Agricultura Vertical

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AGRICULTURA VERTICAL

Catherine Palis



AGRICULTURA VERTICAL

cATHERINE pALIS

oRIENTADOR:

fRANCISCO GIMENES

estรกcio - UNISEB



SUMÁRIO 1- Introdução

2- Um parasita chamado homem

0 3- Agricultura Urbana

4- Referências Projetuais

5- Proposta


Introdução As primeiras cidades surgiram a partir da busca do ser humano por se refugiar do desconhecido, do medo e da natureza. A busca por abrigo, calor, e alimento foram os fatores primordiais na fixação dos grupos para que a partir daí surgissem as cidades. Portanto, para garantir o alimento, os homens escolhiam lugares próximos de rios onde não faltasse água para a população, para o cultivo agrícola e para criação de animais.

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Fig 1: ilustração representando a agricultura e a criação de animais de uma cidade que se desenvolveu entorno do Rio Nilo no Egito antigo. Percebe-se ao fundo a representação do Nilo.

A humanidade foi mudando, e as cidades se transformando. Durante a revolução industrial, houveram muitas inovações na área da maquinaria, e portanto houve também uma importante evolução do transporte, que culminou no distanciamento cada vez maior das áreas agrícolas com as urbanas. O alimento agora podia ser transportado pelas locomotivas a vapor. A tecnologia da comunicação e transporte evoluíram, e aos poucos as distâncias “diminuíram”. A cada mudança, a cidade se renovava e crescia. Logo apareceria uma nova tecnologia que mudaria drasticamente nossa relação com o meio, diminuindo ainda mais as distâncias, levando a globalização a outro nível: A internet. Com a internet o acesso rápido às informações acelerou o avanço da tecnologia, e a sociedade passou a mudar mais rapidamente.

Fig 3: Ilustração representando as ligações entre pessoas em diferentes partes do globo, se comunicando e compartilhando informações graças a internet.


Sociedade do compartilhamento

"No crescente impacto do processo de globalização, a reestruturação econômica e as novas tecnologias são as grandes forças transformadoras que afetam o mundo contemporâneo”

(LEITE, Carlos – Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes, p.70)

Fig 2: logos de programas que facilitam a comunicação, graças a Internet.

*Peering = compartilhamento global As pessoas participam da economia como nunca antes. Novas formas de colaboração em massa estão mudando a maneira como bens e serviços são inventados, produzidos, comercializados e distribuídos globalmente.

Na década de 1990, passamos pelo período de expansão da internet. Junto dela, surge um mundo global e diverso no séc.XX que ganha maior dinamismo no séc XXI, e assim tudo que conhecemos acerca de tecnologia, meios de produção, comércio, criação e distribuição de bens e riquezas está se tornando rapidamente obsoleto. Como o economista Jeremy Rifkin disse em uma entrevista sobre seu livro “A sociedade do custo marginal zero: a internet das coisas, os bens comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo”: a internet gerou um ‘3ª Revolução Industrial’, uma revolução no tempo/espaço, no custo de produtos, e a interferência direta na economia. Além de mudar a forma de pensar das novas gerações. A internet está gerando rápidas e importantes mudanças na economia e na sociedade o que interfere no meio urbano. São inúmeros os exemplos cotidianos que podemos utilizar para demonstrar essa mudança que está afetando socialmente e economicamente o mundo. Até pouco tempo atrás, a principal forma de comunicação com outra pessoa distante era o telefone. Hoje existe o Skype, redes sociais como o Facebook e também o whatsapp para o caso de mensagens rápidas. A internet possibilitou o acesso a informação mais rápido e facilitado, e isto gerou avanços em várias áreas da tecnologia. Os usuários também procuram cada vez mais facilitar o acesso da informação para que mais pessoas possam acessá-la. Isto também se refere a serviços, músicas, filmes, livros etc. Colaboradores do mundo inteiro (peers) contribuem na criação de bens e serviços em vez de simplesmente consumirem o produto final. Empresas inteligentes estão estimulando em vez de combater tais eventos, percebendo os benefícios da colaboração em massa,

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esse novo modo de organização acabará por substituir as estruturas empresariais tradicionais. A colaboração em massa se baseia em indivíduos e empresas utilizando computação e tecnologias de comunicação para alcançar resultados compartilhados, através de associações voluntárias livres. A nova era prenuncia mais oportunidades econômicas para indivíduos e empresas, assim como maior eficácia, criatividade e inovação na economia como um todo. Com a abordagem certa, as empresas podem obter taxas mais altas de crescimento e inovação, aprendendo como interagir e criar junto com uma rede dinâmica e cada vez mais global de colaboradores. A transparência é uma poderosa e nova força para o sucesso das empresas. Os funcionários de companhias abertas confiam mais uns nos outros e na empresa, o que resulta em custos mais baixos, melhor inovação e mais lealdade. Porém, nem todas as empresas perceberem e conseguiram seguir com a nova era digital, e muitas estão entrando em colapso. Assim, percebemos que a sociedade do consumo está fadada ao esquecimento. Cada vez mais, as novas gerações se preocupam em conseguir acesso a serviços e compartilham informações para facilitar este acesso, até mesmo a serviços como o surgimento de aplicativos de carona, serviços de táxi, grupos de práticas esportivas etc. O consumo exagerado é insustentável, as pessoas criam dívidas, ficam obesas e possuem menos tempo livre, para que possam pagar suas dívidas e gastarem mais, além dos danos ambientais que são gerados pelo consumo excessivo. Fig 4 e 5 : cenas do filme "Wall -e", da Disney, onde o mundo se tornou inabitável devido a quantidade de lixo gerada pela humanidade que precisou sair do planeta para sobreviver, que mantendo o modo de vista consumista da sociedade capitalista que vivemos, se tornou uma espécie obesa.


“ Elas são tão parecidas com seres humanos que nos constrangem. Elas cultivam cogumelos, criam pulgões como rebanho lançam exércitos em guerras, utilizam sprays químicos para dar o alarme e confundir seus inimigos, capturam escravos... E trocam informações sem parar... fazem de tudo menos ver televisão.” (Lewis, Thomas – Cidades para um pequeno planeta, p. ii)

O consumismo exagerado nada mais é do que o reflexo de uma cultura que trazemos desde a 2ª Revolução Industrial, que transformou os meios de produção, tornando mais acessível uma série de produtos. Nesta época é que nós humanos, passamos a desejar cada vez mais objetos que não eram realmente necessários, a contínua produção de novidades e a propaganda envolvida neste processo nos fez acreditar que precisávamos consumir para sermos felizes. Este consumo e produção exagerados, ao decorrer do tempo acabou por esgotar (ou próximo disso) uma série de recursos naturais do planeta. Movimentos ambientalistas aparecem na década de 1960. Em 1979 é lançado “Mad Max” filme de ficção que se passa em um mundo pós- apocalíptico, em que gangues Fig.6 : ilustrações disputam o pouco de formigas que se combustível que resta transformam em homens para alimentarem - Curta "Destiny" , Wall os motores Disney e Salvador Dalí de seus

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automóveis. O filme reflete a preocupação da época com a futura escassez dos combustíveis fósseis. Recentemente, neste ano foi lançado “Mad Max – Estrada da Fúria”, que se passa no mesmo mundo porém, há um enfoque maior na falta de água para a sobrevivência humanam , refletindo a preocupação crescente com o uso inadequado da água no planeta.

Fig.7: Cena do filme "Mad Max Estrada da Fúria" (2015)

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A água é um elemento essencial para nossa sobrevivência. Como já foi descrito, no início as primeiras civilizações se desenvolveram próximas aos rios e veios d’água para garantir a sobrevivência da população, e devido ao desperdício e à poluição que causamos, a água potável está sendo um bem cada vez mais raro. Além disto, outras ações humanas que estão acelerando mudanças climáticas em nosso planeta também estão afetando a questão da distribuição das águas das chuvas, como o desmatamento. Mesmo países com abundância em água estão com problemas neste recurso natural. Recentemente os reservatórios de água da grande São Paulo secaram, devido as secas que tivemos durante o verão e também a outros fatores como má administração e falta de investimentos para diminuir a dependência desses reservatórios. Quanto a seca, os grandes desmatamentos que vem acontecendo na região Amazônica fazem com que Fig.9: Reservatório da Cantareira seco o volume de nuvens de chuva acabe diminuindo, e a falta de vegetação até o sul do continente não possibilita a passagem dessas nuvens para outras regiões, além também da falta de vegetação dentro das cidades, pois já foi comprovado que a vegetação está intimamente ligada a pluviosidade.


" (...)Até recentemente o principal problema no setor de alimentos era a distribuição, porém hoje isso não mais ocorre. Com as recentes mudanças no clima e o constante crescimento da demanda, o mundo pode estar entrando em um período de escassez." (TICKELL, Sir Crispin - Cidades para pequenos planetas, p.iii)

Além do controle do desmatamento, deveriam ser tomadas medidas para a economia da água potável, a utilização de águas pluviais e a reutilização de águas cinzas. Tais medidas seriam de grande auxílio para que não passássemos pela falta de água que muitas famílias estão vivendo. Além disso devemos economizar em todos os meios possíveis. O setor que mais consome e desperdiça água é a agricultura. Setor imprescindível para o abastecimento mundial de alimentos, a irrigação é o insumo que mais desperdiça este recurso essencial à vida: a água. A Organização das Nações Unidas (ONU) revela que aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo – que já não é muita – é utilizada para irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%. Fig.8: Área agrícola sendo irrigada responsável pelo maior desperdício de água no planeta

A agricultura é vista pelo organismo internacional como alvo prioritário para as políticas de controle racional de água. De acordo com a Organização as Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), cerca de 60% da água utilizada em projetos de irrigação é perdida por fenômenos como a evaporação. Ainda segundo o órgão, uma redução de 10% no desperdício poderia abastecer o dobro da população mundial dos dias atuais.

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O atual sistema de produção e distribuição agrícola é absurdamente inviável. Além do desperdício da água, há um excessivo gasto em combustíveis para que o alimento chegue até o consumidor, aqui no Brasil, através de caminhões, que além de consumirem mais, estragam vias e acaba-se tendo uma perda de até 20% da produção que ficam pelas estradas. Além de todos estes fatores onerarem no preço para o consumidor.

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Fig 10: Foto de soja desperdiçada nas estradas devido ao transporte rodoviário falho As distâncias entre o consumidor e a produção não são apenas físicas, visto que cada vez menos temos conhecimentos sobre os alimentos que estamos consumindo. Não sabemos quais tipos de agrotóxicos foram usados ou se são ou não alimentos transgênicos e como isto nos afeta. Assim, como proposta para solucionar parte destes problemas, e acreditando que a sociedade ruma em busco de uma maior integração entre seus habitantes, proporemos a reaproximação da agricultura com o meio urbano, diminuindo as distâncias entre conhecimento alimentar da população, proporcionando melhores condições para saúde da mesma, e a economia de água junto a diminuição da queima de combustíveis fósseis, do desperdício e do gasto de energia, visto que não será necessário percorrer longas distâncias para que o produto chegue ao consumidor e nem o gasto excessivo com a irrigação, já que será possível o uso da hidroponia, que acaba tendo uma redução no uso


“ Todos nós sabemos que há algo errado com nossas cidades, e que esse algo poderá piorar se não aspirarmos a um modelo diferente de cidade no futuro. Se as formigas podem solucionar questões como tamanho, caráter e função correta de suas cidades, devemos ser capazes de fazer o mesmo com as nossas.” (Tickell, Sir Crispin, Cidades para um Pequeno Planeta, p.vii)

Figs.11 e 12:Assim como a internet diminuiu as distancias em nível global, a verticalização pode também diminuir as distâncias, trazendo o que antes estava longe (agricultura) para perto (urbano), assim como os buracos negros, que criam “pontes” que alteram a relação tempo/espaço entre lugares distintos do universo.

da água de até 70% em comparação com o meio de irrigação tradicional. A ideia é ‘empilhar’ a agricultura, verticalizando-a, junto a outros serviços deixando as áreas destinadas hoje a agricultura horizontal livres, reflorestando-as para que a natureza possa se recuperar evitando maiores catástrofes naturais. A natureza reconquista seu espaço, e nós criamos o nosso em direção aos céus.

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2- Um parasita chamado homem SURGIMENTO DAS CIDADES RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CIDADES JARDIM METABOLISTAS ARCHGRAM MEGAESTRUTURA

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“ Os humanos têm sido muito efetivos em fazer mudanças na superfície do planeta. Para alimentar 7 bilhões tivemos que converter uma porção muito grande da superfície em terra de agricultura, com plantações. Também cobrimos grande parte do planeta com nossas cidades. Para construílas, pegamos calcário e areia e convertemos em outros tipos de rocha, como concreto, tijolos e vidro. Também fizemos grandes mudanças na biologia: além de causarmos muitas extinções, transportamos animais por todo o planeta, criando o fenômeno das espécies invasoras. É difícil achar outro ser vivo que, sozinho, tenha mudado tanto o planeta. Só há paralelo no Período Cambriano, quando uma nova bactéria começou a transformar dióxido de carbono em oxigênio, mudando toda a atmosfera." (Jan Zalasiewicz)

Durante a evolução, a espécie humana se destacou entre os outros animais, quando se mostrou mais inteligente. A nossa racionalidade nos fez capazes de desenvolver tecnologias e chegarmos até onde nos encontramos hoje. Esta racionalidade, foi a responsável por uma série de questionamentos sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor, que culminou no surgimento de várias culturas e crenças. A cultura, é o ponto em que nos separamos da natureza. Ela faz com que nós tenhamos certos comportamentos que não condizem com o que seria ‘natural’, diferente dos animais que seguem seus instintos. As cidades surgem para que os homens consigam se proteger dessa natureza que eles não compreendem, e na busca pela compreensão destes fenômenos é que surgem tanto as crenças quanto as tecnologias. A partir destas ações, fomos capazes de mudar nosso planeta como nenhum outro animal foi capaz antes.

Fig.13: imagem linear da evolução humana em paralelo com o declínio da vegetação


“Fruto da imaginação e trabalho articulado de muitos homens, a cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza.”

Raquel Rolnik

No começo dos tempos históricos, cada grupo humano construía seu espaço de vida com as técnicas que inventava a partir da observação da natureza e dos recursos que ela dispunha que eram essenciais para sua sobrevivência. Organizando a produção, organizava a vida social e o espaço, na medida de suas próprias forças, necessidades e desejos, Pouco a pouco este esquema foi se desfazendo: as necessidades do comércio entre coletividade introduziam nexos novos e também novos desejos e necessidades, e a organização da sociedade e do grupo passou a mudar. O homem começa a se distanciar da natureza.

Fig.14: imagem representando formação das cidades próximo à rios

As primeiras civilizações surgiram ao redor de rios, para que não faltasse água para o cultivo agrícola, a criação de animais e para a própria população. As cidades foram crescendo, e a sociedade evoluía. Com o aparecimento de diversas atividades comerciais e serviços, apareceram os centros urbanos, separando as áreas urbanas das rurais. Durante um longo período a maior parte da humanidade viveu em áreas rurais, porém, vivemos em uma era em que mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas e a tendência é que até 2050 mais de 2/3 da população viva em áreas urbanas.

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"A história do homeme sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza. Agora, com uma tecno-ciencia, alcançamos o estádio supremo dessa evolução" (SANTON, Milton 1922 - A Redescoberta da Natureza p.5)

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Esta mudança começou a partir da 1ª da Revolução Industrial, com o surgimento da máquina a vapor, a sociedade, a economia e a as cidades mudariam drasticamente a partir destas novas tecnologias. As cidades cresciam e se distanciavam cada vez mais das zonas agrícolas, cada vez mais pessoas queriam vir para as cidades para melhorarem de vida. As famílias campestres com excesso de mão de obra, os centros urbanos com oportunidades de emprego. As cidades de origem medieval, com suas ruelas e becos não suportariam o número crescente que a população alcançava. As máquinas evoluem, e durante a 2ª Revolução Industrial as cidades passam a mudar mais drasticamente. O desenho medieval das vias, e as edificações insalubres junto ao aumento da população e aos antigos hábitos tornaram a cidade suja, doenças surgiram, a qualidade de vida piorou. Assim surgem as Leis Sanitaristas, junto a Reforma “(...)O industrialismo, a principal força criadora do século XIX, produziu o mais degradado ambiente urbano que o mundo jamais vira; na verdade, até mesmo os bairros das classes dominantes eram imundos e congestionados.” (MUNFORD, Lewis – Paraíso Paleotécnico: Coketown pg.484)


Assim surgem as Leis Sanitaristas, junto a Reforma de Paris feita por Haussman. Além das demolições dos becos medievais e o surgimento de vias largas e iluminadas, agora há também a preocupação com a ventilação e iluminação das edificações. As pessoas passam a mudar seus hábitos também, tanto em questões higiênicas como sociais. Surge a família nuclear, e as relações entre os membros da família mudam, se assemelhando as relações de empregado e patrão. Tudo moldava-se para a sociedade do consumo, que surge nesta época, e agora está em declínio. Como nos lembra o grande historiador das cidades Lewis Munford, o objetivo não deveria ser mais bens para as pessoas comprarem, mas mais oportunidades para elas viverem. Mas não foi o que aconteceu, graças ao capitalismo latente e o liberalismo. A relação da máquina com o homem cada vez fica mais próxima. Nas artes, observamos o futurismo. No cinema, surge em 1927 o filme “Metropólis” de Fritz Lang, uma história da relação das máquinas com os humanos, onde a cidade funciona como uma grande máquina. Na arquitetura, também aparece o conceito de ‘Máquina de morar” de Le Corbusier, que passa para a arquitetura questões do modelo fordista, em relação a montagem e a funcionalidade universal.

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CIDADE JARDIM .......................... A industrialização trouxe o anti-vital para as cidades. A fumaça das indústrias e das locomotivas, a insalubridade das cidades, a disparidade social causada pelo liberalismo desenfreado. Todos estes fatores foram motivos para se repensar no que as cidades estavam se tornando e como poderíamos melhorá-las. A falta de espaços verdes já começava a ser associada com a insalubridade tanto física quanto mental, no âmbito social das cidades. Ebenezer Howard, ao observar as péssimas condições de vida da cidade liberal, propôs uma alternativa aos problemas urbanos e rurais. Primeiramente, ele separa as características destes dois meios: Características do campo:

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Falta de vida social; Beleza da natureza; Desemprego; Terra ociosa; Matas; Bosques, campinas, florestas; Jornada longa/salários baixos; Ar fresco – aluguéis baixos; Falta de drenagem; Abundância de água; Falta de entretenimento; Sol brilhante; Falta de espírito público; Carência de reformas; Casas superlotadas; Aldeias desertas

Características da cidade: • Afastamento da Natureza;

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Oportunidades Sociais; Isolamento das multidões; Locais de entretenimento; Distância do trabalho; Altos salários monetários; Aluguéis e preços altos; Oportunidades de emprego; Jornada excessiva de trabalho; Exército de desempregados; Nevoeiros e seca; Drenagem custosa; Ar pestilento e céu sombrio; Ruas bem iluminadas; Cortiços e bares; Edifícios palacianos;

Em síntese, a cidade era o espaço da socialização, da cooperação e das oportunidades, especialmente de empregos, mas padecia de graves problemas relacionados ao excesso de população e à insalubridade do seu espaço. Por outro lado, o campo era o espaço da natureza, do sol e das águas, bem como da produção de alimentos, mas também sofria de problemas como a falta de empregos e de infra-estrutura, além de uma carência de oportunidades sociais.


Assim, ele propõe uma nova cidade, em que os ‘ímas’ que representavam as forças positivas tanto do campo quanto da cidade, estariam presentes, aproveitando o que há de melhor em cada um deles. Nasce o modelo de cidade-jardim.

14 Fig.15: O esquema mostra a distribuição geral da Cidade-Jardim, conforme concebida por Ebenezer Howard (1996 - 1a edição 1898). A cidade deveria ter uma estrutura radial, com 6 grandes bulevares indo em direção ao centro. Mostra os primórdios da divisão de usos e da adoção de baixas densidades.

O modelo consistia em uma cidade de 400 hectares construída no centro de uma área com 2400 hectares, de forma radial. Assim a cidade sempre estaria próxima ao campo, além disso, em seu centro haveria um parque central e ao redor dele teríamos o ‘centro público’ onde estariam os edifícios públicos, comerciais e de serviços enquanto as indústrias se desenvolveriam na periferia da zona urbana, próximo as vias que interligariam as diferentes cidades. Os resíduos da cidade seriam utilizados na zona agrícola, e a própria cidade teria liberdade econômica, sendo que toda a cidade e a população funcionariam como uma grande cooperativa, buscando converter os lucros em ganhos coletivos.


As habitações estariam entre a zona industrial e o centro público, as áreas seriam interligadas por grandes avenidas, e as áreas residenciais seriam acessadas por ruas sem saída, assim apenas aqueles que lá residissem passariam pelas ruas, tornando a cidade mais segura. Também presava pelo verde constante na cidade, e portanto, onde as ruas terminavam nasciam corredores verdes onde a população teria áreas comuns para viverem em sociedade.

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O modelo tinha limitações quanto a população, e apenas foi utilizado em bairros residenciais de luxo, e percebeuse que o desenho nas áreas residenciais não trazia segurança aos moradores, mas um engessamento social e áreas para esconderijo de ladrões. Como Jane Jacobs discorreu em “Morte e Vida de Grandes Cidades”, é necessária movimentação de pedestres nas ruas para garantir uma melhor relação e entrosamento entre a vizinhança, e esta sim, é a forma de fazê-la mais segura. As cidades continuaram a crescer, a tecnologia avançava e a sociedade também mudava. Com a evolução das máquinas, também surgiram novas e mais potentes armas, e logo o mundo passou pelas grandes guerras mundiais. Os arquitetos e urbanistas se viram na necessidade de resolver os problemas causados pela guerra além dos problemas que as cidades já haviam apresentando desde a Revolução Industrial. O modernismo na arquitetura já havia surgido, e agora mais ainda, devido a escassez de recursos gerada pela guerra a forma deriva da função. A funcionalidade, a economia e a velocidade passaram a ser questões fundamentais da nova arquitetura. Estruturas em aço e concreto passaram a ser mais utilizadas. Cada vez mais, o ser humano percebia que se diferenciava da natureza. Como Le Corbusier mesmo nos ensinou nos 5 pontos da arquitetura moderna, os pilotis deviam caracterizarem-se como elementos de transição entre o objeto arquitetônico e o solo liberado para uma livre circulação, deixando a natureza ser, enquanto a arquitetura deveria se desenvolver acima, tocando a natureza apenas com seus pilotis, como se estivesse na ponta dos pés.


Fig.: Imagem ilustrativa do crescimento de uma malha urbana durante o passar do tempo.

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METABOLISMO .......................... Na Segunda Guerra Mundial, o Japão foi um dos países que mais saiu prejudicado. Foi em Hiroshima e Nagazaki onde houve o primeiro e único momento na história em que armas nucleares foram usadas em guerra e contra alvos civis. Além deste episódio, o Japão é um país que pela sua localização geográfica está acostumado com uma série de catástrofes naturais, como maremotos e terremotos, além da falta de espaço edificável. Devido a estes motivos, a arquitetura japonesa se desenvolveu bastante.

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Na década de 60, surge um importante movimento para a arquitetura (o último dos modernistas) o Metabolismo, que levou este nome porque argumentava que os edifícios e cidades deveriam ser concebidas como seres vivos e, portanto, deveriam crescer organicamente, de acordo com as necessidades de seus habitantes.


“(...)Onde a arquitetura ocidental é baseada em um mito da tábula rasa – um novo começo no velho mundo, Japão, apresenta uma falta de espaço sufocante, que faz a arte planejar, intoleravelmente pressurizada, ou simplesmente fútil. Uma série de fenômenos naturais e/ou de origem humana, com intervalos de uma década, de repente, quase por acaso, oferecem ao Japão um vasto espaço aberto novíssimo que força a experimentação arquitetônica em grande escala.(...)” (KOOLHAAS, 2011 – Project Japan, p.57)

A luta do Japão para encontrar uma nova identidade arquitetônica depois das explosões de Hiroshima e Nagasaki foi dolorosa até o início dos anos 60, a influência sobre a nova geração de arquitetos até então era Le Corbusier, através de Kenzo Tange e Tadao Ando, foi nesse período que um grupo de jovens arquitetos e críticos surgiu como uma espécie de filosofia que fundou novas ideias tiradas do design tradicional japonês, da arquitetura pop e de Le Corbusier e deram a esta o nome de Metabolismo. O nome metabolismo pretendia sugerir uma abordagem biológica do design, nos edifício e cidades que cresciam para fazer frente às novas exigências de uma maneira paralela a natureza, fazendo uso pleno das mais recentes e inovadores tecnologias de construção e formas de comunicação. Primeiramente surgiram estudos e projetos utópicos, que visavam o entender e a mudança de paradigmas tanto arquitetônicos e urbanos, quanto sociais. O território japonês apresenta diversas limitações quanto a disponibilidade de área útil graças a sua topografia. Além de ser composto por ilhas vulcânicas, também está dentro do chamado ‘círculo de fogo’, área suscetível a terremotos e maremotos. A falta de áreas úteis, impossibilita o crescimento espraiado das cidades. Todos estes fatores, fizeram com que os arquitetos e urbanistas buscassem soluções cabíveis, propuseram mega-estruturas e em algumas ocasiões acreditavam que deveriam recomeçar do zero, a partir do princípio da “Tábula Rasa”.

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Um dos primeiros projetos apresentados foi o de Kenzo Tange em 1960, que apresentou seu Plano para Tóquio, incluindo ideias inovadoras sobre como expandir a cidade através Baía de Tóquio. Influenciado pelas ideias de Le Corbusier, Tange propõe que áreas suspensas por grandes pilotis, separando áreas de fluxo de veículos e pedestre, vinculando ‘artérias urbanas’ com os edifícios.

19 FIg.: Vista e implantação do projeto para o Plano de Tóquio de Kenzo Tange, onde uma mega estrutura se desenvolveria de forma suspensa sobre imensos 'pilotis'. As ideias evoluíram em utopias urbanas, prevendo megacidades através a geração de gigantes formas geométricas. A discussão sobre a possibilidade da constituição de uma cidade aérea, a partir de mega-estruturas que suportariam diversos sistemas de infra-estrutura e transporte, com usos variados foi extremamente importante para refletirmos a situação das cidades em um futuro próximo. Há a tendência cada vez maior das cidades se aglomerarem, se compactarem e consequentemente se verticalizarem, como é o caso observado em grandes centros urbanos. Esta tendência não se refere apenas a falta de espaço, mas também como forma sustentável, diminuindo as distâncias entre os habitantes, serviços, produtos, etc.


