Karina Buhr
O sentido das coisas todas da vida
Feira de Discos
Tendência retrô traz de volta a paixão pelos discos
László Kis
Tatuagem: Marcas para toda a vida Jun & Jul‘13 | Distribuição Gratuita | www.curtocircuito.art.br
Expediente #4, 2013 Projeto: Hearts Bleed Blue Edição: Antonio Augusto Coordenação: Alexandre M. e Camila Grillo Redação: Camila Grillo Revisão: Luís Maurício Colaboradores: André “Tor” Tauil, Henrike Blind Pigs e Mariana Perin Foto de Capa: Diego Ciarlariello Assessoria Jurídica: R4A Distribuição: contato@ curtocircuito.art.br Publicidade: Antonio Augusto hello@heartsbleedblue.com Curto Circuito é uma revista de bolso, com publicação bimestral e distribuição gratuita, produzida pela Hearts Bleed Blue. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Leia as edições anteriores do Curto Circuito em www.curtocircuito.art.br e não deixe de nos escrever seu endereço, nós vamos te enviar a cada dois meses a nova edição da revista.
(Feira de discos)
Tendência retrô traz de volta a paixão pelos discos Texto: Camila Grillo | Fotos: Luiz Campos Jr e Renato Custódio Info: feiradediscos.tumblr.com .6
Com o objetivo de divulgar a cultura do disco e promover um ponto de encontro entre colecionadores e apaixonados por música, a Feira de Discos de Vinil de São Paulo já aconteceu em bairros como Perdizes, Vila Madalena, Centro e Pinheiros. “O evento surgiu como um meio de divulgar minha loja de discos, a Locomotiva. Abri a loja em janeiro de 2011 e precisava buscar visibilidade. Aí surgiu a Feira de Discos, que para a minha surpresa acabou ficando muito mais conhecida que minha loja”, diz Márcio Custódio, idealizador da feira.
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A cada edição, o público entre 18 e 60 anos de diferentes perfis e tribos se junta para procurar músicas prediletas. Essa paixão pelo vinil também tem despertado o interesse do público mais jovem. “Acho que chegou um momento em que a tecnologia avançou tanto que acabou ficando tudo muito fácil e prático, o que deixou as coisas um tanto superficiais e rasas. A paixão pelo comportamento retrô é uma resposta ao transbordamento tecnológico que vivemos hoje. E escutar discos de vinil faz parte desse comportamento retrô. Tudo o que é vintage é mais charmoso. Quando botamos para escutar um disco de vinil, estamos prestando maior atenção na música, dando mais valor a ela. E não simplesmente escutando música como fundo para entrarmos no Facebook ou checar e-mails. Escutar música numa vitrola significa não deixar ela em segundo plano enquanto fazemos outras coisas”, ressalta Márcio. Tendo como forte da feira o rock e a música brasileira, o espaço oferece também muitas raridades. “Os expositores geralmente trazem de tudo, desde promoções de cinco reais até discos raros de 500 reais. É bem variado e democrático. Há discos para todos os gostos e todos os bolsos”, explica. A visitação fica em torno de mil pessoas durante o dia, e entre elas estão alguns artistas. Para atender a esse público, os expositores sempre levam novidades e itens diferenciados. Em algumas edições, há bandas ao vivo e DJs tocando discos de vinil – o que também é um atrativo para as pessoas.
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Entre as edições, houve um momento muito especial e marcante. “Quando fiz a terceira edição, que aconteceu na Vila Madalena, eu estava esperando em torno de 500 pessoas e projetei o evento para essa capacidade. Aí chegou o dia e foram mil pessoas, ficou muito cheio e lotado, difícil de transitar e garimpar, e foi aí que eu pensei ’nossa, realmente tem um público grande e fiel que adora discos’. Fiquei surpreso, não esperava tanta gente assim”, diz Márcio. Além da feira, a Locomotiva Discos possui um acervo com muitas sugestões para todos os gêneros. Assim, entre uma edição e outra, o público pode apreciar e garimpar diversas opções em vinil. Para os amantes do disco, Márcio deixa uma dica: “Pesquise sempre as novidades da música e nunca desista de garimpar aquele disco que contém aquela música que lhe toca na alma. Quando você encontra aquele disco que ficou anos procurando, é uma das melhores sensações do mundo”, finaliza.
