HAROLDO DE CAMPOS EM TRÊS TEMPOS
A CRÍTICA INTERNACIONAL Gustavo Reis Louro
Passados mais de quinze anos da morte de Haroldo de Campos, a bibliografia crítica sobre o cofundador do concretismo e um dos poetas mais importantes do século passado já não está, é preciso reconhecer, em estado incipiente. Parte da responsabilidade talvez seja do próprio Haroldo, que foi um prolífico crítico e teórico da literatura, e que frequentemente tomava como objeto principal de estudo, seus próprios escritos. Vários de seus textos mais desafiadores e herméticos, como Galáxias e Finismundo, a última viagem, se fizeram acompanhar de um aparato crítico de autoria do próprio Haroldo, que ajuda a desbravar o labirinto textual haroldiano. Quando um autor fala da própria obra com tanta desenvoltura e propriedade, os demais críticos podem se sentir intimidados, principalmente quando o autor em questão é Haroldo, que foi um dos intelectuais mais completos de sua geração. Outro fator é o excesso de polêmica que ainda ronda os poetas concretos em geral, e Haroldo em particular. Os que se aventuraram a escrever sobre eles são, em grande parte, seus seguidores, gente 60
que teve sua formação conduzida diretamente por ele, muitos dos quais ex-alunos seus no Programa de Semiótica da PUCSP. Quando se põem a falar sobre o antigo mestre, seus textos muitas vezes apenas parafraseiam os de Haroldo. No outro extremo, estão os (muitos) desafetos que os poetas concretas coligiram ao longo dos anos com sua atuação polemista. Entre eles, estão Affonso Romano de Sant’Anna e Roberto Schwarz, que embora críticos respeitáveis em suas respectivas áreas, avançaram contra os poetas concretos com uma postura por vezes preconceituosa e alheia aos pressupostos estéticos e filosóficos dos concretistas. Felizmente, essa postura vêm mudando. Recentemente, surgiu uma nova geração de estudiosos da obra de Haroldo, que embora tenha se formado com a leitura assídua dos concretos não foi tutelada por eles, e é capaz de produzir uma crítica instigante e independente. O maior exemplo, talvez, seja o do poeta e professor da Unicamp, Marcos Siscar, autor de um volume da Coleção Ciranda de Pedra (Eduerj), dedicado à poesia da maturidade de Haroldo