“(...)Tokyo não possui esperanças, Isozaki declara: Eu não irei mais considerar a arquitetura que está abaixo de 30 metros de altura...Eu estou deixando tudo abaixo de 30 metros para os outros. Se eles pensam que podem resolver a bagunça nessa cidade, deixe-os tentar.(...)” (ISOZAKI, Arata, citado por KOOLHAAS, Projetc Japan p.40)

Fig.: Foto de maquete física de "Clusters in the Air" de Arata Isozaki

20 “(...)Começando nos 45 metros de altura, uma rede de tetraedros interligados pairam sobre os edifícios existentes mantendo-os intactos, criando um chão artificial elevado para a habitação, livres da densidade e do tráfico das ruas abaixo(...)." ( KOOLHAAS, 2011 Projetc Japan p.41)


Neste movimento, obsevamos um grande número de projetos em que a cidade se desenvolve no 'ar', longe da superfície terrestre, provavelmente pela questão de ser um país com pouca área útil. Além de ser um país que tanto pela guerra quanto pela natureza está sempre se 'reconstruindo'. Assim, nestes projetos observamos a tentativa de se 'desprender' da Terra. O homem deve levar para suas construção aquilo que necessita para viver, utilizando o mínimo possível dos recursos naturais. Este pensamento acaba por gerar projetos muito sustentáveis.

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O que a população japonesa teve que resolver a partir da necessidade, o restante do mundo pode absorver como potencialidade. A partir das soluções apresentadas pelos arquitetos metabolistas desde 1960, até as soluções mais contemporâneas que vislumbrem alternativas compatíveis com a vida, podem ser consideradas lições de grande valor para aplicação em cidades ocidentais distintas. Fig.: Ecópolis: projeto de cidade sustentável por Kikutake Kiyonori em 1990. Podemos observar o monte Fuji ao fundo.

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É interessante, que até os tempos atuais, os arquitetos japoneses ainda possuem ligações com este movimento. Arquitetos como Sou Fujimoto, ainda buscam na natureza a forma tanto física, quando de se viver/portas em suas edificações. Talvez, pela cultura japones, há uma percepção de natureza diferente da do ocidente, e percebe-se pela arquitetura uma busca por uma retomada do ser natural mesmo na criação humana.

Fig .: Croqiu Sou Fujimoto.

22 Fig .: Serpentine Gallary Pavillion, Sou Fujimoto.


ARCHIGRAM .......................... Concomitantemente neste período, no ocidente, surgiu um grupo de arquitetos Archigram, formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb. Após a 2ª Guerra Mundial, apesar de toda a destruição que ocasionou, houve também um grande avanço nas tecnologias. Os países ‘vencedores’ passavam por

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uma grande expansão econômica e tecnológica, impulsionando o desenvolvimento de revolucionários meios de transporte e de comunicação. As políticas de conquista espacial, o crescimento das redes de telecomunicação via satélite, o surgimento da robótica, dos computadores e a proliferação de todo tipo de eletrodoméstico, principalmente aqueles voltados para a comunicação como o rádio e a televisão. Entusiasmados com esta perspectiva de progresso, muitos arquitetos da época viam a arquitetura tradicional como obsoleta, e compartilhavam da ideia de que era o momento para uma drástica revolução na arquitetura. Os arquitetos do grupo Archigram faziam parte dessa parcela, e a partir disso, criaram uma revista de caráter contestatório e provocativo, também denominada Archigram. Suas publicações, mesclavam projetos e comentários sobre arquitetura com imagens gráficas, cuja referência vinha do universo pop da TV, do rádio e das histórias em quadrinhos.

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Fig.: Imagem do projeto "Instant City". Um grande circo coberto de lonas erguidas por balões. Uma arquitetura móvel que oferecia uma série de eventos e informações culturais para as metrópoles.


As ideias e os projetos arquitetônicos do Archigram repercutiram por todo o mundo, redefinindo a nossa própria maneira de entender e lidar com a arquitetura. Diferente de tudo que até então era classificado como arquitetura, seus projetos experimentais causaram grande impacto na época, gerando uma série de discussões. Eles idealizaram arquiteturas que se fundamentavam em ideias e princípios que estavam intrinsecamente relacionados às transformações provocadas pelos novos sistemas de transporte, pelos novos sistemas de comunicação e de informação e pelas novas tecnologias eletrônicas.

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As vertiginosas mudanças econômicas, sociais e culturais da época solicitavam novas alternativas de planejamento espacial fundamentadas em princípios como a mobilidade, a flexibilidade, a instabilidade, a mutabilidade, a instantaneidade, a efemeridade, a obsolescência e a reciclagem. A partir destes princípios foram surgindo os projetos do Archigram.


Fig: Imagem do filme Howl’s Moving Castle (2004), animação japonesa de Hayao Miyazaki e do Studio Ghibli, cujo castelo é inspirado na Walking City.

Walking City Talvez o mais famoso dos projeto do Archigram, Walking City representa o ápice do esforço criativo do grupo. Uma arquitetura sem fundações, sem raízes, constituídos por imensos ‘containers’ com pernas tubulares que se deslocam pelo solo e pelas águas em constante movimento. Mistura de nave espacial com submarino atômico. Mais uma vez, observa-se uma arquitetura que não quer estar ligada ao lugar, ao terreno. Uma arquitetura que busca os limites do homem, e sua separação com seu planeta. Deixar a natureza ser no planeta enquanto criamos o nosso próprio espaço. Não foi projetada na intenção de ser construída, mas apenas como ideia. Uma questão a ser pensada para aparecerem novas sugestões e possibilidades.

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Nos é interessante analisar estes movimentos, pois ambos nos lançam novas ideias e perspectivas trazendo ‘soluções’ ou ideias muito criativas, que mesmo que ainda não possam ser executáveis, podem nos abrir a mente e a visão para outras soluções. Esta quebra de paradigmas é o que nos trará a mudança, pois se analisarmos uma série de problemas que já apareciam na década de 1960 ainda persistem em nosso tempo, em maior escala, como a questão das vias, do número de automóveis e do tráfego. “(...) Da mesma forma que o elevador tornou possível a existência do arranha-céu, o automóvel possibilitou que os cidadãos vivessem longe dos centros urbanos. Em todo o mundo, as cidades estão sendo transformadas para facilitar a vida dos carros, mesmo que sejam eles e não as indústrias, os responsáveis pela maior parcela de poluição do ar, a mesma poluição que expulsou os moradores para bairros residenciais distantes.” (ROGERS, Richard, 1997 – Cidades para um pequeno Planeta, p.2/35)

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O zoneamento das atividades induz à utilização e dependência do automóvel particular

MORADIA

TRABALHO

LAZER Distância que exige deslocamento de carro


As cidades, principalmente no interior do Brasil que é um país sem problemas quanto ao solo útil, crescem na horizontal de forma espraiada e a população cada vez mais prefere viver em condomínios fechados nas periferias da cidade com a falsa sensação bucólica de que estão mais perto da natureza e refugiados da poluição e violência dos centros urbanos. Assim, enquanto a população cresce, crescem também o número da frota de veículos particulares na cidade enquanto o transporte público continua sucateado. Este distanciamento dos centros urbanos é tão insustentável quanto ao distanciamento da agricultura – local de produção, dos centros urbanos – local de consumo. Nas duas vertentes da arquitetura apresentadas aqui, percebemos que desde a década de 1960 quando começou-se a pensar nesses problemas que hoje estão agravados, já era notório a necessidade de se compactar o espaço urbano, na forma da verticalização em vez de expandir horizontalmente. Núcleos compactos reduzem as distâncias e permitem o deslocamento a pé ou de bicicleta

MORADIA

TRABALHO

LAZER Fig.: Formação das cidades compactas Fonte: (ROGERS,Richard, 2011 - Cidades para um pequeno planeta, p.39) Descrição: Imagem ilustrativa que exprime de forma bastante coerente as vantagens da compactação das cidades.

Distância que pode ser percorrida a pé ou de bicicleta

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3- Agricultura Urbana

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Ao surgir uma cidade, sempre houve a preocupação com o fornecimento de alimentos e por isso sempre houveram zonas agrícolas nas proximidades. Com a evolução dos transportes e o crescimento das cidades as distâncias entre o alimento e o consumidor aumentaram, criando hoje um sistema insustentável onde o consumidor não sabe de onde vêm, como chegou e como foi produzido o alimento que consome. Além da insustentabilidade no consumo de combustíveis para o transporte do alimento e o excessivo consumo de água pelas zonas industriais e agrícolas, graças a este distanciamento com a produção e a correria da vida urbana, consumimos cada vez mais produtos industrializados. Podemos ver o resultado desse consumo na saúde da população: a pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-2009, realizada pelo IBGE, indicou grande aumento no número de crianças com excesso de peso, além de constatado que mais de 40% da população sofre de obesidade. Devido este sistema falho, observamos uma tendência mundial pela busca de alimentos orgânicos e a busca por uma revolução alimentar. Cada vez mais, pessoas estão utilizando áreas urbanas para produzir seus próprios alimentos. Hortas urbanas aparecem em várias cidades pelo mundo. Podemos observar nas principais megacidades preocupação crescente com a boa alimentação, e o surgimento de hortas urbanas em New York, Tókyo, Cidade do México. No Brasil não é diferente, na cidade de São Paulo já podemos ver várias hortas urbanas surgirem, como a Horta do Ciclista, a Horta da Vila Pompéia, a Horta Vegana na Av. Paulista e a Horta do CCSP. Todas estas hortas urbanas visão, além da busca por alimentos mais saudáveis, uma nova relação entre o habitante com o espaço urbano e com sua Fig.: Horta do ciclista na Av. Paulista - São Paulo vizinhança.