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(soundcheck: veneno lento) Texto: Camila Grillo | Foto: Mateus Mondini | Info: venenolento.bandcamp.com
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ópole chaInspirados na urbanidade da megametr o, que surgiu Lent no Vene a band a , Paulo São mada rio independenem 2011 , faz história dentro do cená a punk Dose te. “O nome veio de uma música da band lento: desino vene um é e cidad a ness vida Bruta l. A estresse, ito, trâns ncia, violê gualdade, preconceito, por dentro, endo corro vai que mal um É s. usõe desil bomba que bem devagar. É como um pavio de uma gritar contra esta prestes a explodir. É a vontade de banda. tudo isso”, explicam os integrantes da
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integrantes: Atua lmente o grupo conta com quat ro d (guitarra) Davi o), (baix ório Greg Diogo (bateria), formação, e Pancho (voca l e guitarra). Antes da do cenário os integrantes já tocavam em bandas Sweet Suno ia bater hardcore punk. David tocou e no In Your Naifa no rra guita tocou ho Panc ia, burb m parte do fazia ório Greg com s Face, e os dois junto ive Youth e no trio Busscops. Já Diogo toca no Posit Nossa Vingança. somente Os músicos do Veneno Lento não vivem agência; uma de arte de or diret é o de música. Diog e Pancho traGregório, educador; David é barbeiro . Trabalhar balha em bares nas baladas de São Paulo dos ldade dificu a ra most dentro de outras áreas sa música “Nos il. Bras no arte de viver em cos músi de arte, vivetem um fim nela mesma. Não vivemos para as bandas mos nossa arte! Existe muito espaço que poucas independentes no Brasil, mas acredito ”, dizem. disso iro) dinhe har conseguem viver (gan
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Blitz, Camera uência as bandas Tendo como infl Cock Spar rer, h, as Cl e Th Rejects, ttoo, entre Silens, Cockney Ta se Ro rs, Inocentes, St iff Little Finge co um mpacto Lento já gravou outras, o Veneno pelos selos 12 20 e entre 2011 em vin il lançado m novidaco tra Recs e vem Nada Nada e Pilan ando do LP cip rti pa s mo o. “Esta des para este an Não Seremos ... os eir mos os Pr im coletânea Não So de São Paulo, outras 11 bandas os Últimos, com o semestre. nd gu se começo do que deve sa ir no até o final do co çar ma is um dis Pretendemos lan lam. ve re ”, lit sp um 7” ou ano, ta lvez outro ades pelo Brasil, em alg umas cid Mesmo tocando Rio de Janeiro , ulo Pa al de São no inter ior e litor alg uns shows a pretende fazer e Brasília, a band a de novos sc bu em tá es blico erentes nos pelo mundo. O pú dif s oa ss pre vemos pe s. É um ciclo traba lhos. “Sem mo ta camos e frequen inter net shows em que to e s er fly s, ne ao fim. Zi pessoas que nunca chega as e qu bilização para lvez a são for mas de mo Ta . es nt de en ep upos ind cheg uem aos gr e a tentativa oas seja ma ior qu procura das pess uma fa lha que m vistos, e isso é de os gr upos sere m. ca sta gida”, de precisa ser corri banda, a dica: ja começar uma Para quem dese em troca, apeda na e não espere “Faça por gosto us ideais, curta pensamentos, se nas div ulg ue seus div irta”. sua energia e se
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Tatuagem: marcas para toda a vida Texto: Camila Grillo | Fotos: Flavio Forner | Info: windhorsetattoo.com
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Em busca da felicidade. Assim o tatuador László Kis define o motivo que o trouxe até o Brasil. Com uma vivência de 12 anos no país, atualmente tem um estúdio que fica localizado no Jardim Paulistano, em São Paulo.
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O contato com a tatuagem começou quando ainda morava em Budapeste, por causa das circunstâncias. “Venho de uma cidade pequena onde só tinha um tatuador e ele não tinha boa fama na época. Não quero dizer que eu era melhor do que ele... Bom, eu já tinha sido tatuado em Budapeste e apareceram vários amigos que queriam ser tatuados também. Alguns deles sabiam que eu gostava de desenhar e um dia um deles me disse que queria ser o primeiro se eu começasse a tatuar. No mesmo período o meu primo, que era motorista de uma banda de rock famosa na época, uma pessoa bastante popular na vida underground da cidade, ofereceu o sótão dele para eu abrir um estúdio de tatuagem ilegal. Assim que eu comecei...”, revela. Sem nunca ter feito um curso de tatuagem, o artista, que tem na formação a profissão de cozinheiro, diz que a tatuagem representa uma “marca na pele”, já que as pessoas desejam tatuar porque “querem uma marca”. Diferentemente de uma roupa, que podemos trocar quando enjoamos, a tatuagem é algo para sempre e que está sujeita também ao arrependimento. “Às vezes nos arrependemos mesmo na nossa escolha de dia, de colocar uma camiseta amarela em vez de pôr uma preta, ou de pedir carne no restaurante em vez de peixe, e isso acontece também com a tatuagem. Já tive trabalhos que precisavam de reforma, mesmo cobrir, por razões tanto técnicas quanto emocionais. Não sei se alguém já tirou algum trabalho feito por mim, pode até ser que sim. Alguns dos primeiros trabalhos que fiz na Hungria anos atrás eu mesmo cobri, e alguns recentes, nomes de namorado(a) etc., mas podem ter outros trabalhos meus cobertos por outros tatuadores. Não tenho como afirmar”, ressalta László.
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Mesmo com “marcas” feitas para toda a vida, há quem use algumas técnicas para “apagar” a arte feita na pele. “Já vi tatuagem parcialmente ou até perfeitamente queimada para fora da pele, com laser”, diz.
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Para quem não sabe como é o processo de uma tatuagem, László simplifica: “A agulha fura a pele. Assim que a agulha sai da pele, a tinta entra no furo e logo fecha, então temos um ponto. Vários pontos formam linhas ou preenchem áreas maiores. Depois de fechar, a tinta não tem mais como sair da pele, ao menos se machucar a pele durante ou depois. Isso é o ato de tatuar. Tipos de tintas e de agulhas existem vários, depende da escolha de cada tatuador”. Além da decisão de fazer uma tatuagem, é importante escolher bem quem será o tatuador. “Quando você decide se tatuar, não precisa exatamente achar um desenho pronto, mas sim escolher um profissional que faça desenhos do jeito que te agrada. Depois disso, basta conhecer o profissional e ver se você confia nele para fazer o trabalho. O desejo de cada pessoa muda para cada profissional, por isso não posso generalizar”, diz. “Cada tatuador tem uma direção, alguma preferência. Para escolher um profissional, é preciso gostar do trabalho da pessoa e confiar nela. Sem confiança, melhor nem começar.”
