APTC, 25 ANOS Eles s贸 queriam fazer seu pr贸ximo filme
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APTC, 25 ANOS Eles s贸 queriam fazer seu pr贸ximo filme Carlos Scomazzon Organiza莽茫o
Porto Alegre 2011
© 2011, Carlos Scomazzon Organização e texto final: Carlos Scomazzon Capa: Samir Machado de Machado Projeto gráfico: Guilherme Smee Revisão: Press Revisão Edição: Laís Chaffe Coordenação de pesquisa: Miriam de Souza Rossini Entrevistas, pesquisa e redação: Amanda Costa Moreira Teixeira, Andréia Gerimias Rava, Cezar Augusto Simon, Grégory Gaboardi Vieira, Rafael Francisco Carneiro Ferreira, Rafael Silveira Glória, Raíssa Genro e Vinícius Henrique Fontana. Produção: Graziella Ferst Produção executiva: Aletéia Selonk / Okna Produções Supervisão geral: Jaime Lerner
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) A655
APTC, 25 anos : eles só queriam fazer seu próximo filme / organização, Carlos Scomazzon. -- Porto Alegre: Casa Verde, 2011. 176 p. : il. ISBN 978-85-99063-21-7 1. Cineastas gaúchos. 2. Cinema gaúcho – História. I. Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul. II. Scomazzon, Carlos. CDU 791.43(816.5)
Bibliotecária responsável: Beatriz Perlasca - CRB 10/779 Todos os direitos desta edição reservados à Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul e Brasileira de Documentaristas – APTC-ABD/RS. Distribuição gratuita. Venda proibida. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de textos ou imagens deste livro sem prévia autorização dos autores.
Rua 24 de Maio, 181/601 – Cidade Baixa Porto Alegre – RS CEP 90050-180 Fones: (51) 3407 8223 e (51) 9121 7707 casaverde@casaverde.art.br www.casaverde.art.br IMPRESSO NO BRASIL ISBN 978-85-99063-21-7
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SUMÁRIO Duas histórias que se mesclam
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por Jaime Lerner
Era uma vez em Porto Alegre
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Gramado na roda
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O governo Collor passou por aqui
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O dia em que a APTC encarou o governador
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Esperança e glória
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Tempo de despertar
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Quanto mais bitolas melhor
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Mazel tov, APTC
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Agradecimentos
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Dedicado a todos que ainda querem fazer seu pr贸ximo filme.
Duas histórias que se mesclam A Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC/RS) completou 25 anos, período que é considerado como uma geração. Nesse espaço de tempo, muitas mudanças aconteceram no mundo e profundas transformações ocorreram no Brasil. Em 1985, quatro anos antes da queda do Muro de Berlim, o regime militar que governou o país por 20 anos cedia lugar a um presidente civil. Quatro anos depois, quando caiu o Muro e, com ele, o Império Soviético, escolhia-se aqui um presidente em eleições diretas, exercício que toda uma geração havia sido impedida de fazer. Enquanto isso, a AIDS e seu grupo de risco desafiavam a comunidade científica e acirravam preconceitos contra homossexuais, prostitutas e drogados; os computadores encolhiam de tamanho e ampliavam sua capacidade, deixando de ser exclusivos em grandes instituições e tomando seu lugar como utilitário caseiro; a internet, como ela é hoje, poderia ser descrita numa peça de ficção científica, assim como o telefone celular. E a atividade profissional de captar e editar imagens em movimento só existia, no Rio Grande do Sul, no mercado publicitário. A APTC nasceu para mudar uma fração desse panorama mundial, mas com o espírito influenciado por todos esses acontecimentos. Eram pessoas que queriam criar um mercado, viver de sua arte: fazer cinema. Mas queriam também democratizar, implantar processos de transparência, valorizar o trabalhador; acentuar os processos associativos, colaborativos e coletivos; exercer a cidadania praticando a política a partir de sua atividade profissional. Coisas que até aquele momento, por estas bandas, podiam dar cadeia. Para abrigar todas essas aspirações que pouco tinham de modestas e muito tinham de ambiciosas, criou-se uma associação profissional que era o primeiro passo, conforme exigia a Lei, para virar um sindicato. Os associados eram ao mesmo tempo aspirantes a artistas, a empresários e a operários do cinema. Aspirantes – pois se devia criar um mercado primeiro para depois tornar-se tudo isso.
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Com os anos, a APTC, ou seus associados, enfrentou algumas crises de identidade frente a essas aspirações originais e às mudanças que se operavam na realidade à nossa volta. A APTC incorporou o ABD (Associação Brasileira de Documentaristas) ao seu nome. Resolveu, em uma assembleia quente, não virar sindicato. Acabou entrando com uma liminar na Justiça contra o governo do primeiro presidente eleito democraticamente (e logo depois impeachado por corrupção) que, num simples canetaço, extinguiu praticamente todos os mecanismos que criavam um elo entre a atividade cinematográfica e o Estado brasileiro. A associação batalhou para a criação do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), no qual se abrigou um núcleo de equipamentos que muito contribuíram para a produção cinematográfica local; lutou para a criação dos editais de curta-metragem e pelo prêmio de longa – Prêmio Governo do Estado – RGE, que já foi o maior no Brasil – e pelo Prêmio Assembleia Legislativa para a mostra do cinema gaúcho no Festival de Gramado. A APTC participou – e participa – dos editais de curtas da RBS, do edital de desenvolvimento de projetos da prefeitura de Porto Alegre e do Banco Santander, do Curta nas Telas junto com a prefeitura da capital gaúcha e com o Sindicato dos Exibidores. Tem representantes indicados pela entidade no Conselho Superior de Cinema, no Comitê Consultivo da Secretaria do Audiovisual (SAv), no Fumproarte, no Conselho Estadual de Cultura do Estado, no Conselho da TVE, no Conselho da Fundacine e na Comissão Executiva do Festival de Cinema de Gramado. Faz parte do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), da ABD nacional e do Fórum Entre Fronteiras com entidades da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Criou vários eventos de reflexão e qualificação, o mais recente deles, o Tempos de transição, como parte das atividades dos 25 anos da APTC. Mas, além de enumerar essas e outras tantas batalhas e atividades de iniciativa ou participação da APTC, dá para contar a sua história mencionando os filmes aqui feitos desde a metade da década de 1980, os prêmios e destaques que o cinema gaúcho ganhou no Brasil e fora dele, o papel que a filmografia local desempenhou na Primavera do Curta. A APTC não produziu nenhuma dessas obras, mas, de certa forma, foi a parteira e a incubadora de todas elas. Assim, não há dúvida que a história do Cinema Gaúcho nos últimos 25 anos e a história da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do RS se mesclam, uma influenciando fortemente a outra. Cada uma delas alimentando e inspirando a história da outra.
Jaime Lerner Presidente da APTC
nos biênios 1993-1995 e 2009-2011
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Carlos Gerbase
Deu pra ti, anos 70 (1981), de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti
Era uma vez em Porto Alegre
Gestão 1985-1986 Diretoria: Henrique de Freitas Lima, Tony Rabatoni, Giba Assis Brasil, João Guilherme Barone, Lígia Walper e Monica Schmiedt. Conselho: Rudi Lagemann, Cibelo de Grandi e Otto Guerra. Suplentes: Werner Schunemann, Flávia Moraes e Luciana Tomasi.
Chapa única, eleita em 10 de maio de 1985, com 29 votos favoráveis.
Gestão 1986-1987 Diretoria: Henrique de Freitas Lima, Jorge Furtado, Giba Assis Brasil, João Guilherme Barone, Monica Schmiedt e Cibelo de Grandi. Conselho: José Maia, Carlos Gerbase e Alpheu Ney Godinho. Suplentes: Christian Lesage, Luciana Tomasi e Roberto Henkin.
Chapa única, eleita em 26 de maio de 1986, com 25 votos favoráveis, cinco em branco e dois nulos.
Como fazer o próximo filme? Essa foi a questão que fez nascer a Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul, a APTC. O seu grande objetivo, na época, era lutar por condições de fomento financeiro e de material técnico, que permitissem a instalação de um polo de produção de cinema no Rio Grande do Sul. Procurava-se romper, assim, com os ciclos da cinematografia gaúcha marcados por tentativas pessoais e descontínuas. O ano era 1985, época final da produção dos filmes de Teixeirinha e da busca pela superação das produções em Super-8. No início dos anos 80, Porto Alegre contava com vários grupos tentando se expressar com a bitola amadora. A prática de se expressar em Super-8, no Rio Grande do Sul, exprimia a vontade de se comunicar com o público pela exibição dos filmes. A experiência com produção cooperativada de longas-metragens na primeira metade dos anos 80, no entanto, não garantia continuidade. Faltavam recursos para produção de outros filmes. O cineasta Henrique de Freitas Lima lembra as dificuldades: Minha geração começou fazendo Super-8, uma forma gaúcha de fazer longa-metragem. Fazia-se um filme, e o próprio diretor tinha de exibi-lo onde fosse possível. O fenômeno começou com um primeiro projeto de grande repercussão, em 1981: o Deu pra ti, anos 70, de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, que virou um clássico. Na minha opinião, esse Super-8, juntamente com Inverno (1983), do Carlos Gerbase, e Coisa na roda (1982), do Werner Schünemann, foram três filmes importantes nesse período. Meu primeiro longa, Tempo sem glória, era de 1984. Houve também outros três longas em 35mm, de muito baixo custo, feitos de forma cooperativada: Verdes anos (1984), do Giba e do Gerbase; Me beija (1983), do Werner; e Aqueles dois (1985), do Sérgio Amon. O Tempo sem glória foi o último longa Super-8 que teve boa repercussão.
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Nasce uma associação Em 1985, o Brasil voltava ao regime democrático após 21 anos de ditadura militar. A Nova República exigia um espírito de transformações. O então presidente José Sarney criou o Ministério da Cultura. O ministro da Cultura, José Aparecido de Oliveira, enviou um recado aos participantes do 13° Festival de Gramado em que manifestava sua disposição de receber em Brasília a classe cinematográfica para discutir os rumos do cinema brasileiro e a Embrafilme. Ainda não havia leis de incentivo à cultura no país. A primeira seria criada em 1986, a Lei Sarney. Esse era o momento político que a geração anterior e a nova do cinema gaúcho, ainda sem muita expressividade no cenário nacional, tinham para lutar e reverter a história desses ciclos descontínuos. A solução era a organização dos profissionais de cinema do Estado em uma entidade de classe. Para Henrique de Freitas Lima, a APTC começava a ser gestada: Obviamente que o apelo não era para nós e, sim, para os grandes nomes, mas repercutiu em Gramado. Foi o estopim, decidimos fundar a APTC. Criamos a entidade durante o Festival de Gramado de 1985. Na primeira reunião, estabelecemos um cronograma. Passamos a nos reunir no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Eram reuniões bastante acaloradas. Achamos que era o momento de se organizar, começar a existir nacionalmente. O Rio Grande do Sul não tinha nenhum mecanismo de apoio ao cinema nem à cultura. Só havia um pequeno aporte anual que o governo do Estado dava a um grupo de realizadores da geração anterior à nossa. Só se faziam curtas para Gramado, onde já havia a competição de curtas gaúchos. Fundada em 8 de maio de 1985, a APTC elegeu sua primeira diretoria com mandato de um ano (1985-1986). A única chapa a concorrer, com o jovem advogado Henrique de Freitas Lima, de apenas 25 anos, como candidato a presidente, foi eleita pelos 29 votantes. Tony Rabatoni era o vice. Carlos Gerbase relata que, após muita discussão entre os cerca de 30 participantes da assembleia no Museu de Comunicação, se chegou a um estatuto e se elegeu o primeiro presidente. Assim, conta ele, começou a APTC: A criação da APTC foi um marco importante. Não estávamos negando o que as gerações anteriores haviam feito. Mas a APTC, pela quan-
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tidade de gente que entrou e pela representatividade, era um elemento novo. A minha geração começou a fazer cinema no final dos anos 70 e início dos anos 80 e até hoje está produzindo. Houve algumas polêmicas sobre quem poderia entrar ou não na APTC naquele momento. A ideia era fazer com que o cinema gaúcho tivesse uma associação para o realizador. Já havia uma associação de produtores, a Aprocinergs, mas nenhuma do pessoal de Super-8. Queríamos que nossa geração se sentisse representada politicamente. Não éramos produtores no sentido empresarial. A APTC daria continuidade ao trabalho que já fazíamos, mas com caráter profissional. Queríamos fazer cinema; temos que ser respeitados por aquilo que fazemos. As novas gerações, apesar de bastante talentosas, não têm o peso político que tínhamos, nem a experiência política que temos.
O primeiro desafio: incorporar-se aos debates nacionais Criada a APTC, Henrique de Freitas Lima participou da reunião em Brasília, coordenada pelo ministro da Cultura, para definir novos parâmetros do cinema nacional. O representante gaúcho, ao apresentar os interesses e as expectativas da APTC, inseriu o Rio Grande do Sul no cenário nacional cinematográfico. A representatividade fora do solo gaúcho se reverteria em convênios com a Embrafilme mais adiante. Sentados à mesa, além do ministro, estavam nomes consagrados no cinema brasileiro, como Roberto Farias, Luiz Carlos Barreto, Nelson Pereira dos Santos, Tizuka Yamasaki e Joaquim Pedro de Andrade. Com um Super-8 no currículo, Freitas Lima tinha a incumbência de tentar incluir a cinematografia gaúcha nos debates nacionais. O ministro pediu, então, que cada participante do encontro se apresentasse e dissesse o que esperava da Nova República. Feita a apresentação de Freitas Lima, José Aparecido de Oliveira manifestou desejo de que o pessoal do Rio Grande do Sul fosse incorporado aos debates sobre o cinema nacional. Carlos Augusto Calil e Gustavo Dahl, que estavam assumindo a Embrafilme e o Concine, respectivamente, sabiam que havia algo importante acontecendo no Sul.
Quase duas mil pessoas participam das mostras de cinema em 1985 Em 1985, a APTC organiza duas mostras de cinema gaúcho na Casa
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de Cultura Mario Quintana. A Retrospectiva Histórica do Cinema Gaúcho incluía na programação a exibição do mítico Vento norte, o primeiro longametragem sonoro realizado no Rio Grande do Sul, por Salomão Scliar, em 1951. Também foi organizada a Mostra Cinema de Gaúchos dos Anos 80, assistida por um público de quase duas mil pessoas, que deram nota aos 91 filmes de diferentes bitolas e metragens. Foi lançado ainda o catálogo Cinema gaúcho anos 80, com informações de 71 filmes produzidos entre 1976 e 1985. Freitas Lima considera que o catálogo lançado pela APTC se tornou “um clássico”: Alguém disse que ser moderno não é romper com o passado, mas integrá-lo. Na época da fundação da APTC, achamos que era necessário marcar a organização da entidade com uma retrospectiva da nossa cinematografia. Fizemos uma grande pesquisa que gerou o catálogo organizado por Flávia Seligman. A mostra foi muito importante. Defendia a ideia de que cinema é cinema, independentemente da bitola. Havia sessões em Super-8, 16mm e 35mm. Havia filmes muito antigos, como Os óculos do vovô, de Francisco Santos, por exemplo, fragmento do original de 1913.
Procuram-se equipamentos desesperadamente Em junho de 1985, a Embrafilme emprestou à APTC equipamentos que ficariam sob a guarda do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Eles seriam de uso restrito dos sócios. Os cineastas que tiveram filmes exibidos nas duas mostras, em 1985, abriram mão de participação na bilheteria do evento em favor da APTC, o que viabilizou o pagamento do seguro do equipamento cinematográfico cedido pela Embrafilme. Em outubro, o vice-presidente Tony Rabatoni buscou os equipamentos no Rio de Janeiro: uma câmera 35mm Arriflex 2-C, um jogo de lentes Cook, uma zoom Angenieux, um tripé com fluid-head e outros acessórios. A Embrafilme exigia uso profissional e não comercial dos equipamentos, e a APTC incluiu outras regras. Os equipamentos só podiam ser retirados com aprovação das duas entidades e era vetado o seu uso em filmes publicitários ou institucionais. O responsável técnico pela câmera tinha que ser sócio da APTC, e o uso priorizaria os curtas-metragens, com taxa pela utilização dos equipamentos e multa por atraso na devolução.
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Os equipamentos cinematográficos cedidos pela Embrafilme, no entanto, não eram suficientes para resolver a carência de material técnico e baixar os custos de produção no Rio Grande do Sul. Os associados fizeram um mapeamento dos equipamentos ociosos em órgãos públicos. Henrique de Freitas Lima conta: Quando começamos a APTC, tentamos baixar o custo de produção para os que faziam cinema no Sul. Percebemos que havia diversos órgãos públicos do estado que tinham centros de documentação. Por exemplo, a Assembleia Legislativa tinha duas câmeras Arri BL 16 mm; e a CEEE, uma câmera 35mm. Também fizemos convênio com a Embrafilme, que enviou uma truca de animação. Compramos uma moviola, juntamos um razoável número de equipamentos e passamos a negociar com o governo a criação de um ente de cinema estadual, o Instituto Estadual de Cinema (Iecine), que acolheria, em um único local, todos esses equipamentos cinematográficos.
Festival de Gramado, a grande vitrine para o cinema gaúcho Outro convênio, em junho de 1985, uniria Embrafilme, APTC, Associação de Produtores de Cinema do Rio Grande do Sul (Aprocinergs), governo estadual e Assembleia Legislativa do RS para o financiamento e produção de três longas e dez curtas-metragens. Os projetos seriam selecionados pelo júri formado por representantes dessas instituições e um crítico de cinema local. À Embrafilme caberiam o financiamento da produção de três longas e o apoio à finalização dos dez curtas, enquanto a Assembleia Legislativa entraria com a ajuda financeira aos curtas selecionados. Em outubro de 1985, foram abertas as inscrições ao primeiro Concurso de Projeto de Curtas-Metragens, que financiaria dez projetos em 35mm. O concurso era uma grande conquista, pois pretendia assegurar a participação do cinema gaúcho no Festival de Gramado de 1986. Dos 22 projetos inscritos, sete foram anunciados como vencedores em janeiro de 1986: O dia em que Dorival encarou a guarda, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart; In memorian (não foi produzido), de João Guilherme BaroneReis e Silva; Olu Odô, Senhor das Águas, de Alpheu Ney Godinho, que depois abandonou o projeto; Passageiros, de Carlos Gerbase e Glênio Póvoas; Treiler, de Otto Guerra, José Maia e Lancast Mota; Viva a morte, de Matico, e A voz da felicidade, de Nelson Nadotti.
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Um acordo previa que os recursos do governo gaúcho e da Assembleia Legislativa do RS seriam divididos igualmente entre os sete vencedores. Uma semana após o acerto, no entanto, veio a notícia: apenas os projetos finalizados até o Festival de Gramado 1986 receberiam os recursos. Apesar dos protestos e da verba não cobrir custos da produção, a decisão foi acatada. Apenas O dia em que Dorival encarou a guarda foi finalizado no prazo exigido e participou do 14º Festival de Gramado, em abril, saindo como grande vencedor daquele ano, com prêmios de Melhor Curta Nacional (dividido com Ma che bambina, de Cecílio Neto, e A espera, de Maurício Farias e Luiz Fernando Carvalho), Júri Popular e de Crítica. Na mostra de curtas gaúchos, ganhou Melhor Filme, Direção, Fotografia e Montagem. Freitas Lima destacou a importância do Festival de Gramado: O Festival de Gramado sempre foi a convenção anual de todas as gerações do cinema feito no Rio Grande do Sul. É a nossa oportunidade de conversar com o país, de trocar experiências com outras cinematografias depois que Gramado se abriu para os países ibéricos e latino-americanos para enfrentar a crise do cinema nacional dos anos 90. O Festival tem aberto espaço importante para seminários de negócios organizados pela Fundacine. Gramado tem de ser para nós o que Cannes é para o cinema francês ou Veneza, para o italiano. Independentemente das mostras competitivas, segue sendo um evento-chave, que atrai convidados pela sua importância e tradição. Meses após o Festival de Gramado de 1986, a Assembleia Legislativa negou a liberação dos recursos prometidos, alegando contenção de despesas. Os realizadores dos projetos selecionados enviaram à Assembleia um documento de protesto pelo descumprimento do acordo. A APTC buscou na Subsecretaria de Cultura do Estado uma suplementação da verba, que foi repassada aos quatro curtas que ainda não tinham recebido nenhum valor. A última parcela da verba devida pelo estado foi paga em fevereiro de 1987. A Embrafilme cumpriu sua parte, garantindo a finalização dos filmes que chegaram até a fase de copião pré-montado. E o governo do estado fez o repasse em três parcelas, pagando a última delas 13 meses após firmado o convênio. Com este último repasse, cada um dos seis filmes (Alpheu Godinho desistiu de realizar Olu Odô) recebeu cerca de 30% do custo de curta-metragem médio, descontada a finalização. Apesar das dificuldades encontradas, significava uma mudança no financiamento de filmes no RS.
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APTC articula o financiamento de um longa gaúcho A produção gaúcha até meados dos anos 80 não recebia recursos públicos. Eventuais recursos do governo do estado eram destinados a garantir a participação de curtas ao Prêmio Assembleia Legislativa, no Festival de Gramado. A única instituição de fomento da produção cinematográfica do país, a Embrafilme, pela primeira vez apoiava a produção de curtas-metragens no Rio Grande do Sul. No início de 1986, a Embrafilme decidiu financiar um longa-metragem gaúcho através da antecipação de investimentos. Ficaria a cargo da APTC receber e encaminhar projetos para a seleção da Embrafilme. O longa teria que garantir participação de, no mínimo, dois terços de profissionais gaúchos entre as 12 funções principais. Na disputa, estavam: Tarde de verão, de Tony Rabatoni; O mentiroso, de Werner Schünemann; e Lua de outubro, de Henrique de Freitas Lima. Em abril de 1987, o projeto de O mentiroso foi anunciado vencedor durante o Festival de Gramado. O acordo com a Embrafilme havia sido tratado por Freitas Lima: Ia ao Rio uma vez por mês e tratava de assuntos relacionados ao nosso polo de cinema. Consegui trazer um primeiro concurso de longas, um raro concurso regional da Embrafilme, que selecionou um projeto do Werner (Schünemann), O mentiroso. O concurso era aberto para todos os realizadores gaúchos. Meu projeto Lua de outubro (que só veio a ser finalizado em 1997) ganhou prêmio de roteiro. Foi o primeiro dinheiro da Embrafilme para o Sul depois da era Teixeirinha. Os filmes do Teixeirinha se pagavam. Levando isso em conta, a Embrafilme tinha participado do último filme dele, A filha de Iemanjá (1981, de Milton Barragan), alguns anos antes.
Surge o Iecine O Instituto Estadual de Cinema foi criado em 22 de julho de 1986 pelo então subsecretário de Cultura Luiz Antonio de Assis Brasil. O Iecine centralizava as atividades do governo estadual com a área cinematográfica. O seu primeiro coordenador foi Antônio Carlos Sena, indicação da APTC e Aprocinergs. Os representantes da APTC no conselho deliberativo do órgão eram Henrique de Freitas Lima e João Guilherme Barone Reis e Silva. A sua fundação oficial se daria na abertura da Mostra Gaúcha, no Festival de
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Gramado, em 21 de agosto, que teria a pré-estreia dos curtas Treiler, de Otto Guerra, José Maia e Lancast Mota; Obscenidades, de Roberto Henkin; e O hemisfério das sombras, de Mariângela Grando. Após várias reuniões do conselho do Iecine, definiu-se que somente filmes culturais poderiam utilizar os equipamentos. O Iecine lançou também, em janeiro de 1987, o primeiro concurso de apoio a projetos de cinema do Rio Grande do Sul, resultado das articulações da APTC. Dos 19 projetos apresentados, venceu O gato, de Saturnino Rocha, longa de 16mm, que tinha 70% das filmagens concluídas. Henrique de Freitas Lima comenta os problemas crônicos do Iecine: A política cultural da Secretaria de Cultura no Rio Grande do Sul (Sedac), nesses mais de vinte anos, foi errática, tímida e limitada. O Iecine, na prática, tem muitas limitações para atuar. Negociamos com diversos governos para que a gestão do Iecine ficasse com pessoas da área de cinema. Nunca conseguimos, entretanto, que o governo capitalizasse o Iecine, que conseguiu realizar episodicamente apenas prêmios para produção de curtas. A Sedac teve sempre recursos parcos, uma vergonha que se perpetua. Se tivermos um governo que entenda o que significa o audiovisual como matriz da identidade cultural do estado ou como atividade econômica que gera empregos, agirá diretamente por meio do Iecine, que tem a missão de executar ações públicas na área.
APTC passa a influir nos debates nacionais sobre cinema A forma como a Embrafilme distribuía os recursos entre os realizadores gerava muita insatisfação pela falta de critérios. A APTC começou a ter representação junto às instituições definidoras da política cinematográfica no país. Em julho de 1986, a entidade ingressou no Conselho Nacional de Cinema (Concine), órgão normativo sediado no Rio de Janeiro, com Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, titular e suplente, respectivamente. Naquele ano, o Concine passou por reformulação: ganhou mais poderes e passou a ter 22 conselheiros (onze do governo e onze da área cinematográfica). Henrique de Freitas Lima foi nomeado, então, para uma das vagas destinadas às entidades de classe:
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O Concine ia ser renovado. Fui nomeado conselheiro, e os sindicatos do Rio e de São Paulo se revoltaram. Fiz um trabalho de aproximação com eles e, após um primeiro mandato de dois anos, fui reconduzido por unanimidade para mais dois anos, até o Collor de Mello liquidar o órgão na devastação promovida no início dos anos 90. A representação nacional se fazia também em outras associações da classe como a Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD). O Conselho Nacional da ABD, a instância máxima decisória, congregava as regionais da entidade. A APTC foi convidada a participar do Conselho em maio de 1986 e tinha representação também na Comissão de Curta e Média-Metragens da Embrafilme – que escolhia os 15 projetos financiados pela Embrafilme, a cada trimestre, para produção ou finalização de curtas-metragens em 35mm e 16mm –, na Comissão de Assessoramento à Área Cultural da Embrafilme – a qual discutia e definia as políticas do setor – e no júri do Concine – responsável pela seleção trimestral de curtas que recebiam prêmio para cobrir os custos de produção e o Certificado de Reserva de Mercado, que permitia a sua exibição antes de um longa estrangeiro, conforme a Lei do Curta vigente. Se no âmbito político-institucional a APTC vinha obtendo conquistas, internamente enfrentava dificuldades no seu funcionamento. Uma delas era a inadimplência dos associados, única fonte de renda da APTC. A entidade também não tinha sede própria, como até hoje não tem. Suas primeiras reuniões ocorriam no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa até que, em maio de 1985, começou a utilizar como sede uma sala da Delegacia Regional do Ministério da Educação, na Rua Washington Luiz. Um ano depois, passou a funcionar em uma sala na Casa de Cultura Mario Quintana, no Centro de Porto Alegre.
Ser sindicato ou manter-se associação, eis a questão Participando das reuniões do Conselho Nacional das ABDs, a APTC foi orientada a adotar a sigla mista APTC-ABD/RS, fundar nova entidade ou reativar a extinta ABD/RS, que nunca existiu juridicamente. A situação, porém, não era simples. Quando surgiu, a APTC tinha a intenção de ser um sindicato. O Ministério do Trabalho exigia que, para se tornar sindicato, a entidade tivesse uma existência mínima de seis meses e contasse com o registro de mais de um terço dos profissionais do estado. Por isso, a APTC foi
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registrada como entidade pré-sindical. Congregava realizadores e técnicos cinematográficos, ora funcionando como sindicato, ora como uma ABD e, às vezes, como associação de realizadores de longa-metragem. Carlos Gerbase participou do debate sobre o assunto: Discutiu-se por muito tempo se era o caso de se criar um sindicato dos trabalhadores de cinema, mas nós também não éramos necessariamente trabalhadores contratados por alguém. Éramos realizadores independentes, todos querendo realizar cinema e acumulando as funções de produção, roteiro, direção, enfim, todos os componentes básicos para se fazer produção audiovisual. Após sete meses, o assunto não havia evoluído. A convocação em regime de urgência para a reunião anual do Conselho Nacional das ABDs, em fevereiro de 1987, para deliberar sobre a nova regulamentação da Lei do Curta e a reformulação institucional do cinema brasileiro, pegou a diretoria de surpresa. A APTC resolveu participar da reunião e acatar a decisão do plenário do Conselho sobre o direito ao voto nas decisões tomadas na reunião. Em nova assembleia, em abril de 1987, a entidade deliberou, após muita discussão, pela transformação da APTC em entidade sindical (Sindicato dos Técnicos Cinematográficos do Estado) e pela criação de outra entidade para ser uma seção regional da ABD, a APTC-ABD/RS. Rogério Ferrari, que presidiu a APTC no período entre 1999 e 2001, ainda tem muito presente o debate: A APTC, desde seu início, discutia se era uma associação profissional de técnicos ou um sindicato. Houve uma opção por não transformála em sindicato. É característica do nosso cinema ter sido mais artesanal do que industrial na sua origem, por isso as relações de trabalho sempre foram meio indefinidas. Prevalecia o espírito de turma, fazer um filme com os amigos, não era tão industrial a separação entre produtor e técnico. Hoje, após muito tempo e tentativas, o sindicato está criado e se estabelecendo. Milton do Prado, outro ex-presidente, também opina: A APTC é essencialmente uma associação de realizadores. Eu me identifico com essa associação. Ela não tem função de sindicato. Houve várias questões sindicais que chegavam à entidade e só conseguíamos resolvê-las com apoio dos sindicatos ou com diálogo. Ali
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tinha o patrão e o empregado, tudo junto. Quanto mais profissionalizado é o ambiente, menos acontecem abusos. E não havia sindicato no Rio Grande do Sul. A diretoria da primeira gestão da APTC seria reeleita no ano seguinte, com algumas alterações na nominata, para o segundo mandato de um ano (1986-1987). A partir de 1987, os mandatos passariam a ser de dois anos. Se o cenário do cinema gaúcho apresentava-se nebuloso e desesperançado no início de 1985, dois anos após a criação da APTC o espírito era outro. Ficava para a próxima gestão o desafio de transformar a associação recémcriada em duas novas entidades, além de dar prosseguimento à sua representação e atuação. E estes seriam novos ventos para o cinema gaúcho.
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Carlos Gerbase Divulgação/Cinematográfica Pampeana
Alberto Salvá
Inverno (1983), de Carlos Gerbase
Pedro Santos em A voz da felicidade, (1987), de Nelson Nadotti
Rudi Lagemann e Nina de Pádua em Me beija (1983), de Werner Schünemann
César Charlone
Beto Ruas e Pedro Wayne em Aqueles dois (1985), de Sérgio Amon
Treiler (1986), de Otto Guerra, José Maia e Lancast Mota
Martin Streibel
SĂŠrgio Amon
O dia em que Dorival encarou a guarda (1986), de Jorge Furtado e JosĂŠ Pedro Goulart
Imara Reis em Obscenidades (1986), de Roberto Henkin
Zé Lopes
Paulo José em O mentiroso (1988), de Werner Schünemann
Gramado na roda
Gestão 1987-1989 Diretoria: José Pedro Goulart, Carlos Gerbase, Ana Luiza Azevedo, Glênio Póvoas, Cibelo de Grandi e Renato Pedroso Junior. Conselho: Gilberto Baum, Jaime Lerner e Sérgio Amon. Suplentes: Marta Almeida, Fiapo Barth e Roberto Henkin.
