4 minute read

Indígenas nos esportes

No cotidiano dos povos indígenas, o esporte é uma importante forma de lazer, que já serviu - e ainda serve - para sua subsistência. Todavia, atualmente, alguns desses esportes foram modificados, fazendo com que sua essência fosse perdida, em prol de uma maior divulgação e profissionalização das atividades. Um exemplo é o arco e flecha, que fora utilizado ao longo da história para a caça, garantindo, assim, a alimentação e proteção dos nativos, além de gerar entretenimento entre eles. Entretanto, essas práticas foram sendo transformadas em geradores de lucros pelo capitalismo, indústrias e empresas que visam o capital em detrimento de atividades terceiras. Dessa maneira, os próprios criadores e cultivadores da cultura não recebem a dignidade e uma remuneração justa. Tais práticas servem como manifestação social, entretanto, algumas consequências do colonialismo refletem na sociedade, uma vez que os povos continuam sem representatividade nas competições, tanto nacionais como internacionais, como as Olimpíadas, por exemplo. Nesse viés, percebe-se que os indígenas, considerados promessas, do esporte são ignorados e seus talentos não são evidenciados, dificultando a inserção de inúmeros indivíduos nesse ramo. Isso devido a uma equivocada construção social - que vigora desde o período colonial - de que os nativos não são aptos a praticarem determinadas

Indígenas nos esportes

Advertisement

atividades. Dito isso, nota-se a baixa participação e representatividade de nações nativas nas Olimpíadas e em competições esportivas de alto nível, uma vez que a estrutura colonialista ainda faz parte de todo o processo de acesso aos torneios. Nesse sentido, tem-se como exemplo de maior figura indígena no cenário atual brasileiro, Ailton Krenak, que é reconhecido internacionalmente por seus posicionamentos de defesa a causa indígena. Esse, por meio de suas falas e atitudes, conseguiu aumentar a representatividade desse povo, alterando a visão e o reconhecimento que havia sobre os nativos em diversos setores, como por exemplo o político e o social. Assim, inspirou pessoas a se posicionarem e ocuparem lugares, nos quais eram/ são negligenciados, como o esporte, e, consequentemente, estimulando o investimento econômico nesses setores. Ademais, destaca-se a pouca divulgação dos Jogos dos Povos Indígenas - um evento multiesportivo inspirado nas clássicas Olimpíadas, mas com esportes tradicionais indígenas, como, por exemplo, arco e flecha e canoagem-, que mesmo estando no calendário da Secretaria Nacional do Esporte, não há exposição sobre ele nos meios de comunicação. Esse foi criado no Brasil a partir de uma iniciativa indígena do Comitê Intertribal, com apoio do Ministério do Esporte e patrocinadores, em outubro de 1996. Tendo como intuito reunir e integrar as mais de 48 diferentes populações nativas participantes, para resgatar e

celebrar suas culturas tradicionais, o que é visto no seu lema “O importante não é competir, e sim, celebrar”. Esses jogos têm suas sedes em diferentes localidades, as quais estão situadas distante de grandes centros econômicos do país, para estar mais perto das aldeias isoladas e facilitar a acessibilidade. Nesse viés, a partir da falta de divulgação supracitada, outro aspecto que impacta a divulgação desses atletas - e é visto de forma errônea pela sociedade -, é de que os nativos possuem uma vantagem nessas prá-

Indígenas nos esportes

ticas, posto que convivem com essas modalidades diariamente, como por exemplo, o uso do arco e flecha para caça e da canoagem para locomoção. Porém, isso não ocorre, pois, os esportes, mesmo que baseados em táticas tradicionais indígenas, foram sofrendo alterações ao longo do tempo e perderam muito de sua essência e finalidade. Dessa maneira, iguala-se o nível de todos os competidores, tornando as competições mais justas, uma vez que o resultado virá através do comprometimento e dedicação do atleta, e não da genética. Paralelo a isso, outro aspecto que é relevante destacar é o preconceito de que os indígenas não são aptos a desenvolver outras habilidades a não ser as originárias de sua cultura, uma vez que são chamados de preguiçosos. A exemplo disso, há o baixo investimentos que os atletas possuem no cenário, visto que não possuem e nem recebem incentivos para a continuação da prática. Desse modo, acontece um ciclo vicioso, em que os atletas com grande talento não conseguem nem o mínimo investimento necessário para se destacar e conseguir uma visão que o impulsione, criando, inevitavelmente, um pensamento popular de que os indígenas não servem para técnicas esportivas, já que vemos pouquíssimos atletas em um contexto profissional de alto nível. A exemplo disso, tem-se Isa-

Artuzzo B. Nascimento Stefano F.Dahmer

quias Queiroz, atleta e medalhista olímpico da canoagem no Rio 2016 e Tokyo 2020, que começou sua carreira na cidade de Ubaitaba, na Bahia, a qual significa “Terra das canoas” na linguagem Tupi. Queiroz é um dos raros casos, em que o atleta é descoberto ainda jovem, assim, podendo despontar no quadro profissional. Dessa maneira, o profissional tem, atualmente, um projeto em no qual oferece apoio a diversas crianças na comunidade de Três Unidos, no Amazonas, proporcionando todo o suporte que não teve e alavancando novas promessas no cenário da canoagem. Assim, observa-se como os esportes fazem parte da tradição dos indígenas, sem objetivar neles uma competição que gerasse lucro. Entretanto, quando foram atribuídos tais conceitos a essas práticas, os nativos não foram incluídos e não receberam as devidas oportunidades. Dessa forma, percebe-se que os povos originários tiveram suas práticas aculturadas e transformadas, escondendo o real significado de questões importantes para eles, utilizando-as, muitas vezes, sem ter o conhecimento mínimo sobre essas.

This article is from: