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3 REFERENCIAL TEÓRICO
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 CONCEITUAÇÃO DOS TERMOS 3.1.1 NEUROARQUITETURA
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Atualmente, com os avanços da neurociência, compreendemos cada vez mais o funcionamento do cérebro humano. Desde a antiguidade, pensadores como Freud já discutiam sobre o inconsciente e seus impactos no comportamento humano. Psicólogos ambientais estudam as influências que os espaços exercem sobre o comportamento desde o século XX. No entanto, suas descobertas foram baseadas em estudos empíricos, por meio da observação de como os indivíduos se comportam de maneira diferente em ambientes distintos usando o design baseado em evidências, não podendo medir reações cerebrais devido às limitações tecnológicas da época. Não conseguindo lidar com toda a complexidade da relação entre neurociência e arquitetura (PAIVA e JEDON, 2019). Hoje possuímos meios para analisar que gatilhos ativam os mais diversos sistemas neurais. Podendo medir mudanças físicas no cérebro e no corpo que ocorrem como resultado da interação entre o cérebro e o espaço construído.
O ambiente físico não afeta as pessoas igualmente. Variáveis importantes, como características pessoais (genética, memórias e experiências individuais) e o ambiente social, afetam como podemos ser influenciados. De acordo com estudos da neurociência, a capacidade de processar informações conscientemente é inferior a 1% da capacidade de processamento inconsciente (PAIVA, 2018). Ainda segundo Paiva, a maioria dos estímulos são subconscientes, por isso, as pessoas podem ser afetadas e ainda assim não estarão cientes disso.
Através de estudos neste campo e em outras de temáticas semelhantes, como a psicologia ambiental e a biofilia, podemos entender como o ambiente físico pode afetar o comportamento e o bem-estar das pessoas, mesmo que de forma limitada já que algumas formas de medições das alterações cerebrais exigem que as pessoas estejam dentro da máquina.
Paiva (2018), define a NeuroArquitetura como um método interdisciplinar, que por meio da aplicação da neurociência aos espaços construídos, visando a maior compreensão dos impactos da arquitetura sobre o cérebro e os comportamentos humanos, pode influenciar as emoções e/ou comportamentos.
Seu caráter interdisciplinar, ao incorporar elementos da neurociência aplicada, estabelece interfaces ricas com outros campos do conhecimento que, originalmente, não mantinham um amplo diálogo com a arquitetura tradicional, ampliando o campo de pesquisa sobre a relação entre o ambiente construído e seus usuários, potencializando a compreensão de diversas mensagens que esse ambiente transmite, inclusive no que se refere a níveis menos conscientes de percepção.
A maioria da população do Brasil vive em cidades (84% segundo IBGE 2010) e esse número pode aumentar. Dependendo do contexto socioeconômico ou de mobilidade, muitas famílias preferem manter suas crianças em ambientes fechados, onde passamos cerca de 90% de nossas vidas de acordo com o estudo “National Human Activity Pattern Survey” (KLEPEIS et al, 2001)
De acordo com Paiva (2018), o ambiente construído é capaz de impactar de forma consciente e inconsciente o cérebro, permitindo a mudança de comportamento no indivíduo; também é uma ciência que permite ao ser humano desfrutar sensações agradáveis ou desagradáveis. A NeuroArquitetura busca proporcionar bem-estar e saúde, aguçando áreas do cérebro, com intuito de transformar espaços físicos em lugares mais agradáveis de se viver; auxiliando arquitetos e urbanistas a projetar espaços mais eficientes e saudáveis.
Esses ambientes devem proporcionar seu uso integral por todos os seus usuários. Como descrito no documentário “O começo da vida 2” (2020) as crianças, assim como os jovens, adultos e idosos, são membros valorosos da nossa sociedade. São sujeitos de direito no presente, não no porvir. A cidade também pertence a elas. Incluí-las de forma ativa nos meios arquitetônicos e urbanísticos significa respeitá-las como atores sociais. É durante a infância que ocorrem períodos críticos de desenvolvimento, quando os indivíduos são mais vulneráveis a vários tipos de estímulos externos, como o ambiente físico (PAIVA e JEDON, 2019).
