Curto Circuito #6

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Clemente Nascimento E a cena punk

Weird Company

Inspirações temáticas e comportamento

Wallpaper

Raphael Motta e a influência em filmes trash e street art Out & Nov‘13 | Distribuição Gratuita | www.curtocircuito.art.br




Expediente #6, 2013 Projeto: Hearts Bleed Blue Edição: Antonio Augusto Coordenação: Alexandre M. Redação: Camila Grillo Revisão: Alexandre M. Colaboradores: Mariana Perin , André “Tor” Tauil, Bruno Barbieri, Henrike BlindPigs e Paola Zambianchi Assessoria Jurídica: R4A Publicidade: contato@curtocircuito.art.br Curto Circuito é uma revista de bolso, com publicação bimestral e distribuição gratuita, produzida pela Hearts Bleed Blue. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Leia as edições anteriores do Curto Circuito em www.curtocircuito.art.br e não deixe de nos escrever seu endereço, nós vamos te enviar a cada dois meses a nova edição da revista.



(sampa music fest) Festival reúne bandas independentes Texto: Camila Grillo | Fotos: Maikonn Batista | Info: sampamusicfestival.com.br

Considerado um dos maiores festivais independentes de rock do Brasil, o Sampa Music Festival, que está na 10ª edição, dá destaque para grandes e importantes bandas. Na última edição do evento, que aconteceu no dia 6 de outubro, subiram ao palco CPM22, Glória, Rancore, Deny, John Wayne, entre outros. “O foco do festival é apresentar shows, mas sempre aparecem atrações surpresa. Já é uma tradição do festival, e o público pode conferir também produtos bem interessantes nos stands de marcas que apóiam o evento”, explica Régis Renan Corá, idealizador do festival. Além do grande investimento para esta edição, o evento contou pela primeira vez com um nome internacional, a banda Deny, da Argentina. .6

A ideia da realização do festival já existia há alguns anos, desde quando Régis realizava apenas no ABC Paulista. “Sempre tive vontade de fazer algo de maior porte na capital e ela se fortaleceu quando conheci o Valdinei (Tatá) numa viajem à Curitiba onde trabalhamos juntos na produção de um show internacional. Nós ainda não nos conhecíamos pessoalmente até então, mas um já conhecia e admirava o trabalho do outro e ao longo da viajem e muitas conversas, surgiu uma identificação bacana de ideias e o “Tatá” levantou a hipótese de fazermos um festival como o “Sampa”. Depois de algumas semanas, muitas reuniões, meses e meses de estudos e pesquisas, finalmente demos início ao projeto que posso dizer particularmente ser o que me trouxe maior satisfação pessoal e profissional até hoje”, diz.

Não é só agendar o show, chegar, tocar e ir embora! O festival proporciona muito mais que isso!


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As edições anteriores contaram com a presença de grandes nomes, fortalecendo ainda mais o festival. “Já recebemos cerca de 200 bandas até hoje, mas dentre as que alcançaram maior prestígio no cenário musical nacional, digamos assim, podemos destacar nomes como: CPM22, Fresno, Gloria, Forfun, Restart, Rancore, Strike e Aliados. Me arrisco em dizer que já levamos ao festival todas as principais bandas do chamado cenário independente nacional.”


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De acordo com o idealizador, para participar do evento é preciso ter o pé no rock. “Mesmo que tenha uma levada diferente, puxado para um reggae ou um lance mais metal, o importante é que tenha o pézinho lá...(Risos). Em cada momento/edição procuramos um tipo de banda, de um determinado estilo, de uma determinada região (procuramos diversificar sempre, trazer de tudo e de todo lugar), mas ouvimos tudo que nos mandam! Aí você me pergunta: tudo? E eu respondo: sim! Tudo! Até aquelas bandas novas que mandam uma gravação caseira, de ensaio, são avaliadas, e muitas dessas já tocaram no festival! Obviamente, precisam ter um mínimo de qualidade/potencial. Mas arriscamos sempre em bandas que não têm o melhor áudio do mundo gravado. Até porque, nos decepcionamos tantas vezes com bandas que enviam um excelente material e não conseguem reproduzir o que mandaram ao vivo. Então por que não arriscar o contrário? (Risos)”, revela e ainda destaca: “Recebemos mais de 500 e-mails a cada edição do festival e isso nos alegra muito! Não somente pelo fato das bandas terem interesse em se apresentar em nosso espaço, mas por mostrar que o rock está muito vivo e a galera ainda acredita e trabalha forte na banda e em seus sonhos! Principalmente por a maioria destes e-mails


serem sempre de bandas novas... Ou seja, ao contrário do que pensamos às vezes, o cenário está sim se renovando.” Anualmente o evento acontece no Espaço Victory, localizado na zona leste de São Paulo e sempre conta com um público de diversas regiões. “90% do público do festival reside em São Paulo e região metropolitana. Mas toda edição recebemos pessoas de outros estados, principalmente RJ, MG e PR. O record de público do festival é de 4.300 pessoas aproximadamente (no rotativo) na 2a e 6a edição do festival. Para Régis o festival é importante para solidificar e divulgar o trabalho das bandas independentes. “Não só o Sampa, mas todo show, independente de seu “tamanho”, contribuem servindo de vitrine não só para novos, como para artistas consagrados! Sempre conversamos muito com os artistas que se apresentam no festival, instruindo para “sugarem” o máximo que o festival pode dar a eles. Não é só agendar o show, chegar, tocar e ir embora! O festival proporciona muito mais que isso! Em poucas palavras, além de ser uma excelente oportunidade de mostrar seu trabalho ao público, o Sampa é o evento perfeito para se fazer network com todo tipo de profissional da área: veículos de imprensa de todo tipo, patrocinadores e endorses, empresários, produtores. O festival é frequentado por todo tipo de pessoal ligado a música. Além do básico, que é utilizar a estrutura que o festival oferece para fazer bons materiais de foto e vídeo.”


