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ÁGUA DE BEBER

No último dia 16 de março, o CBHSF entregou à cidade de Piaçabuçu, em Alagoas, foz do Rio São Francisco, os chamados tanques-pulmão, um robusto sistema de captação e armazenamento de água que chega para mudar a realidade. Durante a seca prolongada, entre 2013 e 2019, o mar adentrou o Rio São Francisco, ocasionando a salinização das águas na região

Durante a pior seca dos últimos tempos, entre os anos de 2013 e 2019, o Velho Chico perdeu força, correndo fraco rumo à foz, no município de Piaçabuçu, em Alagoas. Com isso, o mar entrou rio adentro, salgando tudo. De repente os moradores da região se viram sem água potável, virando-se com caminhões-pipa e água salobra. Para os pescadores, apareceu peixe de água salgada na água doce. Com a salinização do São Francisco, até a saúde da população acabou afetada, com o aumento de doenças como pressão alta e hipertensão. Desde então, Piaçabuçu enfrentava essa luta, que terminou no último 16 de março, quando a cidade recebeu, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), os chamados tanques-pulmão, um robusto sistema de captação e armazenamento de “água bruta”.

Segundo o Secretário Municipal de Educação de Piaçabuçu, Guto Beltrão, uma das autoridades a discursar na solenidade de entrega dos tanques-pulmão à comunidade, “a obra é um alento para a população local que vive uma crise hídrica, com água salgada que é imprópria para consumo. Nossa gratidão ao Comitê que uniu esforços para trazer água de boa qualidade à cidade”.

O investimento foi da ordem de 10 milhões de reais, mas, para a dona de casa Maria das Dores, o resultado vale ouro: “A água era muito barrenta, às vezes salobra, cheia de pó, amarela que não prestava para nada. Até para fazer o arroz era complicado e o café ficava salgado”. Para melhorar a qualidade da água de Piaçabuçu, foi instalada uma tubulação adutora, transportando a água do novo sistema de captação para os novos reservatórios. Também foram implantados painéis elétricos, gerando a energia necessária. Ao todo são três reservatórios de 275 m³, totalizando 825 m³ para armazenamento de água. Além das estruturas acessórias para a captação e adução de água, que incluem a implantação de sistema de captação a fio d’água, ocorreu a implantação de elevatória de água bruta, incluindo fornecimento e montagem de plataforma flutuante, ancoragem e dois conjuntos de bombas.

“Nós estamos recebendo um sistema que vai nos ajudar demais na capacidade de reserva de água bruta e melhorar o carregamento de água para a estação de tratamento, em Piaçabuçu”, pontuou o presidente da Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), Luiz Neto. “Para o município é extremamente importante ter um aumento da capacidade de reserva para justamente manter essa prestação de serviço, no mínimo, satisfatória”.

Durante a inauguração dos tanques-pulmão, Anivaldo Miranda, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Baixo São Francisco do CBHSF, estava emocionado. Na oportunidade, ressaltou a importância da valorização da água e sua gestão planejada, bem como cobrou de alguns órgãos um trabalho mais aprofundado em defesa do Rio São Francisco e das populações ribeirinhas. “A construção dos tanques pulmão, em Piaçabuçu, assim como de outros projetos, é fruto da cobrança pelo uso da água. É pouco, mas estamos conseguindo redistribuir e levar projetos bem planejados, preparados e úteis, dentro de uma gestão séria, que ajudam as comunidades nas regiões onde há a necessidade de água com melhor qualidade”, disse. Segundo Anivaldo, a ideia de construir um sistema de reserva nasceu na sala de crise da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

“A ideia do sistema de captação, adução e reserva de água bruta, que beneficiará milhares de moradores da região, com o abastecimento de 100% da sede urbana, surgiu no contexto da crise hídrica, do período de 2013 a 2019, quando as vazões chegaram a 500 m³/s e o Comitê se propôs a resolver algumas situações emergenciais, como o consumo de água da população da região, já que todos estavam consumindo água salgada”, comentou.

Para o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, o importante é que Piaçabuçu vai voltar a consumir água de qualidade: “Este é um dos grandes marcos do Comitê e um dos principais projetos em execução, pois é proveniente de um conflito pelo uso de água. A prefeitura de Piaçabuçu, bem como a CASAL, consequentemente, solicitaram nosso apoio na resolução desse conflito. Toda essa situação surgiu em decorrência das diminuições constantes de vazão do Rio São Francisco. O Comitê investiu mais de 10 milhões de reais para a melhoria da qualidade da água e vida da população”.

Hoje, quase metade dos moradores de Piaçabuçu sofre de pressão arterial alta. O consumo de água salgada é um risco para a população e havia se tornado um problema crônico no município. A expectativa é que a mudança no abastecimento melhore a saúde das pessoas. “A quantidade de medicamentos para hipertensão era 30% maior do que em municípios como Penedo e Igreja Nova que estão rio acima. A nova adutora vai buscar mais água na Foz e, consequentemente, irá captar menos água com sal e o armazenamento através dos tanques vai melhorar a qualidade dessa água”, explicou Ângelo Barros, coordenador da Vigilância Sanitária de Piaçabuçu.

A obra vai colocar em funcionamento um sistema que estará apto a abastecer a população da sede urbana do município de Piaçabuçu (AL) em um horizonte de 20 anos.

Fotos: Letícia Massula

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