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Oswald de Andrade

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Mario de Andrade

Mario de Andrade

A alegria é a prova dos nove

A coletânea é uma tentativa de lançar um olhar retrospectivo e globalizante sobre a vida e a obra de Oswald de Andrade (1890-1954), autor que, sem dúvida alguma, melhor que ninguém incorporou as contradições de seu tempo, seja nas idas e vindas de sua vida pessoal, seja nas suas opções estéticas ou políticas. Por meio de uma seleção de frases e pensamentos originais do autor, recolhidos entre os vinte volumes que compõem sua obra completa (poemas, romances, crônicas, ensaios, entrevistas e peças de teatro), buscou-se uma síntese de seu percurso pessoal, onde público e privado se confundem para ordenar a história literária, política e moral do Brasil da primeira metade do Século XX. O livro está dividido em 17 partes, entremeadas por uma seção, Lambe-lambe, que evidencia sua franqueza, às vezes ferina, ao julgar os colegas, contemporâneos ou não, sem que, nessas críticas, haja qualquer “sombra de ódio ou rancor”.

Os condenados

Além da linguagem inovadora, a trilogia é um retrato ficcional das dificuldades enfrentadas pelos primeiros modernistas na conservadora sociedade paulistana, entre as décadas de 1920 e 1930. Publicados separadamente, os romances da trilogia “Alma” (1922), “A estrela de absinto” (1927) e “A escada vermelha”, mais tarde “A escada” (1934), foram elogiados e, ao mesmo tempo, criticados. Influenciado pela sua vivência na Europa, o autor trazia ao Brasil do início do século um novo conceito de literatura.

Os dentes do dragão

Coletânea abrangente das entrevistas de Oswald de Andrade, compreendendo um vasto período, que vai de 1924 a 1954, ano da morte do autor.

Dicionário de bolso

Escrito ao longo das décadas de 1930 e 1940, esse “Dicionário de bolso” é um conjunto de máximas e aforismos que o poeta modernista reuniu na forma de verbetes, sem impor-lhes uma ordem rígida. A esmagadora maioria das definições se refere a nomes próprios de personagens da história universal e brasileira. Esse manual onomástico, porém, não tem caráter informativo; sua tônica é a irreverência iconoclasta e bem-humorada, que retoma o tom polêmico dos fragmentos presentes na Revista de Antropofagia (1928-1929) - na qual Oswald condensou a estratégia modernista de intervenção estética - combinada com as orientações políticas esquerdizantes que o escritor havia adotado no período em que redigiu o Dicionário.

Estética e política

Coletânea de textos de Oswald de Andrade compilados e organizados pela professora Maria Eugenia Boaventura. Trata-se aqui de edição revista e ampliada com o acréscimo de importantes novos textos, dentre os quais destacaríamos “As minhas memórias”, no qual Oswald discorre acerca do primeiro volume de suas “Memórias” (infelizmente, o único publicado de um projeto literário mais amplo, interrompido pela morte do autor) e outros que discutem, com precisão, concisão e irreverência assuntos e pessoas relacionados à literatura e às artes, tais como os intitulados “Cobra Norato”, “Saudação a Albert Camus”, “Diálogo das vozes segallianas”, “A casa modernista”, “Brecheret”, entre outros.

Feira das sextas

Organizado pela pesquisadora Gênese Andrade, “Feira das sextas” reúne textos inéditos escritos por Oswald de Andrade entre maio de 1943 e dezembro de 1945 e que não foram incluídos no “Ponta de lança”, organizado pelo próprio autor. O livro reúne 24 textos escritos entre maio de 1943 e dezembro de 1945 - ou seja, durante o período da Segunda Guerra Mundial e sob a ditadura de Getúlio Vargas. Das 24 crônicas, onze foram publicadas na coluna que dá título ao livro, que Oswald assinou entre julho de 1943 e junho de 1944 no Diário de S. Paulo, além de outros três textos para o mesmo jornal, mas não nessa seção; nove foram publicados em O Estado de S. Paulo e uma no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro.

Um homem sem profissão: sob as ordens de mamãe

No início de 1954, Oswald de Andrade publicou “Um homem sem profissão”, o primeiro volume de suas memórias. O livro procura reconstituir a história da família de Oswald, mas tem como foco principal a vida urbana que viria a transcorrer na cidade de São Paulo da belle époque, ou seja, os anos finais do século XIX e os decênios entre 1900 e 1920. São aventuras que se passam na rua Barão de Itapetininga, entre festas e saraus da alta classe, esticam-se na escola, e às vezes escapam às curtas viagens que o autor, um menino então, fazia com a família. Mostra também a vida política da cidade, já que o pai de Oswald foi figura importante e ativa.

Marco zero I: a revolução melancólica

O romance “Marco zero”, de Oswald de Andrade, foi concebido como um conjunto de cinco livros. Deveria constituir, nas palavras do próprio autor, um mural, um afresco, um mosaico e um comício de ideias: enfim, uma síntese da história do Brasil na primeira metade do século XX a partir de São Paulo. Dos cinco livros projetados, porém, apenas dois foram escritos: “Marco zero I: a revolução melancólica” e “Marco zero II: chão”. O primeiro volume traz um panorama de São Paulo a partir do fracasso da revolução de 1932 referida no título.