(soundcheck: name the band0 Texto: Camila Grillo | Fotos: Daniela Ometto | Info: nametheband.com.br

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Para os fãs de Name the Band, os próximos meses guardam muitas novidades. Além do lançamento de três clipes e mais três vídeos da série “Home Sessions”, em que fizeram versões acústicas de algumas músicas do seu disco, o grupo pretende em novembro fazer uma tour pelo Rio Grande do Sul. Para fechar o ano com chave de ouro, gravarão quatro músicas novas para lançamento de um EP em vinil 10 polegadas. Com apenas um CD gravado, “Just Add Sugar”, lançado em Janeiro de 2013, a banda marcou o ano com a participação no renomado festival Lollapalloza. “Foi uma experiência incrível! Em janeiro de 2013 nos fomos convidados para participar de um show esquenta pro Lollapalooza realizado na Galeria do Rock. Por sinal esse foi o primeiro show do Name the Band. A resposta do público foi muito boa e por isso fomos convidados para participar do Lollapalooza, mesmo com o line up já fechado. Tocamos no Palco de Acesso da Chilli Beans”, diz Zeh Monstro, vocalista da banda. Além da participação durantes os três dias do festival, a banda já tocou em shows na Galeria do Rock, Flagship Store da Chilli Beans, Bar Secreto, Showlivre, ao vivo na Uol89 A Rádio Rock, Ponto Pro Rock na praça Victor Civita, entre outros.


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Iniciada através de um projeto solo do músico Zeh Monstro, a banda teve a escolha do nome como uma brincadeira. “Significa Dê nome a banda ou Nomeie a banda. Estou passando essa tarefa para o próprio público. É com vocês, name the band!”, diz e ainda destaca como a banda começou: “Eu compus as 11 músicas do disco “Just Add Sugar” e gravei o disco inteiro sozinho (bateria, baixo, guitarras e voz) no estúdio Nimbus. O técnico de gravação foi o Paulo Senoni, que também mixou o disco junto comigo. O trabalho foi masterizado no Studio Sage Audio, em Nashville. Depois que o disco estava pronto, chamei os músicos e amigos Gabriel da Rosa, Vini Marmore e Beto Careca para me acompanharem e tocarmos ao vivo o disco. Pronto! O Name the Band estava completo.”

“Tocar no Lollapalloza foi uma experiência

incrível!”

Contando com quatro integrantes, Zeh Monstro no vocal e guitarra, Gabriel Alves da Rosa na outra guitarra e backing, Vini Marmore no baixo e backin e Beto Careca na bateria, a banda teve influências de diferentes nomes da música. “Escuto muita coisa diferente, então as vezes acho difícil dizer exatamente quais as influências do meu som. Mas no Name the Band dá para perceber influências de Punk Rock, Rock do final dos anos 70 e 80 como David Bowie, Lou Reed, Devo, The Jam e Indie Rock dos anos 90, como Blur. Ultimamente tenho escutado bastante Neil Young, CSN e Love.”

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Na hora da criação, Zeh relata que o processo de composição é bastante confuso e não linear. “Normalmente componho as letras de até umas 5 músicas diferentes ao mesmo tempo. Demoro bastante para fazer as letras. As minhas letras falam de assuntos do meu dia a dia. De coisas que acontecem ou aconteceram comigo. A maioria em primeira pessoa. Já as músicas, melodias e arranjos normalmente eu componho rápido. Elas vêm mais naturalmente pra mim.”

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Bastidores Paralelo ao Name The Band, todos os integrantes fazem outros trabalhos, assim como também tocam em outras bandas. “Eu já toquei com o Holly Tree, Borderlinerz, Supla, Thunderbird, Branco Mello, As Cobras Malditas, entre outras bandas. O Gabriel e o Careca tocavam na Hardneja Sertacore e o Vini tocava na banda ID3 entre outras.” Mesmo com o despontar dos trabalhos, viver de arte no Brasil tem suas dificuldades. “É bastante difícil e até desafiador viver de arte independente no Brasil, seja ela qual for. É preciso se virar, ser criativo e muitas vezes tirar leite de pedra pra conseguir alguma coisa. Com certeza a internet ajuda bastante, mas por ser uma plataforma em que todo mundo, na teoria, é igual, para você conseguir se destacar ainda é preciso usar de meios tradicionais como rádio e TV. Acho que os festivais que rolam no Brasil deram uma boa unificada na cena musical independente, mas ainda existe muita panela também nesse meio, o que dificulta para quem não faz parte. O importante é você ter um material bem feito, um show bom e sempre ter uma novidade para mostrar. Um vídeo novo, uma música nova.”


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Sendo uma banda independente, Name the Band já encontrou muitas dificuldades ao longo da carreira. “Acho que um dos principais problemas para mim é a dificuldade de conseguirmos marcar uma tour pelo Brasil pela falta de unidade na cena musical independente, precariedade de algumas casas de shows e falta de seriedade de alguns contratantes.” Para o artista, um momento que marcou sua carreira foi tocar com a banda no Lollapalloza. “Como temos bastante tempo de estrada, já tivemos a oportunidade de tocar em shows bem legais. Para mim, dois momentos marcantes fora do NTB foi quando toquei no C.B.G.B. em Nova York e também quando toquei no Rock in Rio em 2001.” Pensando na estrada, Zeh revela qual é o seu maior sonho: “Posso dizer por todos na banda que o nosso maior “sonho” com o Name the Band é continuar tocando, gravando e fazendo shows pelo Brasil e pelo mundo. Tocando o som que nós queremos e gostamos de tocar e fazendo shows com o mínimo de estrutura para que possamos apresentar nossa música de uma maneira bem feita, para que o público se divirta e aprecie o nosso som”, diz e finaliza com uma dica para quem está começando: “Nunca coloque a vontade de fazer sucesso antes da música. Faça o som que você gosta e não mude ele pensando em ganhar dinheiro ou agradar as pessoas. Você vai acabar não agradando nem as pessoas e nem a você mesmo. Se você não for sincero com você, as pessoas vão perceber.”