3.1.2 BIOFILIA
Biophilia é um termo adaptado por Edward Wilson (1984) para significar a tendência inata dos seres humanos (de todas as idades, localidades e culturas) de desenvolverem uma ligação emocional à vida e aos processos vivos. Como a própria composição da palavra sugere, do grego bios que significa vida e philia, amor. Em sua obra, Edward Wilson discorre sobre a ligação emocional que os seres humanos têm com outros organismos vivos e, consequentemente, com a natureza em si.
De acordo com Fonseca e Oliveira (2009, p. 6), “a Biofilia é o contato do humano com a Natureza, vai estar diretamente relacionado com a saúde e o bem-estar físico e psicológico”. De forma direta ou indireta o ser humano possui a necessidade instintiva de se manter em contato com o natural.
Evoluímos em ambientes naturais e selvagens, há mais de 100 mil anos atrás com o surgimento do Homo Sapiens, vivendo sem organização espacial em vilarejos ou cidades. O que aconteceu apenas com a Revolução Neolítica, a cerca de 12 mil anos atrás, em que os grupos começaram a deixar de ser nômades para se organizar espacialmente por conta dos benefícios trazidos pela agricultura. O homo sapiens passou em torno de 90 mil anos vivendo completamente inserido na natureza, ou seja, nosso cérebro ainda não está adaptado a vida em centros urbanos sem contato com o meio natural.
Muitos estudos apontam a nossa preferência pelo ambiente natural, ao invés do construído. As cidades ideais por exemplo são em sua maioria descritas com características não-urbanas, como o uso de vegetação abundante. O uso da própria natureza ou de elementos naturais no design biofílico se mostrou capaz de reduzir a pressão arterial e permitir a sensação de conforto através do estímulo visual (TSUNETSUGU, MIYAZAKI e SATO, 2006).
Quando questionadas, as crianças sabem dizer e expressar o que na cidade não as agrada, como por exemplo a dificuldade que é circular nas calçadas, o medo que têm dos carros que passam em alta velocidade e a falta que faz uma área verde para brincar livre. Atualmente mais de um bilhão de crianças moram em áreas urbanas pelo mundo. E estão sujeitas a falta de espaços na natureza, lugares seguros para brincar, a congestionamentos,
poluição do ar e pouco tempo ao ar livre. Para desenvolver todo o seu potencial, as crianças precisam não apenas de segurança, nutrição, saúde e ar limpo e água, mas também de muitas oportunidades para brincar e aprender com os ambientes sociais e construídos que os rodeiam. (O COMEÇO..., 2020)
A publicação “Cidades para Brincar e Sentar: mudança de perspectiva para o espaço público” (MEYER e ZIMMERMANN, 2020), traz a experiência da pequena cidade de Greishein, reconhecida como Cidade para brincar, que recuperou seus espaços públicos para serem mais atraentes para as crianças e passíveis de serem percorridos de forma autônoma pelos pequenos cidadãos. Para isto foi realizado uma série de intervenções, como a inclusão de materiais naturais; alteração na pavimentação; uso de cores para tornar o ambiente mais lúdico e marcar o caminho; e de mobiliários com dimensões adequadas para o uso de crianças de diferentes idades.
Pesquisas comprovam que, mesmo por pouco tempo, o contato com o meio natural reduz os sintomas de “transtorno do déficit de natureza”, um termo criado por Richard Louv (2016), para descrever os danos físicos e mentais causado a crianças desconectadas com o mundo natural, como por exemplo o aumento notável em distúrbio de déficit de atenção, habilidade de aprendizado, criatividade e saúde mental, psicológica e espiritual. Louv (2016) destaca que, em algumas escolas dos EUA, mais de 30% dos alunos usam Ritalina ou outros medicamentos. Quando em contato com a natureza as crianças apresentam melhora nos níveis de atenção, diminuição do estresse e da ansiedade e maior facilidade na resolução de problemas.
Fonseca (2009) explica que a biofilia proporciona duas formas de se relacionar com a natureza; através da própria presença desta no espaço, o que se classifica como contato direto, ou através de materiais e texturas que podem ou não ser naturais que remetem a uma memória genética da natureza, que seria o contato indireto. Esta relação pode reduzir a pressão sanguínea, relaxar tensões musculares, bem como aumentar a capacidade de foco. O design biofílico busca mais do que apenas trazer os elementos da natureza para o interior dos edificios, mas também criar um bom habitat para as pessoas, que ajudem a promover o bem estar e a saúde mental e física (PAIVA, 2018).