Marco zero II: chão

O segundo e afinal último volume da pentalogia inacabada, apesar do subtítulo, não trata, como outros romances da época, da terra e suas questões, mas ao contrário. Chão é o momento da crise em que o valor da terra deixa de ser um valor de produção para ser um valor de troca.

Memórias sentimentais de João Miramar

Um dos mais ousados romances brasileiros de todos os tempos, publicado originalmente em 1924, é a exacerbação da genialidade de Oswald de Andrade. Esta obra é um traçado autobiográfico do personagem Miramar, contido em 163 capítulos e condensado em imagens da infância, adolescência e idade adulta. São tomadas-relâmpago que contemplam o cotidiano familiar, amores, amizades, desafetos, negócios, aventuras, excursões pelo Velho Mundo, flagrantes do Rio de Janeiro e o dia a dia da cidade de São Paulo, onde mora o protagonista.

Panorama do fascismo / O homem e o cavalo / A morta

A peça “O homem e o cavalo”, publicada pela primeira vez em 1934, teatro de tese e combate, é formada por nove quadros que procuram, em conjunto, fazer um balanço do capitalismo e, nas laterais, condenar o fascismo e discutir o socialismo. Já a peça “A morta”, de 1937 tematiza o amor do poeta Dante por Beatriz, tratando de temas como o sofrimento e a morte. Já a peça curta “Panorama do fascismo” (inédita em livro), espécie de esquete, o autor utiliza personagens que são tipos, como o chefe, a forca e o burro para desbancar o regime de Adolf Hitler.

Pau-Brasil

A obra ícone do modernismo brasileiro foi publicada inicial e parcialmente nas páginas do jornal Correio da Manhã, em março de 1924, sob o título de “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”. “Pau Brasil” é um manifesto contra a cópia e que defende a invenção e o resgate da cultura brasileira, principalmente da língua brasileira. Essa atualização estética passa pelo processo de redescoberta da língua, através do documento escrito.

Primeiro caderno do alumno de poesia

A obra foi considerada por Augusto de Campos como “possivelmente o mais belo livro de poesia de nosso modernismo”. Misto de paródia e invenção, este clássico do modernismo brasileiro, de 1927, além de colocar em xeque o conceito tradicional de livro de poemas, radicaliza procedimentos poéticos da vanguarda: o estilo telegráfico e a montagem. Edição fac-similar do volume original dedicado a Tarsila do Amaral.

O rei da vela

Uma das mais importantes peças do teatro brasileiro, encenada somente 34 anos após sua publicação. Obra de vanguarda, o título é um canal político para a crítica social. Dividida em três atos, a peça tem como protagonistas Abelardo I, Abelardo II e Heloísa. Dono de uma empresa de usura, Abelardo & Abelardo, Abelardo I é um empresário que enriqueceu às custas dos fazendeiros desesperados com a crise do café. Enquanto o mundo amarga as consequências do crack da Bolsa, o empresário tem a ‘brilhante’ solução de produzir e comercializar velas. Já Abelardo II mata seu homônimo para assumir os negócios, inclusive a noiva Heloísa.

Serafim Ponte Grande

Ao longo de 203 fragmentos, Oswald de Andrade toma como inspiração os procedimentos da colagem para criar uma obra radical, situada entre a ficção, as anotações, as memórias, a sátira e a poesia. Definido por Haroldo de Campos como “romance-invenção”, o livro, publicado originalmente em 1933, foi recebido como escandaloso e se estabeleceu como um acontecimento singular na nossa literatura. A transformação industrial de São Paulo serve como pano de fundo para um retrato implacável das aspirações burguesas. Em meio ao moralismo, ao tédio e à infelicidade do casamento, os personagens de “Serafim Ponte Grande” não conseguem conter suas ambições comezinhas, sua obsessão pelo dinheiro e seus impulsos sexuais.

Telefonema

Reunião das crônicas de Oswald no jornal carioca Correio da Manhã, publicadas sob o título geral de “Telefonema” de 1945 a 1954, abordando temas como os tempos de Getúlio Vargas, os rumos do comunismo e da democracia liberal no pós-guerra, os escritores em voga e a vida literária de então.

Trechos escolhidos

Trechos de obras de Oswald de Andrade selecionados por Haroldo de Campos.

A utopia antropofágica

Este livro reúne textos de Oswald de Andrade dos anos 1920 aos anos 1950. Trata-se de manifestos, uma entrevista, uma comunicação para um congresso de filosofia, duas teses para concurso, uma série de dez artigos de jornal e outros cinco artigos. A obra apresenta manifestos que propõem a valorização do elemento nacional e do primitivo, revisitando-os na esteira das vanguardas europeias, na entrevista ele diferencia ‘seriedade’ de ‘sisudez’ e nas teses apresentadas ele critica o patriarcado e defende o matriarcado, relacionando-os à vida primitiva e à civilização, discutindo as ideias de Kierkegaard, Marx, Freud e Sartre.

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