Just Add Sugar Álbum de estréia do Name The Band

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(inker por aí)

Texto e Fotos: Nathalia Birkholz | Info: www.inker.art.br

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Morei na Alemanha quando adolescente e adoro aquele país - o sobrenome e a família não negam. Já fui muitas vezes à Berlim. No último inverno brasileiro, passei dois meses por lá aproveitando o escaldante verão europeu, indo a shows, trabalhando e treinando meu alemão. O calor era tão intenso que os momentos mais agradáveis eram indoor, ou na imensa varanda de casa, no bairro de Prenzlauer Berg, no melhor estilo laje-mangueira-suor. Mas com uma outra trilha sonora... A capital alemã é punk. O mercado de música funciona no “Do It Yourself”, algo que só dá certo quando temos uma população interessada em conhecer coisas novas e que não fica chorando por lista VIP. Passei pelo Hoffest1, um festival anual punk/vegan com entrada gratuita, na famosa Schokoladen. O local é o andar térreo de um prédio que já foi um squat e hoje é um centro cultural. Assisti ao show do combo de ska/hc Rolando Random & The Young Soul Rebels, banda que já conhecia, mas nunca tinha visto ao vivo. Num outro dia, fui ao Lido (famosa casa de shows no badalado bairro de Kreuzberg). A atração? Ninguém menos que a instituição do hardcore/punk, Black Flag2. Comprei ingresso antecipado e fiz uma análise de como os shows são divulgados e vendidos na cidade. O texto completo está no blog da Inker, mas, resumindo: quase ninguém tem TV em casa e os cadernos de cultura dos jornais só noticiam mega shows, ópera e música clássica. A cena cultural é anunciada através de cartazes lambe-lambe nas ruas. Tem tanto pôster colado pela cidade que não dá tempo de tirar os antigos e se forma uma massa de papel nos postes e paredes3. Para comprar tickets, o esquema também é diferente e são muito comuns os “Konzertkasse”3, bilheterias físicas que vendem vários shows. Ainda no Lido, fui ver a banda colombiana Bomba Estereo e mais uma vez me vi num show lotado de cumbia eletrônica em Berlim. Esse estilo é bem popular por lá, em 2012 o show do Sistema Solar, também da Colômbia, estava bem fervido e com ingressos esgotados um dia antes. A vocalista do Bomba Estéreo, Liliana Saumet, havia convidado a búlgara Denitza Todorova (DENA) para participar do show. O encontro no palco acabou não rolando, mas as meninas se conheceram pessoalmente no dia seguinte4. Passeamos no parque e conversamos sobre o mercado musical dos nossos países. A Inker inclusive trouxe a DENA, que mora em Berlim, para a Virada Cultural Paulista 2013 e foi sucesso.

leia o texto completo em: www.inker.art.br/blog


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A maior emoção foi ver o Seeed5 ao vivo. Finalmente uma data em que eu e minha banda alemã favorita estivéssemos na mesma cidade! O combo de dancehall arrastou 70 mil pessoas em 4 dias de shows esgotados numa arena e mostrou por que são os maiores do pop de seu país. Entre um show e outro, passei pelo Pergamon Museum6, onde estive pela primeira vez com 16 anos e nunca me esqueci das paredes da Babilônia que ali estão expostas. Meu museu favorito é cheio de histórias das antigas civilizações e abriga enormes paredes originais. (os alemães saquearam tudo mesmo). Este foi verão mais quente em mais de vinte anos, diziam as notícias em Berlim. Realmente eu nunca tinha passado tanto calor por lá. A melhor coisa é fugir para algum lago ou curtir a badalação da Badeschiff, uma piscina que fica dentro do rio Spree e onde funciona também o club Arena. Durante a noite, é legal tomar um drink no Wendel, um bar cuja decoração homenageia a pixação de São Paulo. O vandalismo vira arte por lá! E a gente continua por aí... até!

(inker por aqui) Outubro – O Team Ghost, projeto paralelo de Nicholas Fromageau que é um dos fundadores do M83, vem pela primeira vez ao Brasil. Eles apresentam sua mistura de pós-punk com eletrônico em São Paulo dia 19 no SESC Belenzinho, e um dia antes em Recife, no festival Coquetel Molotov. Dezembro – A “SIM São Paulo – Semana Internacional de Música/Festival and Convention” estreia na capital paulista entre os dias 4 e 8. O evento, focado em negócios da música, chega no formato do festival MaMA, de Paris.


(Weird Company0

Inspirações temáticas e comportamento Texto: Camila Grillo | Fotos: Arquivo Pessoal | Info: weird.com.br

Criatividade, moda e comportamento. A Weird Company mistura esses ingredientes e tem sido referência para bandas, músicos e pessoas que curtem um som mais alternativo.

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A marca surgiu na produção de vídeos de surf em 2003, juntando o lado trash e punk rock do segmento em vídeos que mostravam o cenário de surfistas especializados em manobras aéreas d´água. “A opção do nome é o reflexo do que buscávamos na época... Um diferencial que levantasse a bandeira da contracultura”, diz Santiago Roig, idealizador da marca que ainda revela: “O foco dos filmes era passar o estilo e personalidade do movimento que estava sendo criado na época. Claro que procurávamos, com certo critério rigoroso, juntar os melhores surfistas especializados nesse tipo de manobras dentro d’água, mas o mais importante era passar a imagem como um todo desses caras. Tudo era planejado para linkar uma linguagem concisa… A trilha sonora, os efeitos das imagens, as transições e mensagens subliminares que editávamos no meio dos vídeos, a arte da capa, o que eles vestiam, o cenário urbano de mendigos, trânsito, caos, etc… Mixado com a praia e a natureza.” Sem imaginar, a Weird tornou-se referência principalmente formando um estilo e comportamento. “No início, era tudo muito informal. Simplesmente produzíamos o que nos interessava, e o que sentíamos falta no nosso meio. Acredito que fomos naturalmente sugados pelo underground, pois era nesse meio que vivíamos e vivemos até hoje. A marca simplesmente refletia nosso estilo de vida pessoal, e com isso fomos descobrindo muitos simpatizantes com essa mesma mentalidade e ideias. Como todo movimento, ao ganhar forças e profissionalizar a marca, vieram as influências tanto para nós quanto para o Mercado”, revela.