Com a busca pela expressividade através dos desenhos na pele, muitas pessoas já enfrentaram o preconceito por terem no corpo algum tipo de tatuagem. “Todos buscamos a felicidade, às vezes de uma maneira neurótica. Se algo representa aquilo que desejamos, vamos ser atraídos por aquilo. Se representar algo que nos ameaça, vamos lutar contra, e as coisas que são indiferentes, ignoramos. No passado, tatuagem representava uma classe indesejada, submundo, de fato algo que para muitos era contracultura; naquele momento era indesejada, fonte de preconceito. Hoje, muitas pessoas ricas, famosas, são tatuadas. Isso se relaciona com riqueza, bem-estar, beleza etc. Isso atrai as pessoas. Para outros, isso é indiferente. Uma tatuagem malfeita até hoje pode ser fonte de preconceito, uma bem feita pode atrair e ambos podem ser ignorados. Mas felizmente nós temos capacidade de relacionar com a maneira saudável e aceitar a pessoa sem interessar se está tatuada ou não, sem ignorar a sua preferência, mas neste caso já não falamos sobre preconceito”, diz. E será que no futuro haverá uma geração arrependida pelas tatuagens feitas na juventude? “Bom, quem pensa no futuro nunca se tatua. O único ponto para decidir algo é aqui e agora, mas isso de fato não é garantia para não se arrepender. Certamente teremos resposta daqui a 30 ou 40 anos”, explica. “Se não tiver certeza, melhor aguardar até que tenha.”
(algumas tralhas que você pode gostar) Quais são as suas tralhas favoritas? O que você gosta de colecionar? Separamos aqui algumas coisas que gostamos e que talvez você curta também.
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Loja Hole: Galeria do Rock, Rua 24 de Maio 62, Lojas 275/277, SP. Tel (11) 3337 1261 Playtech: www.playtech.com.br Hearts Bleed Blue: www.hbbstore.com IdealShop: www.idealshop.com.br Caustic Recordings: www.lojacaustic.com.br Action Shop: www. action182.com/shop Disquadro: www.facebook.com/disquadro Weird: www.weirdclothing. bigcartel.com Chilli Beans: www.loja.chillibeans.com.br Loja Das Miniaturas: www.lojadasminiaturas.com.br Skullcandy: www.skullcandyfone.com.br
(Karina Buhr)
O sentido das coisas todas da vida
Texto: Camila Grillo | Fotos: Diego Ciarlariello | Info: karinabuhr.com.br
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“Tá tudo padronizado no nosso coração”, diz a música da menina da voz doce e linguagem poética. Karina Buhr expressa canções cheias de histórias contadas com sutileza, seja pela suavidade do sotaque, seja pelos arranjos instrumentais melódicos, seja simplesmente pela doce expressão de sua arte. Entre os palcos ora atuando, ora cantando, a artista mostra seu lado urbano misturado com suas vivências trazidas de outras cidades. “Vim para São Paulo em 2003, a convite de Zé Celso Martinez, para fazer ’Os Sertões’, com o Teatro Oficina. O convite veio em 1998, mas acabei só vindo em 2001 fazer a peça ’As Bacantes’ porque estava envolvida em um monte de coisas por lá. Voltei para Recife e vim para São Paulo de novo em 2002, para ’A Terra’,
primeira parte de ’Os Sertões’, mas só resolvi vir de vez mesmo em 2003. Daí passei cinco anos lá no teatro e saí quando a vontade de fazer esse trabalho solo era muito grande e eu não conseguia conciliar. A essa altura São Paulo já era minha casa, então apenas continuei morando aqui”, explica a cantora que nasceu em Salvador, mas quando ainda era criança foi viver em Recife. “Comecei fazendo o musical ’O Baile do Menino Deus’ com um grupo que fazia parte do Balé Popular do Recife, chamado Balé Brasílica. Tinha pouco texto e muita dança, danças de lá de Pernambuco. Coco, frevo, ciranda... Depois comecei a tocar percussão e cantar em vários grupos ao mesmo tempo. Primeiro no Maracatu Piaba de Ouro, depois no Maracatu Estrela Brilhante, na banda Eddie, Comadre Fulozinha, e por aí fui”, conta.
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O despertar da artista se deu com o tempo, a cada caminhada na escola da vida. “Nunca estudei nem música, nem teatro, nem nada das coisas que faço. Quer dizer, estudei no meio da rua mesmo, não em escolas. Aprendi e aprendo e desaprendo fazendo, criando, tirando leite de pedra, inventando a roda várias vezes. Minha escola são os lugares onde toquei e onde toco, todas as bandas, todos os grupos, todos os músicos com quem faço coisas junto.”
