Pagu, em quadrinhos

1910

Era a terceira filha de quatro irmãos: Conceição, Homero e Sidéria, sua grande amiga e companheira.

Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo.

Aos 15 anos, estudava para se tornar professora e já era colaboradora do Brás Jornal, onde assinava com o codinome de Patsy.

Cria grande proximidade com ambos, tornando-se um tipo de “musa do Modernismo” e participando do Movimento Antropofágico. Os laços com Oswald se estreitam e um romance secreto começa entre os dois.

Com cerca de 18 anos, conhece o casal de modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.

Na mesma época conheceu o poeta Raul Bopp, que lhe deu o apelido “Pagu” por engano, pois pretendia fazer uma brincadeira com as iniciais do seu nome, que pensava ser Patrícia Goulart.

Pagu tem os olhos moles, uns olhos de fazer doer. Bate-côco quando passa, coração pega a bater. Eh Pagu eh! Dói porque é bom de fazer doer.

Seu coração, porém, batia por Oswald de Andrade.

Aos 20 anos, casou-se com o pintor Waldemar Belisário. Meses após, a união foi anulada e Pagu casou-se com Oswald, que havia se separado de Tarsila. A cerimônia foi realizada em um cemitério.

Não demorou a nascer o primeiro filho do casal: Rudá de Andrade.

Meses após o parto, Pagu viaja para a Argentina, onde conhece Luís Carlos Prestes.

A viagem incentivou seus ideais políticos e ao retornar filia-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB).

Iniciou então intensa militância.

“Achei magnífico, perfeito, lógico, justo. Vendo companheiros que se despediam como irmãos, senti um bemestar envolvente. Minha alegria se penetrava de uma fé absoluta. O proletariado brasileiro guiado por uma vanguarda daquela têmpera se libertaria, seria vitorioso, dentro de pouco tempo.”

O jornal acabou sendo fechado pelo governo.

No ano seguinte, fundou junto a Oswald o jornal “O Homem do Povo”, onde escrevia a seção “Mulher do Povo”, sempre defendendo a liberdade feminina.

“Senhoras que cospem na prostituição, mas vivem sofrendo escondidas num véu de sujeira e festinhas hipócritas e maçantes, onde organizam o hino de cornetas ligados pra todos os gozos, num coro estéril, mas barulhento.

Agosto de 1931. Praça da República, Santos-SP. Greve dos estivadores.

A polícia responde com violência. Pagu é agredida e o estivador Herculano de Souza é morto em comício, ao sair em sua defesa.

Pagu é levada ao cárcere 3 na Praça dos Andradas, dita a “pior cadeia do continente”.

É a primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos. Lá ela permanece por duas semanas.

Após mudar-se para uma vila operária no Rio de Janeiro, publica seu primeiro romance em 1933, “Parque Industrial”. A obra é considerada o primeiro romance proletário brasileiro.

O livro denuncia a dupla moral sexual, que exigia castidade e virgindade das mulheres, ao mesmo tempo em que estimulava a liberdade sexual para os homens.

No mesmo ano, parte em uma viagem pelo outro lado do mundo.

Lá, atua como correspondente internacional de vários jornais.

Na China, assistiu a coroação do imperador Pu-Yi, de quem ganha as primeiras sementes de soja a serem plantadas no Brasil.

Na União Soviética, decepciona-se com o regime implantado no país, sentimento que registrou em “Verdade e Liberdade”, publicado 17 anos depois.

“O ideal ruiu diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome.”

Continuou defendendo os ideais socialistas e filiou-se ao Partido Comunista na França, foi presa e quase foi deportada para a Alemanha Nazista.

De volta ao Brasil, separou-se de Oswald de Andrade e retomou as atividades como jornalista.

Seus posicionamentos políticos renderam-lhe nova prisão.

Foi torturada por ser comunista e após dois anos fugiu ao ser internada no hospital, doente e debilitada.

Capturada, cumpriu mais dois anos e teve um acréscimo de seis meses na pena por negar-se a cumprimentar o representante do presidente Getúlio Vargas, Adhemar Barros, que visitava o presídio.

Aos 30 anos saiu da prisão, doente e pesando 44kg. Rompeu definitivamente com o PCB, que não teria a apoiado durante seus anos de militância e prisões.

Deprimida, tentou suicídio com um tiro, mas sobreviveu.

“Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas.”

Em 1941, casou com o jornalista, amigo e companheiro Geraldo Ferraz, com quem teve seu segundo filho, Geraldo Galvão.

Nos anos seguintes, trabalhou em vários jornais cariocas e paulistanos. Também foi grande incentivadora da cultura, sendo uma das responsáveis pela construção do Teatro Municipal de Santos e entusiasta do teatro de vanguarda, de grupos amadores e de jovens atores.

Aos 52 anos, voltou a Paris para fazer uma cirurgia em decorrência de um câncer. O processo não foi bem sucedido e Pagu voltou a tentar suicídio.

“O escritor da aventura não teme a aprovação ou reprovação dos leitores. É-lhe indiferente que haja ou não da parte dos críticos uma compreensão suficiente.

O que lhe importa é abrir novos caminhos à arte, é enriquecer a literatura com germens que venham talvez a fecundar a literatura dos próximos anos.”

“Por que vocês não vão ler Tarzan, hein? Pelo menos principiariam sabendo que existe uma coisa chamada aventura, descoberta, audácia.”

Viveu até dezembro daquele ano de 1962. Na véspera de sua morte, escreveu seu último texto, publicado em “A Tribuna”, o poema “Nothing”: “Abri o meu abraço aos amigos de sempre. Poetas compareceram.

Alguns escritores.

Gente de teatro.

Birutas no aeroporto. E nada.”

“Sonhe. Tenha até pesadelos se necessário for. Mas sonhe”

Patrícia Galvão, Pagu (1910 – 1962)

“Pagu tem os olhos moles Uns olhos de fazer doer Bate-côco quando passa Coração pega a bater Eh Pague eh!

Dói porque é bom de fazer doer” Raul Bopp (1898 - 1984) Patrícia Rehder Galvão encantou o poeta Raul Bopp e aqueles que a conheceram não só por sua beleza, mas principalmente por sua personalidade. Mulher independente, buscava a liberdade, a aventura, o conhecimento.

Lutou por seus ideias durante toda sua vida, e sofreu as consequências disso. É considerada a primeira mulher a ser presa no Brasil por motivos políticos.

Com o sofrimento dos diversos cárceres por onde passou, foi moldando seu caráter. Sem medo de refletir, de mudar, de recomeçar.

Não estava livre, no entanto, das tristezas que afligem o ser humano que se propõe a pensar, a ousar, a questionar.

Jornalista, escritora, tradutora, desenhista, diretora de teatro, poeta, artista, militante política, mãe.

Pagu é uma mulher que marcou época e escreveu seu nome na história.

Desenvolvido por: Caroline Motta - Roteiro e Diagramação Teófílo Menezes Jr. - Ilustração Beatriz Motta - Cor e Design Gráfico Abril de 2017 www.mulhereshq.com.br