Meteoritos caídos em Portugal

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METEORITOS CAÍDOS EM PORTUGAL Ana Paula Silva Correia , José Rodrigues Ribeiro e Ana Isabel Ribeiro 1

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1Escola Secundária c/ 3º ciclo de Henrique Medina, Esposende 1INEB – Instituto de Engenharia Biomédica, Porto; ISPUP – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

Calcula-se que anualmente uns 500 meteoritos atinjam a superfície terrestre, embora habitualmente menos de uma dezena seja recolhida. Portugal, obviamente, também não escapa a esse fenómeno, pelo que se apresentam os oito casos comprovados de meteoritos encontrados até à data no nosso país. 1. TASQUINHA Meteorito rochoso Local e data da queda: Tasquinha, Évora Monte (Estremoz), 19 de fevereiro de 1796. Descrição: Um único meteorito com a massa de 4,8 kg, que se partiu em dois pedaços com o impacto no solo. A queda deu-se por volta das 14 horas e foi precedida de grandes explosões. A pedra era cor de chumbo e estava ainda quente quando foi encontrada. Museus e coleções: Desconhece-se o paradeiro do meteorito.

2. PICOTE Meteorito rochoso Local e data da queda: Picote (Miranda do Douro), finais de Setembro 1843. Descrição: Três pedras meteóricas, duas das quais tinham as massas de 1125 g e de 440 g. A cor das pedras era cinzenta escura. Museus e coleções: Desconhece-se o paradeiro do meteorito, suspeitando-se que tenha sido vendido para Espanha.

3. S. JULIÃO DE MOREIRA Meteorito metálico, octaedrito Local e data da queda: A queda não foi observada, mas ocorreu possivelmente há cerca de 770 000 anos, em Moreira do Lima (Ponte de Lima). O meteorito foi encontrado em 1877. Descrição: Um único meteorito, com a massa de 162 kg, de forma quase esférica e com cerca de 35 cm de diâmetro, que depois foi dividido em muitos pedaços. Estava coberto com uma espessa camada de ferrugem e enterrado num terreno agrícola da Quinta das Cruzes, a 1,2 metros de profundidade, quando a terra estava a ser preparada para o plantio de vinha. Museus e coleções: Em Portugal, confirmados há apenas alguns fragmentos, que totalizam cerca de 600 g, no Museu de Mineralogia do Instituto Superior Técnico (Lisboa) e na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Exemplares de maiores dimensões podem ser encontrados, entre outras, nas seguintes coleções públicas: Naturhistorisches Museum (Viena), Field Museum (Chicago), National Museum of Natural History (Washington), American Museum of Natural History (Nova Iorque), Museu de História Natural da Hungria (Budapeste), Museu de História Natural (Oslo), Bally Museum Foundation (Schönenwerd, Suíça) e Natural History Museum (Londres).

4. OLIVENZA Meteorito rochoso, condrito Local e data da queda: Olivença (Espanha), 19 de junho de 1924. Descrição: O meteorito dividiu-se em muitos fragmentos com a massa total de uns 150 kg. Embora a maioria tenha caído em Espanha, foram vários os fragmentos que caíram em Portugal. O bólide (acompanhado de intensos ruídos e de um grande clarão) começou a ser avistado nas proximidades da Serra da Estrela, seguindo o rumo NW-SE e atravessando os distritos de Castelo Branco, Portalegre e Évora, antes da massa principal ter caído a cerca de 3 km de Olivença. Muitas pessoas, assustadas com o estrondo provocado pela entrada do bólide na atmosfera, fugiram para a rua, umas pensando que era um tremor de terra e outras, que era um “castigo de Deus”. Em Olivença, o meteorito caiu a poucos metros de quatro irmãos que estavam a colher chícharos num campo e ficaram paralisados com o susto. Museus e coleções: A maior colecção (5 fragmentos com um total de 50 kg) encontra-se em Madrid, no Museo Nacional de Ciencias Naturales. Em Portugal, existem exemplares no Museu Nacional de História Natural (Lisboa), Museu Mineralógico da Universidade de Coimbra, Museu de História Natural do Porto e Museu de Elvas. Outros exemplares podem ser vistos no Muséum National d’Histoire Naturelle (Paris), no American Museum of Natural History (Nova Iorque), no Natural History Museum (Londres), no National Museum of Natural History (Washington) e em vários museus e instituições científicas espanhóis, assim como na posse de colecionadores.

5. CHAVES Meteorito rochoso, howardito Local e data da queda: Vilarelho da Raia (Chaves), 3 de maio de 1925. Descrição: Cerca das 17 horas, foi avistado na Régua, Pinhão, Murça, Vila Pouca de Aguiar e noutras localidades um bólide no sentido Sul-Norte, sentindo-se ao mesmo tempo uma fortíssima detonação, que fez estremecer as casas. Em Vila Real pensaram que era um tremor de terra e a população, alarmada, saiu para as ruas. O bólide fragmentou-se ao entrar na atmosfera, tendo-se recolhido três pedras, com a massa total de 2945 g. Tal como os restantes howarditos conhecidos, é proveniente do asteróide Vesta, consequência de um grande impacto que escavou nesse asteróide uma cratera com 500 km de diâmetro e 19 km de profundidade. Museus e coleções: O maior exemplar (2,4 kg) encontra-se no Museu do Instituto Superior de Engenharia do Porto, havendo fragmentos menores na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. O Natural History Museum (Londres), o Muséum National d’Histoire Naturelle (Paris), a Universidade de Harvard (EUA), o American Museum of Natural History (Nova Iorque) e algumas coleções particulares dispõem de pequenos exemplares.