Pode-se observar a importância da relação dos habitantes com espaços urbanos no projeto Rebar, em que um grupo de artistas e designers ocuparam áreas de estacionamento em São Francisco transformando-os em parques improvisados, atividade que foi batizada de “Park(ing) Day” e que em novembro de 2013 foi realizada pela primeira vez no Chile. O evento ficou tão popular que o planejamento da cidade autorizou a criação de diversos “parklets” e criou o programa “Pavimentação aos Parques” que transforma espaços de praças públicas em áreas de recreação. É um bom exemplo de como deve haver diálogo entre a população e seus governantes para um melhor uso do espaço urbano.

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Fig.: Outro projeto Rebar, o Victory Garden, localizado no espaço cívico de São Francisco com uma horta urbana.

Em Tokyo, devido a falta de espaço o governo disponibilizou as áreas sobre os túneis de metrô para o cultivo agrícola. O governo disponibiliza espaço, sementes, adubo, e pessoal especializado àqueles interessados em ter uma horta, com o pagamento de


uma taxa anual de aproximadamente 2500 reais. Na Suíça, após a Primeira Guerra Mundial o governo distribuiu lotes na cidade de Les Avanchets para as famílias recomeçarem suas vidas. Cada família criou uma horta em sua casa, plantando algum vegetal e/ou fruta de sua preferência, criandose assim a cultura de troca de alimentos orgânicos entre a comunidade aumentando a qualidade da alimentação e a integração social da população.

31 Outro exemplo de mudança urbana, em prol da alimentação foi a ocorrida em Cuba. Em 1989, 57% do consumo calórico de Cuba era importado da União Soviética. Quando esta entrou em colapso, Cuba subitamente se tornou a única responsável em alimentar sua população, incluindo os 2.2 milhões que habitavam em Havana. Frente a uma escassez massiva de alimentos, os cidadãos fizeram a única coisa que podiam, e a cada espaço possível apareciam pequenas hortas. Nas sacadas, terraços, pátios e terrenos baldios, os vizinhos começaram a plantar feijões, tomates, bananas e qualquer alimento em local que estivesse disponível. Em um espaço de dois anos levantaram-se granjas e jardins em todos os bairros de Havana. O governo colabora com a iniciativa da população e em 1994 cria o departamento de Agricultura Urbana, tomando medidas normativas para o planejamento do Usofruto, tornando legal e livre a prática agrícola em terrenos sem usos e públicos. Também capacitou membros


da comunidade para monitorarem, educarem e incentivarem a construção de hortas comunitárias nos bairros, além da criação de casas de sementes para prover recursos e informações para os cidadãos. Para tornar as hortas rentáveis, também foi criado uma infraestrutura de venda direta de Mercados Agrícolas. Em 1988 eram reconhecidas oficialmente mais de 8000 hortas em Havana, cujos produtos orgânicos cobriam 50% da produção de hortaliças do país. Infelizmente, o governo cessa os incentivos para agricultura urbana em 2008, quando Raúl Castro substituí seu irmão. Mas, o importante em aprender com Cuba é como a partir na necessidade, a comida se converteu novamente em um fator determinante na configuração da cidade. Apesar de que as circunstâncias em outros países não sejam tão extremas, é possível estabelecer paralelos. As crises econômicas atuais, a precarização dos recursos naturais e a busca por uma alimentação mais saudável, são pontos que levarão as cidades a buscarem métodos mais sustentáveis na produção e distribuição de alimentos. Se aproximarmos a ideia de que a comida é um fator preponderante no projeto urbano, seremos capazes de usar o projeto para diminuir não só a distância física, mas também conceitual entre nós e nossos alimentos.

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“Até a metade do próximo século, a pressão para o fornecimento de alimentos virá de muitos lugares: até agora, estivemos a salvo por causa da revolução verde, mas as perspectivas para a ocorrência de uma outra revolução similar são bastante fracas. Até recentemente o principal problema no setor de alimentos era a distribuição, porém hoje isso não mais ocorre. Com as recentes mudanças no clima e o constante crescimento da demanda, o mundo pode estar entrando em um período de escassez.” (ROGERS, Richard 1997 – Cidades par um pequeno planeta, p iii)

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No Brasil, a produção de alimentos é responsável por 72% do desperdício da água que chega ao consumidor final. Boa parte da água utilizada para produzir alimentos é perdida na evaporação, o que exige uma maior captação do recurso em rios e lagos. Além da utilização de agrotóxicos pela agricultura, que também colabora para a diminuição dos recursos hídricos do país. Esses insumos contaminam o solo, além de mananciais, diminuindo a disponibilidade de água, não apenas no meio rural, mas também nas cidades. Além do desperdício de água, é estimado que até 20% da produção é perdida durante o transporte nas estradas brasileiras. Segundo o IBGE, a estimativa é de que 67% das cargas brasileiras sejam deslocadas pelo modal rodoviário, o menos vantajoso para longas distâncias. Conforme estudo de viabilidade econômica dos transportes de cargas, o modal rodoviário é o mais adequado para as distâncias inferiores a 300 km, enquanto o ferroviário o é para distâncias entre 300 km e 500 km; e o fluvial para distâncias acima de 500 km.


Além dos combustíveis queimados no transporte, auxiliando na poluição do ar e na diminuição da camada de ozônio, o transporte rodoviário onera bastante o preço do produto final. Um exemplo é o valor pago pelo frete em relação ao que o agricultor recebe pelo produto. Um produtor de soja do município de Sorriso, Mato Grosso, recebia R$ 23 pela saca e gastava R$ 12 para levá-la até o porto, em 2007, onde embarcaria a carga para o mercado internacional. Ou seja, o gasto com o escoamento representava mais de 50% do valor recebido pelo produtor. Além do grão que é desperdiçado, o Brasil fica impedido de crescer e de se tornar ainda mais competitivo. Mas o caminho do desperdício não se limita ao percurso da colheita até o transporte. Quando se fala em frutas e hortaliças, produtos mais perecíveis, as perdas são ainda maiores e ultrapassam os limites do campo, chegando ao varejo e às cozinhas brasileiras. Um estudo da FAO, de 2004, revela que o Brasil está entre os 10 países que mais jogam comida no lixo, com perda média de 35% da produção agrícola. A Embrapa Agroindústria de Alimentos realizou uma pesquisa focada nesse tipo de produtos e mostrou que o brasileiro joga fora mais alimentos do que, efetivamente, leva à mesa. Nas 10 principais capitais do país, o consumo anual de vegetais é de 35 quilos por habitante. No entanto, o desperdício chega a 37 quilos por habitante/ ano. Do total de desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento; e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores.

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Infelizmente, o modo de produção agrícola brasileiro é totalmente insustentável. As perdas se somam a todos envolvidos no processo. Se o Brasil reduzisse as perdas, poderia oferecer mais produtos para o mercado interno, barateando os preços, e também exportar mais, sem a necessidade de investimentos adicionais na abertura de novas fronteiras agrícolas. Uma forma de redução das perdas é trazer novamente a agricultura para dentro das cidades. Com isso, teremos grande redução do desperdício causado pelo transporte. Além disso, as distâncias não só físicas entre produto e consumidor serão minimizadas. Se o desenho urbano fosse repensado considerando a alimentação, a população estaria mais ciente do processo, tornando-a mais consciente quanto ao desperdício e quanto ao alimento que consome.


As mudanças sociais que os últimos adventos tecnológicos vêm trazendo, nos fazem crer que as novas gerações prezam pelo compartilhamento de serviços e informações. É o que percebemos com o aparecimento de aplicativos de comunicação e serviços, e até mesmo com o maior compartilhamento de informações observável pela internet. Assim, podemos crer que esta nova geração prese também por um maior compartilhamento físico. Ao trazer a agricultura para o meio urbano, o cidadão ficará mais próximo do processo. Poderão ser criadas cooperativas, unindo cada vez mais a população urbana, recriando vínculos na escala da vizinhança que vinham sendo perdidos.

AGRICULTURA

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CIDADES

AGRICULTURA

CIDADES

Fig.: Esquema demonstrando as vantagens na aproximação entre agricultura e cidade, não necessitando de transporte


Hidroponia .................