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As raízes Iniciar-se como artista para muitos não é algo fácil, e sim uma batalha diária em busca de um espaço e compreensão da família. “Meu pai e a família dele são de Salvador e interior da Bahia (Conceição do Almeida, Ubaitaba...), e minha mãe e a família dela, de Recife e Paulista, e tem uma grande parte (irmãos e primos do meu avô) espalhada pela Alemanha (Rostock, Hamburgo, Büsum, Colônia). Com meu pai sempre foi mais difícil, mas tudo passou quando ele ouviu o primeiro disco da Comadre Fulozinha e minha primeira música, ’O Trem’. Ele ficou bem feliz com aquilo, e eu com a reação dele. Minha mãe sempre gostou, mas também rolavam conflitos às vezes, por conta de ser uma coisa muito incerta, no sentido de grana, de segurança, trabalhar com música. Mas eu nunca pensei em trabalhar com algo que não fosse música, teatro, cinema, dança ou ilustrações... Nunca pensei de verdade em fazer outra coisa da vida. Foi tudo muito natural. Natural e trabalhoso, claro. E ainda é e sempre será, mas faz parte da escolha.” Entre seus trabalhos inicias, a banda Eddie foi a primeira em que a artista tocou. Depois, batizou a Comadre Fulozinha, que no começo chamava-se Florzinha. “Eu tocava percussão e sempre enfrentava muita dificuldade para tocar nos lugares por não aceitarem mulheres, ou aceitarem de cara feia. Tinha o sonho de tocar num lugar com tranquilidade, sem ter que ficar o tempo todo lutando e tentando provar algo. Eu já tocava há um tempinho com Renata Mattar. As duas cantavam, eu tocava percussão e ela tocava sanfona e sax. Daí veio a vontade de chamar mais pessoas e fazer uma banda, deixar de lado o formato dupla. E também a ideia de serem mulheres tocando percussão, finalmente, e também por
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ter o coro de vozes, como tem em coco e ciranda. Nós tocávamos uns forrós, marchinhas de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, e começamos a abrir mais o leque, até ter um repertório totalmente autoral. Eu estava trabalhando na trilha de ’O Baile Perfumado’, dirigida por Siba e Chico Science, e ouvi Chico e Nação Zumbi tocando ’Angicos’, de Chico e Lúcio Maia, e a trouxe com uma ideia de arranjo. E por essa época veio também o nome da banda. ‘Angicos’ foi a primeira música que tocamos em público já como Comadre Fulozinha, com a formação inicial, que tinha também Isaar, Alessandra Leão e Telma César”, destaca. De Recife para o mundo No ano de 1998, o diretor de teatro Zé Celso assistiu a um show da Comadre Fulozinha no bar Soparia, em Recife, convidando Karina para fazer o espetáculo “As Bacantes”. “De 2001 a 2008 fiz ‘As Bacantes’ (temporada em 2001) e as cinco peças de ’Os Sertões’, em temporadas no Teatro Oficina, participei da gravação do DVD de ’As Bacantes’ e dos filmes de cada peça de ’Os Sertões’, e também saí em turnê pelo Brasil (Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Quixeramobim e Canudos) e em Berlim, abrindo a temporada 2005/2006 do teatro Volksbühne para fazer ‘As Bacantes’”, revela.
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A experiência ao lado do grande mestre do teatro contribuiu para a vida da artista como um todo. “Lá pude fazer o que sempre quis, que é tocar, cantar, compor, atuar, dançar... Tudo ao mesmo tempo. Não imaginava onde nem quando isso ia acontecer, e aconteceu lá. O trabalho em equipe – equipe gigantesca, diga-se de passagem – tem uma unidade muito impressionante, muita dedicação, criação, inspiração e aprendizado também. Zé e o Teatro Oficina são muito importantes na minha vida”, afirma.
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Além dos palcos, algumas músicas de Karina integram trilhas de filmes como “Deus é Brasileiro”. “A música não é nossa, é uma versão, mas o arranjo e aquela gravação são nossos, têm nossas vozes e a gente tocando os instrumentos ali. Quando soube fiquei triste porque nunca ninguém do filme falou com a gente, nem para pedir, nem para avisar. Soubemos pelas pessoas que viram o filme, mas foi bom ter a música lá (risos). Tem alguns filmes em que participei cantando, tocando ou com músicas minhas. ’A Máquina’, de João Falcão, tem algumas músicas minhas em parceria com DJ Dolores, com Isaar. ’Enjaulados’, um curta de Kleber Mendonça Filho, ’Orange Itamaracá’, fiz a trilha com Fábio Trummer e Ortinho. Em ’O Baile Perfumado’, toquei numa faixa com o Mestre Ambrósio. O filme mais novo de Marcelo Gomes, ’Era uma vez eu, Verônica’, tem três músicas minhas na trilha e também participo de uma cena do filme”, diz.
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Após passar pelos palcos brasileiros, Karina partiu em turnês por países como França, Suíça, Suécia, Bélgica, Canadá e EUA levando seu trabalho para outros lugares do mundo. “Essa turnê foi com a Comadre Fulozinha, em 2000. Foi bem especial. Foram dois meses seguidos, sem voltar para casa, de uma cidade para outra, de um país para outro, fazendo shows em um monte de lugar legal, festivais incríveis. O público foi bem massa em todos eles, sempre uma resposta maior do que a gente esperava, por ser a nossa primeira vez em tantos lugares – e sem internet para eles baixarem os discos antes... (risos). Com esse meu trabalho solo toquei na Womex e no Roskilde, os dois na Dinamarca. A Womex é um superfestival de world music, e o Roskilde, um festivalzão, incrível e inspirador.” Momentos marcantes Desde 1992, Karina veio dividindo o palco com muitos nomes renomados da música brasileira. “Teresa Cristina, Marina Lima, Wanderléa, Arnaldo Antunes, Chico Science, Erasto Vasconcelos, Siba, Otto, Maria Alcina, Márcia Castro, Dédo do Coco, Fábio Trummer (e banda Eddie), Rogério Homem (e Bonsucesso Samba Clube), Walter França (e Maracatu Estrela Brilhante), Mestre Salustiano (e Maracatu Piaba de Ouro), Edgard Scandurra, Thalma de Freitas, Nina Becker, Duani, Moreno Veloso, Zé Cafofinho, Elke Maravilha, Denise Assumpção, Céu, Tulipa, Isaar, Alessandra Leão, Aurinha do Coco, Laura Lavieri, Bárbara Eugênia, Hyldon, Ana Cláudia Lomelino, Bem Gil, Rafael Rocha, Antônio Nóbrega, Fernando Catatau (e Cidadão Instigado) e tantos e tantos outros...”
