DÉCIO PIGNATARI:
CRÍTICO DE LINGUAGENS Omar Khouri
Se houve uma concordância geral, tanto de amigos e aficionados, como de desafetos (e estes, como aqueles, proliferaram ao longo de décadas), foi quanto à inteligência fulgurante de Décio Pignatari (1927-2012), que se manifestou em sua atividade crítica, propriamente, na da polêmica e como docente. Pignatari viveu um período, no Brasil, em que ainda se lutava por ideias e isto foi o que sempre o norteou, mesmo em época de maturidade, em que se observou um arrefecimento do espírito de luta, e desânimo com relação à questão ‘Brasil’, e em que vanguardas praticamente inexistiam, ou seja, a formação de “grupos” passou a ser coisa rara ou mesmo inexistente. Nada era pacífico para alguém que sempre primou pela radicalidade. Lá pelos idos dos ‘90, século passado, tendo observado uma narração, pela TV Globo, do Carnaval carioca, na Marquês de Sapucaí, uma descrição frouxa e insípida, sem nenhuma substância, a escritora Samira Chalhub falou: “Fosse um Décio Pignatari e teríamos lascas de brilho, paradoxos, material para pensar, passaríamos por um verdadeiro processo de aprendizado. O cara, de facto, é capaz de tirar leite 32
de pedra!” Isto indiciava o alto e vasto repertório, a capacidade de discernimento e de verbalização de Décio Pignatari que, em muitas ocasiões, bradou pelo não-verbal, pelo icônico, contra a tirania do verbo, mas que possuía um desempenho verbal oral (e a sua contrapartida escrita) como poucos, neste País! Tendo conhecido pessoalmente Décio Pignatari em fins de 1974, inícios de ‘75, pude, ao longo de quase 4 décadas, ter o privilégio de tê-lo como interlocutor sendo que, em verdade, eu mais ouvia do que falava. Ninguém saía de uma conversa, uma aula, a leitura de um seu texto – fosse metalinguístico, fosse poético – sem ter o que pensar ou mesmo re-pensar. Cheguei a organizar uma série de ditos do Mestre, que traziam algo de inusitado, de paradoxal, trabalho que um dia deverá ser publicado. Assisti a duas palestras de Décio Pignatari nos últimos de seus anos: uma na Casa das Rosas – Hora H 14.08.2009 – sobre a qual anotei em minha agenda: “Discurso ácido sobre a incompetência brasílica – generalização”. A outra em 07.10.2009, no SEMPRE UM PAPO, SESC-Vila Mariana: “Ainda brilha o astro!” O tema era ‘O fim da literatura’. Cerca de ano e meio depois, Décio