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Hidroponia consiste em cultivar as plantas sem solo, onde será fornecida uma solução nutritiva balanceada com água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta. A técnica pode ser empregada de várias formas, sendo as principais: exposição das raízes a uma lamina de solução sobre uma bancada ou uso de substrato inerte para a sustentação da planta, onde está irá receber a solução nutritiva, que serão absorvidos por suas raízes. A hidroponia também pode ser auxiliada pelo uso de outros substratos como: cascalho, vermiculita, perlita, lã de rocha, serragem, areia, casca de árvore, etc., em que se é adicionado uma solução de nutriestes contendo elementos essenciais para o desenvolvimento da planta. Atualmente, a alface é a espécie mais cultivada, mas também pode-se platar couve, rúcula, melão, brócolis, berinjela, tomate, arroz, morango, feijão-vagem, salsa, repolho, agrião, trigo, pepino, e mudas de árvores.


“(...)De acordo com os dados ambientais das Nações Unidades de 1993/94, 17% dos solos em todo mundo foram atingidos em maior ou menor grau desde 1945.” (ROGERS,Richard -1997, Cidades para um pequeno planeta, p.iii)

O processo de hidroponia apresenta várias vantagens em relação ao método de cultivo tradicional. Além de ter uma economia de água de até 70% comparada aos métodos utilizados hoje no Brasil, maior produção por área, crescimento rápido, aumento da proteção contra doenças, pragas e insetos, possibilidade de plantio fora de época e rápido retorno econômico, assim como menores riscos perante as adversidades climáticas.O cultivo hidropônico exige menor espaço e a produção de hortaliças e plantas poder ser feita em qualquer lugar, qualquer tipo de clima e em pequenos espaços. Na hidroponia, a planta não entra em contato direto com o solo e recebe os nutrientes e minerais que precisa em proporção equilibrada dissolvidos na água. O resultado é uma planta mais forte e sadia, com qualidade nutricional e sabor equivalentes aos vegetais produzidos nas práticas tradicionais de cultivo. Outra grande vantagem é a isenção de resíduos agrotóxicos, assim, pelo método da hidroponia o agricultor também evita a degradação dos solos e a agressão ao meio ambiente, além de economizar, pois reduz o uso de produtos químicos e a preocupação com a desinfestação de áreas para o plantio.

Hidroponia .................

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Principais Vantagens e Desvantagens do Sistema Hidropônico Vantagens

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· Produção de melhor qualidade: pois as plantas crescem em um ambiente controlado, procurando atender as exigências da cultura e com isso o tamanho e a aparência de qualquer produto hidropônico são sempre iguais durante todo o ano. · Trabalho mais leve e limpo: já que o cultivo é feito longe do solo e não são necessárias operações como arações, gradagens, coveamento, capinas, etc. · Menor quantidade de mão-de-obra: diversas práticas agrícolas não são necessárias e outras, como irrigação e adubação, são automatizadas. · Não é necessária rotação de cultura: como a hidroponia se cultiva e meio limpo, pode-se explorar, sempre, a mesma espécie vegetal. · Alta produtividade e colheita precoce: como se fornece às plantas boas condições para seu desenvolvimento não ocorre competição por nutrientes e água, e além disso, as raízes nestas condições de cultivo não empregam demasiada energia para crescer antecipando o ponto de colheita e aumentando a produção. · Menor uso de agrotóxicos: como não se emprega solo, os insetos e microorganismos de solo, os nematóides e as plantas daninhas não atacam, reduzindo a quantidade de defensivos utilizada. · Mínimo desperdício de água e nutrientes: já que o aproveitamento dos insumos em questão é mais racional. · Maior higienização e controle da produção: além do cultivo ser feito sem o uso de solo, todo produto hidropônico tende a ser vendido embalado, não entrando em contato direto com mãos, caixas, veículos, etc. · Melhor apresentação e identificação do produto para o consumo: na embalagem utilizada para acondicionamento dos produtos hidropônicos podese identificar a marca, cidade de origem, nome do produtor ou responsável técnico, características do produto, etc. · Melhor possibilidade de colocação do produto no


mercado: por ser um produto de melhor qualidade, aparência e maior tamanho, torna-se um produto diferenciado, podendo agregar à ele melhor preço e comercialização mais fácil. · Maior tempo de prateleira: os produtos hidropônicos são colhidos com raiz, com isso duram mais na geladeira. · Pode ser realizado em qualquer local: uma vez que seu cultivo independe da terra, pode ser implantado mais perto do mercado consumidor. Desvantagens · Os custos iniciais são elevados, devido a necessidade de terraplenagens, construção de estufas, mesas, bancadas, sistemas hidráulicos e elétricos. Dependência grande de energia elétrica. O negócio para ser lucrativo exige conhecimentos técnicos e de fisiologia vegetal. Em um sistema fechado, com uma população alta de plantas, poucos indivíduos doentes podem contaminar parte da produção. Exige rotinas regulares e periódicas de trabalho (Carmo Jr., 2003). · O balanço inadequado da solução nutritiva e a sua posterior utilização podem causar sérios problemas às plantas. O meio de cultivo deve prover suporte às raízes e estruturas aéreas das plantas, reter boa umidade e, ainda, apresentar boa drenagem, ser totalmente inerte e facilmente disponível. Somente materiais inertes podem entrar em contato com as plantas (toxidez de Zn e de Cu poderão ocorrer, caso presentes nos recipientes). É essencial boa drenagem para não haver morte das raízes (Castellane e Araújo, 1995). · Emprego de inseticidas e fungicidas: No início do emprego da hidroponia, para fins comerciais, se propagava que não ocorriam pragas e doenças no referido sistema de cultivo. Hoje, sabe-se, que se pode ter esses problemas na instalação hidropônica, embora em muito menor grau em comparação com o sistema convencional. Entretanto, a decisão quanto ao uso de inseticidas e fungicidas sempre é muito difícil. Deve-se, sempre, procurar alternativas menos agressivas à saúde e ao ambiente, evitando, ao máximo, o uso de produtos químicos. Pois, caso contrário, o método perde um dos atrativos de

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comercialização (Teixeira, 1996). · Os equipamentos necessários para trabalhar as culturas hidropônicas devem ser mais precisos e sofisticados que para o solo, portanto, mais caros de aquisição, instalação e manutenção. A falta de inércia dos sistemas hidropônicos torna-os vulneráveis perante qualquer falha ou erro de manejo. Também a fiabilidade das instalações e automatismos atuais é alta, não se devendo esquecer que, para um sistema deste tipo, alguma avaria teria conseqüência muito mais grave que na agricultura tradicional (www.epagricola-torres-vedras.rcts.pt, 2003).

41 Fig.: Esquema Básico para Instalação de Hidroponia no Sistema NFT (Técnica do Filme Nutriente), técnica de cultivo em água, no qual as plantas crescem tendo o seu sistema radicular dentro de um canal ou canaleta (paredes impermeáveis) através do qual circula uma solução nutritiva (água + nutrientes).

Fig.:Bancada de canos de PVC, mostrando também a canaleta de retorno de solução e a fixação do suporte das plantas na bancada. No detalhe, a união dos tubos.


aeroponia ................. Aeroponia Horizontal Aeroponia horizontal consiste fundamentalmente em cultivar as plantas em tubos de plásticos (PVC) de 12 a 15 cm de diâmetro, em cujo interior passa a solução nutritiva. Os tubos são colocados com inclinação de 1-3%. A solução entra pela parte mais alta do tubo saindo pela outra extremidade. As mudas são colocadas, nos tubos de PVC, em perfurações de 3-4 cm de diâmetro e no espaçamento indicado à cultura. Os tubos, (Figura 09), são colocados em grupos formando linhas seguidas. Os grupos são colocados um em cima dos outros, a 1 m de distância, como se fossem andaimes. O apoio é feito em estruturas metálicas ou de madeira, de preferência, móveis.

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Fig.: Instalação Aeropônica Horizontal


Aeroponia Vertical Neste sistema se cultivam plantas em colunas (tubos de PVC de quatro polegadas), de cerca de 2 m de comprimento. Esses tubos recebem perfurações para adaptação das mudas. As colunas são dispostas paralelamente, deixando-se espaços de 1,40 m entre elas, formando grupos. Entre os grupos se deixa o espaçamento de 1,80 m. Maneja-se a formação de grupos de modo que a luminosidade e a temperatura sejam as desejáveis para boa produtividade. A solução nutritiva entra pelo alto da coluna, passa ao longo da mesma, é recolhida na parte inferior, é filtrada e retorna ao reservatório. O processo inclui, como nos anteriores, bomba para recalque da solução, “timer” programador e reservatório de solução nutritiva.

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Fig.: Esquema da Instalação de Hidroponia Vertical

Tanto a aeroponia quanto a hidroponia, são meios de cultivo que acabam interferindo na natureza de forma bem menos agressiva do que os métodos tradicionais implantados no país. Além da economia de água e da não contaminação do solo, tais métodos são mais econômicos em área, portanto são excelentes para a implantação de hortas dentro da zona urbana.


4- Referências Projetuais FarmedHere FarmedHere, é uma marca de uma fazenda vertical em Chicago, que cultiva alimentos orgânicos através da hidroponia. Além de reduzir custos de transporte, a fazenda urbana recicla água, usa pouca energia e nenhum agrotóxico. A ideia de levar a produção para mais perto do mercado faz sentido para a economia, o ambiente, e a administração urbana. Melhor ocupar o espaço vazio do que deixálo ser invadido por algo menos útil.