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Dentre os produtos oferecidos pela marca atualmente, estão peças que compõe o look básico e bem produzido. “A moda simples de um jovem inquieto. Buscamos focar no conceito da peça, com detalhes na ilustração, ou etiquetas e bordados, aplicados em modelagens simples, normalmente preto e branco, com qualidade e durabilidade. Nossas camisetas, por exemplo, são tubulares (sem costura lateral), em um fio confort e modelagem padronizada da marca. Basicamente são peças que falam diretamente com o jovem que quer simplicidade e que gosta de se sentir parte de um movimento que participa ativamente no cenário de bandas de rock pesado, skate, surf, tatuagens, motocicletas, etc.”. Além da loja física, localizada na região de Pinheiros, São Paulo, o empreendedor está investindo nas vendas através da web. “A internet é um facilitador para qualquer artista que busca divulgar seu trabalho. Hoje, através dela, podemos obter um feedback de nossos clientes, realizar pesquisas, absorver influências, e atingir culturalmente dentro e fora do Brasil. A internet, por outro lado, possui um acervo gigante de informação, aumentando a exposição e a concorrência, além de impor um ritmo muito veloz de exigência dos clientes, o que acaba refletindo na forma como as marcas planejam coleções e atualizações em seus produtos. Hoje o sistema de produção por atacado e planejamento de quatro coleções anuais não funciona mais para nós.” Além das vendas a marca também investe no patrocínio. “Acredito que mantemos um bom relacionamento com algumas marcas e artistas que despertam nosso interesse, sendo elas parceiras ativas ou marcas que nos influenciam. Temos uma série de artistas e empreendedores que gostamos de realizar parcerias, como a Tag and Juice, Break Necks, Aversion, Cotton Project, Crazy Beer BBQ, Nayp, Abacrombie Ink e a Skull Jóias, entre outras.”


Weirdos A criação da Weird desencadeou um movimento que vem ganhando cada vez mais adeptos mais conhecidos como “Weirdos”. “É o termo Americano para o esquisitão… Aquela personalidade que basicamente não se encaixa nos padrões, não é o mais bonitão e nem o mais popular, ou seja, não se esforça para fazer parte do “grupinho” e ser aceito… Normalmente excêntrico e quieto, mas que desperta curiosidade, pois nunca se sabe se ele poderia criar algo genial ou se entraria em uma escola com uma metralhadora explodindo todo mundo”. De acordo com Santiago, o “Weirdo” é apenas um termo que representa o esquisito da turma. “Portanto, se você já não é um cara estranho que gosta da podreira, não se torne um. É bem mais legal ser popular (risos)”. Para atender o seu público, a marca trabalha com algumas linhas temáticas. “Hoje, após 10 anos de empreendimento, temos uma boa base de como cada produto poderia refletir em seu lançamento. Procuramos manter um balanço entre o darkside (peças com uma pegada mais obscura, com ilustrações baseadas no renascentismo, elementos bíblicos, e que fazem questionamento entre o bem e o mal), as peças pornográficas, a linha mais marinheiro e custom, etc… A inovação acaba entrando em uma dessas linhas que naturalmente se formaram e nunca buscamos influenciar o comportamento dos consumidores. Apenas produzimos o que nos dá tesão e quem se identificar com esse trabalho, ótimo.” Antenada no que está sendo feito, a marca está de olho nos ilustradores, sites de design, decoração e estilo, além de livros de tatuagens. “Mantemos uma identidade atemporal, mas é sempre importante conseguir adapta-la ao que está acontecendo no micro e macro ambiente”, diz e ainda destaca: “Contamos com alguns colaboradores de fora do Brasil e tentamos sempre manter uma linguagem global, mesmo porque, hoje uma porcentagem das vendas é para fora do Brasil. Procuramos sempre participar do grupo de referências internacional, tanto para absorver o que está acontecendo, quanto para nos exigir a apresentar trabalhos de igual para igual com o que está rolando de bom dentro e fora do país”.

Acredito que fomos naturalmente sugados pelo underground, pois era nesse meio que vivíamos e vivemos até hoje.

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Dualidade Durante a trajetória, a marca já passou por algumas situações no qual pensou em desistir algumas vezes. “Como o empreendimento iniciou-se de forma informal e sem um planejamento estratégico e eficaz, o maior problema sempre foi o fluxo de caixa. Começando do zero, sem contatos no segmento de vestuário, tínhamos que pagar a produção com o desempenho de venda dos produtos, e com pouquíssimo poder de barganha com os fornecedores que fomos descobrindo na raça. O que colocou a empresa em xeque uma porção de vezes (por alguns produtos terem sido um tiro no pé). Com as dificuldades financeiras, vem o desanimo, que somado ao nosso excelente acervo de taxas, impostos e burocracia do país podem render alguns anos de terapia a qualquer mortal.”

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Houve também dois momentos que marcaram a vida do empreendedor: “O primeiro, ver como alguns amigos deram suporte e participaram nos momentos mais difíceis da marca, dando apoio e mão de obra para que não desistíssemos do empreendimento. Não importa o quanto você planejar seu negócio, estratégias, investimento... O seu feeling e das pessoas próximas a você serão sempre o fator X para seguir insistindo em seu negócio. O Segundo foi assistir ao vivo, em meio a milhares de pessoas, bandas que fizeram parte de meu crescimento vestindo nossas roupas nos shows. Como foi o caso dos Cavalera (ex Sepultura) e Phil Anselmo (ex vocalista do Pantera.)” Buscando expansão e maior crescimento, a marca traz algumas novidades. “Estamos hoje buscando um sistema pioneiro de apresentar os produtos aos clientes, com customização em nossa Weird Factory. Hoje procuramos minimizar estoque, e oferecer mais customização, exclusividade e passar uma experiência ao cliente. Estamos também este ano melhorando a qualidade dos produtos, trabalhando com fornecedores e tecelagens de fora do Brasil. Acredito que, para o ano que vem, teremos mais novidades com relação a produto, eventos e parcerias.” Santiago finaliza revelando qual é o seu maior sonho. “Dormir com a Cláudia Ohana. Ou desenterrar a Hebe, empalhar ela e fazer um especial do SBT de fim de ano com convidados entrevistados por uma voz gravada que sai de dentro dela.”


