O “MERETRILHO” DE MARIA DO CARMO:
MULHERES E POESIA CONCRETA NO BRASIL DOS ANOS 50 AOS 60 Felipe Paros
Algum aficionado por poesia concreta que venha a folhear as páginas das cinco edições da antiga revista Noigandres (1952 – 1962), poderá reparar, para além de poemas fundamentais do Movimento da Poesia Concreta, em uma ausência: mulheres não fizeram parte do grupo homônimo e não se uniram às falanges do movimento. É um fato curioso, e ainda passível de estudo. Seria, como afirmou o poeta experimental e pesquisador Omar Khouri, “uma questão das mulheres que dele não se aproximaram”?1. Para Khouri, “a questão não é bem do Concretismo brasileiro”2, ressaltando em Portugal a presença das poetas Salette Tavares e Ana Hatherly como praticantes e divulgadoras da Poesia Experimental Portuguesa, a qual teve conexões com o Movimento da Poesia Concreta no Brasil pelo menos em seus inícios. Lá, segundo o poeta experimental
português Fernando Aguiar, podemos considerar como marco inicial desse tipo de experimentalismo a publicação em 1958 do poema “Solidão”, de José-Alberto Marques, com características concretas (KHOURI: 2018, p. 39). Mas uma pequena antologia de poesia concreta do Grupo Noigandres também foi publicada pela Embaixada do Brasil em Lisboa em 1962 – mesmo ano em que Ernesto M. de Melo e Castro publicou o seu livro Ideogramas (Idem). Melo e Castro manteve relações duradouras com os poetas concretos brasileiros, principalmente Décio Pignatari e Haroldo de Campos, mas antes disso ainda, Ana Hatherly publicou um pioneiro artigo sobre poesia concreta no “Diário de Notícias”, juntamente com um poema também concreto (Figura 1) em 1959 (Ibidem), o qual, até recentemente, acreditava-se ter sido o primeiro em terras lusitanas. 71