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Epidemias e pandemias ao longo da história

No passado, epidemias e pandemias diversas atingiram o mundo de forma violenta, causando mortes em massa, abalando impérios, alterando modelos econômicos, redesenhando cidades e desencadeando mudanças comportamentais.

Peste de Atenas (430-427 a.C.)

No verão de 430 a.C., a cidade de Atenas foi atingida por um surto epidêmico originado na Etiópia. O surto espalhou-se pela população da cidade, confinada em péssimas condições atrás das muralhas, durante o cerco espartano.

Em sua narrativa História da Guerra do Peloponeso, o general ateniense Tucídides, que foi infectado e sobreviveu à doença, relatou sintomas como febre, inflamação nos olhos, perda da voz, problemas cardíacos, complicações neurológicas, úlceras no corpo e prostração, dentre outros. Além disso, ele observou que pessoas que sobreviviam à peste eram poupadas dos surtos posteriores da mesma doença, o que constitui a base moderna da vacinação.

Durante muito tempo, infectologistas pesquisaram se a doença que assolou a população ateniense na Antiguidade teria sido a peste bubônica, tifo, varíola ou gripe. Em 2006, pesquisadores da Universidade de Atenas analisaram dentes recuperados de uma sepultura coletiva, situada debaixo da cidade, e encontraram o microrganismo Salmonella typhi, causador da febre tifoide. A peste de Atenas pode ter sido responsável pela morte de até 35% da população local.

Ainda na Antiguidade, a humanidade enfrentou enfermidades como a peste de Siracusa, em 395 a.C., e a peste Antonina, que atingiu Roma em 166 d.C.

Peste negra ou peste bubônica (1347-1353)

Uma das maiores pandemias da história, que dizimou cerca de um terço da população europeia na Idade Média, foi transmitida para os seres humanos por pulgas de ratos contaminados com a bactéria Yersinia pestis, que se proliferavam com facilidade devido às condições precárias de higiene.

A doença ficou conhecida como peste negra por causar manchas pretas na pele das pessoas – frutos das infecções provocadas pelo bacilo –, e, também, como peste bubônica, por provocar bubões, isto é, inchaços infecciosos no sistema linfático, sobretudo nas regiões das axilas, virilha e pescoço.

Acredita-se que a pandemia tenha se originado na China ou em alguma região da Ásia Central. Sua inserção na Europa teria ocorrido por meio de caravanas comerciais que se dirigiam para cidades portuárias do Mar Mediterrâneo, como Gênova e Veneza, nas quais havia grande concentração demográfica.

Na fase mais crítica, a contaminação ocorria por via aérea, por meio de espirros ou tosse, e o bacilo era transmitido pelo ar. Mesmo sem conhecer a causa da peste, os médicos da época perceberam que o isolamento era uma forma de evitar sua propagação.

A peste negra permaneceu recorrente na Europa por todo o século 14 e existiu até 1720. Seu impacto foi tão forte sobre a sociedade medieval que favoreceu o fim do regime de servidão sobre os camponeses e das obrigações feudais. A peste também foi responsável por um dos maiores decréscimos demográficos da história, com o cálculo de até 200 milhões de pessoas mortas.

Gripe espanhola (1918-1919)

Embora os primeiros casos de gripe espanhola foram registrados nos Estados Unidos no começo do século 20, não se sabe ao certo se a doença se originou naquele país ou na China. Surgida no contexto da Primeira Guerra Mundial, o grande deslocamento de soldados e as aglomerações causou a disseminação dessa gripe pelo mundo e a transformou em uma pandemia. Seu nome não faz referência à sua origem, mas à imprensa espanhola, que ficou conhecida por poder divulgar livremente notícias a respeito da enfermidade, enquanto, na maioria dos países europeus participantes da guerra, elas eram censuradas.

A gripe espanhola foi causada por uma mutação do vírus Influenza, que passou de aves para seres humanos. Seus sintomas eram similares aos de uma gripe comum: febre, tosse, coriza, dores de cabeça e dores no corpo. Os casos mais graves causavam infecções nos pulmões.

No Brasil, a pandemia chegou em 1918, por meio dos passageiros da embarcação inglesa Demerara, que atracou em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, e sua disseminação pelo país foi rápida. As recomendações das autoridades eram que as pessoas evitassem aglomerações, lavassem as mãos com frequência e evitassem contato físico. Além disso, determinou-se o fechamento de fábricas, escolas, teatros e outros locais de aglomeração de pessoas. A quantidade de casos fez com que o sistema de saúde brasileiro – que, à época, não era público – não suportasse a quantidade de enfermos. Estima-se que a gripe espanhola tenha causado a morte de 35 mil pessoas no Brasil.

Países que implantaram medidas de prevenção baseadas no isolamento social conseguiram atravessar a crise causada pela enfermidade com efeitos reduzidos. Em comparação, aqueles que não as adotaram, sofreram duramente com a doença. A pandemia da gripe espanhola resultou na morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas – 5% da população mundial – em todos os continentes.

Outras grandes gripes contaminaram o mundo no século 20, como a gripe asiática, em 1957, e a gripe de Hong Kong, em 1968. Cada uma delas causou cerca de um milhão de óbitos.

Ebola (2013-2016)

Os primeiros casos de ebola – termo que dá nome tanto à família de vírus como à doença causada por eles – datam de 1976 e foram identificados em regiões do Sudão e da República Democrática do Congo. Entre 2013 e 2016, um novo surto epidêmico aconteceu nos países de Guiné, Serra Leoa e Libéria, regiões da África Ocidental, infectando aproximadamente 30 mil pessoas – um terço delas faleceu –, o que chamou atenção da OMS e de muitos países, que chegaram a fechar suas fronteiras para pessoas vindas daqueles locais. Em 2018, um novo surto foi registrado na República Democrática do Congo.

Acredita-se que o vírus seja transmitido por algumas espécies de morcego. Entre os seres humanos, o contágio se dá por meio de secreções, como saliva, sangue, fezes, urina e sêmen, e acontece quando uma pessoa tem contato com restos de animais contaminados. A doença manifesta-se por meio de

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