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(algumas tralhas que você pode gostar) Quais são as suas tralhas favoritas? O que você gosta de colecionar? Separamos aqui algumas coisas que gostamos e que talvez você curta também.

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Japonique: www.japonique.com.br Limited Edition: www.limitededition.com.br Schizzibooks: schizzishop.tanlup.com Suburbia: uburbia.tanlup.com Lomography: shop.lomography.com/br Selo 180: http://loja.selo180.com Loja CPM22: www.lojacpm22.com.br テ電io/ SA: odiosa.com.br HBB Store: www.hbbstore.com Django Pedais: www.djangopedais.com. br Loja Hole: Galeria do Rock, Rua 24 de Maio 62, Lojas 275/277, SP. Tel (11) 3337 1261 Town & Country: Grand Plaza Shopping, Av. Industrial, 600, Loja 704A/B, Santo Andrテゥ, SP


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(Clemente nascimento) E a cena punk

Texto: Camila Grillo | Fotos: Arquivo Pessoal

Quem é que não se lembra do bom e velho “bate cabeça” embalando as noites enquanto a boa guitarra ditava o ritmo alucinante como expressão de uma juventude? Para aqueles que vivenciaram a cena punk durante algumas décadas, as canções eram muito mais que o som do momento. Eram a expressão da alma de cada indivíduo e um grito capaz de gerar um movimento impulsionado pela paixão. Diante desse passado tão presente, não há como não citar uma banda que fez e continua fazendo história. O Inocentes chega ao ano de 2013 completando 32 anos de muita estrada, som e inspiração.

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N達o escolhi, fui escolhido.


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VIVENDO DE ARTE A frente da banda está Clemente Nascimento, vocalista que, aos 50 anos, tem o trabalho como sua própria vida e é fonte de inspiração para muita gente. Além de tocar aos finais de semana, de segunda à sexta-feira atua no Showlivre como apresentador. “Vários artistas que vêm ao Showlivre, dos mais variados estilos, me dizem que começaram a tocar porque ouviram Inocentes quando garotos e aquilo os influenciou”, revela. O trabalho como apresentador surgiu no extinto programa “Musikaos”, da TV Cultura. “O apresentador era o Gastão Moreira e eu fazia algumas pautas, fui aprendendo, pois na verdade eu era produtor musical do programa e já vim para o Showlivre como apresentador”, diz. Considerando-se um “rocker quase da terceira idade, mas que ainda está antenado às bandas novas”, Clemente acredita que ser artista é uma maneira de se expressar: “Eu sou músico e vivo de música, não sou músico no sentido formal, me expresso e trabalho com música, é isso”, afirma. Antes da formação da primeira banda, o artista nunca teve o desejo de ser músico. “Foi o meu amigo Douglas Viscaíno que me disse que poderíamos montar uma banda, montamos e depois fomos aprender a tocar (risos). O nome da banda é ‘Restos de Nada’, considerada a primeira banda punk brasileira, nasceu em 1978 e estava na ativa até hoje, já sem mim, só encerrou suas atividades porque o Douglas morreu em março desse ano”, revela o músico que teve apoio dos pais: “Eles acharam divertido, minha mãe que me ajudou a comprar meu primeiro baixo e meu amplificador.” Diante de uma música que o tocava, o artista define o punk como uma expressão que tem a ver com sua personalidade. “Não escolhi, fui escolhido.”

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MARCANDO HISTÓRIA Em 1979, o músico tocou no Condutores de Cadáveres e em 1981 iniciou no Inocentes. Além do trabalho com a banda, o artista faz parte desde 2006 da Plebe Rude. “Hoje toco nas duas bandas, Inocentes e Plebe Rude, e ainda tenho um projeto com a Sandra Coutinho, das Mercenárias, chamado Jack & Fancy. O som de cada banda muda, pois são pessoas diferentes tocando, cada uma com seu estilo e influências e cada banda tem uma aura diferente, por causa dessas pessoas”, explica. Desde os anos 80 até os dias atuais muitas mudanças fizeram parte da cena punk. “O mundo mudou (risos), a maneira como a música chega às pessoas, as mídias, antes era vinil hoje é mp3, era muito caro gravar um disco, quase não existiam selos independentes. Creio que fomos os desbravadores desse modelo de banda e cena alternativa que é tão comum hoje em dia. Os modelos de festivais independentes são os mesmos que fazíamos em 1982. O Punk foi responsável por incutir na cabeça da garotada o princípio do faça você mesmo e músicas com conteúdo.”

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Enquanto a música teve sua movimentação durante anos, reunindo pessoas com um mesmo ideal, temos nos dias de hoje uma juventude que usa a internet para unir-se e ir para as ruas. “Eu não acho que o Brasil esteja passando por uma verdadeira mudança, até porque as pessoas sempre se organizaram sem as mídias sociais, acho sim que há uma super valorização dessas mídias, pelas pessoas e pelas mídias tradicionais, que aliás, estranhamente “abraçaram” a causa. Para termos mudanças é preciso haver propostas concretas, que é o que está faltando a essa movimentação toda, acho que ela é positiva porque deixa os políticos de orelha em pé, mas o único resultado concreto, pois era uma proposta bem clara, foi a redução da tarifa de ônibus. Já no mundo da música, acho que não tem nenhum efeito relevante, os nomes mais populares continuam pagando jabá pra tocar (propina de rádio), a única coisa significativa foi que as minhas músicas do Inocentes e da Plebe Rude ganharam um destaque imenso nas mídias sociais, pois, apesar de terem mais de 30 anos, elas são super atuais.”