Chapa única, eleita em 25 de maio de 1987, com 28 votos favoráveis, um em branco e um nulo.
No dia 25 de maio de 1987, foi eleita a nova diretoria da APTC, que, durante dois anos, lideraria o processo que fora iniciado apenas um biênio antes. O presidente eleito foi José Pedro Goulart, formado em Jornalismo e que havia realizado, em 1986, o premiado curta O dia em que Dorival encarou a guarda, em parceria com Jorge Furtado. Um dos grandes focos da gestão 1987-1989 foi incentivar a produção de curtas-metragens. A Lei do Curta havia sido reformulada e regulamentada apenas um mês antes de José Pedro Goulart assumir a presidência da associação e previa que curtas nacionais fossem obrigatoriamente exibidos antes dos filmes em longa-metragem em cartaz nas salas de cinema do país. Isso aumentou a produção neste formato, bem como sua visibilidade. A lei, no entanto, gerou muitas divergências. Em janeiro de 1988, a APTC entrou em discussão com a Revista Veja que, na sua edição do mês, alegou que a Lei do Curta era uma iniciativa desnecessária e servia apenas para gasto de dinheiro público que poderia ser destinado a áreas mais produtivas. A entidade gaúcha respondeu, classificando a matéria como “ataque covarde e faccioso ao cinema brasileiro e que só pode ter origem em interesses econômicos contrariados”. José Pedro Goulart recorda as agitadas assembleias dos primeiros anos da APTC: Participei da segunda diretoria da APTC, a primeira entidade gaúcha que procurou regulamentar o cinema e emitir registro profissional. Fui o presidente, o (Carlos) Gerbase era meu vice, e lembro que minha época foi de bastante movimentação. As assembleias eram fervorosas, o debate de como fazer as coisas prosseguirem era muito intenso. Começamos a elaborar um regulamento para que a pessoa pudesse entender melhor como a entidade podia auxiliá-la a fazer a
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sua produção e normatizá-la. Fizemos várias reuniões, assembleias com os associados, discussões com pautas, para decidir como as coisas deveriam ser, éramos muito inexperientes na questão política. Havia no Brasil uma movimentação por regulamentar o cinema. A Embrafilme estava começando a entrar em declínio, novas entidades e regulamentações surgiam. Como seria toda essa articulação com a cultura, os demais estratos da esfera pública e os órgãos que estavam em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo? O desafio era articular esta nova entidade.
A primavera dos curtas Apesar de polêmica, a Lei do Curta teve efeitos quase imediatos na produção audiovisual gaúcha. Em março de 1988, a APTC comemorava em seu boletim: “APTC/RS orgulhosamente apresenta a maior safra do cinema gaúcho”. Foram onze filmes que entraram no Festival de Gramado daquele ano, uma das principais vitrines para este tipo de produção. O festival era muito valorizado pela APTC, que em 1988 teve um representante na comissão organizadora, fato que não havia ocorrido nas quinze edições anteriores. Entre os filmes que participaram naquele ano, estavam o longa O mentiroso, dirigido por Werner Schünemann, e os curtas-metragens: A voz da felicidade, de Nelson Nadotti; 532, de Enio Staub; e Aulas muito particulares, de Carlos Gerbase. Outra mudança nesta edição do festival foi a premiação em dinheiro para os filmes vencedores, concedida pelo governo do estado e pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. José Pedro Goulart destaca a importância do Festival de Gramado para a APTC: Conseguimos uma cadeira no Festival de Cinema de Gramado e também participei da comissão executiva. Com isso, fizemos com que os curtas-metragens mantivessem sua posição de status. Gramado foi fundamental na história da APTC. A entidade não seria a mesma e talvez nem tivesse continuado se não fosse o festival, e essa influência foi igualmente importante para que o cinema gaúcho pudesse existir. Ao mesmo tempo em que havia este movimento todo, Gramado era o grande momento do cinema no Rio Grande do Sul. A APTC começou muito próxima a ele, pois foi ali que nasceu a discussão de criar uma entidade para representar a classe cinematográfica gaúcha. Éramos jovens e não sabíamos direito como esta-
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belecer essas comunicações e se expandir politicamente. E o festival estava próximo para nos ajudar. No final de 1988, porém, o sistema de curtas-metragens começou a enfrentar sérias dificuldades, apesar da boa safra. A 15ª edição do Júri de Curta-Metragem, um dos mais importantes concursos nacionais de cinema, acabou atrasando e não teve recursos financeiros para pagar os premiados e produzir novas cópias para essas produções. Três motivos principais explicavam a falta de verbas: a queda no preço do ingresso, que circulava em torno de meio dólar; o declínio da média de público nas salas de cinema em 1988, em relação ao ano anterior (a moeda havia se desvalorizado muito); e a falta de competência ou de interesse do Concine em arrecadar a taxa das bilheterias que deveria ser destinada aos curtas-metragens. O auge da crise ocorreu em abril de 1988, quando o Concine mudou o sistema de guias de pagamento desta taxa e paralisou a arrecadação por cerca de meio ano. Em novembro, parte do controle de administração do sistema passaria do Concine para a recém-criada Fundação do Cinema Brasileiro (FCB). Foi apenas em dezembro daquele ano que o Conselho voltou ao sistema antigo de coleta. Em 1989, a APTC se colocava como uma grande questionadora dessa situação. A FCB também não funcionava direito, o que obrigou as ABDs do Rio de Janeiro e de São Paulo e a APTC-ABD/RS a administrar esse fundo. Apenas em março, quase um ano após o 15º Júri, é que os prêmios foram distribuídos e as despesas começaram a ser saldadas. Mas o Concine parou de cobrar a arrecadação com os curtas no início de 1989, e o concurso seguinte também acabou atrasando. Somente na gestão seguinte da APTC é que a situação se encaminharia para uma melhora. Goulart diz que a APTC sempre valorizou a produção de curtas-metragens: O curta-metragem é o que melhor conseguimos promover em termos de apoio à produção. Sabíamos da importância do curta-metragem, pois era o jeito que as pessoas tinham de continuar produzindo. Ele se tornou uma possibilidade de escola em que algumas produções começaram a se sobressair. E foi realmente uma grande experiência fazer cinema sem ser um longa-metragem, já que não havia condições. Sendo o Rio Grande do Sul um estado longe do centro do país,
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era necessário criar uma regularidade. Então, o projeto de realizar um concurso de curtas-metragens significava que, anualmente, pelo menos uns quinze filmes ficariam à mostra para o público. Também estávamos focados nos médias-metragens que o Festival de Gramado começava a exibir. A minha posição, assim como a da APTC, era de que devíamos seguir investindo para que esses filmes continuassem sendo exibidos em Gramado. A APTC promoveu em 1989, juntamente com o Conselho de Desenvolvimento Cultural do RS (Codec) e a FCB, um concurso de curtas-metragens, o maior já realizado pela entidade até então. Entre 23 projetos inscritos, cinco foram selecionados: Festa de casamento, de Sérgio Silva; Memória, de Roberto Henkin; O corpo de Flávia, de Carlos Gerbase; O macaco e o candidato, de Kais Musa e Mariângela Grando; e Blecaute, de Fernando Mantelli. O júri foi composto por um integrante de cada entidade organizadora: Tuio Becker pelo Codec, Luiz Antonio de Assis Brasil pela FCB e Nelson Nadotti pela APTC. O prêmio era de sete mil cruzados novos para cada projeto.
A APTC pré-sindical é extinta – surge a APTC-ABD/RS Na assembleia que elegeu a diretoria para o biênio 1987-1989, na qual foi votada e aprovada a proposta de transformação da APTC em sindicato, o Sindicato dos Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (STC/RS), também ficou decidido que os sócios passariam a contribuir anualmente – tentativa de reduzir a taxa de inadimplência entre os associados. A APTC já havia enviado a documentação para o Ministério do Trabalho, e o processo de sindicalização poderia levar até um ano. Como entidade associativa, a APTC estava muito ligada a outras associações, como a Aprocinergs e a Associação dos Profissionais, Artistas e Técnicos em Espetáculo de Diversão do RS (Apatedergs). Nenhuma dessas entidades era sindicalizada, e a APTC tomou para si essa tarefa, encaminhando proposta de sindicalização em maio de 1987. Técnicos de cinema do centro do país estavam se sindicalizando, e havia necessidade de representação da classe cinematográfica gaúcha. Porém, ao longo de sua curta história, a APTC vinha atuando muito mais como associação do que como sindicato, embora acumulasse funções sindicais como o encaminhamento de registro profissional. Com a junção da APTC com a ABD-RS, uma nova entidade foi criada: a
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APTC-ABD/RS, registrada em cartório como entidade de classe. Nesse momento foi decidido que, enquanto o Ministério do Trabalho não respondesse sobre a situação sindical da APTC, as duas entidades teriam existências paralelas, com a mesma diretoria, quadro social, critérios de ingresso, sede e local de reuniões. O Ministério do Trabalho, porém, não aceitou a transformação da APTC em sindicato, pois a Apatedergs ocupou este espaço ao se transformar, em 1987, em Sindicato dos Técnicos em Espetáculos de Diversão do RS (Sated/ RS). O Ministério também acabou desenquadrando a APTC da condição de entidade pré-sindical. O mesmo processo aconteceu em instituições do centro do país. Na mesma época, a Embrafilme foi desmembrada em duas: a Distribuidora Embrafilme S.A. e a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), que teve apoio do Concine. Mesmo com a possibilidade de criar um sindicato específico para a área do cinema, a partir da Constituição de 1988, a APTC decidiu abrir mão de se tornar um sindicato: a APTC pré-sindical é extinta, e seu patrimônio é incorporado à APTC-ABD/RS. José Pedro comenta a opção da APTC em continuar atuando como entidade de classe: A APTC ajudou a regulamentar a profissão. Para se associar como técnico, a pessoa tinha que ter uma pontuação determinada. Embora não fôssemos sindicato, desempenhávamos alguns papéis semelhantes. Houve, então, uma grande discussão a respeito do sindicato. Optamos por não mudar, havia regras sindicais as quais não conseguiríamos cumprir. Buscávamos formar uma associação com autonomia, já que o sindicato existe basicamente devido à relação patrão-empregado. Queríamos que a APTC fosse um campo aberto, não apenas sindicato, apesar das regras legislatórias e da relação de pressão sobre o governo. Na minha gestão, houve um pré-sindicato, mas durou pouco tempo, pois o Ministério do Trabalho acabou vetando. E quando se pôde criar um sindicato, após a Constituição de 1988, optamos por deixar como estava. Para Jaime Lerner, a APTC tinha características diferentes de um sindicato: O objetivo de um sindicato é reger as regras do mercado em benefício do trabalhador, para que não seja explorado. No Rio Grande do Sul,
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existia um mercado de publicidade. A associação precisava lutar politicamente para criar um mercado de cinema. A APTC tinha – e ainda tem – essa vocação e queria continuar com essas características. Na época, alguns saíram da associação, alegando que não se interessavam em pertencer à entidade se ela não se tornasse sindicato. Foram duas assembleias bastante tumultuadas. Em meio a essas mudanças importantes, uma transformação perdura até hoje: a união da APTC com a Associação Brasileira de Documentaristas do RS (ABD-RS). A matéria foi aprovada por unanimidade. A ABD já existia havia quinze anos e atuava em doze estados. Era o único órgão do cinema do Brasil que possuía um Conselho Federativo. As duas entidades permaneceriam gêmeas, com mesma sede e diretoria e uma só contribuição. Naquele momento, os associados da APTC poderiam decidir se continuavam na nova associação ou se a deixariam. Foi um momento que dividiu a história da APTC-ABD/RS, uma completa mudança de paradigmas. José Pedro entende que a APTC e a ABD tinham objetivos muito semelhantes: Alguns não aprovavam, mas foi muito discutida a união com a ABD, cujo foco era o documentário. Já o nicho da APTC era mais voltado à ficção. Queríamos uma integração porque era difícil fazer as entidades funcionarem de fato. Para se conseguir isso, era essencial fortalecer as instituições. Basicamente, o tipo de discussão sobre as necessidades que a classe tinha era idêntico, tanto da APTC quanto da ABD, mas havia pessoas que achavam que o documentário deveria ficar de fora pelo fato da ABD ter suas próprias ideias. Jaime Lerner também participou de toda a discussão sobre a união das entidades: A inclusão da ABD ao nome da APTC aconteceu numa assembleia tumultuada. A ABD nacional reúne o pessoal que faz curtas e documentários, o cinema não comercial. No Rio Grande do Sul, formamos uma única entidade, pois não faz sentido haver duas. Como sempre fizemos curta-metragem, a APTC se inseriu na ABD nacional. A APTC-ABD/RS representa os realizadores e profissionais do longa e do curta, do documentário e da ficção, animação e outros.
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A APTC enfrenta a burocracia governamental A gestão deste período também foi marcada pelo forte caráter de choque entre os interesses da categoria frente às entidades oficiais. Em novembro de 1986, ainda na gestão anterior, de Henrique de Freitas Lima, o Ministério da Cultura aprovou a liberação de uma verba de 150 mil cruzados para a compra de material cinematográfico para o Iecine. No ano de 1987, o governo do estado mudou, a burocracia que tramitava em torno da liberação da verba acarretou uma demora maior do que se esperava, e, apenas em junho daquele ano, os recursos estavam em condições de serem utilizados. Surgiram, porém, novos empecilhos: o departamento de compras do governo estadual apenas permitiu a compra de equipamentos que fossem de primeira mão. Mas não havia equipamentos novos disponíveis no Brasil, tinham de ser importados. A demora em todo este trâmite burocrático vinha junto com a desvalorização da moeda no Plano Cruzado. Em outubro de 1987, a APTC foi informada que 82 mil cruzados haviam sido gastos, sem aprovação do Conselho do Iecine, para a compra de amplificador fotográfico, tanque de revelação, lentes 16mm para projetores e tela para a Sala P. F. Gastal, na Usina do Gasômetro. Nenhum dos equipamentos poderia ser usado na produção de filmes. A verba restante havia sido orçada para a compra de cópias dos filmes Verdes anos e O dia em que Dorival encarou a guarda. Os produtores associados da APTC protestaram contra a finalidade dada ao recurso, que valorizava o que já existia e não priorizava novas produções. A direção do Codec alegou que o prazo para cumprimento do projeto havia expirado e o restante seria devolvido ao Ministério da Cultura. José Pedro Goulart lembra as dificuldades enfrentadas na época: Começamos a entender as leis de incentivo à cultura. Houve vários movimentos de organização e discussão da cultura gaúcha para que houvesse benefício a esses cineastas que estavam começando. A APTC defendia que as classes regulamentadas têm que lutar por formular regras das entidades para as quais ela responde. Depois procuramos influenciar outras entidades que buscavam fazer cinema no país e as entidades públicas de cultura, a fim de obter recursos e facilidades para produzir. Tudo o que tínhamos era o correio e o telefone. Era o jeito que se tinha para fazer as coisas, e elas aconteciam mesmo assim.
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“Há meses, tudo é provisório no cinema brasileiro” Não era apenas o cinema gaúcho que estava em dificuldades. Entre os meses de julho e setembro de 1988, o Ministério da Cultura ficou acéfalo, estagnando toda a atividade cinematográfica. O MinC não tinha muita verba destinada ao cinema, nem havia liberação de dotação orçamentária para a Fundação do Cinema Brasileiro. Havia a proposta de que quarenta longas seriam contratados até setembro de 1988, mas em outubro apenas dezessete haviam sido selecionados, sem nenhuma produção ativa naquele momento. A FCB e a Embrafilme estavam sendo dirigidas de maneira interina, e seu quadro funcional consumia boa parte das verbas que poderiam ser destinadas à produção. “Há meses, tudo é provisório no cinema brasileiro”, dizia o boletim da APTC. Mas nem só de más notícias viveu a terceira gestão da APTC. Em setembro de 1988, o Iecine conseguiu um acervo de lentes, câmeras, microfones e outros materiais que estavam na Assembleia Legislativa do RS e que, a partir de então, ficariam à disposição dos sócios da APTC em regime de comodato. Também foram conseguidos equipamentos provenientes da CEEE e da Secretaria de Indústria e Comércio. Em novembro de 1988, foi criado o Núcleo de Animação do Rio Grande do Sul, sob direção de Rodrigo Guimarães e em convênio com a National Film Board do Canadá e a FCB. Essas ações começavam a dar forma ao projeto de criação do Centro Técnico Cinematográfico do Estado, que mais tarde passaria a funcionar junto ao prédio da TVE. A ideia de criar um parque tecnológico tomou forma, como conta José Pedro Goulart: Debatemos como tornar tecnológico este processo e conseguir pessoas que fossem aptas a fazer cinema. Uma das ideias que tivemos era a de fazer um parque tecnológico no Rio Grande do Sul. E este parque teria câmeras, uma moviola e equipamentos de edição. O objetivo da entidade era tentar obter esse equipamento. Defendíamos que seria mais democrático se pudéssemos centrar todos os recursos dos sócios para obtê-los. Mas conseguimos muito pouco equipamento, já que sempre foi algo muito caro. Se conseguíssemos esse material e disponibilizássemos a todos os sócios da entidade, haveria uma democratização dos recursos. Até hoje acho muito interessante essa ideia de beneficiar a classe tendo equipamentos de uso comum. Outro foco importante da APTC neste período foi a oferta de cursos para os seus associados. A associação enviou Paulo Crespo para o Centro
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Técnico Audiovisual da Embrafilme para se especializar e ministrar oficinas de efeitos especiais para os associados no Rio Grande do Sul. Também foram oferecidos cursos de edição e apoio a associados que estavam interessados em realizar oficinas fora do estado. A APTC queria propiciar o aprimoramento profissional e especializar as pessoas. A entidade, observa José Pedro, começou a discutir como poderia contribuir: Essa formação era uma das bases do nosso começo bastante árduo. A APTC montava cursos com pessoas aptas a falar sobre montagem, roteiro, edição e direção. Vinha gente que já tinha experiência com todo esse processo, tanto do Rio Grande do Sul quanto de outros estados. Hoje, parece muito comum falar de coisas desta natureza, existem muitos cursos, as redes sociais estão aí para ajudar também. Conseguimos fazer várias coisas interessantes, como o próprio Encontro Nacional de Cinema que ajudamos a promover. O encontro teve a presença de muitas pessoas importantes. A entidade fez com que atuássemos como propagandistas dos filmes. O Clube Brasileiro de Cinema abriu as portas para nós. Antes não existíamos no mapa do cinema brasileiro. As nossas opiniões passaram a ser consideradas. Foi uma gestão marcada principalmente pelo caráter transitório, em que se buscava uma articulação com as esferas públicas. Mas as mudanças políticas no país, como a Constituição Federal de 1988 e o Plano Verão, resultaram em dificuldades políticas para a entidade, a qual contava com vários jovens e que ainda não estavam acostumados com a burocracia do jogo político. Por outro lado, a APTC começava a aparecer neste sistema, principalmente pela sua atuação no Festival de Gramado e em conjunto com outras associações semelhantes que estavam no centro do país. Em 26 de junho de 1989, uma nova diretoria assumiu a APTC. José Pedro Goulart transmitiu a presidência a Giba Assis Brasil, tendo Jaime Lerner como seu vice. Novas mudanças ainda viriam. Apesar das dificuldades enfrentadas, José Pedro Goulart faz uma avaliação positiva: A inovação vai acontecendo à medida que o tempo passa. Era importante fazer assembleias, atas e boletins. Também fazíamos muitas viagens para ampliar os contatos em outros estados. O objetivo era divulgar o que se produzia em Porto Alegre e mostrar a cara da APTC para os demais órgãos. Mas algumas vezes era muito difícil fazer as
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coisas. Lembro de uma assembleia realizada na Casa de Cultura Mario Quintana, em que estavam todos muito acalorados, uma discussão complicada. No fim, eu me levantei e gritei que estava jogando tudo para o alto e saí. Todos ficaram olhando aquela cadeira vazia sem saber muito bem o que fazer. Mas foi só um surto e dois dias depois eu voltei.
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Carlos Gerbase
Blecaute (1989), de Fernando Mantelli
Adriana Felden
Mem贸ria (1990), de Roberto Henkin
Ana Moura em O corpo de Fl谩via (1990), de Carlos Gerbase
Jaime Lerner
Mazel tov (1990), de Jaime Lerner e Flรกvia Seligman
O governo Collor passou por aqui
Gestão 1989-1991 Diretoria: Giba Assis Brasil, Jaime Lerner, Flávia Seligman, Adriana Borba, Carla Saueressig Schlosser e Nora Goulart. Conselho: José Maia, João Guilherme Barone e Saturnino Rocha. Suplentes: Luciana Tomasi, Rodrigo Guimarães e Gilberto Perin.
Chapa única, eleita em 26 de junho de 1989, com 28 votos favoráveis.
Gestão 1991-1993 Diretoria: Carlos Gerbase, Beto Rodrigues, Sérgio Silva, Mauro Dorfman, Luciana Tomasi e Dainara Toffoli. Conselho: Ana Luiza Azevedo, Monica Schmiedt e Henrique de Freitas Lima. Suplentes: José Pedro Goulart, Cláudia Dreyer e Saturnino Rocha.
Chapa única, eleita em 1º de julho de 1991, com 17 votos favoráveis e um em branco.
O primeiro boletim da nova gestão, além de informar a nominata da diretoria que estaria à frente da APTC durante o biênio 1989-1991, ressaltava também a transformação em APTC-ABD/RS, decidida em assembleia. Quando da fundação da entidade, os associados haviam optado pela não transformação da APTC-RS em uma ABD. Giba Assis Brasil explica a opção: Por dois motivos resolvemos não criar uma ABD. Primeiro, porque o nome ABD não nos agradava muito, por ser uma associação para documentaristas. A gente não se considerava documentarista, achava que deveria ser uma associação de realizadores de cinema. Seja o que fosse, documentário, ficção, longa. Era um grupo pequeno. O número de realizadores no estado não era grande, e a gente achava que chamar de documentaristas iria reduzir ainda mais essa quantidade. Em segundo lugar, nós tínhamos enfrentado problemas com os registros profissionais. Para exercer a profissão, é preciso ter um registro, que é feito no Ministério do Trabalho. E o Ministério reconhecia a existência de um sindicato, o Sated/RS, que dava esse certificado de capacitação. Tínhamos uma série de desentendimentos com o Sated que, na época, não estava muito aberto para conversar com a gente e tinha algumas ligações com a escola de modelos. Enfim, não era o que a gente queria, ser uma seção da ABD. Achamos que precisava ser uma entidade que também tivesse um caráter sindical. A assembleia que definiu a mudança para APTC-ABD foi tumultuada e foi noite adentro na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. Com a Constituição Federal de 1988, não era mais exigido que a associação profissional já houvesse completado dois anos de existência para estar apta a emitir registros profissionais e ser um sindicato. Devido a esse fato, diz Giba, a APTC desistiu de ser uma entidade sindical:
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Essa assembleia foi a mais longa e polêmica que a gente teve até hoje, pois muitas pessoas foram para lá convencidas de que a entidade se tornaria um sindicato, diferentemente do que pensava a diretoria. Para os dirigentes, o melhor seria abrir mão de ser um sindicato e se tornar uma ABD, pois nesse período a instituição havia participado de encontros e reuniões de ABDs e concluído que ela não era apenas uma associação para documentaristas, como sugere o nome, mas significava a única forma de organização do cinema no país. A primeira reunião não terminou no dia. Várias pessoas presentes à assembleia fizeram um discurso muito forte em defesa da sindicalização da entidade, lembrando que era por isso que estavam na associação e, com essa finalidade, ela havia sido fundada. A diretoria, porém, estava convencida de que esse não era o caminho. Embora minoritária, a posição pela sindicalização utilizou-se de discursos muito fortes e insistentes. Em um determinado momento da discussão, começou um grande conflito. Foi quando José Pedro Goulart, então presidente, ficou muito bravo por não conseguir falar e renunciou ao cargo, saindo no meio da reunião. A direção resolveu adiar a assembleia. O episódio ficou marcado na história da APTC. Giba conta o desfecho: Fomos até a casa do Zé Pedro para convencê-lo a voltar. Nesse segundo encontro, foi decidido que a APTC não se tornaria sindicato, que faríamos um estudo para alteração do estatuto e realizaríamos outra assembleia para em dois meses ela se tornar uma ABD. Claro que algumas pessoas se desligaram da entidade, por não se interessar mais. Eram duas ou três pessoas. E outras que estavam contra a nossa posição acabaram se convencendo.
E o secretário da Cultura passeia com seu cachorrinho... Na passagem da década de 1980 para a de 1990, no entanto, a APTC já estava mais solidificada. A questão de ser um sindicato ou uma associação de classe ia gradativamente sendo deixada em segundo plano. Importava para a APTC, nesse novo momento, deixar claros os seus direcionamentos e princípios, sobretudo na maneira como esses princípios interferiam na relação com os concursos, como na criação de uma Comissão de Seleção representativa e com o poder de escolher os projetos que deveriam receber os
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benefícios. Ainda no final de 1989, uma discussão que ganhava destaque era acerca da regionalização da produção para televisão. Naquele momento, a APTC discutia quatro projetos de lei que tramitavam na Câmara dos Deputados sobre esse tema. Eram projetos que visavam a vigiar o cumprimento dessa obrigatoriedade de regionalização do que era produzido pelas TVs – algo garantido pela nova Constituição Federal, que havia entrado em vigência em 1988. Ela estabelecia que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão deveriam atender aos seguintes princípios: preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetivasse sua divulgação; regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; e respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. No entanto, nenhum desses quatro projetos de lei discutidos na Câmara dos Deputados acabaria sendo promulgado. A luta pelo espaço da produção local continuaria fazendo parte das atividades da APTC. Uma vez que algo com garantia constitucional não era devidamente exercido, mais clara ainda ficava a importância da entidade e de suas reivindicações. Em julho de 1990, a APTC comemorava a safra de filmes gaúchos daquele ano, que contava com dez curtas em 35mm e um longa em 16mm. Algumas das obras foram Blecaute, de Fernando Mantelli; O corpo de Flávia, de Carlos Gerbase, e Mazel tov, de Jaime Lerner e Flávia Seligman. Ao mesmo tempo, a entidade externava um protesto no seu boletim contra o secretário nacional de Cultura, Ipojuca Pontes: Aliás, o sistema do curta-metragem, mais uma vez, está paralisado – e por um motivo fantástico: as guias de recolhimento da FCB acabaram, e a FCB (com o caixa trancado) não pode mandar imprimir novas guias. Assim, ninguém paga, ninguém exibe, ninguém fiscaliza. A Veja e as multinacionais adoram. O secretário de Cultura da Presidência da República passeia com seu cachorrinho. Durante um determinado período de sua história, o cinema gaúcho viveu um momento particularmente difícil. Foi o período do governo Collor, em que a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB) foram extintos. Em 1990, Collor aboliu praticamente todos os mecanismos de produção e distribuição de filmes cinematográficos. Para o cinema brasileiro, essa época foi marcada por fatores altamente desfavoráveis. As pro-
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duções sofreram grande abalo por não conseguirem substituir o modelo, anteriormente utilizado, de fomento do cinema nacional.
Semeando projetos em um presente difícil Giba Assis Brasil foi presidente no período que define como aquele em que as discussões da APTC apenas projetavam “fazer coisas para o futuro, um momento péssimo para a APTC”. O governo do presidente Fernando Collor também acabou com a Lei Sarney, um mecanismo incipiente de incentivo fiscal. Como alternativa, restou a negociação com o governo municipal, que tinha interesse em investir em cultura, apesar de ter pouca verba. Em setembro de 1990, a diretoria convocava uma reunião geral para informar e debater com os sócios as medidas que tratavam do cinema no plano de ação do novo governo. O conjunto de medidas, batizado pelo presidente Collor de Plano Brasil Novo, que ficou mais conhecido como Plano Collor, gerou muita preocupação no meio cinematográfico. O plano não previa nenhuma alternativa para os órgãos extintos (Embrafilme, FCB e Concine) e deixava dúvidas de como funcionaria a Secretaria da Cultura. Todas as ações ficavam concentradas em apenas dois órgãos: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (Ibac) e Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), com atribuições de fiscalização e gerência em todas as áreas. O Plano Collor ainda extinguia os benefícios fiscais previstos na Lei n° 7505, paralisando toda e qualquer possibilidade de produção cultural. No mês de abril, como resposta aos projetos do novo governo, foi criado o Fórum em Defesa da Cultura do Rio Grande do Sul (FDC). Mesmo tendo atuado por pouco tempo, o fórum fez reuniões que envolveram as instituições mais atuantes (APTC, Sated, Codec, Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre) e conseguiu alcançar seu objetivo, que era o de levar para a população um manifesto contra a estagnação gerada pelo Plano Collor no setor cultural e produzir um levantamento detalhado dos danos causados, junto com as medidas que seriam necessárias para reativar a produção cultural. Na entrega do documento para o secretário adjunto da Cultura, Miguel Borges, contudo, o representante do governo federal deu apenas respostas vagas aos manifestantes. Depois disso, o fórum não conseguiu angariar recursos para enviar um representante que teria a tarefa de apresentar as reivindicações diretamente ao governo federal, nem obteve êxito na tentativa de criar uma nova proposta de lei. Depois de abril daquele ano, o FDC não se reuniu mais.
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Tratativas para criação de leis de incentivo Durante a gestão de Giba Assis Brasil surgiu a Lei Jandira, no Rio de Janeiro, em âmbito estadual. Jandira Feghalli, autora da Lei, era deputada naquele estado. Tendo a capital fluminense como modelo, buscou-se criar no Rio Grande do Sul uma lei de incentivo à cultura nos mesmos moldes. Giba, como presidente da APTC, conduziu as tratativas com os governos: Sentamos com deputados e políticos e iniciamos uma negociação. A lei, então, saiu do papel no governo (Antonio) Britto. E tentamos também criar uma lei municipal, pois tínhamos muito acesso à Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Mas era algo que dependia também do governo. O então vice-prefeito, Tarso Genro, nos recebeu para conversar sobre o assunto. Ele nos chamou para uma reunião no Teatro Renascença e propôs que, em vez de uma lei de incentivo, fosse criado um fundo de apoio, que posteriormente deu origem ao Fumproarte. Na lei de incentivo, os recursos públicos não são destinados de forma direta. O interessado apresenta um projeto ao órgão responsável do governo para avaliação. Se aprovado, com o certificado, é possível arrecadar incentivos fiscais. O último passo é a captação de recursos junto às empresas. Já um fundo de apoio funciona de modo diferente: é recebida diretamente a verba para produção, por meio de edital, que seleciona os projetos, avalia, vê quanto dinheiro possui e aplica naquelas propostas selecionadas. O grande problema em relação ao fundo dizia respeito ao julgamento e à seleção dos projetos, pois ele estava aberto a receber propostas para filmes, livros, peças de teatro ou de qualquer outra área ligada à cultura. O desafio, levantado por Tarso Genro, era justamente o de elencar critérios que possibilitassem a uma comissão representativa e ampla discutir quais eram os melhores projetos para o público de Porto Alegre. Giba relata parte da conversa com o vice-prefeito: Nós, da APTC, achávamos que isso geraria uma briga de corporativismo. E o Tarso nos devolvia a questão perguntando de que maneira seria possível superar o corporativismo. Nós ficávamos pensando sobre a contradição entre estar criando uma entidade corporativista e ter que superar isso. O Tarso nos ponderou, então, que o maior líder do Brasil era um metalúrgico e que um dia iria se tornar pre-
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sidente do país. Uma pessoa, nos dizia ele, que havia começado a vida política lutando para aumentar o salário dos metalúrgicos e se deu conta que tinha que lutar pela melhoria da classe trabalhadora inteira, por todo o país, toda a população. Para superar o corporativismo, então, seria preciso colocar esses representantes da área cultural na mesma mesa e discutir abertamente o assunto. Cada um apresentando os seus problemas, algo que o então presidente da APTC acreditava que nunca iria funcionar e, contudo, deu resultados muito positivos. Se cada entidade fosse solicitar individualmente mais verba, elas não teriam retorno. Ou seja, organizadas, haveria mais força coletiva, superando o caráter corporativista. A lei foi regulamentada em 1994. A APTC teve ainda grande participação nos debates sobre a Lei do Curta. No boletim da entidade em março de 1991, foram publicados oito textos (cartas e documentos) que buscavam defender judicialmente a Lei do Curta. Também foi convocada uma assembleia extraordinária para discutir a questão e estabelecer qual a posição que iria ser adotada pela entidade nas negociações que seriam desenvolvidas com outras instituições do setor, como o Ibac e a FCB. Em março de 1991, Ipojuca Pontes, secretário nacional da Cultura naquele ano, assinou o Pacote Audiovisual, promessa feita havia um ano. O pacote desapontou os membros da APTC em muitos aspectos, como a redução de 140 para 70 dias anuais da obrigação de exibir filmes brasileiros de longa-metragem nas salas exibidoras do país que funcionassem sete dias por semana. O projeto de lei seguia mais a linha de barrar a pirataria do que atender às demandas dos profissionais de cinema. Ao menos, não ameaçava dispositivos benéficos, como a Lei do Curta.