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Para a artista, todos os momentos durante sua trajetória marcaram sua vida. “Porque cada um, bom ou ruim, deixa algo que fica ali fermentado e se transformando em outra coisa. Penso em citar o envolvimento mais sério, no sentido de forte e importante para mim com a música, que foi através da banda Mestre Ambrósio e dos maracatus Piaba de Ouro e Estrela Brilhante e também chegando perto de cavalos-marinhos, cocos e cirandas. Tem o Eddie, que foi a primeira banda em que toquei. A Comadre Fulozinha, que batizei e formei com outra pessoa. Tem o Teatro Oficina e tudo o que aconteceu lá, como apresentar ‘Os Sertões’ em Canudos, Quixeramobim, Berlim... O envolvimento com o trabalho de Verônica Tamaoki e Roger Avanzi e passar a conhecer a história do Circo Nerino... Enfim, quando vejo, começo a citar tudo (risos). Cada dia, cada trabalho é uma coisa muito especial e onde se aprende muito, se conhece muitas pessoas, se vive bastante”, diz.
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Mesmo com as coisas boas, muitos artistas passam por altos e baixos durante a trajetória pensando muitas vezes em seguir outro caminho – o que nunca foi o caso de Karina. “Não tem como desistir, é minha vida. Durante muitos anos foi tudo muito difícil na parte financeira, porque sempre optei por um trabalho autoral, o que me impedia de sair tocando com um monte de gente e ganhar a vida como músico. Depois foi ficando não mais fácil, mas mais possível de pensar em ter um pouco de alguma tranquilidade qualquer. E não estou falando exatamente de ganhar dinheiro, mas de se ter uma constância disso como um trabalho que se pode viver dele. Embora eu sempre tenha vivido dele. Todos os momentos têm dificuldades grandes. Nada no trabalho com qualquer tipo de arte é fácil. E difícil não significa necessariamente ser ruim, mas falo no sentido de viver disso, ter isso como profissão é maravilhoso, no mesmo grau em que é incerto e perigoso. Não existe nenhuma garantia de dinheiro, de emprego, de futuro, essas coisas, tudo é no agora e talvez seja cada vez mais legal em vários sentidos, mas também pode não ser. Então, bom é seguir no principal que é a própria arte. Do resto corre-se atrás.” Em meio aos arranha-céus de uma cidade como São Paulo, Karina trouxe a sua arte e expressão. “Foi muito massa isso ser através de um convite de Zé Celso, porque já cheguei inserida num contexto de um trabalho maravilhoso. O Teatro Oficina é uma coisa muito especial. E aí fui fazendo as minhas coisas lá e também fora e espalhando aos poucos essas coisas para um público maior”, diz. “Meu trabalho retrata aspectos das coisas que sinto, interagindo com várias outras coisas, inclusive com essa grande metrópole, mas não dá para catalogar dessa forma. Meu trabalho não retrata aspectos de São Paulo, retrata coisas que sinto e que invento.”
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Com o pé na estrada O trabalho solo de Karina rendeu o lançamento de dois discos, Eu Menti Para Você, de 2010, e Longe de Onde, de 2011. “Como lancei o segundo disco no final de 2011, o ano de 2012 foi todo dedicado a ele. E durante 2013 sigo fazendo várias turnês com ele. Não quero lançar nada novo enquanto eu ainda sentir necessidade do trabalho que estou fazendo. Estou num momento de paixão pelos shows, pela relação com os músicos que tocam comigo, e meu trabalho agora é esse, sem absolutamente nenhuma pressa. O plano mais próximo é, inclusive, gravar um DVD desse show, que mistura esses dois discos. Com a Comadre Fulozinha lancei três discos, com o Eddie, dois, com DJ Dolores, dois”, explica. Karina decidiu partir para a carreira solo quando viu que as ideias que estava tendo de músicas e letras precisavam sair de um zero que a própria cantora estabeleceu. “Não cabiam no formato da Comadre Fulozinha. Mudou tudo, porque a partir daí, em vez de percussionista, passei a ser tratada como cantora. Isso foi engraçado, porque o principal desse trabalho para mim sempre foram as composições. Tanto as letras quanto as músicas. Aí foi engraçado isso de ’cantora’. Acho bem chato e limitador muitas vezes muitos clichês machistas que existem no Brasil no assunto cantoras. Mas isso é uma outra história. Apesar de ser a mesma (risos).” Para manter o seu trabalho, a artista optou pelo caminho vivenciado pela maioria dos artistas: a produção independente. “Só conheço essa maneira de trabalhar. Não só por necessidade, mas também por escolha. Para mim, até hoje, foi a maneira mais sincera, mais legal de fazer. O mercado é complicado e sempre será. Se por um lado tem muita coisa que o mercado atual favorece, há outras que ele não favorece. Não entendo muito de mercado, porque não gosto de mercado, apenas sou obrigada a interagir com ele para poder viver nesse mundo do dinheiro. Trabalhar com arte de maneira independente tem o prazer de trabalhar mesmo em cada etapa, o que é muito cansativo, mas também muito gratificante.”