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CENA INDEPENDENTE Com influência da própria cena e das bandas The Clash, Wire, MC5, Stooges, New York Dolls, Dead Kennedys, The Who, Made in Brazil e Mutantes, os trabalhos realizados pelo artista foram solidificados, marcaram gerações, gostos e preferências. Clemente não define qual dos trabalhos prefere, mas dá destaque para a última produção. “Temos uns 12 discos, é difícil perguntar para um pai, de qual filho ele gosta mais né? (risos). Gosto de todos, mas o último é sempre mais importante, pois representa o momento em que se está vivendo, estamos em estúdio produzindo um EP”, revela. Considerando que o punk não morreu e nunca vai morrer, o artista diz que o estilo se reinventa a cada ano, mas ainda assim o mercado independente encontra diversos problemas para sustentar o trabalho das bandas. “Existe um espaço menor na mídia tradicional para a produção independente, o mercado, ou melhor a cena, só cresceu porque encontrou meios alternativos de divulgação.” Diante de algumas pedras encontradas no caminho, viver de arte no Brasil é um sonho de muitos e realidade para poucos. “A dificuldade é sempre grana, para sobreviver e produzir é uma luta por dia, mas no final é prazeroso.” Entre os momentos marcantes na vida de Clemente, está a gravação do primeiro disco, a coletânea “Grito Suburbano” em 1982, em que estavam juntos: Inocentes, Cólera e Olho Seco.


COMER, BEBER, TOCAR Tantos anos de estrada fazem do artista, cada vez mais, uma referência que atua em bandas profundamente significativas para a cena punk. A força da postura e expressão da cena continua presente nos dias atuais, fez parte da história de muitos e se renova a cada dia. Pela cidade de São Paulo Clemente transita entre trabalhar, beber, tocar e comer. Entre as preferências do artista, estão os livros do Albert Camus. “Mas ultimamente tenho lido muita biografia, a da Patty Smith é muito legal, assim como a do Keith Richards.” Na vitrola sempre rola um bom som. “Ouço muita coisa por causa do trabalho, acho que ouço mais pelo trabalho do que por prazer (risos).” Com a expressão “meu trabalho é minha vida”, Clemente define a frase que melhor representa o que faz e finaliza com uma dica para os que estão iniciando a carreira: “Faça um som original, não vá na cola de ninguém”. finaliza.


(wallpaper: Raphael Motta0 Texto: Camila Grillo | Info: pestmeester.com


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Artista auto-didata com alguns workshops relacionados na área. Assim é a formação de Raphael Motta, 25, ilustrador que desde muito jovem iniciou seus primeiros traços. “Meu interesse pelo desenho vem desde muito novo, sempre sendo o aluno problema que só ficava desenhando nos cadernos e apostilas, mas atuo no mercado desde 2011”, diz.

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Com um home studio localizado em São Paulo, para a criação, o artista usa como referência os filmes trash oitentistas, street art, cryptozoologia, a fauna em geral e o obscuro e inexplicável, assim como a inspiração e motivação de artistas que são a base de seu segmento. Atualmente o foco de Raphael está na utilização de caneta e papel, com cores digitais. “Mas sou bem eclético e dependendo do projeto eu me adapto no que cair melhor, seja aquarela, pintura, trabalhos digitais ou manuais.” O ilustrador já realizou trabalhos para bandas, selos e marcas, tanto nacionais quanto internacionais, além de posters, camisetas, encartes e logos. Também atua na área editorial, fazendo algumas ilustrações para revistas.


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(APENAS UM PSICOPATA) Herói do Rock

André “Tor” Tauil, 42 anos, Zumbis do Espaço / Tauil Entretenimento.

Philip Parris Lynott nasceu em 20 de agosto de 1949 e cresceu em Dublin nos anos 60, teve uma infância dura, criado sem o pai e pulando de lar em lar. Teve que aprender a se virar desde cedo e isso provavelmente moldou sua personalidade e sua forma de escrever. Liderou varias bandas locais, a mais conhecida delas se chamava Skid Row, que contava com o guitarrista nascido em Belfast, Gary Moore. Até que em 1969 ele formaria a banda que lhe traria o reconhecimento mundial e se tornaria um dos mais influentes e inovadores números da história do Rock e consequentemente uma das minhas favoritas: Thin Lizzy. Apesar de formada no final dos 60, originalmente como um trio, composto por Eric Bell na guitarra e Brian Downey na bateria, alem do próprio Lynott no baixo e vocal e emplacado um sucesso em 73, com a versão para uma música folclórica irlandesa “Whiskey in the .36 Jar” (seria essa a versão que o Metallica regravaria anos mais tarde em seu disco de covers Garage inc), a banda se dissipou e voltou com uma nova formação e um novo tipo de som, muito mais pesado e impactante, e dessa vez como um quarteto com dois guitarristas (Brian “Robbo” Robertson e Scott Gorhan), que com suas guitarras gêmeas, aliadas as incríveis linhas de baixo, composições e ao estilo único de cantar de Lynott, o qual encaixava as letras e as melodias em uma métrica bastante peculiar, cravaram o nome do Thin Lizzy para sempre no restrito clube de bandas seminais. A estréia em disco dessa formação clássica deu-se em 1975 com Fighting, mas a obra prima que os alçou a um grande sucesso comercial e de publico foi o álbum seguinte Jailbreak, de 1976. Com canções fortes e performances ensandecidas do duo de guitarras, faixas como “Cowboy Song”, “Jailbreak”, “Running Back”, “Emerald” e principalmente o seu maior clássico: “The Boys Are Back in Town”, fizeram desse disco uma poderosa declaração da força e talento do Thin Lizzy como banda e mais especificamente de Lynott como compositor e vocalista, além de suas letras, no melhor estilo dos mestres na arte de narrar historias através de musicas, tal como Bruce Springsteen ou Bob Dylan. Essa formação renderia ainda mais dois álbuns de estúdio: Johnny The fox e Bad Reputation (este com Robbo tocando em apenas três músicas) e o aclamado, e até hoje considerado como um dos maiores discos ao vivo de todos os tempos, Live and Dangerous, de 1978. Com a saída definitiva de Robertson, outros guitarristas que se tornariam heróis do instrumento passaram pela banda e gravaram grandes álbuns como o já citado Gary Moore e John Sykes. No começo dos anos 80 divergências comerciais com seus empresários e o abuso de drogas e álcool foram minando o grupo, mas mesmo nessa época, Lynott sempre foi bastante respeitado e admirado por seu talento e personalidade, por músicos tão distintos como Lemmy Kilminster do Motorhead, Ritchie Blackmore e Ian Paice do Deep Purple, Mark Knopfler do Dire Straits, entre outros.


