1984 à sua tese de doutoramento; e o Prémio Calouste Gulbenkian da Academia Portuguesa da História, outorgado em 1996 à sua edição da Gramática Filosófica da Língua Portuguesa. Amadeu Torres participou em muitos congressos no país e no estrangeiro, e foi membro de várias instituições científicas nacionais e estrangeiras.

Da sua extensa obra publicada ressaltam as seguintes: O Meu Caminho é Este (poesia), 1948; Sá Carneiro, Miguel Torga e José Régio: Três Atitudes Perante a Vida (ensaio), 1949; O Sonho de um Castelo (poema heróico), 1965; Antologia Literária (sécs. XVII, XVIII e XIX), 3 vols.,1965, 1968, 1969 (adoptada nos liceus de todo o território português de então); Conceito de apxn no Livro da Metafísica de Aristóteles (dissertação de licenciatura em Filosofia), 1971; Damião de Góis e o Ciceronianismo (tese de licenciatura em Filologia Clássica), 1973; Noese e Crise na Epistolografia Latina Goisiana (tese de doutoramento em Filologia Clássica), 2 vols., 1982; Carmen Fatímale (poema latino em oito línguas), 1982; Carmen Hemisaeculare (poema latino), 1986; Jubilaei Carmen (poema latino), 1993; Gramática Fílosófica da Língua Portuguesa de Bernardo de Lima e Melo Bacelar - 1783 (reprodução facsimilada da edição princeps, com introdução e notas críticas), 1996; Gramática e Linguística (ensaio e outros estudos), 1998; A Fonte de Hipocrene Cinquentando (poesia), 1998; e Reencontro de Clio e de Polímnia (ensaios histórico-literários e outros estudos), 1998; Em Louvor de Viana (poesia), 1999; Caminhos de Emaús (poesia), 2000, e E Mais Mundo Não Houve (poesia), 2000.

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Luís

MIGUEL ROCHA (1976 – 2015)

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scritor. Depois dos estudos primários na freguesia de Mazarefes, frequentou a Escola Frei Bartolomeu dos Mártires e a Escola de Monte da Ola, acabando por completar os estudos secundários, 12.º ano, na área das Humanidades, na Escola Secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo. Chegou a frequentar o Curso de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Iniciando a sua vida profissional como repórter de imagem, rumou depois a Londres onde exerceu funções de guionista e tradutor, e passou a dedicar-se em exclusivo à escrita. Iniciou-se com o livro Um País Encantado (2005), mas o sucesso internacional chegaria com O Último Papa (2006) que percorreu o mundo e o tornou no primeiro escritor português a ser bestseller do prestigiado Top do New York Times. Este thriller foca-se na morte do Papa João Paulo I – o “Papa do Sorriso” –, morte envolta em mistério e que permitiu ao escritor explorar este facto considerado estranho para muitos. Seguiram-se os livros Bala Santa (2007), baseado numa trama que envolve uma jornalista internacional, um ex-militar português, um muçulmano que vê a Virgem Maria, um padre muito pouco ortodoxo que trabalha directamente sob as ordens do sumo-pontífice, vários agentes dos serviços secretos e muitos outros personagens dos quatro cantos do globo, envolvem-se numa busca pela verdade e descobrem que ela nem sempre é útil; A Mentira Sagrada (2011), romance onde pretendeu perpassar a história de Jesus, numa perspectiva histórica e não religiosa, sustentada num manuscrito antigo; e A Filha do Papa (2013), romance construído em torno de uma história de amor entre o Papa Pio XII e a irmã Pasqualina, de que resultou uma filha, e que acaba por abordar a beatificação de Pio XII que nunca teria ocorrido por causa da sua fama antissemita e de sua fidelidade ao nazista Adolf Hitler. Com estes livros Luís Miguel Rocha liderou também as tabelas de vendas no Reino Unido.

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“Iniciou-se com o livro Um País Encantado (2005), mas o sucesso internacional chegaria com O Último Papa (2006) que percorreu o mundo e o tornou no primeiro escritor português a ser bestseller do prestigiado Top do New York Times.” Times.”

Pelo meio, em 2009, republicou o primeiro livro com o título que sempre idealizou, chamado «A VIRGEM», na editora Mill Books, projecto editorial que optou por criar, em 2008, mas que por circunstâncias várias não vingou. Sobre este livro o escritor escreveu: «Espero que lhes tenha agradado tanto como me deu gozo escrevê--lo. O essencial foi publicado em 2005 com o título Um país Encantado. Este título foi proposto pela editora que não gostava do que eu lhe tinha dado: A Virgem. Esta é a versão como eu a imaginei». A título póstumo foram ainda publicados os livros Curiosidades do Vaticano (2016), uma espécie de roteiro que leva os leitores a conhecer um pouco melhor os meandros do Vaticano, e A Resignação (2018), história que Luís Miguel Rocha escrevia quando a morte o surpreendeu. Para dar sequência à história, a família convidou dois escritores seus amigos (Porfírio Pereira da Silva e Rui Sequeira) que, com base nas notas que o Luís deixou, escreveram o desfecho do romance. Traduzido em 40 países e em mais de 20 línguas, Luís Miguel Rocha vendeu mais de um milhão de livros em todo o mundo. A Câmara Municipal de Viana do Castelo, em homenagem ao escritor, decidiu criar um prémio literário com o seu nome, por forma a incentivar a criatividade literária bem como o gosto pela leitura e pela escrita.

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Título Autores da cidade de Viana do Castelo Textos Rui A. Faria Viana Design Rui Carvalho Edição Câmara Municipal de Viana do Castelo Local e data de edição Viana do Castelo, Janeiro de 2019

40 Impressão FELPRINT Tiragem 1000 EXEMPLARES ISBN 978-972-588-272-6

Depósito legal 450834/19

Edição de apoio à exposição com o mesmo título, comemorativa do 171º aniversário da elevação de Viana a cidade, patente ao público nos Antigos Paços do Concelho, à Praça da República, em Viana do Castelo.




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