3 minute read
SEMENTE DO CERRADO
No Viveiro Educador do Instituto Inhotim, o maior museu aberto do mundo, localizado na mineira Brumadinho, mais de 280 espécies do Cerrado se escondem na luxuosa biodiversidade. Em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais, o projeto “Ser do Cerrado” quer proporcionar ao visitante uma experiência de descoberta do bioma
À primeira vista, enxerga-se uma exuberância sem fim: palmeiras de muitas espécies, árvores frondosas, folhagens luxuosas, uma mistura que remete ao caos contemporâneo dos jardins de Burle Marx. Como adentrar um Oasis da Mata Atlântica em plena Brumadinho, cidade mineira que ganhou fama com a tragédia ocasionada pelo rompimento de uma barragem da Vale, em janeiro de 2019. Inaugurado há 17 anos, o jardim botânico do Instituto Inhotim, considerado o maior museu a céu aberto do mundo, estende-se por 25 hectares de terra, contendo aproximadamente 4,3 mil espécies nativas brasileiras e exóticas de várias partes do mundo. No total, o museu conta com mais de 140 hectares de área de visitação, além de uma reserva particular de 250 hectares. Em meio a tudo isto, segundo a bióloga responsável, Sabrina Carmo, escondese a beleza discreta que Inhotim agora quer revelar com o projeto “Ser do Cerrado”, realizado em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais.
“Quem chega ao Inhotim, não enxerga o Cerrado. Mas estamos localizados numa área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Então o nosso objetivo com o projeto “Ser do Cerrado” é treinar os olhos dos visitantes para que eles conheçam, valorizem e protejam o Cerrado”, comentou Sabrina. “Não temos aqui o Cerrado do Norte de Minas, o Cerrado do Goiás, mas também temos Cerrado, porque o Cerrado são muitos”.
Responsável pelo jardim botânico do Inhotim, ela nos conduziu por aquilo que chama de “experiência” do Cerrado, através do Viveiro Educador, um espaço onde pesquisa científica, educação ambiental e paisagismo se encontram. Ao contrário do que se possa imaginar, as espécies nativas do bioma não se encontram em exposição, como as obras de arte penduradas nas paredes das galerias do museu, mas encrustadas no vasto território, ocupado pela emaranhada diversidade. De repente, aparece um capim, um cacto, uma flor do Cerrado, que Sabrina aponta como quem acabou de encontrar o Wally: “A gente escolheu o espaço do viveiro para, em cada cantinho, colocar algum conteúdo ou estratégia relacionada ao Cerrado”, comentou. Boa parte das plantas contam, por exemplo, com um QR-Code para o acesso a informações da espécie e sua relação com o bioma.
“Então o projeto é isso: uma linha de trabalho de educação conjugada com uma linha de incremento de coleção”, resumiu Sabrina.
Percorrendo as trilhas do Viveiro Educador, a primeira parada é no “Jardim de Todos os Sentidos”, com plantas que podem ser cheiradas e degustadas. Depois, vem o “Jardim Desértico”, que reproduz o desafio da sobrevivência em terras secas e ensolaradas. A seguir, o “Jardim de Transição”, o celebrado encontro do Cerrado com a Mata Atlântica, com trilhas adornadas por um mosaico de espécies botânicas representativas da biodiversidade dos dois biomas. Por fim, o “Meliponário”, guardando cinco espécies de abelhas sem ferrão: Iraí, Jataí, Mirim-Droriana, Mandaçaia e Moça Branca. De acordo com Sabrina, as abelhas indígenas exercem papel fundamental na natureza, como polinizadoras: “O Meliponário é o último jardim temático que nós inauguramos, dedicado às abelhas sem ferrão. São abelhas nativas do Cerrado. O mundo inteiro vive uma crise de polinizadores. No Brasil, falar de abelhas sem ferrão é urgente. Falar de abelhas sem ferrão do Cerrado é mais urgente ainda”.
Com o projeto “Ser do Cerrado”, o Instituto Inhotim aumentou a coleção de plantas do Cerrado em 110 espécies, totalizando 280 espécies. Ademais, conta com um laboratório dedicado à coleta de sementes e produção de mudas. Adentrando essa área restrita, encontram-se os enormes freezers e centenas de caixas de sementes. Segundo a bióloga Naiara Mota, caso o Cerrado acabe do lado de fora, Inhotim pode contribuir para o seu repovoamento. O cenário distópico não se acha distante, verdade seja dita. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, o Cerrado perdeu uma área equivalente a quase duas vezes o Distrito Federal. Foram desmatados mais de 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, a maior devastação desde 2016. “O Cerrado é um bioma que vem sofrendo uma velocidade de desmatamento absurda. No último relatório, de 2021, eram 57 hectares de Cerrado perdidos por hora
Por: Arhtur de Viveiros
Fotos: Fernando Piancastelli