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Nesse mesmo período, seu interesse na emergente cena Punk Inglesa, que começava a surgir, fez com que ele desenvolvesse amizade com membros do Sex Pistols, The Damned, Botown Rats, para citar apenas alguns. São desta época seus discos solos: Solo in Soho, de 1980 e The Philip Lynott Álbum, de 1982. Em 1983 o Lizzy se reuniu para um último e poderoso álbum, Thunder And Lightining, e uma tour de despedida, que apesar do grande sucesso já mostrava Lynott e Gorhan muito debilitados pelo uso de heroína. Após o fim do Lizzy, Lynott ainda tentou começar uma nova empreitada com o ‘Grand Slam’, mas a banda também não durou muito devido ao estado em que o músico se encontrava. Ao longo de sua vida Lynott lançou dois livros de poesias, sendo que, a maioria delas era ou tornaram-se letras das músicas do Lizzy. Seu vício em drogas e álcool, em seus anos finais, o levaram a um colapso no natal de 1985, alguns dias depois ele viria a falecer por insuficiência cardíaca e pneumonia, em 4 de janeiro de 1986. O Legado de Lynott sobrevive em sua música e em sua poesia, como um dos maiores artistas de nossa época, ele viveu à sua maneira, como um verdadeiro rebelde original e influenciou milhares de bandas e músicos ao redor do mundo. Teve que aprender a lutar desde muito cedo e alcançou sucesso e reconhecimento onde poucos conseguiram, mesmo com todas as adversidades e contrariando todas as expectativas. Em 2005, uma estátua de bronze em tamanho natural foi erguida em sua homenagem em Dublin. Na inauguração, antigos companheiros de banda como Gary Moore, Eric Bell, Brian Robertson, Brian Downey, Scott Gorham e Darren Wharton estiveram presentes para prestar suas honras. No documentário de Sam Dunn: Metal: A Headbanger’s Journey” (de 2005), em uma determinada cena, este entrevista Bruce Dickinson, perguntando o motivo sobre o sucesso do Iron Maiden, o vocalista explica que, antes deles, ninguém tinha o trabalho das guitarras em dueto, as letras elaboradas que contavam historias, um som pesado e ao mesmo tempo com grandes melodias, que ninguém tinha feito isso até então, quando ele se corrige e finaliza: “Exceto pelo Thin Lizzy... Para mim Phil Lynott representa um verdadeiro herói do Rock’n’Roll, não penso em como ele morreu, mas sim em como ele viveu e seu impacto na música que amamos. Certa vez perguntaram para Lynott como era ser negro e irlandês. Sua resposta foi simples: - “Pergunte para a Guinness”.

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(white zoo records) Por Henrike Blindpigs e Paola Zambianchi

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Nos dois últimos números dessa coluna focamos em gravadoras americanas. Neste, vamos para o velho continente, mais precisamente Itália, terra da Cosa Nostra, da pizza e do selo White Zoo. Criado por Sergio Chiari, em 2010, como um tributo pessoal ao punk rock, o selo já conta com dez lançamentos no nobre formato em vinil. Desde já confessamos que não conhecemos muito da cena italiana, fora a banda street punk Clan Bastardo e algumas bandas de hardcore dos anos 80. Por isso, foi uma grata surpresa receber um pacote com vinis da White Zoo, que tem foco maior nas bandas de garage punk. Com vontade de descobrir um pouquinho mais sobre o rock n roll na Itália, abaixamos as luzes, abrimos um bom Lambrusco, e iniciamos o ritual: disco por disco, na vitrola. A capa do LP de estreia do Silver Cocks foi a que, de cara, nos chamou a atenção. Um bombardeiro lançando vibradores de prata ao invés de bombas. Literalmente foda! O som é rápido, punk rock 77 com um vocal que soa como o de um viciado em anfetaminas cantando em inglês e espanhol. Difícil de entender, divertido de ouvir. O LP “Devil Inside” da banda Steaknives contém 11 petardos que misturam punk 77, hardcore californiano anos 80 e proto punk, resultando num disco de respeito que ainda conta com um cover do Bad Brains. Crú e cheio de atitude! Todas as músicas do Steaknives são em inglês, mas gostaríamos de ouvir esses caras cantando em italiano, soaria insano! Aliás, nenhuma das bandas do selo canta em italiano, o que achamos meio esquisito.