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O projeto FarmedHere [“plantado aqui”, em tradução literal] já preencheu mais de 8 mil m² com rúcula, ervas e tilápias, criando um sistema fechado que fornecerá mais de 450 mil kg de vegetais todos os anos. A mais nova adição à safra é essa fábrica de vegetais com 8361m², a cerca de 24km do centro de Chicago. Fazendo uso de um barracão abandonado, essa é uma fazenda vertical para produção de rúcula, quatro tipos de manjericão, e peixes. O mais engenhoso é que a água dos tanques de tilápias é usada em sistemas aquapônicos (quando plantas crescem na água) e aeropônicos (por aspersão). Praticamente não há desperdício de água.


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Edificações que buscam a verticalização da agricultura, aproximando-a aos centros urbanos são as chamadas “fazendas verticais”. Assim como a FarmedHere, existem outros projetos em desenvolvimento, e outros mais utópicos que acabam por buscar soluções para várias das questões já levantadas, como a sustentabilidade, a diminuição da queima de combustíveis, do desperdício de água e do próprio alimento, da contaminação do solo e a busca por uma maior integração entre a alimentação, o urbano e o cidadão. Com a verticalização, além de podermos inserir a agricultura no meio urbano de forma mais consciente, liberaríamos espaço onde hoje são as zonas agrícolas, para a natureza se reestabelecer, minimizando complicações climáticas que há tempos já estão interferindo nas nossas vidas e no nosso planeta. Além da ideia de cultivo, já é pensado na composição das fazendas verticais pensadas para suportar a criação de animais. Certamente, o processo de trazer a agricultura para os centros urbanos através das fazendas verticais, a longo prazo trariam esforço não apenas monetário como qualitativo para todos ao seu redor. Estudos sobre a implantação de fazendas verticais em metrópoles mundiais como Nova Iorque, mostram resultados muito positivos na redução de problemas apresentados na cidade por dificuldade no transporte de alimentos, a falta de vastas áreas agricultáveis próximas e até mesmo na qualidade do ar. O desejo de adensamento, ao aproximar áreas vastas como fazendas ou grandes propriedades rurais para próximas da concentração populacional, reforça as qualidades em que, neste deslocamento estão atreladas economia, facilidade de locomoção, sustentabilidade, cooperação entre outras que transformariam a cidade em um lugar mais atrativo, próximo e mais humano. Apesar de ainda existirem muitas utopias e idealizações de um futuro sustentável, e de projetos inexecutáveis até então, apresentaremos a seguir uma série de projetos de fazendas verticais, ou edificações atreladas a vegetação, demonstrando que este talvez seja um futuro não tão distante.


Escritórios Pasona Kono Designs

(2010)

-

Tóquio, Japão

Com o aumento da população nos centros urbanos, aumenta também a preocupação com o futuro da agricultura. Este foi o pensamento do pessoal do escritório Pasona, que pensando no futuro se transformaram em um escritório/fazenda vertical dedicando 20% de sua área para o cultivo de vegetais. A mescla de usos dentro de um único edifício adensa ainda mais a cidade, sendo menos necessário ainda a utilização de transportes para locomoção. O projeto parece pronto para inspirar outros escritórios a embarcar nesta nova tendência de projeto. Os jardins contém tanto vegetais hidropônicos quanto plantados em terra, e necessitam de um controle climático bastante preciso. Isto frequentemente significa manter estes espaços mais quentes que os níveis considerados confortáveis para escritórios, e esta é indiscutivelmente a característica mais desagradável do edifício.

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47 Toda edificação se tornou uma grande fazenda vertical. Tanto as áreas comuns como as aéreas de serviço são também utilizadas para a produção de alimento que não se destinam apenas à alimentação dos funcionários de Pasona.


O escritório Kono Design espera que este novo tipo de escritório inspire os habitantes das grandes cidades a reconsiderar a agricultura e, possivelmente, redinamizar algumas áreas rurais.

Acima, temos duas imagens mostrando a evolução do edifício com o crescer das plantas. Ao lado temos um detalhe das janelas, que possuem uma estrutura tipo 'brise' onde a vegetação pode crescer para fora em busca de luz solar.

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Urbanana - (2012) Paris, França

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SOA

Soa é um escritório de arquitetura contemporâneo francês, que visa a maior integração da agricultura e alimentação no desenho urbano. Possuí vários projetos, ainda não construídos de fazendas urbanas de diferentes escalas. Serão apresentados alguns deles.


Urbana é um edifício, não construído, voltado para o plantio de banana, dentro da cidade de Paris entre dois edifícios residenciais. Suas fachadas são de vidro, aproveitando ao máximo a iluminação natural, já que a vegetação cresce ao longo de um ciclo de luz e estações. O interior é livre de um sistema de pavimentos convencionais, a fim de utilizar ao máximo o espaço e a luz do dia, com apenas algumas pontes que possibilitam o acesso necessário entre as seções. A estrutura é metálica com vedação em vidro.

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Musical Farm Bordeaux, França

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SOA

Localização: Bastide Niel, Bordeaux, France Cliente: Groupe Evolution, Darwin Ecosystème Área: 2 760 m² Estrutura: aço Programa: fazenda vertical, palco para shows de

música e galeria educacional

(2012)


Music Farm, é uma fazenda vertical projetada para além de abrigar plantações, abrigar uma galeria,cursos e de um palco voltado para a área externa para apresentações musicais. Diferente do Urbanana, o Musical Farm é um exemplo de fazenda vertical que mescla usos diversos e também sehdo um polo atrativo cultural para a vizinhança.

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1- Estoque produtos perigosos/ 2- Lixo/ 3- Manutenção de equipamentos/ 4- Estoque/ 5- Frigorífico/ 6- Escritório/ 7- Área de refeições/ 8- Sala de transformação/ 9- Estoque/ 10- Palco/ 11- Estoque de terra/ 12- Galeria


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The Living Tower Rennes, França

(2005)

SOA

Uso: Habitação, escritório, espaços comerciais e fazenda vertical Localização: Rennes – França Cliente: Cidade de Rennes e Cimbéton Área: 50 471 m²

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The Living Tower, ou “La tour Vivante” foi um projeto do grupo SOA – Architects, vencedor da competição ‘Positivo Building Energy”, que busca a interação entre cidade e o campo dentro do planejamento urbano, propondo o adensamento das cidades, propondo uma grande torre de uso misto. O objetivo é associar a produção agrícola com a habitação nas zonas urbanas, diminuindo a necessidade de transporte e aumentando o rendimento energético. Além disto, o projeto se destaca pelo seu revestimento por painéis solares, e seus geradores eólicos no terraço.

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Fig.: Área de plantio de Tomates Estimativa de produção para o tomate , saladas e produção de morango : t63 000 kg de tomates por ano 37 333 pés de saladas por ano 9 324 kg de morangos por ano

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O edifício é composto por dois blocos. Um horizontal e em parte subterrâneo com estacionamento e salas comerciais e outro verticalizado onde encontra-se as habitações junto as plantações.

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Bosco Verticale Milão, Espanha

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Stefano Boeri

Localização

Milão, Itália

Ano de início e término das obras:

2009-2014

Cliente Uso: Área:

(2007)

HINES Italia Srl torres residenciais 40.000 m²

Diferentes dos projetos já apresentados, este não se trata de uma fazenda vertical, mas sim de um conjunto residêncial singular. Em toda sua fachada foram plantadas árvores de médio porte, visando o bem estar da população, proporcionando um microclina capaz de filtrar as partículas de pó presentes no meio urbano. O sistema de irrigação das planas será realizado po meio de um sistema de absorção de águas pluviais além da reutilização de águas cinzas. Além do uso de sistemas de energia eólica,geotérmica e fotovoltaica, trazendo maiores benefícios ambientais.


Figs.: Esquemas energÊticos e das vantagens ambientais trazidas pela vegetação nas fachadas

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64 Acima temos desenhos técnicos da edificação, plantas e fachadas. Ao lado, observamos um esquema explicando o funcionamento hídrico para a irrigação das plantas, junto das lajes que as sustentarão. Depois um esquema apenas com a vegetação e por fim a estrutura junto da vegetação.


Acima outro esquema apenas com a vegetação e depois o prédio pronto, com suas estruturas e vegetação.

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Abaixo, uma foto de guindastes suspendendo a vegetação, árvores de pequeno e médio porte, até suas grandes ‘jardineiras’ de concreto, nas sacadas dos apartamentos. Podemos ver também as esquadrias metálicas, que darão suporte a vedação uniforme do edifício.


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Acima vemos o prédio finalizado, com as árvores já plantadas nas grandes jardineiras. Podemos observar que para auxilio no suporte do peso destas grandes jardineiras de concreto, foi necessário a utilização de cabos de aço. Note também, o acabamento da vedação da estrutura com placas de diferentes cores e transparências.


5- Proposta Ribeirão Preto As soluções apresentadas, como o processo de aglomeração urbana, são aplicadas normalmente para grandes metrópoles onde o espaço é escasso e a população já vive constantemente com uma série de problemas como poluição do ar, sonora, tráfego intenso, longas distâncias a percorrer, etc. Porém, podemos evitar muitos destes males se nos preocuparmos com o planejamento urbano das cidades menores que estão também em constante crescimento.