A artista acredita que não necessariamente a cidade de São Paulo oferece maior espaço para quem deseja começar um trabalho independente. “Acho que um trabalho verdadeiro (e por isso legal) tem que começar no lugar em que ele se sentir bem, em que sentir as coisas alimentando ele. São Paulo pode ser massa sim nesse sentido, mas pode também ser infernal, competitivo e cheio dos melindres dos bastidores do tal mercado musical. Pode também ser legal, mas também pode ser muito ruim, muito nervoso. Por outro lado, tem uma parcela forte – talvez a mais forte – da mídia fincada aqui, e isso é legal porque você pode fazer suas coisas aparecerem mais. Mas isso também não é regra. Não tem fórmula, na verdade. Com o tipo de comunicação com que a gente vive hoje, você pode estar em qualquer lugar e seu trabalho chegar nas pessoas que você quer”, avalia. Viver de arte para quem escolhe esse caminho como expressão tem seus dias de glória, assim como grandes obstáculos. “Os benefícios são sua liberdade e todos os frutos dela. A gente já é escravo do sistemão todo, então, se pelo menos na hora de criar e trilhar nossos principais caminhos a gente for livre, é precioso. As dificuldades são de grana, mas trabalhar de forma não independente também não necessariamente significa ganhar bem, fazer sucesso ou algo assim. E a maneira independente de trabalhar tem cada vez mais mostrado resultados bem bonitos. O trampo de Emicida, por exemplo, a maneira como ele trabalha e o Laboratório Fantasma são inspiradores, muito bons de acompanhar e de se identificar.”
Passado, presente e futuro Deixar para trás uma banda e partir para o novo. Será que isso faz alguma diferença entre a Karina do Comadre Fulozinha e a de hoje? “Diferença nenhuma em mim e muita no tanto que eu mostro de mim nos meus trabalhos. Talvez no jeito de eu ser vista de fora para dentro. Mas eu sou a mesminha. Mudam os trabalhos, mudam várias formas de expressão, de ideias, de composições, mas não tem isso de quem eu fui e quem eu sou, não sei nem responder isso (risos). O que eu sou é o que eu era e o que eu vou ser. Muda só o movimento do vento, o balanço do mar.”
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Pensando na diversidade que existe entre as diversas regiões do país, será que há diferença entre ser artista no Nordeste ou em São Paulo? Sobre essa questão Karina responde: “Essa pergunta acho que já contém a principal diferença. Veja que você comparou Nordeste e São Paulo, ou seja, uma região inteira, com muitos estados e cidades completamente diferentes uns dos outros, com São Paulo, que é uma cidade (risos). Existe uma coisa muito ruim que é o Rio de Janeiro e São Paulo serem tratados e se tratarem, de uma maneira geral, como ’O Brasil’ e os outros serem os outros. Essa é a grande diferença de ser artista, em Pernambuco, no meu caso, ou em São Paulo. Ser artista em Pernambuco é totalmente diferente de ser artista na Paraíba, em Salvador, no Rio Grande do Norte, em Maceió e por aí vai. É preciso urgentemente o Brasil entender isso. Isso significa se entender como país”. Em suas experiências durante toda a trajetória, Karina pôde viver muitas histórias muito divertidas. “Não sei nem por onde começar e como fazer caber aqui. Me veio na cabeça agora uma simples e que para mim foi engraçada, não sei se vai ser para mais alguém. Foi quando, depois de um show que fiz com o Eddie, um repórter de um fanzine que não lembro qual, lá pelos idos de 1997, me perguntou empolgadíssimo: ’Por que Karina Blue?’”
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Um sonho de realidade No caos da cidade, encontrar horas vagas muitas vezes pode até parecer uma utopia. “São Paulo acaba me fazendo achar que isso de horas vagas não existe (risos). Gosto de desenhar, ler, dançar... Quando as horas, por ventura, vagam.” Nas últimas semanas, alguns sons têm sido ouvidos pela cantora e demonstram um pouco mais de seu repertório. “Eu nunca mais tinha escutado Black Uhuru e gosto tanto! Voltei a escutar esses dias. Escutei ontem de novo o último disco de Siba, que gosto muito.” Para a menina que expressa tamanha poesia, a arte é o sentido das coisas todas da vida. “Tudo o que é vivo tem relação com isso. E o que é morto também. O amor tem a ver com ela, o ódio também, tudo”, e finaliza com o seu maior sonho: “O dinheiro ser abolido e tudo ser à base da troca e da igualdade de direitos, para que, sem miséria, sem a violência racista e machista que nos abate sempre, a gente possa viver das nossas alegrias e tristezas da alma com dignidade para todos, porque a luta precisa ser mais da alma, porque o que é do corpo, como saúde, educação, comida, é hora de já ser de todos, de maneira totalmente igual”.
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(wallpaper: marcelo dutra) Texto: Camila Grillo | Info: rafe-afins.blogspot.com.br
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Com foco ilustrativo e uma expressão voltada para a utilização de lápis, papel, aquarela, carvão e nanquim, o paulistano Marcelo Dutra, 46, busca motivação para seu trabalho na figura humana – beleza e dinâmica. “Procuro aprender com mestres e heróis pessoais, tais como Egon Schiele e Lucian Freud (pela beleza dramática) ou John Sargent (pela abordagem dinâmica). Acho que o fascínio que eles nos exercem, fazendo uma comparação, seria o mesmo em relação às nossas bandas de rock’n’roll preferidas”, explica o artista. Formado em Publicidade e Propaganda, Dutra migrou para o desenho gráfico nos anos 90, devido à identificação com ideias propostas na área de desenho e ilustração.
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Entre os trabalhos desenvolvidos, o artista participou com dois colegas de duas exposições em espaços voltados para quem nunca expôs. “A microgaleria da marca A Dor Amores (2011) e Espaço Tapuia (2013). Mas antes desses trabalhos fiz como ilustrador três capas de livros de ficção científica para uma editora independente, o que foi fundamental para amadurecer e enfrentar exposições, ainda que pequenas, como essas duas citadas”, diz. Atualmente, está desenvolvendo um fanzine ou pequeno livro autoral com ilustrações baseadas no conto “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Confira algumas ilustrações feitas pelo artista.
