O DESVIO PRIMORDIAL: O ACASO INCORPORADO NA MÁQUINA DO MUNDO Raquel Campos
A máquina do mundo tem, mais do que nunca, que ser repensada. Nosso futuro incerto impõe questões essenciais à vida e ao seu funcionamento. Haroldo de Campos, em A máquina do mundo repensada (2000), se propôs a procurar respostas para tais questões, mantendo vivo um diálogo com Dante, Camões e Drummond, em suas tentativas poéticas anteriores de retratar e decifrar a máquina. O livro de Haroldo foi publicado há vinte anos e muito se passou neste início de século. Uma destruição contínua de direitos, de garantias, do meio ambiente parece-nos levar ao temido Big Crunch – o Grande Colapso – que, na teoria, seria uma contração absoluta do universo e, na prática, parece ser gerado muito mais por causas humanas do que cosmológicas. Haroldo de Campos consegue unir, em seu poema, arte e ciência, poesia e física, vida e morte, entrelaçando-as numa rede analógica de significados múltiplos e interconectados. Uma existe no espaço da outra e as fronteiras se tornam incertas e instáveis. A obra é dividida em três cantos – como nas três partes da Comédia dantesca – e sua estrutura também é influen105