A evolução do conceito de átomo e os primórdios da química moderna

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A Evolução do Conceito de Átomo e os Primórdios da Química Moderna Michael Fowler Universidade de Virgínia Conceitos da Grécia Antiga Os primeiros pensadores de que há registo a formular uma teoria atómica foram dois gregos do século V a.C., Leucippus de Miletus (uma cidade que agora pertence à Turquia) e Demócrito de Abdera. As suas teorias tinham um ponto de partida naturalmente mais filosófico do que experimental. A ideia base era a de que se conseguirmos observar a matéria em escalas cada vez mais pequenas (e eles obviamente não conseguiam), iremos ver, por fim, átomos individuais - objetos que não podem ser divididos (essa era a definição de átomo). Tudo era constituído por estes átomos, que se moviam no vazio (vácuo). As diferentes propriedades físicas - cor, paladar, etc. - dos materiais ficavam a dever-se ao fato de os átomos terem diferentes formas e/ou arranjos ou orientações diferentes uns em relação aos outros. Tudo isto era baseado em suposições, mas o retrato físico que descrevem por vezes parece estranhamente preciso. Por exemplo, numa citação de Lucrécio, um contemporâneo de Júlio César sobre as ideias de Epícuro, um seguidor de Demócrito: Observa atentamente quando os raios de luz do Sol entram e iluminam os recantos escuros das casas ... verás que muitos, ao impulso de choques invisíveis, mudam de direção, e, repelidos, voltam para trás, para um lado, para outro, de todas as direções e em todo o lado. Deverás saber que este movimento inconstante se deve, todo ele, aos átomos*. Efetivamente, são os próprios átomos os primeiros a se moverem por si mesmos; vêm depois os corpos cuja composição é reduzida e que estão, digamos assim, mais perto de forças atómicas, que se movem impelidos pelos choques invisíveis destas últimas, e, por seu turno, põem em movimento os que são um pouco maiores. Assim o movimento passa desde os átomos e a pouco e pouco chega aos nossos sentidos, até que se movem aquelas mesmas coisas que podemos ver na luz do Sol, embora permaneçam invisíveis os choques que os causam. (*chamados de "elementos primordiais" por Lucrécio - a que vamos chamar "átomos", o significado é o mesmo.) Será possível que estes joves gregos possuíssem uma visão suficientemente apurada para conseguirem ver os Movimentos Brownianos? (Veja o ficheiro HTML anexo a este documento com a simulação do movimento Browniano.) Estes filósofos gregos acreditavam que os átomos estão em constante movimento, pelo menos para os gases e os líquidos. Por vezes, contudo, como resultado das suas formas fechadas, juntam-se firmemente, formando materiais como a rocha ou o ferro. Basicamente, Demócrito e os seus seguidores tinham uma ideia muito mecânica do universo. Pensavam que todos os fenómenos naturais podiam, por princípio, ser compreendidos pela interação, principalmente pelo movimento, entre os átomos. Esta visão não deixou espaço para a intervenção divina. A sua representação atómica incluía a mente e até a alma, que portanto não sobreviveria à morte. Esta era, de fato, uma alternativa às religiões populares da época, nas quais os deuses intervinham constantemente, frequentemente de formas pouco agradáveis, e a morte era para ser temida pois os castigos certamente se seguiriam. Poucos progressos foram feitos no que toca à teoria atómica, nos dois mil anos seguintes, em grande parte porque Aristóteles a desacreditou, e as suas visões prevaleceram até ao fim da Idade Média. Galileu


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