(O espetáculo e o conforto) Mariana Perin, 30 anos e produtora Há 10 anos, mais ou menos, comemorei meu aniversário em um show do Moreno + 2, com participação dos Los Hermanos. Minha mãe conseguiu alguns ingressos e para lá fui com alguns amigos. Nesse dia, me apaixonei pelos shows “sentados”. Sim, daqueles que vamos, sentamos numa mesa, tomamos uma bebida e ouvimos música boa em um palco enorme. Nesse dia também desenvolvi minha cara de pau e pedi um estágio no antigo Tom Brasil, mas isso é pauta para outro texto, rs.
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Desde então, cada show em pé me dói o corpo e o coração. Encarei grandes shows, alguns em grades, outros entorpecida de amor pela banda, mas a recordação daquela cadeirinha sempre me vinha à mente. Os melhores shows da minha vida foram assistidos do palco, sentada em algum cubo perdido no bastidor. Dos últimos que me recordo, Racionais MC’s no palco do Black Na Cena, o público reclamando do som, o palco com retorno em perfeito estado, a equipe segurando os Low-Riders nos bastidores e uma energia absurda... Acho que deve ser isso que nos encanta na produção. Mas resolvi encarar um SWU embaixo de chuva, para ver o Mike Patton de perto, mesmo sabendo cantar uma única música do Faith No More. Eu e meu namorado (hoje meu maridon, para constar) tomamos tanta chuva naquele dia que encaramos a primeira gripe quase pneumonia aguda de nosso relacionamento. Filas e filas nos bares, engarrafamento entre palcos, amigos sujos e entorpecidos sob a filosofia roquenrou.
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E deitadinha na praça de alimentação vegan, prometi que nunca mais iria a um festival grande, mesmo que de graça. Este texto todo é um incentivo aos que não foram ao Lollapalooza e aos que não vão ao Rock In Rio: eu não iria nem de graça! Iria para trabalhar sim, não nego, mas só de pensar em lama e em uma pseudo-sensação de Woodstock da classe média me faz regurgitar. Eu assisto a shows em pé, não me dou ao luxo da mesa e cadeirinha todo o tempo, mas não encaro grandes multidões e faço campanha aos pequenos e intimistas, shows que jamais esqueceremos. Eu veria Foo Fighters, pagando bem caro, numa casa de shows para no máximo mil pessoas. Mas não encarei o Dave (God) em um megafestival. Estou velha!
(PIRATES PRESS RECORDS) Henrike Blind Pigs, Vocalista do Blind Pigs.
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Navegando nos mares da cena punk rock desde 2000, a gravadora Pirates Press Records, liderada por seu Capitão, Eric Muller, se tornou em pouco tempo, mas através de muito suor, uma das mais conceituadas e respeitadas gravadoras norte-americanas dedicadas ao punk rock, com lançamentos em vinil de qualidade impecáveis, todos fabricados em sua própria fábrica de vinil na República Tcheca. Com escritório na ensolarada Califórnia, mais precisamente na cidade de São Francisco, a Pirates Press Records já lançou bandas punks locais como Harrington Saints, Sydney Ducks, The Sore Thumbs e The Downtown Struts. Em um audacioso passo foi o bastante para que a pequena gravadora se tornasse conhecida por punk rockers do mundo todo: o lançamento em vinil colorido da discografia completa dos ingleses e padrinhos do street punk, os ingleses do CockSparrer. Como se isso não fosse suficiente para levantar a moral da gravadora, para comemorar XX anos de Rancid, Tim Armstrong escolheu a Pirates Press Records para lançar uma linda caixa com 46 compactos com tudo que o Rancid já lançou até hoje. Todos os álbuns clássicos estão lá: Let’s Go, And Out Come The Wolves, Indestructible, etc, todos destrinchados em belíssimos discos coloridos de sete polegadas com capas novas prontos para serem tocados em uma jukebox. Desde 2011, a Pirates Press Records lança todo ano a já tradicional e sempre muito aguardada coletânea em vinil, Oi! This Is Streetpunk! com músicas inéditas da nata do street punk mundial: Old Firm Casuals, NOi!SE, Rancid, Control, Booze & Glory, 45 Adapters, entre outras. A mais nova adição à esquadra pirata é a banda do ex-vocalista do Dropkick Murphys, Mike McColgan, a favorita de muitos fãs de punk rock, Street Dogs, com três compactos recém-lançados e um LP duplo com DVD ao vivo ainda para 2013. Outra banda americana clássica recém-assinada pela gravadora é a imponente Bonecrusher com seu LP novo Blvd Of Broken Bones, um poderoso disco que não é para os fracos.
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Não contente em lançar apenas bandas norte americanas e inglesas, a gravadora decidiu velejar mares um pouco mais distantes e lançou recentemente a ótima banda street punk australiana Marching Orders, os suecos do Smalltown (o vinil vem com um CD que toca na sua vitrola!) e para julho a Pirates Press Records anunciou um single em vinil colorido do Blind Pigs com “Sentinela dos Mares” de um lado e “União” do outro (tiradas do novo LP do Blind Pigs, Capitânia, lançado aqui no Brasil pela Zona Punk), com uma arte matadora do nosso Paulo Rocker. Eu me lembro de nos anos 90 comprar de olhos fechados toda banda nova que a Epitaph Records lançava e não me arrepender. Pois é, a Pirates Press Records é assim hoje. Só lançam o melhor do street punk mundial. Vai na fé. Visite o site. Vale a pena. Os preços são justos e os caras mesmo se auto-intitulando piratas são honestos e fazem um belo trabalho.