Centro Tecnológico, projeto que nasceu com a APTC Hoje, Giba defende que a entidade reveja algumas posições, como o projeto do Centro Tecnológico – uma ideia nascida há pelo menos vinte anos. O projeto atual, para ser implantado em Viamão, em uma área pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), é o herdeiro de quinta ou sexta geração da ideia original de criação do Centro Tecnológico proposto nos primórdios da APTC. Em um primeiro momento, foi pensado um projeto arquitetônico para ser construído nos fundos da TVE; depois, para o Centro Vida, na zona norte de Porto Alegre.
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Ele chegou a se constituir, mas nunca aconteceu por falta de recursos e de vontade política, mas principalmente pela descontinuidade dos governos. A cada novo governo era necessário negociar do zero, pois nesse período nunca foi reeleito nenhum governador. Giba conta: Não sei se o projeto ainda é necessário. Queríamos um Centro Tecnológico com o mínimo de infraestrutura, câmeras e equipamentos para montagem. Existiam três objetivos: baratear o custo da produção, atrair co-produções de fora e viabilizar projetos muito baratos que de outra forma não sairiam, projetos praticamente sem orçamento, com poucas pessoas envolvidas que precisariam apenas de equipamentos. Questiono qual desses objetivos esse Centro cumpriria atualmente. Tenho a impressão que nenhum. As novas tecnologias mudaram tudo. Quem está filmando em estúdio? Quem precisa desse tipo de equipamento? Ninguém hoje compra câmera, elas são alugadas, a tecnologia muda a cada seis meses. E a finalização, que nos preocupava muito, não existe mais. Sinceramente, são pontos que se tornaram obsoletos. Na época, seria uma ampliação do Iecine. Não barateia o custo da produção ter esses equipamentos. O último boletim da APTC na gestão de Giba Assis Brasil já convocava a próxima eleição. Essa diretoria se caracterizou por ter atuado em uma das épocas mais difíceis, em termos políticos, para o cinema nacional. Conquistas eram ameaçadas, e reivindicações foram ignoradas. Entretanto, nesses momentos de dificuldades a APTC soube fazer notar sua importância, pois sempre que a atividade cinematográfica pedia por uma atitude política organizada, seja na elaboração de um documento ou de uma manifestação, a APTC esteve presente para dar voz aos protestos e às denúncias.
Carlos Gerbase assume a presidência da APTC Em julho de 1991, o cineasta Carlos Gerbase assumia a presidência da APTC. Tendo realizado até então o longa-metragem Verdes anos, em 1984, com a co-direção de Giba Assis Brasil, e cerca de uma dezena de curtasmetragens, Gerbase assumia a APTC em uma época difícil para o cinema gaúcho. A gestão 1991-1993 foi marcada por profundas articulações com o poder público. O principal parceiro da APTC nestes primeiros momentos de gestão foi a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre (SMC).
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Uma das primeiras lutas foi a liberação de verbas que haviam sido aprovadas pelo governo do estado, em 1990, para a produção de cinco curtasmetragens. Este convênio entre a APTC-ABD/RS e o governo foi anunciado no Festival de Cinema de Gramado de 1990, quando Pedro Simon era o governador. Após o anúncio, a entidade aguardou o recebimento das verbas, mas entrou a nova diretoria e o dinheiro não veio. O governo havia liberado cerca de 5 milhões de cruzeiros – aproximadamente 20% do que deveria ser entregue para a produção de curtas. Com a inflação subindo assustadoramente, esta quantia desvalorizava e inviabilizava produções. Gerbase destaca a continuidade do trabalho nas diferentes gestões da APTC: Eu assumi como presidente em 1991. Na minha gestão, o grande objetivo era fortalecer o cinema gaúcho de todas as maneiras possíveis. É difícil você fazer uma grande separação entre as gestões, porque todos nós acabávamos trabalhando juntos. Mesmo que houvesse um mais radical e outro mais moderado, todos nós estávamos movidos pela vontade de fortalecer a associação e realizar cinema. Entre agosto de 1991 e março de 1992, a parceria com a SMC rendeu três filmes: Batalha naval, de Liliana Sulzbach; Novela, uma animação em 35mm de Otto Guerra; e Jogos, de Mariângela Grando. A associação conseguiu captar naquele período, também em parceria com a SMC, 5 milhões de cruzeiros para três curtas e médias-metragens. Em agosto de 1991, a APTC pressionava a Secretaria de Estado da Cultura para que cumprisse o compromisso de destinar 10 milhões de cruzeiros à produção de filmes no Rio Grande do Sul. O recurso foi liberado no final de outubro daquele ano. Em abril de 1992, a APTC voltou a se reunir com a secretária Mila Cauduro. Ela teria aceitado mudar o convênio, que inicialmente seria destinado à produção de curtas-metragens, para a compra de equipamentos. Foi necessário também que a APTC apresentasse um Projeto para o Cinema Gaúcho, para possibilitar a captação de recursos da Secretaria pela Lei Rouanet. No entanto, as promessas da secretária, conta Carlos Gerbase, acabaram não se concretizando: Na minha gestão, o governador era o Alceu Collares, e a secretária de Cultura era a Mila Cauduro, uma mulher educadíssima, muito bacana, que sempre nos recebeu muito bem. Mas havia pobreza de recursos para os realizadores da área de cultura. A gente sempre batia na porta da secretária, conversávamos com ela, mas realmente foi muito difícil fazer as coisas acontecerem em termos de concurso.
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1992 mais animador: prêmios são pagos O ano de 1992 foi mais animador para o cinema gaúcho. Sérgio Silva e Fernando Mantelli conseguiram realizar produções em 16mm no início do ano (Festa de casamento e As flores do mal), e o Festival de Gramado pôde entregar seus prêmios a dois filmes no concurso de filmes gaúchos de curta-metragem, ameaçado pela falta de verbas e pela inflação descontrolada do país. O então presidente Fernando Collor era cassado pelo Congresso Nacional, sendo substituído pelo vice-presidente Itamar Franco. O cinema nacional, praticamente dizimado no governo Collor, passava por sua pior crise. Era preciso um movimento pela sua retomada. Gerbase comenta o novo momento que vivia a APTC: O objetivo da APTC é estar concentrada na produção de filmes. Sem dirigismo, sem dizer o que é bom ou o que é ruim, sempre com objetivo de que tudo seja feito de forma transparente, e que todos os envolvidos saibam o que ganharam ou não de dinheiro. A ideia era acabar com o balcão de negócios, em que o cineasta vai lá no governo e diz: “Preciso dinheiro pro meu filme, quer me ajudar?”. Neste esquema, o amigo do rei ganha, e o desconhecido fica sem nada. Outra preocupação nossa era em relação aos estreantes. Nos concursos, sempre havia uma cláusula que destinava um percentual da mostra a esse segmento. Era uma preocupação constante com as pessoas que ainda não tinham realizado filmes, mas que desejavam fazer. O ano de 1993 acabou contrariando a lógica de enfraquecimento do sistema de curtas do Rio Grande do Sul. Com quase nenhum apoio dos órgãos oficiais, à exceção da SMC de Porto Alegre, oito filmes gaúchos foram selecionados para o Festival de Gramado (mostra gaúcha e nacional): Novela, de Otto Guerra; Amigo Lupi, documentário em 16mm de Beto Rodrigues; O Zeppelin passou por aqui, ficção em 35mm de Sérgio Silva; Desejo, ficção em 35mm de Max Hartinger; A morte no Edifício Império, documentário-ficção de Beto Souza em 35mm; Presságio, ficção em 35mm de Renato Falcão; Miragem, experimental em 16mm de Jaime Lerner, e A pequena vida das pessoas grandes, ficção em 16mm de alunos da Oficinema. Para Carlos Gerbase, o Festival de Gramado era um espaço importante para a APTC:
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A APTC teve, durante muitos anos, um representante na comissão executiva do Festival de Gramado. Alguns eram mais ativos, outros menos, uns mais políticos como o José Pedro, que fala o que pensa e briga pelo que quer, outros mais discretos como eu. Mas todos nós estávamos lá com o objetivo de melhorar as nossas condições, pensar nomes para os homenageados, prêmios e outros assuntos. Neste sentido, a APTC sempre cumpriu o seu papel. E sempre fizemos mostras mais locais, que exibiam quase qualquer tipo de produção, mas majoritariamente eram curtas.
Lei Rouanet dá origem à Lei do Audiovisual A discussão sobre a futura Lei do Cinema, em pauta durante a gestão de Carlos Gerbase na APTC, acabou resultando na Lei Rouanet, aprovada em 23 de dezembro de 1991. A APTC ajudou a redigir um texto escrito após uma reunião em Arcozelo, no Rio de Janeiro. Esse documento foi um dos analisados por Sérgio Paulo Rouanet, secretário de Cultura do governo Collor. A Lei Rouanet determinava a política de incentivos fiscais que possibilitaria às empresas e aos cidadãos aplicarem uma parte do Imposto de Renda em ações culturais, entre elas o cinema. Gerbase observa, no entanto, que a Embrafilme sempre privilegiou o cinema realizado nos estados do centro do país: A Fundação do Cinema Brasileiro era mais importante para nós do que a própria Embrafilme. E, quando tudo acabou no governo Collor, a sensação era de que muita coisa que a gente tinha construído juntos havia se perdido, estava destruído. E realmente estava, pois a partir daí o modelo de se fazer cinema mudou completamente. Eu estava na presidência da APTC neste período pós-Collor, em que se discutia uma nova lei para o setor audiovisual. A Lei Rouanet é fundamental até hoje, pois é a base filosófica da Lei do Audiovisual. Todas elas estavam fundadas no princípio da renúncia fiscal. Nós éramos chamados para discutir essas coisas, já tínhamos uma representatividade nacional interessante. A Lei do Audiovisual, homologada em 1993, pouco tempo após o final da gestão de Carlos Gerbase e da troca de diretoria na APTC, foi gerada a partir de um projeto de lei que tramitou no Congresso Nacional e foi muito criticada pela associação. O boletim divulgado à época pela entidade comentava:
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Também foi enviado ao Congresso o projeto de Lei do Audiovisual. A versão final, que não se sabe exatamente por quem foi elaborada, é um desastre se comparada às versões anteriores do mesmo projeto. Trata basicamente de incentivos fiscais, beneficiando acima de tudo as grandes distribuidoras de filmes estrangeiros, que em vez de pagar impostos sobre os seus lucros no Brasil poderão produzir aqui contratando diretores brasileiros.
Final feliz para uma novela A APTC, então, realizou concurso para dois curtas-metragens utilizando o valor já liberado e que estava sendo exigido pelo governo estadual para que, finalmente, saíssem as verbas restantes. Os filmes contemplados foram: O Zeppelin passou por aqui, de Sérgio Silva, e A festa, de Jaime Lerner. Com o dinheiro que sobrou do concurso, a entidade comprou uma moviola de seis pratos. No segundo semestre de 1993, Giba Assis Brasil ministrou um curso para os associados em que explicava como se operava o aparelho, importante instrumento de montagem. O saldo desta negociação foi: um concurso para dois curtas, quando a ideia original era a produção de cinco filmes; 15 milhões de cruzeiros, em vez dos 25 milhões prometidos dois anos antes; além da compra da moviola. Em seu boletim divulgado à época, a APTC classificava o desfecho das tratativas com o governo gaúcho como “um final feliz para uma novela que ninguém aguentava mais”. Como presidente da APTC, Gerbase participou das tratativas com o governo: A APTC conseguiu, nesta época, trazer uma moviola. Eu também lembro do nosso grande esforço pra reunir o material de cinema do governo do estado, as câmeras, os equipamentos do Iecine. A ideia era melhorar as coisas, fazer com que as verbas públicas fossem destinadas da maneira mais transparente possível. Até hoje pleiteamos isso e é muito difícil de ser obtido, porque sabemos que, além dos concursos, o governo tem outros mecanismos para patrocinar o que ele acha mais interessante. Mas essas batalhas para se criar uma interlocução com o governo do estado e com o governo federal também são muito importantes na história da APTC. Uma das grandes lutas desta gestão foi a obtenção de equipamentos.
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Além da moviola, um grande número de equipamentos foi doado pela RBS Sistemas de Comunicação em janeiro daquele ano. Em março de 1992, os seguintes equipamentos foram desativados do patrimônio da empresa e doados à APTC: 19 suportes para enroladeira; 47 carretéis metálicos vazios; cerca de 150 rolos de negativos 16mm; e outros cem rolos de 35mm. Boa parte desse equipamento foi leiloada em maio daquele ano. No leilão, apenas associados em dia com a entidade puderam participar, e o dinheiro arrecadado foi destinado à APTC. Outra parte dos equipamentos foi distribuída ao vencedor de um concurso de argumentos organizado pela associação. A entidade também começou a estudar orçamentos para a compra de um Nagra (gravador de som direto para cinema), cuja aquisição ocorreu na gestão seguinte.
O que todo mundo quer é fazer filme A inadimplência dos associados à entidade era um problema, pois o pagamento da anuidade era pré-requisito à participação em concursos, como o APTC-Secretaria Municipal da Cultura, o maior realizado até então pela entidade com apoio do município de Porto Alegre. À época, o boletim da associação já noticiava que “os custos são altos e não podemos prejudicar os sócios efetivos com despesas referentes a associados em débito”. Em março de 1992, a tesouraria acabou adotando um novo método de cobrança para diminuir a inadimplência. Os sócios que estavam em débito receberiam pelo correio uma guia de depósito bancário com o exato valor devido. Quem não pagasse, estaria fora do quadro social. Gerbase ressalta a importância do fortalecimento de uma entidade como a APTC pela participação de seus associados. Ele lembra que a associação se empenha para que os concursos de cinema aconteçam, de modo que os realizadores possam fazer seus filmes e angariar recursos, bem como emite registro aos profissionais e tenta oferecer cursos com custos mais baratos do que os oferecidos pelo mercado. Nós batalhamos muito para que esta associação fosse reconhecida e que as pessoas entrassem na APTC. No fim, o que todo mundo quer é fazer filme. Era sempre um sacrifício pessoal, a diretoria nunca ganhou dinheiro nenhum. Pelo contrário, participar da diretoria da APTC, da Fundacine ou de qualquer órgão público afasta você dos concursos. Outra mudança importante, durante aquela gestão, foi a transferência
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da sede da APTC. Antes sediada em frente à Praça Parobé, a associação mudou-se para a Rua General Vitorino devido ao uso da antiga sede pela Secretaria de Estado da Cultura. O novo local estava no mesmo prédio do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do RS (Sated/ RS). Porém, o novo endereço passou a ser alugado, e não emprestado como anteriormente. Esse recurso para o pagamento do aluguel também passou a ser deduzido das anuidades cobradas dos associados, o que aumentava ainda mais a importância de se manter as contribuições em dia. Gerbase explica que o sistema utilizado pela APTC para a emissão do registro profissional era bastante criterioso: A APTC também se articulou com outras entidades, mas as associações de cinema do Brasil em geral ou duram pouco tempo ou mudam a diretoria e alteram completamente a filosofia da entidade. A nossa relação mais concreta era com o pessoal do Sated. Era por meio desse sindicato que encaminhávamos o registro profissional, que era algo importantíssimo para a APTC. Havia uma série de regras para se encaminhar o registro, e o Sated, como sindicato, acabava fazendo isso para nós. Cineastas bastante experientes, oriundos da década de 1980, obtiveram seu registro por meio desse sistema da APTC. Esse esquema de associação é muito sério e criterioso, algumas pessoas às vezes não entendiam. Definida uma regra, ela era igual para todos associados, independentemente de desagradar ou não a alguém.
Um estrangeiro em Porto Alegre Na gestão do biênio 1991-1993, também foram realizados diversos cursos e organizada a vinda de importantes cineastas para Porto Alegre. Uma dessas destacadas visitas foi a de Peter Przygodda, montador de dois filmes do diretor alemão Wim Wenders: Paris, Texas (1984) e Asas do desejo (1987). O Instituto Goethe e o Oficinema – oficinas organizadas por Jaime Lerner e Luciana Tomasi, com apoio da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre – conseguiram trazer o renomado montador que trabalhou em quase todas as obras de Wim Wenders, e a APTC teve a oportunidade de convidar Przygodda para conversar com os associados da entidade sobre o seu trabalho no cinema e outros temas em pauta naquele momento. Também foi ministrado um curso de truca de animação com um técnico do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, no início de 1992.
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A APTC, afirma Gerbase, sempre buscou propiciar a qualificação profissional. Um dos objetivos da associação era qualificar os nossos sócios. O Rio Grande do Sul, até muito recentemente, não tinha nenhuma escola de como se fazer um filme. Os cursos eram muito eventuais. Havia a Casa de Cinema, da qual eu sou sócio, juntamente com outros nomes importantes na história da APTC. Houve um curso de cinema na UFRGS que foi um sucesso absoluto, com duas edições, em 1990 e 1991. Havia uma necessidade muito grande de que os profissionais se aperfeiçoassem. As pessoas queriam estudar, mas não havia onde. Atualmente, há faculdades de cinema no Rio Grande do Sul, mas na época não havia. Hoje a oferta de cursos também é muito maior do que era há vinte anos. Por isso, a APTC fazia tanta questão de batalhar por esses cursos, em que vinham profissionais do Rio de Janeiro, São Paulo e eventualmente alguém do exterior. O final da gestão foi de intensas mudanças em âmbito nacional, que acabaram afetando o rumo do cinema brasileiro e gaúcho nos anos seguintes. Em abril de 1993, era necessário criar uma legislação específica para a produção. O Ministério da Cultura, no governo Itamar Franco, resolveu criar o Programa Nacional de Cinema (Procine), o qual taxava a produção de comerciais, criava linhas especiais de crédito, mas que, infelizmente, acabava deixando o curta-metragem de lado. A APTC, em conjunto com outras associações nacionais, lutou para que algumas emendas ao projeto de lei resultassem em mudanças, porém poucos avanços foram conseguidos, já que, dois meses após o Procine, foi encaminhada ao Congresso Nacional a Lei do Audiovisual, que viria sobrepor as emendas anteriormente criadas.
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A festa (1994), de Jaime Lerner
Novela (1992), de Otto Guerra
Batalha naval (1992), de Liliana Sulzbach
Divulgação/Otto Desenhos Animados
Rocky e Hudson (1994), de Otto Guerra
O dia em que a APTC encarou o governador
Gestão 1993-1995 Diretoria: Jaime Lerner, Giba Assis Brasil, Flávia Seligman, João Knijnik, Liliana Sulzbach e Gilberto Perin. Conselho: Monica Schmiedt, Ana Luiza Azevedo e Francisco Ribeiro. Suplentes: Manoel Scalante, José Pedro Goulart e Carlos Gerbase.
Chapa única, eleita em 5 de maio de 1993, com dezoito votos favoráveis, um branco e um nulo.
Gestão 1995-1997 Diretoria: Ana Luiza Azevedo, Sérgio Silva, Liliana Sulzbach, Marta Biavaschi, Luciana Tomasi e Débora Peters. Conselho: José Pedro Goulart, Francisco Ribeiro e Giba Assis Brasil. Suplentes: Carlos Gerbase, Henrique de Freitas Lima e Gustavo Fernandez.
Chapa única, eleita em 15 de maio de 1995, com dezesseis votos favoráveis, dois brancos e um nulo.
Em 1993, o principal objetivo da APTC era identificar questões relacionadas à recuperação dos mecanismos de produção e circulação de conteúdos, para que os produtos audiovisuais nacionais voltassem a ser distribuídos no país. Com o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, em 1992, assumiu o vice, Itamar Franco, que restabeleceu parte da estrutura desmantelada pelo seu antecessor. O Ministério da Cultura, que havia sido transformado em Secretaria por Collor, foi recriado. Uma lei específica de incentivo fiscal para a produção do cinema brasileiro foi instituída, bem como houve o lançamento do Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro.
Nova diretoria na APTC, tempos sem glória para o cinema nacional Em maio de 1993, com a eleição de uma nova diretoria para o biênio 1993-1995, o cineasta Jaime Lerner assumia a presidência da APTC. Ele comenta o momento conturbado que vivia o cinema brasileiro na época, quando ainda teve que lidar com a herança maldita do governo Collor: Em 1990, o governo Collor havia acabado com o cinema brasileiro: terminou com a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro. Extinguiu praticamente todos os mecanismos. Por algum acidente de percurso, esqueceu de extinguir a Lei do Curta, que estabelece a obrigatoriedade da exibição de um curta-metragem brasileiro antes de um longa estrangeiro nos cinemas. Mas ainda não há nenhum mecanismo regulando a operação dessa lei. A fundação, antes de ser extinta, criava um júri que escolhia os curtas brasileiros a serem exibidos, pagava as cópias e remunerava os filmes escolhidos, que eram exibidos junto com o longa. Quando o Collor fez todo esse estrago, já havia dinheiro destinado para esse concurso. Com a extinção da entidade, o concurso não iria ser feito e, no final do ano, o recurso voltaria para a União.
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O poder de articulação com outras entidades como as ABDs, observa Lerner, mostrou uma característica forte da atuação da APTC: Na época, discutimos com todas as ABDs o que poderíamos fazer. Resolvemos, então, fazer pressão sobre o governo federal: já que havia o dinheiro destinado para o concurso, queríamos a abertura do edital. Como o governo não fez nada, entramos com uma ação liminar, na Justiça, contra o governo para que a verba não fosse utilizada para outra finalidade. O governo, então, ameaçou retaliar as entidades. Elas estavam com medo, mas a diretoria da APTC decidiu entrar sozinha com ação na Justiça contra o governo. Tivemos vitória na Justiça, e o governo teve que fazer o concurso. Os filmes não foram distribuídos nos cinemas, mas foram escolhidos e receberam os recursos. A Lei do Curta existia até o momento em que Collor extinguiu o Concine. Apesar dela não ter sido revogada, acabou se tornando inócua, na medida em que não existia mais o órgão que fiscalizava o seu cumprimento. A APTC começou, então, a discutir, no Rio Grande do Sul, a possibilidade de criação de uma lei do curta local. A entidade gaúcha entendia que a Lei do Curta havia sido fundamental para o desenvolvimento dos curtas brasileiros e vinha sendo submetida a um processo de aperfeiçoamento. De acordo com Ana Luiza Azevedo, houve vários momentos complicados neste processo. Um deles ocorreu quando os próprios exibidores começaram a fazer os curtas, a fim de ficarem com o percentual que lhes era de direito. Esse artifício utilizado pelos exibidores fez com que surgissem muitos filmes ruins e que se criasse uma campanha contra o curta-metragem, como relata Ana Luiza: Depois disso, foi criado um sistema em que havia um concurso para o curta-metragem. Uma comissão selecionava os filmes que ganhariam um prêmio – o montante arrecadado para isso era dividido entre os filmes selecionados naquele momento. E isso foi qualificando o sistema e criando a garantia de que bons filmes chegariam às telas. Quando a gente estava nesse aperfeiçoamento do sistema, o Collor extinguiu o Concine, a Embrafilme e a Fundação do Cinema Brasileiro. Então, acabou a exibição dos curtas no cinema.
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APTC assume a vice-presidência da ABD Nacional No dia 22 de maio de 1993, foi fundada formalmente a Associação Brasileira de Documentaristas (ABD Nacional). A entidade já existia havia dez anos, mas somente na assembleia realizada no Museu de Imagem e Som (MIS), em São Paulo, é que foi elaborado seu estatuto, aprovado o método de seu funcionamento e eleita a primeira diretoria. Giba Assis Brasil, expresidente da APTC, foi eleito como vice. Estavam presentes representantes de sete estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco. Nessa assembleia, na qual a APTC estava presente, também ficou decidido que as entidades integrantes da associação teriam que incorporar a sigla ABD ao nome. A estratégia era a de fortalecer essas instituições junto à Comissão Especial de Cinema (Ceci), criada pelo Ministério da Cultura. O objetivo da Ceci era definir critérios e regras para a seleção dos projetos de filmes beneficiados por recursos federais. A comissão foi considerada pela APTC “um passo pioneiro para uma gestão democrática dos recursos públicos destinados ao cinema brasileiro”. Carlos Gerbase fala da relação entre APTC e ABD: A parceria mais óbvia da APTC era com as ABDs, tanto que o nome passou a ser APTC-ABD/RS. Naquela época, discutimos se a APTC não seria uma ABD do Rio Grande do Sul. Mas, neste caso, abrangeria uma classe formada por documentaristas, enquanto a maioria dos associados da APTC era ficcionista, apesar de fazerem documentários também. Achamos que não fazia muito sentido, porém a própria ABD deu a solução de juntarem as duas entidades. Ficou algo híbrido, confuso, mas era esse o jeito de se resolverem as coisas. Em setembro de 1993, ainda no início da gestão, ocorreu a queda do telhado do prédio do Iecine, consequência das fortes chuvas que inundaram o local. Surgiu, então, a necessidade de mudança da sede do instituto. Equipamentos do estado e os cedidos em comodato por órgãos federais, armazenados no Iecine e colocados em risco pela inundação, foram transferidos para o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. O novo local, contudo, não apresentava as condições necessárias para garantir o bom armazenamento dos equipamentos. A reforma do prédio anexo à TVE, onde se localizava o Iecine, tinha conclusão inicialmente prevista para acontecer no prazo de trinta dias. Com a demora do governo em resolver a situação, o
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Iecine só pôde retornar com seu acervo ao prédio da Rádio FM Cultura após um ano do início das reformas. Nesse período, o Instituto Goethe cedeu provisoriamente um espaço para armazenamento da moviola. Jaime Lerner diz que a APTC se ressente da falta de uma sede própria: Contamos com um lugar cedido dentro do Sindicato dos Radialistas. Não tem um espaço para abrigar os equipamentos, por exemplo. Seria interessante ter uma sede própria, um lugar em que pudesse haver espaço para uma biblioteca com livros de cinema. Um local que as pessoas pudessem usufruir. A correspondência é recolhida uma vez por semana, quando vamos à reunião de diretoria. As pessoas sabem que, se é um assunto urgente, devem enviar para a casa do presidente, ou por e-mail, ou avisar. Infelizmente, a APTC é uma associação muito pobre financeiramente e não teria condições de sustentar uma estrutura.
Governador é vaiado no Festival de Gramado No início de 1994, a diretoria da APTC esteve em audiência com o governador Alceu Collares e o secretário estadual da Fazenda, Orion Cabral. A entidade pretendia apresentar propostas para a ampliação da participação do governo no fomento à indústria audiovisual no estado. O processo para realização de um concurso de curtas-metragens, entregue ao governador em agosto de 1993, encontrava-se parado desde outubro daquele ano. Na reunião, ficou decidido que a associação aguardaria até fevereiro a previsão da Fazenda a respeito do recurso destinado ao projeto. Em agosto, a APTC constatou que o projeto de apoio ao longa-metragem estava esquecido nas gavetas dos bancos do estado. Já em setembro divulgou-se que, do valor pedido pela entidade – 250 mil dólares para a realização de dez curtas –, somente seriam liberados R$ 30 mil. Porém, no final do ano, o governo alegou ter ficado sem caixa e não pagou mais ninguém. A relação da APTC com o governo era muito difícil, conta Jaime Lerner, pois nada acontecia na área cultural: Uma coisa que marcou muito aquela gestão foi a política do governo do estado em relação à cultura e ao cinema, em particular. Ou melhor, a ausência de política do governo do estado. Naquela época, o governador era Alceu Collares, e a secretária da Cultura, Mila Cau-
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duro. A secretária sempre nos recebia muito bem, mas efetivamente não acontecia nada, ela não era uma executiva que batalhava pelas coisas. Foi muito complicado reivindicar apoio aos nossos projetos naquele governo. Antes do Festival de Gramado, tentamos uma audiência com o governador, justamente para ele conhecer as necessidades do setor, mas agendaram a reunião para depois do festival. Lerner observa que a frustração com o governo estadual, no entanto, contrastava com o diálogo que a APTC mantinha com a Prefeitura de Porto Alegre. Isso ficou mais evidente no Festival de Gramado daquele ano: No festival, compareceram o então prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, e o ministro da Cultura, Antônio Houaiss. Ao contrário do que ocorreu com Tarso e Houaiss, o governador Collares foi vaiado quando terminou de falar ao público. Ele ficou muito irritado, foi horrível. Os associados mais antigos lembram até hoje desse episódio, pois a APTC foi a organizadora do protesto ao governo do estado. Depois, por ocasião da audiência com o governador, ao contrário do que esperávamos, ele nos deu razão e reconheceu que, em dois anos de mandato, o governo não tinha feito nada. Dos três projetos que apresentamos na época, conseguimos que os recursos do Prêmio Iecine fossem liberados parcialmente pela Secretaria Estadual da Fazenda. Nessa época, ainda foi lançado o primeiro edital do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre, o Fumproarte. Ele se destinava a apoiar projetos que visassem a promover e estimular a produção artístico-cultural, inclusive a de cinema, na cidade. O edital previa que para apresentar um projeto era necessário ter domicílio ou sede na capital gaúcha, podendo participar produtores culturais, tanto pessoa física quanto jurídica. Para Milton do Prado, presidente da APTC na gestão 2001-2003, o advento do Fumproarte obrigou os artistas e os produtores culturais a trabalharem mais profissionalmente na estruturação de seus projetos: O Fumproarte foi criado com a ajuda da APTC. Hoje, vários produtores de cultura sabem fazer projeto por causa desse fundo. Nas primeiras edições, muita gente de teatro criticava o Fumproarte, sob a alegação de que artistas não fazem projetos. Hoje ninguém fala mais isso, aprenderam a fazer. Os produtores de cultura concluíram que, se quisessem financiamento, precisariam fazer orçamento, cro-
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nograma, entre outras coisas. O Fumproarte é a prova de como um mecanismo consegue mexer com a cultura local.
