Shabat - O Dia Sétimo

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Por Carlos Coléct |1

SHABAT - O DIA SÉTIMO (Yom hasheviyi) E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; (Gn 2.3)

Os dias contemporâneos, como é de conhecimento comum, são apressados, velozes e convidativos ao ativismo. Sob a teologia do empreendedorismo, a existência humana entra numa corrida cansativa pelo crescimento, acarretando em si enfermidades pelo esforço repetitivo. Nesta busca ininterrupta, é oportuno rever o mandamento do repouso, segundo ordenado pelo Deus (YHWH) dos hebreus. É benéfico para a civilização humana reaver a pausa sagrada.

Muitos cristãos atuais, infelizmente, influenciados pela herança antissemita que envolveu o cristianismo, acabaram por negligenciar a ordenança da pausa e do descanso, existente desde o Éden, antes da formação do povo Hebreu: Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. 2 E, havendo Deus terminado no dia sétimoa a sua obra, que fizera, descansou nesse diab de toda a sua obra que tinha feito. 3 E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera (Gn 2.1-3). A benção sobre o Dia Sétimo, porém, só foi legalizada na Torah (constituição - código legal), entre o decálogo (dez palavras ou dez mandamentos de ordem ética e moral) revelado no Sinai por intermédio de Moisés: Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. 9 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. 10 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás

nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; 11 porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou. (Ex 20.8-11) Além das ações antissemitas cristãs que alteraram o dia litúrgico do Sábado judaico para o Domingo cristão (calendário gregoriano) a fim de causar uma distinção entre judaísmo e cristianismo, as interpretações judaicas legalistas também cooperaram para que o Dia Sete fosse visto com peso; a tradição judaica e rabínica contribui para afastar o dia de descanso da humanidade. — Vale relembrar que guardar o Dia Sétimo não é sinônimo de guardar tradições, tão embora, haja boas tradições —. Há muitas

passagens bíblicas (Mat 23.3,4; Mar 7.8; ... ) que condenam os pesos e dogmas rabínicos colocados sobre os mandamentos inscritos na Torah (instrução revelada no Sinai). Não vem ao caso citá-las, convém apenas reafirmar o que o rabino Paulo (Shaul) declara na carta aos Gálatas: (...) percebemos que a pessoa não é declarada justa por D-us com base na observância legalista dos mandamentos da Torah, mas por a

2.2 Êx 20.11

b

2.2 Hb 4.4,10


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meio da fidelidade decorrente da confiança no Messias Yeshua (...).(Gálatas 2:16, NTJ). Além dessas palavras, afirma João: Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus

mandamentos não são pesados. (1 Jo 5.3) Outro ponto essencial, sem muitos detalhes, está na mudança dos calendários. Muitos calendários (babilônico, de Hilel, juliano, gregoriano) influenciaram Israel desde os tempos da saída do Egito. A representação exata do Dia Sete é desconhecida. O método para se contar os dias naquela época é diferente de hoje. Os textos bíblicos se referem ao Dia Sete como “sábado”, no entanto, “sábado” é uma interpolação segundo os calendários posteriores ao êxodo. O sábado do calendário litúrgico judaico atual não é o mesmo do que aquele celebrado pelo Povo no deserto do Sinai, talvez nem existisse o sábado como hoje conhecemos. “Sábado”, da etimologia latina, é uma palavra colocada no lugar da palavra hebraica “shabat”, porém, esta palavra hebraica significa apenas “parar, descansar”. Se somente fosse traduzida, o texto ficaria assim: Lembra-te do dia de parar/descansar (shabat), para o santificar. 9 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. 10 Mas o sétimo dia é o parar/descansar (shabat) do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; 11 porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de

parar/descansar (shabat) e o santificou (Ex 20.8-11). Não haveria, desta forma, tanta ênfase no dia liturgico de sábado, e sim no Dia Sétimo, o qual se encontra após seis dias de trabalho, independente do dia semanal (segunda-feira, terça-feira ou domingo). Na minha visão atual, o Dia Sétimo pode ser observado e lembrado num Domingo, conforme o calendário gregoriano, o que importa é observar o mandamento com leveza — sem colocar cargas sobre si (Jer 17.21,22) —, receber seu alento e benção. Benção que está sobre o Dia Sétimo, e não sobre o Sábado semanal litúrgico: E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; (Gn 2.3). No que tange a palavra “sétimo”, há uma beleza no hebraico que convèm partilhar. “Sétimo”

‫ שביעי‬sheviyi é procedente de uma raiz primitiva ‫ שבע‬saba, cujo significado é “estar saciado, satisfeito; fartura, abundância; enriquecer; jurar; ...”. O sétimo dia (yom hasheviyi), dentro desta perspectiva, traz a lembrança a ceia de um casamento, como a das bodas do cordeiro visualizada por João (Ap 19.7;9), pois neste dia há juramento — confirmação da aliança entre noivo e noiva — e fartura. Sobre esta representação nupcial, o Shabat, enquanto sétimo dia (e não sábado litúrgico, entretanto, não excluindo ou condenando a liturgia tradicional), é vivenciado como um sinal, uma aliança de casamento: 16 Pelo que os filhos de Israel guardarão o descanso (shabat), celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações.


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Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a

terra, e, ao SÉTIMO DIA, descansou, e tomou alento. (Êx 31.12-18). O verso acima — para esclarecimento — pode se tornar base para quem não vê a necessidade da guarda dessa aliança, tendo em vista que o texto fala “filhos de Israel”, isto é, esta expressão, quando interpretada de forma leiga, visando somente a nação israelense da atualidade, pode gerar uma exclusão dos demais povos e nações. No entando, cabe a compreensão de quem compõe Israel. Israel nasce com a mudança do nome (identidade) de Jacó, patriarca dos antigos cananeus que, posteriormente, se transformaram em israelitas e hebreus. Segundo o pensamento hebreu, este povo é composto por naturais e não naturais sob uma mesma constituição, a saber, a Torah. Trata-se de um assunto abrangente, todavia,

cabe apenas dizer que quando a Lei e os Profetas falam “Israel”, não estão falando somente do povo israelense conhecido hoje, e nem tão pouco de um Novo Israel disseminado pelo ensino cristão. A aliança do Dia Sétimo está aberta a toda a Humanidade: Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o descansar/parar (shabat), e guarda a sua mão de fazer algum mal. E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca. Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus descansar/parar (shabat), e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança: Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o descansar/parar (shabat), não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. (Isaías 56:2-7). Findo esta reflexão, por hora, acrescentando o seguinte entendimento: desfruta do Dia do Repouso (shabat) todo aquele que, antes do repouso, encontra o Dia. Dia é Luz; Dia é iluminação, revelação, pois assim é dito: E Deus chamou à luz Dia... (Gn 1.5). Quando ocorre essa iluminação, ocorre também o descanso (shabat).


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