Rancid Essentials
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Cook Sparrer Back In SF
Under One Flag Mostrando a força do street punk mundial, a Pirates Press Records se uniu a mais cinco selos independentes de prestígio, Oi! The Boat, Longshot Music, Contra Records, Randale Records e Rebellion Records, para lançar a ambiciosa coleção Under One Flag (Sob Uma Bandeira). A intenção desse projeto foi unir colecionadores de discos street punk/oi! e celebrar a lealdade do gênero. Para isso, os selos começaram a lançar, desde o mês de abril, toda semana, durante um ano, um compacto-surpresa com músicas inéditas, exclusivas ou raras. Participam dessa coleção bandas como Street Dogs, Cock Sparrer, Argy Bargy, The Corps, Booze & Glory, Evil Conduct e, representando o Brasil, Blind Pigs!
Street Dogs Crooked Drunken Sons
Pirates Press Records www.piratespressrecords.com
Blind Pigs Sentinela Dos Mares
(APENAS UM PSICOPATA) André “Tor” Tauil, 42 anos, Vocês sabem quem eu sou e o que eu faço (se não sabem, leiam o texto).
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Olá, meu nome é André Tauil, também conhecido como Tor, sou vocalista do grupo Zumbis do Espaço e sou um psicopata musical. Tenho um comportamento impulsivo/compulsivo e a minha maior obsessão é a musica. De tempos em tempos as manias podem variar, mas a música, e colecionar/comprar discos, CDs, DVDs, livros e memorabilias relacionadas a ela, sempre foi uma constante e um lugar seguro para mim. Nenhum disco está a salvo lá fora, nenhum tipo de música. Não coincidentemente fiz minha vida com ela. Vendi centenas de milhares de discos (e a conta continua subindo) com minha banda e minha gravadora 13 Records (atualmente Tauil Entretenimento, e hoje trabalhamos, além de discos, com filmes e livros). A maior parte do dinheiro que ganhei com isso eu gastei... com mais DISCOS. Provavelmente esse comportamento sempre esteve no meu DNA, mas o início de tudo que desencadeou essa compulsão foi quando eu tinha uns 12 anos de idade e comprei meu primeiro disco: Kiss – Destroyer. O curioso é que o Kiss é conhecido por sua legião de fanáticos colecionadores e fãs extremos. Eu não sou um deles. Acho a banda legal, entendo sua importância, vi eles ao vivo com a formação original em 2006, em Buenos Aires, no estádio do River Plate, tenho a série Kissology e mais alguns DVDs, alguns brinquedos legais, alguns livros, umas camisetas antigas e todos os discos até o Alive II. Para mim é o suficiente. Mas esse disco funcionou bem como porta de entrada para o maravilhoso e torturante mundo de colocar sua coleção de discos acima de todos os outros interesses. É como dizem sobre a inofensiva e doce maconha ser a porta de entrada para as outras drogas mais pesadas, e em poucos meses você, que fumou só um cigarrinho que ganhou do pipoqueiro na porta de sua escola, estará perdido na devassidão do crack, cocaína heroína e se prostituindo por um pouco de cola de sapateiro. (Tirando a parte da prostituição, funcionou meio que assim comigo em relação aos discos, que esteja bem claro.) Passada essa breve introdução aos meus hábitos, vamos ao que interessa:
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Kiss – Destroyer; gravadora: Casablanca; lançamento: março de 1976; 34 minutos e 31 segundos do mais autêntico e seminal hard rock americano. Básico e simples, algo que a banda já vinha produzindo desde seu primeiro disco homônimo de 1974, direto ao ponto, sem frescuras (bom, tem algumas frescuras, como orquestrações etc., mas que não soam como papo furado), uma capa fantástica embalando uma bela peça de vinil preto. Das 10 faixas, posso dizer que pelo menos oito delas estão entre as melhores que a banda já gravou. Produzido por Bob Ezrin (conhecido por seus trabalhos com Alice Cooper), inclui canções como “Detroit rock city”, “King of the night time world”, “God of thunder”, “Shout it out loud”, “Do you love me?” e a balada “Beth”, destacando uma grande performance vocal do baterista Peter Criss, que fizeram da banda, até então uma atração de segunda linha, um dos principais atos naquele ano e sedimentou o caminho para sua eventual conquista ao mundo. Uma coisa que sempre me irrita em resenhas de discos é quando o escritor quer dar uma de ”Professor de Deus” e filosofar ou destrinchar sobre a parte técnica ou lírica do álbum em questão. Para mim, resenhar esse disco é simples, e o motivo pelo qual você deveria ouvi-lo é o disco ser bom pra caralho, eles provavelmente estavam numa fase inspirada, trabalharam com um produtor bom, conseguiram uma capa legal e bingo. É isso, depois dos três primeiros álbuns que definiram o som da banda e um disco ao vivo, Alive I, que conseguiu captar toda a crueza e energia de um show do grupo, eles finalmente conseguiram fazer um disco que atingiu o sucesso comercial. Destroyer pode não ser o melhor álbum da banda – eu particularmente gosto bastante dos três primeiros (Kiss, Hotter Than Hell e Dressed to Kill) –, mas para mim é o mais representativo desses caras do Queens, não tão legais quanto o New York Dolls (os quais eles imitavam no começo), mas muito mais palatáveis para as massas e a juventude da América e subsequentemente do mundo.
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