Cinema nacional volta a respirar, ressurgem os filmes Em meio à retomada do cinema nacional, houve o lançamento do Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro. Novos mecanismos de apoio à produção, baseados em incentivos fiscais, conseguiram aumentar o número de filmes realizados. Os recursos para a produção de filmes por meio do prêmio eram liberados pela Secretaria do Desenvolvimento Audiovisual, criada pelo então ministro da Cultura, Antônio Houaiss. Em maio de 1994, a APTC divulgou os vencedores do prêmio. Na época, foram decididos os médias e curtas-metragens que iriam se beneficiar da verba cedida pelo governo Itamar Franco seis meses antes. O Rio Grande do Sul foi contemplado com cinco projetos: o longa Anahy de las Misiones, de Sérgio Silva; os médias-metragens Deus ex-machina, de Carlos Gerbase, e Terra australis incógnita, de Roberto Henkin; e os curtasmetragens A história do cavaleiro Jorge antes de virar santo, de Otto Guerra, e O caso do linguiceiro, de Flávia Seligman e Francisco Ribeiro. Na segunda edição do prêmio, houve uma modificação: aqueles que já houvessem dirigido um longa-metragem com o Certificado de Produto Brasileiro (CPB) não poderiam mais concorrer na categoria Longa de Estreante. Como presidente da APTC naquele período, Lerner participou das discussões que permearam o processo de reerguimento da produção cinematográfica no país: Quando se começou a discutir planos para a retomada do cinema brasileiro, no governo Itamar, a APTC participou dessas discussões nos vários festivais que houve. Cogitamos vários mecanismos para o lugar da Embrafilme nessa atividade de fomento ao cinema nacional. Mas, de tudo isso, ficou apenas o resgate do dinheiro do orçamento do governo para fazer um edital para longas-metragens e criar o que mais tarde veio a se tornar a Lei do Audiovisual. Era uma lei específica de incentivo fiscal para a produção cinematográfica. Além da Lei do Audiovisual, também foi instituído o Prêmio Resgate do Cinema. Liderada por Jaime Lerner, a APTC voltou a dialogar com a Prefeitura de Porto Alegre sobre políticas municipais de fomento à cultura:
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Várias entidades se uniram e criaram um movimento, com reuniões periódicas, para decidir que pressões fariam em defesa da cultura. A APTC representava o cinema. O objetivo era conseguir uma lei de incentivo fiscal municipal de fomento à cultura. A prefeitura resolveu criar um fundo e abrir editais públicos, com a nomeação de uma comissão que decidiria a política do município em financiamento de obras culturais independentes. Então, em 1993, o prefeito Tarso Genro instituiu uma verba orçamentária para esse fundo, dando origem ao Fumproarte. Não foi uma iniciativa da APTC, mas ela participou de todas as discussões que culminaram na criação do Fundo.
Cinema gaúcho prospera – financiamentos O cinema gaúcho havia prosperado, mesmo diante de um período de crise para a cultura nacional e do descaso do governo do estado, conseguindo arrecadar recursos que possibilitaram seu desenvolvimento. Neste período, entre 1993 e 1995, vários filmes gaúchos foram contemplados em festivais. No Rio-Cine Festival, evento destinado a curtas e vídeos, concorreram os filmes gaúchos: A pequena vida das pessoas grandes (16mm), da Oficinema 93; Miragem (16mm), de Jaime Lerner; e O Zeppelin passou por aqui (35mm), de Sérgio Silva. Já no Festival de Gramado, concorreram os seguintes filmes: A festa (35mm), de Jaime Lerner; A matadeira (35mm), de Jorge Furtado; A próxima geração (16mm), de Fernando Mantelli, Esperança (16mm), de Antônio Luiz Costa; Ventre livre (16mm), de Ana Luiza Azevedo; e a animação Rocky e Hudson (35mm), de Otto Guerra. E ainda no Festival Internacional de Curtas do MIS em São Paulo – evento com grande público e vitrine para os festivais do exterior –, estiveram presentes oito filmes gaúchos: A festa, A matadeira, A próxima geração, Esperança, Ventre livre, O Zeppelin passou por aqui e Cá entre nós. No Festival Bienal de CurtasMetragens em Caracas, Venezuela, estiveram presentes os gaúchos Novela, de Otto Guerra, e A festa, de Jaime Lerner. O média-metragem Ventre livre e o curta-metragem A matadeira obtiveram o financiamento por instituições do exterior, e o longa-metragem de animação Rocky e Hudson teve o apoio do Polo de Cinema de Brasília, que cobriu 40% do custo da produção do filme. O curta A festa obteve apoio estadual de 30% de seu custo, por meio do concurso realizado em 1992. Já os filmes A próxima geração e Esperança foram realizados sem nenhum apoio financeiro institucional.
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Na mesma época, a Rede Bandeirantes e o Banco do Brasil lançaram em parceria um concurso para exibição de curtas brasileiros na TV, iniciativa inédita no país. Os curtas vencedores ainda concorreriam nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Ator e Atriz, Melhor Fotografia, Trilha Sonora e Montagem e a mais um prêmio votado pelo Júri Popular. Todos os filmes da safra de 1994, com exceção de Rocky e Hudson, foram montados na moviola da APTC e filmados com a câmera do Iecine. No caso de A festa, a câmera utilizada não foi a do Iecine. O filme Ventre livre utilizou a Nagra da APTC e foi o único com som direto. Além disso, todos os diretores dos filmes mencionados eram sócios da APTC. Apesar de antigos, esses equipamentos ainda são muito utilizados por alunos dos cursos de cinema. A procura pelos equipamentos, como explica Lerner, gerou a necessidade de criação de uma entidade que gerenciasse esse patrimônio: Criamos a Associação dos Amigos do Iecine, porque, antes do vendaval que derrubou o telhado do Instituto, as pessoas retiravam gratuitamente os equipamentos ali guardados para fazer seus filmes e não precisavam assinar nada. Muitas vezes devolviam o equipamento danificado. Pouca gente tinha a noção de responsabilidade sobre um equipamento que era de todos. Com a Associação de Amigos, conseguimos botar ordem nos equipamentos que estavam se deteriorando rapidamente. Do jeito que estava, em dois ou três anos tudo aquilo viraria sucata. Em dezembro de 1994, a APTC manifestava, em seu boletim, certa expectativa a respeito do governo de Fernando Henrique Cardoso, que assumiria em janeiro de 1995: Agora com o governo FH assumindo, volta-se a pensar em criar mecanismos de produção e distribuição democráticos (aperfeiçoamento da Lei do Audiovisual, regionalização, informatização de um sistema de controle, legislação que leve as TVs a cumprirem o seu papel).
Articulação política da APTC resulta no Curta nas Telas Houve também um fato político importante ainda no final da gestão de Jaime Lerner. No dia 10 de maio de 1995, cinco dias antes de ele deixar
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a presidência da entidade, Lerner, falando em nome da APTC, ocupou o espaço destinado à Tribuna Popular na sessão ordinária da Câmara Municipal de Porto Alegre. Na ocasião, o ainda presidente da entidade, além de traçar um panorama do cinema gaúcho, expôs a difícil situação enfrentada pelos realizadores para produzir e exibir filmes. Ele salientou ainda a importância do projeto de lei, de autoria conjunta dos vereadores João Motta e Lauro Hagemann, que tornava obrigatória a exibição de curtas-metragens nacionais nos cinemas de Porto Alegre. Em nível estadual, o então deputado Marcos Rolim havia apresentado um projeto de lei semelhante. A proposta que tramitava no Legislativo acabou se transformando no projeto Curta nas Telas, um convênio entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o Sindicato das Empresas Exibidoras do Rio Grande do Sul e a APTC. Seu objetivo era – e continua sendo – divulgar a produção nacional de curtas-metragens por meio da exibição dos filmes selecionados no circuito de cinema de Porto Alegre. Com isso, a produção de curtasmetragens gaúchos foi, a cada ano, ganhando mais qualidade. A exibição de filmes no Curta nas Telas começou a ser realizada em setembro de 1995, com a apresentação de três produções gaúchas. No dia 28 de setembro, cinemas do Shopping Praia de Belas exibiam os curtas gaúchos O dia em que Dorival encarou a guarda, Ilha das Flores e Deus ex-machina, para marcar o início das negociações entre o poder público, a APTC e o Sindicato dos Exibidores para a implementação do projeto Curta nas Telas nos cinemas da capital gaúcha. A iniciativa teve repercussão em outras capitais, que se interessaram em copiar o projeto. Lerner comenta: O Curta nas Telas nasceu na minha gestão. Começamos a analisar que tipo de proposta seria interessante encaminhar à Câmara Municipal de Porto Alegre. Então, pensamos na Lei do Curta que existia, mas não era executada. Chegou-se à conclusão de que, se existia uma lei federal que não era cumprida por falta de regulamentação, o município poderia legislar e criar os mecanismos para implantá-la. Então, fomos em frente para batalhar pela implementação da Lei do Curta em Porto Alegre. Começamos as tratativas com os vereadores. Na Tribuna Popular, fiz um discurso explicando o que era o curtametragem, a atividade que envolvia a produção e a expressão que ele tinha no exterior. No entanto, o público gaúcho não tinha nenhum acesso a ele, relatei aos vereadores.
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Depois da explanação na tribuna da Câmara, os vereadores garantiram a Lerner que haveria consenso a favor do projeto na votação da Lei do Curta: Nesse período de tramitação na Câmara, os exibidores de cinema ficaram sabendo da proposta e se manifestaram contrariamente à obrigatoriedade. Ameaçaram entrar com uma ação liminar na Justiça para barrar o projeto, caso ele fosse aprovado pela Câmara, alegando que ninguém poderia impor o que deveria ou não ser exibido nos cinemas. A partir disso, começamos uma negociação e, nesse intervalo de tempo, terminou a minha gestão, e a Ana Luiza Azevedo assumiu a presidência da APTC. A prefeitura, então, entrou nas negociações, se propondo a conversar com os exibidores e a APTC. Disso nasceu o convênio Curta nas Telas. A APTC abdicou da lei para negociar o convênio. O convênio seria renovado a cada dois anos entre a prefeitura, por meio da Coordenação de Cinema e Vídeo, a APTC e o Sindicato dos Exibidores. Ficou acertado, desde então, que haverá sempre uma sala de cinema exibindo curta-metragem de até quinze minutos em Porto Alegre, durante todo ano, em um sistema de rodízio. Também ficou acordado que esses curtas seriam escolhidos por uma comissão que julgaria e escolheria os filmes mais apropriados para o sistema. Na renovação do último convênio, diz Lerner, a exibição dos créditos do filme foi descontada do limite de quinze minutos previsto para a duração do curta: Porto Alegre é o único lugar, no Brasil, que tem o sistema de exibição de curta-metragem nas salas comerciais. As pessoas estão pagando um ingresso para ver mais um filme de curta duração. É um projeto que, com raros intervalos, funciona há quinze anos ininterruptamente. E a prefeitura paga a quem tem o filme selecionado. É aberto um edital, duas vezes por ano, e filmes de todo o Brasil podem se inscrever. O filme vencedor fica duas semanas em cartaz, junto com o longa-metragem. Também conseguimos ampliar (gestão 2009-2011) para que filmes rodados no sistema digital possam participar. Até então tinha que ser em 35mm para ser exibido nos cinemas. No término da gestão, em maio de 1995, a APTC recebeu da Câmara Municipal de Porto Alegre o Prêmio Eduardo Abelim de 1993 e 1994 e foi homenageada, em uma sessão solene, pelos dez anos de história. Terminava, assim, de forma positiva, um ano que havia se iniciado com uma
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notícia triste: a morte de Tony Rabatoni, sócio-fundador e o primeiro vicepresidente da APTC. No ano em que faleceu, Tony havia completado 45 anos de carreira na indústria do cinema gaúcho. Jaime Lerner diz que foi casual, mas gratificante, o fato de ter presidido a APTC em dois momentos marcantes para a entidade: Quando eu saí da presidência, em maio, e a Ana Luiza Azevedo assumiu como nova presidente para o biênio 1995/1997, nós comemoramos os dez anos de fundação da APTC. Na ocasião, eu e ela levamos o bolo juntos. Foi uma coisa muito mais modesta do que esse projeto que estamos executando nos festejos pela passagem dos 25 anos da APTC. Mas é interessante que coincidiu de eu ser presidente em duas datas significativas para a entidade.
Todas as mulheres da APTC Ana Luiza Azevedo participou da APTC desde sua fundação em 1985, mas foi dez anos depois que ela se tornou presidente da associação, a primeira mulher a chegar ao cargo. Dos seis principais cargos dessa diretoria, cinco eram ocupados por mulheres: Ana Luiza, Liliana Sulzbach, Marta Biavaschi, Luciana Tomasi e Débora Peters. Sérgio Silva era o vice-presidente, e a gestão do biênio 1995-1997 ficou sendo conhecida como a diretoria das mulheres. Ana Luiza destaca que a participação feminina se tornava cada vez mais comum nas produções cinematográficas gaúchas: Todas as diretorias tiveram algumas mulheres que participaram, mas não em número tão grande como na nossa. Foi uma coincidência, e a gente brincava que era a diretoria das mulheres. A única outra presidente mulher foi a Marta (Machado), que também teve uma diretoria com muitas mulheres. Na minha gestão, convidei a Martinha (Biavaschi) e a Débora Peters, que não haviam participado de nenhuma diretoria. Trouxe pessoas novas, que depois pudessem continuar o trabalho. Também tive a preocupação de convidar pessoas que já haviam participado de outras gestões, como o Sérgio Silva. Convidei a Liliana (Sulzbach), que tinha uma capacidade de trabalho muito grande, e outros que já sabiam como as coisas vinham sendo desenvolvidas.
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Nesse período, a APTC promoveu cursos técnicos e de especialização, a fim de profissionalizar cada vez mais o pessoal que atuava no mercado cinematográfico gaúcho. Entre 1995 e 1997, foram vários cursos, tais como de música para o cinema, operador de som direto, iluminador, maquinista e eletricista. Seguidamente a APTC trazia profissionais de outros estados – especializados em áreas como som, luz e edição – para darem aulas no Rio Grande do Sul. O objetivo era propiciar capacitação e aperfeiçoamento profissional aos realizadores para que, desta forma, a área cinematográfica gaúcha não ficasse tão dependente da mão de obra qualificada do eixo Rio-São Paulo. De acordo com Ana Luiza Azevedo, a APTC trabalhava para criar mercado de trabalho e para que as pessoas pudessem ficar no Rio Grande do Sul: Na minha gestão na APTC, tentamos uma troca com profissionais de outros lugares e que tinham maior conhecimento. Se havia falta de técnicos de som, por exemplo, trazíamos gente dessa área para ministrar cursos para nós. Também fizemos um convênio com o Centro Técnico Audiovisual para que viessem técnicos ministrar curso de som direto aqui no Rio Grande do Sul. E assim formamos os primeiros técnicos de som direto no Estado. Tínhamos eletricistas e maquinistas, mas eram autodidatas, não tinham formação mais específica. Então, fizemos, junto com o Sindicato do Rio de Janeiro, cursos técnicos com esses profissionais, pois havia uma deficiência neste ramo. A associação também firmou um convênio com a Quanta Iluminação e o Iecine. Pelo acordo, os equipamentos de maquinaria da Quanta seriam doados para os sócios da APTC, a fim de que eles pudessem utilizá-los em seus próximos projetos. Além da doação, ainda houve um curso de aprimoramento profissional que contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre e foi realizado nas instalações da Usina do Gasômetro. Essas ações, diz Ana Luiza, mostraram que a APTC esteve sempre muito atenta à necessidade de suprir essas deficiências: A Quanta estava se instalando no Rio Grande do Sul. Organizamos cursos também para formação de técnicos em som direto e técnicos de som, que eram áreas em que havia demanda no estado. Antes, para fazer um filme, tínhamos que trazer pessoas de outros estados.
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Então, começamos a qualificar nossos profissionais e, a partir disso, surgiram outros cursos. É importante qualificar, não acho que se tenha que fechar um mercado. É preciso possibilitar a troca, até para qualificar os que estão aqui, para que permaneçam. A preocupação com a tecnologia e com o aperfeiçoamento de profissionais não vinha somente com a criação de cursos para áreas como eletricistas e maquinistas. Nessa época, Giba Assis Brasil concedeu uma palestra sobre Novas Tecnologias para Montagem de Imagem e Som em Cinema, abordando principalmente o tema do uso da edição eletrônica. Na ocasião, muitos técnicos tiveram a oportunidade de se informar sobre as diversas formas de finalização de um filme que, em muitos casos, já estavam substituindo a tradicional e conhecida moviola.
Persona Grata recupera memória do cinema gaúcho Em setembro de 1995, foi criado o Persona Grata, um projeto conjunto da APTC-ABD/RS com a Coordenação de Cinema e Vídeo da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. A proposta era resgatar a história e a importância de personalidades do cinema gaúcho, através da realização de entrevistas públicas e do registro das mesmas em vídeo, para documentação e arquivo no acervo da SMC. Esse projeto pretendia reavivar a importância de grandes nomes do cinema, para que permanecessem como memória da sociedade. Ana Luiza Azevedo explica o objetivo do projeto: O Persona Grata foi um projeto muito bacana. Ele tinha uma preocupação com a memória das pessoas que fizeram cinema. Às vezes, corremos o risco de achar e de deixar parecer que só nós fazemos cinema. E não é verdade. Tinham muitas outras pessoas que faziam cinema antes, e essas pessoas, naturalmente, vão morrendo. Então, propusemos um projeto para a Coordenação de Cinema, o Persona Grata, e ela acabou abrindo também para outras áreas além de cinema: literatura, artes visuais e música. Criou-se um belo material, porque era uma entrevista feita com um convidado. Eu lembro que o primeiro foi o Tony Rabatoni, um cara extremamente importante e que trabalhou com o Ruy Guerra e com o Glauber Rocha. Ele estava em Porto Alegre, muito doente. A partir daí, começamos a convidar pessoas da área cinematográfica para entrevistá-los.
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Ainda em 1995, no governo de Antonio Britto, houve o concurso de curtas-metragens em 35mm no estado, com verba de R$ 25 mil para cada um dos cinco curtas que seriam escolhidos. O projeto teve um adendo, passando a contar com verba que havia sido destinada pelo governador anterior, Alceu Collares, no valor de R$ 30 mil. Nesse concurso, um dos curtas selecionados seria obrigatoriamente de um diretor estreante, abrindo oportunidade para os novos. O resultado foi divulgado no dia 29 de dezembro do mesmo ano. Ana Luiza considera que houve grandes avanços a partir da posse de Nelson Boeira como secretário estadual de Cultura, durante o governo Britto: Começamos a articular os concursos de longa-metragem e os incentivos ao cinema. O cinema, no Rio Grande do Sul, era uma área bastante organizada. Havia representações políticas em associações também muito organizadas. Para o poder público, é muito bom ter com quem dialogar. E para nós também. Vínhamos de um vácuo do governo Collares, com a secretária Mila Cauduro. Nessa época, não lembro de nenhuma ação de política pública. E com o Nelson Boeira foi um momento bem positivo em que a gente conseguiu retomar muita coisa. Em uma das reuniões da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas em Brasília, em novembro de 1995, houve uma discussão a respeito do cinema cultural que, na época, era excluído das leis de incentivo para a produção cinematográfica nacional. Representantes de nove estados brasileiros estavam presentes no encontro. A APTC-ABD/RS estava representada por Giba Assis Brasil. Nessa reunião, foram apontados tópicos para a defesa de um sistema permanente e viável de produção de filmes culturais. Um deles tratava da destinação dos recursos disponíveis no Fundo da Lei Audiovisual para essas produções. O encontro da ABD também debateu a possibilidade de exibição dos curtas-metragens nos cinemas brasileiros, conforme previsto na legislação que estava em vigor e não era cumprida. Se necessário, ficou deliberado na reunião, poderia ser estudada a adequação dessa lei, a exemplo do que já ocorria em Porto Alegre no caso do Curta nas Telas. Além disso, foi discutida a criação de um mecanismo permanente de interlocução entre os realizadores de filmes culturais e o Ministério da Cultura, com o objetivo de colaborar na implantação desses e de outros projetos. Essa ideia da volta da exibição dos curtas em todos os cinemas do Brasil era muito forte, pois,
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enquanto este tipo de projeto esteve em vigor, anteriormente, impulsionou uma produção de alto nível e vencedora de vários festivais internacionais. A gestão daquele período enfrentou muita dificuldade para encontrar um espaço adequado para reunir o material da entidade e realizar as reuniões semanais com os associados. A APTC estava sediada havia algum tempo em uma sala na Rua General Vitorino, no centro de Porto Alegre. Em 1996, houve a possibilidade de mudança da sede para um ambiente maior, fazendo com que a associação se instalasse na Rua Barão de Tefé, bairro Menino Deus, onde se encontra até hoje, em espaço cedido pelo Sindicato dos Radialistas.
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Norberto Lubisco
Ana Pompermayer
O Zeppelin passou por aqui (1993), de Sérgio Silva
Carlos Gerbase
Flávia Moraes em A morte no Edifício Império (1993), de Beto Souza
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Mauro Goulart
Anahy de las Misiones (1997), de Sérgio Silva
Esperança e glória
Gestão 1997-1999 Diretoria: Werner Schünemann, Rogério Ferrari, Giba Assis Brasil, Gilberto da Cunha, Gisele Hiltl e Francisco Ribeiro. Conselho: Ana Luiza Azevedo, José Pedro Goulart e Carlos Gerbase. Suplentes: Angelisa Stein, Amabile Rocha e Alex Sernambi.
Chapa única, eleita em 26 de maio de 1997, com 23 votos favoráveis e um nulo.
Gestão 1999-2001 Diretoria: Rogério Ferrari, Giba Assis Brasil, Werner Schünemann, Gustavo Spolidoro, Luciano Miranda, André Arieta, Regina Martins e Milton do Prado. Conselho: Adriana Borba, João Guilherme Barone e Carlos Gerbase. Suplentes: Luciana Tomasi, Leo Sassen, Francisco Ribeiro e Letícia Corrêa.
Chapa única, eleita em 3 de maio de 1999, com 20 votos favoráveis.
Em 26 de maio de 1997, uma nova diretoria da APTC-ABD é eleita, e Werner Schünemann é escolhido como presidente para a gestão 19971999. Desde junho daquele ano, a nova diretoria vinha participando de um grupo de trabalho, coordenado pela Secretaria de Estado da Cultura, para apresentar propostas para a criação de um polo de cinema no Rio Grande do Sul. Formalizado em 16 de julho, o GT previa a assinatura de um protocolo de intenções, durante o Festival de Gramado, entre governo do estado, APTC e outras instituições, como UFRGS, PUC, Sesc, Senac, Famurs, prefeitura de Gramado e Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Partindo de um projeto ambicioso, o polo integraria as iniciativas de financiamento à produção de longas-metragens, os prêmios de estímulo para curtas e a criação de infraestrutura para a produção fílmica, por meio de um centro técnico. Além disso, daria apoio à exibição de filmes brasileiros e do Mercosul e participaria da formação e do aperfeiçoamento profissional. Em agosto de 1997, a primeira etapa de estudo para a criação do Polo de Cinema no estado fora concluída. Em outubro, o boletim da APTC noticiava: “Polo de Cinema/RS vai se tornando realidade”. O GT discutia também a possibilidade de implantar um cinema em cada município e a criação de um acervo cinematográfico no estado. Em dezembro, uma coordenação provisória começou a tratar dos trâmites burocráticos para que o projeto pudesse ser lançado oficialmente em abril de 1998. Nesse mesmo período, novas frentes eram abertas para o cinema na televisão. O prêmio Multicurta, do canal Multishow, exibiria doze curtas selecionados e ainda pagaria R$ 2 mil para os cinco curtas mais votados pelos espectadores. Em agosto de 1997, a TVCom, da RBS, havia estreado sua primeira edição do programa Curta na TV, que exibiria um curta-metragem gaúcho e uma matéria especial sobre o filme. A produção do programa
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era da Casa de Cinema de Porto Alegre, a partir de projeto original de Alice Urbim e Gilberto Perin. O projeto foi o embrião do Curtas Gaúchos, programa exibido pela RBS TV. Para Jaime Lerner, a relação entre cinema e televisão, no Brasil, ainda precisa ser aprimorada: No cinema comercial voltado para a TV aberta, há regras muito claras e algumas limitações. Alguns temas considerados tabus, como o suicídio, não são abordados na TV aberta brasileira, mesmo que o filme tenha qualidade. O cinema norte-americano domina 85% das salas de cinemas do mundo, e a TV poderia cumprir um papel diferente. Vários países veem no audiovisual uma importância estratégica. Na maior parte dos países da Europa, por exemplo, a televisão financia o cinema independente. A TV no mundo é concessão pública, pois a onda eletromagnética é um bem nacional. Então, para se ter um canal de TV, algumas regras deveriam ser cumpridas. Mas na televisão brasileira foram criados os monopólios. Qualquer regulamentação que se tenta colocar sobre as TVs é taxada de censura. Está previsto que os canais devem ter 30% de produção independente, e uma das lutas da APTC é para que a TV cumpra essa função.
Gramado 1997 exibe safra recorde da produção gaúcha A programação do Festival de Gramado de 1997 previa vários espaços para apresentação da safra recorde de produção gaúcha. Foram exibidas mais de oito horas só de cinema gaúcho. Concorreram ao prêmio de Melhor Curta Nacional os filmes: Ângelo anda sumido, de Jorge Furtado; O arraial, de Otto Guerra e Adalgisa Luz; Sexo e Beethoven e O reencontro, ambos de Carlos Gerbase; e O pulso, de José Pedro Goulart. Também seria feita a mostra do Troféu Assembleia Legislativa, com dois médias-metragens e quatro curtas-metragens, além da apresentação de dois longas fora do concurso: Lua de outubro, de Henrique de Freitas Lima, e Anahy de las Misiones, de Sérgio Silva. No sétimo edital do Fumproarte, no segundo semestre de 1997, foram aprovados dois projetos: Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre, de Rogério Ferrari, e a animação Anjoela, de Tadao Miaqui. Já os vencedores do Prêmio Estímulo de 1996 finalmente assinavam os contratos para receberem os valores estipulados no edital: a primeira parcela de R$ 15 mil para Ro-
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gério Ferrari (Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre) e Ângela Pires e Liliana Sulzbach (O branco), e o valor integral do prêmio (R$ 25 mil) para O pulso, de José Pedro Goulart, que já estava finalizado. Havia ainda a perspectiva do Prêmio Assembleia Legislativa, cujo resultado sairia durante o Festival de Gramado e daria R$ 3 mil ao vencedor e mais R$ 2 mil no Prêmio Especial do Júri. Passados quatro meses, no entanto, o prêmio ainda não havia sido pago aos vencedores do concurso: Jorge Furtado e José Pedro Goulart. No final do ano, o 8º Fumproarte selecionou o projeto do filme Velinhas, de Gustavo Spolidoro, e a produção de uma série que reuniria 21 curtas gaúchos, o Curtas Gaúchos em Vídeo. Os realizadores gaúchos também esperavam que o estado desse andamento ao Prêmio Estímulo 1997, que ainda não havia sido lançado. Em abril de 1998, o assunto ainda continuava sem definição. A APTC pressionou o governo do estado pedindo o lançamento do edital. A entidade apontava, ainda, os vários erros do governo sobre o prêmio: não havia critérios definidos para identificar quais candidatos poderiam ser enquadrados como estreantes, o prazo previsto para entrega dos filmes era curto e contado de forma errada; e não havia uma orientação geral de que o prêmio se destinaria a incentivar o cinema gaúcho, critério fundamental para evitar possíveis desvios. No início daquele ano, o governo havia lançado o edital do prêmio, mas a APTC apontou problemas e ponderou que o prazo estabelecido para as inscrições era muito curto. Após audiência com o então secretário da Cultura, Nelson Boeira, ele concordou em ampliar o prazo da inscrição e em rever o edital, mas não chegou a reeditá-lo. Henrique de Freitas Lima, expresidente da APTC, aponta que a entidade ganhou projeção política: Hoje, qualquer governante que chegue ao Palácio Piratini sabe que, na produção cultural gaúcha, o cinema é a área mais organizada. Lamentavelmente, outras áreas da cultura, com raras exceções, não têm o nível de organização do audiovisual. Isso é uma conquista de todos e, sobretudo, daqueles que efetivamente militaram na APTC, a entidade mais antiga e que esteve bem organizada ao longo desses anos. Guilherme Castro, outro ex-presidente, entende que cinema exige participação do gestor: Quando uma empresa decide financiar um projeto de cinema, é um projeto público. Ele só sairá se o governo apoiar. O governante tem que dar o aval político e dizer que considera o projeto importante.
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O governo do estado tem que estar junto. Da mesma forma, se não houver apoio do presidente da República, não haverá cinema no Brasil. O cinema é muito grande, caro e complexo. É um assunto que exige grande participação e interesse. Ao mesmo tempo em que não liberava recursos para o Prêmio Estímulo, o governo do estado, na gestão Antonio Britto, autorizou a captação, pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado (LIC), de mais de R$ 2 milhões para o show de Pavarotti e Roberto Carlos, que seria realizado no Estádio BeiraRio, em Porto Alegre. O presidente da APTC, Werner Schünemann, enviou carta ao então presidente do Conselho Estadual de Cultura, Roque Jacoby, protestando contra os projetos que lá tramitavam, gerados pela Secretaria de Estado da Cultura e, geralmente, em parceria com grupos privados. Com isso, argumentava a APTC, restariam poucos recursos da LIC para outros projetos.
Governo lança Programa de Apoio à Criação Cultural Em julho de 1998, o Programa de Apoio à Criação Cultural foi lançado pelo governo do estado. O programa, apresentado em evento na Casa de Cultura Mario Quintana, previa a premiação em quatorze áreas. Duas delas interessavam à APTC de modo particular: o 4º Concurso de Curtas e o 1º Concurso de Longas. Um mês antes desse evento, finalmente havia sido divulgado o resultado do 3º Concurso de Curtas, no qual foram escolhidos cinco projetos – três deles estreantes, um de segundo filme e outro de terceiro filme. Cada projeto receberia R$ 25 mil, em duas parcelas. O Prêmio RGE/Governo do Estado de Cinema, que também surgiu em 1998, era uma iniciativa da Fundacine para constituir parcerias entre a iniciativa privada e o poder público. Concebido para ser bienal, o prêmio era uma das principais alavancas para a construção de um polo de cinema no Rio Grande do Sul. Financiou nove longas-metragens e se constituiu na maior premiação do cinema brasileiro instituída por meio da LIC. Ao contrário dos problemas com o Prêmio Estímulo, o processo do Prêmio RGE foi rápido. Vinte projetos estavam inscritos, e, em dezembro de 1998, foram anunciados os três vencedores: Tolerância, roteiro de Carlos Gerbase e Álvaro Teixeira, para direção de Gerbase; Concerto campestre, roteiro de Tabajaras Ruas para direção de Henrique de Freitas Lima; e Netto perde sua alma, roteiro e direção de Beto Souza e Tabajara Ruas.