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É o caso de Ribeirão Preto. Uma cidade interiorana, polo regional que está crescendo cada vez mais, porém sem um planejamento urbano correto, havendo assim o processo de espraiamento. Cada vez mais pessoas saem da zona urbana, para morarem em condomínios fechados na periferia da cidade, por este mesmo motivo os limites entre a cidade de Ribeirão Preto e seu distrito Bonfim Paulista já estão bem tênues. Assim, as distâncias entre habitação, comércio e serviços vão aumentando cada vez mais, sendo necessário o deslocamento por meio de transporte normalmente pessoal. Aumentando as taxas de poluição, ondas de calor, congestionamentos no tráfego, etc., tornando a cidade cada vez menos sustentável.


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Fig.: Mapa da região de Ribeirão Preto junto as cidades vizinhas com a demarcação e as direções do crescimento urbano em cada uma delas.


Porém, quanto trazer para próximo da cidade a agricultura, Ribeirão Preto já possuí em seu Plano Diretor uma área reservada à agricultura urbana, pois antes mesmo de ser planejado já haviam hortas no local, ao redor do Córrego Laureano, entre as Avenidas do Café e Bandeirantes. Área próxima ao campus da USP, local com uma grande demanda de habitação para estudantes, e portanto, área onde está havendo o processo de verticalização para atender à essa demanda.

USP

69 Área para agricultura urbana Processo de verticalização para habitação na Av. do Café

Hortas Urbanas

Quadrilátero Cetral


Uso do solo

Através das imagens é possível ver o início do processo de verticalização que está ocorrendo na Av. do Café. Aos poucos surgem torres com kitnets para estudantes.

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Estação Luz Ribeirão Preto possuí algumas hortas urbanas, que junto a ONGs visam a integração da comunidade. Uma delas é a da Estação Luz, em que a população é convidada a participar do cultivo todas as terças de manhã. Quando os vegetais, frutos e legumes estão prontos para o consumo são vendidos a preços mais acessíveis para a vizinhança, e o dinheiro é revertido em atividades que a ONG proporciona. Além disto, a Estação Luz conta com alguns programas relacionado à horta, como a visita de grupos de crianças de escolas municipais para que aprendam sobre o plantio e a importância do contato com a terra, e também parceria com psicólogos, em um projeto de horta terapêutica para os internos do Hospital Santa Tereza, visto que o contato com a terra e o plantio é terapêutico.

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A sede da Estação Luz em Ribeirão Preto fica no início da rua Amazonas, com o fundo voltado para a Via Norte. No terreno existem várias nascentes que são protegidas pela ONG.


Proposta

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Acima, foi pintado de verde as áreas com mata preservada, e às margens do córrego Laureano, onde deve-se respeitar as áreas de várzeas. Em amarelo, foi pintado áreas possíveis para se implantar uma fazenda vertical na região. A fazenda, poderia ter a função da produção que já existe no local em terra, verticalizando-a e liberando o espaço terreno. Assim, o extenso espaço que antes era utilizado para atividades privadas seria liberado ao público, podendo ser feito um parque ao redor do Laureano. A fazenda vertical, além de abrigar as plantações, abrigaria também habitação para os trabalhadores, estoques e habitações para estudantes da USP. Além disso, a também poderia ser um laboratório experimental da USP, nos setores de biologia. Sabendo que há estudos com abelhas na Universidade de São Paulo, o edifício poderia ter um setor de apiário também. A ideia é ‘empilhar’ uma série de serviços, que é o processo de verticalização, deixando o solo livre para uso público, além de auxiliar em uma série de fatores ambientais, econômicos e sociais.


Vale lembrar, que por se tratar de uma área de fundo de vale, há declives acentuados, principalmente no sentido da Av. do Café, para o Laureano. Pretendo aproveitar os desníveis da melhor forma possível, e não fazer apenas uma alta torre, mas trabalhar com uma volumetria que seja mais interessante dependendo do terreno a ser escolhido. A escolha deve ser feita analisando o entorno, questões como a verticalização ao redor, a proximidade com a USP, a proximidade com vias que escorram para Av. Bandeirantes facilitando o transporte quando este for necessário.

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FONTE DAS FIGURAS: Fig 1 : Ilustração representando o surgimento das cidades próximas a rios Documento digital disponível em: :http://portaldoprofessor. mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/9310/imagens/ rio4.jpg Data de acesso em: 02/06/2015 Fig 2: logos de programas que facilitam a comunicação, graças a Internet. Documento digital disponível em: https://lh5.ggpht.com/1CxNUEdzrREikWZoaHIU5J63x2gOxTb 7R-ZIbJd51uPBFt0jUj8AX2bMOhKiIBcuAqtH=w300 http://bolsablindada.com.br/wp-content/uploads/2015/04/ whatsapp-todesdrohungen_34808c42.png https://www.newbrandanalytics.com/blog/wp-content/ uploads/2013/12/Facebook-Icon-2-1021x1024.png Data de acesso em: 04/06/2015 Fig 3: Ilustração representando as ligações entre pessoas em diferentes partes do globo. Documento digital disponível em: http://escoladatecnologia. com.br/wp-content/uploads/2014/03/internet.jpg Data de acesso em: 04/06/2015 Fig 4 e 5 : cenas do filme "Wall -e", da Disney Documento digital disponível em: http://1.bp.blogspot.com/-90aJrv1UJ6Y/U1NLjMGIU8I/ AAAAAAAAczM/0w5_FW-V6s8/s1600/Wall-E-2.jpg http://setimaarte.com/wp-content/uploads/2015/01/OSC-04. jpg Data de acesso em: 04/06/2015 Fig.6 : ilustrações de formigas que se transformam em homens - Curta "Destiny" , Wall Disney e Salvador Dalí Documento digital disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=1GFkN4deuZU Data de acesso em: 16/06/2015 Fig.7: Cena do filme "Mad Max - Estrada da Fúria" (2015) Documento digital disponível em: http://abacaxivoador.com.br/ wp-content/uploads/2099/05/3033642-poster-p-1-first-look-mad-max. jpg Data de acesso em: 12/06/2015 Fig.8: Área agrícola sendo irrigada Documento digital disponível em: http://cdn2.hubspot.net/ hub/212749/file-234958828-gif/images/irrigacao.gif Data de acesso em: 12/06/2015

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Fig.9: Reservatório da Cantareira seco E Documento digital disponível em: http://imguol. com/c/noticias/2014/10/22/22out2014---seca-continua-narepresa-reserva-jaguari-jacarei-na-cidade-de-bragancapaulista-no-interior-de-sao-paulo-onde-o-indice-que-medeo-volume-de-agua-armazenado-no-sistema-cantareira-e-de1413992819934_956x500.jpg Data de acesso em: 12/06/2015 Fig 10: Foto de soja desperdiçada nas estradas devido ao transporte rodoviário falho Documento digital disponível em: http://www. horahnoticias.com/ups/noticia/grande-038c3a32059794d7747991 95784cf890.JPG Data de acesso em: 13/06/2015 Figs.11 e 12: esquemas de buracos negros Documento digital disponível em: http://files.diniz.webnode.com.br/200004835-2b8eb2be66/ BURACO2.jpg https://universogenial.files.wordpress.com/2013/10/ buracos-negros-supermassivo.jpg?w=593&h=444 Data de acesso em: 13/06/2015 Fig.13: imagem linear da evolução humana em paralelo com o declínio da vegetação

DA

Documento digital disponível em: http://eddiesouza.com.br/ wp-content/uploads/2011/08/camisa.jpg Data de acesso em: 13/06/2015 Fig.14: imagem representando formação das cidades próximo à rios Documento digital disponível em: http://www.megaartigos. com.br/blog/wp-content/gallery/as-primeiras-sociedades-umpouco-de-historia-2/as-primeiras-sociedades-um-pouco-dehistoria-5.jpg

FIGData de acesso em: 13/06/2015

Locomotiva, pg 11 e 12

UR Documento digital disponível em: http://historiadaefa.net/ imagens/lvefa2.jpg

FIGData de acesso em: 13/06/2015

Fig.15:Esquema geral da Cidade-Jardim Documento digital disponível em: http://urbanidades.arq. br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=12&fullsize=1 Data de acesso em: 11/06/2015

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BIBLIOGRAFIA

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ROGERS, Richard. GUMUCHDJIAN, Philip (ed.). Cidades para um Pequeno Planeta Barcelona: Gustavo Gili, 2008 KOOLHAAS, Rem, OBRIST, Hans Ulrich (ed.). Project Japan: Metabilism Talks... Barcelona: TASCHEN GmbH, 2011 LEITE, Carlos, AWAD, Juliana di Cesare Marques (ed.). Cidades Sustentรกveis Cidades Inteligentes: Desenvolvimento sustentรกvel num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012 CHOAY, Franรงoise (ed.) O Urbanismo. Sรฃo Paulo: Perspectiva, 2003

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