6. MONTE DAS FORTES Meteorito rochoso, condrito Local e data da queda: Monte das Fortes (Ferreira do Alentejo), 23 de agosto de 1950. Descrição: Caiu ao fim da tarde, sendo a queda acompanhada de uma grande explosão, seguida de outras mais fracas. O meteorito dividiu-se em muitos fragmentos, que se espalharam numa área de 6 km2. A massa total do meteorito é desconhecida. Museus e coleções: A maior colecção encontra-se no Museu dos Serviços Geológicos de Portugal: cinco fragmentos com a massa total de 4,9 kg. Exemplares menores podem ser vistos no Muséum National d’Histoire Naturelle (Paris) e no National Museum of Natural History (Washington).

7. JUROMENHA Meteorito metálico, ataxito Local e data da queda: Juromenha (Alandroal), 14 de novembro de 1968. Descrição: Um só meteorito com a massa de 25 kg. Caiu ao fim da tarde, na herdade das Tenazes, a cerca de 30 metros do hortelão e do guarda da herdade, abrindo uma cratera com 80 cm de profundidade. A queda foi acompanhada de um grande estrondo e de clarão. Foi primeiro recolhido no quartel da Guarda Fiscal do Alandroal, depois seguiu para a GNR de Évora e só mais tarde para o Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Museus e coleções: Encontra-se depositado no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa. Há pequenos fragmentos no National Museum of Natural History (Washington), no American Museum of Natural History (Nova Iorque) e em coleções particulares.

8. OURIQUE Meteorito rochoso, condrito Local e data da queda: Aldeia de Palheiros (Ourique), 28 de dezembro de 1998. Descrição: Cerca da uma hora da madrugada, próximo da Aldeia de Palheiros, 6 km a sul de Ourique, foi visto um grande clarão no céu, ao mesmo tempo que se ouviram dois estrondos. Muitos pensaram que era trovoada, mas na manhã do dia seguinte os residentes descobriram pequenas crateras e algumas pedras. O meteorito dividiu-se em muitos fragmentos, supondo-se que a massa total atinja 30 kg. A maior parte não foi recolhida: alguns pedaços foram vendidos a turistas e outros, guardados em casa pelos residentes. Museus e coleções: No Museu Nacional de História Natural (Lisboa) existe um exemplar com 2,6 kg. Fragmentos mais pequenos (totalizando cerca de 2 kg) encontram-se no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. No Natural History Museum (Londres) há um fragmento de 83 g. Várias coleções particulares também possuem pedaços do meteorito.

DOCUMENTAÇÃO CONSULTADA LIVROS E ARTIGOS BUCHWALD, V. F. “Handbook of Iron Meteorites” University of California Press, 1975. GALOPIM DE CARVALHO, A. M. e MONTEIRO, J. F. “A propósito do meteorito de Ourique” Museu Nacional de História Natural, 1999. (oferta da Câmara Municipal de Ourique) JEREMINE, E. “Description de la chondrite de Monte das Fortes (Portugal) et quelques remarques sur les meteorites portugaises en géneral ” Comm. Serv. Geol. Port., XXXV, 5-24, Lisboa, 1954. MONTEIRO, J. F. “Meteoros e meteoritos , importância do seu estudo” ed. Autor, Porto, 1999. (oferta do autor) NAVARRO, L. F. “El meteorito de Olivenza (Badajoz)” Trab. del Mus. Nac. de Cienc. Nat. - Ser. Geol. , 35, 5-27, Madrid, 1925. SERPA PINTO, R. “Resenha dos meteòritos caídos em Portugal” A Terra, 3, 45-49, Coimbra, 1932. TEIXEIRA, C. “História de um meteorito. O ocataedrito de Moreira do Lima” Mem. Acad. Ciênc. Lisboa, XII, 213-221, Lisboa, 1968.

BASES DE DADOS E COLEÇÕES DE METEORITOS THE CATALOGUE OF METEORITES, Natural History Museum (London) METEORITICAL BULLETIN DATABASE, The Meteoritical Society R. A. LANGHEINRICH MUSEUM OF METEORITES (http://www.nyrockman.com/museum)

COLEÇÕES DE JORNAIS A COMARCA DE ARGANIL Digital, Arganil Município Biblioteca Nacional de España, Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional de Portugal, BN Digital Biblioteca Pública Municipal do Porto Diário de Trás-os-Montes online Fundação Mário Soares, Arquivo e Biblioteca Hemeroteca Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital PÚBLICO online Univ. of Massachusetts, Darmouth, Claire T. Carney, Library, Portuguese-American Digital Newspaper Collections

Aceite para publicação em 30 de janeiro de 2015


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