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Com uma atuação política bastante intensa, a APTC alertava que haveria protesto no Festival de Gramado de 1998, em especial na mostra de filmes em 16mm. O regulamento previa a participação de até dez curtas e quatro médias em 16mm, mas a comissão de seleção decidiu apenas por cinco curtas e dois médias, alegando “falta de qualidade técnica” entre os outros vinte filmes inscritos. Na competição nacional de curtas, concorria apenas um título gaúcho: Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre, de Rogério Ferrari. Já na mostra de curtas gaúchos que concorriam ao Prêmio Assembleia Legislativa, seriam exibidos seis filmes. Na época, a Assembleia Legislativa só havia pago o prêmio referente a 1997 em maio de 1998. A comissão executiva do festival, no entanto, garantia que os valores relativos a 1998 já estavam em caixa. Em janeiro de 1999, Luiz Paulo de Pilla Vares assumiu, no recémempossado governo de Olívio Dutra, a Secretaria de Estado da Cultura. O ponto de destaque foi a realização do primeiro concurso para a produção de longas-metragens no Rio Grande do Sul, dentro do Programa de Apoio à Criação Cultural, lançado em julho de 1998. “Depois de treze anos de projetos, reuniões, discussões e adiamentos, finalmente conseguimos realizar o primeiro concurso para produção de longas-metragens no RS”, comemorava a APTC em seu boletim.
Criação da Fundacine, mais uma conquista do cinema gaúcho No governo Olívio Dutra, também foi criada a Fundação Cinema RS, a Fundacine, entidade que seria responsável por gerir as iniciativas do Polo Cinematográfico do estado, o qual vinha sendo gestado desde 1997. Criada em 1998, a Fundacine atuaria nas áreas de produção, exibição, formação profissional, ensino e parque técnico, e estabeleceu um diálogo com a APTC, que comemorava ainda os cinco anos do Fumproarte e os dois anos do Curta nas Telas. Rogério Ferrari, vice-presidente da APTC na época de criação da Fundacine e presidente na gestão que se iniciou em 1999, dá seu testemunho sobre esse momento de transição: Para darmos o passo adiante, passando da produção significativa de curtas e entrarmos mais forte no mercado de longa-metragem, precisávamos de maior representatividade. Buscamos isso pela criação da Fundacine, da qual a APTC passou a ser integrante, juntamente com bancos, entidades empresariais e universidade. Naquele momento, me direcionei muito para manter a APTC na frente política
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desse processo. Sendo a única entidade integrante voltada ao cinema, era importante que a APTC propusesse projetos e diretrizes. Guilherme Castro considera a criação da Fundacine um marco: Muita coisa de cultural que existe no Rio Grande do Sul passou pela APTC. E talvez a coisa mais importante tenha sido a criação da Fundacine, porque ela é um diferencial. É uma instituição de direito privado que dá conta da política de desenvolvimento do cinema e de cuja estrutura participa o poder público. Nasceu da APTC e consegue articular uma série de ações a longo prazo. Até hoje é a APTC que formula muitas das políticas desenvolvidas e executadas pela Fundacine. Ainda em 1998, foi criada uma nova entidade no meio cinematográfico gaúcho, o Sindicato da Indústria Audiovisual do RS (Siav). Surgia mais uma instituição aliada da APTC na luta pela afirmação de políticas públicas no estado e pela ampliação do mercado de cinema gaúcho. O ex-presidente da APTC Henrique de Freitas Lima coordenou a comissão constituída para refazer os estatutos e realizar a eleição da diretoria da nova entidade. Ele relembra o processo de surgimento do Siav: A exclusividade da APTC como entidade representativa da cinematografia do Rio Grande do Sul durou treze anos. Em 1998, conseguimos formar um núcleo de produtores – eu já militava como empresário na área – para reorganizar o Sindicato da Indústria Cinematográfica, entidade que estava inativa havia anos e que veio a se transformar no Sindicato da Indústria Audiovisual. O Siav desenvolve suas políticas próprias, mas também faz ações em comum com a APTC. Conseguimos, desta forma, firmar duas entidades: a dos realizadores e a dos empresários. Obviamente, ambas dependem sempre de alguns abnegados que entendem a importância do trabalho institucional e se dispõem a trabalhar em prol da classe. A grande maioria só lembra que as entidades existem quando a ‘casa cai’. A ponta que faltava, que é o setor da mão de obra, está se organizando. Freitas Lima também considera determinante, nesse processo de formação de uma estrutura mais industrial para o cinema gaúcho, o surgimento da Fundacine:
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É um ente destinado a fomentar a nossa cinematografia, reunindo forças como o Siav e a APTC e uma série de outros parceiros. Acho que o contorno institucional do nosso polo de cinema se completa com o sindicato da mão de obra. Vamos ter relações de trabalho claras, uma convenção coletiva que regule as condições de trabalho no estado. Essa convenção deve ser adaptada ao Rio Grande do Sul. Não pode simplesmente transladar o que se observa no Rio de Janeiro e São Paulo para o nosso estado. Será o ponto de chegada de uma longa trajetória de 25 anos de luta para conformar entidades que desenvolvam políticas duradouras acima de interesses particulares e independentemente de quem ocupe os governos.
Cinema gaúcho perde Milton Barragan Em abril de 1999, morreu o diretor Milton Barragan, o sócio número 1 da APTC. Nascido em 1928, Milton Pamplona Barragan dirigiu cinco longas com Teixeirinha, foi ainda diretor de fotografia de outros dois, além de montador, roteirista e técnico em mais de 150 curtas. Um dos primeiros cineastas chamados a gravar seu depoimento no projeto Persona Grata, desenvolvido pela Coordenação de Cinema e Vídeo da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre em conjunto com a APTC, Barragan notabilizou-se como símbolo de uma era do nosso cinema – a era da bombacha e do chimarrão, de produção numerosa e de filmes de forte apelo popular. Motorista sem limites, dirigido por Barragan, aparece em primeiro lugar na lista das onze maiores bilheterias do Rio Grande do Sul, na qual estão ainda outros quatro filmes seus, todos realizados para a Teixeirinha Produções. O filme teve mais de 1,8 milhão de espectadores. Divulgada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) após minuciosa pesquisa sobre quais filmes brasileiros, produzidos entre 1970 e 2006, levaram mais de 500 mil espectadores ao cinema, a listagem total inclui 419 títulos. A gigantesca maioria foi produzida no eixo Rio-São Paulo, com exceção das onze produções gaúchas. No final da gestão de Werner Schünemann como presidente, a discussão que dominava na APTC eram as transformações na área cinematográfica gaúcha, que se tornava cada vez mais complexa. Era um momento de transição para a entidade, que devia eleger sua oitava diretoria e definir possíveis mudanças no modo de conduzir a próxima administração. As principais medidas sugeridas eram: a ampliação do número de componentes da diretoria, pois faltavam pessoas para cumprir todas as tarefas necessárias;
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a definição de regras para a utilização dos equipamentos do Iecine e uma definição para o futuro da instituição estadual após a criação da Fundacine. Para fazer essas discussões, o último boletim da gestão chamou uma assembleia geral que deveria eleger, também, a diretoria seguinte. Rogério Brasil Ferrari seria eleito presidente da próxima diretoria da APTC: Aquele foi um período de transição de uma forma de fazer cinema que vinha lá dos anos 80. Foi um momento em que tivemos que preparar a nossa estrutura institucional para dar conta de uma nova era que estava surgindo, com mais pessoas trabalhando, mais filmes e produção de longas. Isso requer uma estrutura mais industrial. E isso é também uma característica interessante nas diretorias da APTC: existe o presidente, mas a diretoria está sempre trabalhando de forma colegiada. Em algumas questões, havia empate entre as propostas, e o presidente tinha que desempatar. Isso raramente acontece, mas a gente sempre teve essa característica de, por um lado, atuar de maneira colegiada, cada um da diretoria com suas funções; e, por outro, haver rotatividade de pessoas nos cargos. A questão era unir um grupo de associados que estivessem dispostos a dar conta das tarefas.
Nova diretoria toma posse, surge a Sala P. F. Gastal No dia 25 de maio de 1999, a posse da nova diretoria foi marcada pela inauguração da Sala de Cinema P. F. Gastal, administrada pela prefeitura de Porto Alegre e localizada no terceiro piso da Usina do Gasômetro. Uma das premissas para a exibição de filmes na P. F. Gastal era de que fossem brasileiros e de cinematografias alternativas. Curiosamente, ainda que a gestão tenha iniciado com esse evento contribuindo para o desenvolvimento do cinema local, toda a gestão foi marcada pela busca por algo que acabou não saindo do papel: a criação do Centro Técnico Cinematográfico. Em agosto de 1999, por decreto do governador Olívio Dutra, o governo do estado criou o Comitê Executivo de Políticas Públicas do Audiovisual, o Ceppav, que congregava a APTC, a Fundacine, o Iecine e o Siav. Como integrante do órgão, a APTC apostou na criação de políticas que dessem uma nova dinâmica à área cinematográfica e preparassem o cinema do Rio Grande do Sul para uma nova era, agregando novas pessoas de forma cada
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vez mais veloz, com estúdios e cursos específicos de cinema, especialmente nas faculdades de comunicação social. Foi um momento em que a APTC se organizava para esse novo contexto. Nesse sentido, uma das medidas administrativas tomadas pela entidade foi o aumento do número de membros da diretoria, com o objetivo de que houvesse condições de dar conta desse aumento da demanda. Para o presidente da APTC à época, Rogério Brasil Ferrari, a nova diretoria tinha como desafio saber como atuar face às mudanças no cinema gaúcho: No meu primeiro mandato como presidente da APTC, houve aumento do número de diretores, que passou de seis para nove. Foi um momento em que a APTC teve como maior característica o espaço para ampliar as relações com a sociedade, protagonizando o movimento que acabou resultando na Fundacine, no Prêmio RGE, entre outras iniciativas. Não foi uma renovação, mas, sim, uma ampliação dos postos e técnicos da APTC. Uma época em que, por meio dos grupos de trabalho chamados pela Secretaria de Estado da Cultura no governo Antonio Britto e com o trabalho no Ceppav no governo Olívio Dutra, a gente fez um diagnóstico de várias áreas: produção, exibição, distribuição. Em setembro de 1999, o projeto Curta nas Telas, da prefeitura de Porto Alegre, completava três anos de funcionamento, tendo até então colocado em cartaz mais de 70 curtas produzidos em diversos estados brasileiros. Na mesma época, o boletim também noticiava o Prêmio Prawer-APTC, recebido pelo ator Nelson Diniz por sua participação nos filmes Até, Um estrangeiro em Porto Alegre, O oitavo selo e O velho do saco (todos de 1999). Outro projeto que já se discutia nessa gestão era o do Cais de Cinema, que dependia de articulação entre a APTC e o Ceppav. Entretanto, enquanto a discussão sobre o centro técnico se desenvolvia pelos percursos burocráticos, a produção cinematográfica era intensa, e o ano 2000 tinha um início promissor, com 31 filmes gaúchos em andamento. O boletim da APTC, em agosto de 2000, começava informando que haveria mais de cinco horas de filmes gaúchos no 28º Festival de Gramado. O boletim também comentava a situação do projeto que previa a construção do Cais de Cinema: “Ainda durante o Congresso Brasileiro de Cinema, o Governo do Estado do RS anunciou a efetivação de um pleito de quinze anos da APTC: a implantação de um Centro Técnico com infraes-
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trutura necessária para o desenvolvimento de todas as etapas da produção audiovisual, projeto que há dois anos ganhou a forma atual, com o nome de Cais de Cinema”. Rogério Brasil Ferrari destaca a chegada das tecnologias digitais: Na época, quando se teve o projeto do Centro Técnico – o Cais de Cinema era uma alternativa de localização para o centro, depois a outra foi o Centro Vida na Zona Norte –, a digitalização entrou muito forte. Então, algumas demandas técnicas de equipamento acabaram ficando defasadas. Por exemplo, tínhamos uma demanda de finalização, montagem e edição. Hoje, os softwares de edição estão disseminados, várias produtoras dispõem dessa tecnologia. Então, as demandas, de certa maneira, se modificaram.
31 filmes participam do 1º Prêmio APTC de Cinema Gaúcho Os 31 filmes que estavam em andamento, no ano 2000, foram finalizados até novembro e participaram do 1º Prêmio APTC de Cinema Gaúcho. Houve doze categorias, sendo que todos os filmes concorriam juntos em nove delas. Entre os dias 5 e 10 de dezembro de 2000, os filmes foram exibidos na Sala P. F. Gastal em doze sessões com entradas gratuitas, para então serem julgados. O grande campeão do concurso, vencendo em sete das doze categorias, foi o longa Tolerância, de Carlos Gerbase. Rogério Ferrari considera a instituição do Prêmio APTC uma grande conquista: Esse concurso foi algo no qual, pessoalmente, me empenhei bastante, pois acreditava que era importante. No Prêmio APTC, tivemos concorrentes em todas as categorias, foi algo muito positivo. Conseguimos criar, no final do ano, uma premiação junto com uma mostra. O júri seria um colégio eleitoral com associados e mais alguns convidados. Foi muito legal, porque deu visibilidade, os filmes ficaram em cartaz, movimentaram a comunidade cinematográfica, e a crítica veio junto. Ferrari faz uma comparação entre o Prêmio APTC e a mostra de Gramado:
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Sempre tivemos como vitrine principalmente o Festival de Gramado. E a mostra gaúcha em Gramado foi perdendo espaço, pois os filmes eram exibidos em sessões à noite durante o festival, junto com os demais. Depois passou a ser exibido em separado, havia uma préseleção para os filmes da noite. Tivemos que mudar o formato da exibição dentro do festival até pelo volume de filmes que concorrem hoje. O Prêmio APTC foi algo em que me empenhei bastante por duas razões: criar essa alternativa de premiação e possibilitar que o prêmio fosse aberto a várias categorias. Gramado sempre teve aquela característica de deixar fora várias categorias para que a cerimônia de premiação não ficasse muito extensa e demorada. Começamos a ter filmes mais apurados, com equipes maiores, técnicos de som, diretor de arte, montagem. No começo do ano de 2001, o entusiasmo com o Prêmio APTC contrastava com a preocupação quanto ao futuro do projeto Cais de Cinema, que, em outros momentos, pareceu próximo de se concretizar. Em fevereiro, ainda não havia uma definição do governo sobre o assunto. Dos R$ 3 milhões propostos pelo governo para o projeto no orçamento do estado em 2001, a Assembleia Legislativa aprovou apenas R$ 950 mil. Mas a maior dificuldade estava na definição da área do Cais do Porto (ou outra área da cidade), onde poderia ser instalado o centro técnico e na sua adequação à planta do laboratório a ser implementado. A APTC insistia na importância da atualização dos equipamentos do Iecine como peça fundamental de um projeto de infraestrutura para produção audiovisual do estado. Rogério Ferrari comenta os problemas que envolviam a concretização da proposta: O centro técnico foi um dos projetos daquela época que acabou não se concretizando. Houve um momento em que se pretendeu trazer um laboratório cinematográfico para o estado, construir um prédio no Centro Vida. Mas até mesmo nós, da APTC, indagávamos se montar um laboratório não seria uma coisa complicada. Se houvesse um laboratório no Rio ou São Paulo que tivesse um equipamento ocioso, trazê-lo para o prédio que seria construído aqui e montar o laboratório seria uma operação relativamente simples. O difícil seria manter um laboratório construído funcionando. É preciso uma demanda muito grande, porque os produtos químicos do laboratório têm que ser trocados semanalmente e são caros. Então, se não forem utilizados, vão fora. A operação dele era muito custosa. Com a digitalização, as produtoras come-
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çaram a se equipar e a ter alguns estúdios, a finalização começou a ficar bem mais acessível.
No 3º Congresso Brasileiro de Cinema, uma análise do mercado O 3º Congresso Brasileiro de Cinema, realizado de 28 de junho a 1º de julho de 2000, em Porto Alegre, pode ser considerado o evento mais importante do período. Depois de 47 anos, o cinema brasileiro voltou a se reunir em congresso de ritmo intenso, com oito grupos de trabalho, três seminários e três plenárias. O relatório final do 3º CBC abordava os problemas enfrentados pela área cinematográfica brasileira na época e que apareceriam, direta ou indiretamente, para as discussões na APTC. De acordo com o relatório, mais de 90% do mercado brasileiro de salas de cinema eram ocupados por filmes estrangeiros. O setor cinematográfico e o próprio governo federal estipularam atingir a meta de 20% de ocupação do mercado para filmes brasileiros, mas não foram tomadas medidas efetivas para viabilizar esta meta. Os distribuidores independentes não estavam capitalizados para fazer frente à comercialização dos filmes brasileiros. No período da Lei do Audiovisual, haviam sido investidos R$ 340 milhões em produção. Para colocação desses filmes no mercado, produtores e distribuidores haviam investido somente R$ 25 milhões. No entendimento dos participantes do congresso, caberia ao estado garantir a isonomia competitiva na disputa de mercados. “Mais do que uma reivindicação do setor, a participação da televisão no processo de consolidar a indústria audiovisual brasileira é uma questão de equilíbrio para a economia do país”, dizia o relatório. Os participantes do CBC alertavam ainda para o fato de que o modelo histórico da televisão brasileira concentrava em um único agente a produção e a difusão dos programas. Observando que as emissoras de TV, mesmo sendo concessões públicas beneficiadas por isenções de impostos e faturando valores que chegavam a mais de R$ 4 bilhões ao ano, ainda assim importavam ou realizavam elas próprias os produtos audiovisuais que veiculavam, sem abertura para realizações independentes. Para Rogério Ferrari, o modo de produção não privilegiava a diversidade no cinema:
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O cinema brasileiro estava procurando uma nova forma institucional de se estabelecer. A grande marca daquele momento foi a busca desse formato. Ao mesmo tempo, havia uma preocupação minha, na APTC, de sempre manter a diversidade, tanto de conteúdo quanto de forma de produção. No entanto, acabou prevalecendo uma política nacional que privilegiava um formato concentrador de produção, e hoje temos um número reduzido de produtoras. Se observarmos ao longo desses anos, as produtoras que conseguiram fazer mais de um longa foram menos de cem. Isso acabou centralizando muito a produção, o que está nos levando para um beco sem saída, um caminho equivocado. Outro aspecto que também ficou pendente foi a questão da exibição e da distribuição, um dos problemas crônicos do cinema gaúcho. A APTC fez uma pesquisa, na época, demonstrando que o número de municípios com cinema era mínimo no Rio Grande do Sul. Diante desse resultado, a entidade cogitou a possibilidade de se implantar salas digitais que pudessem ser feitas em parceria com as prefeituras ou com empresas nas cidades gaúchas, por meio de incentivo do poder público. Mas Rogério Brasil Ferrari observa muita resistência à ideia entre os exibidores: Sempre que se fala em salas de exibição baratas, os exibidores da área de cinema reagem. Eles alegam que uma sala de exibição tem que custar milhões. Naquela época, a ideia que tínhamos era a de se fazer um grande home theater, com uma sala para 50 ou cem pessoas e uma projeção que pudesse ser exibida em DVD. Só que as distribuidoras estrangeiras reprimem muito esse tipo de distribuição nessas mídias. Resultado: acabaram surgindo as salas digitais com sistema Rain que, embora sejam mais baratas, ainda é um dinheiro morto na produção, pois é recurso empregado no pagamento do serviço de um laboratório. No último boletim da gestão que se encerrava, a APTC fazia um balanço positivo sobre a atuação da entidade no biênio 1999-2001, destacando especialmente o número expressivo de filmes em todas as bitolas, gêneros e durações realizados no Rio Grande do Sul naquele período. A avaliação da diretoria era de que o aumento dos mecanismos de apoio à produção e a viabilização de parcerias com a televisão foram fatores fundamentais para o cenário positivo que se apresentava. Uma nova assembleia da APTC, marcada para o dia 14 de maio de 2001, elegeria a nova diretoria da entidade.
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Divulgação/Enygma Filmes e RS Multimidia Luciane Seligman
Nelson Diniz em Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre (1998), de Rogério Brasil Ferrari
Rodrigo Baleia
Evandro Soldatelli, Leticia Liesenfeld, Rochelle Sá e Júlio Andrade em Velinhas (1998), de Gustavo Spolidoro
O branco (2000), de Ângela Pires e Liliana Sulzbach
Ana Luz
Leandra Leal e Lรกzaro Ramos em O homem que copiava (2003), de Jorge Furtado
Tempo de despertar
Gestão 2001-2003 Diretoria: Milton do Prado, Gilson Vargas, Débora Peters, Aline Rizzotto, Letícia Corrêa, André Arieta, Regina Martins e Cássio Tolpolar. Conselho Fiscal: Giba Assis Brasil, Liliana Sulzbach e Luciana Tomasi. Suplentes: Vera Senott, Ana Luiza Azevedo, Marta Biavaschi e Rafael Figueiredo.
Chapa única, eleita em 14 de maio de 2001, com 22 votos favoráveis.
Gestão 2003-2005 Diretoria: Rogério Ferrari, Mario Nascimento, Lisiane Cohen, Beto Mattos, Cacá Nazário, Maurício Borges de Medeiros, Muriel Paraboni e Luciana Tomasi.
Chapa única, eleita em 26 de maio de 2003.
No início dos anos 2000, o cenário audiovisual gaúcho era distinto de quando surgiu a APTC-ABD/RS. Havia a atuação de novas instituições em busca do fortalecimento do cinema no estado. A produção de longas, ainda que com dificuldades, começou a se tornar uma realidade novamente. Existia também a expectativa da construção do tão sonhado centro tecnológico finalmente sair do papel. É nesse ambiente que ocorreram os preparativos para a décima eleição da APTC-ABD/RS em maio de 2001. A associação tinha a característica de sempre formar uma chapa de consenso no seu processo sucessório. Nessa eleição, ocorreu um fato novo: abriu-se espaço para que a nova geração de profissionais dos anos 90 assumisse a responsabilidade de dirigir a entidade. Milton do Prado, que havia sido segundo tesoureiro da gestão anterior, aceitou o desafio de assumir a presidência da APTC, sendo eleito por unanimidade em 14 de maio: A APTC tinha uma característica que algumas pessoas gostavam; outras, não. Na minha opinião, era uma vantagem. Ela sempre procurou ter chapa de consenso. Os sócios da APTC atuantes não eram muitos. Na época, eram de trinta a quarenta pessoas, em média, pagando e atuando na APTC. Não vejo muito sentido criar uma tensão ali na hora da votação. Em 2001, no entanto, não havia nenhuma chapa para concorrer. Na verdade, ninguém queria ser presidente. Não é falsa modéstia, eu entrei na diretoria porque não tinha ninguém. Não foi o único, mas foi um motivo muito forte. Faço questão de dizer isso. No âmbito nacional, o período era de transição em busca de uma nova estrutura institucional para o cinema. A APTC participava ativamente das discussões e do processo de construção de outra política pública cine-
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matográfica, estagnada havia uma década. Em 1990, o então presidente Fernando Collor tinha desmontado a estrutura de financiamento direto e de regulação do cinema brasileiro – a Embrafilme e o Concine –, levando a uma grande queda na produção de filmes ficcionais em longa-metragem. Houve uma retomada do cinema brasileiro, com aumento gradativo do número de filmes produzidos após a criação de mecanismos indiretos de financiamento na forma de renúncia fiscal – a Lei Rouanet, de dezembro de 1991, e a Lei do Audiovisual, de julho de 1993. O esgotamento desse sistema e a falta de regulação do mercado criaram um ambiente de crise na área no fim da década, o que fez o setor se articular para discutir uma política pública para o audiovisual no 3º Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), realizado entre junho e julho de 2000, em Porto Alegre. Era nesse contexto que tomava posse a nova diretoria da APTC, com Milton do Prado à frente: Era a época em que as instituições nacionais estavam se redesenhando no Brasil. Havia o ressurgimento do Congresso Brasileiro de Cinema, e uma geração muito atuante em São Paulo e Rio de Janeiro. Pessoas que logo depois, com o governo Lula, foram para a Secretaria do Audiovisual e para a Ancine, como o Manoel Rangel, o Mario Diamante, o Leopoldo Nunes. São nomes da minha geração. Eles atuavam nas ABDs de São Paulo e Rio, eram pessoas com quem trabalhávamos muito. No momento em que a APTC-ABD/RS chegou à sua maioridade, o desenho institucional gaúcho era mais maduro, com novos agentes atuando. As ações pelo fomento e fortalecimento da produção audiovisual local não eram mais de exclusividade da entidade. Isso não resultou na falta de envolvimento da associação nas questões agora de responsabilidade de outras instituições, seja do Complexo Cinematográfico ou do Prêmio RGE. Outros caminhos se abriam naturalmente para a produção do audiovisual no Rio Grande do Sul. A gestão deu continuidade a projetos e lutas iniciados em outras diretorias. Em âmbito nacional, manteve a atuação em prol das políticas de cinema. A classe cinematográfica brasileira estava se repolitizando. Milton do Prado comenta a transição que ocorria na APTC: Era o momento de uma geração que começou a fazer cinema nos anos 90 assumir a APTC. Foi aí que eu entrei. Uma parte da geração anterior, que criou e dirigiu a APTC, estava cansada, começou a se
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dedicar a fazer os filmes; e outra começou a ser incorporada a essas novas entidades pela Fundacine e Siav. Estava ocorrendo uma transição em representatividade no cinema. Havia novas entidades surgindo, novos espaços para se conquistar, produção de longas começando a ser realidade. Na maior parte dos anos 90, isso não acontecia. Por causa da era Collor, ficou-se muito tempo sem fazer longas. Nos anos 2000, já havia a Fundacine, que tinha outra função. A nova gestão começou enfrentando problemas financeiros, derivados dos gastos com a regularização do CNPJ da associação. Isso levou a diretoria a fazer um apelo em seu primeiro contato com os sócios. No entanto, as dificuldades financeiras não impediam que os diretores dessem continuidade à busca pelo fomento e pela participação da APTC nas discussões sobre a política cinematográfica do país. A entidade também mantinha um site constantemente atualizado, principal fonte de consulta sobre o cinema gaúcho e exemplo a ser seguido por outras entidades. A atuação da APTC na busca por fortalecer o cinema gaúcho não se restringia ao fomento à produção de filmes. Desde 1996, a entidade buscava promover um Concurso para Desenvolvimento de Projetos de Longa-Metragem. O objetivo era investir em uma área, na cadeia produtiva do audiovisual, que ainda apresentava carências: a falta de preparação adequada de roteiros e de projetos de produção. O concurso era uma forma de qualificar os projetos apresentados em editais e os filmes a serem realizados. A ideia inicial, formatada em conjunto com o Sindicato da Indústria Cinematográfica Argentina, surgiu no primeiro Porto Alegre em Buenos Aires daquele ano, quando artistas e intelectuais do sul do Brasil e da Argentina participaram de eventos naquela cidade. Previa o apoio a quatro projetos binacionais financiados pelas prefeituras de Porto Alegre e Buenos Aires, com um investimento de 70 mil dólares para cada prefeitura. Apesar do interesse do lado gaúcho, o modelo não vingou pela falta de empenho da prefeitura argentina. Mesmo assim, a entidade seguia em negociação com a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre para realizar esse concurso.
APTC, Santander e prefeitura lançam prêmio para projetos Após três gestões e algumas propostas de editais, finalmente, em 2002, uma parceria entre o Santander Cultural, prefeitura de Porto Alegre e a
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APTC permitiria o lançamento do tão sonhado concurso para desenvolvimento de projetos de longas, agora sob o nome de Prêmio Santander Cultural/Prefeitura de Porto Alegre/APTC. O concurso significaria a profissionalização e a expansão da cadeia produtiva gaúcha do audiovisual. A primeira edição do prêmio, realizada em outubro de 2002, teve 22 projetos inscritos, a maior parte de estreantes. Participaram projetos de ficção, animação e documentário. Três projetos de longa-metragem foram contemplados com um aporte financeiro de R$ 40 mil. Os selecionados foram: O homem que roubou o mundo, de Gustavo Spolidoro; Lugar nenhum, de Tarcísio Lara Puiati; e O amor de Joel por Jacqueline, de José Pedro Goulart. Milton do Prado ressalta que o principal mérito desse concurso é o de propiciar condições aos produtores: Uma das maiores conquistas da minha gestão foi o Prêmio Santander. Retornou em 2009, depois de um período de crise. Voltou reformatado, acrescentaram algumas coisas com as quais eu não concordo. Mas, apesar das crises, o prêmio é muito importante. Queríamos um concurso que, em vez de premiar para filmar, premiasse para fazer o projeto. Ou seja, premiasse a produtora com ajuda financeira para pagar roteirista, pesquisador, criar e formatar o projeto. Tudo isso demanda tempo e dinheiro. Após várias reuniões entre APTC, prefeitura de Porto Alegre e Santander, formatamos o edital e lançamos o prêmio em 2002. Foi muito trabalho, ocupou bastante a nossa gestão. O Prêmio Santander obrigou o pessoal de cinema a pensar melhor, com antecedência, o tipo de projeto com o qual eles iriam conviver durante um período e dedicar um tempo das suas vidas. Isso ajudou bastante.
Audiovisual brasileiro passa a ser regulado pela Ancine A necessidade de um órgão que gerisse a política cinematográfica brasileira tornou-se a principal bandeira do 3° Congresso Brasileiro de Cinema, concretizando-se, em setembro de 2001, na criação da Agência Nacional de Cinema (Ancine), ligada, na época, diretamente à Presidência da República. A APTC participou do processo. Milton do Prado conta que a Ancine, criada quando ele estava à frente
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da APTC, começou a ser idealizada ainda no CBC, realizado um ano antes: Foi uma época muito significativa para a ABD nacional e a APTC. Quando foi realizado o congresso, eu ainda era o segundo tesoureiro da entidade. A primeira e a segunda edições do evento haviam acontecido na década de 1950. O retorno do CBC foi organizado aqui em Porto Alegre e teve uma simbologia. Porto Alegre ficou muito em evidência, assim como a Fundacine e a APTC. A partir da organização desse encontro, as pessoas começaram a rediscutir políticas cinematográficas, e as entidades, a fazer novas propostas. E o grande plano do CBC era a criação de uma agência de cinema, que veio a ser a Ancine. A Ancine tinha a função de regular, fomentar e fiscalizar o setor audiovisual brasileiro, representando uma importante alteração institucional na área após a extinção dos órgãos do setor na era Collor. O início das suas atividades se deu somente a partir de 2002, após um período de estruturação. Apesar de ainda apresentar algumas deficiências, Milton do Prado reconhece que a criação da agência significou um avanço: A Ancine é muito importante, mas eu me pergunto se ela, do jeito que existe hoje, era exatamente o que nós desenhamos no CBC. De qualquer forma, melhor ter a Ancine do que não ter nada. Tem ainda muita coisa emperrada, mas a Ancine possibilitou um avanço enorme. Não tenho a menor dúvida de que isso tem a ver com o governo Lula. Uma das áreas que mais evoluiu foi o Ministério da Cultura e, dentro dele, a área de cinema. É bem impressionante a quantidade de conquistas que houve desde então.
Funcine surge como alternativa às leis de incentivo fiscal A mesma medida provisória que criou a Ancine estabeleceu também os princípios para a política nacional do cinema. Surgiu o Conselho Superior de Cinema, responsável pela elaboração das estratégias do setor audiovisual e pela política cinematográfica no país. O governo federal também criou o Fundo de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional (Funcine), novo formato de fomento ao setor em relação às leis de incentivo fiscal e que possibilitaria o investimento em distintas partes da cadeia produtiva.
