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Fernando Jesus Nogueira Catossi - Jundiaí/SP

O falso VIRA FATO

Fernando Jesus Nogueira Catossi - Jundiaí/SP

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Perene insegurança que acompanha os corações Quando as orações não afugentam seus demônios Virtude simulada que se esvai num mero instante Fé de quem só crê no que convém aos seus caprichos Fugindo não vê portas que o garantam segurança Nem mares tão profundos que seus medos não naveguem Faz da realidade um mero jogo de ilusões Onde habitam seres que a razão não reconhece Como se esquivar do que não se pode entender? Como não temer o próprio passo quando cego? Força e devaneio se confundem na coragem Daquele que tropeça nos percalços da loucura A luz de um amanhã que se comporta como esporas Na dúbia condição que testa aquele que se perde Temendo nunca mais achar caminhos pra si mesmo Imerso no que entende como sendo seu destino Pois mundos são criados quando a mente assim o quer E olhos que se fecham dão passagem para os sonhos Tênue sintonia entre o delírio e o equilíbrio Dando ao impossível tons e cores tão reais Insólitas veredas que amortecem paradigmas Trincam os alicerces da vontade mais ferrenha Poder que tira as rédeas do mais hábil cavaleiro Deixando-o galopar até que atinja o precipício É quando o vento sopra e lhe desperta num instante Batendo sobre o rosto como um tapa que orienta Revelando o quanto é frágil a palavra “destemor” Quando se define como aba da arrogância Fossas de um abismo sempre escuro e taciturno Voragem tão faminta por sequelas da existência Almas que se entregam em voluntário sacrifício Buscando nesse vórtice a verdade embrionária

Rouco pelos gritos de quem sente o desamparo Perdido em labirintos num contexto inescapável O ser que se dizia tão repleto de princípios Chora de joelhos desejando o próprio fim Jaz aniquilado e alvo fácil dos tormentos Que sempre o perseguiram nos confins de seu juízo Minando cada impulso de manter-se equilibrado Forjando uma corrente que parece indestrutível Pois fracas são as pernas que sustentam a raça humana Herança dos covardes que fugiram pra viver Quando, no passado, confrontados pela morte Teceram na desonra sua própria salvação Genes que se arrastam pelos cinco continentes Compondo gerações de mentes frágeis e agitadas Atadas a crendices e reféns do imaginário Que serve de alicerce pra qualquer superstição O falso vira fato quando é o tempo que o profere Pois traz subentendido o que há de mais oculto Eleva o seu sentido para um plano incontestável Rabisca suas verdades pelas páginas da história Surgem novos deuses no horizonte das quimeras Surgem novas penas que o Universo nos aplica Bolhas de sabão que vagam soltas pelo ar Largando para trás um fino rastro de incertezas Fraco e desprovido de um juízo que o sustente O homem se encaminha para o fel do desespero Desprende-se dos elos que embaraçam sua conduta Cético, se lança nos confins da imprecaução Não mais se vê cativo do que os olhos não enxergam Nem crê no que suas mãos estão distantes de tocar Perambula pelas ruas, tão vadio quanto um mendigo Sentindo a liberdade e o desalinho que ela oferta E cada instante verga sob o peso do imprevisto Infância que se perde quando a morte é descoberta Levando para o limbo as ilusões que a definiam

Deixando uma saudade bem difícil de esquecer Agora nada em águas tão mais fortes que seus braços E os gritos se acomodam na garganta emudecida Almeja desprender-se de seus dias sobre a Terra Se pra isso não faltasse o sangue frio de um suicida Febre realista que jamais serviu de amparo Quando o que se busca está distante da matéria Dita sua sentença em concretismos ortodoxos Galho que, de rígido, sucumbe à ventania Vê nos pormenores os caprichos do acaso Alheio ao que lhe foge dos limites do intelecto Mesmo que esse mesmo inda se encontre enclausurado No ventre primitivo de uma infante humanidade O que de seu conserva são perguntas sem contexto Tão vagas que lhe escapam como areia sobre as mãos Pairam no deserto das pretensas soluções Calam-se nas drogas que amortecem a consciência Nada que o liberte ou dê-lhe paz durante a noite Apenas um engodo que acoberta os seus gemidos A luz que ofusca a vista antes de dar-lhe nitidez Morfina para os ossos corroídos pela luta Mas, quando num abismo, todo alvor sempre é bem-vindo Se faz cicatrizar o corte aberto que o lacera E fácil é se apegar ao que afugenta a provação Se a chaga se comporta como um travo indesviável Estrelas que se alinham e orientam o navegante Que já se despedia da esperança moribunda Nos lábios ressecados e na fronte atormentada Ou lágrimas de orgulho embaraçadas ao suor Levados pelo vento vão-se empáfia e pedantismo Quando mãos em bolhas não suportam mais os remos Solto e à deriva, a sorte agora vira bússola E preces sufocadas ganham sons em sua garganta Refúgio irresistível pra quem teme o seu desfecho Ventre que o recebe sempre que lhe faltam forças

Conforto a quem não mais lembrava os tons de uma cantiga Pão pra quem a fome era uma ingrata companhia Profícua transição que traz à tona os afogados E eleva um simples gesto à condição de epifania Quebrando o que entendiam como sendo inquebrantável Brilhando em céus noturnos chamas tidas como mortas Ciclos que se estendem e sobrevivem na desordem Minando a confiança de quem busca a eternidade Inábeis jogadores numa arena transitória Que se faz rarefeita a cada instante que a transpassa Valores se desligam da pretensa probidade Virtudes se transformam em matizes da demência Cartas de um castelo que jamais se esquivarão Do sopro que os milênios nunca deixam de emitir.

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