1
Oi, meu nome Osvaldo, mais conhecido como o lobo da história da Chapeuzinho Vermelho. Hoje estou aqui (no inferno) para contar a minha versão dessa história. Ela começa assim: um dia, eu estava na floresta a procura de comida quando de repente uma menina caiu em cima da minha cabeça. Quando me levantei, vi que a garotinha estava com uma cesta de comida e os alimentos todos espalhados no chão. Ao me deparar com a linguiça, lembrei de todos os momentos em que comi essa iguaria de sabor inigualável. Porém, fiquei com vergonha de pedir um pedaço, pois eu não a conhecia. Daí me ocorreu um plano: eu puxaria conversa com ela, perguntaria onde ela estava indo, me ofereceria para acompanhar, para aos poucos conquistar a confiança e amizade da menina e, quem sabe, ganhar a linguiça de presente. Então perguntei: “onde você vai, minha querida?”. Ela respondeu: “não posso falar, pois minha mãe disse que não devo conversar com estranhos”. Daí eu, morrendo de fome, naquele fim de mundo, sem sentido, me aparece uma vaga esperança nesse mundo cruel: “não vou mais ser bonzinho! Eu roubarei a linguiça, que se dane!”. Como um ninja, eu
2
comecei a segui-la e reconhecendo o caminho, consegui me adiantar. Cheguei numa pequena casa, no meio das árvores do bosque, e ao olhar pela janela, vi uma senhorinha deitada na cama. Aí eu me toquei que a menina estava levando um lanche para sua avó. Eu estava com tanta fome que quando eu olhei pela janela, delirei que era um delicioso frango na panela. Entrei dando um chute na porta e devorei a vovó em uma só bocada. Só cuspi as roupas e a pantufa. Já de barriga cheia, escutei uma batida na porta. Eu me toquei que com certeza era a garotinha que trazia o lanche para a vó. Troquei-me mais rápido que a luz para me fazer passar pela senhora e me deitei na cama, apavorado com a ideia de ser desmascarado. Aí eu falei afinando a voz: “pode entrar, minha filha”. Ela olhou desconfiada para mim, dei um sorriso para tentar disfarçar. Ela ficou cara a cara comigo e perguntou: “que olhos grandes você tem?”. E eu respondi: “é para te ver melhor, minha netinha”. “Que narigão você tem?”. “É para te cheirar melhor”. “E que...bocona você tem?”. “É para te comer!!!”.
3
Então a pobre camponesa foi parar na minha barriga, mas a safadinha deu um berro, que qualquer ser vivo na floresta conseguia ouvir, e foi aí que meu azar começou. Eu estava lá de boa, deitado na cama da vovó, que era a mais confortável que já tinha deitado na minha vida. Quando ouço passos rodeando a casa, foi aí que um caçador entrou dando um chute na porta, falando: “mãos ao alto quem estiver aí”. Quando ele me viu, fez uma cara de espanto, aí ele sacou o que estava acontecendo.
4
Rapidamente ele me rendeu e abriu minha barriga para tirar a velinha e a garota. Eles me olharam furiosos e as últimas palavras que eu ouvi na minha vida foram: “você não deveria estar aqui”. E aí eu morri com um tiro de espingarda. Cá estou eu, no inferno, contando essa triste e injusta história.
FIM
5