O EP da banda Transex tem uma capa bem tosca, mas nos ensinaram a nunca julgar um disco pela capa. Assim, o sete polegadas rosa choque começou a tocar e nos surpreendeu. Punk 77 no estilo britânico e com um cover de “Fascist Dictator” do Cortinas, uma das melhores bandas 77 inglesas! Inspirados pela série de compilações Killed by Death, formadas por bandas esquecidas do final dos anos 70 e começo dos 80, o Transex auto intitula-se uma banda de punk “KBD”. No entanto, a música que abre o EP e carrega o nome de “Cops are Gay” nos fez lembrar a banda norueguesa de deathpunk Turbonegro. Humor, força, melodia e sexo. Mas é bom tomar cuidado na hora de procurar informações sobre a banda italiana no Google, ou você pode acabar acessando páginas... suspeitas. Idol Lips detona um punk glam, estilo nova-iorquino, no LP “Scene Repulisti” e o fantasma do Johnny Thunders parece ter colado na gravação desse disco. A influência óbvia do guitarrista do New York Dolls aparece também nas declarações de alguns membros do Idol Lips, que acreditam categoricamente que o rock acabou em 23 de abril de 1991, data da morte de Johnny Thunders. Bom, preferimos pular a polêmica e seguir em frente. Como sempre, o melhor vem por último. E nesse caso, estamos falando do mais novo lançamento do selo, o EP “Boots and Booze” da banda romana Poker. Três músicas de power punk contagiantes e um vocal feminino. Já estamos na torcida para que a banda lance logo um LP! Depois de uma garrafa e meia de Lambrusco na cabeça e muitos discos na vitrola, começaram as discussões sobre a banda escolhida do pacote. Os nossos gostos se encontraram e se distanciaram em alguns momentos. E no meio de um debate caloroso, típico dos italianos, não conseguimos chegar a um veredito único. E para o bem da famiglia, o resultado foi: Poker para o Henrike, Transex para a Paola. E para os dois ficou o desejo de que a White Zoo continue lançando discos legais como esses. White Zoo Records facebook.com/whitezoorecords

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(Afinidade musical0 Bruno Barbieri, 30, redator publicitário.

Eu não sei vocês, mas pra mim não tem nada mais apaixonante do que uma menina que gosta das mesmas músicas que você. Isso é um filtro inevitável e mais forte que qualquer ser humano. Por exemplo, se você encontra uma menina na balada com uma camiseta do Ramones, ela já é mais interessante do que as outras. Se ela comemora quando o DJ toca Queens of the Stone Age, você se apaixona. Daí se ela canta todas as músicas que você gosta. Pronto! Pode pagar um drink pra ela, você encontrou a futura mãe dos filhos. É simples assim.

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E os exemplos vão muito além da balada. Quando você conhece alguém que gosta das mesmas músicas que você, você tá ferrado. Uma vez, no trabalho, eu perguntei na maior ingenuidade pra menina que senta do meu lado qual que era a banda favorita dela. Sem pensar ela falou: Millencolin! Eu travei. Não sabia o que falar. Fudeu! Depois disso é difícil olhar pra ela do mesmo jeito. Eu brinco que se ela tivesse falado que me amava não ia ser tão foda quanto ela gostar de Millencolin. Também não vou ser hipócrita e dizer que essa é a única fórmula do amor. Eu mesmo já namorei por quase quatro anos uma menina com o gosto musical completamente diferente do meu. E olha que no começo essa diferença também era apaixonante. Ela pedia pra ir junto comigo nos shows de hardcore, dizia que adorava a vibração e os moleques voando pelos ares. Eu pra retribuir, ia aos shows sertanejos amarradão. Já baixei CD dos Tribalistas, do Chiclete com Banana e dos Engenheiros do Havaí, pra fazer playlist de aniversário pra ela. E fazia isso com um sorriso na cara. Até que um dia, perto de completar 4 anos de namoro, o rádio do meu carro começou a tocar Jota Quest. Sem nem pensar, eu mudei de estação. Na hora, ela me deu um olhar assassino, voltou pra estação e gritou: AMOR!!! Por que você trocou? Aquela é a nossa música!!!” enquanto isso o rádio cantava “Que voe por todo mar e volte aqui, pro meu peito” Eu nem sabia que a gente tinha música. E tinha que ser essa música? Não deu outra, meses depois nosso amor voou como o vento da música.


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Tem uma frase do filme “Alta Fidelidade” (ótima adaptação do livro do Nick Hornby) que explica bem tudo o que eu sinto. “Livros, discos e filmes. Pode me chamar de superficial, mas essas coisas importam, porra!” E importam mesmo. Você pode até casar com uma modelo, engraçada, gente boa e que te ama, mas se você gosta, mesmo que só um pouquinho de música, e ela te der de presente um cd do Carlinhos Brown, esse amor está com os dias contados.


(Amada Madre Ministra) Mariana Perin, 31 anos e produtora

Dona Marta, eu sempre gostei de você. Acompanhei de perto suas gestões como prefeita, senadora, ministra e agora, ministra novamente. Mas nós, artistas, esperamos cada vez mais. Você, mãe de filhos artistas, precisa honrar sua missão. O MinC (Ministério da Cultura), cara Ministra, sempre foi um órgão que acreditamos. Superar a gestão Gil-Juca é bem difícil, ainda mais no pós-caos “Ana de Hollanda”, sua dedicação deve ser maior. Para isso, sua articulação também deve ser maior e a seriedade de sua gestão deve superar qualquer outra. Marta, você sempre defendeu a sexualidade, o protagonismo feminino, os direitos civis. Por que não defender transparência nos processos de seleção dos projetos da Rouanet? Minha cara, você, sempre chiquérrima, entende moda como arte e produto cultural, e isso é admirável, mas aprovar desfile através de lei de incentivo pegou mal. Aliás, está pegando mal: desfile de moda, balada de Amaury Jr, projetos de Cláudia Leite, Rock ‘n’ Rio, Jorge & Matheus, Xuxa Meneghel. E a classe artística? E o fomento aos coletivos culturais? Como estão os Pontos de Cultura? E a incógnita do Fundo Nacional de Cultura? E o “roque”, bebê? Cadê tudo? Portanto ministra, nós estamos de olho. O mercado independente clama por mudanças e espera mesmo que o poder público cumpra o seu papel, porque o nosso, nós estamos fazendo. Pagamos impostos para a importação de produtos, consumimos espetáculos, música, cinema. Nós fazemos parte de um ciclo maluco do desconhecido que é a arte. Você precisa nos entender. Seus filhos são talentosíssimos, mas nem todos nascem em berço de ouro, aliás, quase ninguém!




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