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Esse fundo de captação de recursos constituído sob a forma de condomínio fechado só foi implementado na prática a partir de 2005. O Funcine permitiria resolver problemas estruturais na distribuição e no mercado exibidor brasileiro – duas pontas do tripé não contempladas com o antigo modelo de fomento do cinema nacional focado na produção. A Ancine também estabeleceu a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), que se constitui na fonte de renda da agência para o incentivo do setor. A Condecine incide sobre o pagamento, o crédito, o emprego, a remessa ou a entrega de recursos aos produtores, distribuidores ou intermediários no exterior. Esses recursos dizem respeito a rendimentos decorrentes da exploração de obras cinematográficas e videofonográficas ou por sua aquisição ou importação a preço fixo. A verba é recolhida ao Tesouro Nacional e reinvestida no setor de produção cinematográfica brasileira. Rogério Ferrari ressalta a importância dos apoios governamentais: A APTC foi uma entidade criada para fazer a interlocução da área, principalmente com o poder público: prefeituras, governo estadual e federal. O governo gaúcho sempre foi um interlocutor muito forte. E o municipal também, trabalhamos muito com a prefeitura de Porto Alegre. Os resultados das nossas iniciativas sempre tiveram muito a ver com a resposta que tivemos dos governos. A APTC sempre dependeu muito disso. Quando o governo fechava a porta, não adiantava espernear porque não tinha a quem recorrer. Ana Luiza Azevedo concorda: A APTC sempre teve esse trabalho de procurar trabalhar em parceria com o poder público. E acho que esse era um diferencial. Se conseguimos todas as ações positivas que tivemos – de criação de política pública no Rio Grande do Sul –, elas foram criadas, sugeridas ou apoiadas pela APTC. No âmbito local, a APTC se envolvia nas discussões sobre a criação do Fundo de Apoio à Cultura do Rio Grande do Sul (FAC/RS). Nos moldes do Fumproarte, o fundo pretendia ser uma alternativa ao financiamento baseado em renúncia fiscal na área cultural. A previsão, na época, era a dotação orçamentária em R$ 1 milhão por cada edital. Seriam lançados dois editais ao ano. Esse fundo só veio a se concretizar no ano de 2010, com o Pró-Cultura, projeto que unifica os sistemas de apoio e fomento à atividade cultural.
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Ao longo dos anos, a APTC teve uma série de conquistas, como o crescimento no número de editais para a área. Um dos grandes interesses da entidade é buscar a participação em editais para a produção cinematográfica no estado, pois, sem esse apoio, é difícil o desenvolvimento do cinema. Os recursos aparecem através dos editais e das leis de incentivo para que a produção, a exibição e a distribuição dos filmes sejam possíveis. A produção audiovisual no Brasil não encontra espaço no ambiente de circulação nacional que prioriza a exibição de filmes estrangeiros. São esses recursos governamentais que permitem a chance de realização de um projeto. Henrique de Freitas Lima observa que nem mesmo países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, prescindem de políticas públicas para a área cinematográfica: Em qualquer país do mundo, a atividade audiovisual depende muito de políticas públicas, não há como fazer cinema sem política cultural. No caso brasileiro, há quem diga que a dieta de dramaturgia audiovisual do nosso povo já está bem atendida com os folhetins televisivos, a tão aplaudida telenovela nacional. Nesta visão, nós, os cineastas, só somos necessários para uma parcela da população brasileira que quer refletir sobre a sua identidade. Para os demais – a grande maioria –, existirmos ou não é irrelevante. Tivemos governantes que chegaram a dizer: “Para que investir dinheiro no cinema brasileiro? Entre necessidades concretas como saúde e educação, por que cultura?” Parece absurdo, mas não é. Dessa forma, é preciso investir boa parte do tempo em criar as condições para que os filmes sejam feitos. O projeto Curta nas Telas, uma grande conquista da APTC, chegava ao seu quinto ano de existência. Desde 1996, a prefeitura de Porto Alegre, por meio da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura, organizava e viabilizava economicamente o cumprimento do projeto: a exibição de um filme de curta-metragem antes das sessões de um longa. Em 2001, a associação e a coordenação estudavam maneiras de aperfeiçoar o Curta nas Telas. Os cinco anos do projeto, entretanto, não passaram em branco. Estima-se que 130 mil espectadores assistiram aos 126 curtas programados, em quatorze diferentes salas comerciais de cinema de Porto Alegre. Quinze estados brasileiros tiveram seus curtas exibidos no Curta nas Telas, e R$ 189 mil foram repassados aos realizadores pela prefeitura.
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29º Festival de Gramado Uma preocupação constante da associação era com o Festival de Gramado. A 29ª edição do festival, realizada de 6 a 11 de agosto de 2001, teve participação expressiva de produções gaúchas: quatorze curtas e um longa. Depois de dezessete anos, um filme gaúcho competia na categoria de longas-metragens nacionais: Netto perde sua alma, de Beto Souza e Tabajaras Ruas. O filme levou os prêmios de melhor trilha sonora, montagem, filme pelo júri popular e prêmio especial do júri para a produção. Apesar dos bons filmes, homenagens e encontros, a desorganização do festival chamou a atenção da diretoria da APTC, que ressaltou em seu boletim a necessidade de se criar uma fundação para melhor gerir o evento, “trabalhando nos 365 dias do ano para fazer um festival mais organizado, com mais filmes, mais discussão e reflexão sobre cinema”. O tema já vinha sendo discutido com o Comitê Executivo de Políticas Públicas do Audiovisual, instância que norteava as ações do governo gaúcho. No seu boletim de outubro de 2001, a APTC expressou sua preocupação com o que classificou de “coleção de equívocos embaraçosos” no Festival de Gramado 2001: lugar inapropriado e pequeno para a projeção dos filmes 16 milímetros, pouca divulgação para o documentário, descaso com a Mostra Banrisul de Curtas Gaúchos, problemas de organização “e o excesso de purpurina em detrimento do cinema cultural”.
Projeto de centro técnico é redesenhado Um sonho que parecia se tornar realidade, naquele momento, era a implantação do centro técnico, agora sob a responsabilidade da Fundacine. O centro era uma reivindicação da APTC-ABD/RS desde a sua fundação. Mesmo não atuando diretamente sobre o assunto, a entidade não deixava de se envolver com ele. A sua implantação representava um novo momento para a produção audiovisual do estado. A primeira versão do projeto previa a sua implantação em armazéns desativados da área portuária de Porto Alegre. Por dificuldades em se conseguir a liberação do espaço, o projeto foi redesenhado para ser instalado na zona norte da capital gaúcha. Esse centro permitiria que houvesse, finalmente, infraestrutura necessária para o desenvolvimento de todas as etapas da produção de um audiovisual e para a preservação da memória do cinema gaúcho.
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O boletim de outubro de 2001 previa o lançamento do novo projeto: Foi lançado durante o Festival de Gramado o Complexo Cinematográfico do Rio Grande do Sul, que engloba a unidade industrial no Vida Centro Humanístico (composta de estúdios, fornecedores de equipamentos, laboratório, etc.) e a Cinemateca do Rio Grande do Sul. O processo de licitação de um dos módulos do complexo, destinado à filial do Laboratório Cinema, deve ser iniciado nas próximas semanas. O complexo é uma conquista resultante de uma antiga reivindicação da APTC: a criação de um centro técnico que dê melhores condições para o desenvolvimento do cinema no estado. Apesar dos recursos investidos em sua construção, o laboratório acabou por não se instalar, durante aquela gestão, devido ao desentendimento com o estado em relação às vantagens fiscais. A fim de viabilizá-lo, o projeto passou por novo redesenho, que incluía uma escola técnica – a Escola Brasileira de Cinema e Televisão –, no intuito de receber investimentos federais. A proposta previa que a escola fosse o maior centro de educação para o setor audiovisual no Brasil. Formaria em nível básico e técnico: eletricistas, cenotécnicos, figurinistas, operadores de câmera e áudio, editores. Coordenada pela Fundacine, em 2001 aconteceu a segunda edição do Prêmio RGE/Governo do Estado de Cinema. Nessa edição, três roteiros de longa-metragem seriam premiados com R$ 1 milhão em dinheiro e autorização para captação de R$ 300 mil pela LIC. Foram premiados: Um quarto de légua em quadro, de Paulo Nascimento; Extremo Sul, de Monica Schmiedt e Roberto Gervitz; e O homem que copiava, de Jorge Furtado. A continuidade da realização do prêmio era uma preocupação da APTC.
Audiovisuais na TV Além da atuação de outras instituições pelo fortalecimento do audiovisual no estado, surgiu no cenário gaúcho um novo espaço para a exibição dos produtos desse setor: a televisão. Historicamente, a tevê tem uma importância estratégica na busca pelo desenvolvimento e pela consolidação da indústria cinematográfica mundial. Até o final dos anos 90, os cineastas brasileiros não haviam encontrado apoio nesse meio, que começou a se modificar na última década. No Rio Grande do Sul, essa relação passou a se alterar a partir do ano
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2000. A RBS TV veiculou uma série de curtas-metragens gaúchos premiados em festivais, intitulada Curtas Gaúchos. O grande sucesso de audiência fez a emissora criar o Prêmio Histórias Curtas em 2001. O projeto premia oito roteiros de curtas-metragens com dinheiro para a produção, com equipamentos de captação e finalização e com a exibição do produto criado pelas produtoras independentes. A iniciativa firmava-se como um dos principais projetos de produção de ficção da tevê no Rio Grande do Sul. A APTC-ABD/RS era uma das entidades que tinham representantes no júri. Mostras e festivais ainda se constituíam a melhor oportunidade de ver a produção local. Nesse sentido, a diretoria deu continuidade à Mostra de Cinema Gaúcho, iniciada na gestão anterior, e que acontecia no mês de dezembro. O evento era a melhor chance de retrospectiva do cinema produzido no Rio Grande do Sul. A terceira edição do evento, acompanhada do Prêmio APTC, porém, ocorreu em março de 2003. A transferência se explicava pelo incremento com outras atividades, como debates e exposições que aconteceram na Assembleia Legislativa. A Mostra APTC havia surgido na diretoria anterior, mas a gestão de Milton do Prado seguiu apostando no projeto: Era uma mostra de todos os filmes gaúchos que tinham sido produzidos. Houve, inclusive, um encontro com a participação do governo, dando oportunidade para que a Secretaria da Cultura relatasse o que planejava fazer. Havia um fator que, de certa forma, favorecia filmes em 16mm, 35mm e Super-8: não havia vídeo, quer dizer, nós não o considerávamos. Hoje existe produção de vídeo cinematográfica que multiplica o número de filmes. Naquela época, era limitado por essas bitolas. Numa dessas mostras, resolvemos fazer encontros e debates sobre os curtas. Trouxemos o José Geraldo Couto, jornalista paulista que mora em Santa Catarina. Ele assistiu a todos os curtas e depois debateu com o público. Em maio de 2003, Rogério Ferrari voltou a liderar a APTC, depois de ter sido vice de Werner Schünemann e presidente na gestão seguinte, entre 1999 e 2001. Dessa vez, permaneceu um ano à frente da entidade e renunciou, entregando a presidência a Mario Nascimento (1954-2009). Os dois enfrentaram um período conturbado na história da APTC, em meio a conflitos e desistências que desfalcaram a diretoria. Com equipe reduzida e sem recursos para contratar um funcionário, muitos dos projetos não puderam ser realizados, como a reforma da sala e
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a aproximação com o Sated/RS. A circulação do boletim foi interrompida em 2003, e os planos de admitir um estagiário não se concretizaram. O que não quer dizer que foram anos apenas de paralisia. A reformulação do site, como forma de aproximação dos sócios, foi uma das ideias que o grupo conseguiu concretizar. Lisiane Cohen, integrante da diretoria, comenta os objetivos das mudanças: Alteramos a logomarca, no site, para que ele se tornasse mais atrativo e as pessoas fizessem um uso mais frequente, como uma fonte de informação. Tudo na tentativa de trazer o sócio, de fazer com que ele dialogasse mais com a APTC. Tínhamos uma linha mais forte de comunicação, e a ideia era ter um canal mais efetivo para chegar ao sócio. Outra realização do período foi uma exposição, paralela ao Festival de Gramado, sobre o cinema gaúcho, durante o primeiro ano de gestão. Ela foi realizada em um espaço separado, no Centro Municipal de Cultura, no mesmo local onde acontece a Mostra Gaúcha. Montou-se uma estrutura especialmente para essa mostra. Lisiane considera a ação bem-sucedida: Pessoalmente, acho que foi um belo aprendizado, por essas coisas, bem como pela aproximação com as questões políticas. A APTC sempre foi muito forte, respeitada politicamente. E isso era algo que eu não esperava. Eu admiro aqueles que me antecederam, que transformaram a APTC numa entidade forte politicamente. A gente tentou manter isso nesse período. A premiação concedida para os próprios colegas anualmente, o Prêmio APTC, foi mantida durante os anos da gestão, mesmo que a duras penas. A gente tentou manter viva a história do prêmio, pois achávamos muito legal. Ele já existia e batalhamos para manter. Os ganhadores recebiam troféus, era a categoria se premiando – os teus colegas escolhendo os filmes. Em 2004, foi lançado o programa DOCTV, por meio de um convênio entre a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, a TV Cultura e a Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec). O DOCTV, modelo muito singular de produção e difusão que une as
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TVs públicas, o setor privado, o governo federal e a produção independente de todos os estados do Brasil, teve na ABD uma aliada importante. No Rio Grande do Sul, a APTC cumpriu o papel de articular o concurso e implantar o processo, junto com a TVE-RS. A luta de Mario Nascimento foi fundamental para que o estado participasse do programa.
Para começar, algumas desistências Embora Rogério Ferrari fosse experiente, a maior parte da chapa eleita para a gestão 2003-2005 era formada por pessoas novas. Lisiane acredita que essa pouca experiência foi a causa de tantas desistências. Houve um desentendimento interno que motivou a primeira saída e, progressivamente, outros se afastaram, com a diretoria se desmantelando. Até que o presidente da entidade renunciou. Rogério Ferrari conta que, após dois anos como vice e outros dois como presidente, não tinha planos de seguir na diretoria da APTC, pois acreditava que os cargos devessem ser ocupados pelos mais jovens. Mas isso não foi possível: Não houve interesse, as pessoas que poderiam assumir naquele momento não se dispuseram. Fui procurado por alguns conhecidos. E assumi um segundo mandato. Quando me chamaram, eu fui procurar o Mario (Nascimento) para fazer parte da diretoria: um cara que sempre teve uma postura política forte e muito contundente, uma visão firme tanto da política quanto do cinema. Ele tinha participado no início da APTC e, como eu, havia ficado muito tempo afastado. Sempre tivemos uma parceria muito grande. Continuamos tocando, tivemos alguns direcionamentos diferentes, criamos alguns projetos, mas alguns dos que me procuraram para participar acabaram não assumindo de fato a empreitada, e o time ficou desfalcado já de início. Aí, realmente, o que aconteceu foi um certo esgotamento.
Editais regionais pautam o debate Rogério Ferrari se afastou durante três meses para participar de uma filmagem quando Mario Nascimento assumiu. Nesse período, Nascimento estimulou bastante a discussão sobre editais regionais, bandeira que defendia de forma convicta. Houve muita resistência à proposta, analisa Ferrari:
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Fomos bastante atacados tanto pela diretoria da ABD Nacional, quanto por forças importantes da APTC e do cinema aqui no estado. Achavam que isso não era conveniente, pelo menos para os interesses deles não era conveniente. E hoje está se retomando essa bandeira, porque a nossa política audiovisual está chegando em um beco sem saída: a concentração é enorme, os editais consideram currículo como fator de decisão. Então quem fez filme fez, quem não fez não faz mais. Se tu entras num edital sem ter feito nenhum longa, concorrendo com quem tem dois, três, cinco longas, e esses longas vão valer para o filme dele ser escolhido em detrimento do teu, não há porta de entrada. Quando se licenciou, a questão não estava na pauta, afirma o ex-presidente da APTC, mas o quadro mudou bastante: O Mario tinha proposto essa discussão, que levantou uma polêmica muito grande. Ele estava bastante envolvido nisso, muito focado nessa questão dos editais regionais. Quando voltei, ela estava muito forte e, como eu não tinha tanta disponibilidade, entendi que seria mais interessante para a entidade se ele continuasse como presidente. Com a renúncia de Ferrari, Mario Nascimento assumiu e, no entender de Lisiane Cohen, seu temperamento forte também contribuiu para o esvaziamento da diretoria, pois houve dificuldades de relacionamento com os demais integrantes: A sua intenção era fazer o melhor para a categoria e para a nossa entidade. Talvez tivesse cometido alguns erros, mas na intenção de acertar. Ele brigou muito, tinha um jeito guerrilheiro de ser. Era uma pessoa muito legal, apesar dessa característica. Eu me dava muito bem com ele. Tive as minhas diferenças com ele durante a gestão, porque era difícil não ter embates com o Mario. Lisiane vê como outra causa para a saída dos integrantes a grande demanda de atividades que a APTC exigia: reuniões, representação em concursos, questões políticas. A cineasta, por exemplo, cuidava da secretaria, da parte que conferia o registro profissional, recebendo inclusive ligações de madrugada, com gente querendo resolver questões pendentes. Durante um período, ficaram apenas quatro pessoas. Enquanto alguns saíram por brigas internas, outros se desligaram da
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direção por falta de tempo para executar os diversos compromissos que surgiam na entidade. Dirigindo no escuro Não bastassem os problemas enfrentados pela equipe que dirigia a APTC, o período político também foi bastante difícil. O governador do estado era Germano Rigotto, e para todos que atuavam com cultura, afirma Lisiane, foram anos de pouco incentivo. A gente não teve nada. Foi muito complicado. O Prêmio Iecine, por exemplo, conseguimos arrancar a segunda parcela dos filmes que já estavam sendo produzidos porque ameaçamos, no Festival de Gramado, levar o que estava acontecendo a público. Era um governo que estava entrando e uma semana antes disse que ia pagar. Tudo era a fórceps. Foi uma época de muita batalha.
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Marcus MV Vinícius * Vencedor do Prêmio RGE com o título de Um quarto de légua em quadro.
Miguel Bonato
Netto perde sua alma (2001), de Beto Souza e Tabajara Ruas
Diário de um novo mundo* (2005), de Paulo Nascimento
Extremo sul (2005), de Monica Schmiedt e Sylvestre Campe
Tatiana Sager
TarcĂsio Filho em Rolex de ouro (2007), de Beto Rodrigues
Quanto mais bitolas melhor
Gestão 2005-2007 Diretoria: Marta Machado, Ana Luiza Azevedo, Gustavo Spolidoro, Letícia Corrêa, Cristiane Oliveira, Luiz Alberto Cassol, Letícia de Cássia e Luciano Moucks. Conselho: Mario Nascimento, Maurício Borges de Medeiros e Lisiane Cohen. Suplentes: Alfredo Barros, Camila Gonzatto, Débora Peters e Rafael Figueiredo.
Chapa única, eleita em 18 de abril de 2005, com dezessete votos favoráveis.
Gestão 2007-2009 Diretoria: Guilherme Castro, Jaime Lerner, Bruno Polidoro, Halina Agapejev, Laís Chaffe, Diego Müller, Ana Adams e Beto Picasso. Conselho: Giba Assis Brasil, Rafael Figueiredo e Maurício Borges de Medeiros. Suplentes: Luiz Alberto Cassol, Pablo Müller, Ana Luiza Azevedo e Marta Machado.
Chapa única, eleita em 21 de maio de 2007.
Em 2005, a APTC-ABD/RS completava vinte anos de existência e estava imersa em um ambiente repleto de transformações na produção cinematográfica do estado. A entidade tornou-se um caminho interessante para quem queria trabalhar com cinema, dando continuidade e visibilidade às modificações no modo de produção e circulação dos conteúdos audiovisuais, mesmo após duas décadas de sua criação. Ela também se consolidou como representante dos interesses dos realizadores gaúchos em sua busca pelo desenvolvimento da produção cinematográfica, ao mesmo tempo em que se tornou referência nacional. A gestão que assumia tinha o compromisso de reavivar o envolvimento coletivo, que sempre foi a marca da entidade. A diretoria, considerada uma das mais femininas da história da APTC, tinha Marta Machado, Ana Luiza Azevedo, Letícia Corrêa, Cristiane Oliveira e Letícia de Cássia entre seus integrantes. A APTC ainda contava com representantes no Conselho Deliberativo da TVE, no Conselho Curador da Fundacine, no Festival de Gramado, no Procine, no Comitê pela Democratização da Comunicação, no Conselho Estadual de Cultura e no Fumproarte, entre outras instâncias. A entrada em funcionamento de um novo site, em 2006, abriu espaço para a divulgação de filmes em lançamento ou eventos da área de cinema no Rio Grande do Sul, bem como para a comunicação entre a APTC, realizadores, estudantes e público em geral.
Maratona APTC – a festa dos vinte anos Nessa época, a entidade buscava organizar uma mostra de filmes em comemoração às duas décadas de atividade, com a exibição dos trabalhos promovidos por seus sócios e ex-sócios. A proposta era organizar uma festa grandiosa no Cine Theatro Imperial, na Praça da Alfândega, Centro Histó-
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rico de Porto Alegre. Inaugurado em 1931, o Imperial funcionou durante 70 anos e terminou fechando as portas após um longo período de decadência. O fechamento do Imperial representava uma tendência que se alastrava pelo país: os cinemas de rua perdiam espaço, e novas salas eram abertas nos shoppings centers. Salas menores com vários filmes, ambiente seguro e pipoca. Esse é o cinema do século 21. Por isso, fazer a festa naquele espaço de história e de memória para o cinema gaúcho era importante. O prédio do Imperial, no entanto, não foi liberado para o evento, e a festa da APTC não aconteceu. Assim, a data foi comemorada com uma mostra de filmes para relembrar a história dos curtas realizados desde a fundação da entidade, projetando sua importância para o desenvolvimento do cinema gaúcho. A Maratona APTC 20 Anos de Cinema Gaúcho foi um grande sucesso promovido pela entidade. Das 41 sessões realizadas, várias estiveram lotadas. Não foi possível, porém, levar a mostra para o interior do Rio Grande do Sul, devido à falta de estrutura para promover o evento em outros locais. Marta Machado, então presidente da entidade, comenta: No aniversário de vinte anos da APTC, fizemos uma grande comemoração. Eu considero que, na minha gestão, a coisa mais legal foi a maratona de aniversário. Acredito que tivemos um papel importante na reconstrução da imagem e da postura da associação, de recuperar o que se tinha perdido pelo caminho. Tivemos um trabalho enorme em juntar todos os filmes, mas foi um momento muito importante. Trouxemos as pessoas para perto da produção aqui do Sul, e de uma forma simpática. Revimos as histórias, pois se passava por vários momentos, por vários filmes. Ao mesmo tempo, foi uma celebração.
Gramado e a campanha do adesivo Nos primeiros seis meses da nova gestão, a APTC reivindicava ao governo do estado a reedição do Prêmio Iecine para a produção de curtas. O concurso não havia sido realizado no biênio 2003/2004. A APTC foi persistente para obter um retorno positivo do então governador Germano Rigotto. No Festival de Gramado 2005, os membros da diretoria organizaram um protesto contra o descaso do setor público em relação à produção audiovisual no estado, que ficou conhecido como a campanha do adesivo. A forte atuação da entidade durante o Festival resultou em adesão em massa dos realizadores presentes à campanha.
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Os representantes da APTC distribuíram os adesivos, que reivindicavam a volta do prêmio, aos participantes do festival. Presente no evento, o governador Rigotto ficou incomodado com a situação e com a leitura de uma carta assinada por mais de 170 pessoas. A atuação teve bons resultados para a classe cinematográfica, pois Rigotto teve de se comprometer com a retomada do Prêmio Iecine, paralisado desde 2002. A APTC conseguiu ainda que a última parcela do Iecine 2002 fosse finalmente paga. Marta Machado destaca os pontos positivos da gestão: Reformulamos o site, fizemos a maratona de aniversário, organizamos manifestações no Festival de Gramado e enviamos cartas e cartas ao governador. Tínhamos bom diálogo com a Secretaria de Estado da Cultura. A campanha organizada no Festival de Gramado em prol do Prêmio Iecine foi bem subversiva. Na época, a gente colou em todo mundo adesivos que pediam a volta do prêmio. A repercussão foi boa, Rigotto ficou perturbado com aquilo. O 10º Prêmio Iecine de Curtas, no entanto, foi lançado apenas em julho de 2006, após quatro anos de espera. O júri se reuniu em outubro para escolher três projetos, entre os cinquenta homologados. Um dos vencedores tinha que ser do interior gaúcho – reivindicação da APTC ao Instituto Estadual de Cinema, para ampliar a atuação da entidade fora de Porto Alegre. Desde sua primeira edição, em 1985, o prêmio já havia contemplado quase quarenta curtas. Em Gramado, também foi assinado o termo de compromisso para a exibição de curtas, médias e longas gaúchos na TV Assembleia. Embora ainda considerasse baixos os valores do prêmio, a diretoria da APTC entendia que era preciso valorizar a conquista desse novo espaço. Sobre as conquistas, Marta acrescenta: Nossa gestão funcionou muito bem com o governo do estado, tanto que o Prêmio RGE saiu, o Prêmio Iecine também; a Fundacine conseguiu funcionar relativamente bem, com o apoio que precisava do governo. O Iecine, na época, funcionava bem melhor do que no governo Yeda Crusius (2007-2010).
Complexo Cinematográfico, projeto originado nos anos 80 Entre os projetos da gestão, estava a retomada dos grupos de trabalho
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dentro do Procine, comitê criado por decreto do governador Germano Rigotto para elaborar um programa de desenvolvimento e fomento da indústria audiovisual do Rio Grande do Sul. “A proposta é muito boa, já que pretende juntar representantes de várias pastas do governo estadual com as entidades para discutir um projeto de governo para o nosso cinema”, dizia o boletim da APTC em junho de 2005. Estava previsto o reinício da discussão sobre um complexo de cinema. O projeto original, idealizado pela APTC na década de 1980, era a criação de um centro técnico, que deveria ser instalado na área portuária no centro da capital gaúcha e se chamaria Cais de Cinema. Devido às dificuldades administrativas e políticas para instalação naquela área, os planos não deram certo. A partir do ano 2000, o projeto foi redesenhado, com instalação prevista para o Centro Vida Zona Norte. Nessa época, recebeu o nome de Complexo Cinematográfico. No parecer da obra, foi incluída a instalação de um laboratório para revelação e copiagem. No entanto, o governo e a empresa que realizaria o projeto não chegaram a um acordo que justificasse os investimentos na área, e o plano foi rejeitado. Atualmente, está sendo desenvolvido pela Fundacine e prevê a criação do complexo em Viamão, em um terreno cedido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Marta conta que o projeto do complexo era bem anterior à sua gestão, muito mais relacionado à Fundacine: A APTC sempre esteve envolvida e batalhou por isso, mas não era a organizadora. A Fundacine foi constituída justamente para batalhar por coisas como esta, que representa um encontro de interesses, mas esse projeto nunca conseguiu ir adiante. A única coisa concreta que aconteceu foi a construção de um prédio no Centro Vida Zona Norte, que fracassou. Foi perda de dinheiro. Atualmente, existe a proposta de fazer o complexo na PUC, em Viamão, mas também não saiu do papel ainda. Para o setor de animação, não é algo tão relevante, pois é possível produzir em qualquer lugar, apenas com um computador. Talvez o centro seja mais importante e interessante para quem precisa de estúdio para filmar e de uma estrutura maior para cenário e toda a parafernália que a filmagem envolve.
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Novo espaço na ABD nacional Nesse período, aconteceu um fato inédito na eleição da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD Nacional), pois os dois principais nomes da diretoria eleita, no final de agosto, eram de fora do eixo Rio-São Paulo. Entre eles, estava a representante do Rio Grande do Sul, Débora Peters, como primeira vice-presidente. A composição completa da diretoria tinha representantes de onze estados brasileiros e um do Distrito Federal. Como os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro têm uma produção audiovisual bastante forte, essa eleição representou a abertura de um novo espaço para a atuação de outros estados, e não somente do Sudeste, como vinha acontecendo. Em outubro de 2005, pensava-se em estratégias que permitissem que os realizadores do interior do estado participassem das oficinas de preparação oferecidas pelo DOCTV. O objetivo era dar acesso ao maior número de profissionais para a elaboração de projetos de documentários. O DOCTV II tinha entrado no ar em agosto, com a exibição do filme Passagem, sobre a rodoviária de Porto Alegre, dirigido por Jaime Lerner. O maior entrave é que a TVE estava pendente em relação aos 20% de contrapartida, que eram de sua obrigação, na exibição de projetos regionais. A APTC, que sempre fez parte do conselho curador da emissora, buscava participação maior da TVE no apoio ao cinema gaúcho, com oferta de mais espaço à produção regional. Os problemas estruturais e de gestão, porém, sempre foram bastante sérios, analisa Marta: A TVE é um apêndice político do governo do estado. Sempre funcionou como loteamento de cargos, de alianças políticas para a eleição de governadores. É um cabide de emprego. E, por isso mesmo, não funciona, tem problemas crônicos. A TVE está ligada ao DOCTV e ao Anima TV, que são projetos do Ministério da Cultura e de outras TVs junto com a Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec). Ela faz parte por estar dentro da rede, mas não a vejo como sendo uma importante emissora pública do país nem do Rio Grande do Sul, embora tivesse alcance em termos de espectro de irradiação. Ela teria condições de ser uma grande TV, mas não é, porque as pessoas não se empenham para isso. A TVE-RS sempre foi vítima de articulações políticas e de pessoas que não têm nada a ver com TV e foram jogadas lá dentro.
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APTC nas escolas de cinema e novos profissionais A tentativa de aproximar a APTC e as escolas de cinema foi outro projeto da gestão de Marta Machado. Seu objetivo era começar a trabalhar com a geração de cineastas que surgia nos cursos universitários. Pretendia-se apresentar a entidade aos alunos e mostrar a importância da APTC e de sua atuação política na história do cinema gaúcho. Contudo, esse projeto não obteve o retorno esperado, visto que a maioria dos novos profissionais apenas buscou a entidade para retirada do registro profissional e não participou efetivamente dos processos de debate, articulação e construção relacionados ao cinema gaúcho. Em 2006, para tentar ampliar a participação de iniciantes no concurso Histórias Curtas, a entidade esteve reunida com a RBS para discutir detalhes do projeto. Ficou estabelecido que o prêmio seria aumentado de R$ 30 mil para R$ 40 mil e que o número de jurados diminuiria (na época, eram nove). Além disso, o registro profissional seria exigido de apenas três técnicos da equipe básica na contratação dos trabalhos, em vez de ser uma exigência para toda a equipe principal, como vinha ocorrendo, de modo a permitir a inserção de iniciantes nesse concurso. Um dos desafios enfrentados pela gestão foi a tentativa de modificar critérios para concessão de registro profissional. A APTC estava recebendo solicitações de registros para técnicos cinematográficos de pessoas que nunca tinham trabalhado com película, visto que o acesso às novas tecnologias digitais estava promovendo muita criação nessas mídias. A diretoria queria nortear a avaliação para essa concessão e aproximar os novos realizadores da entidade, explica Marta: A APTC tinha um projeto de aproximar novos profissionais que estavam se formando. O projeto não chegou a ser executado e não tivemos muito êxito nessa tentativa. Fomos a Santa Cruz uma vez fazer palestras. Tínhamos a ideia de fazer reuniões nas escolas, mas isso também acabou não acontecendo. Na verdade, as pessoas que estavam se formando em cinema precisavam de registro e procuravam a APTC para isso. Mas nunca houve aproximação de fato. Elas não estavam procurando a associação porque achavam que isso poderia ajudá-las a se inserirem no mercado e se aproximarem dos outros profissionais. Queriam apenas o registro para fazer a inscrição no Histórias Curtas, da RBS, e depois nunca mais apareciam. Mas deveria ter uma ação permanente da APTC nesse sentido, procurando formar essas pessoas.
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A inadimplência de muitos associados preocupava a APTC. Em outubro de 2005, apenas 34 sócios estavam em dia com a entidade, o que prejudicava o trabalho da associação. Uma das alternativas promovida na época foi a criação de novas vantagens para os associados. Aqueles que estavam em dia com a entidade poderiam usufruir de descontos especiais em cursos relativos à área cinematográfica. Os descontos cobriam o valor da anuidade, significando um incentivo à captação de recursos para a APTC: Na minha gestão, a gente não tinha uma dependência tão grande das anuidades, mas a inadimplência prejudica o trabalho da entidade até hoje. Na época, a APTC desenvolveu um sistema paralelo com a receita do Prêmio Santander. O prêmio era administrado pela associação, que recebia o dinheiro, aplicava-o, e depois repassava para os produtores vencedores. O rendimento da aplicação ficava com a entidade, porém, o fato de o índice de inadimplentes ser muito alto reflete também a falta de participação das pessoas. Isso é um problema crônico, e não é só na APTC. Muitas associações têm esse tipo de problema. No caso da APTC, não tínhamos problema de caixa, por exemplo, mas havia dificuldades de encontrar pessoas dispostas a participar.
Cineclubes e Prêmio Santander Entre os encontros que aconteceram no biênio 2005/2007, houve a 26ª Jornada Nacional de Cineclubes e o 2º Encontro Ibero-Americano de Cineclubes. Os dois encontros foram realizados na cidade de Santa Maria entre os dias 10 e 16 de julho de 2006. Os eventos foram importantes para o intercâmbio e debate do cineclubismo brasileiro e ibero-americano, com a presença de sessenta entidades representativas da área audiovisual de quinze estados brasileiros e representantes de países da América Latina, Espanha e Itália. A jornada elegeu a nova diretoria do Conselho Nacional de Cineclubes (CNC) e promoveu a reforma do estatuto da entidade, bem como possibilitou o desenvolvimento do Circuito Cineclubista de Estreias. Em agosto de 2006, foi lançado o V Concurso de Desenvolvimento de Projetos de Filmes em Longa-Metragem do Santander Cultural na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Na oportunidade, os realizadores gaúchos contemplados em edições anteriores apresentaram esquetes de seus projetos para mostrar os resultados positivos da parceria entre o Santander Cultural, a Prefeitura de Porto Alegre e a APTC. Na área de animação, foram apresenta-
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dos trechos de O jovem Josme nos tempos do ié ié ié, de Guto Bozzeti, e A cidade dos piratas, de Otto Guerra. Também apresentaram partes de seus projetos os diretores Fabiano de Souza (Céu de abril), Gustavo Spolidoro (O homem que roubou o mundo) e Frederico Pinto (As aventuras do Avião Vermelho). O prêmio foi considerado um marco da gestão 2005/2007, devido ao número recorde de inscritos – 34 propostas foram analisadas pelo júri. Em agosto de 2006, APTC, Siav e Fundacine promoveram o Seminário Mercado de DVD durante o Festival de Gramado, reunindo representantes das principais distribuidoras de DVD do país. O objetivo do evento era apresentar a lógica desse mercado e suas perspectivas, abordando a distribuição do produto audiovisual e debatendo estratégias para a circulação dos filmes além das salas de cinema.
Parceria com Sated: mais associados à APTC A parceria da APTC com o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do RS (Sated) visava a desonerar o processo de registro profissional e de associação nas duas entidades. O acordo resultou em um desconto de quase 40% para quem ingressava na APTC e no Sated. O resultado foi positivo. A APTC conseguiu aumentar em 326% o número de novos associados ingressando na entidade a partir desse acordo, desde 15 de outubro de 2006. O número é bastante alto quando comparado ao período de 17 de julho a 14 de outubro de 2006, que recebeu apenas 19 registros encaminhados e cinco novos sócios. Com o início da parceria, a APTC obteve 14 registros encaminhados pelos técnicos, sendo que 12 deles também se tornaram novos sócios da APTC. O acordo ainda permitia que o associado recebesse uma carteirinha conjunta Sated/APTC, o que lhe garantia descontos em alguns locais, como cinemas.
Dias piores viriam Na assembleia da APTC para eleger a diretoria seguinte à de Marta Machado, Giba Assis Brasil convidou os associados a se unirem em uma salva de palmas à gestão que se encerrava. Foi atendido prontamente. As conquistas dos profissionais e técnicos cinematográficos do estado, porém, sofreram um forte revés a partir da posse da governadora Yeda Crusius. Depois de ter cogitado a extinção da Secretaria de Estado da Cultura e dos
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protestos que se seguiram, Yeda decidiu manter a pasta, mas norteou por critérios políticos a indicação da nova secretária. Mônica Leal, estranha no ninho da cultura gaúcha, teria uma atuação marcada por críticas e mesmo situações constrangedoras. Sua falta de preparo para o cargo, somada ao descaso do governo Yeda com relação à pasta, levaria a APTC e o cinema gaúcho a enfrentar, nos anos seguintes, um dos piores momentos de sua história – para alguns, o pior. Muitos dos problemas com o governo Yeda já se manifestavam no final da gestão de Marta: Não via absolutamente nada acontecendo. A gente não conseguia nem ter interlocução com a Secretaria de Cultura. É muito triste, e principalmente em comparação com o que acontecia em outros estados, onde os recursos para o audiovisual só aumentavam e havia apoio e interlocução, editais. O Iecine deixou de existir. Estava tudo muito desmontado no Rio Grande do Sul. No município, mesmo com uma estrutura muito menor e recursos bem mais limitados, o Fumproarte mantinha a tradição de apoiar projetos audiovisuais, enquanto a Coordenação de Cinema seguia em pleno funcionamento. Marta lamenta a inversão que ocorreu na época: O estado deveria suprir dez vezes o que o município faz e, no entanto, foi o contrário. Eu considero lamentável e acho que outros estados passaram a dar de dez na gente há um bom tempo. A relação da APTC com o governo Yeda foi reflexo de um descaso, de um descuido e de um tratamento equivocado de pessoas que fazem a política no Rio Grande do Sul.
Cinemateca, Gramado e Prêmio Iecine Ainda no final da gestão presidida por Marta Machado, nos primeiros meses de 2007, a APTC teve uma reunião com a nova secretária estadual da Cultura, Mônica Leal. Na oportunidade, os representantes da entidade destacaram os pontos que consideravam nevrálgicos: a reestruturação do Festival de Cinema de Gramado, a retomada do Prêmio Iecine e uma alternativa para evitar o fechamento da Cinemateca Paulo Amorim, que havia perdido seu patrocinador. Em maio de 2007, a APTC realizou nova
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eleição. Guilherme Castro foi eleito em substituição a Marta Machado. O biênio 2007-2009 seria marcado pelo permanente embate político com o governo do estado, principalmente em razão do desprestígio à área cultural demonstrado pela governadora Yeda Crusius, empossada em janeiro. A gestão de Mônica Leal na Sedac foi desastrosa, como relata Guilherme Castro: Foi um período de muito embate político. A Secretaria da Cultura do governo Yeda foi muito desrespeitosa conosco, desprestigiou a APTC, não cumpria o que prometia. No período anterior, do governo Rigotto, havia um bom diálogo. Na política do cinema, somos muito pragmáticos, sem partidarismo. Com quem se consegue conversar e tem propostas é possível o entendimento, o diálogo se torna muito mais interessante.
Ligações perigosas Diante da inércia do governo estadual em procurar um novo patrocinador para a Cinemateca Paulo Amorim, a APTC questionou novamente a secretária Mônica Leal. Denúncias recebidas pela entidade ainda na gestão de Marta Machado davam conta de que tratativas estariam sendo gestadas pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) na tentativa de terceirizar a administração das três salas de cinema do espaço. Essas negociações com um ente privado estariam sendo conduzidas pela secretaria nos bastidores, sem nenhuma transparência, mas eram negadas pelo governo. Nesse período, chegaram aos diretores da APTC e à imprensa documentos que desmentiam a versão da secretária Mônica Leal, mostrando haver o esboço de um acordo no rumo da terceirização. Questionada pela APTC e confrontada por jornalistas, a Sedac responsabilizou a Associação dos Amigos da Cinemateca pelas tratativas e recuou dos planos de terceirizar a administração do espaço. Continuava, porém, a ameaça de iminente fechamento das salas da Paulo Amorim, sem que o governo oferecesse qualquer alternativa. A APTC preparou, então, um documento denunciando o descaso da Sedac com a cultura gaúcha e, em especial, com o Instituto Estadual de Cinema e a Cinemateca Paulo Amorim, exigindo ainda o pagamento do Prêmio Iecine. O manifesto seria lançado no Festival de Gramado daquele ano. Diante da movimentação dos realizadores para a divulgação da Carta do Cinema Gaúcho durante o festival, em agosto de 2007, a Sedac chamou os
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membros da APTC para uma reunião três dias antes de começar o evento. Na oportunidade, Mônica Leal garantiu a realização do 11º Prêmio Iecine de Curta-Metragem e o pagamento da primeira parcela relativa ao Prêmio Iecine do ano anterior. Também foi anunciada a assinatura de convênio com o Banrisul para patrocínio das três salas da Cinemateca Paulo Amorim e a recontratação do técnico responsável pela manutenção dos equipamentos do Iecine.
Todas as bitolas do mundo Outra reivindicação importante, em 2007, era a ampliação das bitolas aceitas para inscrição de curtas no Prêmio Assembleia Legislativa do Cinema Gaúcho, realizado todos os anos em Gramado. “Essa mudança é essencial para que a mostra seja uma verdadeira janela do cinema gaúcho, visto que, nos últimos anos, com a evolução das câmeras digitais, uma série de realizadores tem optado por diferentes bitolas”, dizia o boletim da APTC. Nas reuniões com os organizadores do Festival de Gramado 2007, a APTC discutiu o aumento da participação gaúcha na mostra e defendeu a ampliação das bitolas. A Mostra Gaúcha daquele ano ainda exibiu apenas curtas em película 35mm: Original – o filme, de Gustavo Tissot; Acerto de contas, de Luiz Rangel, Ivan Elias e Luciana Amorim; Placebo, de Marcelo Restori; A peste da Janice, de Rafael Figueiredo; Os viajantes, de Vini Nora; Rolex de ouro, de Beto Rodrigues; e Um aceno na garoa, de Mario Nascimento. Presidente da APTC à época, Guilherme Castro comenta o êxito das tratativas: Na minha gestão, houve uma continuidade importante. Demos prosseguimento ao que já estava em andamento. Conseguimos, por exemplo, ampliar as bitolas aceitas para a Mostra Gaúcha em Gramado. A mostra apresentava cinco ou seis filmes em película, enquanto os outros, feitos em digital, ficavam fora. Foi preciso, então, mudar a Lei na Assembleia Legislativa – que premia os curtas em Gramado –, e isso exigiu que fizéssemos contatos diretos com os deputados. Dessa forma, terminamos com a limitação da mostra, com o anacronismo de só exibir curtas produzidos em película. Foi uma grande conquista que tivemos. A decisão de fazer essa mudança foi na gestão anterior, em assembleia geral, e a execução foi na nossa diretoria.
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Ainda no final do primeiro semestre de 2007, a recém-empossada diretoria da APTC divulgou, em seu boletim, que a Fundacine estava realizando uma pesquisa entre os diferentes membros da área do audiovisual no estado. O objetivo da pesquisa seria o de apontar necessidades e demandas de infraestrutura do futuro Centro Tecnológico de Produção Audiovisual, em construção, a fim de que ele pudesse atender às necessidades do mercado.
Diminuem os recursos por editais No âmbito municipal, no início do segundo semestre de 2007, ocorria o lançamento do 33º edital Curta nas Telas, articulado no início da gestão anterior em reuniões com a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, cujo titular da pasta era Sergius Gonzaga. Mesmo sucesso não teve o Concurso de Projetos de Longas-Metragens Santander Cultural, que foi paralisado. A interrupção do concurso atendia a um pedido do Santander, que manifestava desejo de reformular o edital. A diretoria da APTC insistiu para que uma nova edição do prêmio fosse lançada, mas o concurso não saiu até o final da gestão 2007-2009, embora o edital tenha sido revisto. Para Guilherme Castro, a reforma do edital foi um processo bastante complexo: Fizemos, também, a reforma do edital do Santander Cultural, contando com a ajuda do pessoal da gestão anterior. Foi muito difícil e trabalhoso fazer essa reforma. Ao longo de dois anos, tivemos reuniões para discutir o assunto. Já havíamos começado esse processo com a diretoria anterior e continuamos durante toda a minha gestão. No final, conseguimos concluir a elaboração do novo edital. A perda de tantos recursos que chegavam via editais fez com que o cinema gaúcho minguasse em produções e perdesse espaço nacionalmente. Henrique de Freitas Lima defende a busca de outras alternativas: A performance dos produtores do Rio Grande do Sul nos editais nacionais já foi muito mais importante do que é atualmente. Temos muita dificuldade para ganhar os editais do BNDES ou da Petrobras. Além da absurda concentração de projetos no centro do país, há cinema em todo o Brasil. Precisamos reforçar as nossas fontes de fomento locais e buscar outros parceiros afins. Já vivemos momentos melhores do que o atual. Na medida em que se consegue organizar
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a casa, é muito mais fácil fazer as coisas continuarem acontecendo, e dispor de recursos como contrapartida para novos investimentos é fundamental para atraí-los. No final do ano de 2007, a APTC promoveu uma mostra na Cinemateca Paulo Amorim, com exibição dos filmes em película apresentados no Festival de Gramado. O ciclo foi acompanhado de debates sobre as características dos filmes apresentados.
Governo Yeda Crusius: descaso com a cultura Em janeiro de 2008, a APTC fez novas críticas à atitude do governo Yeda Crusius na área cultural, em especial no que diz respeito ao cinema. A falta de verbas e de ações foi duramente criticada no boletim da entidade: O Prêmio Iecine do Curta já foi importantíssimo para o nosso cinema, hoje está praticamente morto. O Prêmio RGE/Governo do Estado de Longa-Metragem precisa do compromisso e empenho do gestor público para que siga colocando nosso estado em posição de destaque no cenário nacional. A gestão da LIC tem tratado os realizadores culturais com reincidente grosseria e falta de respeito expressos em obstáculos sem fim, método, lógica e, muito menos, diálogo. Do Fundo de Apoio à Cultura, nem sinal. Novos editais? Apoio? Interesse pelo relatório do Procine? Nada vem do Palácio Piratini. Na mesma época, a APTC também denunciava o desinteresse do governo em relação à TVE, gerida pela Fundação Piratini. A emissora pública do estado enfrentava graves problemas técnicos e administrativos, além da falta de conselheiros importantes. A ex-presidente da APTC Marta Machado foi indicada para representar a entidade no conselho deliberativo da fundação. Guilherme Castro diz que a área cinematográfica estagnou naquele período: A governadora Yeda Crusius nem quis saber do pessoal de cinema, não tomou conhecimento, como se não existíssemos. Então, parou tudo. Um dos marcos do cinema gaúcho é sua base política e institucional organizada. Isso é o que o move e sustenta, mesmo que tenhamos um governo que paralisa o setor cultural e que o destrói, como fez a gestão Yeda Crusius, por exemplo.
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O quadro político no Rio Grande do Sul era um dos piores em vários anos, especialmente para a área cultural, exigindo ações de resistência. Em 2008, a APTC fez uma carta endereçada ao governo Yeda Crusius, defendendo a participação pública e exigindo investimentos no setor de cinema, uma vez que não apenas valores culturais e simbólicos, mas também sociais e econômicos, estão ligados à atividade cinematográfica. Guilherme Castro destaca a capacidade do cinema de gerar desenvolvimento social e econômico: Desenvolver o cinema tem uma importância social e merece a atenção dos diferentes governos, de órgãos públicos e de diversos setores da sociedade, porque significa estimular uma atividade econômica poderosa, que mexe com grandes recursos e especializações muito importantes. Além de ser uma atividade econômica, é uma atividade simbólica, artística e cultural fundamental, porque o produto cinematográfico atravessa muito fortemente fronteiras e vai aos lugares mais distantes. A APTC solicitava que houvesse diálogo e renovação de compromissos com o governo do estado. Após várias tentativas frustradas, a entidade conseguiu agendar encontros com a secretária Mônica Leal. O diálogo, sempre iniciado pela APTC, mostrou-se de pequena efetividade, e o Prêmio Iecine sofreu com a falta de investimentos. No final do governo Yeda foi pago o prêmio lançado na gestão de seu antecessor, Germano Rigotto, no qual foram contemplados Cortejo negro, de Diego Müller; Subsolo (inscrito como O poço), de Jaime Lerner; e Dia de jogo, de Ligia Walper. E somente em agosto de 2010, durante o Festival de Cinema de Gramado, saiu o pagamento para a edição do Prêmio Iecine lançada em 2008. Dessa vez realizado via Lei de Incentivo à Cultura e com patrocínio da Companhia Estadual de Energia Elétrica, o prêmio teve como vencedores Corneteiro não se mata, de Diego Müller; A cidade, de Liliana Sulzbach; Kopeck, de Jaime Lerner; De lá pra cá, de Frederico Pinto; e Três vezes por semana, de Cristiane Reque. A APTC participou também das reuniões do Congresso Brasileiro de Cinema. Mesmo com o esvaziamento experimentado pela entidade, ela defendeu a manutenção do CBC, devido à necessidade de representação nacional do setor. No Conselho Superior de Cinema, o representante gaúcho foi Giba Assis Brasil, responsável por defender, no fórum, as posições da APTC sobre as principais discussões nacionais que estavam em pauta.
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Nós sempre teremos Gramado Em 2008, o Festival de Gramado voltou à pauta. A associação reafirmou o ponto de vista crítico já manifestado em edições anteriores sobre os problemas na organização. Em 2007, houve ameaça de ruptura das relações entre os representantes do cinema gaúcho e o festival. No entanto, aos poucos a gestão 2007-2009 foi estabelecendo novas relações com a organização do evento, cuja direção foi trocada. A entidade manifestou seu reconhecimento sobre a importância do Festival de Gramado e decidiu priorizar uma gradual reocupação e aproveitamento daquele espaço em prol do cinema gaúcho. Em parceria com o Siav e a Fundacine, a APTC elaborou, em 2008, uma programação especial visando a estimular parcerias de coprodução e compra e venda de conteúdos audiovisuais. A essa programação deu-se o nome Café e negócios de cinema. Ela incluía seminários, encontros com mesas temáticas e convidados nacionais e internacionais – com foco também em coprodução, Fundos de Financiamento para a Indústria Cinematográfica Nacional (Funcines), agentes de vendas, novas tecnologias e cinema digital. Além disso, havia espaço dedicado a reuniões entre os participantes e esses convidados, a fim de promover o intercâmbio de informações e possibilidades de negócios para os produtores gaúchos. Foi uma conquista importante para a APTC na gestão de Guilherme, em meio ao descaso do governo estadual: Retomamos o espaço destinado ao cinema gaúcho no Festival de Cinema de Gramado, do qual havíamos nos afastado. Naquele período começaram, por exemplo, as reuniões de negócios, que são realizadas ainda hoje. Gramado agora financia muitos desses encontros. Antes, não financiava nada. Até então, Gramado estava brigado com o cinema gaúcho. Concluímos que era politicamente importante voltar a participar do festival e usar aquele espaço em nosso favor. Ele não é como a gente quer, nem é apenas do cinema gaúcho, mas isso não impede que se trabalhe para ampliar a participação gaúcha.
Cinebancários: novo espaço para exibição de curtas Outra abertura de espaço importante para a exposição do cinema gaúcho aconteceu em 2008. A APTC começou a manter relações de parceria
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com o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (Sindbancários), pois foi chamada a colaborar na formulação da linha de programação da sala de cinema do sindicato, o Cinebancários. Também em parceria, realizou-se uma mostra de cinema em dezembro de 2008, em que foi exibida a produção cinematográfica gaúcha daquele ano. Por duas semanas, em três sessões diárias e gratuitas, foram exibidos 36 curtas, um média-metragem e quatro longas, com excelente repercussão de mídia e público. A iniciativa, segundo Guilherme Castro, deu maior visibilidade a esses filmes: Os filmes foram selecionados em todos os festivais de curtas-metragens realizados no Rio Grande do Sul. Foram exibidos cinquenta curtas durante uma semana no Cinebancários. Esse evento foi importante para a APTC, pois não havia muitas oportunidades para esses filmes serem vistos pelo público. Em 2009, a APTC propôs que a Fundacine promovesse uma mostra de cinema em cidades do interior do Rio Grande do Sul durante o Dia do Cinema Gaúcho. A ideia de promover a exibição de filmes em municípios como Santa Maria, Erechim e Caxias do Sul visava a dar maior visibilidade às produções em curta-metragem. Afinal, a presença da APTC no interior do estado se dá basicamente por meio dos sócios, principalmente em Santa Maria, pois na região há um polo de produção e uma organização avançada.
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Cortejo negro (2008), de Diego Müller
Nestor Grün
Dia de jogo (2008), de Lígia Walper
A peste da Janice (2007), de Rafael Figueiredo
Mazel tov, APTC
Gestão 2009-2011 Diretoria: Jaime Lerner, Marta Biavaschi, Frederico Pinto, Ramiro Azevedo, Janaína Fischer, Vicente Moreno, Cris Reque e Daniel de Bem. Suplentes: Halina Agapejev, Rene Goya e Flavia Matzenbacher. Conselho fiscal: Ana Luiza Azevedo, Saturnino Rocha e Frederico Pinto.
Chapa única, eleita em 27 de abril de 2009.
Ao começar seus trabalhos em abril de 2009, a nova gestão que assumia a APTC para o biênio 2009-2011, com o cineasta Jaime Lerner na presidência, realizou um diagnóstico sobre os principais problemas que a entidade enfrentava e para os quais deveria buscar soluções. A partir dessa análise, a diretoria resolveu agir, prioritariamente, em duas frentes: reaproximar os associados da entidade e tentar romper a absoluta ausência de políticas públicas em relação à cultura e ao audiovisual durante o governo Yeda Crusius. Além disso, os diretores concluíram que seria importante reforçar ações do governo municipal e federal. A APTC, então, teve várias audiências com o poder público e elaborou um estudo sobre os investimentos diretos dos estados no audiovisual. Na área de comunicação – considerada estratégica para reaproximar os associados e buscar novos sócios –, a APTC aumentou o número de boletins lançados, totalizando quatorze informativos no biênio. O site da entidade também foi totalmente reformulado, a fim de criar uma nova identidade visual. Ainda nessa área, a APTC abriu um canal no youtube, o que permitiu disponibilizar na íntegra, pela internet, as três edições do seminário Tempos de transição e outros conteúdos em vídeo. A entidade gaúcha também aderiu às redes sociais virtuais, utilizando essas ferramentas para criar um canal de comunicação mais direto e ágil com os associados. Ainda em 2009, a APTC promoveu um encontro com os jurados gaúchos dos editais do Ministério da Cultura daquele ano e os associados para avaliar o desempenho e a qualidade dos projetos gaúchos em curta-metragem, longa de baixo orçamento e desenvolvimento de roteiro. A associação também participou com outras entidades da elaboração do Café com negócios durante o Festival de Gramado nas edições de 2009 e 2010. No 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual, realizado em setembro de 2010, em Porto Alegre, a APTC prestou apoio à Fundacine na organização do evento.
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Também em parceria com o Santander Cultural, juntamente com a Embaixada da França, a associação promoveu, em junho de 2009, uma oficina especial sobre os processos do documentário. O ministrante foi o documentarista argentino radicado na França Gualberto Ferrari, especialista em análise de roteiros e consultor do ateliê Produire au Sud. Representando os realizadores do Rio Grande do Sul, a APTC passou a integrar um movimento para criação de uma entidade que abrigasse, em nível nacional, os realizadores de longa-metragem. Carlos Gerbase e Jaime Lerner tornaram-se os representantes da associação gaúcha nas discussões. O estatuto da entidade e a sua oficialização ainda estavam por ser discutidos quando assumiu a diretoria seguinte. No início da gestão da APTC para o biênio 2009-2011, houve a criação do Cineclube Gaia. Trata-se de uma iniciativa cuja execução é feita por meio das ABDs de todo o Brasil, dentro do Programa Mais Cultura, e que incentiva a implantação de cineclubes em regiões carentes de exibição cinematográfica. A associação selecionou pessoal capacitado para executar o projeto na cidade gaúcha de Esteio, recebeu os equipamentos do Mais Cultura e participou das oficinas para a criação do Cineclube. As relações com o Sated, que durante algum tempo foi o responsável pela emissão dos registros profissionais, foram retomadas. No acordo firmado originalmente, a APTC encaminhava ao Sated as solicitações de registro que chegavam à associação. O sistema para requerimento e emissão desse documento, no entanto, deixou de funcionar desta forma a partir do começo de 2010, época em que o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (Sindcine), de São Paulo, começou a operar no Rio Grande do Sul. O sindicato paulista – que atua também em outros estados do Sul e do Centro-Oeste – requereu ao Ministério do Trabalho a prerrogativa para encaminhamento dos registros profissionais dos trabalhadores gaúchos da área de cinema. Com a oficialização do Sindcine como representante da categoria, a APTC deixou de participar desse processo. Jaime Lerner relata que o episódio gerou muita insatisfação, o que fez com que a APTC participasse da articulação de um novo sindicato local que abrigasse os profissionais gaúchos: Fomos invadidos pelo Sindcine, um sindicato de São Paulo que se instalou aqui no estado. Após várias negociações com essa entidade, não obtivemos nenhum resultado. A APTC realizou, então,
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uma assembleia geral na qual foi deliberado que a diretoria ficaria encarregada de articular um grupo de trabalho para a criação de um sindicato local. Desse processo surge, então, o Sindicato de Trabalhadores do Audiovisual do RS (Sitra), que está sendo criado e já requereu a carta sindical.
Morre Mario Nascimento, ex-presidente da APTC No dia 1º de maio de 2009, pouco depois da eleição da nova diretoria que assumia a APTC, a notícia do falecimento do ex-presidente Mario Nascimento deixou a entidade gaúcha enlutada. Nascido em outubro de 1954, o diretor e roteirista faleceu no Dia do Trabalhador. Foi vice-presidente da APTC em 2003 e presidiu a entidade com o afastamento de Rogério Ferrari, em 2004. Seu último trabalho foi o curta-metragem Um aceno na garoa, que ganhou os prêmios de melhor ator, atriz, direção de arte e trilha na Mostra Gaúcha de Gramado em 2007. A produtora Regina Martins define o colega como “gênio temperamental, briguento, controverso, mas, acima de tudo, um sonhador, alguém que viveu para o cinema com todas as suas forças”. Mario Nascimento ainda deixou um projeto de longa, O homem errado, que estava em fase de captação de recursos. Rogério Ferrari, que dividiu a direção da APTC com Nascimento no período entre 2003 e 2005, homenageou o amigo no boletim da entidade: A imagem que fica é tão distante. A política como centro, o cinema por meio e o homem por fim. Mario nunca teve dúvida sobre como seria seu cinema. Vigoroso, corajoso e bravo, seu espírito guerreiro era aveludado pela extrema elegância, delicadeza e carisma. Afetuoso, demonstrava no cinema a mesma generosidade que na vida, e tantas vezes trabalhamos juntos, desde os primeiros 8mm. Ele já rodava documentários em 8mm no Campo da Tuca uns trinta anos antes desse tipo de filme entrar na moda pela mão das ricas produtoras. Na política, voltamos a estar juntos ao sermos convocados por amigos para fundar uma chapa para a APTC, eu de presidente e ele como vice. Na segunda parte do mandato, o Mario assumiu como presidente. Fica sim um gosto amargo. De ver um colega brilhante, conhecedor do metiér, com tantas ideias e tanto a expressar através do seu cinema, partir assim, sem que sua obra tenha recebido a dimensão devida, bruscamente interrompida. Mas ele nunca chorava pelo leite derramado, preferia apontar suas lentes para o coração do
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problema e enfrentar mais uma batalha com seus sonhos, sua máquina de escrever, a câmera e a moviola.
A festa: APTC faz 25 anos Em 2010, a APTC completou 25 anos de fundação. Para comemorar o aniversário e resgatar a história da entidade gaúcha, a diretoria planejou e organizou diversas atividades. Com o apoio do Cinebancários (espaço do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre dedicado ao cinema) e curadoria da Associação de Críticos de Cinema do RS (ACCIRS), a APTC organizou a Mostra 25 Anos, que exibiu os filmes considerados mais significativos nesse período de existência da associação. Além da realização de um documentário sobre a entidade, a APTC obteve recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC/MinC) destinados à publicação deste livro sobre os 25 anos de história da APTC e para a realização de três seminários. Intitulado Tempos de transição, as três edições do evento abordaram a situação do audiovisual hoje. A primeira delas tratou do tema Política e mercado no contexto das novas mídias. Sob a mediação de Jaime Lerner, os convidados Daniela Pfeiffer (PUC-Rio/Elo Company) e o professor Leandro Valiati (pesquisador em Economia da Cultura) foram os debatedores do painel Economia e o novo produto audiovisual: a influência das novas mídias nos contornos da política e do mercado. Já o painel Novas mídias, um novo mercado? Como chegar ao público no mundo digital teve a participação como debatedores do jornalista André Deak (Fli Multimídia) e de Michel Tikhomiroff (produtora Mixer), com a mediação de Camila Gonzatto (Armazém de Imagens). A segunda edição do seminário tratou das Novas formas de captação e manipulação de imagens. A pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo Patrícia Moran (diretora de cinema e vídeo) e o cineasta Bruno Vianna, com a mediação da vice-presidente da APTC, Marta Biavaschi (Surreal Filmes), discutiram A evolução tecnológica e as possibilidades de articulação das imagens. O painel O diretor de fotografia na avalanche tecnológica teve como debatedores convidados José Augusto de Blasiis (CasablancaLab/grupo Teleimage) e o cineasta e fotógrafo Walter Carvalho. A mediação foi do cineasta e professor universitário Carlos Gerbase. Com a parceria da Feira do Livro, a última edição do Tempos de transição abordou o tema Estética e linguagem audiovisual. No painel A liberdade criativa no horizonte das novas mídias, foram convidados como debatedo-
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res o escritor Lourenço Mutarelli e o cineasta e crítico de cinema Eduardo Valente, com mediação do também cineasta Vicente Moreno. Em outra mesa-redonda, Giuliano Chiaradia (Rede Globo/Creative Lider for Set Experimental Group) e o cineasta Rodrigo Grota discutiram A integração das mídias e as novas formas de pensar o conteúdo audiovisual. A mediação foi da produtora Aletéia Selonk (Okna Produções). Bernardo José de Souza, desde 2005 à frente da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de Porto Alegre, destacou a iniciativa da APTC: A APTC concebe o audiovisual como um conjunto de práticas que inclui videoarte, games, o longa e o curta-metragem. E a Coordenação de Cinema da SMC tem tratado a videoarte e o vídeo, por exemplo, não como um braço menor do cinema e sim como uma prática contemporânea das mais criativas. O seminário Tempos de transição, realizado pela APTC, tratou exatamente sobre esse tema: a estética desse campo de transição. Conteúdo não é uma coisa que se discute muito, pois quando se trata de cinema fala-se muito em dinheiro e exibição. Mas é preciso debater o conteúdo do cinema gaúcho e brasileiro.
Campanha publicitária para divulgar o Curta nas Telas No projeto Curta nas Telas, houve a retomada da exibição dos filmes, agora sem interrupções entre um edital e outro. Também ficou garantida a extensão para filmes com cópia digital formato Auwe (antigo Rain), além de 35 milímetros. O acordo ainda prevê que os créditos finais não serão contabilizados nos 15 minutos de duração do filme. A APTC decidiu promover uma campanha publicitária de divulgação sobre a existência do Curta nas Telas e para esclarecer o público do que se trata o projeto. A criação da campanha ficou a cargo de alunos do curso de Publicidade e Propaganda da PUCRS; a finalização, com a agência AMA; e veículos como TVCOM e TVE se comprometeram a apoiar a iniciativa.. No seminário Curta e mercado, realizado na Cinemateca Brasileira durante o Festival de Curtas do Kinoforum, em agosto de 2010, participaram, do Rio Grande do Sul, Ana Azevedo (distribuição de curtas da Casa de Cinema), Gilberto Perin (Histórias Curtas) e Jaime Lerner, que teve oportunidade de apresentar o case Curta nas Telas:
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Todos dizem que o Curta nas Telas é maravilhoso, mas ninguém conseguiu replicá-lo na sua cidade. Porto Alegre é o único lugar, no Brasil, que tem o sistema de exibição de curta-metragem nas salas comerciais. Mas identificamos que, mesmo sendo realizado há quinze anos, o público não conhece o projeto. Muitas vezes, as pessoas entram na sala de cinema e, quando começam a assistir a um curta, se irritam porque não contavam com isso. E esse não é o nosso objetivo. Criamos, então, uma campanha, que será veiculada nos meios de comunicação do estado para que as pessoas conheçam o Curta nas Telas. Ela objetiva informar ao público que há curtas-metragens sendo exibidos no circuito comercial junto com os longas e que, nessa sessão, ele assiste a dois filmes pagando apenas um ingresso. Bernardo de Souza comemora a parceria entre a APTC e a prefeitura no projeto: A prefeitura trabalha diretamente com a APTC no Curta nas Telas. Sabemos que o mercado exibidor, num primeiro momento, atrapalha esse tipo de iniciativa. Isso significa que a grade de horários fica comprometida. É difícil exibir um curta-metragem para um público que nem sempre conhece essa modalidade e fica surpreso com a sua exibição. Há resistências a esse projeto, mas justamente por trabalharmos sinergicamente com a APTC e com o Sindicato dos Exibidores, ele acabou se firmando. É uma experiência única no Brasil. Existem outras iniciativas, mas nenhuma delas com tanta longevidade e êxito. É um case, uma experiência extremamente importante no cenário nacional. Integrante da APTC, Aletéia Selonk foi eleita para a diretoria da ABD Nacional. Ela teve participação importante na elaboração do documento Curta em todas as telas pela ABD-N. O texto reflete sobre a importância dos curtas-metragens e sugere um sistema de exibição e difusão desse formato. Junto com a Fundacine e o Sindicato da Indústria do Audiovisual (Siav), a APTC articulou, em janeiro de 2010, o Fórum Gaúcho do Audiovisual, que funcionou como um evento preparatório do setor. A entidade gaúcha também promoveu a eleição de delegados para a Conferência de Cultura realizada em Brasília. Além da ABD Nacional, a APTC integra o Comitê Consultivo da Secretaria do Audiovisual (SAV/ MinC), sendo representada pelo seu ex-presidente Jaime Lerner. O órgão consultivo tem sido um espaço para debate sobre temas importantes como:
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políticas da SAV e do MinC para o setor de audiovisual, critérios para lançamentos de editais, o Fundo de Inovação e a própria dinâmica do comitê.
Após três anos, Prêmio Santander retorna reformulado Em 2010, houve a retomada do Prêmio Santander/Prefeitura Municipal de Porto Alegre/APTC, que tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento de projetos de longa-metragem. O prêmio havia sido interrompido por três anos. APTC, Secretaria Municipal de Cultura, Santander Cultural e Fundacine haviam realizado um mapeamento do cenário cinematográfico local e entrevistas com todos os vencedores do prêmio. A partir disso, ficou definido que o prêmio passaria, em 2010, a ser bienal e compreenderia uma segunda etapa: além da destinação de recursos para a realização desse projeto e o acompanhamento da prestação de contas, haveria verba para a realização de laboratórios que ajudassem na formatação e realização dos projetos. Também houve um aumento do número de projetos premiados, que passou de três para quatro. Juntamente com o Santander Cultural e a Prefeitura de Porto Alegre, a APTC co-promoveu, em março de 2010, o programa de oficinas de capacitação do VI Concurso de Desenvolvimento de Projeto de Longa-Metragem, visando à qualificação profissional. Entre as oficinas oferecidas, estavam a de Roteiro – com o argentino Miguel Machalski, especialista em análise e tradução de roteiros – e a de Produção, ministrada por Nora Goulart, Claudia da Natividade, Leonardo Monteiro de Barros e Rodrigo Camargo (Ancine). Parte dessas oficinas foi aberta ao público e gratuita para os associados da APTC. Jaime Lerner comemora o retorno da premiação: Conseguimos resgatar, nessa gestão, o Prêmio Santander, destinado ao desenvolvimento de projetos, algo no qual havia uma lacuna muito grande. Para se inscrever nos editais, o candidato precisa apresentar o roteiro e o orçamento, escrever um roteiro para um longa, sem remuneração, e isso é extremamente complicado. São, no mínimo, quatro a cinco meses de trabalho. O Prêmio Santander concede R$ 50 mil para os projetos vencedores. Em 2010, além do prêmio em dinheiro, foram incluídas oficinas de roteiro e de consultoria de produção. É prestada uma consultoria de roteiro a cada um dos projetos.
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De acordo com Bernardo de Souza, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC trabalha com muita proximidade com a APTC na organização e realização do Prêmio Santander Cultural/Prefeitura de Porto Alegre/APTC – Concurso de Desenvolvimento de Projetos de Filmes em Longa-Metragem: Em 2010, realizamos a sexta edição do prêmio. Faltava, no mercado cinematográfico gaúcho, um incentivo ou estímulo à elaboração do projeto que antecede a realização do longa-metragem e dá condições à produção cinematográfica. A APTC procurou a SMC, e a prefeitura obteve recursos do Santander Cultural para premiar os vencedores. São prêmios para a etapa em que se elabora o roteiro, identificam-se as locações, estudo de casting, storyboard e planejamento. Depois, então, se viabiliza o projeto comercialmente. O coordenador da SMC justifica a não realização do Prêmio Santander no período entre os anos 2006 e 2009: Não houve propriamente uma suspensão. A definição se dá em conjunto entre Santander, APTC e prefeitura, e existe até hoje uma preocupação com os benefícios reais dessa premiação. Identificamos que havia vários projetos premiados engavetados e outros em estado ainda muito embrionário. Começamos a questionar o que poderia estar havendo de errado com esse prêmio. Esse hiato foi, na verdade, de reflexão. Mas há vários projetos sendo concretizados agora.
Porto na Tela não avança Em função das ações conjuntas de qualificação do Curta nas Telas e da retomada do Prêmio Santander, a diretoria da APTC promoveu, no período entre 2009 e 2011, uma maior aproximação com a Coordenação de Cinema e Vídeo da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Ao mesmo tempo, as demandas da APTC quanto a mudanças operadas no Fumproarte, ao projeto Porto na Tela e à Cinemateca Capitólio (em conjunto com a Fundacine) foram atendidas “de maneira pouco satisfatória”, segundo define um relatório de gestão à época. O Porto na Tela visa a fazer um edital da prefeitura para cinco filmes de R$ 300 mil por ano (R$ 1,5 milhão no total) que tenham, de alguma forma,
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a presença de Porto Alegre. De acordo com Jaime Lerner, a APTC ainda está em tratativas com a prefeitura para implementar o projeto: O Porto na Tela em nada avançou, apesar do entusiasmo revelado pelo secretário municipal de Cultura, Sergius Gonzaga, ao apresentarmos o projeto. Em relação à Cinemateca Capitólio, houve finalmente uma audiência com o prefeito José Fortunati no final de abril de 2011. Esperamos que, a partir dessa reunião, a prefeitura assuma outro tipo de postura em relação ao Cinema Capitólio, cujo prédio é de sua propriedade.
Centro Tecnológico e Cinemateca Capitólio, duas prioridades A ideia de construção de um centro tecnológico ou de um polo de cinema é muito antiga na APTC. A entidade já debatia o assunto desde as suas primeiras gestões, na segunda metade dos anos 80, ainda sob o governo de Pedro Simon no estado. Após uma série de avanços e recuos na busca pela concretização da proposta, foi constituída uma espécie de câmara setorial do audiovisual para elaborar políticas públicas de desenvolvimento do cinema gaúcho. No governo Germano Rigotto, a comissão setorial deu lugar ao ProCine. Na ocasião, a PUCRS e a Unisinos demonstraram interesse em construir esse centro tecnológico, oferecendo terreno e vários benefícios. O governo do estado, contudo, emitiu um parecer contrário a qualquer construção desse tipo na BR-116. Diante disso, a Fundacine optou por firmar um convênio com a PUCRS, a fim de que o Centro Tecnológico de Produção Audiovisual (CTPAV) seja construído no Seminário de Viamão (Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição). Lerner comenta: É um novo desafio que a Fundacine está encabeçando, e a APTC vai dar todo o apoio. Estou participando do processo, pois fiz a pesquisa de desenho do CTPAV. Agora começa a primeira etapa, que inclui fazer o projeto técnico. Henrique de Freitas Lima considera que a Cinemateca Capitólio, juntamente com a criação do CTPAV são sonhos muito antigos que estão perto de se concretizarem: Para seguir avançando, há projetos como a Cinemateca Capitólio, que vai nos permitir, finalmente, abrigar os nossos originais em Porto Ale-
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gre. É algo absurdo que um templo dedicado ao cinema atrase tanto tempo por razões absolutamente espúrias, como é o caso da Cinemateca Capitólio. Mas, embora num ritmo mais lento do que gostaríamos, não há dúvida de que seguimos crescendo. João Guilherme Barone, vice-presidente da Fundacine, acredita que os principais investimentos do setor cinematográfico gaúcho devem priorizar, a partir de agora, os projetos do CTPAV e da Cinemateca Capitólio. Ele comenta os avanços resultantes da atuação conjunta entre Fundacine e APTC: Em um ano, conseguimos muita coisa. Recursos federais estão sendo investidos diretamente na produção de longas-metragens, o que favorece o mercado. E o curta, que é onde as pessoas podem trabalhar na entressafra, é a experimentação. A APTC está em permanente luta, de olho em tudo e articulando toda a história do cinema gaúcho desde sua fundação.
Foro Entre Fronteiras fortalece ideia de regionalização Em 2007, a Cooperativa da Terra, organizadora do Festival de Curtas de Oberá, cidade argentina localizada na região de Misiones, convidou a APTC para participar de uma mesa de debates sobre a descentralização da produção cultural. O evento, realizado naquela cidade, daria origem ao Foro Entre Fronteiras, um fórum itinerante que reúne quatorze organizações de audiovisual e comunicação de setores governamentais e não governamentais na região sul do Brasil, Paraguai e noroeste da Argentina, com o objetivo de propor políticas e projetos para o desenvolvimento de produção audiovisual na região. Os argentinos queriam que a entidade gaúcha relatasse a sua experiência quanto à regionalização da produção, proposta que visava a retirar o monopólio do eixo Rio-São Paulo na área cultural e, em especial, de cinema. O interesse deles pelo assunto se justificava pelo fato de enfrentarem o mesmo tipo de problema em relação a Buenos Aires, que exercia um poder centralizador sobre a produção cultural de outras cidades do país. Os argentinos começavam, então, a debater alternativas regionais para desenvolver o audiovisual. Jaime Lerner participou do evento como representante da APTC:
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A partir dali se juntaram entidades do sul do Brasil, do nordeste da Argentina – Misiones, Corrientes e Resistencia – e do Paraguai. E essas entidades criaram o Foro Entre Fronteiras. A APTC participa deste fórum, que não se destina apenas à troca de experiências, mas também discute políticas conjuntas e projetos de qualificação e fomento. De acordo com Lerner, o Foro lançou, em 2010, as obras do projeto Parcerias, quatro filmes que compõem uma série de TV produzida com equipes mistas de todos os países em cada projeto. Conseguimos uma verba, dividida entre Argentina e Brasil, para produção. A partir de um edital, se produziram quatro documentários de cerca de quinze minutos cada um com o tema Entre Fronteiras. Agora, o projeto inclui a ficção e, provavelmente, se incorporará também ao Foro Entre Fronteiras. Ele considerou muito interessante a experiência de regionalização da produção cinematográfica proposta pelo Foro: O Foro Entre Fronteiras é uma entidade internacional e, ao mesmo tempo, regional. Não se trata de Brasil e Argentina e sim das regiões de Misiones e do Sul brasileiro. O Foro tem entidades de Santa Maria, a APTC de Porto Alegre e algumas outras. Existe uma proposta de regionalização e descentralização que é muito positiva. O filme brasileiro, por exemplo, foi feito por uma colega santa-mariense. Na produção, a equipe tinha profissionais do Paraguai e da Argentina. E todas as equipes têm que ser formadas seguindo esse modelo. É uma gestão complicada, mas muito interessante, e não envolve os governos. Foi a sociedade civil que criou esse sistema.
Apertem os cintos, o investimento sumiu Após muita insistência, a APTC conseguiu com que o governo Yeda Crusius efetuasse o pagamento do 11º Prêmio Iecine em agosto de 2010. O edital havia sido lançado em 1° de abril de 2008 e o contrato com os contemplados, assinado em 27 de março de 2009. O governo do estado também havia assumido um compromisso em relação à contrapartida com o DOCTV, mas depois recuou. Na primeira audiência com a secretária da Cultura, Mônica Leal, a APTC entregou um estudo elaborado pela diretoria sobre os investimentos
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estaduais diretos no audiovisual nos últimos quatro anos. Dos onze estados pesquisados, o Rio Grande do Sul ficou em último lugar, com investimentos inferiores inclusive aos da prefeitura de Porto Alegre. Presidente da APTC à época, Jaime Lerner comenta o estudo feito pela entidade: Tivemos muita dificuldade em relação às políticas públicas do estado neste período. Pesquisamos o que cada estado colocou através de editais, excluindo a Lei de Incentivo à Cultura (LIC), porque ela não é um investimento direto. Com a LIC, o estado dá ao realizador a possibilidade de captar recursos com as empresas. Nesses quatro anos analisados pelo estudo, a prefeitura de Porto Alegre, por meio do Fumproarte, investiu mais recurso direto na produção audiovisual do que o governo estadual. Bernardo de Souza, da SMC, faz uma análise sobre os problemas que envolvem, no Rio Grande do Sul, as políticas de financiamento na área de cinema: Caberia ao governo federal o financiamento à produção cinematográfica. Justamente pelo volume, há uma concentração de recursos da cultura na União. Nos estados e municípios, os recursos são bem menores. O Rio Grande do Sul, nós sabemos, atravessa uma crise séria e não tem conseguido investir o necessário em cultura. A prefeitura tem orçamento muito reduzido, destinando R$ 240 mil anuais para cinema, vídeo e fotografia. No momento, o Fumproarte é o único canal para viabilizar a produção de curta-metragem no estado. Não é tão significativo o que ele aporta, não é lei de incentivo, mas tem sido responsável por finalização de filmes e por cópias. A audiência com a governadora Yeda Crusius, solicitada pela APTC, nunca ocorreu. No entanto, durante o Festival de Gramado 2009, a governadora – que à época enfrentava uma série de investigações e denúncias – convidou os presidentes das entidades para uma recepção aos artistas em sua casa em Canela. A APTC, então, manifestou sua posição contrária a que as entidades participassem do encontro. Lerner faz uma relação entre os governos de Alceu Collares e Yeda Crusius: Tanto na minha primeira gestão, no biênio 1993-1995, como nessa última diretoria, enfrentamos um governo estadual muito difícil de lidar,
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que fez muito pouco pelo cinema gaúcho. Talvez uma diferença seja que, logo no início do seu governo, Yeda Crusius se indispôs com o setor da cultura quando tentou juntar a Secretaria da Cultura com a de Turismo. Houve uma briga muito grande, e ela manteve a secretaria, mas colocou como secretária a Mônica Leal, que não tinha nenhuma ligação com o meio cultural nem estava preocupada com essa área. Num encontro nacional de secretários estaduais de Cultura, por exemplo, ela propôs a revitalização dos bailes de debutantes do interior. O episódio tornou-se motivo de chacota e mostra a noção completamente errada que a secretária tinha sobre cultura.
De volta para o futuro Antes das eleições de 2010, a APTC elaborou um documento em que sugeria diretrizes para a política pública do estado em relação às áreas de cultura e do audiovisual. O texto foi entregue aos candidatos que disputavam a eleição para o governo estadual Tarso Genro (PT) e José Fogaça (PMDB). Esse documento serviu como base para outro desenvolvido posteriormente entre Fundacine, APTC e Siav e apresentado ao governador eleito Tarso Genro em abril de 2011. Jaime Lerner diz que o encontro com Tarso Genro, depois da posse, foi positivo: Em termos de vontade política, reconhecimento da importância da atividade e abertura ao diálogo pelo governo do estado, não há dúvidas de que o cenário é promissor. A APTC e as outras entidades, no entanto, devem zelar pela permanência e produtividade do diálogo, pois há muito a ser resgatado. No dia 16 de maio de 2011, oito dias após o 26º aniversário da entidade, foi eleita a gestão que deve iniciar essa jornada da APTC pela próxima geração. A assembleia geral da entidade elegeu Cláudia Dreyer para a presidência no biênio 2011-2013. A nova diretoria é composta ainda por Claúdio Fagundes, Alfredo Barros, Ivanir Migotto, Valéria Verba, Amaro Gonçalves Jr, Chaine Bitello e David Pinheiro de Oliveira. Para Jaime Lerner, que transmitiu a presidência da APTC a Cláudia Dreyer, os 25 anos da entidade marcam o início de um novo tempo para o cinema gaúcho:
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Essa gestão encerra uma história parcial, a da geração dos 25 primeiros anos de uma entidade. Espero muito que ela continue sendo profícua e repleta de conquistas por muito tempo. E que, em breve, as condições e necessidades que geraram essa trajetória pertençam ao passado. É preciso criar de fato um mercado de produção de conteúdo audiovisual que dê condições para que a jornada atual para a realização de um filme não seja uma aventura cheia de agruras e armadilhas. E que este mercado seja baseado em ética e transparência, numa relação de verdadeiro respeito entre os que fazem o audiovisual e os consumidores, ávidos por ver nas telas esses produtos aos quais, hoje, eles têm ainda o acesso limitado. Lerner ressalta a importância da militância e do envolvimento dos realizadores gaúchos na formulação das políticas para a área de cinema no Rio Grande do Sul: Espero que as pessoas que querem viver de sua arte entendam que isso é possível, mas que nada acontecerá se não continuarmos lutando e nos envolvendo nas questões políticas. É evidente que, nos últimos tempos, em todo o país, menos pessoas se mostram dispostas a isso. O enfraquecimento da militância é consequência dos avanços no quadro da produção audiovisual. Mas a história recente do Rio Grande do Sul nos mostra o quanto ainda é frágil a nossa condição e como é muito mais fácil retroceder do que seguir adiante. Precisamos de entidades fortes e indivíduos dispostos a se dedicar a essas entidades, só assim teremos o que comemorar nos próximos 25 anos.
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Exibido na abertura da Mostra APTC 25 anos
Subsolo (2008), de Jaime Lerner
A Ăşltima estrada da praia (2010), de Fabiano de Souza
Um aceno na garoa (2006), de Mario Nascimento
Agradecimentos Agradecemos ao Fundo Nacional de Cultura – na figura de Silvio Da Rin, Secretário do Audiovisual na gestão em que este livro foi realizado – e a todos no Ministério da Cultura e na Secretaria do Audiovisual que contribuíram para a melhor realização do projeto. Também agradecemos à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, em especial ao chefe de departamento André Iriburi e ao diretor Ricardo Schneiders da Silva. Às gurias da Okna, Aletéia Selonk e Graziella Ferst. A Orlando Bona Filho (Bona Propaganda) e a Paulo Nunes (Juenemann & Associados). Aos membros da diretoria da APTC na gestão 2009-2011 e, em especial, a Cristiane Reque, Marta Biavaschi, Ramiro Azevedo e Janaína Fischer, que colaboraram na criação e execução de todo o projeto. Agradecimentos especiais aos nossos entrevistados: Ana Luiza Azevedo, Bernardo de Souza, Carlos Gerbase, Giba Assis Brasil, Guilherme Castro, Henrique de Freitas Lima, Ivo Czamanski, Jaime Lerner, João Guilherme Barone, José Pedro Goulart, Lisiane Cohen, Marta Machado, Milton do Prado e Rogério Brasil Ferrari, que abriram espaços nas suas agendas e serviram de fonte para este registro da história do cinema gaúcho.
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Carlos Scomazzon Organização e texto final
Nascido em 22 de março de 1962, Carlos Scomazzon é natural de Porto Alegre (RS), onde reside. Formado pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Social (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1991, é jornalista na Câmara Municipal de Porto Alegre, onde ingressou por concurso público em janeiro de 1999. Participa desde 1992 como associado da organização não governamental Núcleo de Ecojornalistas do RS (NEJ-RS), onde integra a diretoria e atua como repórter e editor da EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais. Em 2002, fundou a Rede Brasileira de Comunicação Pública. Trabalhou em veículos de comunicação como os jornais Zero Hora e Correio do Povo e a revista Wonderful, em Porto Alegre. facebook.com/carlos.scomazzon
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Miriam de Souza Rossini Coordenação de pesquisa
É bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1988), e licenciada e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995). Possui mestrado em Artes - Cinema pela Universidade de São Paulo (1994), e doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999). Fez Doutorado Sanduíche na França, junto à École des Hautes Études en Sciences Sociales (1999). É professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, junto ao Departamento de Comunicação, e atual Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da UFRGS (gestão 2011-2012). Suas pesquisas envolvem principalmente os seguintes temas: cinema brasileiro, cinema e história, comunicação e imagem, estudos culturais, história cultural, mercado audiovisual brasileiro.
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Pesquisa, entrevistas e redação Alunos da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS: Jornalismo Andréia Gerimias Rava Rafael Francisco Carneiro Ferreira Rafael Silveira Glória Vinícius Henrique Fontana Publicidade e Propaganda Cezar Augusto Simon Grégory Gaboardi Vieira Relações Públicas Amanda Costa Moreira Teixeira
Entrevistas adicionais Raíssa de Deus Genro
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Realização
www.aptc.org.br
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EDITORA DESTAQUE
Leia também: Fatais. Casa Verde, 128p, 2005. O tema dos contos são as fatalidades. Os autores: Caco Belmonte, Christina Dias, Filipe Bortolini, Flávio Ilha, Laís Chaffe, Luciana Veiga, Luiz Paulo Faccioli e Marcelo Spalding. ISBN:85-99063-01-4 Era uma vez em Porto Alegre. Casa Verde, 90p, 2005. Releituras dos contos de fadas, dirigidas ao público adulto, tendo a capital gaúcha como cenário. Os autores: Caco Belmonte, Christina Dias, Filipe Bortolini, Flávio Ilha, Laís Chaffe, Luciana Veiga, Luiz Paulo Faccioli e Marcelo Spalding. ISBN: 85-99063-03-0 No Orkut dos outros é colírio. Casa Verde, 78p, 2006. Contos de Caco Belmonte. Histórias breves, marcadas pelo humor corrosivo que já aparecia no livro anterior de Caco, o independente Contos para ler cagando. ISBN: 85-99063-05-7 Ampulheta. Casa Verde, 88p, 2007. Haicais da poeta Berenice Sica Lamas, com ilustrações de Laura Castilhos. Textos de apresentação de Telma Scherer e Ronald Augusto. ISBN: 978-85-99063-06-4 O melhor da festa – volume 2. Casa Verde, 152p, 2010. Contos, poemas, crônicas, quadrinhos e ilustrações dos 32 participantes da segunda edição da Festa Literária de Porto Alegre (FestiPoa), realizada em 2009. Organização: Fernando Ramos. ISBN: 978-85-99063-11-8 O melhor da festa – volume 3. Casa Verde, 264p, 2011. A obra reúne poemas, contos, crônicas, cartuns e tiras inéditas de 71 autores, alguns dos quais participaram da terceira FestiPoa (2010) e outros da edição de 2011. Organização: Fernando Ramos. ISBN: 978-85-99063-13-2
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Série
A Série Cidade Poema é voltada a poetas participantes do projeto homônimo, que, desde 2009, vem unindo a poesia às demais artes. Idealizado e coordenado por Laís Chaffe, o Cidade Poema tem o objetivo de colocar a literatura na vitrine, em ações que vão de outdoors a pequenos ímas de geladeira, de minimetragens poéticos a bolachas de chope, de performances teatrais a adesivos ilustrados em locais públicos. www.cidadepoema.com twitter.com/cidadepoemars
O livro das fraquezas humanas. Casa Verde, 80p, 2010. No primeiro volume da Série Cidade Poema, Pedro Stiehl retorna à poesia, gênero no qual havia publicado Breviário profano (IEL, 104p, 2000). Na apresentação da obra, Luís Augusto Fischer destaca “a mistura de sentimento apocalíptico e delicadeza, e a combinação entre consciência da finitude com vontade de sobreviver à morte, tudo entremeado de alguma vaga esperança de amor (...)” ISBN: 978-85-99063-12-5 Só perdoei a infância por me exigir tanto quando parei de escutar o adeus dos retratos e passei a ouvir os passarinhos que meu filho desenha num papel. Pedro Stiehl Poesia sem pele. Casa Verde, 72p, 2011. Quinto livro de poemas de Lau Siqueira, gaúcho de Jaguarão, radicado na Paraíba. ISBN: 978-85-99063-14-9 viver é delicado argumento de samba sentimento de fado Lau Siqueira
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A Série Lilliput da Casa Verde, dedicada aos minicontos, surgiu em 2005 e está em seu sexto volume. Os títulos já publicados: Contos de bolso. Casa Verde, 138p, 2005. O primeiro livro da série reúne mais de cem minicontos de 43 autores, entre eles: Amilcar Bettega, Celso Gutfreind, Daniel Galera, Leonardo Brasiliense, Luís Augusto Fischer, Luis Fernando Verissimo, Marcelo Carneiro da Cunha, Valesca de Assis, além dos escritores que se uniram para lançar o selo Casa Verde: Caco Belmonte, Christina Dias, Filipe Bortolini, Flávio Ilha, Laís Chaffe, Luciana Veiga, Luiz Paulo Faccioli e Marcelo Spalding. ISBN: 85-99063-02-2 Contos de bolsa. Casa Verde, 112p, 2006. No segundo volume da Série Lilliput, os minicontos apresentados têm como tema a mulher. São 47 autores, ente eles: Altair Martins, Caio Riter, Carlos Gerbase, Carol Bensimon, Célia Maria Maciel, Cíntia Moscovich, Cleci Silveira, Eduardo Nasi, Fernando Neubarth, Jaime Cimenti, José Eduardo Degrazia, Lourenço Cazarré, Luís Dill, Marcelo Carneiro da Cunha, Mário Pirata, Monique Revillion, Paulo Bentancur, Paulo Scott e Sérgio Napp. ISBN: 85-99063-04-9 Contos de algibeira. Casa Verde, 128p, 2007. O terceiro volume da Série Lilliput inclui colaborações de Portugal e de outros estados do Brasil, totalizando mais de cem nomes. Entre os portugueses, participam Álamo Oliveira, Alexandre Borges, Carlos Tomé, Gonçalo M. Tavares, Nuno Costa Santos. O Brasil é representado por nomes como Fernando Bonassi, Ivana Arruda Leite, Edson Cruz, Fabrício Carpinejar, Lívia Garcia-Roza, Luiz Antonio de Assis Brasil, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Ricardo Silvestrin, Sérgio Capparelli, Walter Galvani. ISBN: 978-85-99063-07-1 Contos comprimidos. Casa Verde, 120p, 2008. Cinquenta escritores, cem minicontos escritos a partir do binômio saúde-doença. Participam: Alcir Nicolau Pereira, Ana Mello, Berenice Sica Lamas, Claudia Tajes, Dilan Camargo, Ivette Brandalise, Jaime Vaz Brasil, Jane Tutikian, Marilice Costi, Marô Barbieri, Miguel Sanches Neto, Paula Taitel-
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baum, Renato Lajús Breda, Tabajara Ruas, Tailor Diniz, entre outros. Organização do escritor e médico Fernando Neubarth; apresentação de Moacyr Scliar. ISBN: 978-85-99063-08-8 Minicontos e muito menos. Casa Verde, 120p, 2009. No quinto volume da série, Laís Chaffe e Marcelo Spalding reúnem suas melhores micronarrativas, assim como outras formas breves que não se enquadrariam em uma definição rigorosa de conto. Em formato dois-em-um, o livro tem duas capas e ilustrações de Alexandre Oliveira. ISBN: 978-85-99063-09-5 Minicontando. Casa Verde, 120p, 2009. Cem minicontos de Ana Mello, editora da revista de micronarrativas Veredas. A autora começou sua trajetória literária na web, em 2002, onde já lançou três e-books e publicou mais de 250 minicontos. ISBN: 978-85-99063-10-1
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Série PoeMitos
Poemas criados a partir de mitos e lendas e dirigidos ao público infantil, em livros dois-em-um, ilustrados e com duas capas cada. Esta é a Série PoeMitos da Casa Verde e do projeto Cidade Poema. Os três primeiros livros, na verdade seis, são ilustrados por Alexandre Oliveira. Medusa e Perseu. Casa Verde, 24p (12 cada lado), 2011. Os volumes 1 e 2 da Série PoeMitos trazem poemas de Laís Chaffe (Medusa) e Ana Mello (Perseu). ISBN: 978-85-99063-15-6 e 978-85-99063-16-3 Uakti e Uiara. Casa Verde, 24p (12 cada lado), 2011. Nos volumes 3 e 4 da série, os poemas são de Alexandre Brito (Uakti) e Sandra Santos (Uiara). ISBN: 978-85-99063-17-0 e 978-85-99063-18-7 Vênus e Cupido. Casa Verde, 24p (12 cada lado), 2011. Christina Dias (Vênus) e Marô Barbieri (Cupido) são as autoras dos volumes 5 e 6 da Série PoeMitos. ISBN: 978-85-99063-19-4 e 978-85-99063-20-0
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Este livro foi composto em fontes DIN e Scala, corpo 10, e impresso na grรกfica Pallotti Santa Maria, em papel off-set 90g para a editora Casa Verde.